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ANÁLISES CLÍNICAS

A ILHA DE
QUALIDADE Pelo jornalista Aloísio Brandão,
editor desta revista

As análises clínicas são uma ilha de qualidade. Infatigáveis,


os seus farmacêuticos atuam sob uma espécie de ordem superior,
segundo a qual todos devem estar no topo da qualificação. Os
laboratórios, por sua vez, submetem-se a intermináveis acompa-
nhamentos para avaliação dos serviços que prestam. Todos estão
inscritos em pelo menos um programa externo de qualidade. É
inconcebível o contrário. O setor inteiro vibra sob o diapasão da
qualificação e da qualidade, duas palavras chave para o setor. Não
há um profissional que não tenha a exata noção de sentido e de
alcance dessas palavras. Elas são também uma meta. E não há
ainda um profissional ou um laboratório de análises clínicas que
não lute obsessivamente para atingi-la. A PHARMACIA BRASI-
LEIRA traz esta matéria, com várias entrevistas, refletindo o setor.
A qualificação-qualidade foi a preocupação mais recorrente apre-
sentada pelo entrevistados.

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Ambientes de laboratório de análises clínicas
Fotos gentilmente cedidas pelo Laboratório Gaspar, (São Luiz - MA)
Telefone (98) 231-4488 e e-mail <labgaspar@elo.com.br>

Triagem e distribuição Hematologia Bioquímica, imunologia e hormônio

ENTREVISTA / WILLY CARLOS JUNG

As palavras superpoderosas

ANÁLISES CLÍNICAS
das análises clínicas
Qualidade e qualificação formam uma dupla de
palavras-símbolo dentro do universo das análises clínicas.

PNCQ, BPLC, DICQ, ABNT, CB-36, NBR. Soou estranho para você?
Não se preocupe. Para muita gente, isso também não passa de um amontoado
surreal de letras sem sentido ou de um código absurdo que esconde uma
mensagem oculta. Mas não é. Na verdade, não há nada mais corriqueiro que
essas siglas para um farmacêutico-bioquímico. Todas elas desembocam nas
mais importantes palavras dentro do setor: qualidade e qualificação. Entrevis-
tamos o presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (Sbac), Willy
Carlos Jung, sobre esse casamento do setor com a qualidade-qualificação e
sobre outras particularidades que movem o dia-a-dia das análises clínicas, no
Brasil. Aproveite para se familiarizar com as siglas. Veja a entrevista. Willy Jung, presidente da SBAC

PHARMACIA BRASILEIRA - Há nais das análises clínicas, para implantar de Qualidade possui, hoje, cerca de 2.000
uma opinião segundo a qual o segmento em seus serviços os controles interno e Laboratórios Clínicos, que estão inscri-
das análises clínicas é muito identificado externo da qualidade; tos em seu controle. Entre esses labora-
com a qualidade e que está sempre lutan- 3º) Sensibilização do poder públi- tórios participantes, estão quase todos
do para estar no todo da qualificação. Há co, para facilitar a importação de amos- os laboratórios clínicos das Forças Ar-
muito ainda a se conquistar, em se tratan- tras-controle para serem aplicadas na qua- madas, os laboratórios centrais dos Esta-
do de qualidade? Quais são os principais lidade. dos e alguns laboratórios municipais e de
desafios, nesse campo? PHARMACIA BRASILEIRA - A empresas de economia mista.
Willy Carlos Jung - O segmento Sbac criou o Programa Nacional de Con- O programa é destinado a qualquer
das análises Clínicas, assim como todos trole de Qualidade, o PNCQ, que inclusi- tipo de laboratório, independente do seu
os estabelecimentos que prestam servi- ve possui o ISO 9000. Fale sobre o pro- tamanho, número de clientes atendidos e
ços à saúde da população, é intensamen- grama. Quantos laboratórios são benefi- ou complexidade dos seus exames. Existe
te identificada com a qualidade. Não se ciados por ele? um programa básico que engloba as dosa-
concebe hoje a existência de um laborató- Willy Carlos Jung - Sim, a Socie- gens do dia a dia, assim como programas
rio clínico, sem estar inscrito em um pro- dade Brasileira de Análises Clínicas criou avançados para os laboratórios clínicos
grama externo de qualidade. Os princi- e patrocina o Programa Nacional de Con- de maior complexidade.
pais desafios neste campo são: trole de Qualidade e tem apoiado o mes- O Programa Nacional de Controle
1º ) Necessidade de uma legislação mo, em todos os sentidos, que o tornou o de Qualidade, seguindo as diretrizes da
de âmbito nacional, para tornar obrigató- maior e mais completo provedor de en- Sociedade Brasileira de Análises Clínicas,
rio o controle de qualidade para todos os saio de proficiência do País e da América foi certificado pela ABNT/Inmetro, de
laboratórios clínicos; do Sul. acordo com as diretrizes da norma ISO
2º) Conscientização dos profissio- O Programa Nacional de Controle 9002, e estará, em breve, certificado pela

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ANÁLISES CLÍNICAS ENTREVISTA / WILLY CARLOS JUNG

Anvisa, de acordo com os critérios da Re- Análises Clínicas (Sbac), já foram creden- Dr. Willy, quais são as iniciativas da Sbac,
blas (Rede Brasileira de Laboratórios Ana- ciados 18 laboratórios clínicos, no País, voltadas à área do conhecimento/qualifi-
líticos em Saúde). sendo quatro, no Rio de Janeiro; quatro, cação (especialização) em análises clíni-
PHARMACIA BRASILEIRA - em Minas Gerais; três, em São Paulo; cas?
Quais os benefícios para os laboratórios dois, em Santa Catarina; e um, no Rio Willy Carlos Jung – A Socieda-
clínicos que participam do PNCQ? Como Grande do Sul e no Espírito Santo. Há de Brasileira de Análises Clínicas, como
é feito o acompanhamento desses labora- ainda 18 laboratórios com seus processo sempre, se preocupa com a Educação
tórios? de credenciamento em andamento. Deve Continuada dos sócios e isto é concre-
Willy Carlos Jung - O benefício ser destacado que o primeiro laboratório tizado com a realização anual do Con-
da participação dos laboratórios clínicos que recebeu o credenciamento do DICQ/ gresso Brasileiro de Análises Clínicas,
no Programa Nacional de Sbac foi o Laboratório Tom- que em 2002 será realizado de 26 a 30
Controle de Qualidade é masi Netto, de Vitória (ES), de maio, em Fortaleza. Estamos incen-
muito grande, pois, em sua “Não se concebe cujo diretor é um profissio- tivando também a realização de congres-
avaliação, são mostradas as hoje a existência nal farmacêutico, o Dr. Hen- sos regionais, de porte menor, para pos-
não-conformidades do de um laboratório rique Tommasi Netto. sibilitar uma reciclagem de conhecimen-
funcionamento analítico PHARMACIA BRASI- to dos profissionais estabelecidos nas
clínico, sem estar
do mesmo, possibilitando LEIRA - O senhor poderia respectivas regiões.
a implantação, de imedia- inscrito em um comentar sobre a qualifica- Possuímos uma revista indexada, a
to, de ações corretivas programa externo ção do farmacêutico-bioquí- “Revista Brasileira de Análises Clínicas”,
pertinentes e, em conseqü- de qualidade”. mico brasileiro em relação que está à disposição dos profissionais
ência, um atendimento di- aos profissionais dos demais para publicação de suas pesquisas. As
ferenciado e com melhor países do Mercosul? nossas Regionais, em todo o País, pro-
desempenho para seus clientes. Willy Carlos Jung – Há, no País, gramam e realizam curso de atualização
O acompanhamento é feito por pro- uma quantidade enorme de faculdades de destinados aos profissionais que desem-
cessos estatísticos, obtidos dos exames Farmácia para a graduação do farmacêu- penham funções dentro laboratório clíni-
das amostras-controle enviadas e dosa- tico bioquímico, um dos dois únicos pro- co. A Sociedade Brasileira de Análises
das por todos os participantes. Esses re- fissionais que são preparados, desde a Clínicas realiza, ainda, provas de conhe-
sultados das dosagens são lançados no universidade, para a especialidade. Com cimento dos profissionais que desejam
CPD, realizados os cálculos estatísticos relação ao Mercosul, todos os países in- obter o Título de Especialista em Análi-
e as avaliações são enviadas, de volta, ao tegrantes do mesmo preparam, de modo ses Clínicas, o qual deve ser revalidado, a
laboratório participante, dentro de dez semelhante, os seus profissionais. Está cada cinco anos.
dias. Além disto, há uma avaliação indi- havendo discussões em grupos de traba- PHARMACIA BRASILEIRA - A
vidual, por analito, para que o laborató- lhos, com a participação de todos os pa- área de análises clínicas é muito vasta e
rio participante observe, de imediato, o íses, para a implantação de normas de re- plural. Por isso, há uma grande diversida-
seu desempenho, ao receber o relatório. conhecimento curricular e profissional, de de portas que podem ser abertas ao
Esta avaliação é realizada, mensalmente. assim como de diretrizes e padronizações farmacêutico. O senhor pode citar e co-
PHARMACIA BRASILEIRA - para serem aplicadas a todos os parcei- mentar cada uma das áreas de atuação do
Qual é a situação da inspeção e dos cre- ros do Mercosul. farmacêutico analista clínico?
denciamentos dos sistemas de qualidade, PHARMACIA BRASILEIRA - Willy Carlos Jung – Sim, as pos-
no País? Como foi a conclusão dos trabalhos do sibilidades de especialização são muitas
Willy Carlos Jung - No que diz CB-36 (Comitê de Análises da ABNT)? e o próprio Conselho Federal de Farmá-
respeito à situação do credenciamento do Willy Carlos Jung – O CB-36 da cia tem expedido resoluções, garantindo
sistema da qualidade de laboratórios clí- ABNT é um comitê brasileiro criado para o âmbito profissional para o farmacêuti-
nicos, no Brasil, tem sido feito, através elaborar normas (NBR) da co bioquímico, em áreas
da norma ISO 9002 e da norma estabele- ABNT, destinadas ao se- emergentes para as quais o
cida pela Sociedade Brasileira de Análi- tor de análises clínicas. É, “Teremos, em mesmo está graduado e ca-
ses Clínicas. No início do processo do como todo comitê da breve, novos testes pacitado para o seu exercí-
credenciamento, os grandes laboratórios ABNT, aberto à participa- imunológicos para cio. Entre estas áreas, o es-
do País começaram a ser credenciados ção de qualquer profissio- patologias pecialista em qualidade,
pela norma ISO 9002, que tem grande nal. Já foram elaboradas com certeza, está em alta,
poder de marketing, mas depois eles vi- várias normas, entre elas a emergentes e o devido à conscientização
ram que havia a necessidade também de NBR 14.500, que estabe- aprimoramento de dos profissionais para a
serem credenciados pelas normas das lece as diretrizes de Ges- outros já existentes, implantação de controle e
Boas Práticas de Laboratórios Clínicos tão da Qualidade dos La- com o aumento das garantia da qualidade. Hoje
(BPLC) e da gestão de qualidade dos la- boratórios Clínicos e já foi
boratórios clínicos, pois são normas mais aprovada também a reda-
especificidades dos nós temos profissionais
especializados em biologia
específicas e aplicadas para os laborató- ção final, depois da con- mesmos”. molecular, hematologia, ci-
rios clínicos, e que são usadas pelas soci- sulta pública, da norma de topatologia, imunologia,
edades científicas da especialidade para segurança no laboratório clínico. Outras etc.
os seus conhecimentos. normas estão em estado de elaboração, PHARMACIA BRASILEIRA -
No que toca ao Departamento de como a que vai estabelecer o padrão para Qual delas emprega mais e qual emprega
Inspeção e de Credenciamento da Quali- o exame de urina tipo I (EAS). menos? Qual remunera mais e qual me-
dade (DICQ) da Sociedade Brasileira de PHARMACIA BRASILEIRA - nos? As perguntas valem tanto para o

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ENTREVISTA / WILLY CARLOS JUNG

ANÁLISES CLÍNICAS
setor privado, quanto para o público. PHARMACIA BRASILEIRA - Willy Carlos Jung – Sobre o
Willy Carlos Jung – O emprego Como o senhor avalia a pesquisa na área POCT, há necessidade de ser regulamen-
para os analistas clínicos depende muito de análises clínicas, no Brasil e no mundo? tado ou pelo menos selecionados aqueles
de sua especialização e ex- Em nosso País, há recur- cuja tecnologia permite, por exemplo, que
periência, o que leva, mui- “Há necessidade sos e tecnologia suficientes um médico clínico ou uma enfermeira rea-
tas vezes, a obter remune- de a pesquisa (NR: para se realizar as pesqui- lize a sua manipulação. Temos observado
ração além do mercado de sas necessárias?
trabalho. O setor público é em análises
que a implantação desordenada de POCT
Willy Carlos Jung – A por profissionais não capacitados tem le-
sempre uma boa opção, clínicas) ser pesquisa na área de análi- vado a resultados inadequados, o que inci-
mas a sua remuneração é incentivada, pois, ses clínicas, no Brasil, é de em perda da qualidade e aumento dos
inferior ao setor privado. hoje, o que temos muito pequena, como em
custos.
Neste, as fusões de gran- outras áreas, no País. Há
des laboratórios têm pro-
de novas necessidade de a pesquisa
A tendência deve ser treinar os pro-
vocado o desemprego de tecnologias são
fissionais da área para o seu manuseio,
ser incentivada, pois, hoje,
com a finalidade de obter resultados con-
profissionais com bastan- todas oriundas dos o que temos de novas tec-
fiáveis. Entre os chamados POCT, há o
te experiência. Estados Unidos e nologias são todas oriundas
famoso teste de gravidez, vendido em far-
PHARMACIA dos Estados Unidos e Eu-
Europa” mácias que, às vezes, por imperícia ou
BRASILEIRA - Quais são ropa. Esse incentivo tem
as novidades científicas que ser respaldado por dis- deterioração do teste, leva a resultados
aguardadas para o segmento, nos próxi- ponibilização de verbas mais direcionadas errôneos de avaliação de uma situação, que
mos anos? ao setor. prejudica o paciente e a família. Na maio-
Willy Carlos Jung – Além das PHARMACIA BRASILEIRA - ria das vezes, é o laboratório clínico que
novidades, em termos de equipamentos, Tem-se falado muito sobre o POCT (Po- resolve e é aonde o paciente devia ter ido,
cada vez mais sofisticados e automatiza- int of Care Testing) ou teste rápido feito em primeiro lugar.
dos, o que, sem dúvida, melhora o desem- em casa. Elogia-se a sua praticidade, a ra-
penho dos testes, teremos, em breve, no- pidez com que dá o resultado dos exames Contatos com o presidente da Sbac,
vos testes imunológicos para patologias e o fácil manuseio. A sua utilização é uma Willy Jung, podem ser feitos através
dos e-mails <wjung@uol.com.br> e
emergentes e o aprimoramento de outros tendência? Há inconveniências no seu uso?
<geral@sbac.org.br>. O site da Sbac
já existentes, com o aumento das especifi- Há o perigo de esses aparelhos serem ma- é <www.sbac.org.br>
cidades dos mesmos. nipulados por leigos?

ENTREVISTA / RITA PALHANO

Citologia clínica:
haja especialização!
A Sociedade Brasileira de Citologia Clínica (SBCC) saiu vitoriosa de sua
prova de fogo. A realização, pela entidade, do “I Congresso Brasileiro de Citolo-
gia Clínica”, em Goiânia, no fim do ano passado, mostrou a maturidade da entida-
de, hoje, com dez anos de fundada, e o quanto ela pode fazer em favor do segmen-
to. O evento aconteceu paralelamente ao “Congresso Brasileiro de Análises Clí-
nicas do Centro-Oeste”, a cargo da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas
(Sbac), seção Goiás. O evento reuniu cerca de mil participantes e convidados de
peso nos cenários nacional e internacional da citologia clínica. A presidente da
SBCC, a maranhense Rita Maria do Amparo Bacelar Palhano, é entrevistada pela
revista PHARMACIA BRASILEIRA. Ela fala da responsabilidade científica da
SBCC, dos problemas do setor, da busca entusiástica do farmacêutico e dos
laboratórios pela qualificação e pela qualidade, do ensino farmacêutico voltado
para o campo citológico etc. Rita lamenta o fato de especialistas em prevenção do
câncer não estarem fazendo tudo o que poderiam, por conta das dificuldades que
encontram para atuar. “Muitas vezes, são necessárias ações judiciais, como ocor-
reu, em Vitória (ES) e em Natal (RN), entre outros lugares, para garantir a nossa
participação no Programa Nacional de Prevenção de Câncer do Colo Uterino”,
informa. O que está por trás disso? Veja a entrevista.
Rita Palhano, presidente da SBCC
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ANÁLISES CLÍNICAS ENTREVISTA / RITA PALHANO

PHARMACIA BRASILEIRA - pecialistas serão necessários para aten- pela SBCC. É também necessário que o
Que avaliação a senhora faz do “I Con- der a demanda. A OMS preconiza uma laboratório disponha de condições para
gresso Brasileiro de Citologia Clínica”? O cobertura de, no mínimo, 85% da popu- implementação da garantia e controle in-
evento aponta rumos para o lação de risco para que haja terno e externo da qualidade. Todo o pro-
segmento citológico? um impacto na redução de cesso deverá ser documentado, através de
Rita Palhano - O Con- morte por câncer. É incon- manual da qualidade, registros e arquivos.
gresso foi um sucesso. Con- cebível que, em nosso País, PHARMACIA BRASILEIRA - Os
seguimos reunir aproximada- embora tendo um índice de laboratórios terão dificuldades para cum-
mente mil participantes, tive- mortalidade por câncer tão prir alguns itens da lista de exigências?
mos dois conferencistas inter- alto, sendo inclusive consi- Rita Palhano - O sistema de im-
nacionais, 16 nacionais, os derado um problema de plementação de garantia e controle de
debates e palestras foram de saúde pública, a prevenção qualidade interna e externa demanda mai-
alto nível, além de serem atu- seja boicotada por interes- ores gastos. Entretanto, é de suma im-
ais e enriquecedores para o co- se mercadológico de uma portância que o laboratório busque sua
nhecimento dos citopatologis- minoria. certificação.
tas. O Congresso, com este PHARMACIA BRASI- PHARMACIA BRASILEIRA -
nível, consegue proporcionar Rita Palhano ao microscópio LEIRA - A SBCC está ela- Ainda sobre qualidade: o Ministério da
um salto de qualificação aos borando uma lista de exigên- Saúde mudou algumas regras para o cre-
profissionais e, conseqüentemente, me- cias para os laboratórios de citologia clí- denciamento de laboratórios que realizam
lhora a acurácia dos métodos de diagnós- nica. A lista, que será encaminhada ao Mi- o controle de qualidade do Programa Na-
ticos citopatológicos, tendo como bene- nistério da Saúde e ao Inmetro (Instituto cional Viva Mulher. Que mudanças são
fício maior a prevenção do câncer, no Bra- Nacional de Metrologia), órgão do Mi- essas? Os laboratórios adaptaram-se a
sil. nistério da Indústria e do Comércio, tem elas?
PHARMACIA BRASILEIRA - por objetivo avançar mais ainda na ques- Rita Palhano - A Portaria Conjun-
Como a senhora analisa o atual momento tão do controle de qualidade. A senhora ta número 92/2001, no seu artigo 3º, de-
da citologia clínica, no Brasil? pode falar mais sobre a lista, citando al- termina a execução do monitoramento in-
Rita Palhano – Nós, especialistas guns das exigências mais importantes? terno da qualidade dos resultados de exa-
na área de prevenção do câncer, podería- Rita Palhano - As listas de verifi- mes citopatológicos, por parte de todo
mos fazer muito mais do que estamos re- cação são instrumentos utilizados pelos laboratório que realize esses exames para
alizando, atualmente. Somos mais de 600 laboratórios e instituições acreditadoras o Sistema Único de Saúde (SUS) e, no seu
profissionais especializados e em torno para nortearem os seus artigo 4º, estabelece a
de 100 estão concluindo cursos de espe- programas de garantia de obrigatoriedade de parti-
“A OMS preconiza
cialização, em todo o Brasil. Entretanto, qualidade, bem como cipação por parte dos la-
temos tido dificuldades na atuação. Mui- programa de credencia- uma cobertura de, no boratórios que realizem
tas vezes, são necessárias ações judiciais, mento de laboratórios. mínimo, 85% da exames citopatológicos
como ocorreu, em Vitória (ES) e em Natal Essas listas contêm clas- população de risco para o SUS do processo
(RN), entre outros lugares, para garantir sificações que variam de para que haja um de monitoramento exter-
a nossa participação no Programa Nacio- apenas informações até o no da qualidade. Não só
impacto na redução
nal de Prevenção de Câncer do Colo Ute- grau grave de deficiência, acreditamos que os labo-
rino. tais como classe 0, ape- de morte por câncer. ratórios dos farmacêuti-
Há impedimentos políticos impos- nas para informação; É inconcebível que, cos-bioquímicos se adap-
tos por aqueles que só priorizam os inte- classe I e II, deficiências. em nosso País, tarão a esta norma, como
resses pessoais e mercadológicos. O CFF Deficiências classe I são embora tendo um é o que a SBCC mais al-
tem nos ajudado, no sentido de garantir o as que não afetam seria-
índice de mortalidade meja.
exercício da citologia clínica e, em con- mente a qualidade do PHARMACIA
junto, temos participado de reuniões no atendimento ao paciente, por câncer tão alto, a BRASILEIRA - Duran-
Ministério da Saúde. A nossa última con- enquanto que a deficiên- prevenção seja te o “I Congresso Brasi-
quista foi a volta de nossa participação cia classe II são graves e boicotada por leiro de Citologia Clíni-
ao controle de qualidade (Portaria Con- podem afetar gravemen- interesse ca”, realizado, em Goiâ-
junta número 92/2001). te o atendimento ao pa- nia, a SBCC realizou a
mercadológico de
Ainda precisamos voltar a conver- ciente. Todas as deficiên- 1ª prova de Título de Es-
sar com o ministro para, através de dis- cias dessa classe deverão uma minoria” pecialistas em Citologia
positivo legal, impedir a discriminação a ser corrigidas, antes que Clínica. Qual o objetivo
profissões regulamentadas na participa- a comissão de credenciamento de labora- do Título?
ção do Programa Nacional de Prevenção tório outorgue o referido credenciamen- Rita Palhano - O Título de Espe-
do Câncer. Também, temos informações to. cialista tem por finalidade qualificar o pro-
de que existem inúmeros exames citológi- Entre as exigências mais importan- fissional. É uma das prerrogativas das so-
cos colhidos e não diagnosticados, com tes, está a qualificação do profissional. ciedades científicas que visam a manter
atrasos de meses, e pacientes esperando Para isso, é necessário que o mesmo te- os seus membros em constante atualiza-
o retorno destes exames. nha curso de especialização em Citologia ção, tendo como característica a revalida-
No entanto, sabemos que mais es- Clínica e o título de especialista expedido ção, de cinco em cinco anos.

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ENTREVISTA / RITA PALHANO

ANÁLISES CLÍNICAS
PHARMACIA BRASILEIRA - A “O ensino, tanto de um cessidades impostas pelo mercado de
SBCC uniu-se à Sbac, com vistas a reali- modo geral, quanto em trabalho. Por isso, a nossa preocupa-
zar ações conjuntas. Pode falar sobre ção com a pós-graduação. Isto reflete
isso? Que frutos essa aliança dará à cate- nível de graduação, no também no ensino da Citologia Clínica.
goria? Brasil, está abaixo das PHARMACIA BRASILEIRA -
Rita Palhano - A parceria que es- necessidades impostas Falemos um pouco sobre o mercado de
tamos mantendo com a Sbac diz respeito pelo mercado de trabalho. trabalho. Ele emprega e remunera bem?
à realização de congressos, controle de Por isso, a nossa Rita Palhano - O mercado de tra-
qualidade e acreditação de laboratórios. balho na área de citologia é promissor,
A grande maioria dos laboratórios clíni- preocupação com a pós- principalmente, na prevenção do câncer
cos tem uma seção de citologia e/ou ana- graduação. Isto reflete de colo uterino e mama. A realização pe-
tomia patológica, devido aos interesses também no ensino da riódica dos exames de prevenção permite
complementares das especialidades. A Citologia Clínica” reduzir em 70% a mortalidade por câncer
Sbac já possui um programa de controle do colo do útero na população de risco e
de qualidade para laboratório clínico, o o emprego é gerado, através de recursos
PNCQ, e é uma instituição acreditadora citologia clínica, no Brasil, em nível de ligados a laboratórios credenciados pelo
do sistema da qualidade de laboratório. graduação? Qual o nível de conhecimento SUS.
Com a nossa parceria, estamos incluindo e de qualificação dos novos profissionais
a lista de verificação para o laboratório de lançados, no mercado? A página da BBCC, na Internet, é
citologia clínica. Rita Palhano- O ensino, tanto de <www.citologiaclinica.org.br> e o e-mail
PHARMACIA BRASILEIRA - um modo geral, quanto em nível de gra- da presidente da entidade, farmacêutica
Rita Palhano, é <ritabp@terra.com.br>
Dra. Rita, como a senhora vê o ensino de duação, no Brasil, está abaixo das ne-

ENTREVISTA / ELIAS CURY

No coração do Brasil
Um dos mais importantes eventos
das análises clínicas é o Congresso
do Centro-Oeste, realizado,
anualmente, em Goiás

Goiás vem sediando um dos mais expressivos


eventos brasileiros na área das análises clínicas. O Con-
gresso de Análises Clínicas do Centro-Oeste é uma
iniciativa da Sbac-GO. O órgão tem diversificado o le-
que de temas abordados e conseguido atrair um núme-
ro cada vez maior de participantes. A revista PHAR-
MACIA BRASILEIRA entrevista o presidente da Sbac
Elias Cury, presidente da Sbac-GO de Goiás, Elias Cury.

PHARMACIA BRASILEIRA - Os nir profissionais farmacêuticos-bioquími- PHARMACIA BRASILEIRA - O


Congressos de Análises Clínicas do Cen- cos, criando oportunidades para que eles farmacêutico que possui alta qualificação,
tro-Oeste, realizados pela Sbac de Goiás, adquiram aperfeiçoamentos técnico e ci- especializações, pós-graduações na área de
são alguns dos eventos mais importantes entífico nas mais diversas áreas das análi- análises clínicas, consegue impor o seu
do calendário farmacêutico brasileiro. De ses clinicas. Os eventos fazem com que salário, ou ele é vítima das mesmas difi-
que forma eles estão mudando o panora- estes profissionais, cada vez mais, este- culdades que abatem outros profissionais
ma do segmento bioquímico do País? Que jam preparados para estar no mercado, que brasileiros de nível superior altamente qua-
recomendações, reflexões, questionamen- é altamente competitivo. As reflexões e lificados, que têm que se submeter a bai-
tos mais importantes brotaram nesses questionamentos são de que os profissio- xos salários?
eventos? nais se conscientizem da necessidade de Elias Cury – Hoje, o mercado está
Elias Cury – Os Congressos reali- participar destes eventos promovidos pela à procura de profissionais com maior qua-
zados pela Sbac-GO têm conseguido reu- Sociedade. lificação e, com certeza, o profissional com

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ANÁLISES CLÍNICAS ENTREVISTA / ELIAS CURY

especialização, mestrados e doutorados Elias Cury – Para se montar um o Centro-Oeste em relação aos laborató-
terão maiores oportunidades e melhores laboratório, é necessário que se faça rios de outras regiões?
remunerações. Vendo a necessidade do um estudo de mercado, para que se sai- Elias Cury – Os laboratórios da
mercado, de contratar profissionais alta- ba que tipos de serviços este laborató- Região Centro-Oeste, e principalmente do
mente qualificados, a Sbac oferece o Títu- rio estará prestando, tanto à popula- Estado de Goiás, estão muito bem equi-
lo de Especialista em Análises Clínicas, ção, quanto aos médicos, hospitais, clí- pados, com excelentes profissionais. Eles
sendo que, em alguns Estados, os funcio- nicas e órgãos públicos. Os custos são têm capacidade de atender às necessida-
nários públicos portadores do título de variáveis, dependendo do nível de com- des do mercado, oferecendo qualidade e
especialista são melhor remunerados. plexidade do laboratório que se queira segurança aos usuários em geral (cliente,
PHARMACIA BRASILEIRA - montar. Sugerimos que se contrate uma médicos, clínicas e hospitais). Hoje, estes
Muitos novos farmacêuticos procuram a assessoria. laboratórios não deixam nada a desejar aos
dos grandes centros.
revista PHARMACIA BRASILEIRA, PHARMACIA BRASILEIRA –
querendo saber quanto custa montar um Como o senhor avalia a qualidade dos ser- Contatos com o presidente da Sbac-GO,
laboratório de análises clínicas. O senhor viços prestados por laboratórios de análi- Elias Cury, podem ser feitos pelo e-mail
<sinesdac@zaz.com.br>
pode responder? ses clínicas do Estado de Goiás e de todo

Ambientes de laboratório de análises clínicas


Fotos gentilmente cedidas pelo Laboratório Gaspar

Urinálise / Parasitologia Coleta de sangue adulto Coleta feminina secreção vaginal Coleta de sangue pediátrica Biologia molecular

ENTREVISTA / LENIRA DA SILVA COSTA

Direito à citologia clínica


O exercício farmacêutico da citologia clínica é um
direito respaldado em fundamentos acadêmicos e legais

Secretarias de Saúde estão absolutamente por fora, quando proíbem que


farmacêuticos analistas clínicos realizem o Exame Papanicolaou, descredenciando-
os do SIA/SUS (Sistema de Informações Ambulatoriais do Sistema Único de Saú-
de). Agindo assim, as secretarias dão um atestado de absoluto desconhecimento,
inclusive sobre portarias do Ministério da Saúde, matérias que devem servir-lhes
de parâmetro. A reclamação é da farmacêutica Lenira da Silva Costa, presidente da
Comissão de Análises Clínicas do Conselho Federal de Farmácia e conselheira
federal pelo Rio Grande do Norte. Ela cita o caso de um colega, a quem uma Secre-
Lenira da Silva Costa, presidente da
Comissão de Análises Clínicas do CFF taria de Saúde negou o credenciamento, baseada em uma norma ministerial (505/

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ENTREVISTA / LENIRA DA SILVA COSTA

ANÁLISES CLÍNICAS
98), que sequer tornou-se efetiva e tampouco entrou em nicas, as quais o Conselho Federal de Farmácia está repa-
vigor. “Pior ainda, utilizam como base resoluções profis- rando, judicialmente. A presidente da Comissão de Análi-
sionais, como a editada pelo Conselho Federal de Medici- ses Clínicas trata ainda do avanço que o segmento vem
na (1473/97), que se encontra atualmente sub judice. Ou- experimentando nos campos do conhecimento técnico-
tras utilizam como base a Portaria 238/2000, que trata do científico. Parte dessa experiência deve-se ao CFF, que
controle de qualidade e que teve seus artigos revogados, criou uma política de fomento à qualificação em todos os
desconhecendo que está em vigência a Portaria número segmentos profissionais, através de uma política de edu-
92 (conjunta) SPS/SAS, que não restringe a atividade pro- cação continuada. Lenira fala ainda do “corporativismo
fissional”, acrescenta Lenira Costa. Em entrevista à PHAR- inconsequente” do Conselho Federal de Medicina e da
MACIA BRASILEIRA, ela fala dessas e de outras situa- regulamentação do segmento das análises clínicas. Veja a
ções prejudiciais à atividade farmacêutica nas análises clí- entrevista.

PHARMACIA BRASILEIRA - sido castigado por ações do Conse- ma Único de Saúde (SIA/SUS), clas-
O Conselho Federal de Farmácia está lho Federal de Medicina, que, atra- sifica, no grupo 12 – Anatomopato-
muito empenhado em oferecer conhe- vés da Resolução 1473/97, determi- logia e Citopatologia - como ativi-
cimento e qualificação nou que exames na área dade profissional também de com-
aos farmacêuticos espe- “A regulamentação de citopatologia clínica petência do farmacêutico-bioquími-
cialistas em todos os da Resolução do são privativos dos mé- co reconhecido sob o Código de nú-
segmentos profissio- CFM, de número dicos, fato que impede mero 66, não há também como algu-
nais. A senhora pode ci-
1473/97, extrapola (ou impediria) os farma- mas autoridades ou serviços des-
tar e comentar as gestões cêuticos de realizarem o considerá-la. O próprio Judiciário,
do CFF, nesse sentido, os limites da lei” exame Papanicolaou. em alguns Estados, tem concedido
desenvolvidas, através Mas o Ministério da liminares, determinando que autori-
da Comissão de Análises Clínicas? Saúde e o próprio Judiciário enten- dades se abstenham de praticar qual-
Lenira da Silva Costa - A Co- dem o contrário. A senhora pode ex- quer ato que vise a impedir a reali-
missão de Análises Clínicas tem in- plicar esse imbróglio, desde a sua ori- zação de exames citopatológicos
termediado inúmeras solicitações de gem, e falar sobre a situação, hoje? por farmacêuticos bioquímicos.
apoio ao CFF, com vistas à realização Lenira da Silva Costa - Em pri- PHARMACIA BRASILEIRA -
de eventos científicos, nos Estados, meiro lugar, é importante esclarecer A Resolução 1473/97, do CFM, é um
pelos Conselhos Regionais, socieda- que os conselhos profissionais têm a ato de quem quer criar uma reserva
des científicas e associações, inclu- função precípua de zelar pela fiel ob- de mercado para os médicos? Isso
sive cursos de especialização. Quan- servância dos princípios da ética e pode trazer algum tipo de prejuízo para
to a estes cursos, a Comissão de Aná- da disciplina da classe dos que exer- a sociedade, principalmente às mu-
lises Clínicas, juntamente com a Co- cem a profissão que os mesmos re- lheres que precisam fazer o Exame Pa-
missão de Ensino, tem dado orienta- gulamentam. Portanto, a regulamen- panicolaou?
ção para a elaboração de projetos e tação da Resolução do CFM, de nú- Lenira da Silva Costa - Com cer-
sua posterior análise, como também mero 1473/97, extrapola os limites da teza, é um ato corporativista incon-
tem solicitado a apreciação, em Ple- lei, uma vez que cabe ao CFM norma- seqüente, que tenta, de forma terato-
nária do CFF, para reconhecimento tizar a profissão do médico, dar pri- lógica, restringir a citologia exclusi-
dos referidos cursos. Além disso, vatividade ao que exis- vamente ao âmbito do
conseguimos o patrocínio do CFF te em lei, mas jamais ex- “Com certeza, é médico, desconsideran-
para o Prêmio de melhor trabalho em travasá-la, o que é de um ato do que os próprios mé-
Citologia, no “Congresso Brasileiro exclusiva competência corporativista dicos delegam a citotéc-
de Análises Clínicas e de Citologia de norma legislativa. nicos tal atividade. E, ao
inconseqüente, que
Clínica”, como forma de incentivo à Não há como desconsi- mesmo tempo em que
pesquisa na área. derar que o direito do tenta, de forma nos consideram como
Como presidente da Comissão farmacêutico ao exercí- teratológica, profissionais não-aptos
de Análises Clínicas, tive a oportuni- cio da citologia clínica restringir a ao devido exercício, têm
dade de conferir palestras, em diver- esteja respaldado em citologia solicitado aos farmacêu-
sos Estados, levando conhecimento, fundamentos acadêmi- exclusivamente ao ticos ajuda nas campa-
qualificação e, o mais importante, in- cos e legais. âmbito do médico” nhas governamentais,
centivo ao trabalho em áreas dentro Considerando como ocorreu na última
das análises clínicas, ainda pouco que o próprio Ministé- campanha de combate
exploradas pelos farmacêuticos-bio- rio da Saúde, na edição da Portaria ao câncer de colo uterino, em que inú-
químicos. número 1230/99, que corresponde à meros farmacêuticos-bioquímicos do
PHARMACIA BRASILEIRA - tabela descritiva do Sistema de In- País fizeram leituras de lâminas, ten-
O segmento das análises clínicas tem formações Ambulatoriais do Siste- do sido mão-de-obra necessária para

Pharmacia Brasileira - Jan/Fev/Mar 2002


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ANÁLISES CLÍNICAS ENTREVISTA / LENIRA DA SILVA COSTA

que alguns serviços pudessem alcan- judicados devem enca- ca e quais os benefícios
çar a meta. minhar aos Conselhos que isso trará aos analis-
É claro que atos desta natureza, Regionais de Farmácia tas clínicos?
que não assumem a atividade, de for- denúncias formalizadas, Lenira da Silva Costa
ma ampla, mas, ao mesmo tempo, ten- através de documentos – Será este ano. É um de-
ta prejudicar, de forma legal, o exercí- que neguem o credenci- safio nosso apresentar
cio de profissional habilitado, acarre- amento pelo SIA/SUS ou mais algumas resoluções
ta prejuízos à sociedade, pois culmi- a liberação de alvará para e fazer um compêndio de
na com uma campanha que envolve realizar exames citopato- todas, dispondo, de for-
tantos gastos, não conseguindo al- lógicos, para que os mes- ma tão ousada quanto foi
cançar os objetivos desejados. mos as encaminhem ao a Resolução 357/2001.
É preciso visualizar as interfa- Conselho Federal de Far- Porém, em se tratando de
ces profissionais, respeitando as não mácia e, juntos, possam uma área em que ocorrem
privatividades profissionais, pois a garantir o exercício da constantes mudanças,
deteriorização dos padrões éticos profissão, através de principalmente, em razão
podem contribuir para a desestabili- ações técnicas e até ju- da tecnologia avançada,
zação do progresso democrático e diciais, se assim for ne- temos que atualizar a sua
bloquear o progresso das profissões, cessário. regulamentação, a cada ano. Conti-
além do prejuízo maior, que é do cida- PHARMACIA BRASILEIRA - nuaremos fazendo gestão junto à An-
dão. O importante é que cada profis- O CFF regulamentou, por resoluções, visa (Agência Nacional de Vigilância
sional cumpra o seu dever com com- a atividade do farmacêutico nos ban- Sanitária), do Ministério da Saúde,
petência e integridade. cos de sangue, nos bancos de leite para que saia o regulamento técnico
PHARMACIA BRASILEIRA - humano, de sêmen e de sangue de para o funcionamento de laboratóri-
Embora o farmacêutico esteja creden- cordão umbilical e placenta. Qual o os clínicos e postos de coleta, uma
ciado pelo Ministério da Saúde, atra- alcance dessas resoluções, dos pon- vez que é um ponto de partida para o
vés da Portaria 1230/99, para realizar tos de vista sanitário e da categoria nosso trabalho.
o Papanicolaou, a Consultoria Jurídi- farmacêutica? A Comissão de Análises Clíni-
ca do CFF informa que tem recebido Lenira da Silva Costa - O gran- cas do CFF teve uma atividade in-
denúncias de que secretarias estadu- de alcance, do ponto de vista sanitá- tensa, nestes últimos anos, aten-
ais de Saúde estariam descredenci- rio, é o reconhecimento pelas autori- dendo solicitações de colegas far-
ando o profissional do SIA/SUS. dades de poder contar com um pro- macêuticos-bioquímicos e de servi-
Como a senhora avalia esses atos das fissional que está habilitado a tais ati- ços de todo o País, regulamentan-
secretarias? Os farmacêuticos preju- vidades, podendo exercê-las com do áreas inovadoras, contribuindo
dicados devem fazer o que? qualidade. Ou seja, os bancos ganham com atividades científicas e estrei-
Lenira da Silva Costa - É ver- um grande reforço, com a atuação, no tando as relações entre o Conselho
dade. E isto ocorre por puro desco- setor, do farmacêutico. Os bancos Federal de Farmácia, a Sociedade
nhecimento dessas secretarias, até crescem com isso. Do ponto de vista Brasileira de Análises Clínicas, a
mesmo das portarias do Ministério profissional, é abrir espaços à cate- Associação Brasileira de Normas
da Saúde, a exemplo de um caso de goria, à medida em que os Conselhos Técnicas (ABNT) e diversas asso-
um colega, a quem foi negado o cre- precisam acompanhar os avanços tec- ciações de laboratórios clínicos na-
denciamento, baseado em norma nológicos, o surgimento de novos cionais.
ministerial (505/98) que sequer tor- serviços, atualizando, assim, o perfil Cumprimos parte do projeto e,
nou-se efetiva, tampouco entrou em profissional e garantindo âmbito, agora, vamos partir para a realização
vigor. Pior ainda, utilizam como sempre com fundamentos legais e ja- do “I Fórum Nacional Ético-legal de
base resoluções profissionais, como mais criando resoluções que não re- Análises Clínicas”, em que a tônica
a editada pelo Conselho Federal de flitam a luz da lei. será qualidade, sigilo e confidenciali-
Medicina (1473/97), que se encon- PHARMACIA BRASILEIRA - dade de laudos, planos de saúde/con-
tra atualmente sub judice. Outras O Conselho Federal de Farmácia re- vênio, entre outros. O apoio incondi-
utilizam como base a Portaria 238/ gulamentou, através da Resolução cional da Diretoria do CFF e as su-
2000, que trata do controle de qua- 357/2001, a atividade do farmacêuti- gestões valiosas do Plenário foram
lidade e que teve seus artigos revo- co que atua nas farmácias. O presi- indispensáveis para que a Comissão
gados, desconhecendo que está em dente do CFF, Jaldo de Souza San- de Análises Clínicas tivesse êxito nos
vigência a Portaria número 92 (con- tos, anunciou que as atividades pro- trabalhos realizados.
junta) SPS/SAS, que não restringe fissionais de todos os demais seg- Contatos com a presidente da Comissão
atividade profissional. mentos também serão contemplados de Análises Clínicas do CFF, Lenira da
Em qualquer dessas situações com regulamentações. Quando sairá Silva Costa, podem ser feitos, através
ou similares, os farmacêuticos pre- a regulamentação das análises clíni- do e-mail <lenira@cff.org.br>

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