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MÉTODO PARA O DIMENSIONAMENTO DA EQUIPE DE

CARPINTEIROS PARA O SERVIÇO DE FÔRMAS

Araújo, Luís Otávio Cocito de (1); Souza, Ubiraci Espinelli Lemes de (2)
(1) Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; Av. Prof.
Almeida Prado, trav.2, n. 271 CEP 05508 900 São Paulo SP Brasil. E-mail: otavio@pcc.usp.br
(2) Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo; Av. Prof.
Almeida Prado, trav.2, n. 271 CEP 05508 900 São Paulo SP Brasil. E-mail: ubisouza@pcc.usp.br

RESUMO

Os serviços de construção civil apresentam grande diversidade de conteúdo e contexto dentro do qual são
realizados. Indicadores, como os de produtividade, utilizados em orçamentação são normalmente genéricos
demais para subsidiar consistentemente o microplanejamento. Porém, com o surgimento de indicadores
confiáveis que permitam as empresas conhecerem e controlarem seus consumos de recursos, começam a
ocorrer mudanças na forma como são planejadas as obras de construção civil.

Umas das vertentes do microplanejamento trata a composição e o dimensionamento de equipes de


trabalhadores para serviços de construção civil. O presente trabalho considera especificamente o serviço
de montagem e desmontagem de fôrmas no que tange o dimensionamento da equipe de carpinteiros
envoltos com tal atividade. Num primeiro momento estima-se a produtividade da mão-de-obra frente às
características do serviço (usa, para isso, metodologia já concebida por estes autores) para, numa segunda
etapa, dimensionar a equipe ideal de trabalhadores capaz de alcançar a produtividade prevista.

ABSTRACT

Construction tasks are accomplished under a wide range of content and context issues. Budget
consumption rates are normally too generic to support a detailed service planning. As far as more confident
unit rates are being proposed, construction process can be improved.

One of the microplanning issues to be addressed is the gang size definition. This paper focuses on
formwork and aims to define the number of carpenters to be used in assembling and disassembling
activities. Labor productivity unit rate has to be previously estimated in order to reach the final goal.

Palavras chave: microplanejamento; fôrmas; dimensionamento de equipe


1. INTRODUÇÃO

O processo de planejamento atualmente adotado nos empreendimentos de construção civil tem abordado
apenas as grandes “partes” que compõem a obra. O chamado “macroplanejamento” tem se baseado em
indicadores utilizados em orçamentos que são normalmente genéricos demais para subsidiar
consistentemente um planejamento mais detalhado.

Hoje, com a existência de indicadores mais analíticos (AGOPYAN, 1998; PALIARI, 1999; ANDRADE,
1999; ARAÚJO, 2000; SOUZA, 1996), associados ao próprio processo executivo, tem-se possibilitado
orçamentos também mais analíticos. A atividade de planejamento, antes concentrada no escritório e
desempenhada pelo “departamento de planejamento”, distante dos problemas e necessidades de cada obra,
começa a ser revista. O planejamento adquire uma abordagem microscópica, permitindo às empresas
conhecerem e melhor controlarem o consumo de recursos.

O número considerável de trabalhos que têm tratado as fôrmas (ARAÚJO, 2000; CRUZ, 2000; ROCHA,
1996; CRISTINI, 1995; HURD, 1989; MASCARENHAS, 1989; PETERS, 1991; ALDANA, 1991;
MOLITERNO, 1989; FAJERSZTAJN, 1987; RICOUARD, 1980; RICHARDSON, 1987) por si só
evidencia a importância deste serviço na construção civil, tanto no nível nacional quanto internacional.

ARAÚJO, 2000, em revisão recente, verificou que a participação das fôrmas na composição de custos de
estruturas de concreto armado, de edificações de múltiplos pavimentos, varia entre 40 e 60%;
considerando os custos totais da obra, o serviço de fôrmas pode representar até 10% do montante total
necessário para sua execução, comprovando-se, assim, sua importância financeira.

A importância da mão-de-obra no custo do serviço de fôrmas foi verificada por diversos autores:
BUKHART (1994) afirma que a mão-de-obra é responsável por 55% dos custos de fôrmas; para
BACKE (1994), tal valor alcança a cifra de 38%; ROCHA (1996) indica que 60% das horas gastas para
moldagem da estrutura de concreto armado são dedicadas às fôrmas.

O estudo mais aprofundado da execução das fôrmas é, portanto, justificável, tanto por sua importância
financeira, quanto por ter um grande peso na determinação do prazo e da qualidade da obra, sendo um dos
caminhos críticos mais longos, determinando o início da execução de quase todos os serviço subseqüentes.

O planejamento tem sido feito, principalmente, para servir aos fins da hierarquia superior, encontrando-se
fortemente direcionado para o nível macro e não para o microscópico, havendo uma demanda por seu
tratamento mais focado na produção da obra. Ao passar a enfocar as decisões, quanto ao estabelecimento
da produção, de uma maneira sistematizada, pretende-se abolir posturas atuais nas quais tais decisões são
tomadas sem uma prévia avaliação. Umas das atividades constantes do microplanejamento dos serviços na
construção civil, e que é o objeto específico deste trabalho, trata a composição e o dimensionamento de
equipes de trabalhadores para serviços de fôrmas.

A pesquisa que viabilizou a proposta de dimensionamento de equipe apresentada neste trabalho envolveu 8
construtoras do estado de São Paulo. Todas as empresas estudadas fizeram uso do “sistema tramado”
para as fôrmas. Segundo FREIRE (2001), o sistema tramado é o mais empregado atualmente, sendo
versátil e de fácil adaptação às estruturas reticuladas.
2. DIMENSIONAMENTO DA EQUIPE

A Figura 2.1 ilustra a posição ocupada pela tarefa de dimensionamento da equipe no âmbito do
planejamento (macro e micro) da obra.

MACROPLANEJAMENTO

PROGRAMAÇÃO DA OBRA

MICROPLANEJAMENTO

PROGRAMAÇÃO DOS SERVIÇOS

DIMENSIONAMENTO DA EQUIPE

Figura 2.1 – A tarefa de dimensionamento da equipe inserida no planejamento da obra.

Embora, conforme indicado na Figura 2.1, discussões no nível do microplanejamento possam realimentar
decisões do macroplanejamento, o estudo apresentado a seguir parte do pressuposto que as informações
provenientes do macroplanejamento, tal como a definição do prazo para a conclusão de cada ciclo da
estrutura do edifício estejam adequadas.

Dimensionar a equipe implica em estipular o número de operários necessários. Tal número depende de
vários fatores, dentre os quais pode-se destacar: a quantidade de serviço a ser executada (QS); a
1
produtividade da mão-de-obra, mensurada através de indicador pré-definido (RUP ); e o prazo destinado à
execução do serviço (∆t). A Equação 2.1 ilustra o relacionamento entre tais fatores e o tamanho da equipe
(H):

QS x RUP
H = (2.1)
∆t
Portanto, para se definir um encaminhamento para o dimensionamento da equipe, é necessário discutir-se
como se avaliar os três fatores dos quais este dimensionamento depende.

1
A RUP (razão unitária de produção) é o indicador de produtividade que tem sido adotado em muitos trabalhos sobre
o assunto, tanto nacionalmente (vide SOUZA, 2000) quanto internacionalmente (vide THOMAS; ZAVRSKI, 1999).
2.1 Quantidade de serviço

É importante que a quantificação do serviço, a ser considerada no dimensionamento da equipe, siga a


mesma sistemática de quantificação realizada no levantamento para fins de indicadores de produtividade,
utilizados na etapa de previsão (item 2.2). Assim sendo, apresenta-se, a seguir, como proceder tal
quantificação, que permitirá, ainda, a obtenção de algumas informações quantitativas a respeito do serviço,
fundamentais na previsão da produtividade.

A quantificação das áreas de fôrmas é feita em separado, segundo as tarefas que compõem o serviço:

• para os pilares, considera -se a área do molde das quatro faces, descontadas as áreas referentes ao
encontro com as vigas e lajes, conforme ilustrado na Figura 2.2. Deve-se levantar, nesta etapa, as
áreas de seções dos pilares. O valor mediano das seções será útil para a previsão da produtividade,
conforme será visto no item 2.2.2.1;

Área a ser descontada

Figura 2.2 – Determinação da área de fôrma de pilares.

• para as vigas, considera-se a soma das áreas da duas faces laterais mais a face inferior, conforme
ilustrado na Figura 2.3; lembra-se que as faces laterais internas, que recebem as lajes, possuem altura
menor que a face externa. O comprimento das vigas (distância compreendida entre dois pilares) deve
ser levantado nesta etapa. O valor mediano desses comprimentos será útil na previsão da
produtividade (item 2.2.2.2);

Face lateral externa

Face lateral interna

Face inferior

Figura 2.3 – Determinação da área de fôrma de vigas.


• para as lajes, considera-se a área do molde, limitada entre vigas, descontada a “interferência” de
pilares, conforme ilustrado na Figura 2.4.

Figura 2.4 – Determinação da área de fôrma de laje

• para as escadas, considera-se a área do molde referente ao plano inclinado, acrescida de eventuais
áreas de patamares. A Figura 2.5 ilustra um caso onde a área da fôrma de escada é expressa
calculando-se o comprimento “C1”, somado ao comprimento “C2”, e multiplicando-o pela largura “L”
da escada.

C1

C2

Figura 2.5 – Determinação da área de fôrma de escada

2.2 Estimação das RUP

2.2.1 Abordagem geral

A RUP é calculada, inicialmente, tarefa a tarefa. Além disso, tal primeira estimativa aborda a RUP
potencial global (RUPpotglob), na medida em que se prevê a produtividade potencial, isto é, aquela não
marcada por ineficiências, e associada ao conjunto global de operários envolvidos com o serviço.

Após a estimativa das RUPpot glob para todas as tarefas, conjuga -se tais valores, ponderados, pelas áreas
representativas de cada tarefa, em termos de uma RUP para o serviço de fôrmas.

Faz-se ainda uma correção para transformar a RUP potencial em RUP cumulativa (aquela que inclui os
efeitos de eventuais interferências) para as fôrmas.
2.2.2 Previsão da RUPpotglob

A previsão, quando não indicada diretamente, é feita basicamente com o apoio de 2 diferentes
instrumentos: a) faixa de variação da produtividade; b) listagem de fatores influenciadores com indicação
do tipo de efeito esperado (positivo ou negativo).

A faixa de variação (Figura 2.6) é basicamente a apresentação do intervalo de valores onde as


produtividades se localizaram, normalmente indicando-se o centro da distribuição por meio da indicação da
mediana. Sugere-se que não se faça previsões aquém do valor mínimo da faixa ou além do seu valor
máximo.

mín máx
med

Figura 2.6 – Faixa de variação da produtividade.


2
A listagem de fatores com indicação do tipo de influência pode ser apresentada de duas formas : uma
tabela indicando, para cada fator, qual a sua realização que leva a um aumento ou a uma diminuição da
produtividade; ou uma listagem de situações que levam ao aumento do valor da produtividade.`

A partir destas duas ferramentas, pode-se adotar 2 diferentes posturas na previsão:

• previsão baseada somente na ferramenta a) (Figura 2.7);


Com base na faixa de variação da produtividade, que representaria os desempenhos gerais do mercado,
um estimador poderia localizar a previsão para uma futura obra. Por exemplo, numa fase do
empreendimento em que não se tenha muita infor mação sobre o próprio conteúdo de um serviço, se
poderia adotar o valor da mediana como estimativa grosseira para se fazer uma avaliação de custos; na
mesma situação se poderia checar a hipótese mais crítica de viabilidade ao se adotar o valor máximo da
faixa; entre outras posturas.

mín máx
med

Figura 2.7 – Previsão de um valor pertencente à faixa de variação com base em critérios pessoais.

2
Os fatores citados, e que serão apresentados no decorrer deste item, nos casos relativos às duas formas de
apresentação, são aqueles que foram encontrados e considerados relevantes no âmbito do banco de dados usado
como base para o desenvolvimento do método. Nada impede que outros estudos indiquem fatores influenciadores
além daqueles mostrados neste trabalho.
• previsão baseada nas ferramentas a) + b);
Ao se conhecer, ainda que não totalmente, os fatores que caracterizarão o futuro serviço, pode-se fazer
um balanço quanto à maior presença de fatores positivos ou negativos e, com isto, dar um caráter um
pouco mais objetivo à escolha de um valor de produtividade dentro da faixa de valores proposta.

2.2.2.1 Subsídios para a Estimativa das RUP de pilares

Apresenta-se, a seguir, faixa de variação de RUP (Tabela 2.1) para a tarefa de pilar, bem como os
fatores influenciadores (Tabela 2.2) que servem para subsidiar a previsão dentro da faixa de valores
obtidos.

Tabela 2.1 – Faixas de variação da RUPpotglob (Hh/m²) para a tarefa “fôrmas de pilar” e suas
subtarefas.

Subtarefas* RUPpotglob

Gastalho 3 Faces 4 a face Desmontagem tarefa

Min 0,05 0,17 0,12 0,13 0,47


Pilar

Max 0,25 0,59 0,50 0,30 1,64

Med 0,08 0,28 0,35 0,14 0,85

*nos casos em que a seqüência executiva das fôrmas de pilar não passe por estas subtarefas, recomenda-se fazer a
previsão com base no valor global para a tarefa.

Tabela 2.2 – Tendências de variação da RUPpotglob (Hh/m²) para a tarefa “fôrmas de pilar” e
suas subtarefas em relação à mediana.
RUPpotglob
Diminui Aumenta
Pilares nivelados através do nivelamento dos
Pilares nivelados através dos painéis
gastalhos
Prumo dos pilares através dos pontaletes Prumo dos pilares através dos painéis
Maiores seções medianas dos pilares Menores seções medianas dos pilares
Utilização de laser na locação dos pilares Locação convencional dos pilares
Utilização de barras de ancoragem Utilização de tirantes perdidos
Utilização de tirantes predominantemente Utilização de tirantes predominantemente internos
externos

2.2.2.2 Subsídios para a estimativa das RUP de vigas

Apresenta-se, a seguir, faixa de variação de RUP (Tabela 2.3) para a tarefa de viga, bem como os
fatores influenciadores (Tabela 2.4) que servem para subsidiar a previsão dentro da faixa de valores
obtidos.

Tabela 2.3 – Faixas de variação da RUPpotglob (Hh/m²) para a tarefa “fôrmas de viga” e suas
subtarefas.
Subtarefas RUPpotglob

Montagem Desmontagem tarefa

Mín 0,64 0,09 0,73


Viga
Máx 1,34 1,26 2,60

Med 0,93 0,25 1,18

Tabela 2.4 – Tendências de variação da RUPpotglob para a tarefa “fôrmas de viga” e suas
subtarefas em relação à mediana.
RUPpotglob
diminui aumenta
• Geometria da estrutura não traz dificuldades na • Geometria da estrutura induz dificuldades na
desfôrma desfôrma
• Maiores comprimentos das vigas • Menores comprimentos de vigas
• Ausência de tirantes laterais • Necessidade de tirantes laterais

2.2.2.3 Subsídios para a Estimativa das RUP de lajes

Propõe-se que a estimativa de RUP de laje se baseie nas faixas de variação apresentadas na Tabela 2.5

Tabela 2.5 – Faixas de variação da RUPpotglob (Hh/m²) para a tarefa “fôrmas de laje” e suas
subtarefas.
Subtarefas RUPpotglob
Montagem Desmontagem tarefa

Mín 0,34 0,06 0,40

Com vigas Máx 0,78 0,18 0,96


Laje

Med 0,56 0,13 0,69

Sem vigas Med 0,21 0,13 0,33

2.2.2.4 Subsídios para a Estimativa da RUP de escada

Propõe-se que a estimativa de RUP de escada se baseie nas faixas de variação apresentadas na Tabela
2.6.

Tabela 2.6 – Faixas de variação da RUPpotglob (Hh/m²) para a tarefa “fôrmas de escada” e suas
subtarefas.
Subtarefas
RUPpotglob tarefa
Montagem Desmontagem

Mín 1,20 0,54 1,78


Junto com o
Escada
Máx 1,75 0,98 2,64
pavimento
Med 1,24 0,73 1,93

Em separado Med 0,57 0,43 1,00

2.2.3 Determinação da RUPcumglob das fôrmas

A RUPcumglob das fôrmas envolve uma ponderação das produtividades das tarefas em função das áreas a
elas associadas, bem como uma correção do valor potencial em função da maior ou menor probabilidade
de ocorrência de anormalidades. A expressão geral para o seu cálculo é:

( RUPpot globPILAR xA PILAR + RUPpot globVIGA xAVIGA + RUPpot globLAJE xALAJE + RUPpot globESCxA ESC )
RUPcum glob = xCO ( pot → cum)
APILAR + AVIGA + ALAJE + AESC

(2.1)

onde:
- RUPpotglob PILAR: RUP potencial global para pilar;
2
- A PILAR: área (m ) de fôrma de pilar;
- RUPpotglob VIGA: RUP potencial global para viga;
2
- A VIGA: área (m ) de fôrma de viga;
- RUPpotglob LAJE: RUP potencial global para laje;
2
- A LAJE: área (m ) de fôrma de laje;
- RUPpotglob ESC: RUP potencial global para escada;
2
- A ESCADA: área (m ) de fôrma de escada;
- CO(pot→cum): fator de correção para transformar a RUPpot em RUPcum.

Com relação ao CO(pot→cum), tem-se que:

• O valor de CO(pot→cum) varia de 1 a 1,2; tende ao maior valor (1,2) quanto mais marcante, durante a
execução do serviço, for a presença das características listadas a seguir:
- ciclos de trabalho longos (> 2 semanas) para completar-se uma porção (por exemplo, 1 pavimento tipo) da
estrutura;
- retrabalho;
- quebra de equipamento de transporte (é um fator tanto mais significativo quanto maiores são os painéis a
transportar);
- ocorrências climáticas prejudiciais (fortes ventos, chuvas);
- efeito aprendizado com relação à primeira montagem de uma porção repetitiva;
- problemas no acerto de remuneração dos operários;
- rotatividade alta.

2.3 Prazo de execução - ∆ t

O macroplanejamento fornece à obra a programação efetiva de todos os serviços. Sabe-se, portanto, que a
estrutura deverá ser executada em um certo número de meses. Dividindo-se a quantidade de meses pelo
número de pavimentos do edifício, tem-se, de um modo genérico, o prazo destinado à execução da
estrutura de cada pavimento. Atenta -se que esse prazo contempla a montagem/ desmontagem das fôrmas,
confecção e posicionamento das armaduras e concretagem das peças (pilares + vigas e laje).

O que se deseja saber é o ∆t referente apenas à execução das fôrmas, devendo-se descontar os dias em
que os carpinteiros são realocados, por exemplo, para as concretagens, não desempenhado, nestas
ocasiões, atividades relacionadas diretamente às fôrmas.

No que diz respeito ao tempo de dedicação, considera-se as horas disponíveis para o trabalho, apropriando-
se o tempo total que o operário está presente no canteiro e pronto para trabalhar. Não são, portanto,
descontadas horas de paralisação; não se adota a postura de computar apenas os tempos produtivos; não
se consideram as horas prêmio recebidas sem que o operário as tivesse realmente trabalhado.

3. ESTUDO DE CASO

Para exemplificar a conceituação teórica apresentada no item 2, será feita uma aplicação prática do
método proposto.

3.1 Descrição da obra em que se realizou a aplicação.

A obra em questão está localizada na cidade de São Paulo. Tratou-se de um empreendimento incorporado
por um fundo de pensão nacional, cabendo à construtora a administração de toda a obra. Composto por
duas torres com 17 pavimentos -tipo e um pavimento de cobertura, com destino comercial, o
empreendimento tinha uma área construída de aproximadamente 28.000 m2 (apenas as duas torres, sem
considerar áreas comuns). A tipologia estrutural adotada para toda a obra foi a estrutura reticulada de
concreto armado moldado no local.

3.2 Quantificação das áreas de fôrmas


As fôrmas foram compradas prontas, ou seja, foram batidas fora do canteiro. À equipe de carpinteiros
seria dada a tarefa de montagem e desmontagem das fôrmas. A quantificação foi feita segundo a
sistemática apresentada no item 2.1. A Tabela 3.1 apresenta as áreas (m2) resultantes desta
quantificação.

Tabela 3.1 – Áreas de fôrmas para as tarefas de pilar, viga, laje e escada.
Área fôrma Área fôrma Área fôrma Área fôrma Área fôrma
2 2 2 2 2
pilar (m ) viga (m ) laje (m ) escada (m ) total (m )

136,02 200,76 277,22 14,34 628,34

3.3 Previsão da produtividade da mão-de-obra no serviço de fôrmas

De posse de alguns fatores que caracterizam o serviço, faz-se um balanço quanto à maior presença de
fatores positivos ou negativos e escolhe-se um valor de produtividade dentro da faixa de valores proposta,
para cada uma das tarefas que compõem o serviço (pilares, vigas, laje e escada).

3.3.1 Levantamento de Fatores Influenciadores

Descreve -se, a seguir, as características da obra em estudo, associando-se, a cada uma delas, um sinal
relativo a tendência de diminuição da RUP (☺) ou de aumento (") .

# Pilares

☺ - Locação dos pilares utilizando equipamento laser;

☺ - Pilares nivelados através dos painéis;

☺ - Utilização de barras de ancoragem;

☺/" - Tensionamento variado (utilização de tirantes externos e internos);

" - Prumo dos pilares através dos pontaletes;

☺/" - Mediana da seção dos pilares: 0,23 (mediana).

# Vigas

☺ - Geometria da estrutura não traz dificuldades na desfôrma

" - Mediana do comprimento das vigas: 2,27;

" - Presença de tirantes laterais.

# Lajes

" - Lajes com vigas.

# Escadas
" - Escadas realizadas juntamente com o pavimento.
3.3.2 As RUP estimadas para a obra

A observação da faixa de variação (vide Tabelas 2.1, 2.3, 2.5 e 2.6), orientada pela indicação de fatores
influenciadores apresentados anteriormente (item 3.3.1) levou à estimativa das RUP, apresentadas na
Tabela 3.2.

Tabela 3.2 – Valores das RUP estimadas.


2
Tarefa Subtarefa RUP (Hh/m )
montagem 1,24
Escada Desmontagem 0,73
total 1,97
montagem 0,56
Laje Desmontagem 0,13
total 0,69
montagem 1,43
Viga Desmontagem 0,25
total 1,18
montagem 0,43
Pilar Desmontagem 0,14
total 0,85

Determinou-se o valor de RUPcumglob das fôrmas (Equação 2.1), ponderando as produtividades das
tarefas (Tabela 3.2) em função das áreas a elas associadas (Tabela 3.1) , bem como, corrigindo o valor
potencial em função da maior ou menor probabilidade de ocorrência de anormalidades (para esta obra,
chegou-se a um valor de CO = 1: ciclo de trabalho < que 2 semanas; baixíssimo retrabalho; ausência de
problemas graves com o equipamento de trabalho; remuneração dos trabalhadores acertada com
antecedência ao início do serviço; equipe estável) .

Procedendo-se assim, obteve-se uma RUPcumglob, para a fôrmas, de 0,91 Hh/m2.

3.4 Prazo para o serviço

O prazo previsto para a conclusão da estrutura de um pavimento tipo foi de 6 dias (Figura 2). Prevendo-se
o
que a concretagem de pilares levaria ½ dia de trabalho (4 dia do ciclo mostrado na Figura 3.1) e que a
o
concretagem de laje/viga demande um dia integral de serviço (6 dia do ciclo mostrado na Figura 3.1), tem-
se, para o serviço de fôrmas, um ∆t = 4,5 dias.

Ciclo de 6 dias úteis


ATIVIDADES 0 1 - - 2 3 4 5 6
Q S S D S T Q Q S
Desforma de e locação de gastalho
Montagem de pilar
Montagem de fôrma de laje e viga
Concretagem do pilar
Acertos geométricos da forma de laje/viga
Concretagem de laje e viga
Desforma de laterais de viga
Reescoramento e desforma de laje

Figura 3.1 – Ilustração do ciclo de fôrmas de um pavimento tipo.

3.5 Determinação do tamanho da equipe

O dimensionamento da equipe de carpinteiros, após determinada a quantidade de serviço, prevista a


produtividade da mão-de-obra e conhecido o prazo para a conclusão do serviço, é feito lançando-se tais
variáveis na Equação 3.1.

QS x RUP 628,34 x 0,85


H= = = 14,12 (3.1)
∆t 4,5dias x 9h
Logo, uma equipe composta por 14 carpinteiros é potencialmente capaz de concluir o serviço no prazo
previsto e com a produtividade esperada.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O método proposto para o dimensionamento da equipe de carpinteiros trata-se de um primeiro passo na


busca da correta composição de equipes de trabalho nos canteiros de obras. Ao se considerar a
produtividade como parâmetro para o dimensionamento passa-se, de uma situação de alocação grosseira
de mão-de-obra, para uma definição mais precisa da mesma.

Tal embasamento garante uma maior confiança na equipe proposta que, sabe-se previamente, é
potencialmente capaz de atingir a produtividade esperada.

Diminuem-se, assim, os problemas relativos tanto ao superdimensionamento da equipe, que geraria


aumento de custos, quanto de subestimação do número de operários necessários, o que poderia trazer
problemas de prazo. Mais que isto, o método proposto indica um caminho organizado de tratar o problema,
obrigando o gestor a pensar no mesmo com antecedência e racionalmente, o que já representa um
aumento da possibilidade de se ter sucesso na execução do serviço.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer às diversas construtoras, fornecedores e Institutos ligados à


Construção que têm viabilizado um contínuo trabalho conjunto Universidade-Empresas sobre a gestão da
mão-de-obra. Em especial, cabe o agradecimento à FAPESP, que têm dado um apoio decisivo a estes
trabalhos.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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