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Professor Adjunto III da Universidade Estadual do Piauí e Pós-Doutor em Ciências da Religião.
Desenvolve as seguintes Linhas de pesquisa: a) Política e Religião; b) Filosofia Africana; c)
Habermas e Educação. franciscoantonio_vasconcelos@yahoo.com.br
relevant role played by him, the clergyman proved incapable of bringing the much
needed new to the Church.
Considerações iniciais
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As consequências dessa política se fizeram sentir fora do continente europeu. Em 15 de novembro
de 1889, foi proclamada a República, no Brasil, na qual se estabelecia a separação entre Igreja e
Estado.
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Alguns se voltaram especialmente contra o Cristianismo, como foi o caso de Friedrich Nietzsche.
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A situação do catolicismo brasileiro, nas décadas seguintes à morte do prelado, sofreu influência
seja da obra realizada por Dom Leme seja de como a Igreja Católica continuou a se posicionar diante
da Modernidade.
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A decisão de investir na formação do clero é uma das deliberações do Concílio. Nesse sentido
merece destaque decreto da Cum adulescentium aetas.
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Os papas pós-tridentinos, ampliando suas competências, tornaram-na mais poderosa e cruel.
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Este se manteve até 1966, quando foi abolido por Paulo VI.
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O pontífice, em comunhão com o Magistério da Igreja, quando define e esclarece, ex cathedra, algo
em artigo de fé e moral não erra jamais, pois é assistido pelo Espírito Santo.
O longo governo de Pio IX foi marcado pela Romanização, isto é, um regime que
tencionava a implantação de uma Igreja ainda mais hierárquica e diretamente ligada à
Santa Sé10.
A Carta Encíclica Rerum Novarum: Sobre a condição dos operários, publicada
em 1891 e assinada pelo papa Leão XIII, representou a tentativa mais expressiva de
diálogo com a Modernidade por parte da Igreja. Nela, as questões sociais do mundo
moderno foram enfrentadas e passaram a fazer parte da reflexão católica. No
entanto, o documento condenou as duas grandes propostas (ambas alimentadas
pelo espírito moderno) de enfrentamento dos problemas sociais: o liberalismo e o
socialismo/comunismo, pois para o pontífice, no fundo, uma e outra se apoiam na
mesma base, isto é, uma visão materialista do homem e da sociedade.
O Concílio Vaticano II – convocado em 1962 e realizado de 1963 a 1965 – foi
uma tentativa da Igreja Católica de, na segunda metade do século XX, dialogar com
o mundo moderno. Entretanto, as condenações feitas por ela à Modernidade, nos
séculos precedentes, deixaram suas marcas. Essa rejeição criou na Igreja certos
hábitos e vícios que tornam a abertura muito difícil e, certamente, traumática.
Podemos perceber isso nas palavras do Romano Pontífice:
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Indicamos, nas Referências, a tradução em italiano disponibilizada ao público pela Santa Sé através
de sua página oficial, na qual o leitor tem acesso também à versão em latim.
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Em nosso país, quem deu início ao processo de Romanização do catolicismo foram os chamados
bispos reformadores “[...] a partir da segunda metade do século XIX, e se consolidou com o
predomínio das políticas e das práticas pastorais romanizadoras durante a primeira metade do século
XX” (MARIN, 2001, p. 150).
Essa dificuldade fica ainda mais notória quando se considera suas afirmações
seguintes:
Sobre as pessoas que, “Nos tempos atuais, [...] não vêem senão
prevaricações e ruínas; vão repetindo que a nossa época, em comparação com as
passadas, foi piorando”, o Papa Bom, como era conhecido esse pontífice, afirma:
“parece-nos que devemos discordar desses profetas da desventura” (JOÃO XXIII,
1962, p. 3).
O papa, comparando o passado com o presente, observa algo positivo, isto é,
a supressão dos
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“[...] existe apenas uma Igreja, fora da qual não há salvação, Cristo Senhor a instituiu sobre Pedro”.
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Dom Sebastião Leme, bispo desde 1911, vivencia a feitura de ambos.
O controle do país foi sendo assumido por essa elite (regional em seus
primórdios), paulatinamente. Todavia, é mister sublinhar:
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Sobre isso, vale recordar: “A maioria das bulas papais, que garantiram as bases do padroado no
Brasil, apareceram bem antes da descoberta da colônia em 1500. Os papas deram à Coroa
portuguesa um virtual controle sobre a Igreja nascente. O controle estendia-se de questões básicas
relativas à construção das primeiras igrejas ao pagamento do clero, nomeação de bispos, aprovação
de documentos, escolha de locais para instalação de conventos, etc. No Brasil, a base legal para o
controle do Estado sobre a Igreja foi garantido, portanto, através de uma série de bulas expedidas por
quatro papas de 1455 a 1515” (VASCONCELOS, 2015, p. 299).
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Somente, a partir da década de 1930, graças ao governo de Getúlio Vargas, esse quadro
começará a mudar.
Nosso prelado, no que diz respeito a seu projeto de organizar a Igreja Católica
brasileira internamente, não se limitou ao clero. Suas intenções compreendiam também
a estruturação do laicato. Observemos o texto a seguir:
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Dom Sebastião Leme o via como uma ameaça à pureza e às tradições religiosas do Brasil.
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Em 1928, com a morte de Jackson de Figueiredo, Alceu Amoroso Lima assumiu a presidência do
Centro Dom Vital, graças ao patrocínio do Cardeal Leme.
Dom Nery há muito incentivava a participação dos leigos na vida política e social
do país. Como estratégia para possibilitar a efetivação disso, ele defendia a criação de
associações católicas. O objetivo era eleger candidatos que defendessem os valores do
catolicismo (MARCHI, 2016). Assim, em 1913, ele sugere a criação de uma Liga
Eleitoral Católica. A partir de 1932, também Dom Sebastião Leme passou a
defender essa proposta.
Dirigindo-se aos bispos do Brasil, o pastor sublinha o trabalho que compete a
eles realizar em solo brasileiro, falando-lhes de seus compromissos para com a
nação diante do “momento histórico”. Na visão de Dom Leme, não é mais possível
postergar ir à luta em defesa dos ideais católicos. “Ou saímos a campo já, ou
chegaremos tarde”, ele exorta. Na realidade, tratava-se de trabalhar para fazer valer
no país, e no mundo, o catolicismo (GABAGLIA, 1962, p. 53).
Considerações finais
Dom Sebastião Leme foi um amante da Igreja, esse sentimento inquietava
seu coração e sua mente, fazendo dele um trabalhador incansável em prol dos
interesses da Sponsa Christi; seu espírito perspicaz lhe permitia detectar os
problemas que afligiam o mundo católico, no Brasil das primeiras décadas dos
Novecentos; sua forte aproximação de Getúlio Vargas revela um homem astuto e
devotado à causa de sua Igreja; seu conservadorismo, sua opção pela romanização,
sua estratégia de implantação da neocristandade e seu ódio ao
comunismo/socialismo apresentam-no como um prelado de seu tempo.
Por certo, tudo isso fez dele uma figura notável. Entretanto, faltou-lhe
criatividade intelectual e pastoral para ver o que a Santa Sé era incapaz de enxergar
à época, a saber, o caminho por onde trilhavam os filhos e filhas da Modernidade.
REFERÊNCIAS
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Quem deixa a Igreja é chamado por Cipriano de inimigo: “Quisquis ab Ecclesia segregatus [...]hostis
est” (CYPYIANUS, 2013, p. 7). Essas pessoas também não podem ter Deus por pai; não têm direito à
salvação etc.
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