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Instituto Brasileiro do Concreto

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O CCR RAMPADO E O HORIZONTAL

Comparative Studies With Sloped and Horizontal Layer RCC Methods

Newton Goulart Graça (1); Vanessa Elizabeth dos Santos Borges (1); Henry Silvério Mendes (1);
Reynaldo Machado Bittencourt (1); Elizabeth Leopoldina Batista (1); Rubens Machado Bittencourt (1).

(1) FURNAS Centrais Elétricas S.A.


Caixa Postal 457, Centro – Goiânia/GO – CEP 74001-970
e-mail: newgougr@furnas.com.br

Resumo
O CCR foi lançado pelo método rampado pela primeira vez no Brasil na construção da barragem da UHE
Lajeado. A partir daí, partiu-se para um extenso estudo com o objetivo de validar científica e
tecnologicamente esta metodologia, o que foi feito no Laboratório de Furnas em Goiânia, e cujos resultados
são apresentados neste trabalho.
Além dos estudos com o CCR rampado, faz-se uma comparação entre a metodologia tradicional, em
camadas horizontais, e a nova metodologia rampada.
Este estudo foi feito em corpos de prova cortados dos testemunhos extraídos das pistas experimentais e
também de corpos de prova moldados em laboratório, tendo sido estudadas propriedades mecânicas e
propriedades relacionadas com a durabilidade, e refere-se a um dos temas abordados na Dissertação de
Mestrado de GRAÇA (2005).

Palavras Chaves: Concreto Compactado com Rolo – Rampado – Horizontal – Propriedades

Abstract
The first Brazilian experience for RCC using sloped layered method (SLM) was carried out during the
construction of Lajeado dam. Since then, an extensive research aiming to validate scientific and
technologically this methodology was made at FURNAS Laboratory, in Goiânia, Brazil, whose results are
presented in this paper.
Besides the studies with the CCR SLM, it is made a comparison among the traditional methodology, in
horizontal layers, with the new methodology SLM.
This study was made both in cores extracted from full scale trails and molded speciments in laboratory,
where have been studied mechanical properties and properties related with the durability, and it refers to one
of the themes approached in the Graça Master's degree (2005).

Keywords: Roller Compacted Concrete - Sloped - Horizontal - Properties

47º Congresso Brasileiro do Concreto


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1. Introdução

Muitos autores têm feito uma abordagem ampla sobre o histórico da evolução do CCR em
barragens ANDRIOLO (1998), DUNSTAN (2003), NAGAYAMA & JIKAN (2003) BATISTA
(2004), entre outros. Por esta razão, far-se-á apenas referência ao objetivo principal deste
trabalho, onde será abordada a questão do método rampado (GRAÇA et al., 2003; ZHIDA
et al., 1999; FORBES, 2003), com uma comparação direta de desempenho com o método
tradicional horizontal, e dentre as principais características de uma barragem de CCR
executada por este método rampado, o estudo das juntas de construção entre camadas
onde será avaliado o comportamento destas mediante diferentes tempos de exposição,
ou seja, a sua maturidade, uma vez que, pelo método rampado, preconiza-se o não
tratamento das juntas de construção.

2. Breve Histórico do Método Rampado


Um avanço significativo na construção de barragens de CCR foi obtido, segundo
CHANGQUAN et al. (1999) e FORBES et al. (1999), na construção da barragem de
Jiangya, na China, com a introdução do método rampado. Este método foi também
aplicado na barragem de Tanur na Jordânia, conforme descrito por FORBES (2000) e já
foi aplicado no Brasil na construção da barragem de CCR da Hidrelétrica de Lajeado, no
estado do Tocantins (BATISTA et al., 2001), e também na barragem de Irapé (MG), em
sua base (FARAGE et al., 2004), estando atualmente em uso na barragem do AHE Peixe
(TO). No entanto, em casos de elevadíssima produção de CCR como nas ensecadeiras
de Três Gargantas, o uso desta metodologia foi discutida e, quando comparada com o
lançamento em camadas horizontais, ela não mostrou-se apropriada (CAO et al., 2003).

2.1 Comparação entre os dois Métodos de Lançamento


2.1.1 O Método Tradicional

O lançamento do concreto em barragens de CCR usualmente é executado em camadas


horizontais longas, o que resulta em um tempo de exposição da camada anterior de pelo
menos 12 horas até a sua cobertura pela camada subseqüente (BATISTA et al., 2001).
Segundo BATISTA et al. (2001), é necessário a aplicação sistemática da argamassa de
ligação e, em alguns casos, até tratamento da junta, de modo a garantir a monoliticidade
e estanqueidade entre as camadas sucessivas.
Outro aspecto é que, quando se utilizam painéis normais de fôrmas, com 2,00 m de
altura, o alteamento das fôrmas somente é possível após a conclusão das 6 sub-camadas
de 0,33 m, totalizando desta forma a altura de 2,00 m das fôrmas, conforme apresentado
na Figura 1 (BATISTA et al., 2001).
CCR - MÉTODO TRADICIONAL
6 Sub-camadas com h = 0,33 m

2m

Substrato
Camada de CCR
Argamassa de Ligação

Figura 1 - Método Tradicional (BATISTA et al., 2001)

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2.1.2 O Método Rampado

O método utiliza uma camada de CCR executada em rampa com altura variável entre
1,80 m a 3,00 m, com sub-camadas de 30 cm a 35 cm de altura. As sub-camadas são
conseqüentemente executadas em rampa cuja declividade pode variar de 7% a 10%, o
que resulta em uma superfície de exposição reduzida, possibilitando assim a cobertura
completa da frente de concretagem em no máximo 4 horas, tornando desnecessária a
aplicação da argamassa de ligação entre sub-camadas (BATISTA et al., 2001). “[...] por
este método, uma ligação muito boa é obtida entre camadas [...] o que ficou comprovado
através de testemunhos de até 6,67m de comprimento retirados do maciço da barragem
[...]” (FORBES et al., 1999).
GRAÇA et al. (2003) ainda indicam que a aplicação da argamassa de ligação somente é
necessária no trecho da camada rampada em contato com a camada anterior de 2,00 m,
conforme mostrado na Figura 2. A fotografia da Figura 3 mostra o lançamento o
lançamento e a compactação do CCR em rampa.

CCR - MÉTODO RAMPADO


Sub-camadas contínuas com h = 0,33
m

2m

Substrato ou Camada
Anterior
Camada de CCR
Argamassa de Ligação
Linha do Topo da Fôrma
Figura 2 - Método Rampado (BATISTA et al., Figura 3 - Lançamento e Compactação do
2001) CCR em Rampa (BATISTA et al., 2001)

Outro aspecto importante, segundo GRAÇA et al. (2003), é que com o avanço das sub-
camadas rampadas, a altura total das fôrmas é rapidamente atingida, o que possibilita a
antecipação no seu alteamento, o que é feito com empilhadeira ou guindaste. Antes do
lançamento do CCR, o CCV de face é lançado com caminhão betoneira, acompanhando
a geometria da rampa.
No método tradicional a forma do paramento de montante pode ter altura variável, mas
geralmente é de 2,00 m, sendo seu alteamento feito somente quando se executa o
número de camadas para atingi-la. A fôrma de jusante tem variado a altura entre 0,30 m
a 0,90 m (mais utilizadas). No método Rampado, o alteamento das fôrmas é antecipado
e inicia-se antes da conclusão da camada de 2 m (BATISTA et al., 2001). Na barragem
Jiangya, a altura das fôrmas foi de 3,00m (CHANGQUAN et al., 1999).
Este método foi divulgado no Simpósio Internacional de Barragens de CCR, realizado em
Chengdu - China, em Abril de 1999 sob a denominação “HASLC - The Horizontally
Advancing Sloped Layer Construction of RCC” (FORBES et al., 1999; CHANGQUAN et
al., 1999).
No que diz respeito às juntas de construção, SCHRADER (2003 -1/97) destaca a
importância da aderência das juntas entre camadas, especialmente sua resistência à
tração frente a cargas sísmicas, sua coesão frente a deslizamentos e sua
impermeabilidade. Relata que, na experiência norte-americana, o lançamento de 5
camadas em um mesmo dia resulta em boa aderência das juntas entre elas, para o caso
de barragens executadas em clima frio e quando uma pozolana é utilizada. Com relação a
resistência à tração das juntas, este mesmo autor informa que para CCR com baixo teor
de cimento e consistência seca (VeBe > 25 s), a resistência à tração das juntas tende a
valores entre 30% e 80% da do mesmo CCR, algo em torno de 0,003 MPa a 0,006 MPa
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por kg de material cimentício quando nenhum tratamento de juntas é aplicado. Quando se


usa argamassa de ligação esta faixa eleva-se para 0,006 MPa a 0,012MPa por kg de
material cimentício. Já para o CCR com alto teor de pasta e mais úmido (VeBe < 25 s),
esta mesma faixa última é obtida mesmo sem tratamento de juntas com a sua resistência
à tração situando-se entre 60% e 90% do CCR da camada.
Por outro lado as juntas de construção são sensivelmente influenciadas pela quantidade e
característica do material cimentício utilizado assim como pela eficácia do aditivo
retardador de pega, caso ele seja empregado. Cada situação é diferente porém a uma
temperatura ambiente de 21oC, uma junta fria começa a ocorrer em CCR de consistência
mais seca sem retardador de pega em torno de 4 horas de exposição, sendo mais
freqüentemente desenvolvida em 6 horas. Uma junta exposta por período de 6 horas
pode suportar elevada carga cisalhante, todavia pode não ser impermeável a não ser que
seja limpa e coberta com um concreto ou argamassa de berço de consistência bem
plástica ou uma dosagem de CCR com mais elevado teor de cimento. Após uma
maturidade de 600 oC x horas o uso de argamassa ou concreto de berço pode se tornar
imperativo para se obter a resistência à tração ou ao cisalhamento requerida para a junta
(SCHRADER, 1995).
Segundo KLINE(2003-1-475/484) a ligação entre duas camadas consecutivas de CCR é
produzida através de dois mecanismos: ligação produzida pelos materiais cimentícios, de
natureza química, e penetração dos agregados da camada superior na camada inferior,
de natureza mecânica, sendo que a primeira está relacionada com a coesão e a segunda
com o ângulo de atrito.
Os principais fatores que afetam estes mecanismos são: condição da superfície da junta a
ser ligada; tempo de espera para lançamento e compactação; teor de materiais
cimentícios e trabalhabilidade da mistura; e, Grau de Compactação ou consolidação entre
as camadas (KLINE, 2003).
BENNETT & STIADY (2003 – 1/913) realizaram um extenso programa de ensaios em
juntas de construção na barragem de Olivenhain (EUA), cuja principal característica era a
resistência à tração, uma vez que esta barragem está sendo construída em região com
elevada atividade sísmica e a mesma deverá ser utilizada para abastecimento de água
emergencial para aquela região em caso de ocorrência do grande terremoto que para lá
se espera. Segundo TARBOX et. al (2002-USSD), um terremoto de 7.25 na escala
Richter com epicentro a 17,8 km da barragem de Olivenhain resultaria em picos de
acelerações horizontais e verticais respectivamente de 0,24g e 0,19g que resultam em
tensão de tração nas juntas de 1,38MPa. Os tratamentos das juntas foram definidos em
função da pista experimental realizada, cujo critério de maturidade está mostrado na
Tabela 1 (DUNSTAN, 2002 apud BENNETT & STIADY, 2003).
Tabela 1 – Classificação das Juntas e Tratamentos Requeridos (DUNSTAN, 2002 apud
BENNETT & STIADY, 2003).

Tipo da Junta Tratamento Fator de Maturidade da Junta


o
( C x hora)
Mínimo Máximo
Quente Nenhum 0 336
Morna Limpeza à vácuo + Argamassa de Ligação 336 1008
Fria Escovar a Superfície + limpeza á vácuo + 1008 1344
Argamassa de Ligação
Super fria Expor agregados + Limpeza à vácuo + 1344 Não indicado
Argamassa de Ligação

Ainda segundo KLINE (2003), a consistência e os métodos de construção usuais do CCR


não provêem o excesso de pasta adequado para preencher os vazios assim como cobrir
adequadamente a superfície da camada base. Conseqüentemente, o grau de aderência
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da superfície da junta de construção entre camadas pode variar significativamente


principalmente para dosagens de CCR de baixa trabalhabilidade.
ANADÓN (2003-GR/7) relata que a denominação de alto teor de pasta decorre do fato de
que, nestas dosagens, o teor de pasta (cimento+adição+água) excede em no mínimo
10% em volume índice de vazios da areia. Com isto, cria o seu próprio elemento de
ligação entre as camadas. Com relação às juntas de construção entre camadas estes
autores relatam haver uma discussão na Espanha no tocante ao seu tratamento, sendo
as juntas classificadas com quentes (quando não necessitam de tratamento) e frias (que
necessitam de tratamento), sendo que esta classificação é função do fator de maturidade
(MF) que é dado pela expressão 2.1:

MF = T(h) x t(oC) (expressão 2.1)

Onde:
MF = Fator de Maturidade, em oC x h;
T(h) = Tempo de exposição da junta após a compactação, em horas;
t(oC) = Temperatura, em oC.

Embora este fator tenha sido estipulado inicialmente entre 150 – 250 oC x h, atualmente
tem variado entre 80 e 300 oC x h, sendo os valores maiores aplicados quando se utiliza
aditivo retardador de pega na dosagem.
ANADÓN (2003) relata não haver registros de Fator de Maturidade para dosagens de
CCR com baixo teor de pasta, embora haja prescrições de tratamentos das juntas para
diferentes tempos de exposição, mas que sempre incluem a aplicação da argamassa de
ligação.
A grande diferença na ligação entre o CCR com alto teor de pasta e o com baixo teor de
pasta é que no segundo, não há pasta em excesso de modo a criar seu próprio elemento
de ligação entre as camadas, e por isso é necessário o emprego da argamassa de
ligação.
GONZÁLES (1998 – Tesis Doctoral) realizou um estudo onde estabeleceu uma
correlação entre a qualidade das juntas e o estado de endurecimento do material da
camada inferior. Segundo ele, pode-se obter uma adequada correlação entre as
características físico-mecânicas das juntas com o tempo de exposição destas juntas e a
evolução com o tempo de pega e endurecimento do material da camada inferior
representada pela resistência à penetração. O ensaio de resistência à penetração é feito
com uma agulha 10mm de diâmetro que penetra na amostra a uma velocidade de 1 mm/s
e se mede a força necessária para se atingir a profundidade de penetração de 25mm na
amostra que foi deixada em cada período de exposição. Neste estudo, foi possível
identificar três períodos distintos de comportamento, tanto para a evolução das
características físico-mecânicas das juntas como para a evolução do endurecimento da
argamassa, cujos limites praticamente coincidem. Este fato permitiu comprovar a
capacidade de união de uma junta através da resistência à penetração do material da
camada inferior.
Baseado nestas considerações, foram estabelecidos 3 índices de qualidade de juntas:
Junta Quente (t < t1): a qualidade das juntas se mantém ou sofre uma pequena redução.
O período vai da origem até o primeiro ponto de inflexão da curva de resistência à
penetração;
Junta Morna (t1 < t < t2): a qualidade das juntas sofre uma pronunciada redução, sendo o
período compreendido entre os dois pontos de inflexão da curva de resistência à
penetração;
Junta Fria (t > t2): a qualidade das juntas sofre uma diminuição de 50%, mantendo-se
constante a partir do segundo ponto de inflexão da curva de resistência à penetração.
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Esta correlação é apresentada na Figura 2.2, e os gráficos relativos às propriedades


analisadas das juntas nas Figuras 2.3 e 2.4, respectivamente Resistência à Tração na
Flexão (%) e Permeabilidade à Água.

JUNTA JUNTA JUNTA


H = 65 %
CALIENTE TEMPLADA FRÍA 120 3000

Resistencia a la penetración
2700
Características de la junta

100
2400

Resistência à Penetração
Resistência à Tração na
2100
80
1800

Flexão (%)

(kg/cm 2)
60 1500

1200
40
900

% 60 días 600
20
R. Penetración 300
t1 t2
0 0
Tiempo de espera
0 6 12 18 24 30 36 42 48
Características de la junta Resistencia a la penetración
Tem po de espera (horas)

Figura 2.2. Índices de Qualidade de Juntas Figura 2.3. Evolução da Resistência à Tração (%)
(GONZÁLES, 1998) e da Resistência à Penetração da Argamassa de
CCR da camada inferior com o tempo de
exposição das juntas para uma temperatura de
o
20 C (GONZÁLES, 1998)

H: 65 %
1E-11 3000

2500

R. Penetración (kg/cm )
Permeabilidad al agua

2000
(m/s)

1E-10 1500

1000

Media 60 días 500


R. Penetración
1E-09 0
0 6 12 18 24 30 36 42 48
Tiempo de espera (horas)

Figura 2.4. Evolução da Permeabilidade das Juntas e da Resistência à Penetração (GONZÁLES, 1998)

De modo a analisar a influência da variação dos diversos parâmetros de composição e


também ambientais de exposição das juntas, o autor estabeleceu um modelo, como
mostrado na Figura 2.5, para a Resistência à Tração na Flexão.

100%
Resistencia a flexotracción (%)

90%

(% a las 48 horas) + 10 %

% a las 48 horas

0 t1 t2 48

Tiempo de espera (horas)

Figura 2.5. Curvas de Resistência à Tração na Flexão utilizadas para estabelecer a comparação entre
diferentes valores de cada parâmetro (GONZÁLES, 1998)
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Com relação à questão de custos, uma comparação ampla foi feita por BATISTA et
al.(2001) em seu trabalho sobre a primeira aplicação de CCR no Brasil, na UHE Lajeado.
Os controles de custos daquela obra mostraram ter havido uma redução de US$ 14,39/m³
de CCR devidos exclusivamente à mudança do método de lançamento, considerando o
valor orçado e o realizado.

3. Materiais e Métodos
Para verificar os aspectos anteriormente abordados, e buscar uma correlação entre as
duas metodologias, foram moldadas pistas experimentais no Laboratório de FURNAS em
Goiânia, em escala de verdadeira grandeza, com lançamento e compactação executadas
pelo método horizontal e o rampado. Todos os concretos das pistas foram produzidos
com a mesma dosagem, tendo sido utilizado um cimento CP III com teor de 50% de
escória, agregados graúdos de Dmáx 50mm e 25mm e areia artificial contendo 12% de
agregado pulverizado, todos estes agregados produzidos a partir da britagem da rocha
granito, e um aditivo polifuncional. As principais características da dosagem são
mostradas na Tabela 3.1.
Tabela 3.1 – Composição da dosagem
fck (MPa) 6
Idade de Controle (dia) 90
Dmáx (mm) 50
Relação A/C 1,929
Cimento 70
Água 135
Areia Artificial sem Lavar 1125
(kg/m³)
Brita 25 mm 669
Brita 50 mm 447
Aditivo Superp.. Retar. Pega 1,050

Estas pistas foram executadas conforme desenho esquemático da Figura 3.1 (que mostra
também o plano de extração dos testemunhos, e fotos de seqüência executiva das
Figuras 3.2 a 3.4, para cada grau de compactação, tendo sido realizados ensaios para
determinação das propriedades do CCR no estado fresco e também para controle da
compactação, com o uso do densímetro nuclear. As propriedades determinadas no
estado fresco foram:
 Concreto Compactado com Rolo (CCR) – Determinação do tempo de vibração
“Cannon Time” e massa específica – Procedimento FURNAS: 001.006.011;
 Concreto Compactado com Rolo (CCR) – Determinação da água unitária massa
unitária no estado fresco – Procedimento FURNAS: 001.006.027.

PERSPECTIVA

Figura 3.1 – Desenho Esquemático de Figura 3.2 – Lançamento do CCR na pista


Execução das Pistas em Camadas e Plano de
Extração
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Figura 3.3 – Compactação do CCR Figura 3.4 – Cura das Pistas de CCR

Para realização dos ensaios com concreto endurecido foram moldados corpos de prova
cilíndricos de 15cm x 30cm no ato da dosagem e após intervalo de 2 horas de espera
para compactação, intervalo este considerado como médio nas obras e que corresponde
ao tempo decorrido entre a mistura do CCR na central de concreto até o término de sua
compactação, passando por transporte, espalhamento e colocação de juntas plásticas de
contração. Após a idade de 150 dias foram ainda extraídos testemunhos também
cilíndricos de 15cm de diâmetro tantos quantos foi possível, conforme mostrado no croqui
da Figura 3.1 e fotos das Figuras 3.5 e 3.6.

Figura 3.5 – Extração dos testemunhos Figura 3.6 – Corpos de prova extraídos e serrados.

A orientação de extração dos testemunhos foi de tal forma que possibilitasse o estudo do
comportamento do CCR em camadas verticais, em camadas horizontais, em juntas
verticais e em juntas horizontais em função da condição em que se desejava para cada
uma das propriedades. Estes testemunhos foram então serrados em segmentos de 30cm
de comprimento para realização dos ensaios com concreto endurecido que foram:
 Resistência à Compressão Axial Simples – NBR 5739/94 e Procedimento
FURNAS No 01.007.001 ;
 Determinação da Resistência à Tração por Compressão Diametral em Corpos de
Prova Cilíndricos – Procedimento FURNAS No 01.007.002;
 Determinação da Resistência à Tração Simples do Concreto Dispositivo Leroy -
Procedimento FURNAS No 01.007.011;
 Concreto Endurecido – Determinação do Coeficiente de Permeabilidade à Água –
NBR 10786/89 e Procedimento FURNAS No 01.011.001;
 Ensaio de Perda d´Água sob Pressão em Sondagem Rotativa – Procedimento
FURNAS No 03.011.001;
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 Cisalhamento – Procedimento FURNAS No 04.007.06;


 Absorção por Imersão e Fervura – NBR 9779/95 Procedimento FURNAS No
01.002.071.

4. Comparação entre o CCR lançado em Camadas Horizontais e em


Camadas Rampadas com Grau de Compactação de 98%
Nas Figuras 4.1 a 4.6 são mostrados os gráficos onde se comparou as propriedades
médias entre as pistas horizontais e rampadas, para tempo de espera para compactar de
2 horas e Grau de Compactação de 98%.
As análises estatísticas das Figuras 4.1 a 4.4 mostraram que, tanto para a Resistência à
Compressão Simples como para a Resistência à Tração Simples as médias foram
significativamente iguais, o mesmo não ocorrendo para a Resistência à Tração na
Compressão Diametral, onde a média dos cp’s moldados após o intervalo para as pistas
rampadas foi significativamente diferente da média dos mesmos cp’s das pistas
horizontais, e, na permeabilidade, as médias dos cp’s moldados de referência foram
significativamente diferentes para as duas condições de compactação.
Com relação à coesão e ângulo de atrito, observam-se valores muito próximos entre as
pistas com diferentes metodologias executivas, para os cp’s obtidos dos testemunhos
extraídos, porém obtendo-se para a pista rampada valores superiores aos da pista
horizontal.

Figura 4.1 – Comparação Horizontais x Rampadas – Resistência à Compressão – Análise Estatística

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Figura 4.2 – Comparação Horizontais x Rampadas – Resistência à Tração na Compressão Diametral –


Análise Estatística

Figura 4.3 – Comparação Horizontais x Rampadas – Resistência à Tração Simples – Análise Estatística

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Figura 4.4 – Comparação Horizontais x Rampadas – Permeabilidade à Água – Análise Estatística

Cisalhamento Direto
1,400

1,200

1,000
Coesão (MPa)

0,800

0,600

0,400

0,200

0,000
Horizontal Rampada

Moldado Referência Moldado Após Intervalo Extraído Camada Vertical Extraído Junta Vertical

Figura 4.5 – Comparação Horizontais x Rampadas – Coesão – Análise Estatística

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Cisalhamento Direto
55

50
Ângulo de Atrito ( º )
45

40

35

30

25

20
Horizontal Rampada

Moldado Referência Moldado Após Intervalo Extraído Camada Vertical Extraído Junta Vertical

Figura 4.6 – Comparação Horizontais x Rampadas – Ângulo de Atrito – Análise Estatística

5 A Questão das Juntas de Construção


Das propriedades pesquisadas e relativas ao que se espera do comportamento das
juntas, se pode observar que: na resistência à compressão houve uma tendência de
redução dos valores com o aumento do tempo de exposição, ficando este fato mais
evidenciado nos cp’s das juntas moldadas após o intervalo, principalmente a partir das 4
horas. Para os testemunhos extraídos na horizontal houve uma grande dispersão dos
valores para todos os tempos de exposição e, ainda, uma forte influência da extração dos
testemunhos nos resultados dos ensaios; na resistência à tração na compressão
diametral observa-se uma tendência de queda com o aumento de exposição, porém para
todos os cp’s ensaiados tanto moldados como de testemunhos extraídos, cujo processo
de extração, apesar de extremamente cuidadoso, teve uma forte influência nos
resultados; porém, há valores significativamente mais baixos para os intervalos de 4 e 6
horas relacionados a essa propriedade; na resistência à tração simples, observou-se que,
nos cp´s moldados após o intervalo (sem influência da extração), houve uma tendência de
queda dos valores com o aumento do tempo de exposição (Figura 5.1), fato este não
evidenciado para os demais tipos de cp´s ensaiados, com o menor valor para o tempo de
exposição de 4 horas para os testemunhos extraídos nas juntas na vertical, e com
maiores dispersões para intervalos de exposição de 5 e 6 horas para os testemunhos
extraídos; na coesão, obtida no ensaio de cisalhamento direto, observou-se uma
tendência mais acentuada de redução dos valores com o tempo de exposição, e com forte
influência dos testemunhos extraídos. Já no ângulo de atrito (Figura 5.2), observa-se uma
tendência de redução desta propriedade para as juntas, contrária às tendências de
crescimento da propriedade com o aumento do tempo de exposição para as demais
condições ensaiadas. Este fato, já explicado anteriormente, deve-se a singularidades do
próprio ensaio.

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Figura 5.1 – Resultados Estatísticos da RTS em função do tempo de exposição para Juntas Moldadas após
o Intervalo de Exposição (GRAÇA, 2005)

Ângulo de Atrito - Cisalhamento Direto

65
Ângulo de atrito ( º )

60

55

50

45

40

35
00:00 02:30 03:00 04:00 05:00 06:00 08:00

Intervalo de Exposição (h)


Camada - Moldado Camada Extraído Vertical
Junta Extraído Vertical Linear (Camada - Moldado)
Linear (Camada Extraído Vertical) Linear (Junta Extraído Vertical)

Figura 5.2 – Gráfico – Tempo de Exposição x Ângulo de Atrito (GRAÇA, 2005)

Com relação à permeabilidade, não foram observadas diferenças significativas que


pudessem justificar uma evolução do comportamento das juntas com o aumento do tempo
de exposição.
No entanto, considerando a maioria das propriedades analisadas, pode-se concluir que os
resultados obtidos indicam a tendência de ser o tempo imediatamente anterior às 4 horas
o tempo limite de exposição das juntas, considerando que a partir das 4 horas (inclusive)
já há perdas ou dispersões significativas de algumas das propriedades do CCR. Observar
que este CCR foi moldado com aditivo polifuncional que contém teor de retardador de
pega da ordem de 0,3% e teor de plastificante da ordem de 0,8% em relação à massa de
cimento.
Ressalva-se que a investigação do CCR de baixo consumo, apesar de rico em pasta em
função dos finos presentes na areia artificial (materiais pulverizados), para verificar o seu
comportamento através de testemunhos extraídos é de extrema complexidade, dada a
possibilidade de se modificar as propriedades durante a extração.
Um ponto importante e que foi um dos principais objetos deste estudo é que as juntas do
CCR executado pelo método rampado, normalmente têm um tempo de exposição prático
médio de 2 horas, o qual, de acordo com este estudo, têm suas propriedades garantidas,
porém quando se utiliza aditivo retardador de pega na dosagem.

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6 Considerações Finais

Os ensaios realizados comprovaram que a metodologia de execução do CCR em rampa


de 7 a 10% pode ser efetivamente utilizada, uma vez que os resultados obtidos
comprovam não haver diferenças significativas entre as médias, para 100% dos
testemunhos extraídos destas pistas.
Desta forma, a pequena inclinação da pista não resulta em prejuízo na aplicação da
energia de compactação por parte do rolo compactador. Rampas mais inclinadas não
foram objeto desta pesquisa e devem ser testadas previamente em pistas experimentais.
Com relação à questão de custos, é notória a economia obtida com a utilização do
método rampado, seja pela redução da argamassa de ligação, aplicada apenas uma vez
em cada seis juntas, seja pela maior velocidade proporcionada pelo método.

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