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MUDANÇAS NO SISNAD
Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)
A Lei nº 11.343/2006 criou o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD)
prevendo que ele teria a finalidade de realizar atividades relacionadas com:
I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de
drogas;
II - a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.
O que é o SISNAD?
A Lei nº 13.840/2019 inseriu um parágrafo no art. 3º da Lei nº 11.343/2006 conceituando o
que é o SISNAD:
Art. 3º (...)
§ 1º Entende-se por Sisnad o conjunto ordenado de princípios, regras, critérios e recursos
materiais e humanos que envolvem as políticas, planos, programas, ações e projetos sobre
drogas, incluindo-se nele, por adesão, os Sistemas de Políticas Públicas sobre Drogas dos
Estados, Distrito Federal e Municípios.
Além disso, a Lei também incluiu um parágrafo prevento que o SISNAD deverá atuar em
conjunto com o SUS e com o SUAS:
Art. 3º (...)
§ 2º O Sisnad atuará em articulação com o Sistema Único de Saúde - SUS, e com o Sistema
Único de Assistência Social - SUAS.
Duração do plano
O Plano Nacional de Políticas sobre Drogas terá duração de 5 anos a contar de sua aprovação.
IMPORTANTE
TIPOS DE INTERNAÇÃO
Serão possíveis 2 tipos de internação do dependente em droga
O PIA deverá contemplar a participação dos familiares ou responsáveis, os quais têm o dever
de contribuir com o processo, sendo esses, no caso de crianças e adolescentes, passíveis de
responsabilização civil, administrativa e criminal, conforme previsto no ECA.
Elaboração do PIA
O PIA será inicialmente elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do primeiro projeto
terapêutico que atender o usuário ou dependente de drogas e será atualizado ao longo das
diversas fases do atendimento.
Constarão do plano individual, no mínimo:
I - os resultados da avaliação multidisciplinar;
II - os objetivos declarados pelo atendido;
III - a previsão de suas atividades de integração social ou capacitação profissional;
IV - atividades de integração e apoio à família;
V - formas de participação da família para efetivo cumprimento do plano individual;
VI - designação do projeto terapêutico mais adequado para o cumprimento do previsto no
plano; e
VII - as medidas específicas de atenção à saúde do atendido.
O PIA será elaborado no prazo de até 30 (trinta) dias da data do ingresso no atendimento.
As informações produzidas na avaliação e as registradas no plano individual de atendimento
são consideradas sigilosas.
Etapa transitória
O acolhimento em comunidade terapêutica é encarado como uma etapa transitória para a
reinserção social e econômica do usuário ou dependente de drogas;
Ambiente residencial
A comunidade terapêutica deverá funcionar em um ambiente residencial, que seja propício à
formação de vínculos, com a convivência entre os pares, atividades práticas de valor educativo
e a promoção do desenvolvimento pessoal, vocacionada para acolhimento ao usuário ou
dependente de drogas em vulnerabilidade social.
É terminantemente proibido que o usuário ou dependente seja submetido a isolamento físico
na comunidade terapêutica acolhedora.
PIA
Deverá ser elaborado um plano individual de atendimento (PIA), no prazo de até 30 dias
contados da data de ingresso do usuário ou dependente na comunidade terapêutica.
Nesse caso, haverá a apreensão da droga e também a prisão em flagrante da(s) pessoa(s)
responsável(is). Ex: a Polícia recebe uma ligação anônima afirmando que em determinada casa
está sendo comercializado entorpecente; ao chegar no local, encontra três indivíduos
preparando “trouxinhas” de cocaína.
A substância encontrada (e que aparenta ser entorpecente) deverá ser submetida à perícia
para que se confirme se realmente é droga. Essa confirmação é feita por meio de um laudo de
constatação provisório da natureza e quantidade da droga, realizado por perito oficial ou, na
falta deste, por pessoa idônea (art. 50, § 1º, da Lei nº 11.343/2006).
De posse do laudo e dos depoimentos do condutor, das testemunhas e do flagranteado, a
autoridade policial comunicará a prisão ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto
lavrado (art. 50, caput).
Após receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá, no prazo de 10 dias, verificar se o
laudo de constatação provisório está formalmente regular e, em caso positivo, determinará a
destruição das drogas apreendidas, guardando-se amostra necessária à realização do laudo
definitivo. Veja a redação do § 3º do art. 50, inserido pela Lei nº 12.961/2014:
A destruição das drogas será executada pelo Delegado de Polícia competente no prazo de 15
dias na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária (§ 4º do art. 50).
O local será vistoriado antes e depois de efetivada a destruição das drogas, sendo lavrado auto
circunstanciado pelo Delegado de Polícia, certificando-se neste a destruição total delas (§ 5º do
art. 50).
Pode acontecer de a autoridade encontrar a droga, mas não capturar, no local, pessoas que
possam ser responsabilizadas por ela. Ex: a Polícia recebe uma ligação anônima afirmando que
em determinada casa na favela está sendo comercializado entorpecente; ao chegar no local,
encontra diversas “trouxinhas” de cocaína, mas nenhum morador, havendo indícios de que
fugiram.
Nesse caso, a substância encontrada também deverá ser submetida à perícia, elaborando-se
laudo de constatação provisório.
A Lei afirma, então, que a droga deverá ser destruída, por incineração, no prazo máximo de 30
dias, contados da data da apreensão, guardando-se amostra necessária à realização do laudo
definitivo. É a redação do art. 50-A da Lei nº 11.343/2006. Esse art. 50-A foi alterado pela Lei
nº 13.840/2019. Compare:
LEI DE DROGAS
Conforme se observa pela comparação dos dispositivos, com a nova Lei, em tese, não é mais
necessário observar o procedimento previstos nos §§ 3º a 5º do art. 50. Esses parágrafos
dizem o seguinte:
Art. 50 (...)
§ 3º Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo de 10 (dez) dias,
certificará a regularidade formal do laudo de constatação e determinará a destruição das
drogas apreendidas, guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo.
§ 4º A destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia competente no prazo
de 15 (quinze) dias na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária.
§ 5º O local será vistoriado antes e depois de efetivada a destruição das drogas referida no §
3º, sendo lavrado auto circunstanciado pelo delegado de polícia, certificando-se neste a
destruição total delas.
A mudança não é salutar. Isso porque as providências previstas nos §§ 3º a 5º do art. 50 são
razoáveis e importantes para se garantir a segurança do ato de incineração. A droga é um
produto com grande valor econômico e, portanto, mostra-se mais adequado que o
procedimento de incineração da substância entorpecente apreendida seja cercado de cautelas,
evitando eventuais desvios. Assim, a exigência de que o Delegado de Polícia acompanhasse e
fiscalizasse o ato era medida relevante e que trazia mais segurança jurídica.
MEDIDAS ASSECURATÓRIAS
Medidas assecuratórias (em sentido estrito) são medidas cautelares de natureza patrimonial
que têm como objetivo garantir que o acusado não se desfaça de seu patrimônio e, assim, se
for definitivamente condenado, possa arcar com os efeitos secundários extrapenais genéricos
da condenação, previstos no art. 91 do CP (indenização quanto aos danos causados pelo crime
e perda em favor da União dos instrumentos, produtos e proveitos do delito).
As medidas assecuratórias são o sequestro, o arresto e a hipoteca legal.
A Lei nº 13.840/2019 promoveu mudanças no art. 60 da Lei nº 11.343/2006, que trata sobre
medidas assecuratórias que podem ser decretadas pelo juiz em processos envolvendo os
crimes da Lei de Drogas.
Foram três as mudanças mais importantes nesse dispositivo:
1) o magistrado não pode mais determinar a concessão das medidas assecuratórias de ofício;
2) foi inserida a previsão expressa de que o assistente de acusação pode requerer ao juízo a
concessão de medidas assecuratórias;
3) o art. 60 possuías dois parágrafos trazendo regras de procedimento para essas medidas,
tendo revogado esses dispositivos e remetido a regulamentação para o CPP.
Compare as redações:
Alienação antecipada
O juiz, no prazo de 30 dias contado da comunicação feita pelo Delegado, determinará a
alienação dos bens apreendidos.
Obs: as armas que forem apreendidas não serão alienadas, mas sim recolhidas na forma da
legislação específica.
Autos apartados
A alienação será realizada em autos apartados.
Deverá haver a exposição sucinta do nexo de instrumentalidade entre o delito e os bens
apreendidos, a descrição e especificação dos objetos, as informações sobre quem os tiver sob
custódia e o local em que se encontrem.
Apreensão de dinheiro
Nos casos em que a apreensão tiver recaído sobre dinheiro, inclusive moeda estrangeira, ou
cheques emitidos como ordem de pagamento para fins ilícitos, o juiz determinará sua
conversão em moeda nacional corrente, que será depositada em conta judicial remunerada, e,
após sentença condenatória com trânsito em julgado, será revertida ao Funad.
Obs: na hipótese do inciso II, decorridos 360 dias do trânsito em julgado e do conhecimento da
sentença pelo interessado, os bens apreendidos, os que tenham sido objeto de medidas
assecuratórias ou os valores depositados que não forem reclamados serão revertidos ao Funad.
§ 1º Os bens, direitos ou valores apreendidos em decorrência dos crimes tipificados nesta Lei
ou objeto de medidas assecuratórias, após decretado seu perdimento em favor da União,
serão revertidos diretamente ao Funad.
§ 2º O juiz remeterá ao órgão gestor do Funad relação dos bens, direitos e valores
declarados perdidos, indicando o local em que se encontram e a entidade ou o órgão em cujo
poder estejam, para os fins de sua destinação nos termos da legislação vigente.
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO
Quando o investigado/acusado tem seus bens apreendidos por ordem judicial, ele tem a
possibilidade de obtê-los de volta mesmo antes do resultado final do processo formulando
um pedido de restituição dirigido ao juiz.
Neste pedido de restituição, o interessado deverá provar que o bem, direito ou valor que foi
tornado indisponível possui origem lícita. Além disso, o interessado que formula o pleito de
restituição deverá comparecer pessoalmente em juízo, sob pena do pedido não ser nem
conhecido (não ter seu mérito analisado).
Desse modo, se determinado réu encontra-se foragido e, por intermédio de advogado, formula
pedido de restituição de seus bens apreendidos, o juiz nem irá examinar esse pleito, a não ser
que o acusado compareça pessoalmente em juízo.
Enquanto o réu não comparecer pessoalmente para solicitar a restituição de seus bens, direitos
e valores, o juízo deverá determinar a prática de atos para conservá-los.
Isso que foi explicado acima foi previsto em dois novos artigos inseridos pela Lei nº
13.840/2019 na Lei de Drogas. Veja:
Art. 63-A. Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento pessoal do
acusado, podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à conservação de bens,
direitos ou valores.
Art. 63-B. O juiz determinará a liberação total ou parcial dos bens, direitos e objeto de
medidas assecuratórias quando comprovada a licitude de sua origem, mantendo-se a
constrição dos bens, direitos e valores necessários e suficientes à reparação dos danos e ao
pagamento de prestações pecuniárias, multas e custas decorrentes da infração penal.
ALTERAÇÃO NO ECA
A Lei nº 13.840/2019 inseriu um artigo no ECA dizendo o seguinte:
Art. 53-A. É dever da instituição de ensino, clubes e agremiações recreativas e de
estabelecimentos congêneres assegurar medidas de conscientização, prevenção e
enfrentamento ao uso ou dependência de drogas ilícitas.
ALTERAÇÃO NO CTB
A Lei nº 13.840/2019 também alterou o Código de Trânsito Brasileiro.
O art. 306 do CTB prevê o crime de embriaguez ao volante:
Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da
influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Essa inclusão teve por objetivo evitar questionamentos no sentido de que o aparelho utilizado,
no caso concreto, não seria o adequado e que, portanto, a prova obtida seria ilícita.
Vigência
A Lei nº 13.840/2019 entrou em vigor na data de sua publicação (06/06/2019).