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PRESTAÇÃO DE SERVIÇO A COMUNIDADE - PSC

RESUMO

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n° 8069/90, respaldada no artigo 227 da


Constituição Federal Brasileira, trouxe avanços no que se refere aos direitos e deveres da
Criança e do Adolescente, o adolescente em conflito com a lei poderá receber medidas sócio
educativas, que têm como fundamentos a responsabilização do adolescente, assim como a sua
reintegração ao convívio social sadio através da ação educativa. Este trabalho tem por objetivo
refletir sobre diferentes maneiras de promover o adolescente, educando-o no sentido de
forma-lo para a cidadania, verificando qual é a melhor ou mais adequada forma pedagógica.
Para isso buscou-se fundamentação nos métodos e teorias educativas que vem sendo
utilizadas pela pedagogia fazendo uma ponte com a demanda que se observa, isto é o
adolescente autor de ato infracional. Verificou-se que não ha um consenso em relação ao
melhor método de educar alguém.
A pedagogia mais aceita atualmente é a chamada educação popular que visa através
do diálogo, a partir da realidade do educando refletir sobre ela fazendo-o entender sua situação
diante do mundo. Posteriormente a isso se verificou através de pesquisa qualitativa a opinião
dos profissionais, especificamente sob o enfoque da medida sócio — educativa de Prestação
de Serviços a Comunidade (PSC), questionando-os sobre: o caráter da medida se considera
possível educar um adolescente que recebe a medida de PSC, verificando a opinião quanto a
influência das medidas sócio educativas na vida do adolescente e principalmente,
questionando a importância do trabalho pedagógico, educativo. Esta pesquisa possibilitou a
constatação da diversidade de opiniões em se tratando das questões acima mencionadas,
demonstrando a necessidade de discussões sobre o assunto. Neste sentido a intenção foi
contribuir para a melhoria no atendimento ao adolescente autor de ato infracional, em especial
aos que receberam a medida de PSC, por entenderem-se como fundamentais no processo de
atendimento os seguintes princípios: educação, presença do educador e o diálogo. Ressaltando
que o educador social ou o orientador é a figura principal, é quem fará a diferença no processo
educativo.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................ 08
I CAPÍTULO
1 Desvendando as Medidas Socioeducativas 10
1.1 As Medidas em Meio Fechado 12
1.1.1 Internação 12
1.1.2 Semiliberdade 13
1.2 Medidas Socioeducativa Meio Abertro 14
1.2.1 Liberdade Assistida............................................................................................ 15
1.2.2 Prestação de serviço à Comunidade 19
1.3 A Especificidade da PSC 21

II CAPÍTULO

2 Função Pedagógica da Pena de PSC e Sociabilidade do Socioeducando 23


2.1 Vantagens da Aplicação do PSC 25
2.2 Perfil das Entidades............................................................................................ 26
2.3 Implementação do PSC nos Municípios: Competências 26
2.3.1 Competi ao Poder Público Municipal 26
2.4 A Execução da Medida Socioeducacional 27
2.4.1 Medidas Socioeducacionais 27
2.5 Operacionalização 28
2.6 Entidades Beneficiadas com o PSC.................................................................... 29
2.7 A Pesquisa 30

III CAPÍTULO

3. Constatações e Reflexões 32

CONCLUSÃO 36
REFERÊNCIAS........... 38
4

Introdução

A partir da Constituição da República Federativa do Brasil (1988), inicia-se o


processo de regulamentação da legislação de proteção da infância e da juventude que
consolida a garantia dos direitos da infância e juventude ao definir criança e adolescente como
prioridade absoluta em seu artigo 227: Desde então se extinguiu o Código de Menores e
elabora-se o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei federal 8.069 de 1990. A partir
desse marco histórico, independentemente de sua classe social, crianças e adolescentes estão
submetidos a uma mesma legislação e são entendidos como cidadãos, sujeitos de direitos3
que devem ser tratados com prioridade absoluta.
A Prestação de Serviços à Comunidade é uma medida que, bem aplicada,
oportuniza ao adolescente a formação de valores e atitudes construtivas, através de sua
participação solidária no trabalho das instituições. Requer o envolvimento da comunidade, da
família, das organizações governamentais e não governamentais. Para sua execução é
imprescindível uma estreita articulação e integração com os órgãos, entidades e instituições
governamentais e não governamentais que desenvolvem ações na área da infância e
juventude.
Vivemos em um país com profundas desigualdades socioeconômicas, onde a
violência é banalizada a cada dia, a vida possui valores diferenciados e o consumismo é
supervalorizado. Neste cenário estão inseridas as crianças e adolescentes, ora vítimas, ora
produtoras, também, de violência. Quando crianças e adolescentes cometem atos infracionais,
a sociedade tende a julgá-los com maior severidade do que julgam os adultos que praticam
delitos, passam a ser discriminados e rotulados como infratores contumazes que ameaçam e
trazem insegurança para a população. Romper com este preconceito é imperioso, pois o ato
inf racional não pode ser atribuído como integrante da identidade de quem o pratica, mas sim
como uma contingência na vida do adolescente que pode ser alterada. Mesmo cometendo atos
infracionais ele continua adolescente, cidadão, sujeito de direitos e em condição peculiar de
desenvolvimento.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é fruto de uma grande mobilização
social e um marco histórico no desenvolvimento das lutas pelos direitos relacionados à
infância e à adolescência no Brasil. O ECA apresenta novos princípios para a política de
atendimento constituindo um “divisor de águas” da condição social das crianças e dos
adolescentes de uma situação irregular para a condição de proteção integral. Destaca-se que a
5

principal emergência do surgimento do ECA era a transposição do assistencialismo a uma


política de caráter emancipatório.
O ECA está organizado em três eixos fundamentais: o primeiro, das políticas
públicas universais, que engloba todas as crianças e adolescentes; o segundo, aborda as
crianças e os adolescentes que sofrem ou que tenham os seus direitos violados, ou seja,
aqueles que necessitam de proteção, e, por fim, o eixo da responsabilização, destinado aos
adolescentes autores de atos infracionais, foco principal deste artigo, está previsto no ECA na
Parte Especial, Título III - Da Prática de Ato Infracional, Capítulo IV - Das Medidas
SocioEducativas.
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I Capítulo
1. Desvendando as Medidas Socioeducativas

A proteção à criança e ao adolescente está prevista na Constituição do Estado de


1989.
Em 2004, através de lei estadual, criou-se o Conselho Estadual da Juventude do Acre
– CEJAC –, que em 2009 teve dispositivos alterados pela Lei nº 2144. Já em 2008, foi criado
um Instituto Socioeducativo, o ISE, vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento
para Segurança Social – SEDSS –, com autonomia administrativa, financeira e patrimonial,
tendo por finalidade precípua “humanizar, planejar, coordenar, implementar, particular,
supervisionar, fiscalizar e executar as diretrizes relativas à execução de medidas
socioeducativas”. No ano de 2010, foi instituída, no âmbito da Secretaria de Estado de Justiça
e Direitos Humanos – SEJUDH –, a Ouvidoria sobre assuntos de segurança pública e medidas
socioeducativas relativos ao Instituto Socioeducativo do Estado do Acre.
Nesse mesmo ano, o município de Cruzeiro do Sul, através de lei municipal, dispôs
sobre a política municipal de atendimento dos direitos da criança e do adolescente, com uma
possível criação de programas classificados como de proteção socioeducativa, destinando-se,
dentre outros, ao apoio socioeducativo em meio aberto.
O Estatuto da Criança e do Adolescente define no art. 112 as medidas
socioeducativas:
• advertência;
• obrigação de reparar o dano;
• prestação de serviços à comunidade;
• liberdade assistida;
• inserção em regime de semiliberdade;
• internação em estabelecimento educacional;
• qualquer uma das previstas no art. 101, l a VI.
Estas medidas são de caráter eminentemente educativo, porque oportuniza ao
adolescente, através de reflexões sobre sua conduta e do vivenciamento de novos valores e
atitudes, o estabelecimento de um projeto consequente para sua vida.
São aplicadas pelo Juiz da Infância e da Juventude, após o devido processo legal
considerando:
• a gravidade da situação;
• o grau de participação e as circunstâncias em que ocorreu o ato;
7

• sua personalidade, a capacidade física e psicológica para cumprir a medida;


• as oportunidades de reflexão sobre seu comportamento visando mudança de
atitude.

Figura: Instituições do sistema de justiça na aplicação da medida

Ministério Aplicação
Delegacia Defensoria Juizado
Público da medida

Fonte: SILVA, CUNHA, SILVA, 2015.

A partir da legislação vigente, as Medidas Socioeducativas passam a ter uma nova


orientação e nova condição jurídica para os adolescentes que cometem atos infracionais.
Desde então, exigiu a implantação de um novo modelo institucional de atendimento, diferente
do que até então vigorava por meio da Fundação Estadual do Bem Estar do Menor - FEBEM.
Rompe-se com a divisão, até então existente, entre infância, adolescência e “menor”, pois se
consolida e se reconhece a existência de um novo sujeito político e social que possuem
direitos e, justamente por isso, pode responder pelos seus atos a partir das formas de
responsabilização adotadas pelas medidas socioeducativas.
Cabe destacar que na era do Código de Menores o termo “menor” não se referia a
toda e qualquer criança e adolescente, mas sim, àqueles de seguimentos de classe com
condições desiguais de socialização e de sociabilidade, ou seja, os pobres.
O tratamento dado pelo ECA ao nomear os crimes cometidos pelos adolescentes
como ato infracional é diferente da utilizada para nomear o crime dos adultos. Nesse sentido,
a legislação vigente reconhece o adolescente como ser em formação, passível de
transformação e, por isso, não trata somente de puni-lo pela prática de atos infracionais, mas
de promover um processo socioeducativo e de responsabilização. Entende-se também que os
adolescentes são sujeitos de direitos e detentores de deveres, o que deve orientar o processo
socioeducativo. Diante da infração cometida por um adolescente, a aplicação da medida
socioeducativa é, acima de tudo, uma resposta formal do Estado a um ato infracional pelo
qual o adolescente, após ser submetido ao devido processo legal, no qual foi considerado
responsável.
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1.1 As Medidas em Meio Fechado

A prática infracional é, portanto, (ou deveria ser) a exclusiva razão pela qual uma
medida pode ser imposta. A dimensão sancionatória prevista no ECA considera o adolescente
como responsável por suas ações e não mais somente como “vítima”, seja das causas sociais
ou familiares. Assim a medida de internação somente pode ser aplicada conforme prevê o
artigo 122 do ECA: “Adolescentes são aqueles com idade entre os 12 anos e 18 anos
incompletos. Nessa faixa etária o adolescente que cometer um ato infracional será submetidos
a responder pela prática através das medidas dispostas no artigo 112 do ECA. Esclarecemos
que além da medida socioeducativa, os adolescentes também podem receber as citadas
medidas de proteção prevista no artigo 101, cumulativamente.”

I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à


pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

1.1.1 Internação

Além da medida de internação preliminarmente citada, alvo do nosso artigo, é


relevante destacar as demais medidas de responsabilização em face à prática de atos
infracionais. São elas: Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade
competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação
de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V
inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII –
qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
A internação é uma medida socioeducativa privativa de liberdade prevista no art.
1215 do ECA, e é a medida mais severa aplicada ao adolescente. Por isto, há limitações para
sua aplicação, sendo, considerado, o último recurso da execução penal para adolescentes. É
importante destacar que é uma medida excepcional, sujeita aos princípios da brevidade e ao
respeito à pessoa em condição peculiar de desenvolvimento. A privação de liberdade é
autorizável por até três anos, devendo haver avaliações periódicas, a cada seis meses, da
evolução do adolescente para determinar a continuidade ou não da medida. O tempo que o
adolescente fica nessa medida sofre variação de acordo com cada caso, ou seja, de acordo
com o desenvolvimento pessoal e social de cada adolescente.
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O parágrafo primeiro do artigo 121 do ECA garante que “Será permitida a


realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa
determinação judicial em contrário.” Este parágrafo representa um grande avanço na
definição da internação como “medida privativa da liberdade”, ou seja, o adolescente
submetido a esta modalidade de ação socioeducativa não pode estar privado de seu direitos.
Nos termos da lei 8.069 –
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos
princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento. § 1º Será permitida a realização de atividades
externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa
determinação judicial em contrário. § 2º A medida não comporta prazo
determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
fundamentada, no máximo a cada seis meses. § 3º Em nenhuma hipótese o
período máximo de internação excederá a três anos. § 4º Atingido o limite
estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado,
colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. § 5º A
liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. § 6º Em qualquer
hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o
Ministério Público. § 7º A determinação judicial mencionada no § 1º poderá
ser revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. (BRASIL, 1998,
ART.121).

Este é um ponto fundamental da execução da medida socioeducativa de internação


que deve orientar-se pelo princípio da incompletude institucional e fazer uso dos
equipamentos sociais para possibilitar o atendimento aos adolescentes durante o cumprimento
da medida como veremos na parte 2 deste artigo.
A internação de adolescentes autores de ato infracional possui um viés sancionatório
ao privar o adolescente do direito de ir e vir, mas também um pedagógico ao permear a
execução dessa medida por meio de práticas socioeducativas que possibilitem e ampliem as
escolhas do adolescente frente a sua vida e ao mundo.

1.1.2 Semiliberdade

O centro socioeducativo deve ter um ambiente físico destinado à privação de


liberdade, com condições de habitabilidade e conter uma proposta pedagógica. Os centros de
internação não devem ser meras instituições de contenção dos adolescentes e meios de
controle social. Devem ser instituições que trabalhem as múltiplas dimensões da vida do
adolescente, cabendo à equipe de profissionais o despertar das potencialidades nos
adolescentes para que os mesmos possam refletir sobre seus atos, ampliar as relações com a
comunidade e fazer escolhas a partir de valores socialmente aceitos quando retornarem
definitivamente ao convívio social (VOLPI, 1997).
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É dever de o Estado propiciar local adequado para o cumprimento da medida de


internação, que deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes. O que está
previsto no ECA, em seu artigo 125 “é dever do Estado zelar pela integridade física e mental
dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção e segurança”. Nota-se
que pela força da lei, o Estado é designado como o único e absoluto responsável por zelar pela
integridade física e mental dos internos, cabendo a ele adotar as medidas de contenção e
segurança, elaborarem a política e metodologia de atendimento que atenda os dispositivos.
A partir deste breve esclarecimento das medidas socioeducativas como a forma de
responsabilização dos adolescentes mediante a prática de ato infracional, passemos agora a
discutir a atuação do Assistente Social nesse espaço sociocupacional.

1.2 As Medidas em Meio Aberto


A atuação do profissional de Serviço Social é construída a partir dos processos
teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operacionais apreendidos no contexto
histórico e político da produção e da reprodução na/da relação capital-trabalho. Para a
discussão aqui proposta é necessário contextualizar que o Assistente Social que trabalha em
um centro socioeducativo faz parte de uma equipe de trabalho multidisciplinar e desenvolvem
ações interdisciplinares junto aos demais profissionais das áreas de conhecimento da
Psicologia, da Terapia Ocupacional, da Pedagogia, do Direito e da Enfermagem. Além da
atuação interdisciplinar com estes profissionais ainda é necessário uma articulação cotidiana
do Assistente Social com os agentes de segurança socioeducativos, Vide Resolução CFESS
557/2009 professores, auxiliares educacionais, diretores e demais profissionais do centro
socioeducativo.
Considerando o espaço sociocupacional de atuação do centro socioeducativo,
podemos afirmar que o Assistente Social tem algumas atribuições específicas no seu cotidiano
profissional e algumas competências em conjunto com as demais áreas (ou técnicos), como
por exemplo, na elaboração de relatórios, planilhas de atividades, participação em reuniões de
equipe, de estudo de caso e em atividades promovidas pela unidade, dentre outros. A
Metodologia de Atendimento Socioeducativo de Internação do Estado do Acre prevê para o
trabalho do Assistente Social alguns dispositivos metodológicos, tais como, atendimento
técnico individual e/ou em grupos à família e ao adolescente, visitas domiciliares, grupos de
família, articulação de rede, visita do adolescente a família e visitas institucionais. No entanto,
cabe ao profissional ser criativo e propositivo no cotidiano trabalho, evitando assim um
11

estancamento dos dispositivos postos pela metodologia, limitando assim sua atuação
profissional.

1.2.1 Liberdade assistida

O atendimento realizado ao adolescente e ao grupo familiar feito pelo profissional de


Serviço Social é um atendimento social, que tem como foco principal os fatores referentes à
prática infracional que envolvem trajetória sócio histórica da família e do adolescente, análise
das demandas apresentadas por eles, leitura dessas demandas e identificação de outras
demandas que, até mesmo, a família e o adolescente não tenham percebido. É de posse destas
informações que o Assistente Social elabora a sua estratégia de intervenção profissional.
Ressalta-se que a intervenção profissional é pautada para a efetivação continuada dos
direitos sociais e no que tange a especificidade das medidas Socioeducativas visa também
contribuir para o processo de responsabilização do adolescente. Aqui buscamos esclarecer
quanto ao objeto de análise do Serviço Social na medida socioeducativa de internação e o que
difere do objeto das demais áreas do saber. A resolução do Conselho Federal do Serviço
Social - CFESS Nº557/2009 em seu art. 4° estabelece que “o assistente social ao atuar em
equipes multiprofissionais, deverá garantir a especificidade de sua área de atuação” e para
isso entendemos ser necessário ter clareza do objeto em análise para uma intervenção
profissional qualificada.
O atendimento feito pelo Assistente Social inicia-se desde a admissão do adolescente
no centro socioeducativo. Neste acolhimento o Assistente Social atende o adolescente
colhendo as informações necessárias para identificar suas referências familiares, conferência
da documentação pessoal, identificação de alguns equipamentos sociais que o adolescente já
tenha frequentado e transmissão de algumas informações importantes como o dia de visita e
ligações para os familiares. Nesse acolhimento é também acordado o dia do atendimento do
serviço social. Nos atendimentos posteriores, o Assistente Social vai buscar identificar os
principais elementos da história de vida para a construção do caso do adolescente. A partir daí
o atendimento social deve procurar conduzir o adolescente e a família, por meio de
intervenções, estratégias e reflexões, à construção da responsabilização frente às demandas
postas e construídas a partir de cada caso.
O primeiro contato do Assistente Social com a família acontece no momento da
acolhida do adolescente na unidade, momento em que é feito um contato telefônico para a
referência familiar informando a chegada do adolescente na unidade e os dias e horários de
visita. Nesse momento também é permitido que ao adolescente que converse com seu
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familiar. Durante a ligação o técnico já faz uma sensibilização e um convite para que a família
compareça no próximo dia de visita na unidade. É necessário o rompimento com o modelo
padronizado de identificar e de conceituar família, sendo relevante a apreensão das várias
formas de constituições familiares, principalmente as referências familiares mais significantes
para os adolescentes.
Na primeira visita que a família faz ao adolescente na unidade é realizado, pelo
técnico de referência do Serviço Social, um cadastro com os nomes dos familiares que
poderão visitar o adolescente durante o cumprimento da medida socioeducativa. Este cadastro
pode ser alterado ao longo da medida socioeducativa, considerando o interesse do adolescente
ou da família e mediante uma avaliação da equipe técnica.
Durante este atendimento também é informado para a família o propósito da medida
socioeducativa, a rotina e as regras da unidade, a importância do acompanhamento familiar
durante o cumprimento da medida, da participação da família no acompanhamento do Plano
Individual de Atendimento – PIA (Plano Individual de Atendimento (PIA), o PIA se apresenta
como uma importante ferramenta de planejamento, construção e acompanhamento individual
do cumprimento da medida socioeducativa previsto na Lei de Execução nº 12.594 e no
documento guia do SINASE).
Trata-se de um instrumento metodológico que organiza o trabalho institucional, a
partir das considerações técnicas que destacam os aspectos fundamentais que a instituição
deve priorizar na condução do atendimento com cada adolescente. O propósito do PIA é
possibilitar, então, que o acompanhamento da medida socioeducativa aconteça a partir do que
cada adolescente apresenta-nos diversos espaços institucionais, nas atividades externas, no
discurso que traz sobre si mesmo, sobre sua relação com o outro nos espaços de convívio
social) e nos eventos, reuniões familiares e encaminhamentos promovidos pela unidade para a
rede externa. A visita familiar na unidade acontece semanalmente, em dias e horários
previamente definidos pelo centro socioeducativo.
Os adolescentes também têm o direito de fazer ligação telefônica semanalmente para
as famílias, acompanhadas por um profissional da unidade Quanto ao atendimento familiar,
acreditamos ser fundamental que o Assistente Social localize em que momento a família
“permitiu” a atuação infracional do adolescente, ou seja, qual era o momento vivido pela
família, as contingências individuais e familiares entre outros, que permitiram tal ato
inflacionário. A partir do momento em que for localizada a questão deverá ser dado um
tratamento para a superação de tal vulnerabilidade. Outra questão que deve orientar o
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atendimento do Assistente Social é a busca pela compreensão do lugar que o adolescente


ocupa no contexto familiar e qual é o lugar reconhecido pelo adolescente na própria família.
Nos termos da lei de execução do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo,
lei federal nº 12.594/2012 determinada no art. 52 - “o PIA deverá contemplar a participação
dos pais ou responsáveis, os quais têm o direito de contribuir com o processo ressocializador
do adolescente, sendo esses passíveis de responsabilização administrativa, nos termos do art.
249 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (ECA), civil e criminal” e no art. 53 “o PIA será
elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de atendimento,
com a participação efetiva do adolescente e de sua família, representada por seus pais ou
responsável”.
A família neste sentido é convidada a participar de atendimentos técnicos para
conhecimento do contexto social e familiar do adolescente e esclarecer sobre questões que
possam ter contribuído para a atual situação do adolescente.
Nesses momentos a equipe tenta identificar questões subjetivas que também possam
ter contribuído para a situação vivida. É a partir dos atendimentos à família que é construído o
PIA do adolescente e levantadas ações e estratégias de intervenção pela equipe. Nessa
vertente, a família dever ser incluída sempre que couber em ações que a implique o
acompanhamento do cumprimento da medida do adolescente. Ademais, durante o
cumprimento da medida socioeducativa são realizadas visitas domiciliares pelo Assistente
Social, sempre que possíveis pelo psicólogo que acompanha o adolescente, ou outro membro
da equipe técnica.
Quanto à realização das visitas domiciliares chamamos atenção para que os
profissionais de Serviço Social se atentem para uma postura profissional coerente com
princípios do Código de Ética Profissional, principalmente no que se refere ao Capitulo III –
Das Relações Profissionais, Titulo I – Das Relações com Usuário do referido Código.
Entretanto, é a partir do primeiro estudo do PIA, realizada pela equipe técnica, que é
avaliada a necessidade de estabelecer como ação estratégica a realização de visita domiciliar.
A primeira visita domiciliar acontece no início do cumprimento da medida socioeducativa e
tem o objetivo conhecer a dinâmica, a organização familiar e as relações intrafamiliares. As
visitas domiciliares são previamente agendadas com a família8. Na ocasião, o Assistente
Social também faz um mapeamento da rede socioassistencial existente na comunidade e
estabelece contato para encaminhamentos futuros e/ou para saber informações do atendimento
ofertado ao grupo familiar. A necessidade de novas visitas domiciliares será avaliada no
decorrer da medida socioeducativa e a partir das demandas levantadas no estudo de caso.
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Na maioria dos casos acontece também uma visita domiciliar próximo ao


desligamento do adolescente do centro socioeducativo, bem como a autorização para que este
possa realizar visitas nos finais de semana. Também é uma prática a visita acompanhada do
adolescente a sua residência. Esta modalidade de visita é acompanhada por um técnico,
preferencialmente o Assistente Social. O momento de realização desta visita é avaliado
durante a reunião de estudo de caso, com a participação da equipe técnica, representantes da
equipe de segurança, escola, auxiliar educacional e Direção. Os objetivos da visita
acompanhada são construídos com o adolescente e com a família a partir dos atendimentos
sociais.
O Serviço Social é a referência da equipe técnica de organização e planejamento das
atividades com as famílias. O trabalho com família é essencial durante o cumprimento da
medida não só por garantir um direito do adolescente, mas também por possibilitar um espaço
de escuta e intervenção qualificada da equipe técnica em prol da superação das
vulnerabilidades vividas pelo grupo familiar. Ressalta-se que o trabalho com famílias não é
exclusivo do Assistente Social e que este trabalha em equipe multiprofissional e
interdisciplinar. Nesse sentido, o Assistente Social desenvolve sua atuação juntamente com
outros profissionais, buscando compreender a família e/ou o sujeito na sua dimensão de
totalidade e, assim, contribuir para o enfrentamento das múltiplas expressões da questão
social, bem como as duas dinâmicas e dimensões.
Assim, o profissional de Serviço Social trabalha com a totalidade e suas contradições
para elaborar formas de mediações que servirão de apoio para a prática profissional. Infere-se
ainda que nesse processo considerar a totalidade não isenta em considerar as singularidades e
as particularidades dos sujeitos que a compõem o grupo familiar. Nesse sentido, os grupos de
famílias são fundamentais e devem ter como propósito o fortalecimento dos vínculos entre a
família e adolescente, como também os vínculos entre a família e a equipe de profissionais da
unidade socioeducativa. Os grupos de famílias permitem também identificar demandas
familiares e individuais, e a partir daí, construir novas estratégias de intervenção junto à
família e o adolescente. Os temas propostos para diálogo devem ser temas que visem à
orientação quanto a direitos e deveres, relações familiares, etc., proporcionando trocas de
experiências entre os participantes. Os formatos dos grupos de família podem variar de acordo
com a necessidade, as especificidades de cada grupo, características dos participantes, entre
outros. Ressaltamos a experiência com a prática do “Encontro multifamílias”. Este é um
espaço para discussão de temas comuns a todas as famílias, tais como convivência familiar,
papéis familiares, direitos e deveres, adolescência, violência e criminalidade, dentre outros.
15

Os adolescentes participam deste encontro junto com a família pensando juntas ações e
estratégias para superação das fragilidades. Esse encontro é finalizado com um almoço para
todos os adolescentes e familiares, organizado pela equipe socioeducativa.
Os eventos que envolvem a família dos adolescentes geralmente acontecem no
mesmo dia de visita, para evitar deslocamento da família para a unidade mais de uma vez na
semana e possibilitar uma maior participação do grupo familiar. O convite e a sensibilização
para participação nos eventos são feitos com prévia antecedência. É feita uma sensibilização
com a família, orientando e informando importância e necessidade de sua participação que
abrange, inclusive, o conhecimento e o fortalecimento das relações e trocas de experiências
entre as famílias.
No que se refere à articulação de rede para o adolescente e a família é importante
registrar que o Assistente Social, através dos atendimentos realizados com o adolescente e sua
família, é responsável também por identificar o local de moradia, realizar mapeamento dos
equipamentos existentes na comunidade no decorrer da medida do adolescente, como por
exemplo: Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS), Centro de Saúde, escolas, ONG’s, programas e
projetos em que a família participa e/ou participaram ou futuramente possa participa, dentre
outros. Outro aspecto relevante das atribuições do Assistente Social no trabalho junto à rede é
tentar identificar os conflitos existentes entre os territórios que possam dificultar a circulação
e/ou convivências para o adolescente e sua família, possíveis ameaças contra a vida do
adolescente em função do envolvimento com a criminalidade, que demandam de acionamento
dos programas específicos de proteção. Isto é, aproximar-se da territorialidade do sujeito para
reconhecer as possibilidades reais de intervenção.

1.2.2 Prestação de Serviço à comunidade

Todo o mapeamento é realizado por meio de visitas à comunidade, visitas


instituições aos espaços identificados e realiza-se um estudo de caso com as equipes dos
referidos programas sociais para conhecimento e construção do caso com a rede, verificando
também as possibilidades de inserção da família nas atividades. A partir daí, através das
demandas identificadas, o Assistente Social do centro socioeducativo apresenta à família os
espaços identificados, sensibilizando-os quanto à importância de suas inclusões e
participação, seja da família ou de algum de seus membros, nas propostas apresentadas pelos
equipamentos. Ao mesmo tempo, a equipe do centro socioeducativo passa a manter um
contato mais sistemático junto à rede, para tomar conhecimento da participação ou não da
16

família, fazendo posteriormente, as intervenções necessárias. Esses equipamentos também são


apresentados ao adolescente, principalmente no final de sua medida, para que quando
efetuado o seu desligamento também possa participar desses espaços para fortalecimento de
seus vínculos sociais ou necessidade de algum tratamento. Com a proximidade do
desligamento, também é realizada a sensibilização do adolescente e os contatos com a rede se
tornam mais frequentes para que assim, que concluir sua medida, o adolescente e sua família
tenham o apoio e o acompanhamento da rede frente às suas demandas.
Outra atribuição essencial do Assistente Social em um centro socioeducativo é a
articulação da rede social. Esta ação destina-se ao levantamento e mapeamento dos vários
equipamentos sociais que atuam no âmbito das Políticas Públicas. Para cada adolescente é
tecido uma rede de acordo com as especificidades, demandas e interesses dos adolescentes e
das famílias. Após o mapeamento da rede o técnico do Serviço Social estabelece contato
direto com os responsáveis pelos principais equipamentos sociais com a finalidade de
apresentar o estudo de caso e discutir ações estratégicas para auxiliar a família quando
necessário, ou de planejar ações voltadas para o retorno do adolescente ao convívio
comunitário. Esta articulação com a rede social do adolescente é fundamental durante todo o
cumprimento da medida socioeducativa. A partir dessa articulação o Assistente Social faz o
encaminhamento do grupo familiar para a rede de serviços seja da política de assistência
social, educação, saúde entre outros. O encaminhamento para serviços da rede de atendimento
não significa transferência de responsabilidades para terceiros, mas sim ao fortalecimento das
demandas das famílias ou dos adolescentes.
Nesse sentido encaminhar não é mandar ir para algum lugar, e sim, trabalhar a
dimensão do direito e da co participação junto a outros serviços. Também significa o
entendimento do real alcance das ações da medida socioeducativa e quais ações devem ser
fortalecidas junto à rede de atendimento. Nas proximidades do desligamento do adolescente, é
ainda mais reforçada junto à rede que foi estabelecida, quando novamente é convocada para
uma reunião de estudo de caso com a finalidade de avaliar os avanços obtidos no
acompanhamento do adolescente e da família realizados tanto pela rede quanto pela unidade;
e de pactuar algumas ações para o retorno do adolescente, como a inclusão em algum
programa social antes mesmo de sua liberação do centro socioeducativo. Em Minas Gerais é
comum que os adolescentes antes de serem liberados da medida socioeducativa iniciem
algumas atividades artísticas, culturais, de lazer ou profissionalizante na sua comunidade que
são acompanhadas pelo serviço da rede, em parceria com a equipe do centro socioeducativo.
17

1.3 A Especificidade do PSC

A prestação de serviços à comunidade impõe ao adolescente autor de ato infracional,


o cumprimento obrigatório de tarefas de caráter coletivo, visando interesses e bens comuns.
Trabalhar gratuitamente, coloca o adolescente frente a possibilidade de adquirir valores
sociais positivos, através da vivência de relações de solidariedade e entre - ajuda, presentes na
ética comunitária. Em atendimento personalizado que requer a participação efetiva da família,
da comunidade e do poder público, garantindo a promoção social do adolescente através de
orientação, manutenção dos vínculos familiares e comunitários, escolarização, inserção no
mercado de trabalho e/ou cursos profissionalizantes e formativos.
Os programas de prestação de serviços à comunidade devem ser estruturados nos
municípios, preferencialmente junto ao programa de liberdade assistida, através de parceria
com o Judiciário e o Órgão Executor da Política de Atendimento à Criança e ao Adolescente
no município. Compete ao Judiciário a aplicação da medida, a supervisão e o
acompanhamento; e ao Órgão Executor Municipal o gerenciamento e o desenvolvimento das
ações, tendo o Ministério Público como fiscalizador. Para o funcionamento do Programa é
necessário uma Equipe de Orientadores Sociais, devidamente capacitados, que desenvolverão
uma ação pedagógica observando os seguintes aspectos:
•família: reforçar os vínculos familiares para que ela colabore no processo
socioeducativo;
• escola: incentivar o retorno, a permanência e o sucesso escolar;
•profissionalização: estimular a habilitação profissional;
•comunidade: co-responsável no processo sócio-educativo, através das entidades
cadastradas para o acompanhamento dos adolescentes.
O orientador social deve: estabelecer com o adolescente e com as entidades
sistemáticas de atendimentos definindo objetivos a serem alcançados, para construção de um
projeto de vida; desenvolver vínculo de confiança; não fazer julgamentos moralistas; propiciar
a capacidade de reflexão sobre sua conduta; avaliar periodicamente, em conjunto com a
entidade, o seu "caminhar" e apresentar relatórios de acompanhamento ao Juiz e ao Ministério
Público.
No que se refere às atividades do Orientador Social, fica estabelecido que: Junto ao
Adolescente Junto às Entidades
 Receber o adolescente encaminhado pelo Juiz;
18

 Definir a entidade em que ele prestará o serviço, observando: a


localização quanto às tarefas, locais, horários e geográfica da instituição; grau de
condições para o cumprimento da escolaridade, formação religiosa, medida;
experiências anteriores, aptidão do adolescente, entre outras;
 Acompanhar o trabalho desenvolvido e a freqüência escolar;
 Encaminhar relatório ao Juiz e Ministério Público.
No que se refere às atividades do Orientador Social, fica estabelecido que: Junto ao
Adolescente Junto às Entidades
 Fazer o cadastramento para firmar os convênios;
 Estabelecer os critérios necessários a localização quanto às tarefas,
locais, horários e condições para o cumprimento da medida;
 Encaminhar o adolescente para o cumprimento da medida;
 Traçar, em conjunto com o adolescente, as tarefas a serem
desempenhadas, local, horário e condições de cumprimento da medida;
 Definir calendário de reuniões sistemáticas, a fim de avaliar a situação
do desempenho da entidade.
Podemos dizer que o perfil ideal das Entidades para que aconteça todo o processo é:
 Entidades Assistenciais Governamentais ou Não - Governamentais
(hospitais, escolas, associações, clubes de serviços ou similares) juridicamente
constituídas;
 Sem fins lucrativos;
 Prestar serviços de interesse da comunidade, com caráter sócio -
educativo;
 Não estabelecer relação de subordinação/exploração com o
adolescente prestador de serviço;
 Não designar tarefas que possam colocar o adolescente em situação
vexatória ou (colocar) em risco a sua saúde;
 [Preferencialmente estar inscrita no Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente e credenciada pelo poder judiciário e/ou pelo
órgão responsável pela execução do Projeto e voltadas para o atendimento a criança e
adolescente;
 Estejam funcionando em consonância com o Estatuto da Criança e
do Adolescente.
19

Compete à Secretaria de Cidadania e Trabalho - Superintendência da Criança,


do Adolescente e da Integração do Deficiente.

 Organizar o apoio estratégico para promover parcerias nos municípios: articular com
o Poder Público local, Ministério Público, Poder Judiciário, Conselhos Municipais de
Direitos da Criança e do Adolescente para a implantação do programa;
 Capacitar os Orientadores Sociais, garantindo condições necessárias para formar uma
equipe que tenha a mesma filosofia;
 Dar suporte técnico às equipes locais, promovendo acompanhamento e avaliações
periódicas;
 Apoiar com a destinação de recursos materiais, conforme a necessidade local e
prevista no Plano de Ação da Superintendência.
 Compete ao Poder Público Municipal:
 Formar a equipe do Programa de Prestação de Serviços à Comunidade, que pode será
mesma da liberdade assistida, levando em consideração os recursos humanos
existentes no município, respeitando o perfil do orientador e os papéis a serem
desempenhados;
 Viabilizar espaço físico para sediar o programa, fazendo um levantamento dentre os
já existentes;
 Disponibilizar equipamentos que já existam nos órgãos, tais como: mesas, cadeiras,
armário, máquina de datilografia, linha telefônica e outros;
 Adquirir, gradualmente, materiais didáticos, pedagógicos e recursos audiovisuais,
iniciando o programa com os disponíveis;
 Estabelecer parcerias com órgãos governamentais e não governamentais para a
execução do programa;
 Proporcionar condições para a capacitação da equipe de trabalho.

II Capítulo

2. Função Pedagógica de Pena de Prestação de Serviços Comunitário e Sociabilidade do


Socioeducando

A prestação de serviços á comunidade é um ônus que se impõe ao condenado como


consequência de violação na norma jurídica. Como já foi visto no decorrer do presente
trabalho, as penas de prestação de serviços á comunidade ao contrário do que acontece na
20

privação de liberdade, apresentam variados benefícios. Entretanto, é de suma importância


prestar atenção no efeito benéfico que essa pena traz à vida do apenado.
Tal espécie de pena possui o seu caráter retributivo na medida em que gera angústia e
aflição no sentenciado. Podemos entender tal caráter na inteligente colocação de Bittencourt.
O fato de ser cumprida enquanto os demais membros da comunidade usufruem seu período de
descanso gera aborrecimentos, angústia e aflição. Esses sentimentos são inerentes à sanção
penal e integram seu sentido retributivo.
Por outro lado, a sensação de ser útil e ser reconhecido pelas pessoas a sua volta, gera
um processo de reflexão sobre o ato ilícito cometido, a sanção que foi estabelecida, o tempo
dispensado ao trabalho, bem como o reconhecimento que passa a receber. Tal processo de
reflexão coopera com o objetivo pessoal de alcançar a ressocialização. Alias todo processo
ressocializador deve partir da vontade do sujeito, vez que esta é indispensável no crescimento
pessoal. Assim vejamos o que nos traz as conclusões de Martins
Com efeito, a primeira vantagem dessa pena alternativa é que através dela os fins de
reprovação e prevenção podem ser facilmente alcançados. Não se pode negar o seu caráter
retributivo. Afinal, o adolescente fica vinculado durante meses (e até anos, se for imposta
como condição do regime aberto) à obrigação de trabalhar gratuitamente para a comunidade
nos finais de semana, com prejuízo de suas atividades habituais. Nesse aspecto, ela é uma mal
como resposta ao mal praticado. Por isso mesmo produz efeitos diretos sobre o infrator e, pelo
exemplo, também às demais pessoas da coletividade. É que conscientes da punição
procurarão evitar tanto mais quanto possível a prática de novos delitos.
Importante destacar que ao trabalhar para a comunidade, o adolescente descobre que
pode ser uma pessoa socialmente útil e que lhe é muito mais vantajoso ajudá-la com o labor
sério e honesto do que agredi-la com o crime. BERNARD LEROY e PIERRE KRAMER
ressaltam que a participação em um trabalho em benefício da comunidade é um fator de
integração social (...).
Bittencourt reconhece às vantagens da pena de prestação de serviços a comunidade
(...) o adolescente, ao realizar essa atividade comunitária, sente-se útil ao perceber que esta
emprestando uma parcela de contribuição e recebe, muitas vezes, o reconhecimento da
comunidade pelo trabalho realizado. Essa circunstância leva naturalmente o sentenciado à
reflexão sobre seu ato ilícito, a sanção sofrida, o trabalho realizado, a aceitação pela
comunidade e a escala de valores comumente aceita pela mesma comunidade. Essa reflexão
facilita o propósito pessoal de ressocializar-se, fator indispensável no aperfeiçoamento do ser
humano.
21

Importante salientar que, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente: ECA - Lei
nº 8.069 de 13 de Julho de 1990.
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na
realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período
não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais,
hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem
como em programas comunitários ou governamentais.

Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as


aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante
jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados,
domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não
prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de
trabalho.

Fica claro desde já que a prestação de serviços à comunidade se transforma em


punição capaz de trazer os primeiros resultados na busca da ressocialização plena dos
desviantes, vez que representa primeiramente, uma medida capaz de manter o sujeito em seu
estado normal, sem prejuízo de suas relações particulares.
Podemos observar a importância de se proceder à substituição da pena privativa de
liberdade por prestação de serviços à comunidade sempre que possível, a fim de alcançar mais
comumente a ressocialização dos delinquentes.
Essa sanção representa uma das grandes esperanças penalógicas, ao manter o estado
normal do sujeito e permitir, ao mesmo tempo, o tratamento socializador mínimo, sem
prejuízo de suas atividades laborais normais.

2.1 Vantagens da Aplicação da Prestação de Serviços Comunitários ao Estado.


Podemos citar algumas tarefas do orientador social, junto ao adolescente, receber o
adolescente encaminhado pelo Juiz; Definir a entidade em que ele prestará o serviço,
observando: a localização geográfica da instituição; grau de escolaridade, formação religiosa,
experiências anteriores, aptidão do adolescente, entre outras; Traçar, em conjunto com o
orientador da entidade, as tarefas a serem desempenhadas, local, horário e condições de
cumprimento da medida; Acompanhar o trabalho desenvolvido e frequência escolar;
Encaminhar relatório ao Juiz e Ministério Público. Junto às Entidades, fazer o cadastramento
para firmar convênios; Estabelecer os critérios necessários quanto às tarefas, locais, horários e
condições para o cumprimento da medida; Encaminhar o adolescente para o cumprimento da
medida; Traçar, em conjunto com o adolescente, as tarefas a serem desempenhadas, local,
horário e condições de cumprimento da medida; Definir calendário de reuniões sistemáticas, a
fim de avaliar a situação do adolescente e o desempenho da entidade.
22

2.2 Perfil das Entidades

● Entidades Assistenciais Governamentais ou Não - Governamentais (hospitais, escolas,


associações, clubes de serviços ou similares) juridicamente constituídas;
● sem fins lucrativos;
● prestar serviços de interesse da comunidade, com caráter sócio - educativo;
● não estabelecer relação de subordinação/exploração com o adolescente prestador de serviço;
● não designar tarefas que possam colocar o adolescente em situação vexatória ou (colocar)
em risco a sua saúde;
● preferencialmente estar inscrita no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do]
Adolescente e credenciada pelo poder judiciário e/ou pelo órgão responsável pelai execução
do Projeto e voltadas para o atendimento a criança e adolescente;
● estejam funcionando em consonância com o Estatuto da Criança e do Adolescente.

2.3 Implantação do Programa de Prestação de Serviços à Comunidade nos municípios:


Competências

Compete à Secretaria de Cidadania e Trabalho - Superintendência da Criança, do


Adolescente e da Integração do Deficiente.
● Organizar o apoio estratégico para promover parcerias nos municípios: articular com o
Poder Público local, Ministério Público, Poder Judiciário, Conselhos Municipais de Direitos
da Criança e do Adolescente para a implantação do programa;
● Capacitar os Orientadores Sociais, garantindo condições necessárias para formar uma
equipe que tenha a mesma filosofia;
● Dar suporte técnico às equipes locais, promovendo acompanhamento e avaliações
periódicas;
● Apoiar com a destinação de recursos materiais, conforme a necessidade local e prevista no
Plano de Ação da Superintendência.

2.3.1 Compete ao Poder Público Municipal

● Formar a equipe do Programa de Prestação de Serviços à Comunidade, que pode ser a


mesma da liberdade assistida, levando em consideração os recursos humanos existentes no
município, respeitando o perfil do orientador e os papéis a serem desempenhados;
● Viabilizar espaço físico para sediar o programa, fazendo um levantamento dentre os já
existentes;
23

● Disponibilizar equipamentos que já existam nos órgãos, tais como: mesas, cadeiras,
armário, máquina de datilografia, linha telefônica e outros;
● Adquirir, gradualmente, materiais didáticos, pedagógicos e recursos audiovisuais, iniciando
o programa com os disponíveis;
● Estabelecer parcerias com órgãos governamentais e não governamentais para a execução do
programa;
● Proporcionar condições para a capacitação da equipe de trabalho.

2.4 A Execução da Medida Socioeducativa PSC

Vivemos em um país com profundas desigualdades socioeconômicas, onde a violência


é banalizada a cada dia, a vida possui valores diferenciados e o consumismo é
supervalorizado. Neste cenário estão inseridas as crianças e adolescentes, ora vítimas, ora
produtoras, também, de violência. Quando crianças e adolescentes cometem aios infracionais,
a sociedade tende a julgá-los com maior severidade do que julgam os adultos que praticam
delitos, passam a ser discriminados e rotulados como infratores contumazes que ameaçam e
trazem insegurança para a população. Romper com este preconceito é imperioso, pois o ato
infracional não pode ser atribuído como integrante da identidade de quem o pratica, mas sim
como uma contingência na vida do adolescente que pode ser alterada. Mesmo cometendo atos
infracionais ele continua adolescente, cidadão, sujeito de direitos e em condição peculiar de
desenvolvimento.
O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, fundamentado na Doutrina da
Proteção Integral, define como criança a pessoa até doze anos incompleto e adolescente aquela
entre doze e dezoito anos incompletos, cidadãos sujeitos de direitos e em condição peculiar de
desenvolvimento. Estabelece também, um conjunto de medidas que são aplicadas mediante a
autoria de ato infracional, que é a conduta descrita como crime ou contravenção penal (ECA,
art. 103). Para crianças, cabem ao Conselho Tutelar as providências e encaminhamentos,
aplicando as medidas de proteção; para adolescentes, são aplicadas as medidas sócio-
educativas previstas no artigo 112, do ECA.

2.4.1 Medidas Socioeducativas

O Estatuto da Criança e do Adolescente define no art. 112 as medidas sócio -


educativas:
• advertência;
• obrigação de reparar o dano;
24

• prestação de serviços à comunidade;


• liberdade assistida;
• inserção em regime de semiliberdade;
• internação em estabelecimento educacional;
• qualquer uma das previstas no art. 101, l a VI.
Estas medidas são de caráter eminentemente educativo, porque oportuniza ao
adolescente, através de reflexões sobre sua conduta e do vivenciar de novos valores e atitudes,
o estabelecimento de um projeto consequente para sua vida. São aplicadas pelo Juiz da
Infância e da Juventude, após o devido processo legal considerando:
• a gravidade da situação;
• o grau de participação e as circunstâncias em que ocorreu o ato;
• sua personalidade, a capacidade física e psicológica para cumprir a medida;
• as oportunidades de reflexão sobre seu comportamento visando mudança de atitude.
Todo procedimento tem participação obrigatória e fiscalização do Ministério
Público.
Art. 117 - A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas
gratuitas de interesse geral, por período não excedente há seis meses, junto a entidades
assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em
programas comunitários ou governamentais.
Parágrafo único - As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente,
devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados,
domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicara frequência à escola ou
jornada normal de trabalho.

A prestação de serviços à comunidade impõe ao adolescente autor de ato infracional,


o cumprimento obrigatório de tarefas de caráter coletivo, visando interesses e bens comuns.
Trabalhar gratuitamente coloca o adolescente frente à possibilidade de adquirir valores sociais
positivos, através da vivência de relações de solidariedade e entre ajuda, presentes na ética
comunitária.
Em atendimento personalizado que requer a participação efetiva da família, da
comunidade e do poder público, garantindo a promoção social do adolescente através de
orientação, manutenção dos vínculos familiares e comunitários, escolarização, inserção no
mercado de trabalho e/ou cursos profissionalizantes e formativos.

2.5 Operacionalização
25

Os programas de prestação de serviços à comunidade devem ser estruturados nos


municípios, preferencialmente junto ao programa de liberdade assistida, através de parceria
com o Judiciário e o Órgão Executor da Política de Atendimento à Criança e ao Adolescente
no município. Compete ao Judiciário a aplicação da medida, a supervisão e o
acompanhamento; e ao Órgão Executor Municipal o gerenciamento e o desenvolvimento das
ações, tendo o Ministério Público como fiscalizador.
Para o funcionamento do Programa é necessário uma Equipe de Orientadores
Sociais, devidamente capacitados, que desenvolverão uma ação pedagógica observando os
seguintes aspectos:
•família: reforçar os vínculos familiares para que ela colabore no processo sócio - educativo;
• escola: incentivar o retorno, a permanência e o sucesso escolar;
•profissionalização: estimular a habilitação profissional;
•comunidade: corresponsável no processo sócio-educativo, através das entidades cadastradas
para o acompanhamento dos adolescentes.
O orientador social deve: estabelecer com o adolescente e com as entidades
sistemáticas de atendimentos definindo objetivos a serem alcançados, para construção de um
projeto de vida; desenvolver vínculo de confiança; não fazer julgamentos moralistas; propiciar
a capacidade de reflexão sobre sua conduta; avaliar periodicamente, em conjunto com a
entidade, o seu "caminhar" e apresentar relatórios de acompanhamento ao Juiz e ao Ministério
Público.

2.6 Entidades Beneficiadas com o PSC

A Legislação Pátria aponta as instituições as quais podem ser beneficiadas. Em


verdade, não se fala em entidades beneficiadas, mas sim, aquelas que poderão participar do
programa. Contudo, não se pode desconsiderar que este trabalho traz inúmeros benefícios a
toda instituição que abra as portas para a execução da pena.
O legislador teve a preocupação de afastar a exploração da mão de obra gratuita,
razão pela qual impediu que empresas que tem por objetivo o lucro, recebam sentenciados os
prestações de serviços assim explica Bittencourt, Na definição dessa sanção, houve clara
preocupação em estabelecer quais as entidades que poderão participar da prestação gratuita de
serviços comunitários. Afastaram-se, liminarmente, as entidades privadas que visam lucros,
de forma a impedir a exploração de mão de obra gratuita e o consequente locupletamento sem
26

a devida contraprestação. Em definitivo, trata-se de trabalhos que não poderiam ser prestados
de forma remunerada em razão da escassez de recursos econômicos das entidades referidas.
Nota-se que o próprio nome dado a tal pena já demonstra a preocupação em que os
serviços prestados revertam em benefícios à coletividade, sendo assim, não seria certo
permitir que o trabalho dos sentenciados favoreça o interessa particular, qual seja, o lucro.
A lei deixa claro quais instituições poderão ser beneficiadas com o trabalho exercido
em serviços à comunidade, sendo estas, entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e
“estabelecimentos congêneres”, segundo a lei. Desta forma, toda instituição caritativa estará
apta a se credenciar, recebendo sentenciados para então prestar serviços.

2.7 A Pesquisa

Considerando que as medidas sócio-educativas preveem ações educativas e por não


existir muitas bibliografias que falem sobre o melhor procedimento para educar o adolescente
em conflito com a lei, escolheu-se pesquisar junto aos profissionais da área o que eles pensam
sobre o trabalho pedagógico e qual a importância deste no cumprimento da medida
sócioeducativa de Prestação de Serviços a Com unidade, a fim de reunir opiniões e sugestões
na tentativa de propor alternativas de atendimento. Afinal, é fundamental estar sempre em
discussão o atendimento a este adolescente, de forma que se busque um aperfeiçoamento na
intervenção profissional. “Enfatizou-se a medida de Prestação de Serviços a Comunidade, por
ser instigante verificar, na opinião dos profissionais, se a medida tem caráter educativo ou
punitivo, e como atender o adolescente que, de certa forma, é ‘obrigado” a cumprir esta
medida, que prevê trabalhos gratuitos à comunidade e que tem pré-determinada a carga
horária de serviços. Afora este objetivo geral, a pesquisa teve outros específicos, como:
Provocar a discussão sobre o caráter pedagógico (ou não) da medida sócioeducativa de
Prestação de Serviços à Comunidade; Motivar os profissionais que trabalham com
adolescentes autores de ato infracional a refletirem sobre sua pratica enquanto defensores dos
Direitos da Criança e do Adolescente; Definir algumas considerações sobre o trabalho
pedagógico com o adolescente autor de ato infracional.
A investigação foi desenvolvida com profissionais que atuam na Área do adolescente
autor de ato infracional, que exercem suas atividades nos municípios de Florianópolis e São
José.
A pesquisa realizada é de caráter qualitativo, cujo objetivo foi levantar dados -
coletados por meio de entrevistas estruturadas compostas por dez perguntas abertas – e
27

através destes, verificar a opinião profissional dos entrevistados quanto ao atendimento ao


adolescente que recebe a medida sócio-educativa de Prestação de Serviços à Comunidade.
De acordo com Minayo (1994, p. 101), “a investigação qualitativa requer como
atitudes fundamentais a abertura, a flexibilidade, a capacidade de observação e de interação
com o grupo de investigadores e com os atores sociais envolvidos -”. As entrevistas serão
realizadas no local de trabalho dos profissionais. A diversidade das profissões foi intencional,
na busca de diferentes opiniões, sugestões, para posteriormente, os dados serem analisados e
condensados, tentando-se propor alternativas e sugestões de atendimento.
A entrevista foi o método escolhido por ser considerado que este instrumento de
pesquisa possui como vantagem a facilidade das pessoas de terem mais paciência e motivação
para falar do que para escrever, e pelo fato de que o entrevistador pode observar o entusiasmo,
a expressão corporal e a tonalidade de voz do entrevistado, verificando as possíveis
contradições.
As perguntas encontram-se analisadas separadamente, sendo que estão selecionados
apenas os principais fragmentos das respostas. Na integra, as entrevistas se encontram em
anexo. Os trechos foram selecionados porque estavam mais direcionados à pesquisa e porque
estavam mais de acordo com o que foi indagado na pergunta.

QUESTIONARIO APLICADO JUNTO AS ASSISTENTES SOCIAIS

1. Você considera possível educar ou reeducar um adolescente autor de ato infracional em


um determinado tempo de cumprimento da medida sócio - educativa de Prestação de
Serviços à Comunidade?
2. Sabemos que em muitos municípios, os adolescentes que estão cumprindo PSC, são
submetidos a trabalhos forçados, não respeitando assim sua condição de pessoa em
desenvolvimento. Em sua opinião o que acontece?
3. Como a medida de Prestação de Serviços à Comunidade pode proporcionar ao
adolescente sua inclusão na sociedade, fortalecendo vínculos familiares e comunitários?
4. Para você, a medida de PSC tem caráter educativo ou punitivo?
5. Você tem conhecimento se entre os municípios de Santa Catarina existe algum programa
que sirva de modelo de trabalho pedagógico com os adolescentes que cumprem PSC? Se
possível descreva rapidamente.
6. Quais os pontos positivos e negativos do PSC?
7. Em sua carreira profissional, você observou alguma dificuldade que facilitou o não
cumprimento da medida pelos adolescentes? Qual (is)?
28

8. Sendo uma medida determinada pelo juizado da Infância e Juventude, você acredita que
é possível trabalhar pedagogicamente, surtindo efeito positivo, se o adolescente é
obrigado a prestar serviços comunitários?
9. Como um profissional que atua na Área da criança e do adolescente, que sugestões você
gostaria de deixar como contribuição para que os programas alcancem maior efetividade
nas aches com o adolescente?
10. Em sua opinião o que é trabalhar pedagogicamente nas ações cotidianas com adolescente
autor de ato infracional?

III Capítulo

3. Constatações e Reflexões

Pensar o sistema socioeducativo, na atualidade, leva-nos a encontrar uma realidade


bastante difícil, onde diversos fatores precisam ser considerados. Por um lado temos que a
estrutura das instituições educativas conta com condições de funcionamento precárias.
Por outro lado, se perguntarmos às pessoas como elas veem o sistema
socioeducacional no país, certamente uma resposta comum terá como base a impunidade que
invade a sociedade em geral e o nível crescente de insegurança frente à prática cada vez mais
comum da violência. Frente a esta realidade cabe questionar: a que tipo de objetivos vem
servindo a instituição socioeducacional visto que seu funcionamento é tido, desde há muito
tempo, como falido? E o que vem sendo feito para que tal instituição seja transformada em
sua forma de funcionamento?
Se é preciso intervir tão incisivamente sobre os corpos, isto se deve ao fato de que as
regras estabelecidas socialmente não estão sendo cumpridas a contento. Isto porque, a vida em
sociedade demanda um nível de organização entre seus membros a fim de estabelecer uma
convivência possível, dentro da diversidade existente. Desta forma, são criadas leis e normas
que objetivam organizar a vida das pessoas em seus mais diferentes níveis. É desta maneira
que construímos e reproduzimos a cultura, que pode ser entendida como o conjunto de normas
criadas para favorecer a vida em sociedade.
A construção e sistematização de tais normas sociais buscam, de diferentes maneiras,
fazer com que, cada vez mais, os indivíduos se envolvam em seu cumprimento e manutenção.
Caso isto não ocorra, a própria sociedade toma como alternativa criar mecanismos de
exclusão, que buscam afastar os transgressores da convivência social. Porém, ao mesmo
tempo em que exclui, acaba incluindo os indivíduos em diferentes instituições, a fim de
29

transformá-las e educá-las, sendo no caso abordado, dentro da Instituição. A necessidade de


tal inclusão, que busca isolar o transgressor da convivência social, aponta para a dificuldade
que temos em lidar com o que vai contra a norma estabelecida e a multiplicidade do ser
humano, que pode não coincidir com o que está socialmente instituído. Assim, a saída mais
direta acaba sendo a exclusão como forma de controle, saída esta que talvez acabe por manter
ou até aumentar o índice de violência. Tal quadro aponta para o fato de que as normas
estabelecidas não são acolhidas de maneira uniforme por todas as pessoas, o que torna seu
cumprimento comprometido, uma vez que deixa de considerar o homem como ser múltiplo e
complexo, cuja amplitude não pode ser reduzida a um conjunto de leis ou a uma questão de
conflito.
Sem a participação da comunidade não é possível conseguir administração eficaz da
Justiça, somente mediante os esforços dos órgãos governamentais. É fundamental mobilizar
toda a variedade de recursos comunitários para ajudar e apoiar as autoridades encarregadas da
administração da Justiça a fim de conseguir a inserção social do menor infrator
individualmente considerado. A participação da sociedade pode ajudar os socioeducando a
estabelecer vínculos significativos na comunidade, tomar consciência do interesse que a
comunidade tem por eles e ampliar as possibilidades de relação e apoio que podem continuar
mesmo após ter terminado a aplicação da medida não privativa de liberdade. Assim. Podem
contribuir para a reintegração do socioeducando.
Neste item, apresentar-se-á as questões da pesquisa e suas respectivas respostas,
selecionando, como já foi mencionado, alguns trechos para, posteriormente, concluir as
contribuições dos profissionais.

1. Você considera possível educar ou reeducar um adolescente autor de ato infracional


em um determinado tempo de cumprimento da medida sócio - educativa de
Prestação de Serviços à Comunidade?
Resposta: É possível, depende muito do tempo determinado, dependendo do ato,
dependendo do intertexto da instituição, da família, e uma questão muito ampla que precisa
de união da instituição, do adolescente e da família.

2. Sabemos que em muitos municípios, os adolescentes que estão cumprindo PSC, são
submetidos a trabalhos forçados, não respeitando assim sua condição de pessoa em
desenvolvimento. Em sua opinião o que acontece?
30

Resposta: a falta de conscientização entre a rede precisa, entre a rede e a sociedade e faça
com que o adolescente ressocialize, existe certo preconceito, que ele sofre e que deve ser tida
em consideração a conscientização da instituição da rede.

3. Como a medida de Prestação de Serviços à Comunidade pode proporcionar ao


adolescente sua inclusão na sociedade, fortalecendo vínculos familiares e
comunitários?
Resposta: Fazendo um trabalho educativo, na maioria das vezes e de educação, pois a
família e a escola tem um papel muito importante para inclusão na sociedade e na família.

4. Para você, a medida de PSC tem caráter educativo ou punitivo?

Resposta: na legislação é educativo, na pratica ela é punitiva.

5. Você tem conhecimento se entre os municípios de Rio Branco existe algum


programa que sirva de modelo de trabalho pedagógico com os adolescentes que
cumprem PSC? Se possível descreva rapidamente

Resposta: Não

6. Quais os pontos positivos e negativos do PSC?


Resposta: Positivas – na isenção do adolescente no comportamento do cumprimento da
medida.
Negativas – faltas de planejamento da instituição; a falta de recursos
institucionais.
7. Em sua carreira profissional, você observou alguma dificuldade que facilitou o não
cumprimento da medida pelos adolescentes? Qual (is)?
Resposta: Eles desistem, e o que dificulta isso muitas vezes é a inserção da família no
programa. Se a família está inserida no programa, na hora que o adolescente for pra casa, ele
volta. Quando a família não esta muito inserida no processo, fica uma coisa muito superficial
e o adolescente acaba fazendo o que acha que tem que fazer.
8. Sendo uma medida determinada pelo juizado da Infância e Juventude, você acredita
que é possível trabalhar pedagogicamente, surtindo efeito positivo, se o adolescente é
obrigado a prestar serviços comunitários?
Resposta: tratando o adolescente, de certa forma tem que ocorrer a imposição, ele tem que
sentir a responsabilidade.
31

9. Como um profissional que atua na Área da criança e do adolescente, que sugestões


você gostaria de deixar como contribuição para que os programas alcancem maior
efetividade nas aches com o adolescente?
Resposta: A questão de ter um programa concreto e não somente uma instituição de
acompanhamento, pois a xxxxx ele e só um acompanhamento, uma necessidade de uma
equipe mesmo capacitada pensa na atitude.

10. Em sua opinião o que é trabalhar pedagogicamente nas ações cotidianas com
adolescente autor de ato infracional?
Resposta: Trabalhar em equipe, equipe multidisciplinar, ter uma rede parceira, ter uma rede
parceira de fato com conhecimento na medida.
32

Conclusão

Podemos notar que o (a) Assistente Social deve ter a compreensão das dimensões
técnicas, administrativas e políticas que norteiam a execução da medida. E que o trabalho
desenvolvido junto aos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação
envolva a história de vida, a família, a comunidade, os desejos e os valores do adolescente
(Losacco, 2004). Bem como a articulação com as instituições que compõe o Sistema de
Garantia de Direitos para que o trabalho seja realizado em sua totalidade, evitando, assim, a
“divisão do mundo” e a “repartição da vida”, ou seja, que o adolescente não sinta fora de seu
próprio movimento vital e real.
Por outro lado, constatou-se a total falta de estrutura de órgãos de fundamental
importância para a efetivação da democracia participativa e para o envolvimento da
comunidade e da sociedade civil com as políticas públicas para adolescentes autores de atos
infracionais, tais como os Conselhos de Direitos. Como bem afirma o ECA, a convivência
familiar e comunitária é de suma importância para a reintegração social e para o saudável
desenvolvimento de adolescentes autores de atos infracionais. Para tanto, os órgãos que
possam envolver a comunidade e a sociedade civil neste processo devem ser fortalecidos, e
não esvaziados como temos observado.
O apontamento que temos a partir dessas análises é de que a União inaugura
processos deliberativos que são replicados pelos demais entes federativos, tendo inegável
influência no processo de produção normativa dos mesmos. Mas contata-se também que há
inúmeras dificuldades para estados e municípios acompanharem esses movimentos – entre as
quais merece destaque a falta de estrutura de órgãos como os Conselhos de Direitos – e
algumas secretarias municipais, que deveriam ser enfrentadas pela própria União, que se
beneficiaria com isso, pois teria a sua produção normativa replicada em territórios estaduais e
municipais, fortalecendo a política nacional.
Tudo que foi exposto parte-se de uma análise criteriosa apontando que a todo e
qualquer processo deliberativo aberto pela União, são replicados pelos demais entes
federativos, tendo inegável influência no processo de produção normativa dos mesmos.
Vimos ainda à grande dificuldade dos estados e municípios em realizar tais processos, uma
vez que há uma grande falta de estrutura de órgãos. Conselhos de Direitos que são de extrema
importância para resolver e solucionar os casos são escassos. Hoje as secretarias municipais
são morosas, no que diz respeitos aos processos que as próprias beneficiariam e ainda as
fortaleceria uma política nacional.
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Por fim, o trabalho exposto traz a compreensão das Medidas Socioeducativas e ainda
os principais tópicos que podem ser estudados para que se consiga realizar um trabalho de
forma clara, eficiente e eficaz, no que se diz respeito ao Programa de Serviço a Comunidade –
PSC. Eis um grande desafio!
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