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EDIÇÃO ESPECIAL:
O IMPACTO DO
RACISMO NA
EDUCAÇÃO
Ano XXI Boletim 05/Edição Especial - Maio 2011
Sumário
Inicio este texto destacando que não é fá- cias e imagens sobre a violação dos direitos
cil escrever sobre racismo. Isto me obriga a humanos e de cidadania que é vivida pela
uma retrospectiva de uma história coletiva, população negra, temos a consciência de
da qual me sinto uma das protagonistas. Eu que, de fato, este pequeno texto é apenas
e todas as pessoas que, naquele momento, um convite para uma reflexão sobre o tema,
se insurgiram contra as injustiças e exclu- pois superar as desigualdades étnico-raciais
sões sociais. Em 1986, escrevi meu primeiro forjadas pelo racismo insere-se num longo e
texto sobre O racismo na escola, para o Gru- difícil caminho marcado por veredas:
po de Trabalho de Educação do II Encontro
3
Estadual de Negros do Rio de Janeiro. Con- No Brasil, mais de 800 mil crianças de
sidero esse texto emblemático em minha 7 a 14 anos estão fora das salas de aula.
trajetória, por ter sido parte de um caminho Dessas, cerca de 500 mil são negras. A
que, depois de uma breve interrupção, pros- escolarização é mais alta entre as meni-
segue com a elaboração deste texto para a nas brancas. A proporção de crianças e
apresentação da edição especial do Salto adolescentes negros fora da escola é 30%
para o Futuro, que também retoma a referi- maior que a média nacional e duas vezes
da trajetória. Não é fácil, pois ao olharmos maior que a proporção de crianças bran-
os dados destacados a seguir, que compõem cas que não estudam. Já entre as crian-
o material da campanha do Unicef “Por ças indígenas, as chances de estar fora
uma infância sem racismo” (Anexos 1 e 2),
da escola aumentam em quatro vezes
aliados ao bombardeio cotidiano de notí-
em relação às crianças brancas2.
• Ano 2005
• Raça/Cor Brancos, Negros, Pretos, Pardos, Amarelos, Indígenas,
Outros, Total
• Sexo Total
• Faixa etária 5 a 9 anos, 10 a 14 anos, 14 a 17 anos, 18 a 24 anos
• Zona Total
• Causas de Mortalidade Causas Mal Definidas. Causas Externas de Morbidade e
Mortalidade. Outras Causas de Mortalidade.
• Localidade Brasil
Causas Externas de
Outras Causas de
Causas Mal Definidas Morbidade e
Mortalidade
Mortalidade
3 In:http://www.laeser.ie.ufrj.br/fichario_resultado.asp?
indicador=1700&aba=1&crt_7=1&nomesLocalidades=Brasil+%28Pa%EDs
%29&dpc_1=C&crt_1=2005&dpc_2=L&crt_2=A&crt_2=B&crt_2=C&crt_2=D&crt_2=E&crt_2=F&crt_2=G&crt_2=X&dpc_
3=C&crt_3=C&dpc_4=C&crt_4=109&crt_4=110&crt_4=111&crt_4=112&dpc_5=C&crt_5=C&dpc_6=C&crt_6=428&crt_6=
429&crt_6=430&dpc_7=C&x=46&y=4 Acesso em 28 de abril de 2010.
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade, DATASUS - Departamento de Informática do SUS.
Tipo de dados: Valor Absoluto. Tabulações do LAESER IE-UFRJ (Reprodução autorizada desde que citada a fonte).
Observação: A categoria Negra representa a soma das pessoas Pretas e Pardas.
Lidar com algo de que as pessoas fogem, e radicado, nem mesmo quando dizemos, an-
também negam, naturalizam, sem se dar corados na ciência, que não existem raças
conta, muitas vezes, de estão imersas em um no que se refere à humanidade. Muitos in-
ambiente impregnado por este algo que se teresses econômicos, políticos, sociais, psi-
prefere ignorar, é muito difícil. cológicos estão em jogo quando se pensa na
erradicação do racismo e em não hierarqui-
Difícil porque temos medo de enfrentar a
zar os seres humanos em função das suas
existência do racismo em nosso país. Isso
características físicas e culturais.
nos obriga a rever nossos pensadores con-
sagrados (alguns deles tão venerados), que
Sim, é difícil mesmo e demorado mexer com
tinham um olhar racista em relação à diver-
privilégios históricos de grupos humanos
sidade étnica da população. Difícil é rever
que se consideram superiores a outros, com
nossos conceitos embasados numa falsa de-
visões enraizadas, com mentalidades social
mocracia racial.
e historicamente construídas.
Longo caminho, porque não será do dia para teórico e prático ancorado na hierarquiza-
a noite, nem por decreto, que ele será er- ção de seres humanos...
4 http://www.brasilescola.com/upload/e/sist-solar.jpg
Gosto de utilizar a representação do sistema e as figuras que, na dimensão molecular,
solar como metáfora para definir o racismo. constituem o seu plano de sustentação e
animação, o que exige, em última análi-
Nesta representação do sistema solar, é bom
se, descobrir, nesta dimensão micropolí-
destacar que o Sol é a referência e quanto
tica, as linhas de fuga – ou seja, as forças
mais perto dele, mais luz/calor. Esta repre-
materiais e psíquicas que escapam aos
sentação, ou a história desta representação,
processos de captura e, assim, podem
pode ajudar-nos a compreender o racismo.
sustentar e animar formas não racistas
Hoje, por exemplo, planetas que não se coa-
de vida5.
dunavam com os critérios de planetas foram
“destronados”, outros planetas surgiram, a
concepção linear do sistema mudou... En- Impactos do racismo na
fim, a concepção de sistema solar, que mar- educação
ca uma visão de mundo dominante, pode
Usaremos alguns recursos para convidar à
ser vista como metáfora de explicação do
reflexão acerca dos impactos do racismo na
racismo, é só trocarmos o Sol pelo modelo
educação:
de ser humano (padrão) e substituirmos os
planetas por seres humanos. As característi- 6
Na primeira noite, eles se aproximam e
cas do padrão e dos que giram em suas “ór-
colhem uma flor de nosso jardim. E não
bitas” ficam a cargo de cada pessoa.
dizemos nada. Na segunda noite, já não
se escondem, pisam as flores, matam
O que para mim importa, neste momento é
nosso cão. E não dizemos nada. Até que
declarar que:
um dia, o mais frágil deles entra sozinho
em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhe-
O racismo é um acontecimento (é discri-
cendo nosso medo, arranca-nos a voz da
minatório, violento, arbitrário, velado ou
garganta. E porque não dissemos nada,
descarado) da nossa sociedade, que deve
já não podemos dizer nada (Maiakovski,
ser compreendido e combatido tanto
poeta russo, 1893-1930).
macropolítica como micropoliticamen-
te. Ao mesmo tempo em que precisamos
Primeiro levaram os negros. Mas não me
conhecê-lo/combatê-lo na dimensão mo-
importei com isso. Eu não era negro. Em
lar das instituições sociais (tal como no
seguida levaram alguns operários. Mas
âmbito da escola), precisamos compre-
não me importei com isso. Eu também
ender e transformar os meios, os fluxos
É importante destacar que, no cotidiano es- dida em que exerçam o papel de promoto-
colar, o racismo tem um bom chão de pro- ras de equidade social, racial e de gênero no
não é apenas na escola que se aprende, que enquanto um aparelho do Estado, carece de
trando na escola, fazendo uma imersão no que cumpra sua missão de educar segundo
A Edição especial: O impacto do racismo na educação, com veiculação no Salto para o Futuro/TV
Escola no dia 20 de maio de 2011, pretende debater a temática do racismo, considerando ser
2011, segundo declaração da ONU, o Ano Internacional dos Afrodescendentes. Nesse contexto,
o UNICEF está promovendo a campanha “Por uma infância sem racismo”, alertando a socieda-
de sobre o impacto do racismo na infância e na adolescência. O objetivo dessa edição especial
do Salto para o Futuro é promover a discussão sobre o papel da escola na garantia de direitos
equânimes para todos.
10
ANEXO 1
1. Eduque seus filhos e filhas para o res- 5. Não deixe de denunciar. Em todos os
peito à diferença. Ela está nos tipos de casos de discriminação, você deve
brinquedos, nas línguas faladas, nos buscar defesa junto ao conselho tu-
vários costumes entre os amigos e telar, às ouvidorias dos serviços públi-
pessoas de diferentes culturas, raças e cos, da OAB e nas delegacias de prote-
etnias. As diferenças enriquecem nos- ção à infância e adolescência.
so conhecimento. E o respeito ao pró-
ximo está em primeiro lugar. 6. Proporcione aos seus filhos e filhas a
convivência com crianças de diferen-
2. Palavras, olhares, piadas e algumas tes raças e etnias. Valorize o compor-
11
expressões podem ser desrespeitosas tamento sem preconceito e respeitoso
com outras pessoas, culturas e tradi- e oriente-os sobre o que precisam me-
ções. Indigne-se, e esteja alerta se isso lhorar.
acontecer!
4. Se seu filho ou filha foi discriminado, onde você trabalha participa também
abrace-o, apoie-o. Mostre-lhe que a di- dessa agenda. Se não, fale disso com
7 Agradecemos especialmente a Jacques Schwarzstein, do Programme Specialist UNICEF Brazil, pela colaboração
ao longo de todo o processo de produção desta edição especial e pelo envio dos anexos 1 e 2 que compõem esta
publicação eletrônica do Salto para o Futuro.
rotinas de atendimento sem discrimi- racismo. Ajude a escola de seus filhos
nação para famílias indígenas e ne- a adotar também essa postura.
gras. Você pode cobrar esta postura
dos serviços de saúde e sociais da sua 10. Participe dessa Campanha e contribua
cidade. Valorize as iniciativas nesse para uma infância sem Racismo. Aces-
sentido. se o site www.unicef.org.br ou siga
o UNICEF no Twitter: @unicefbrasil
9. As escolas são grandes espaços de e acompanhe o tema da redução do
aprendizagem. Em muitas escolas do impacto do racismo na infância e na
país, as crianças e adolescentes estão adolescência. Divulgue para os seus
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ANEXO 2
13
14
15
16
17
Presidência da República
Ministério da Educação
Coordenação-geral da TV Escola
Érico da Silveira
Coordenação Pedagógica
Maria Carolina Mello de Sousa
Supervisão Pedagógica
Rosa Helena Mendonça
Acompanhamento Pedagógico
Luís Paulo Cruz Borges
Copidesque e Revisão 18
Magda Frediani Martins
Diagramação e Editoração
Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil
Gerência de Criação e Produção de Arte
E-mail: salto@mec.gov.br
Home page: www.tvbrasil.org.br/salto
Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro.
CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)
Maio 2011