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P O D E R C R I AT I V O
Sobre o autor, 9
Prefácio à edição brasileira, 11
Prefácio, 13
Posfácio, 267
Notas bibliográficas, 269
Referências, 287
Índice, 293
Agradecimentos, 299
Prefácio À EDIÇÃO BRASILEIRA
Luciano Deos
Presidente
ABEDESIGN – Associação Brasileira de Empresas de Design
Prefácio
década antes. O mesmo vale para setores como política, economia, cultura
e meio ambiente. A absoluta imprevisibilidade das questões que envolvem
o ser humano constitui a essência de minha tese de que é preciso cultivar
a criatividade, seja na escola, no mundo dos negócios ou na vida cotidiana.
O segundo motivo para ter revisado e atualizado o texto original é que
hoje tenho mais a dizer sobre muitas das ideias deste livro e sobre a forma
como devemos colocá-las em prática. Nos últimos dez anos, apresentei e dis-
cuti essas teorias com pessoas de todos os campos, inclusive com presiden-
tes de multinacionais e de organizações sem fins lucrativos, e com políticos,
artistas, cientistas, estudantes, pais e educadores. Esses contatos aprofun-
daram minha convicção sobre a importância e a urgência dos argumentos
apresentados em Libertando o poder criativo, e sobre a necessidade de levar
essas ideias a um número ainda maior de pessoas.
A terceira razão é que, assim como o mundo mudou nos últimos dez
anos, eu também passei por transformações. Literalmente. Quando escrevi
a primeira edição, minha família e eu morávamos em Stratford-upon-Avon,
pequena cidade inglesa e terra natal do escritor William Shakespeare. Escre-
vi a nova edição em Los Angeles, onde vivo atualmente. O arquiteto Frank
Lloyd Wright disse que, se algum dia alguém sacudisse o planeta, tudo o que
estivesse solto iria parar em Los Angeles. Logo depois da primeira edição de
Libertando o poder criativo entramos nesse movimento, em uma transição
repleta de desafios. Desde então, tenho viajado pelos Estados Unidos, con-
versado com muitas pessoas extraordinárias e assistido a iniciativas fasci-
nantes. Todas essas experiências contribuíram para esta nova edição.
Em 2006, fui um dos palestrantes da famosa conferência TED (Technolo-
gy, Entertainment, Design) realizada em Monterrey, na Califórnia, e abordei
alguns dos temas centrais deste livro. O vídeo com essa palestra foi visto
mais de 5 milhões de vezes, em mais de cem países¹. Para ter uma ideia, meus
filhos James e Kate me mostraram um vídeo do YouTube de 30 segundos
com dois gatinhos que parecem conversar, e que foi objeto de mais de 30
milhões de downloads. Sempre tenho esses números em mente. No entanto,
sei muito bem que, ao contrário do vídeo com os felinos, minha palestra na
TED foi exibida em pequenas e grandes conferências, encontros e eventos de
treinamento em todo o mundo. Por isso, até agora foi vista por cerca de 100
milhões de pessoas, o que dá uma estimativa do interesse que o tema suscita.
p r e fá c i o 15
Ken Robinson
Capítulo 1
“Quando as pessoas me dizem que não são criativas, concluo que ainda não
entenderam o que é criatividade.”
CRIAÇÃO DO FUTURO
REPENSAR A CRIATIVIDADE
Atividades especiais?
Há quem acredite também que a criatividade se restrinja a iniciativas especiais,
como artes, publicidade, design ou marketing. Todos esses campos podem ser
criativos, mas nada impede que essa característica esteja presente também em
áreas como ciência, matemática, pedagogia, medicina, para além de contato
com pessoas, liderança de um time esportivo ou gestão de um restaurante. As
escolas costumam ter setores de “artes criativas”. Sou um defensor do desenvol-
vimento de artes nas escolas, e vou explicar minhas razões mais adiante, mas
não considero a criatividade um privilégio exclusivo de quem atua no campo
artístico. Existem diversos motivos para ensinar arte nas escolas, entre eles a ca-
pacidade de estimular a criatividade, mas há outros igualmente convincentes.
Outras disciplinas, como a ciência e a matemática, podem ser tão criati-
vas como a dança e a música. Sempre é possível agir de forma criativa quan-
do usamos a nossa inteligência.
No mundo dos negócios, empresas diferentes podem ser criativas em
áreas distintas. A Apple, por exemplo, ficou famosa pela capacidade de de-
20 L I B E R TA N D O O P O D E R C R IAT I VO
Processo de libertação
Podemos associar a criatividade à livre expressão, o que explica em parte por
que algumas pessoas se preocupam com a criatividade na educação. Os mais
críticos logo pensam em crianças correndo sem controle e derrubando os
móveis em vez de alunos dedicados a um trabalho sério. Ser criativo envolve
brincar com ideias e fazer as coisas de forma divertida, com liberdade e imagi-
nação. Mas a criatividade também inclui trabalhar com dedicação em ideias e
projetos, para realizá-los da melhor forma possível, ao mesmo tempo avalian-
do o processo todo para saber o que funciona melhor e por quê. Em todas as
disciplinas, a criatividade requer habilidade, conhecimento e controle. Não se
trata apenas de soltar a imaginação, mas de saber dar continuidade a algum
projeto.
L i b e r ta n d o s e u p o d e r c r iat i vo 21
Ao longo deste livro, você vai encontrar basicamente três tipos de infor-
mação:
• vivemos em uma época de transformações;
• se quisermos sobreviver e triunfar, precisamos pensar de maneira dife-
renciada sobre as nossas próprias habilidades e usá-las da melhor forma
possível;
• para fazer isso, temos de organizar nossas empresas e, principalmente,
nossos sistemas educacionais em estruturas diferentes.
Nos capítulos seguintes, cada aspecto acima será abordado de forma mais
detalhada, mas eu gostaria de resumir a minha teoria.
Diante da revolução
Não importa quem você é nem o que faz, se está vivendo no planeta Terra
está em meio a uma revolução global. Falo isso no sentido literal e não meta-
fórico, pois hoje encontram-se em ação forças inéditas até aqui. Pode parecer
exagero, mas é verdade. A trajetória humana sempre foi turbulenta, mas o
que diferencia o processo atual é a escala e a velocidade das mudanças. As
duas grandes forças que movem essa dinâmica são a inovação tecnológica e
o crescimento populacional. Juntas, elas vêm revolucionando nossa forma
de viver e de trabalhar; esgotam os recursos naturais do planeta e mudam a
natureza da política e da cultura.
As novas tecnologias revolucionam a natureza do trabalho em toda par-
te. Nas antigas economias industriais, o número de profissionais em setores
e profissões relacionadas com o aspecto operacional está cada vez menor.
Novas formas de trabalho dependem de altos níveis de conhecimento es-
pecializado, de criatividade e de inovação. Em particular, as novas tecno-
logias exigem capacidades totalmente diferentes das que eram valorizadas
na economia industrial. A produção vem se transferindo para as economias
emergentes, sobretudo na Ásia e na América do Sul, o que também ocorre
com novas formas de trabalho que dependem de altos níveis de habilidade
em design e em tecnologias da informação. Considerando a velocidade da
mudança, empresas e governos reconhecem que a educação e o treinamento
são as chaves para o futuro, e enfatizam a crucial importância de desenvolver
22 L I B E R TA N D O O P O D E R C R IAT I VO
Até meados do século 19, poucas pessoas tinham algum acesso à edu-
cação formal. Aprender era um privilégio de poucos que tinham recursos
para isso. Os sistemas públicos de educação em massa foram concebidos
para atender às demandas da Revolução Industrial e, sob vários aspectos,
refletiam os princípios da produção industrial, com ênfase na linearidade,
submissão e uniformização. Um dos motivos de o modelo não se aplicar hoje
é que a vida real tornou-se orgânica, adaptável e diversificada.
Algumas semanas antes que meu filho começasse as aulas em uma uni-
versidade de Los Angeles, fomos participar de um dia de orientação. Em
determinado momento, os estudantes foram reunidos para receber infor-
mações sobre as opções de matérias e os pais seguiram para o departamento
financeiro, para ouvir os conselhos de um dos professores sobre como deve-
ríamos agir em nosso papel de pais de estudantes. Em resumo, o acadêmi-
co nos aconselhou a tentar não interferir nas escolhas educacionais e citou
como exemplo a trajetória do próprio filho, aluno da mesma universidade
algum tempo antes. Inicialmente, o rapaz manifestou interesse em estudos
clássicos, mas o professor e sua esposa não se empolgaram com as possibili-
dades profissionais que tal diploma abriria para o filho. Por isso, sentiram-se
aliviados quando, no final do primeiro ano, o jovem anunciou que estava
pensando em algo mais útil. O casal perguntou qual era a nova opção e ouviu
como resposta: filosofia. O pai alertou que nenhuma das grandes empresas
do setor filosófico estava contratando profissionais naquele momento. Ape-
sar da ressalva paterna, o rapaz cursou algumas disciplinas em filosofia e
acabou se formando em história da arte.
Depois de terminar o curso, o filho do professor conseguiu um emprego
em uma casa de leilões internacionais. Viajou, conquistou um bom padrão
de vida e atua em uma área da qual gosta. Conseguiu o emprego graças aos
conhecimentos de culturas antigas, ao preparo intelectual em filosofia e a seu
amor pela história da arte. Nem o jovem nem seus pais haviam previsto esse
caminho na época das escolhas profissionais. O princípio é o mesmo para
todo mundo: a vida não é linear. Quando uma pessoa segue o seu próprio
norte cria novas oportunidades, encontra pessoas diferentes, tem vivências
distintas e constrói uma nova vida.
A hierarquia das disciplinas nas escolas se baseia em parte nas percepções
de oferta e demanda do mercado de trabalho. As novas economias exigem