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Questão 2

Renato Lessa trata da democracia real que convive com ingredientes não democráticos.
Dê dois exemplos dessa convivência.

A democracia é fruto de um processo histórico que deriva de três principais paradigmas, o


primeiro, o paradigma denominado democrático clássico, que consiste na ideia de que o
governo é do povo, sem qualquer intermediação.
O segundo paradigma tem relação com o processo histórico do liberalismo, consistente na ideia
de que os seres humanos possuem direitos inalienáveis e oponíveis a qualquer membro da
sociedade, buscando, assim, a garantia que os interesses da maioria não afetarão os direitos
básicos da minoria.
O terceiro paradigma é fruto da experiência socialista que foi decisiva à imposição de restrições
do mercado e na definição de critérios de justiça e de sociabilidade.
A democracia e sua construção histórica foi acidental, não se diz “vai ser desse jeito tal e tal”.
Democracia histórico-ocidental: demo clássica; demo liberal; e democracia socialista (restrição
de mercado, movimentos sociais e sindicais).
Nesse contexto, Lessa afirma que a análise da presença qualitativa e quantitativa dos três
corolários servem de parâmetro para verificar a proximidade ou presença da almejada
democracia.
Entretanto, a democracia real, baseada nos pilares indicados, convive com elementos não
democráticos e que transformam a aplicação dos conceitos consolidados historicamente.
A dicotomia Isonomia e desigualdade material demonstram a existência de tratamento desigual
a grupos tidos como formalmente iguais no processo de exercício de diretos e participação no
processo democrático. Apesar de formalmente iguais, as oportunidades e ações concretas são
diferenciadas pelos vetores sociais presentes.
De igual forma, a utopia da transparência e interferência do cidadão no processo decisório do
Estado deixa de levar em consideração a existência de um núcleo de decisionista do Estado,
não aberto à competição politica e à visibilidade; são domínios que tem implicações
fundamentais sobre vida e sobre a morte de seres humanos. Como por exemplo Decisões que
impactam diretamente a economia: definição da taxa de juros pelo copom, decisões do Banco
Central e etc.
Questão 3
Analise o tema do conflito, nos regimes democráticos, de autoria de Madison em o
“Federalista”. Até que ponto o “pluralismo democrático”, proposto por ele, poderia
funcionar como antídoto contra conflitos do tipo “guerra civil”?

James Madison foi o principal defensor e teórico do grupo conhecido como Federalistas que
tinham como viés a consolidação da democracia norte americana, introduzindo conceitos
inovadores e ainda inaplicáveis em escala no velho mundo.
Conhecidos como “os pais da pátria”, os federalistas, tinham como objetivo consolidar
elementos que demonstrassem a viabilidade de implementação de uma democracia em larga
escala, afastando a ideia dos pensadores antigos de que o modelo democrático estaria vinculado
necessariamente a um território menor.
O desafio teórico enfrentado por "O Federalista" era o de desnaturalizar os dogmas arraigados
de uma longa tradição, demonstrando que a busca da democracia e da proteção aos anseios
comerciais da nação não dependiam exclusivamente da virtude do povo ou precisavam
permanecer confinados a pequenos territórios.
Nesse contexto, Madison defende a formação de uma Federação em detrimento da
Confederação, enxergando na união de Estados e o escalonamento de poderes e deveres
internamente como a forma de se manter a coesão e possibilitar a busca pela liberdade e
proteção da propriedade privada.
O Estado ficaria a cargo de promover a liberdade em todos os seus aspectos, respeitando as
diferenças religiosas e possibilitando a todos alcançarem os seus anseios econômicos, inclusive
com ações de proteção e fomento à propriedade privada.
No âmbito do Estado inicia-se a introdução das ideias de freios e contrapesos, equilibrando o
jogo de poderes e políticas em seu viés macro com a instituição da Suprema Corte e a previsão
de poderes e deveres inerentes ao Executivo e ao Legislativo, em manifesto balanceamento de
forças.
Ao negar a necessidade de um Estado pequeno para a implementação da democracia, Madison
enfrenta diretamente o problema da possibilidade de implementação de uma ditatura da maioria
em face de uma minoria, prevalecendo o interesse privado.
Ele afirma que uma ameaça real é a concentração do poder em pequenos grupos, desta forma
ele sugere a ideia de “neutralização recíproca”, afirmando que o Estado deve promover e
respeitar a liberdade associativa para que cada vez mais grupos possam se unir para a execução
de atividades de interesse próprio, tornando impossível o controle exclusivo do poder por uma
única facção.
A solução apresentada por Madison é de que a disseminação de grupos associativos
pulverizariam os interesses privados, uma vez que vários vetores não coincidentes afastam a
possibilidade de uma unicidade de forças equilibrando as ações sociais e afastando a ditadura
da maioria, cabendo ao Estado preservar a liberdade e a igualdade, fazendo valer os conceitos
introduzidos na sua Carta Maior.

Questão 4

Quais os fundamentos lógicos utilizados por J. Schumpeter para o argumento de que “o


povo não sabe votar”?

Schumpeter inicia o seu processo de análise desconstituindo a ideia romantizada da


democracia, avaliando que os indivíduos mantem um senso de responsabilidade e racionalidade
em seus interesses particulares, nos negócios, na família e nos campos em que os impactam de
forma real.
De igual forma, quando incluído no processo político, o indivíduo não possui a clareza
necessária para ter ciência de todos os fatores que circundam esse processo, ficando mais
propícios a disseminar preconceitos e apresentar impulsos irracionais.
O autor recorre a psicologia das multidões que apresenta a diminuição dos freios morais
e o estado de excitação promovido pela aglomeração de pessoas, ou seja, quando o cidadão está
diretamente relacionado com um grupo de pessoas, existe uma influência do meio para a tomada
de decisões e apoios no processo político.
Nota-se também a influência da publicidade e de outros métodos de persuasão que
atingem o nível subconsciente dos eleitores, onde os argumentos racionais perdem espaço para
novas narrativas. Com o raciocínio prejudicado, a exploração de grupos de interesse sobre o
povo torna-se efetiva por meio de vontades fabricadas com uma aparência de espontaneidade.
O senso de realidade é afetado pelo eleitor que não sente a materialidade e implicações
da política em sua vida individual, e ainda que sinta seus desdobramentos, não os julga com a
gravidade merecida. O grau de instrução e escolaridade também não influenciam nesse
comportamento, sendo recorrente em indivíduos com contextos diferentes.
É nesse contexto que Shumpeter traz a dúvida sobre a essência do voto, uma vez que o
indivíduo é claramente influenciado por fatores externos e de grupo que o condicionam a
exprimir uma vontade com baixo nível de racionalidade e movidos por paixões.
Na atualidade percebemos de forma cristalina o impacto no processo político da mídia
e propaganda direcionada, das redes sociais, principalmente na fabricação de verdades e
dogmas assimilados pelo cidadão que no recebimento da informação não consegue utilizar-se
da racionalidade pura para avaliação.
Ele estará suscetível a influências de grupos políticos organizados que, sabiamente, vão
explorar seus impulsos não racionais ou mesmo irracionais. Em suma, a norma é que a vontade
do povo seja quase sempre manufaturada e, portanto, não confiável. Do mesmo modo, a ideia
que o indivíduo produza suas conclusões através de uma progressiva ponderação lógica é avessa
a lógica das relações políticas e a da relação dos indivíduos com as questões políticas.

Questão 5

Se a forma, “partido”, ao se desenvolver, será sempre conservadora, quais as formas de


participação que poderiam responder à necessidade de fortalecer e dar vitalidade à
sociedade civil?

Robert Michels com o seu texto a sociologia dos partidos políticos realizou uma análise
criteriosa do surgimento dos partidos democráticos e com bases ideológicas consolidadas até o
seu processo de burocratização com o surgimento da uma elite oligárquica que passa a dirigi-
lo de acordo com os seus interesse e não mais com base na ideologia que o sustentou na criação.
No processo político, o crescimento do partido, ainda que democrático, necessário para alcançar
uma representação relevante no cenário nacional, o partido, paulatinamente, vai abandonando
as suas ideologias primárias e passa a ter uma adesão no processo tradicional e oligárquico,
passando a defender os interesses da elite que o coordena.
Ele pondera, que a influência exercida sobre a máquina do Estado por um partido de oposição
de menor expressão e com a ideologia enraizada não passará de lenta, frequentemente
interrompida, e encontrará seus limites nos próprios limites que a natureza da oligarquia lhe irá
opor.
A “Lei de Ferro” elaborada por Michels traduz a interpretação teórica de que o desenvolvimento
dos partidos políticos não é compatível com a manutenção de estruturas democráticas e de
controle de seus líderes por parte dos filiados e, mais importante, de que as massas são capazes,
apenas, de substituir antigas por novas elites.
Nesse contexto, a democracia por representação não corresponderia aos anseios dos membros
da sociedade, na medida que os partidos passariam a defender interesses oligárquicos
relacionados à elite que o comanda.
Demonstrada a falibilidade do partido como meio para a implementação dos anseios da
sociedade civil, a solução é a potencialização de organizações de interesse civil sem o viés
partidário, que possibilitasse aos membros da sociedade não oligárquicos executarem e
satisfazerem seus interesses pessoais ou coletivos em menor escala.
A sociedade norte americana, por exemplo, possui um grande movimento de associações
relacionadas a interesses privados ou mesmo coletivos voltadas para a execução de atividades
e defesas de interesses que não estariam dentro das ações dos partidos políticos por desinteresse
da elite que os coordena.
Assim, os membros da sociedade não participantes do processo partidário utilizariam como
meio de fortalecimento e vitalidade associações civis por interesses pessoais, alianças civis e
instituições intermediárias que não alcancem o nível de burocratização dos partidos políticos e
mantenham a defesa dos interesses que consolidaram a sua criação.

Questão 6
Faça uma comparação do conceito de “estado de natureza” formulado pelos
contratualistas, Hobbes, Locke e Rousseau, considerando as semelhanças e as diferenças.

A teoria do contrato social busca explicar o surgimento do Estado moderno, partindo-se da


premissa da existência de uma condição natural e inerente ao seres humanos que condicionou
a pactuação para a sua implementação. Os principais expoentes dessa teoria são Thomas
Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau.
Segundo a teoria do contrato social as normas, as obrigações morais e a vida em sociedade
dependem de um acordo, em grande parte, entre os partícipes de uma comunidade. Dessa forma
a sociedade civil evoluiu para o Estado, o qual gera benefícios comuns que podem ser resumidos
na defesa de direitos e impondo deveres.
Os citadas autores defendem a lógica do contrato social, cada qual baseando-se em aspectos
conceituais convergentes e divergentes. Em comum esses pensadores buscavam justificar
reformas do Estado minimizando o poder despótico dos monarcas absolutos.
Todos os três autores reconheciam a existência de um conjunto de direitos universais
e inalienáveis do ser humano, utilizando-se bastante dos conceitos do direito natural
(jusnaturalismo). Defendem ainda a necessidade de um pacto entre os membros da sociedade
para a instauração do Estado, ente necessário para a preservação dos direitos e da manutenção
da unidade social.
Pontuados os pontos em comum, é na essência do estado da natureza que cada autor difere e
sustenta a sua teoria de surgimento do Estado, apresentando aspectos específicos em relação ao
homem e seu estado natural.
Para Tomas Hobbes o estado natural do homem é egoísta e conflituoso, trazendo à sociedade
grande perturbação e instabilidade, quase que um estado de guerra de todos contra todos,
denotando a necessidade de surgimento do Estado para proteger os homens de seus próprios
pares, o que pode ser salientado na célebre frase (o homem é o lobo do homem).
Os homens precisavam de um Estado forte, pois a ausência de um poder superior resultava na
guerra. O ser humano, que é egoísta, se submetia a um poder maior, somente para que pudesse
viver em paz e também ter condição de prosperar.
Já segundo Locke, o homem vivia num estado natural onde não havia organização política, nem
social. Estavam num estado de guerra permanente onde não era possível o desenvolvimento de
nenhuma ciência ou arte. Não afirma categoricamente a natureza egoísta hobesseana, na medida
que o homem não é bom nem mal. Afirma que as relações sociais vão se intensificando e a
instabilidade delas prejudica o avanço sócio econômico da sociedade.
A instabilidade e insegurança geram a necessidade da criação do Estado .O problema é que não
existia um juiz, um poder acima dos demais que pudesse fiscalizar se todos estão gozando dos
direitos naturais. Então, para solucionar este vazio de poder, os homens vão concordar,
livremente, em se constituir numa sociedade política organizada.
Ao contrário de Hobbes e Locke, Rousseau vai defender que o homem, no seu estado natural,
vivia em harmonia e se interessava pelos demais. Para Rousseau, a propriedade privada
corrompeu os homens e passou a trazer insegurança e conflitos entre eles, desvirtuando a
moralidade inicial.
Desta maneira, Rousseau relaciona o aparecimento da propriedade privada com o surgimento
das desigualdades sociais. Assim era preciso que surgisse o Estado a fim de garantir as
liberdades civis e evitar o caos trazido pela propriedade privada.

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