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Álvaro de Campos

Acordo de noite, muito de noite, no silêncio todo.

Acordo de noite, muito de noite, no silêncio todo.

São — tictac visível — quatro horas de tardar o dia.

Abro a janela directamente, no desespero da insónia.

E, de repente, humano,

O quadrado com cruz de uma janela iluminada!

Fraternidade na noite!

Fraternidade involuntária, incógnita, na noite!

Estamos ambos despertos e a humanidade é alheia.

Dorme. Nós temos luz.

Quem serás? Doente, moedeiro falso, insone simples como eu?

Não importa. A noite eterna, informe, infinita,

Só tem, neste lugar, a humanidade das nossas duas janelas,

O coração latente das nossas duas luzes,

Neste momento e lugar, ignorando-nos, somos toda a vida.


Sobre o parapeito da janela da traseira da casa,

Sentindo húmida da noite a madeira onde agarro,

Debruço-me para o infinito e, um pouco, para mim.

Nem galos gritando ainda no silêncio definitivo!

Que fazes, camarada, da janela com luz?

Sonho, falta de sono, vida?

Tom amarelo cheio da tua janela incógnita...

Tem graça: não tens luz eléctrica.

Ó candeeiros de petróleo da minha infância perdida!

25-11-1931

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição,
organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 153.

Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne.

Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha,

Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode

acontecer de bom,
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,

Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,

Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste,

Seja (...)

A mulher que chora baixinho

Entre o ruído da multidão em vivas...

O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,

Cheio de individualidade para quem repara...

O arcanjo isolado, escultura numa catedral,

Syringe fugindo aos braços estendidos de Pã,

Tudo isto tende para o mesmo centro,

Busca encontrar-se e fundir-se

Na minha alma.

Eu adoro todas as coisas


E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.

Tenho pela vida um interesse ávido

Que busca compreendê-la sentindo-a muito.

Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,

Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas.

Para aumentar com isso a minha personalidade.

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio

E a minha ambição era trazer o universo ao colo

Como uma criança a quem a ama beija.

Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras —

Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo

Do que as que vi ou verei.

Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.

A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.

Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.


Dá-me lírios, lírios

E rosas também.

s.d.

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição,
organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 10.

1ª versão: Poesias de Álvaro de Campos . Fernando Pessoa. (Nota editorial e notas de João Gaspar
Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1944..Álvaro de Campos

A vida é para os inconscientes (Ó Lydia, Celimène, Daisy)

A vida é para os inconscientes (Ó Lydia, Celimène, Daisy)

E o consciente é para os mortos — o consciente sem a Vida...

Fumo o cigarro que cheira bem à mágoa dos outros,

E sou ridículo para eles porque os observo e me observam.

Mas não me importo.

Desdobro-me em Caeiro e em técnico

— Técnico de máquinas, técnico de gente, técnico da moda —

E do que descubro em meu torno não sou responsável nem em verso.

O estandarte roto, cosido a seda, dos impérios de Maple —


Metam-no na gaveta das coisas póstumas e basta...

s.d.

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição,
organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 134.Álvaro de Campos

A rapariga inglesa, uma loura, tão jovem, tão boa

A rapariga inglesa, uma loura, tão jovem, tão boa

Que queria casar comigo...

Que pena eu não ter casado com ela...

Teria sido feliz

Mas como é que eu sei se teria sido feliz?

Como é que eu sei qualquer coisa a respeito do que teria sido

Do que teria sido, que é o que nunca foi?

Hoje arrependo-me de não ter casado com ela,

Mas antes que até a hipótese de me poder arrepender de ter casado com ela.

E assim é tudo arrependimento,

E o arrependimento é pura abstracção.

Dá um certo desconforto
Mas também dá um certo sonho...

Sim, aquela rapariga foi uma oportunidade da minha alma.

Hoje o arrependimento é que é afastado da minha alma.

Santo Deus! que complicação por não ter casado com uma inglesa que já me deve ter esquecido!...

Mas se não me esqueceu?

Se (porque há disso) me lembra ainda e é constante

(Escuso de me achar feio, porque os feios também são amados

E às vezes por mulheres!)

Se não me esqueceu, ainda me lembra.

Isto, realmente, é já outra espécie de arrependimento.

E fazer sofrer alguém não tem esquecimento.

Mas, afinal, isto são conjecturas da vaidade.

Bem se há-de ela lembrar de mim, com o quarto filho nos braços,

Debruçada sobre o Daily Mirror a ver a Pussy Maria.


Pelo menos é melhor pensar que é assim.

É um quadro de casa suburbana inglesa,

É uma boa paisagem íntima de cabelos louros,

E os remorsos são sombras...

Em todo o caso, se assim é, fica um bocado de ciúme.

O quarto filho do outro, o Daily Mirror na outra casa.

O que podia ter sido...

Sim, sempre o abstracto, o impossível, o irreal mas perverso —

O que podia ter sido.

Comem marmelade ao pequeno almoço em Inglaterra...

Vingo-me em toda a linguagem inglesa de ser um parvo português.

Ah, mas ainda vejo

O teu olhar realmente tão sincero como azul

A olhar como uma outra criança para mim...

E não é com piadas de sal do verso que te apago da imagem


Que tens no meu coração;

Não te disfarço, meu único amor, e não quero nada da vida.

29-6-1930

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição,
organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 128.A música, sim a música...

A música, sim a música...

Piano banal do outro andar.

A música em todo o caso, a música..

Aquilo que vem buscar o choro imanenre

De toda a criatura humana

Aquilo que vem torturar a calma

Com o desejo duma calma melhor...

A música... Um piano lá em cima

Com alguém que o toca mal.

Mas é música...

Ah quantas infâncias tive!


Quantas boas mágoas?,

A música...

Quantas mais boas mágoas!

Sempre a música...

O pobre piano tocado por quem não sabe tocar.

Mas apesar de tudo é música.

Ah, lá conseguiu uma música seguida —

Uma melodia racional —

Racional, meu Deus!

Como se alguma coisa fosse racional!

Que novas paisagens de um piano mal tocado?

A música!... A música...!

19-7-1934

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição,
organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 190.
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição,
organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 101.Álvaro de Campos

A liberdade, sim, a liberdade!

A liberdade, sim, a liberdade!

A verdadeira liberdade!

Pensar sem desejos nem convicções.

Ser dono de si mesmo sem influência de romances!

Existir sem Freud nem aeroplanos,

Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no cansaço!

A liberdade do vagar, do pensamento são, do amor às coisas naturais

A liberdade de amar a moral que é preciso dar à vida!

Como o luar quando as nuvens abrem

A grande liberdade cristã da minha infância que rezava

Estende de repente sobre a terra inteira o seu manto de prata para mim...

A liberdade, a lucidez, o raciocínio coerente,

A noção jurídica da alma dos outros como humana,


A alegria de ter estas coisas, e poder outra vez

Gozar os campos sem referência a coisa nenhuma

E beber água como se fosse todos os vinhos do mundo!

Passos todos passinhos de criança...

Sorriso da velha bondosa...

Apertar da mão do amigo [sério?]...

Que vida que tem sido a minha!

Quanto tempo de espera no apeadeiro!

Quanto viver pintado em impresso da vida!

Ah, tenho uma sede sã. Dêem-me a liberdade,

Dêem-ma no púcaro velho de ao pé do pote

Da casa do campo da minha velha infância...

Eu bebia e ele chiava,

Eu era fresco e ele era fresco,

E como eu não tinha nada que me ralasse, era livre.


Que é do púcaro e da inocência?

Que é de quem eu deveria ter sido?

E salvo este desejo de liberdade e de bem e de ar, que é de mim?

17-8-1930

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição,
organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 137.

Álvaro de Campos

A estrada inteiramente insubjectiva

A estrada inteiramente insubjectiva

Branca, branca, sem pensamento algum

s.d.

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição,
organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 234.Álvaro de Campos

A coisa estranha e muda em todo o corpo,

A coisa estranha e muda em todo o corpo,

Que está ali, ebúrnea, no caixão,

O corpo humano que não é corpo humano

Que ali se cala em todo o ambiente;

O cais deserto que ali aguarda o incógnito


O assombro álgido ali entreabrindo

A porta suprema e invisível;

O nexo incompreensível

Entre a energia e a vida,

Ali janela para a noite infinita...

Ele — o cadáver do outro,

Evoca-me do futuro

[Eu próprio dois?], ou nem assim...

E embandeiro em arco a negro as minhas esperanças

Minha fé cambaleia como uma paisagem de bêbedo,

Meus projectos tocam um muro infinito até infinito.

1926?

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição,
organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 64.

Álvaro de Campos

A clareza falsa, rígida, não-lar dos hospitais

A clareza falsa, rígida, não-lar dos hospitais


A alegria humana, vivaz, sobre o caso da vizinha

Da mãe inconsolável a que o filho morreu há um ano

Trapos somos, trapos amamos, trapos agimos —

Que trapo tudo que é este mundo!

29-1-1933

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição,
organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 168. Álvaro de Campos

A alma humana é porca como um ânus

A alma humana é porca como um ânus

E a Vantagem dos caralhos pesa em muitas imaginações.

Meu coração desgosta-se de tudo com uma náusea do estômago.

A Távola Redonda foi vendida a peso,

E a biografia do Rei Artur, um galante escreveu-a.

Mas a sucata da cavalaria ainda reina nessas almas, como um perfil distante.

Está frio.

Ponho sobre os ombros o capote que me lembra um xaile —


O xaile que minha tia me punha aos ombros na infância.

Mas os ombros da minha infância sumiram-se antes para dentro dos meus ombros.

E o meu coração da infância sumiu-se antes para dentro do meu coração.

Sim, está frio...

Está frio em tudo que sou, está frio...

Minhas próprias ideias têm frio, como gente velha...

E o frio que eu tenho das minhas ideias terem frio é mais frio do que elas.

Engelho o capote à minha volta...

O Universo da gente... a gente... as pessoas todas!...

A multiplicidade da humanidade misturada

Sim, aquilo a que chamam a vida, como se só houvesse outros e estrelas...

Sim, a vida...

Meus ombros descaem tanto que o capote resvala...

Querem comentário melhor? Puxo-me para cima o capote.

Ah, parte a cara à vida!


Levanta-te com estrondo no sossego de ti! Álvaro de Campos

A água de aqui é boa, não é?

A água de aqui é boa, não é?

Se é! Quantos vinhos que julguei melhores bebi!

A água de aqui — a verdade!

A verdade não — a melhor aparência dela...

Quando, em grandes praças de eu distra[ído],

Apregoam em torno de mim os jornais todos e eu durm[o] Álvaro de Campos

2ª Ode - E eu era parte de toda a gente que partia.

2ª Ode

E eu era parte de toda a gente que partia.

A minha alma era parte do lenço com que aquela rapariga acenava

Da janela afastando-se de comboio...

O adeus do rapaz de boné claro

É dirigido a alguém dentro de mim

Sem que ele o queira ou o saiba...


E Paris-Fuentes d'Oñoro

Em letras encarnadas em fundo branco

Ao centro da carruagem, e no alto

Em letras que parecem mais vivas e sábias

Cª Internacional dos Wagons [...]

E o comboio avança — eu fico...

s.d. Álvaro de Campos

... Como, nos dias de grandes acontecimentos no centro da cidade,

... Como, nos dias de grandes acontecimentos no centro da cidade,

Nos bairros quase-excêntricos as conversas em silêncio às portas

A expectativa em grupos...

Ninguém sabe nada.

Leve rastro de brisa

Coisa nenhuma que é real

E que, com um afago ou um sopro

Toca o que há até que seja...


Magnificência da naturalidade.

Coração.

Que Áricas inéditas em cada desejo!

Que melhores coisas que tudo lá longe!

Meu cotovelo toca no da vizinha do eléctrico

Com uma involuntariedade fruste

Curto-circuito da proximidade...

Ideias ao acaso

Como um balde que se entornou —

Fito-o é um balde entornado...

Jaz: jazo...

16-8-1934

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição,
organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993. - 198.Fernando Pessoa

Andorinha que vais alta,

Andorinha que vais alta,


Andorinha que vais alta,

Porque não me vens trazer

Qualquer coisa que me falta

E que te não sei dizer?

s.d.

Quadras ao Gosto Popular. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido e prefaciado por Georg Rudolf Lind e
Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1965. (6ª ed., 1973). - 101.

0. Salvat-Papasseit

Mester d'amor (1922)

Si en saps el pler no estalviïs el bes

que el goig d'amar no comporta mesura.

Deixa't besar, i tu besa després

que és sempre als llavis que l'amor perdura.

No besis, no, com l'esclau i el creient,

mes com vianant a la font regalada.

Deixa't besar -sacrifici fervent-

com més roent més fidel la besada.10. Salvat-Papasseit

Mester d'amor (1922)


Si en saps el pler no estalviïs el bes

que el goig d'amar no comporta mesura.

Deixa't besar, i tu besa després

que és sempre als llavis que l'amor perdura.

No besis, no, com l'esclau i el creient,

mes com vianant a la font regalada.

Deixa't besar -sacrifici fervent-

com més roent més fidel la besada.9. Miquel Martí i Pol

Estimada Marta (1978)

Molt he estimat i molt estimo encara.

Ho dic content i fins un poc sorprès

de tant d'amor que tot ho clarifica.

Molt he estimat i estimaré molt més

sense cap llei de mirament ni traves

que m'escatimin el fondo plaer

que molta gent dirà incomprensible.


Ho dic content: molt he estimat i molt

he d'estimar. Vull que tothom ho sàpiga.8. Pere Quart

Corrandes de l'exili (1947)

Una nit de lluna plena

tramuntàrem la carena,

lentament, sense dir re ...

Si la lluna feia el ple

també el féu la nostra pena.

L'estimada m'acompanya

de pell bruna i aire greu

(com una Mare de Déu

que han trobat a la muntanya).

Perquè ens perdoni la guerra,

que l'ensagna, que l'esguerra,

abans de passar la ratlla,


m'ajec i beso la terra

i l'acarono amb l'espatlla.

7. Joan Salvat Papasseit

Res no és mesquí (1921)

Res no és mesquí

ni cap hora és isarda,

ni és fosca la ventura de la nit.

I la rosada és clara

que el sol surt i s'ullprèn

i té delit del bany:

que s'emmiralla el llit de tota cosa feta.

Res no és mesquí,

i tot ric com el vi i la galta colrada.

I l'onada del mar sempre riu,

Primavera d'hivern - Primavera d'istiu.

I tot és Primavera:
i tota fulla verda eternament.6. Vicent Andrés Estellés

Els amants (1971)

No hi havia a València dos amants com nosaltres.

Feroçment ens amàvem del matí a la nit.

Tot ho recorde mentre vas estenent la roba.

Han passat anys, molt anys; han passat moltes coses.

De sobte encara em pren aquell vent o l'amor

i rodolem per terra entre abraços i besos.

No comprenem l'amor com un costum amable,

com un costum pacífic de compliment i teles.

Stéphane MALLARME

1842 - 1898

Le guignon

Au-dessus du bétail ahuri des humains

Bondissaient en clartés les sauvages crinières

Des mendieurs d'azur le pied dans nos chemins.

Un noir vent sur leur marche éployé pour bannières

La flagellait de froid tel jusque dans la chair,


Qu'il y creusait aussi d'irritables ornières.

Toujours avec l'espoir de rencontrer la mer,

Ils voyageaient sans pain, sans bâtons et sans urnes,

Mordant au citron d'or de l'idéal amer.

La plupart râla dans les défilés nocturnes,

S'enivrant du bonheur de voir couler son sang,

Ô Mort le seul baiser aux bouches taciturnes !

Leur défaite, c'est par un ange très puissant

Debout à l'horizon dans le nu de son glaive :

Une pourpre se caille au sein reconnaissant.

Ils tètent la douleur comme ils tétaient le rêve

Et quand ils vont rythmant des pleurs voluptueux

Le peuple s'agenouille et leur mère se lève.

Ceux-là sont consolés, sûrs et majestueux ;

Mais traînent à leurs pas cent frères qu'on bafoue,

Dérisoires martyrs de hasards tortueux.

Le sel pareil des pleurs ronge leur douce joue,

Ils mangent de la cendre avec le même amour,

Mais vulgaire ou bouffon le destin qui les roue.

Ils pouvaient exciter aussi comme un tambour

La servile pitié des races à voix ternes,

Egaux de Prométhée à qui manque un vautour !


Non, vils et fréquentant les déserts sans citerne,

Ils courent sous le fouet d'un monarque rageur,

Le Guignon, dont le rire inouï les prosterne.

Amants, il saute en croupe à trois, le partageur !

Puis le torrent franchi, vous plonge en une mare

Et laisse un bloc boueux du blanc couple nageur.

Grâce à lui, si l'un souffle à son buccin bizarre,

Des enfants nous tordront en un rire obstiné

Qui, le poing à leur cul, singeront sa fanfare.

Grâce à lui, si l'une orne à point un sein fané

Par une rose qui nubile le rallume,

De la bave luira sur son bouquet damné.

Et ce squelette nain, coiffé d'un feutre à plume

Et botté, dont l'aisselle a pour poils vrais des vers,

Est pour eux l'infini de la vaste amertume.

Vexés ne vont-ils pas provoquer le pervers,

Leur rapière grinçant suit le rayon de lune

Qui neige en sa carcasse et qui passe au travers.

Désolés sans l'orgueil qui sacre l'infortune,

Et tristes de venger leurs os de coups de bec,

Ils convoitent la haine, au lieu de la rancune.


Ils sont l'amusement des racleurs de rebec,

Des marmots, des putains et de la vieille engeance

Des loqueteux dansant quand le broc est à sec.

Les poètes bons pour l'aumône ou la vengeance,

Ne connaissant le mal de ces dieux effacés,

Les disent ennuyeux et sans intelligence.

" Ils peuvent fuir ayant de chaque exploit assez,

" Comme un vierge cheval écume de tempête

" Plutôt que de partir en galops cuirassés.

" Nous soûlerons d'encens le vainqueur dans la fête :

" Mais eux, pourquoi n'endosser pas, ces baladins,

" D'écarlate haillon hurlant que l'on s'arrête ! "

Quand en face tous leur ont craché les dédains,

Nuls et la barbe à mots bas priant le tonnerre,

Ces héros excédés de malaises badins

Vont ridiculement se pendre au réverbère.

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