Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ACÓRDÃO: 201913261
RECURSO: Apelação Cível
PROCESSO: 201800715685
RELATOR: RUY PINHEIRO DA SILVA
APELANTE ETELVINO BARRETO SOBRINHO Advogado: ANDERSON SALES SANTOS
MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE
APELADO
SERGIPE
EMENTA
1 of 10 06/06/2019 15:29
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE https://www.tjse.jus.br/tjnet/jurisprudencia/relatorio.wsp?tmp.numproces...
2 of 10 06/06/2019 15:29
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE https://www.tjse.jus.br/tjnet/jurisprudencia/relatorio.wsp?tmp.numproces...
ACÓRDÃO
RELATÓRIO
Diante de tais fundamentos fáticos e legais e das evidências trazidas aos autos
pelos documentos acostados e testemunhos observada a gradação da ilicitude
praticada, ainda a sua repercussão no patrimônio Público imaterial, haja vista a
violação de seus princípios norteadores, para prejuízo moral da comunidade;
observado também, o caráter doutrinador e moralizador que deve ser alcançado
por decisões deste jaez, JULGO PROCEDENTES EM PARTE OS PEDIDOS
CONTIDOS NA AÇÃO e declaro, na forma do pedido, indevida a contratação e
caracterizado como o ato de improbidade administrativa definido como tal no
artigo 11º, V, da Lei 8.429/92, e condeno Etelvino Barreto Sobrinho nas sanções
previstas no art. 12, III da referida lei a:1) ter suspensos os seus direitos
políticos pelo prazo de 03 (três) anos; 2)perda da função pública que exerça
atualmente; 3)proibição de, por 03 (três) anos, de contratar com o Poder
Público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por meio de pessoa jurídica da qual sejam sócios; 4)
condenação do réu ao pagamento de multa civil no valor equivalente a 10 vezes
o valor de sua maior remuneração.
Reconsidero a decisão que impôs a multa por ausência do réu na audiência tendo
em vista que houve retardamento do ato em mais duas oportunidades para a
qual não houve contribuição da defesa. Assim, afasto a multa de 2% sobre o
valor da causa.
3 of 10 06/06/2019 15:29
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE https://www.tjse.jus.br/tjnet/jurisprudencia/relatorio.wsp?tmp.numproces...
E, em Embargos de Declaração:
Requer, por fim, o conhecimento e provimento do recurso, para que seja reconhecida a
improcedência da demanda.
4 of 10 06/06/2019 15:29
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE https://www.tjse.jus.br/tjnet/jurisprudencia/relatorio.wsp?tmp.numproces...
É o relatório.
VOTO
Cinge-se o presente recurso a combater a decisão monocrática que julgou procedente o pedido
constante nos autos da Ação de Improbidade Administrativa proposta pelo Ministério Público do Estado
de Sergipe em face de Etelvino Barreto Sobrinho.
Antes de adentrar no cerne da questão, mister fazer uma retrospectiva dos fatos que
antecederam a interposição do Recurso.
Narram os autos, que José Laércio Passos Júnior, à época Prefeito, contratou, sem
concurso público, pessoas em troca de apoio político ao réu, então candidato ao cargo de Prefeito
Municipal Porém, as pessoas contratadas jamais exerceram qualquer prestação de serviço à
municipalidade.
Que as pessoas contratadas para cargos em comissão não exerciam as funções de chefia
ou assessoria pois sequer tinham formação escolar para tanto, exercendo, em verdade, atividades
alheias ao que se conhece como “área-fim”.
Alega o recorrente que a sentença foi omissa e obscura ao não esclarecer qual a norma
jurídica que exige certo nível de escolaridade à ocupante de cargo em comissão, não merece prosperar,
uma vez que tal norma, de fato, não existe.
5 of 10 06/06/2019 15:29
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE https://www.tjse.jus.br/tjnet/jurisprudencia/relatorio.wsp?tmp.numproces...
Entretanto, a alegação trazida pelo membro do Parquet de primeiro grau e acatada pelo
juízo de piso mostra-se condizente e consentânea com o que se espera de eventual ocupante de cargo
de chefia, assessoramento ou direção na Administração Pública. Ou seja, a Sra. Edines dos Santos, que
sequer completou o Ensino Fundamental e jamais trabalhou antes ou depois de ter exercido as funções
junto ao Município, sem qualquer tentativa de desqualificação quanto a estes fatos, não pode ser
contratada para uma suposta função de relevância pública junta à Administração, caso se cogitasse de
função que realmente obedecesse aos ditames constitucionais para ocupar cargos comissionados.
Logo, a conclusão motivada do magistrado de primeiro grau se deu após análise dos
contornos fáticos do caso e da realidade prática, sem que exista uma norma jurídica que estabeleça
nível de escolaridade mínimo para ocupar funções comissionadas na Administração Pública Municipal.
Pois bem. O Recorrente foi condenado por envolvimento nas sanções impostas no Art. 11 da Lei
nº 8.429/92, por ter contratado funcionário sem a observância de prévia aprovação em concurso
público.
Adentrando na questão de fundo, convém fazer um ligeiro apanhado nas disposições da Lei nº
8.429/1992, a qual informa que para a caracterização do ato de improbidade administrativa faz-se
necessária a presença de três elementos, a saber: o sujeito ativo, o sujeito passivo e a ocorrência de
um dos atos danosos tipificados na lei em três modalidades - os que importam enriquecimento ilícito
(art. 9º); os que causam prejuízo ao erário (art. 10); e os que atentam contra os princípios da
Administração Pública (art. 11).
O enriquecimento ilícito, por sua vez, será necessariamente precedido de violação aos referidos
princípios, já que a conduta do agente certamente estará eivada de forte carga de ilegalidade e
imoralidade.
Tratando-se de ato que cause lesão ao patrimônio público, consoante a tipologia do art. 10 da Lei nº
8.429/92, ter-se-á sempre a prévia violação aos princípios regentes da atividade estatal, pois, como
visto, a lesão haverá de ser causada por um ato ilícito, e este sempre redundará em inobservância dos
princípios.
Ademais, para que haja a caracterização dos atos previstos no art.10, da citada Lei, como ímprobos,
exige-se a comprovação objetiva de lesão ao erário, ou seja, a prova de sua efetiva ocorrência, sob
pena de não-configuração do ato impugnado, mercê da impossibilidade de condenação ao
6 of 10 06/06/2019 15:29
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE https://www.tjse.jus.br/tjnet/jurisprudencia/relatorio.wsp?tmp.numproces...
Ademais, os atos de improbidade previstos no art.10 dispensam a apuração do dolo por parte do
agente, pois há a previsão expressa na LIA de que os fatos ali tipificados admitem a forma culposa.
Por outro lado, quando o ato ímprobo indicado violar alguns dos princípios da Administração Pública
(art.11), e do mesmo modo praticar as condutas do art.9º, para que o mesmo reste configurado é
mister a comprovação da existência de conduta dolosa por parte do agente, não se exigindo, neste
caso, que o dolo seja específico bastando, por conseguinte, da presença do dolo genérico, isto é,
aquele que se verifica quando a vontade do agente se esgota com a simples prática da conduta
objetivamente criminosa, sem que seja exigida uma finalidade particular do agente.
Feitas estas considerações e transpondo-se para o caso dos autos, consigno queos fatos
articulados na presente demanda residem na informação de que o Recorrente Prefeito à época dos
fatos e, portanto, agente público sujeitando-se aos ditames da Lei 8.429/92(art. 2º), contratou a Sra.
Edines dos Santos para ocupar cargo em comissão, sem que a mesma possua capacidade técnica para
desempenhar as funções inerentes ao cargo.
Não resta dúvidas que a Carta Cidadã de 1988 determina, como regra, ser obrigatoriedade
da realização de prévio concurso público para a admissão de servidores públicos, nos moldes do
disposto no art. 37, inciso II. Eis o teor:
(...)
No caso concreto, em seu depoimento, a funcionária afirma que seu trabalho era o
de atender telefonemas, repassar recados e documentos e não de assessoramento. Assim, é
indene de dúvidas que o ex-Prefeito cometeu ato de improbidade administrativa por se enquadrar sua
conduta no previsto no art.11, caput e inciso V da Lei nº 8.429/92, que dispõe:
7 of 10 06/06/2019 15:29
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE https://www.tjse.jus.br/tjnet/jurisprudencia/relatorio.wsp?tmp.numproces...
(...)
Nesse sentido:
1. Inexiste violação dos arts. 165, 458 e 535 do CPC quando a prestação
jurisdicional é dada na medida da pretensão deduzida, com enfrentamento
de forma clara e fundamentada das questões abordadas no recurso.
(...).
8 of 10 06/06/2019 15:29
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE https://www.tjse.jus.br/tjnet/jurisprudencia/relatorio.wsp?tmp.numproces...
Ora, o Recorrente assinou o Termo de Nomeação sabendo que o referido cargo sem ter
buscado qualquer informação quanto à formação de Edines dos Santos tampouco lhe exigiu qualquer
documentação antes de nomeá-la para o cargo de Chefe de Divisão de Apoio Administrativo na
Secretaria Municipal de Transportes, portanto, teve a intenção de contratar sem a realização de prévio
concurso público.
9 of 10 06/06/2019 15:29
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE https://www.tjse.jus.br/tjnet/jurisprudencia/relatorio.wsp?tmp.numproces...
Inexistindo, portanto, dúvida quanto a conduta do Apelante no fato que embasou essa lide,
bem como a conduta dolosa, entendo, também, que seu ato é enquadrado como ímprobo na medida
em que infringiu os princípios da atividade administrativa (moralidade, honestidade e impessoalidade –
art. 11, da LIA).
Vale registrar que não está em apreço o fato de a Sra. Edines dos Santos ter ou não prestado
serviços ao Município de Rosário do Catete, nem tampouco se o Sr. Aloísio mentiu em seu depoimento
ao Ministério Púbico, nem se houve a contratação de “funcionários-fantasma”
pela gestão anterior, à época da campanha eleitoral de 2008, o que não se encontra analisado nos
presentes autos.
Forçoso concluir, portanto, que estando presente o ato de improbidade, o mesmo desafia a
imposição de sanção prevista em lei, a qual foi indicada no decisum e correspondente à multa civil
novalor correspondente a dez vezes o valor da maior remuneração percebida pelo Apelante.
De início esclareço que não desconheço a sanção aplicada pelo d. magistrado a quo, mas entendo que
a mesma é imposição lógica pela infração cometida, pois a conduta imputada ao recorrente, a qual foi
devidamente comprovada, mostra-se grave, em clara afronta aos princípios da Administração Pública.
Ante o exposto, conheço do presente recurso, para lhe negar provimento mantendo a
sentença monocrática em todos os seus termos.
É como voto.
10 of 10 06/06/2019 15:29