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coleção
RESUMOS
______________________________
MAXIMILIANUS CLÁUDIO AMÉRICO FÜHRER
MAXIMILIANO ROBERTO ERNESTO FÜHRER
[
Resumo 11
RESUMO
DE DIREITO PENAL
Parte Especial
9ª edição

Suplemento de atualização

Alterações na redação do Código Penal


Leis 12.015, de 7 de agosto de 2009
e 12.012, de 6 de agosto de 2009
2

pp. 128 a 143 da 9a edição


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A) CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


(Modificações introduzidas pela Lei 12.015, de 7 de agosto de 2009)

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1) CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL


Estupro: Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou
a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena – reclusão, de 6 a 10 anos. § 1o
Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 ou maior de 14
anos: Pena – reclusão, de 8 a 12 anos. § 2o Se da conduta resulta morte: Pena – reclusão, de 12 a 30
anos.

1. Estupro (art. 213)

O delito consiste em obrigar alguém (homem ou mulher) à conjunção


carnal ou outro ato libidinoso, mediante violência física ou grave ameaça.
Qualquer ato libidinoso, mesmo que preparatório para a conjunção carnal,
já consuma o delito. A tentativa se configura com a prática da violência ou
grave ameaça, antes de iniciadas as manobras sexuais. O sujeito ativo é
comum (qualquer pessoa). O sujeito passivo pode ser tanto homem como
mulher, desde que maior de 14 anos e capaz de discernimento e defesa.
A discordância da vítima é elemento implícito do crime. A violência
deve ser física (caso contrário será ameaça) e exercida contra a própria vítima. A
violência contra animais e terceiros pode configurar grave ameaça. O
objeto jurídico é a liberdade sexual.
A reiteração das relações sexuais ou dos atos libidinosos caracteriza
crime único.
Trata-se de crime hediondo (tanto na forma simples como nas
qualificadas pelas lesões graves ou morte). A ação penal é pública
condicionada à representação da vítima (art. 225), exceto se ocorrerem
lesões corporais graves ou morte, quando a ação penal será pública
incondicionada (art. 100 do CP). ●Ver adiante os arts. 226 e 234-A (causas de aumento de
pena).

Anotações especiais: ♦ Conjunção carnal é a introdução completa ou incompleta do pênis na vagina,


pouco importando se há ou não ejaculação. ♦ Ato libidinoso é todo aquele que visa à satisfação da
lascívia (cópula vulvar, sexo anal, oral, carícias etc.). ♦ Este é um crime hediondo (art.1o, V, da Lei no
8.072/90).

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Atentado violento ao pudor
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Art. 214. (Revogado pela Lei 12.015, de 2009)

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Violação sexual mediante fraude: Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da
vítima: Pena – reclusão, de 2 a 6 anos. Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter
vantagem econômica, aplica-se também multa.

2. Violação sexual mediante fraude

O agente, aqui, não emprega violência ou grave ameaça, mas utiliza


fraude ou qualquer outro meio para enganar a vítima ou colocá-la em
situação de incapacidade e obter a conjunção carnal ou outro ato libidinoso.
Como ensina Magalhães Noronha, a fraude “é o estratagema, o ardil,
o embuste, o engodo, destinado a fazer a vítima acreditar em uma situação
que a leva ao ato desejado pelo agente, quando, na verdade, é inexistente
essa situação” (ex. curandeiro que convenceu a vítima de possuía fístula interna, necessitando,
assim, de tratamento especial).
O crime pode ser cometido por qualquer meio que impeça ou
dificulte a livre manifestação de vontade da vítima (ex. sorrateiramente, fazer com
que a vítima consuma entorpecentes ou anestésicos, como no golpe conhecido como “boa noite
cinderela”).
Tanto o sujeito ativo como o passivo podem ser homem ou mulher.
Consuma-se o crime com o primeiro ato libidinoso. Admite tentativa (ex. é
empregada fraude ou outro meio turbador da vontade, mas não se realizando a prática libidinosa).

Anotações especiais: ♦ Se a vítima é menor de 14 anos, ou, por enfermidade ou deficiência mental, não
tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou se, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência, o crime será de estupro de vulnerável (art. 217-A). ♦ No estupro de vulnerável a vítima já é
encontrada pelo agente na situação de incapacidade. Na violação sexual mediante fraude ele, por fraude
ou outro meio coloca a vítima em tal situação.

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Atentado ao pudor mediante fraude


Art. 216. (Revogado pela Lei 12.015, de 2009)

Assédio sexual: Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento
sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
exercício de emprego, cargo ou função. Pena – detenção, de 1 a 2 anos. Parágrafo único. (Vetado) §2o A
pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 anos.

3. Assédio sexual
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O dispositivo foi acrescentado pela Lei 10.224, de 15.5.2001. A ação


consiste em pressionar uma pessoa (homem ou mulher), para fins sexuais,
valendo-se da posição de ascendência sobre a vítima ou da superioridade
hierárquica em emprego, cargo ou função.
Objeto jurídico é a liberdade sexual. A ação é dolosa, com o
elemento subjetivo do injusto (dolo específico) de obter vantagem ou
favorecimento sexual.
Superior hierárquico é quem detém algum poder funcional sobre a
vítima, dentro de organização pública ou privada. A ascendência abrange a
relação de respeito ou influência não decorrente propriamente da hierarquia
(ex.: professor em relação ao aluno, enfermeiro em relação ao paciente).
A consumação exige que a vítima se sinta realmente embaraçada ou
em dificuldade (crime material), havendo, porém, entendimento no sentido de
que se trata de crime formal, bastando a conduta. Admite tentativa (ex.: o
escrito embaraçoso é interceptado pela gerência da empresa, não chegando ao conhecimento da vítima ).

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2) CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL


Sedução – Art. 217 – (Revogado pela Lei no 11.106, de 2005)

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Estupro de vulnerável: Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de
14 anos: Pena – reclusão, de 8 a 15 anos. § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas
no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. § 2o (Vetado) § 3o
Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão, de 10 a 20 anos. § 4o Se da
conduta resulta morte: Pena – reclusão, de 12 a 30 anos.

1. Estupro de vulnerável

O estupro, na forma básica (art. 213), consiste no constrangimento de


alguém à prática de ato libidinoso, mediante o emprego de violência física
ou grave ameaça. Porém, a lei presume a violência sempre que a vítima for
menor de 14 anos (vulnerável) ou se encontrar em uma das situações descritas
no § 1o do art. 217 (equiparado a vulnerável), mesmo que a vítima tenha
concordado com as manobras sexuais.
O texto legal parece indicar que essa presunção de violência é
absoluta, mas há tendência jurisprudencial de considerá-la relativa,
afastando o crime sempre que a vítima tiver discernimento e houver
concordado com o ato ●sobre conjunção carnal e ato libidinoso, v. as anotações ao art. 213.
O sujeito passivo pode ser homem ou mulher, desde que vulnerável
ou equiparado. No art. 215 (violação sexual mediante fraude), a vítima é colocada
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em situação de incapacidade, mediante meio fraudulento ou dissimulado. Já


aqui, no estupro de vulnerável (art. 217-A, § 1o), a vítima já é encontrada pelo
agente em situação de incapacidade.
De acordo com a melhor doutrina, o tipo exige dolo específico de
satisfazer a lascívia. O agente deve ter ciência plena (dolo direto) ou desconfiar
(dolo eventual) que a vítima é vulnerável ou equiparada.
A consumação ocorre imediatamente com a prática de qualquer ato
libidinoso onde haja contato corporal. Somente é possível a tentativa antes
de iniciadas as manobras sexuais.
O resultados mais graves previstos nos §§ 3o e 4o (lesões graves e
morte) podem resultar tanto de dolo como de culpa, mas devem
necessariamente estar relacionados com o contexto do estupro de
vulnerável.
Anotações especiais: ♦ Se a vítima é colocada na situação de incapacidade por fraude ou qualquer outro
meio, o crime será de violação mediante fraude. ♦ Este é um crime hediondo (art.1o, VI, da L 8.072/90).

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Corrupção de menores: Art. 218. Induzir alguém menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena – reclusão, de 2 a 5 anos. Parágrafo único. (Vetado).

2. Corrupção de menores

O sujeito ativo deste crime pode ser homem ou mulher (crime


comum). O mesmo ocorre com o sujeito passivo. Como a corrupção é
crime especial em relação à participação em estupro de vulnerável (art.
217-A), mesmo que efetivamente ocorra o estupro, o agente que apenas
induziu o menor responde por este crime do art. 218, cujas penas são
consideravelmente menores. O sujeito passivo é próprio. Ou seja, o crime
só pode ser cometido contra quem não tem ainda 14 anos de idade.
Induzir é persuadir, criar a vontade. É necessário que a vítima tenha
algum entendimento (crianças pequenas e débeis profundos não têm), pois, do contrário e
contato corporal, o agente responderá por participação em estupro de
vulnerável (art. 217-A). Outrem é terceira pessoa certa e determinada. Se a
outra pessoa é indeterminada, o crime será o do art. 228-B (favorecimento à
prostituição de vulnerável). O tipo exige dolo específico de agir para a
satisfação do prazer sexual de outrem.
A consumação ocorre com o convencimento efetivo da vítima,
caracterizado no primeiro ato tendente à satisfação da lascívia de outrem.
Admite-se teoricamente a tentativa.
Anotações especiais: ♦ Lascívia se refere à satisfação do desejo sexual. O mesmo que luxúria.
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Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente: Art. 218-A. Praticar, na presença
de alguém menor de 14 anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim
de satisfazer lascívia própria ou de outrem: Pena – reclusão, de 2 a 4 anos.”

3. Satisfação da lascívia mediante presença de criança ou adolescente

Este é um tipo misto (mischgesetz), não cumulativo, que trata de dois


crimes. O primeiro consiste em praticar ato libidinoso na presença de
vulnerável (exibicionismo). O segundo é induzir o vulnerável a presenciar o ato
libidinoso. O sujeito ativo deste crime é qualquer pessoa, homem ou
mulher. O sujeito passivo é exclusivamente o menor de 14 anos.
Necessário o dolo específico de agir para satisfazer lascívia própria
ou de outrem. Lascívia é a vontade de satisfação sexual. É imprescindível
que o agente tenha efetivo conhecimento de que o menor está presenciando
as manobras sexuais.
Não pode haver qualquer espécie de contato físico sexual dos
praticantes com a pessoa vulnerável que o presencia. Se houver, o crime
será de estupro de vulnerável, do art. 217-A, cuja pena é sensivelmente
mais grave. Nas duas modalidades, o crime se consuma quando a pessoa
vulnerável presencia o ato libidinoso. É possível a tentativa.

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Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável: Art. 218-B.
Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 anos
ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do
ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: Pena – reclusão, de 4 a 10 anos. § 1o. Se o crime é
praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. § 2o. Incorre nas mesmas
penas: I – quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 e maior de 14
anos na situação descrita no caput deste artigo; II – o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local
em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo. § 3o. Na hipótese do inciso II do § 2 o,
constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do
estabelecimento.

4. Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de


vulnerável.

Trata-se de tipo misto ou alternativo (não cumulativo). O sujeito ativo


pode ser qualquer pessoa, de qualquer sexo (crime comum). Se o agente, além de
favorecer a prostituição ou a exploração sexual, ainda pratica ato libidinoso
com a pessoa prostituída, responderá em concurso material com o crime do
§ 2o, I. O sujeito passivo é exclusivamente o menor de 18 anos ou quem, por
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enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para


a prática do ato.
É necessário dolo específico de agir para introduzir ou manter alguém
na prostituição ou outra forma de exploração sexual.
Nas formas submeter, induzir e atrair, a consumação ocorre quando a
vítima se entrega à prostituição ou à outra forma de exploração sexual (crime
material instantâneo), que se caracterizam por certa habitualidade. Nas
modalidades facilitar, impedir ou dificultar, a consumação se dá com a
retirada do obstáculo, a colocação do impedimento ou da dificuldade. É
admissível teoricamente a tentativa.

Anotações especiais: ♦ Discernimento refere-se ao entendimento do que seja prostituição ou exploração


sexual, conforme o caso. É a faculdade de escolher e optar, segundo critérios pessoais, tendo plena
consciência dos aspectos morais e físicos envolvidos. ♦ Prostituição é a atividade habitual daquele que
pratica sexo mediante pagamento. ♦ Outra forma de exploração sexual refere-se a qualquer outra
atividade libidinosa remunerada que envolva contato corporal e habitualidade (ex. reunião para troca de
casais, bacanais, etc). ♦ Induzir é incitar, convencer, inspirar, dar a idéia. A ameaça e as vias de fato são
absorvidas pelo crime, mas as lesões corporais e o homicídio são resolvidos em foros de concurso de
crimes. ♦ Atrair é chamar, provocar. ♦ Facilitar é retirar obstáculos. ♦ Impedir é obstar, atrapalhar. ♦
Dificultar é criar empecilho, tornar mais difícil.

4.1. Os crimes do § 2o

Na primeira parte, o § 2o pune quem pratica ato libidinoso com


alguém menor de 18 e maior de 14 anos, que entregou à prostituição ou
outra forma de exploração sexual, nas condições do caput. Sendo a vítima
menor de 14 anos ou se for empregada grave ameaça ou violência, o crime
será de estupro de vulnerável (art. 217-A) ou estupro padrão (art. 213),
respectivamente. É necessário que o agente tenha ciência (dolo direto) ou
desconfie (dolo eventual) da situação da vítima. Cuidando-se de crimes
diversos, o agente responderá pela caput e também pelo § 2o, somando-se
as penas. A consumação se dá com o primeiro ato libidinoso, não sendo
descartável a possibilidade de tentativa.
Na segunda parte, o § 2o pune o proprietário, o gerente ou o
responsável pelo local em que se verifiquem a prostituição ou a outra
exploração sexual do menor de 18 e maior de 14 anos. Também aqui é
preciso que o agente tenha conhecimento ou pelo menos desconfiança
de que o local está sendo utilizado para aqueles fins.
Se o proprietário, o gerente ou o responsável é o próprio facilitador, o
crime do § 2o, II, fica absorvido, já que a conduta de fornecer o local para o
exercício da prostituição ou exploração não passa de modalidade de
facilitação.
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DO RAPTO (Revogado pela Lei 11.106, de 2005)

Rapto violento ou mediante fraude


Art. 219 (Revogado pela Lei 11.106, de 2005)

Rapto consensual
Art. 220 (Revogado pela Lei 11.106, de 2005)

Diminuição de pena
Art. 221 (Revogado pela Lei 11.106, de 2005)

Concurso de rapto e outro crime


Art. 222 (Revogado pela Lei 11.106, de 2005)

5) Disposições Gerais

Formas qualificadas
Art. 223 (Revogado pela Lei 12.015, de 2009)

Presunção de violência
Art. 224 (Revogado pela Lei 12.015, de 2009)

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Ação penal
Ação penal: Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação
penal pública condicionada à representação. Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação
penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 anos ou pessoa vulnerável.

5. Ação penal
A persecução penal pelos crimes contra a liberdade sexual se dá por
ação penal pública condicionada à representação. Ocorrendo lesão corporal
grave ou morte (v. art. 101 do CP), bem como nos crimes contra menor de 18
anos ou vulnerável, a ação penal é pública incondicionada.
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Aumento de pena: Art. 226. A pena é aumentada:


I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;
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II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor,
curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;
III – (Revogado pela Lei 11.106, de 2005).

6. Causas de aumento de pena


Havendo concurso de pessoas a pena é aumentada da quarta parte. Se
o crime é cometido com desrespeito às relações familiares ou domésticas, a
pena é aumentada de metade.
Anotações especiais: ♦ Ascendente é aquele parente que se localiza na linha reta, em posição anterior
(pai, avô, bisavô etc.). ♦ Padrasto é o companheiro ou esposo de uma mulher, em relação aos filhos
unilaterais dela. ♦ Madrasta é a nova mulher do pai, em relação aos filhos anteriores dele. ♦ Tio é aquele
que se coloca na linha colateral, no segundo grau, irmão do pai. Pelo princípio da legalidade, que informa
o Direito Penal incriminador, o conceito de tio não pode ser estendido à companheira ou esposa do irmão
do pai, ou ao companheiro ou esposo da irmã do pai. ♦ Tutor é o nomeado para exercer o poder familiar
em relação a menores órfãos ou cujos pais foram destituídos do poder familiar. ♦ Curador é o nomeado
pelo juiz para representar ou assistir menores. ♦ Preceptor é aquela pessoa responsável pela educação e
formação do discípulo; o que ministra instruções ou preceitos, como o professor com ascendência sobre o
aluno. É o educador particular. ♦ Empregador é a pessoa que assume os riscos de determina atividade
econômica, admitindo, dirigindo e assalariando o empregado que lhe presta serviços subordinados. É o
patrão. ♦ Quem por qualquer outro título tem autoridade sobre a vítima refere-se à superioridade
hierárquica em qualquer contexto, como o chefe do departamento, o inspetor de alunos ou o diretor da
escola.

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3) LENOCÍNIO E TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE


PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

Dicionário: ♦ Alcoviteiro. Corretor de prostitutas; o que serve de intermediário em questões sexuais. ♦


Cáften. O que vive à custa de prostitutas, rufião (Aurélio). ♦ Lena. Alcoviteira (Lat. lena-ae). ♦ Lenão.
Alcoviteiro, rufião, o que vende escravos (Lat. leno-onis). ♦ Lenocínio. Assistência à libidinagem alheia;
do Latim lenocinium-i, tráfico de escravos. ♦ Prostituta. Meretriz, mulher que pratica o ato sexual por
dinheiro. ♦ Proxeneta. Intermediário, por dinheiro, em casos amorosos (Aurélio). ♦ Rufião. Cáften, o
que vende escravos.

Mediação para servir a lascívia de outrem: Art. 227. Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena – reclusão, de um a três anos.§ 1o. Se a vítima é maior de 14 e menor de 18 anos, ou se o agente é
seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja
confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda: Pena – reclusão, de dois a cinco anos. § 2o.
Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:Pena – reclusão, de dois a
oito anos, além da pena correspondente à violência. § 3o. Se o crime é cometido com o fim de lucro,
aplica-se também multa.

1. Mediação para servir a lascívia de outrem

A ação consiste em induzir (incitar, convencer) alguém a satisfazer a


lascívia de um destinatário (pessoa certa e determinada, homem ou mulher). O
destinatário não comete crime (pois não induz, nem faz intermediação). Se o
destinatário for indeterminado – art. 228 (favorecimento da prostituição ou outra forma de
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exploração sexual).O sujeito ativo ou passivo pode ser qualquer pessoa (prostituta
não – RT 487/347). Consuma-se com o ato da vítima satisfazendo o destinatário.
Cabe tentativa. O crime pode ser qualificado conforme a idade da vítima ou
a condição do agente em relação a ela (§ 1o); quando empregada violência,
grave ameaça ou fraude (§ 2o); ou houver fim de lucro (§ 3o).
Anotações especiais: ♦ Lascívia se refere à satisfação do desejo sexual. O mesmo que luxúria. ♦ v. tb. as
anotações ao próximo artigo.

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Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual: Art. 228. Induzir ou atrair alguém
à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a
abandone: Pena – reclusão, de 2 a 5 anos, e multa. § 1o. Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta,
irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se
assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: Pena – reclusão, de 3 a 8
anos. § 2o. Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena – reclusão,
de quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência. § 3o. Se o crime é cometido com o fim de
lucro, aplica-se também multa.

2. Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual


O delito comporta três modalidades, sendo que a prática de duas ou
mais condutas constitui crime único (tipo misto alternativo): (1) Induzir ou atrair à
prostituição. Nessa hipótese o crime assemelha-se à mediação, do art. 227,
com a diferença de que aqui o destinatário será indeterminado; (2) Facilitar
a prostituição. A ação consiste em contribuir (habitualmente – RT 770/621) para a
prostituição, como encaminhar mulheres (já prostituídas ou não) para casa ou local
de tolerância (RT 546/345). Há decisões que dispensam a habitualidade (RT
414/55). (3) Impedir alguém de abandonar a prostituição. Neste caso o agente
coage a vítima para obrigá-la a permanecer na prostituição. Basta uma única
ação.
O sujeito ativo ou passivo pode ser homem ou mulher. A
consumação ocorre com a ação descrita em cada modalidade. Admite
tentativa em todas as hipóteses. O art. 229 (casa de prostituição) exclui o art. 228
(favorecimento da prostituição), pois a primeira ação já engloba a segunda (RT 455/339).

Anotações especiais: Sobre ♦ Prostituição ♦ Outra forma de exploração sexual ♦ Induzir ♦ Atrair ♦
Facilitar ♦ Impedir ♦ Dificultar – v. comentários ao art. 218-B. Sobre ♦ Ascendente ♦ Padrasto ♦
Madrasta ♦ Tutor ♦ Curador ♦ Preceptor ♦ Empregador – veja os comentários ao art. 226. ♦ Irmão é o
filho do mesmo pai ou da mesma mãe ou de ambos. ♦ Enteado é o filho do companheiro ou da
companheira. ♦ Se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância
refere-se aos guardiões em geral e dirigentes ou operadores dos estabelecimentos de ensino ou abrigo.

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Casa de prostituição: Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra
exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: Pena –
reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
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3. Casa de prostituição

Manter refere-se à incidência repetida ou permanente de uma


atividade, de modo a caracterizar habitualidade (crime habitual). O
estabelecimento mencionado pela lei abrange qualquer aposento onde
ocorra exploração sexual, assim entendida a prostituição e qualquer outra
atividade libidinosa habitual, onerosa, e onde ocorra contato corporal.
Por conta própria ou de terceiro significa que o sujeito ativo
(mantenedor) pode ser tanto o dono do estabelecimento como quem exerce
apenas a direção ou gerência (excluem-se empregados não graduados, camareiras, porteiros,
prostitutas e o proprietário do prédio alugado, estranho à sua utilização). O sujeito passivo é a
coletividade (e para alguns autores também as prostitutas ou explorados).
A nova lei não exige mais que a atividade do estabelecimento seja a
exploração sexual, bastando que ali ocorra a exploração sexual. Então,
aquele que simplesmente aluga um salão pode ser incriminado, se o
locatário explorar tal atividade.
Basta o dolo genérico, sendo irrelevante o intuito de lucro.
O crime de consuma com a habitualidade (RT 511/355, 536/290, 620/279 – há,
porém, posição doutrinária que dá o crime por consumado no primeiro ato de prostituição). Não se
admite tentativa (crime habitual).

Anotações especiais: ♦ Prostituta free lancer e Cooperativa de prostitutas. Manter casa para seu uso
profissional exclusivo (prostíbulo individual) ou em regime de cooperativa não configura este crime, pois
a prostituição em si é atípica. ♦ Não configuram o delito. Hotel (RT 507/332), motel (RT 587/390),
drive-in (RT 610/335), sauna, banhos, duchas e bar (RT 589/322, 619/290), casa de massagem (RT
761/567), prostíbulo individual (RT 469/403).

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Rufianismo: Art. 230. Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e
multa. § 1o. Se a vítima é menor de 18 e maior de 14 anos ou se o crime é cometido por ascendente,
padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador
da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou
vigilância: Pena – reclusão, de 3 a 6 anos, e multa. § 2o. Se o crime é cometido mediante violência, grave
ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: Pena –
reclusão, de 2 a 8 anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência.

4. Rufianismo

Trata-se de “tipo de autor”, onde se incrimina um modo de vida.


Sujeito ativo é o cafetão ou rufião, que vive da prostituição alheia. Pode ser
qualquer pessoa (crime comum), homem ou mulher, menos a própria prostituta
(“prostituição alheia”). O sujeito passivo é a pessoa que se prostitui e é explorada
pelo rufião. Também figura no pólo passivo a comunidade (crime vago).
O tipo se satisfaz com o dolo genérico de praticar a conduta descrita
no tipo. Não há forma culposa.
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Tirar proveito é auferir alguma espécie de vantagem. Participando


diretamente de seus lucros significa ficar, no todo ou em parte, com o mixe
(preço do serviço sexual) recebido pela prostituta. Fazendo-se sustentar refere-se
ao agente que não recebe dinheiro, mas pede ou exige que seus gastos
(mantimentos, vestuários, alugueis etc.) sejam suportados no todo ou em parte pela
prostituta. Em ambas as formas (tirar proveito participando dos lucros e tirar proveito fazendo-
se sustentar) exige-se habitualidade. Assim, impossível a tentativa.

13.1. Formas qualificadas


O §1o traz uma forma qualificada que leva em conta a qualidade do
sujeito ativo do crime em relação ao explorado.
O § 2o qualifica o crime quando é cometido mediante violência,
grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre
manifestação da vontade da vítima. Violência refere-se à agressão física. A
ameaça e as vias de fato são absorvidas pelo crime, mas as penas das
eventuais lesões corporais ou homicídio são somadas. A fraude ou outro
meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima
refere-se a qualquer expediente, não violento nem ameaçador, que turbe a
vontade da vítima, como a embriaguez e a ministração de outras drogas
incapacitantes.

Anotações especiais: ♦ Prostituição é o comércio carnal habitual. É a prestação continuada de serviços


sexuais mediante o pagamento de um preço (mixe). ♦ Companheiro refere-se ao participante de União
Estável informal. ♦ Ascendente ♦ Padrasto ♦ Madrasta ♦ Tutor ♦ Curador ♦ Preceptor ♦ Empregador
– v. comentários ao art. 226. ♦ Irmão ♦ Enteado – v. comentários ao art. 228. ♦ Com a expressão “por
quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado proteção ou vigilância” o tipo indica que a
lei incrimina mais severamente também o diretor do estabelecimento de ensino, o dirigente de abrigo, de
entidade de orientação de jovens etc.

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Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual: Art. 231. Promover ou facilitar a
entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de
exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro. Pena – reclusão, de 3 a 8
anos. § 1o. Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim
como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. § 2o. A pena é
aumentada da metade se: I – a vítima é menor de 18 anos; II – a vítima, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; III – se o agente é ascendente,
padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador
da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou IV –
há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.§ 3o. Se o crime é cometido com o fim de obter
vantagem econômica, aplica-se também multa.

5. Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual


13

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher (crime


comum). O sujeito passivo também é comum. O sujeito passivo secundário é a
coletividade (crime vago).
Necessário o dolo específico consistente no fim de possibilitar que a
pessoa exerça a prostituição, nas condições descritas no tipo. É indiferente
que a pessoa exerça efetivamente a prostituição. Basta o intuito de exercê-la.
Mas, se o crime é cometido com o dolo específico de obter qualquer
vantagem econômica, aplica-se também multa.
Promover é dar impulso, executar, provocar, fomentar, estimular,
patrocinar. Facilitar é retirar as barreiras ou deixar de criá-las.
O § 1o equipara ao traficante de pessoas aquele que intermedeia a
operação, agenciando, aliciando ou “comprando” a pessoa traficada. Na
mesma situação está aquele que, tendo conhecimento dessa condição (dolo
direto, exclusivamente), transportar, transferir ou alojar a pessoa traficada.
A consumação se dá com a entrada ou saída da pessoa do território
nacional (posição predominante) ou com alguma das condutas do § 1o. É
admissível a tentativa.
O § 2o traz causas de aumento da pena em função da idade da vítima,
sua capacidade e das relações domésticas e familiares. Sobre a análise de
cada um dos elementos típicos (ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado etc.)
remetemos o leitor ao que ficou consignado nos comentários ao art. 230
(Rufianismo).

Anotações especiais:♦ Território nacional é o local onde o Estado exerce a sua soberania. Compreende
os espaços terrestre, aéreo e aquático (o mar territorial brasileiro é de 12 milhas). Respeitado o princípio da
tipicidade estrita, no conceito de território não se incluem as extensões referidas no art. 5 o, § 1o, do Código
Penal, ou seja, as embarcações e aeronaves nacionais que se encontram fora do território nacional. ♦
Prostituição ♦ Outra forma de exploração sexual – v. comentários ao art. 228. ♦ Induzir é incitar,
convencer, inspirar, dar a idéia. ♦ A ameaça e as vias de fato são absorvidas pelo crime, mas as lesões
corporais e o homicídio são resolvidos em foros de concurso de crimes.♦ Entrada consiste no ingresso
completo do corpo no território nacional. Pode ser regular (com conhecimento da autoridade competente)
ou irregular (sorrateira ou fraudulentamente, sem conhecimento da autoridade). ♦ Saída consiste na
retirada completa do corpo do território nacional. Também pode ser regular ou irregular.

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Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual: Art. 231-A. Promover ou facilitar o
deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de
exploração sexual:Pena – reclusão, de 2 a 6 anos. § 1o. Incorre na mesma pena aquele que agenciar,
aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição,
transportá-la, transferi-la ou alojá-la. § 2o. A pena é aumentada da metade se: I – a vítima é menor de 18
anos; II – a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato; III – se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra
forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou IV – há emprego de violência, grave ameaça ou
fraude. § 3o. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
14

6. Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual

Tanto o sujeito ativo como sujeito passivo são comuns (qualquer pessoa,
homem ou mulher).
Sobre as elementares território nacional, prostituição, outra forma
de exploração sexual, as formas equiparadas do § 1o e as causas de
aumento do § 2o remetemos o leitor ao que foi dito nos comentários ao
artigo anterior.
O tipo exige dolo específico de agir com o fim de possibilitar que a
pessoa exerça a prostituição ou outra forma de exploração sexual, nas
condições descritas no tipo. É indiferente que a pessoa exerça efetivamente
a prostituição ou a outra forma de exploração sexual. Basta o fim de
exercê-la.
Promover é dar impulso, executar, provocar, fomentar, estimular,
patrocinar. Facilitar é retirar as barreiras ou deixar de criá-las.
Crime formal, consuma-se com as condutas descritas no tipo
(promoção, facilitação, agenciamento, aliciamento, venda, compra,
transporte, transferência ou alojamento). A tentativa será possível, sempre
que a conduta puder ser fracionada.

Anotações especiais: ♦ Espetáculos pornográficos. Face à garantia constitucional que veda censura,
entendemos fora da incidência os espetáculos e qualquer outra forma de manifestação intelectual. ♦
Pedofilia. As condutas de produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio,
cena de sexo explícito ou pornografia, envolvendo criança ou adolescente, constituem outro crime,
tipificado no art. 240, caput, da L 8.069/90 (ECA). O agenciamento, a venda, o oferecimento, a troca, a
aquisição ou posse de tal material configuram os crimes dos arts. 241 a 241-E do mesmo diploma legal.

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Art. 232. (Revogado pela Lei 12.015, de 2009)

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4) ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR


Ato obsceno: Art. 233. Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.

1. Ato obsceno

O delito consiste em praticar ato obsceno em lugar público (ruas,


praças), ou aberto ao público (cinemas, teatros), ou exposto ao público (varanda de
casa). Não é exposto ao público o lugar privado que só pode ser visto de
outro lugar privado (RT 473/360). Não importa se alguma pessoa viu, ou não,
ou se ficou chocada, ou não, com o ato. Basta ser local publicamente
visível a um número indeterminado de pessoas.
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Ato obsceno é o que fere o pudor, com a exibição do corpo, ou partes


dele, que objetivamente sejam, ou possam ser, relacionadas com o sexo,
ainda que o agente não tenha qualquer finalidade erótica. Palavras não
caracterizam o crime.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é a
coletividade (crime vago); e, secundariamente, quem presencia realmente o
ato.
O dolo pode ser direto ou eventual (assumir conscientemente o risco de ser visto).
A consumação se dá com a prática do ato. Difícil a configuração da
tentativa.

Anotações especiais: Lugar público. De acordo com classificação atribuída a Chassan, lugares
públicos por natureza são os francamente acessíveis ao público, como ruas e praças. Lugares públicos por
destinação são os abertos ao público, de acesso ocasional, controlado ou remunerado, como igrejas,
teatros, cinemas. Lugares públicos por acidente são os lugares privados eventualmente expostos ao
público, como a casa particular em que se realiza um leilão, ou recinto da mesma que seja, ou se torne,
visível ao público.

Jurisprudência classificada: É ato obsceno. Exibição de órgão sexual (RT 735/608). Micção em
via pública (RT 691/333, 763/598, 801/551), mesmo à noite, em local não iluminado (RT 517/357),
mesmo que em campanha publicitária (RT 622/288). Correr nu, “chispada” (RT 515/363). Relações
sexuais em automóvel estacionado em via pública (RT 597/328). Embriaguez. Não exime, salvo
fortuita ou de força maior (RT 587/347). Não é ato obsceno. Ato em local privado, sem visão para
número indeterminado de pessoas (RT 786/649). No quintal de casa, não exposto ao público (RT
728/609). Micção em praça pública à noite e em local discreto (RT 683/326). Exibição de revista
pornográfica (RT 658/299).

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Escrito ou objeto obsceno: Art. 234. Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim
de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer
objeto obsceno: Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos, ou multa.Parágrafo único. Incorre na mesma
pena quem: I – vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste
artigo; II – realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição
cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter; III –
realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter
obsceno.

2. Escrito ou objeto obsceno


O art. 234 traz um tipo misto ou de conteúdo variado. No mesmo
contexto, a prática de duas ou mais ações descritas no dispositivo constitui
crime único.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é o
Estado ou a coletividade (crime vago).
A consumação se dá conforme a espécie de conduta. Fazer se
consuma com o fim do processo de fabricação do objeto. Importar se
consuma com a entrada do objeto no país. Exportar se consuma com a
saída do objeto do país. Adquirir se consuma com o recebimento físico da
coisa. Ter sob sua guarda se consuma no primeiro instante em que se
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recebe a coisa (é crime permanente). Vender se consuma com o acordo sobre o


objeto e o preço, independente da tradição da coisa e do recebimento do
preço. Distribuir se consuma com o ato de despachar a coisa para o
destinatário. Expor se consuma com a exibição desimpedida do objeto (é
crime permanente). Realizar se consuma com o início da encenação ou projeção.
De regra, é admissível a tentativa sempre que a conduta puder ser
fracionada, mas não é possível tentar guardar.

2.1. Figuras assemelhadas


O parágrafo único do art. 234 acrescenta outras hipóteses de ação,
como venda dos objetos referidos no artigo, espetáculos públicos obscenos,
audição ou recitação radiofônica de caráter obsceno. É importante lembrar
que (1) a importação de revistas ou filmes pornográficos caracteriza o
crime em exame (não o crime de contrabando do art. 334 (contrabando ou
descaminho), (2) a pedofilia, com envolvimento de criança ou adolescente
caracteriza as condutas previstas no ECA (art. 240 e seguintes).
Anotações Especiais: ♦ Censura. Em função da garantia constitucional que veda qualquer espécie de
censura, entendemos que é inaplicável a incriminação no que se refere à representação teatral, à exibição
cinematográfica e qualquer outro espetáculo. As condutas de produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar
ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornografia, envolvendo criança ou adolescente,
constituem o crime do art. 240, caput, da L 8.069/90 (ECA). O agenciamento, a venda, o oferecimento, a
troca, a aquisição ou posse de tal material configuram os crimes dos arts. 241 a 241-E do mesmo diploma
legal.

Jurisprudência classificada: ♦ Configura o delito. Venda de revistas pornográficas (RT 529/367), em


banca de jornais (RT 600/367), em estabelecimento de chaveiro (RT 527/381), ainda que envelopadas em
plástico (RT 606/311); exibição de cartazes obscenos de filme cinematográfico (RT 631/380). ♦ Não
configura o delito. Venda em recinto fechado, de acesso proibido a menores de idade (RT 609/331,
617/311; contra: RT 685/311).

5) DISPOSIÇÕES GERAIS
Aumento de pena: Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada: I – (Vetado);II –
(Vetado); III – de metade, se do crime resultar gravidez; e IV – de um sexto até a metade, se o agente
transmite à vitima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador.

1. Causas de aumento de pena


Ocorrendo gravidez ou transmissão de doença sexualmente
transmissível, em razão de algum dos crimes contra a dignidade sexual, a
pena é aumentada de metade ou de um sexto até a metade, respectivamente.
O art. 234-A impõe que o agente saiba ou deveria saber ser portador da
doença sexualmente transmissível.
A expressão saiba se refere ao dolo direto ou eventual. Deveria
saber é um elemento normativo do tipo. Significa que o agente, em face da
situação em que se encontra, tem obrigação especial de cuidado exigida
17

para o ato, como, por exemplo, no relacionamento sexual forçado, onde o


agente teve uma parceira sexual anterior que faleceu acometida por uma
DST gravíssima. Mesmo que o agente não saiba estar contaminado, deve,
nas circunstâncias, adotar todas as providências necessárias para que não
transmita a outrem a doença que possa ter.
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Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de
justiça.

Art. 234-C. (Vetado).

2. Segredo de justiça
No Segredo de Justiça o direito de consultar autos e de pedir
certidões de seus atos é restrito às partes e a seus procuradores. O terceiro,
que demonstrar interesse jurídico, pode requerer ao juiz certidão do
dispositivo da sentença (art. 155 do Código de Processo Civil). O objetivo
é evitar o tanto quanto possível a dupla vitimização do sujeito passivo, com
a inconveniente e vexatória publicidade do crime sexual que sofreu.

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p. 242 da 9a edição
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B) CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA
(Modificações introduzidas pela Lei 12.012, de 6 de agosto de 2009)

Favorecimento prisional: Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada
de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em
estabelecimento prisional.Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

1. Favorecimento prisional

Trata-se de crime comum, que pode ser praticado por qualquer


pessoa. Se, porém, a conduta for praticada por agente público com dever de
impedir a entrada do aparelho (ex. diretor da penitenciária), o crime será o do art.
319-A.
O sujeito passivo é a Administração Pública, mais especificamente a
Administração Penitenciária. O tipo se satisfaz com o dolo genérico. O erro
sobre a natureza do objeto é erro de tipo, exclui o dolo e, por conseguinte, a
própria conduta típica.
Ingressar é entrar trazendo junto o aparelho. Promover é fomentar,
trabalhar para que algo ocorra, excitar, estimular. Intermediar é se
intrometer na operação, fazer papel de corretor, aproximando os
interessados. Auxiliar é ajudar de qualquer forma. Facilitar é retirar
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empecilho. Na forma ingressar, o crime é material e se consuma com a


efetiva entrada do aparelho no estabelecimento. Nos demais, o crime é
formal e se aperfeiçoa já com qualquer ato de planejamento ou incitação,
de ajuda, corretagem ou retirada de dificuldade. A tentativa é plenamente
viável (ex. adentrar o estabelecimento com algum componente, para montagem posterior do aparelho).
O aparelho citado no tipo é todo aparato eletrônico que sirva para
comunicação (pessoal ou geral) e que possa ser transportado comodamente:
radiocomunicador, telefone celular, pagers, Ipods, wireless, computador,
etc. Sem autorização legal é o elemento normativo do tipo e se refere à
falta de permissão da diretoria do estabelecimento ou da autoridade policial
ou judicial (ex. um agente infiltrado pode ser autorizado a ingressar com tal aparelho na
penitenciária). Estabelecimento prisional é a penitenciária, a colônia agrícola,
industrial ou similar, o centro de observação, o hospital de tratamento e
custódia e a cadeia pública (arts.87 a 104 da L 7.210/84).

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