Você está na página 1de 30

TERCEIRA SEMANA

Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

ARISTÓTELES pintura, escultura, poesia, teatro, oratória, arte da


guerra, da caça, da navegação, etc. Em suma, são objeto
Juntamente com das ciências produtivas todas as atividades humanas
Platão, Aristóteles (384 – técnicas e artísticas que resultam num produto ou numa
322 a. C.) é a grande obra distintos do produtor.
referência da filosofia grega Ciências práticas: ciências que estudam as
antiga que vai influenciar na práticas humanas que têm seu fim nelas mesmas. Em
construção do mundo outras palavras, aquelas em que a finalidade da ação é
ocidental. Dante Alighieri ela mesma, e não há distinção entre o agente e o ato que
dizia que ele foi o mestre ele realiza. São elas: ética, em que a vontade guiada pela
dos mestres, e São Tomaz razão leva à ação conforme as virtudes morais
de Aquino se referia a ele (coragem, generosidade, fidelidade, lealdade, clemência,
como “o” filósofo. prudência, amizade, justiça, modéstia, honradez, etc.),
tendo como finalidade o bem do indivíduo; e política,
Ele foi o pensador que analisou todo o
em que a ação racional voluntária tem como fim o bem
pensamento grego e o melhorou; escreveu sobre quase
da comunidade ou o bem comum.
tudo, de metafísica à biologia. Em resumo, ele foi “o
Ciências teoréticas ou contemplativas: são
cara”. Por isso, devemos estudar Aristóteles como o
aquelas que estudam coisas que existem
porta-voz dos gregos instruídos, pois era assim que ele
independentemente dos homens e de suas ações e que,
se considerava.
não tendo sido feitas pelos homens, podem apenas ser
Apesar de ter sido um dos maiores pensadores contempladas por eles. O que são as coisas que existem
que Atenas produziu, ele era um meteco, e como tal, por si mesmas e em si mesmas, independentemente de
sem direitos políticos. De Estagira, na Macedônia, nossa ação técnica e de nossa ação moral e política?
Aristóteles sai aos 18 anos para estudar na Academia de São as coisas da natureza e as coisas divinas.
Platão em Atenas. Isso, provavelmente, uns 10 anos Aristóteles, aqui, classifica as ciências teoréticas por
antes do domínio macedônico sobre a Grécia. Com graus de superioridade, indo da mais inferior à superior:
uma mente notável, permanece por lá durante 20 anos 1. ciência das coisas naturais submetidas à
até a morte de Platão. mudança ou ao devir: física, biologia, meteorologia,
psicologia (a alma – em grego, psyché – é um ser natural
Após a morte do mestre, a quem Aristóteles era que existe de formas variadas em todos os seres vivos,
muito amigo e admirador, não vê mais motivos de plantas, animais e seres humanos);
continuar na academia e sai de Atenas para viajar por 2. ciência das coisas naturais que não estão
um bom tempo. submetidas à mudança ou ao devir: as matemáticas e a
astronomia (os gregos julgavam que os astros eram
Em 335 a. c., o rei Felipe II o chama para morar eternos e imutáveis);
em Pela, capital do império macedônico, e ser professor 3. ciência da realidade pura, que estuda o que
de seu filho Alexandre, condição na qual permaneceu Aristóteles chama de Ser ou substância de tudo o que
até este assumir o poder. Essa proximidade com a corte existe. Ou seja, trata-se daquilo que deve haver em toda
macedônica se dava pelo fato de Nicômaco, seu pai, ter e qualquer realidade – natural, matemática, ética,
sido o médico do rei Amintas, pai de Felipe. política ou técnica – para ser realidade. A ciência
teorética que estuda o puro Ser foi chamada Filosofia
Aristóteles se diferenciava de Platão em três
aspectos gerais: Primeira por Aristóteles. Alguns séculos depois, como
os livros que a expunham estavam localizados nas
1) O abandono do componente mítico; bibliotecas depois dos livros que expunham a física, ela
2) O escasso interesse pelas ciências passou a ser chamada metafísica (em grego, meta
matemáticas e, ao contrário, a viva atenção significa ‘o que vem depois, o que está além’; ou seja,
pelas ciências naturais; no caso, os livros que vinham depois da física e que
3) O método sistemático em vez do dialético- tratavam da realidade para além da física);
dialógico; 4. ciência das coisas divinas que são a causa e a
finalidade de tudo o que existe na natureza e no homem.
Aristóteles foi um grande pensador sistemático,
que dividiu os saberes em:
1. O CONHECIMENTO
Ciências produtivas/poéticas: ciências que
estudam as práticas produtivas ou as técnicas, isto é, as Vimos que Heráclito considerava a natureza (o
ações humanas que visam à produção de um objeto, de kosmos) um “fluxo perpétuo”, o escoamento contínuo
uma obra. São elas: arquitetura, economia, medicina, dos seres em mudança perpétua.

1
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

Ele comparava o mundo à chama de uma vela sobre nós. O conhecimento sensorial é verdadeiro,
que queima sem cessar e transforma a cera em fogo, o embora seja de uma verdade diferente e menos
fogo em fumaça e a fumaça em ar. O verão se torna profunda ou menos relevante do que aquela alcançada
outono, o novo fica velho, o quente esfria, o úmido pelo puro pensamento.
seca; cada ser é um movimento em direção ao seu O pensamento parece seguir certas leis para
contrário. conhecer as coisas e há uma diferença entre perceber e
A realidade, para Heráclito, é a harmonia dos pensar. Pensamos com base no que percebemos ou
contrários, que não cessam de se transformar uns nos negando o que percebemos? O pensamento continua,
outros. Se assim for, como explicar que nossa nega ou corrige a percepção? O modo como os seres
percepção nos ofereça as coisas como se fossem nos aparecem é o modo como eles realmente são?
estáveis, duradouras e permanentes? Com essa O problema sobre o conhecimento estava posto
pergunta, ele indicava a diferença entre o conhecimento e preocupações como essas levaram a duas atitudes
que nossos sentidos nos oferecem e o conhecimento filosóficas: a dos sofistas e a de Sócrates. Com eles, os
que nosso pensamento alcança: o primeiro nos oferece problemas do conhecimento tornaram-se centrais.
a permanência ilusória, enquanto o segundo conhece a Diante da pluralidade das ontologias anteriores,
mudança como verdadeira realidade. os sofistas concluíram que não podemos conhecer o
Parmênides, porém, opunha-se a Heráclito, ser, pois, se pudéssemos, pensaríamos da mesma
afirmando que só podemos pensar sobre aquilo que maneira e haveria uma única filosofia.
permanece sempre idêntico a si mesmo. Para ele, se Consequentemente, só podemos ter opiniões subjetivas
nada permanece, então nada pode ser pensado. sobre a realidade.
Conhecer é alcançar o idêntico, o imutável. Por isso, os homens devem valer-se de um
Nossos sentidos nos oferecem a imagem de um mundo instrumento – a linguagem – para persuadir os outros
em incessante mudança, no qual tudo se torna o de suas próprias ideias e opiniões. A verdade é uma
contrário de si mesmo: o dia vira noite, o inverno vira questão de opinião e de persuasão, e a linguagem é mais
primavera, o doce se torna amargo, o líquido se importante do que a percepção e o pensamento.
transforma em vapor ou em sólido. Opondo-se aos sofistas, Sócrates afirmava que
Como pensar o que é e não é ao mesmo tempo? a verdade pode ser conhecida quando compreendemos
Como pensar o instável? Não é possível, dizia que precisamos começar afastando as ilusões dos
Parmênides. sentidos, as imposições das palavras e a multiplicidade
Pensar é apreender um ser em sua identidade das opiniões.
profunda e permanente. Com isso, afirmava o mesmo Os órgãos dos sentidos, diz Sócrates, dão-nos
que Heráclito – perceber e pensar são diferentes –, mas somente as aparências das coisas, e as palavras, meras
dizia isso em sentido oposto: nossos sentidos percebem opiniões sobre elas. A aparência e a opinião variam de
mudanças impensáveis, mas o pensamento conhece a pessoa para pessoa e em um mesmo indivíduo. Mas não
realidade, isto é, a identidade e a imutabilidade. só variam: também se contradizem.
A distinção entre perceber e pensar é mantida Conhecer é começar a examinar as contradições
também pela filosofia atomista ou o atomismo das aparências e das opiniões para poder abandoná-las
proposto por Demócrito de Abdera. Para ele, os seres e passar da aparência à essência, da opinião ao conceito.
surgem por composição dos átomos, transformam-se O exame das opiniões é aquele procedimento que
por novos arranjos e desaparecem pela separação deles. Sócrates chamava ironia, com o qual o filósofo
Os átomos possuem formas e consistências conseguia que seus interlocutores reconhecessem que
diferentes, de cuja combinação surge a variedade de não sabiam o que imaginavam saber.
seres, suas mudanças e desaparições. Por meio de Sócrates fez a filosofia voltar-se para nossa
nossos órgãos dos sentidos, percebemos o quente e o capacidade de conhecer e indagar as causas das ilusões,
frio, o grande e o pequeno, o duro e o mole, sabores, dos erros, do falso e da mentira.
odores, texturas, o agradável e o desagradável, sentimos Platão e Aristóteles herdaram de Sócrates o
prazer e dor, porque percebemos os efeitos das procedimento filosófico de começar a abordar uma
combinações dos átomos que, em si mesmos, não questão pela discussão e pelo debate das opiniões
possuem tais qualidades. contrárias sobre ela a fim de superá-las num saber
Somente o pensamento pode conhecer os verdadeiro. Além disso, passaram a definir as formas de
átomos, que são invisíveis para nossa percepção conhecer e as diferenças entre o conhecimento
sensorial. Dessa maneira, Demócrito concordava com verdadeiro e a ilusão, introduzindo na filosofia a ideia
Heráclito e Parmênides que há uma diferença entre o de que existem diferentes maneiras de conhecer.
que conhecemos por meio de nossa percepção e o que Platão distingue quatro formas ou graus de
conhecemos apenas pelo pensamento. Porém, conhecimento, que vão do grau inferior ao superior:
divergindo deles, Demócrito não considerava a crença, opinião, raciocínio e intuição intelectual. Os
percepção ilusória, mas sim um efeito da realidade
2
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

dois primeiros formam o que ele chama conhecimento internos ou mentais que dependem ou dependeram de
sensível; os dois últimos, o conhecimento inteligível. nosso contato sensorial com as coisas: lembranças,
A crença é nossa confiança no conhecimento desejos, sentimentos, imagens.
sensorial: cremos que as coisas são tal como as A intuição sensível ou empírica é psicológica,
percebemos. A opinião é nossa aceitação do que nos isto é, refere-se aos estados do sujeito do conhecimento
ensinaram sobre as coisas ou o que delas pensamos como ser corporal e psíquico individual. Sensações,
conforme nossas sensações e lembranças. Esses dois lembranças, imagens, sentimentos, desejos e
primeiros graus nos oferecem apenas a aparência das percepções variam de pessoa para pessoa e numa
coisas ou suas imagens e correspondem à situação dos mesma pessoa em decorrência de mudanças em seu
prisioneiros do Mito da Caverna. Por serem ilusórios, corpo, em sua mente ou nas circunstâncias em que o
devem ser afastados por quem busca o conhecimento conhecimento ocorre.
verdadeiro; portanto, somente os dois últimos graus Assim, a marca da intuição empírica é sua
devem ser considerados válidos. singularidade; por um lado, está ligada à singularidade
O raciocínio exercita nosso pensamento, do objeto intuído (ao “isto” oferecido à sensação e à
purifica-o das sensações e opiniões e o prepara para a percepção) e, por outro, à singularidade do sujeito que
intuição intelectual, que conhece a essência das coisas, intui (aos meus estados psíquicos, às minhas
o que Platão denomina ideia. As ideias são a realidade experiências). A intuição empírica não capta o objeto
verdadeira e conhecê-las é ter o conhecimento em sua universalidade, e a experiência intuitiva não é
verdadeiro. A ironia e a maiêutica socráticas são transferível para outro objeto.
transformadas por Platão no procedimento da dialética. A intuição intelectual difere da sensível
A finalidade do percurso dialético é chegar à intuição justamente por sua universalidade e necessidade.
intelectual de uma essência ou ideia. Quando penso: “Uma coisa não pode ser e não ser ao
Aqui precisamos deixar claro que uma intuição mesmo tempo”, sei, sem necessidade de
é uma compreensão completa e imediata de um objeto, demonstrações, que isto é verdade e que é necessário
de um fato. Nela, de uma só vez, a razão capta todas as que seja sempre assim, ou que é impossível que não seja
relações que constituem a realidade e a verdade da coisa sempre assim. Em outras palavras, tenho conhecimento
intuída. É um ato intelectual de discernimento e intuitivo do princípio da contradição.
compreensão, sem necessidade de provas ou Quando afirmo: “O todo é maior do que as
demonstrações para saber o que conhece. partes”, sei, sem necessidade de provas e
Ela pode depender de conhecimentos demonstrações, que isto é verdade porque intuo uma
anteriores e ela ocorre quando esses conhecimentos são forma necessária de relação entre as coisas.
percebidos de uma só vez, numa síntese em que Diante de todos esses posicionamentos sobre o
aparecem articulados e organizados num todo (sua conhecimento e a forma que conhecemos, Aristóteles
forma, seu conteúdo, suas causas, suas propriedades, distingue sete formas ou graus de conhecimento:
seus efeitos, suas relações com outros, seu sentido).
Isso significa que a intuição pode ser o 1 - sensação,
momento final de um processo de conhecimento. E 2 - percepção,
justamente por ser o momento de conclusão de um 3 - imaginação,
percurso, ela pode ser o ponto inicial de um novo 4 - memória,
percurso de conhecimento em cujo ponto final haverá 5 - linguagem,
uma nova intuição. 6 – raciocínio,
A intuição racional pode ser de dois tipos: 7 - intuição.
intuição sensível ou empírica e intuição intelectual.
A primeira é o conhecimento que temos a todo Enquanto Platão concebia o conhecimento
momento de nossa vida. Assim, com um só olhar ou como abandono de um grau inferior por um superior,
num só ato de visão percebemos uma casa, um homem, Aristóteles o considerava continuamente formado e
uma mulher, uma flor, uma mesa. enriquecido por acúmulo das informações trazidas por
Num só ato, por exemplo, capto que isto é uma todos os graus. Desse modo, em lugar de uma ruptura
flor: vejo sua cor e suas pétalas, sinto a maciez de sua entre o conhecimento sensível e o intelectual, há uma
textura, aspiro seu perfume, tenho-a por inteiro e de continuidade entre eles.
uma só vez diante de mim. As informações trazidas pelas sensações se
A intuição empírica é o conhecimento direto e organizam e permitem a percepção. As percepções, por
imediato das qualidades do objeto externo sua vez, organizam-se e permitem a imaginação. Juntas,
denominadas qualidades sensíveis: cor, sabor, odor, conduzem à memória, à linguagem e ao raciocínio.
paladar, som, textura. É a percepção direta de formas, Aristóteles concebe, porém, uma separação
dimensões, distâncias das coisas percebidas. É também entre os seis primeiros graus e a intuição intelectual, que
o conhecimento direto e imediato de nossos estados
3
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

é um ato do pensamento puro e não depende dos graus Considera desnecessário separar a realidade e a
anteriores. aparência em dois mundos (há um único mundo no
A intuição intelectual é o conhecimento direto qual existem essências e aparência) e não aceita que a
e imediato dos princípios da razão, os quais, por serem mudança ou o devir seja mera aparência ilusória.
princípios, não podem ser demonstrados (para Há seres cuja essência é mutável e há seres cuja
demonstrá-los, precisaríamos de outros princípios e, essência é imutável. Porém, Heráclito errou ao supor
para demonstrar estes outros princípios, precisaríamos que a mudança se realiza sob a forma da contradição,
de outros, num processo interminável). isto é, que as coisas se transformam nos seus opostos.
Essa separação não significa que os outros graus A mudança ou transformação é a maneira pela
ofereçam conhecimentos ilusórios ou falsos, e sim que qual as coisas realizam todas as potencialidades contidas
oferecem tipos de conhecimentos diferentes, que vão em sua essência, e esta não é contraditória, mas uma
de um grau menor a um grau maior de verdade. identidade que o pensamento pode conhecer.
Em cada um deles temos acesso a um aspecto Assim, por exemplo, quando a criança se torna
do ser ou da realidade; na intuição intelectual, temos o adulta ou quando a semente se torna árvore, nenhuma
conhecimento dos princípios universais e necessários delas tornou-se contrária a si mesma, mas desenvolveu
do pensamento (identidade, não contradição, terceiro uma potencialidade definida pela identidade própria de
excluído) e dos primeiros princípios e causas da sua essência.
realidade ou do ser. Cabe à filosofia conhecer como e por que as
A diferença entre os seis primeiros graus e o coisas, sem mudarem de essência, transformam-se,
último decorre da diferença do objeto do assim como cabe à filosofia conhecer como e por que
conhecimento: os seis primeiros graus conhecem há seres imutáveis (como as entidades matemáticas e as
objetos que se oferecem a nós na sensação, na divinas).
imaginação, no raciocínio, enquanto o sétimo lida com Parmênides tem razão: o pensamento e a
princípios e causas primeiras da realidade em si. linguagem exigem a identidade. Heráclito tem razão: as
Em outras palavras, nos outros graus, o coisas mudam. Ambos se enganaram ao supor que deve
conhecimento é obtido por indução ou por dedução, haver somente identidade ou somente mudança.
mas no último grau conhecemos o que é Ambas existem sem que seja preciso dividir a realidade
indemonstrável (princípios e causas primeiras) porque é em dois mundos, à maneira platônica.
condição para todas as demonstrações e raciocínios. Aristóteles considera que a dialética não é um
procedimento seguro para o pensamento e a linguagem
da filosofia e da ciência, pois parte de opiniões
2. A LÓGICA contrárias dos debatedores, e a escolha de uma opinião
em vez de outra não garante que se possa chegar à
Vimos que Aristóteles propôs a primeira
essência da coisa investigada. A dialética, diz
classificação geral dos conhecimentos ou das ciências
Aristóteles, é boa para as disputas oratórias da política
dividindo-as em três tipos: teoréticas (ou
e do teatro, para a retórica, para os assuntos sobre os
contemplativas), práticas (ou da ação humana) e
quais só existem opiniões e nos quais só cabe a
produtivas (ou relativas à fabricação e às técnicas).
persuasão. Não é o caso da filosofia e da ciência, porque
Todos os saberes referentes a todos os seres,
a estas interessa a demonstração ou a prova de uma
todas as ações e produções humanas encontravam-se
verdade.
distribuídos nessa classificação que ia da ciência mais
Substituindo a dialética por um conjunto de
alta — a Filosofia Primeira — até o conhecimento das
procedimentos de demonstração e prova, Aristóteles
técnicas criadas pelos homens para a fabricação de
criou a lógica propriamente dita, que ele chamava de
objetos.
analítica.
Mas nessa classificação não encontramos a
Qual a diferença entre a dialética platônica e a
lógica. Isso por que a lógica não era nem uma ciência
lógica (ou analítica) aristotélica?
teorética, nem prática, nem produtiva, mas um
Em primeiro lugar, a dialética platônica é o
instrumento para as ciências, ordenado por um
exercício direto do pensamento e da linguagem, um
conjunto de regras. É a maneira certa de raciocinarmos
modo de pensar que opera com os conteúdos do
para podermos produzir um conhecimento certo e
pensamento e do discurso. A lógica aristotélica é um
seguro. Desse modo, depois de definir como pensar, ele
instrumento para o exercício do pensamento e da
se volta para as questões centrais da Filosofia de seu
linguagem: ela oferece os meios para realizar o
tempo.
conhecimento e o discurso.
Assim, à oposição entre contradição-mudança
Para Platão, a dialética é um modo de conhecer.
(Heráclito) e identidade-permanência (Parmênides) dos
Para Aristóteles, a lógica (ou analítica) é um
seres, Aristóteles apresenta uma terceira via diferente da
instrumento para o conhecer.
escolhida por Platão e radicalmente nova.

4
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

Em segundo lugar, a dialética platônica é uma A proposição


atividade intelectual destinada a trabalhar contrários e Uma proposição é constituída por elementos
contradições para superá-los, chegando à identidade da que são seus termos.
essência ou da ideia imutável. Depurando e purificando Aristóteles define os termos ou categorias como
as opiniões contrárias, a dialética platônica chega ao que “aquilo que serve para designar uma coisa”. São
é verdadeiro para todas as inteligências. palavras que aparecem em tudo quanto pensamos e
Já a lógica aristotélica oferece procedimentos a dizemos.
serem empregados naqueles raciocínios que se referem Há dez categorias ou termos:
a todas as coisas das quais possamos ter um 1. substância (por exemplo, homem, Sócrates, animal);
conhecimento universal e necessário. Seu ponto de 2. quantidade (por exemplo, dois metros de
partida não são opiniões contrárias, mas princípios, comprimento);
regras e leis necessários e universais do pensamento. 3. qualidade (por exemplo, branco, grego, agradável);
4. relação (por exemplo, o dobro, a metade, maior que);
Principais características 5. lugar (por exemplo, em casa, na rua, no alto);
A palavra grega Órganon (‘instrumento’), nome 6. tempo (por exemplo, ontem, hoje, agora);
dado por estudiosos ao conjunto das obras sobre lógica 7. posição (por exemplo, sentado, deitado, de pé);
escritas por Aristóteles, condiz com a própria 8. posse (por exemplo, armado, isto é, na posse de uma
concepção que ele tinha do uso desse conhecimento, arma);
caracterizado por ser: 9. ação (por exemplo, corta, fere, derrama);
Instrumental: é o instrumento do pensamento 10. paixão ou passividade (por exemplo, está cortado,
e da linguagem para pensar e dizer corretamente a fim está ferido).
de verificar a correção do que está sendo pensado e As categorias ou termos indicam o que uma
dito; coisa é ou faz, ou como está. São aquilo que nossa
Formal: não se ocupa com os conteúdos percepção e nosso pensamento captam imediata e
pensados ou com os objetos referidos pelo diretamente numa coisa, sem precisar de nenhuma
pensamento, mas apenas com a forma pura e geral dos demonstração, pois nos dão a apreensão direta de uma
pensamentos, expressos por meio da linguagem; entidade simples. Possuem duas propriedades lógicas: a
Propedêutica ou preliminar: é o que devemos extensão e a compreensão.
conhecer antes de iniciar uma investigação científica ou Extensão é o conjunto de objetos designados
filosófica, pois somente ela pode indicar os por um termo ou uma categoria. Compreensão é o
procedimentos (métodos, raciocínios, demonstrações) conjunto de propriedades que esse mesmo termo ou
que devemos empregar para cada modalidade de essa categoria designa.
conhecimento; Por exemplo: uso a palavra homem para
Normativa: fornece princípios, leis, regras e designar Pedro, Paulo, Sócrates, e uso a palavra metal
normas que todo pensamento deve seguir se quiser ser para designar ouro, ferro, prata, cobre. A extensão do
verdadeiro; termo homem será o conjunto de todos os seres que
Doutrina da prova: estabelece as condições e podem ser designados por ele e que podem ser
os fundamentos necessários de todas as demonstrações. chamados de homens; a extensão do termo metal será
Dada uma hipótese, permite verificar as consequências o conjunto de todos os seres que podem ser designados
necessárias que dela decorrem; dada uma conclusão, como metais. Se, no entanto, tomarmos o termo
permite verificar se é verdadeira ou falsa; homem e dissermos que é um animal, vertebrado,
Geral e atemporal: as formas do pensamento, mamífero, bípede, mortal e racional, essas qualidades
seus princípios e suas leis não dependem do tempo e do formam sua compreensão. Se tomarmos o termo metal
lugar, nem das pessoas e circunstâncias, mas são e dissermos que é um bom condutor de calor, reflete a
universais, necessárias e imutáveis. luz, etc., teremos a compreensão desse termo.
O objeto da lógica é a proposição, que exprime, Quanto maior a extensão de um termo, menor
por meio da linguagem, os juízos formulados pelo sua compreensão, e quanto maior a compreensão,
pensamento. menor a extensão. Tomemos, por exemplo, o termo
A proposição é a atribuição de um predicado a Sócrates: sua extensão é a menor possível, pois se refere
um sujeito: S é P. O encadeamento dos juízos constitui a um único ser; no entanto, sua compreensão é a maior
o raciocínio e este se exprime logicamente por meio da possível, pois possui todas as propriedades do termo
conexão de proposições; essa conexão chama-se homem e mais suas propriedades específicas na
silogismo. A lógica estuda os elementos que constituem qualidade de uma pessoa determinada. Essa distinção
uma proposição, os tipos de proposições e de permite classificar os termos ou categorias em três
silogismos e os princípios necessários a que toda tipos:
proposição e todo silogismo devem obedecer para 1. gênero: extensão maior, compreensão
serem verdadeiros. menor. Exemplo: animal;
5
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

2. espécie: extensão média e compreensão Necessárias: quando o predicado está incluído


média. Exemplo: homem; na essência do sujeito, fazendo parte dela. Por exemplo:
3. indivíduo: extensão menor, compreensão “Todo triângulo é uma figura de três lados”, “Todo
maior. Exemplo: Sócrates. homem é mortal”;
Na proposição, a categoria da substância é o Impossíveis: quando o predicado não pode, de
sujeito (S) e as demais categorias são os predicados (P) modo algum, ser atribuído ao sujeito. Por exemplo:
atribuídos ao sujeito. A atribuição ou predicação se faz “Nenhum triângulo é figura de quatro lados”,
por meio do verbo de ligação ser. Exemplo: Pedro é “Nenhum planeta é um astro com luz própria”;
alto. Possíveis: quando o predicado pode ser ou
A proposição reúne ou separa verbalmente o deixar de ser atribuído ao sujeito. Por exemplo: “Alguns
que o juízo reuniu ou separou mentalmente. A reunião triângulos são dotados de lados iguais”, “Alguns
de termos se faz pela afirmação: S é P. A separação se homens são justos”.
faz pela negação: S não é P. A reunião ou separação dos Como todo pensamento e todo juízo, a
termos é considerada verdadeira ou recebe a proposição está submetida aos três princípios lógicos
denominação de verdade quando o que foi reunido ou fundamentais, condições de toda verdade: os princípios
separado em pensamento e na linguagem está de identidade, de não contradição e de terceiro excluído.
efetivamente reunido ou separado na realidade. Em Princípio da identidade cujo enunciado pode
contrapartida, a reunião ou separação dos termos é parecer surpreendente: “A é A” ou “O que é, é”. O
considerada falsa ou recebe a denominação de falsidade princípio da identidade é a condição do pensamento e
quando o que foi reunido ou separado em pensamento sem ele não podemos pensar. Ele afirma que uma coisa,
e na linguagem não está efetivamente reunido ou seja ela qual for, só pode ser conhecida e pensada se for
separado na realidade. percebida e conservada com sua identidade. Esse
Do ponto de vista do sujeito, há dois tipos de princípio, cujo enunciado parece absurdo (achamos
proposições: óbvio que uma coisa seja idêntica a si mesma), é usado
1. proposição existencial: declara a existência, por nossa sociedade sem que percebamos. Onde é
posição, ação ou paixão do sujeito. Por exemplo: “Um usado? Na chamada “carteira de identidade” (o nosso
homem é (existe)”, “Um homem anda”, “Um homem RG), por exemplo, com a qual se afirma e se garante
está ferido”. E suas negativas: “Um homem não é (não que “A é A”.
existe)”, “Um homem não anda”, “Um homem não O princípio da identidade é a condição para
está ferido”; definirmos as coisas e podermos conhecê-las com base
2. proposição predicativa: declara a atribuição em suas definições. Por exemplo, depois que a
de alguma coisa a um sujeito por meio do verbo de matemática determinou a identidade do triângulo como
ligação é. Por exemplo: “Um homem é justo”, “Um figura de três lados e de três ângulos internos cuja soma
homem não é justo”. é igual à soma de dois ângulos retos, nenhuma outra
As proposições se classificam segundo a figura a não ser esta poderá ser denominada triângulo.
qualidade e a quantidade. Do ponto de vista da Princípio da não contradição (também
qualidade, as proposições se dividem em: conhecido como princípio da contradição), cujo
Afirmativas: as que atribuem alguma coisa a enunciado é “A é A e é impossível que seja, ao mesmo
um sujeito: S é P. tempo e na mesma relação, não A”.
Negativas: as que separam o sujeito de alguma Assim, é impossível que a árvore que está diante
coisa: S não é P. de mim seja e não seja, ao mesmo tempo, uma árvore;
Do ponto de vista da quantidade, as que o homem seja e não seja, ao mesmo tempo, mortal;
proposições se dividem em: que o vermelho seja e não seja, ao mesmo tempo,
Universais: quando o predicado se refere à vermelho, etc.
extensão total do sujeito, afirmativamente (Todos os S Sem o princípio da não contradição, o princípio
são P) ou negativamente (Nenhum S é P); da identidade não poderia funcionar. Se uma coisa ou
Particulares: quando o predicado é atribuído a uma ideia se negarem a si mesmas, elas se autodestroem.
uma parte da extensão do sujeito, afirmativamente Eis por que o princípio enuncia que as coisas e
(Alguns S são P) ou negativamente (Alguns S não são as ideias contraditórias são impensáveis e impossíveis.
P); Devemos, porém, estar atentos às duas condições no
Singulares: quando o predicado é atribuído a enunciado desse princípio nas quais há contradição.
um único indivíduo, afirmativamente (Este S é P) ou De fato, o princípio enuncia que é impossível
negativamente (Este S não é P). afirmar e negar a mesma coisa a respeito de algo ao
Além da distinção pela qualidade e pela mesmo tempo e na mesma relação. Por que essas duas
quantidade, as proposições se distinguem pela condições? Porque há coisas que podem mudar no
modalidade, sendo classificadas como: correr de suas existências ou no correr do tempo, de tal
maneira que poderão tornar-se diferentes do que eram
6
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

e até mesmo opostas ao que eram sem que isso mesmo sujeito e predicado, ou quando uma universal
signifique contradição. Por exemplo, é contraditório negativa subordina uma particular negativa de mesmo
que, aqui e agora (nesta relação e neste tempo), uma sujeito e predicado. Por exemplo: “Todos os seres
criança seja e não seja criança; porém, não será humanos são bípedes” e “Os gregos são bípedes”.
contraditório dizer que esta criança é, agora, uma
criança e não será uma criança, quando crescer. Ou seja, O silogismo
num outro tempo e sob outra relação, a mudança de Aristóteles elaborou uma teoria do raciocínio
alguém ou de alguma coisa não é contraditória. como inferência. Inferir é obter uma proposição como
As duas condições para que haja contradição conclusão de uma ou de várias outras proposições que
indicam também que as coisas que não estão a antecedem e são sua explicação ou sua causa. O
submetidas ao tempo ou que não são temporais, raciocínio realiza inferências.
justamente porque não mudam ou não se transformam, O raciocínio é uma operação do pensamento
são aquelas para as quais o princípio de não contradição realizada por meio de juízos. Quando o raciocínio é
opera sempre da mesma maneira. Assim, será sempre enunciado por meio de proposições encadeadas, forma-
contraditório dizer que a figura geométrica triângulo é, se um silogismo.
ao mesmo tempo e na mesma relação, triângulo e não Inferir significa conhecer alguma coisa (a
triângulo, embora uma caixa de papelão triangular possa conclusão) pela mediação de outras coisas. Portanto, o
perder essa forma com o correr do tempo ou com uma raciocínio e o silogismo diferem da intuição, que, é um
intervenção humana. O triângulo geométrico não conhecimento direto ou imediato de alguma coisa ou de
muda; uma caixa triangular de papelão pode mudar de alguma verdade.
forma (por exemplo, se ficar sob a água, vira uma pasta). A teoria aristotélica do silogismo é o coração da
Princípio do terceiro excluído, cujo lógica. Ela constitui a teoria das demonstrações ou das
enunciado é: “Ou A é x ou não é x, e não há terceira provas, da qual depende o pensamento científico e
possibilidade”. Por exemplo: “Ou este homem é filosófico.
Sócrates ou não é Sócrates”; “Ou faremos a guerra ou O silogismo possui três características
faremos a paz”. Este princípio define a decisão de um principais:
dilema – “ou isto ou aquilo” –, no qual as duas 1. é mediato: exige um percurso de
alternativas são possíveis, e a solução exige que apenas pensamento e de linguagem para que se chegue a uma
uma delas seja verdadeira. Mesmo quando temos um conclusão;
teste de múltipla escolha, escolhemos na verdade 2. é demonstrativo (dedutivo ou indutivo): é
apenas entre duas opções – “ou está certo ou está um movimento de pensamento e de linguagem que
errado” –, e não há terceira possibilidade. parte de certas afirmações verdadeiras para chegar a
Graças a esses princípios, obtemos a última outras também verdadeiras e que dependem
maneira pela qual as proposições se distinguem. necessariamente das primeiras;
Trata-se da classificação das proposições 3. é necessário: porque é demonstrativo (as
segundo a relação: consequências a que se chega na conclusão resultam
Contraditórias: quando, tendo o mesmo necessariamente da verdade do ponto de partida).
sujeito e o mesmo predicado, uma das proposições é Por isso, Aristóteles considera o silogismo que
universal afirmativa (Todos os S são P) e a outra é parte de proposições apodíticas superior ao que parte
particular negativa (Alguns S não são P); ou quando se de proposições hipotéticas ou possíveis, designando-o
tem uma universal negativa (Nenhum S é P) e uma ostensivo, pois mostra claramente a relação necessária
particular afirmativa (Alguns S são P). Por exemplo: e verdadeira entre o ponto de partida e a conclusão. O
“Todos os homens são mortais” e “Alguns homens não exemplo mais famoso de silogismo ostensivo é:
são mortais”. Ou então: “Nenhum homem é imortal” e
“Alguns homens são imortais”; “Todos os homens são mortais.
Contrárias: quando, tendo o mesmo sujeito e o Sócrates é homem.
mesmo predicado, uma das proposições é universal Logo, Sócrates é mortal.”
afirmativa (Todo S é P) e a outra é universal negativa
(Nenhum S é P); ou quando uma das proposições é Um silogismo é constituído por três
particular afirmativa (Alguns S são P) e a outra é proposições. A primeira é chamada premissa maior (no
particular negativa (Alguns S não são P). Por exemplo: nosso exemplo, “Todos os homens são mortais”); a
“Todas as estrelas são astros com luz própria” e segunda, premissa menor (no nosso exemplo, “Sócrates
“Nenhuma estrela é um astro com luz própria”. Ou é homem”); e a terceira, conclusão (no nosso exemplo,
então: “Alguns homens são justos” e “Alguns homens “Sócrates é mortal”).
não são justos”; A conclusão é inferida das premissas pela
Subalternas: quando uma proposição universal mediação do chamado termo médio (no nosso
afirmativa subordina uma particular afirmativa de exemplo, o termo médio é “homem”). As premissas
7
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

possuem termos denominados extremos; há um menor. Por exemplo, se eu disser “Os cearenses são
extremo maior (no nosso exemplo, “mortais”) e um brasileiros” e “Os sulistas são brasileiros”, não poderei
extremo menor (no nosso exemplo, “Sócrates”), e a tirar conclusão alguma, pois o termo médio
função do termo médio é liga-los. “brasileiros” não foi tomado nenhuma vez no todo de
Essa ligação é a inferência, e sem ela não há sua extensão.
raciocínio nem demonstração. Por isso, a arte do 3. Nenhum termo pode ser mais extenso na
silogismo consiste em saber encontrar o termo médio conclusão do que nas premissas, pois, nesse caso,
que ligará os extremos e permitirá chegar à conclusão. concluiremos mais do que seria permitido. Isso significa
Aristóteles dizia que em toda ciência, afora o que uma das premissas sempre deverá ser universal
conhecimento intuitivo de seus princípios necessários, (afirmativa ou negativa).
o ponto mais importante era o conhecimento dos 4. A conclusão não pode conter o termo médio,
termos médios, porque eram estes que permitiam pois a função deste se esgota na ligação entre o maior e
encadear as premissas à conclusão, isto é, articular uma o menor.
afirmação ou negação particular às suas condições 5. De duas premissas negativas nada pode ser
universais. concluído, pois o médio não terá ligado os extremos.
Para que se chegue a uma conclusão verdadeira, 6. De duas premissas particulares nada poderá
o silogismo deve obedecer a um conjunto complexo de ser concluído, pois o médio não terá sido tomado em
regras. Dessas regras, apresentaremos as mais toda a sua extensão pelo menos uma vez e não poderá
importantes, tomando como referência o silogismo ligar o maior e o menor.
clássico que oferecemos anteriormente: 7. Duas premissas afirmativas devem ter a
A premissa maior deve conter o termo conclusão afirmativa, o que é evidente por si mesmo.
extremo maior (no caso, “mortais”) e o termo médio 8. A conclusão sempre acompanha a parte mais
(no caso, “homens”); fraca. Isto é, se houver uma premissa negativa, a
A premissa menor deve conter o termo conclusão será negativa; se houver uma premissa
extremo menor (no caso, “Sócrates”) e o termo médio particular, a conclusão será particular; se houver uma
(no caso, “homem”); premissa particular negativa, a conclusão será uma
A conclusão deve conter o maior e o menor e particular negativa. Essas regras dão origem às figuras e
jamais deve conter o termo médio (no caso, deve conter aos modos do silogismo.
“Sócrates” e “mortal” e jamais deve conter “homem”).
Como a função do médio é ligar os extremos, ele deve O silogismo científico
estar nas duas premissas, mas nunca na conclusão. Aristóteles distingue dois grandes tipos de
A proposição é uma predicação ou atribuição. silogismos: os dialéticos e os científicos.
As premissas fazem a atribuição afirmativa ou negativa Nos primeiros, as premissas se referem ao que
do predicado ao sujeito, estabelecendo a inclusão ou é apenas possível ou provável, ao que pode ser de uma
exclusão do médio no maior e a inclusão ou exclusão maneira ou de outra, contrária e oposta. Suas premissas
do menor no médio. Graças a essa dupla inclusão ou são hipotéticas e por isso sua conclusão também é
exclusão, o menor estará incluído no maior ou excluído hipotética.
dele. O silogismo dialético comporta argumentações
Por ser um sistema de inclusões (ou exclusões) contrárias, porque suas premissas são meras opiniões
entre sujeitos e predicados, o silogismo declara a sobre coisas ou fatos possíveis ou prováveis. As
inerência do predicado ao sujeito. Ou seja, quando há opiniões não são objeto de ciência, mas de persuasão.
uma inerência afirmativa, o predicado está A dialética é uma discussão entre opiniões contrárias
necessariamente incluído no sujeito; quando há uma que oferecem argumentos contrários, vencendo aquele
inerência negativa, o predicado está necessariamente cuja conclusão for mais persuasiva. O silogismo
excluído do sujeito. A ciência é a investigação dessas dialético é próprio da retórica, ou arte da persuasão, na
inerências, por meio das quais se alcança a essência do qual aquele que fala procura tocar as emoções e paixões
objeto investigado. dos ouvintes e não o raciocínio ou a inteligência deles.
A inferência silogística deve obedecer a oito Já o silogismo científico se refere ao que é
regras, sem as quais não terá validade, não sendo universal e necessário, ao que é de uma maneira e não
possível dizer se a conclusão é verdadeira ou falsa: pode deixar de ser tal como é, ao que acontece sempre,
1. Um silogismo deve ter um termo maior, um e sempre acontece da mesma maneira. Suas premissas
menor e um médio e somente três termos, nem mais, são apodíticas e sua conclusão também é apodítica.
nem menos. O silogismo científico não admite premissas
2. O termo médio deve aparecer nas duas contraditórias. Suas premissas são universais
premissas. Além disso, deve ser tomado em toda a sua necessárias e sua conclusão não admite discussão ou
extensão (isto é, como um universal) pelo menos uma refutação, mas exige demonstração. Por esse motivo, o
vez, pois, do contrário, não se poderá ligar o maior e o
8
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

silogismo científico deve obedecer a quatro regras, sem silogismo científico não lida com os predicados ou
as quais sua demonstração não tem valor: atributos acidentais.
1. as premissas devem ser verdadeiras (não A ciência é um conhecimento que vai do gênero
podem ser possíveis ou prováveis, nem falsas); mais alto de um ser às suas espécies mais singulares. A
2. as premissas devem ser primárias ou passagem do gênero à espécie singular se faz por uma
primeiras, isto é, indemonstráveis, pois, se tivermos de cadeia dedutiva ou silogística, na qual cada espécie
demonstrar as premissas, teremos de ir de regressão em funciona como gênero para suas subordinadas e cada
regressão, indefinidamente, e nada demonstraremos; uma delas se distingue das outras por uma diferença
3. as premissas devem ser mais inteligíveis do específica. Definir é encontrar a diferença específica
que a conclusão, pois a verdade desta depende entre seres do mesmo gênero.
inteiramente da absoluta clareza e compreensão que A tarefa da definição é delimitar o gênero e a
tenhamos das suas condições, isto é, das premissas; diferença específica essencial que distingue uma espécie
4. as premissas devem ser causa da conclusão, da outra. A demonstração (o silogismo) partirá do
isto é, devem estabelecer as coisas ou os fatos que gênero, oferecerá a definição da espécie e incluirá o
causam a conclusão e que a explicam, de tal maneira indivíduo na espécie e no gênero, de sorte que a
que, ao conhecê-las, estamos obedecendo às causas da essência ou o conceito do indivíduo nada mais é do que
conclusão. Esta regra é da maior importância porque, sua inclusão ou sua inerência à espécie e ao gênero. A
para Aristóteles, conhecer é conhecer as causas ou pelas demonstração parte da definição do gênero e dos
causas. O que são as premissas de um silogismo axiomas e postulados referentes a ele; deve provar que
científico? o gênero possui realmente os atributos ou predicados
São verdades indemonstráveis, evidentes e que a definição, os axiomas e postulados afirmam que
causais. Há três tipos de premissa: ele possui. O que é essa prova? É a prova de que as
1. axiomas, isto é, verdades indemonstráveis que espécies são os atributos ou predicados do gênero e são
servem de base para todas as demonstrações de uma elas o objeto da conclusão do silogismo.
ciência. Por exemplo, os três princípios lógicos, ou Com isso, percebe-se que uma ciência possui
afirmações como “O todo é maior do que as partes”; três objetos: os axiomas e postulados, que
2. postulados, isto é, os pressupostos de que se fundamentam a demonstração; a definição do gênero,
vale uma ciência para iniciar o estudo de seus objetos. cuja existência não precisa nem deve ser demonstrada;
Por exemplo, o espaço plano, na geometria; o e os atributos essenciais ou predicados essenciais do
movimento e o repouso, na física; gênero, que são suas espécies – às quais chega a
3. definições do objeto da ciência investigada ou conclusão.
do gênero de objetos que ela investiga. A definição deve Numa etapa seguinte, a espécie a que se chegou
dizer o que a coisa estudada (o sujeito da proposição) é, na conclusão de um silogismo torna-se gênero, do qual
como é, por que é, sob quais condições ela é. Para parte uma nova demonstração, e assim sucessivamente.
Aristóteles, as definições são as premissas mais Para que o silogismo científico cumpra sua
importantes de uma ciência. função, ele deve respeitar as regras gerais e suas
A definição refere-se ao termo médio, pois é ele premissas devem ser:
que pode preencher as quatro exigências (quê, como, 1. verdadeiras para todos os casos de seu
por quê, se) e é por seu intermédio que o silogismo sujeito;
alcança o conceito da coisa investigada. A definição 2. essenciais, isto é, a relação entre o sujeito e
oferece o conceito da coisa por meio das categorias o predicado deve ser sempre necessária. Isso ocorre
(substância, quantidade, qualidade, lugar, tempo, quando o predicado está contido na essência do sujeito
relação, posse, ação, paixão, posição) e da inclusão (por exemplo, o predicado “linha” está contido na
necessária do indivíduo na espécie e no gênero. essência do sujeito “triângulo”), quando o predicado é
O conceito nos oferece a essência da coisa uma propriedade essencial do sujeito (por exemplo, o
investigada (suas propriedades necessárias ou predicado “curva” tem de necessariamente referir-se ao
essenciais), e o termo médio é o atributo essencial para sujeito “linha”) ou quando existe uma relação causal
chegar à definição. Por isso, a definição consiste em entre o predicado e o sujeito (por exemplo, o predicado
encontrar para um sujeito (uma substância) seus “equidistantes do centro” é a causa do sujeito
atributos essenciais (seus predicados). “circunferência”, uma vez que esta é a figura geométrica
Um atributo é essencial quando faz uma coisa que tem todos os pontos equidistantes do centro). Em
ser o que ela é ou quando, por estar ausente, impede a resumo, as premissas devem estabelecer a inerência do
coisa de ser tal como é (“mortal” é um atributo essencial predicado à essência do sujeito;
de Sócrates). Um atributo é acidental quando sua 3. próprias, isto é, devem referir-se
presença ou sua ausência não afetam a essência da coisa exclusivamente ao sujeito daquela ciência e de nenhuma
(“gordo” é um atributo acidental de Sócrates). O outra. Por isso, não posso buscar premissas da
geometria (cujo sujeito são as figuras) na aritmética
9
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

(cujo sujeito são os números), nem as da biologia (cujo contradição impensável. É possível uma ciência
sujeito são os seres vivos) na astronomia (cujo sujeito teorética verdadeira sobre a natureza e a mudança: a
são os astros). física. Mas é preciso, primeiro, demonstrar que o objeto
Em outras palavras, o termo médio do da física é um ser real e verdadeiro, e isso é tarefa da
silogismo científico se refere aos atributos essenciais Filosofia Primeira ou “meta-física”.
dos sujeitos de uma ciência determinada e de nenhuma 2. diferentemente de seus predecessores,
outra; Aristóteles considera que a essência verdadeira das
4. gerais, isto é, nunca devem referir-se aos coisas naturais e dos seres humanos e de suas ações não
indivíduos, mas aos gêneros e às espécies, pois o está no mundo inteligível, separado do mundo sensível.
indivíduo define-se por eles e não o contrário. As essências estão nas próprias coisas, nos próprios
Bom, agora que Aristóteles definiu como homens, nas próprias ações, e é tarefa da filosofia
proceder com o pensamento para que possamos conhecê-las ali mesmo onde existem e acontecem.
conhecer as coisas e chegar a verdade, é hora de Como conhecê-las?
começar a teorizar. E o início se dará pelo que ele Partindo da sensação até alcançar a intelecção.
chamava de Filosofia Primeira, pelo estudo do Ser A essência de um ser ou de uma ação é conhecida pelo
(ontologia) que mais tarde fica conhecida como pensamento, que capta as propriedades internas e
metafísica. necessárias desse ser ou dessa ação, sem as quais ele ou
ela não seriam o que são.
A metafísica não precisa abandonar este
3. ONTOLOGIA mundo, mas, ao contrário, é o conhecimento da
essência do que existe em nosso mundo.
Com Parmênides, vimos que o Ser verdadeiro, 3. ao se dedicar à Filosofia Primeira ou
imutável, único e eterno, que constitui a realidade metafísica, a filosofia descobre que há diferentes tipos
última do mundo, se opõe ao Não-Ser, ao aparente, ao de seres ou entes que se diferenciam justamente por
mutável, ao múltiplo e diverso na natureza. Segundo suas essências.
Platão, deve-se buscar no mundo das ideias a realidade Em outras palavras, para Parmênides havia
verdadeira e inteligível dos seres, e não se ater ao mundo apenas o Ser único, uno e imutável; para Platão, havia
sensível, uma realidade inferior, composta de imagens as coisas materiais ou sensíveis, sujeitas à mudança, e
contraditórias e ilusórias – cópias das ideias verdadeiras. que eram cópias imperfeitas ou sombras do ser
Discordando de Parmênides e de Platão (seu verdadeiro ou da realidade, as Ideias. Podemos perceber
mestre), Aristóteles conduz a metafísica em uma que o critério de Parmênides e de Platão para distinguir
direção oposta. realidade verdadeira e aparência é a ausência ou a
Embora mantenha a indagação ontológica “O presença de mudança. Aristóteles também usará a
que é?”, ele não acredita que o caminho do Ser passa ao mudança como critério de diferenciação dos seres,
largo do mundo sensível. Para Aristóteles, é refletindo porém o fará de maneira completamente nova.
sobre a própria natureza em nossa volta que o Ser é
alcançado. O movimento
“Mudança”, em grego, se diz “movimento”. A
Diferença entre Aristóteles e seus predecessores palavra grega para movimento é kinésis (de onde vêm os
Embora a ontologia tenha começado com termos cinético, cinema, cinemática, em português).
Parmênides e Platão, costuma-se atribuir seu Movimento não significa, porém, simplesmente
nascimento a Aristóteles quando este explicitamente mudança de lugar ou locomoção. Significa toda e
formula a ideia de uma ciência ou disciplina que tem qualquer mudança que um ser sofra ou realize. É
como finalidade própria o estudo do Ser, movimento:
denominando-a Filosofia Primeira.  toda mudança qualitativa de um ser qualquer
Além disso, três outros motivos levam a atribuir (por exemplo, uma semente que se torna
a Aristóteles o início da metafísica: árvore, um objeto branco que amarelece, um
1. diferentemente de seus predecessores, animal que adoece, algo quente que esfria, algo
Aristóteles não julga o mundo das coisas sensíveis – ou frio que esquenta, o duro que amolece, o mole
a natureza – um mundo aparente e ilusório. Pelo que endurece, etc.);
contrário, é um mundo real e verdadeiro cuja essência  toda mudança ou alteração quantitativa (por
é, justamente, a multiplicidade de seres e a mudança exemplo, um corpo que aumente ou diminua,
incessante. que se divida em outros menores, que
Em lugar de afastar a multiplicidade e o devir encompride ou encurte, alargue ou estreite,
como ilusões ou sombras do verdadeiro Ser, Aristóteles etc.);
afirma que o ser da natureza existe, é real, que seu modo  toda mudança de lugar ou locomoção (subir,
próprio de existir é a mudança e que esta não é uma descer, cair, a trajetória de uma flecha, o
10
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

deslocamento de um barco, a queda de uma Na Metafísica, Aristóteles afirma que a Filosofia


pedra, o levitar de uma pluma, etc.); Primeira estuda os primeiros princípios e as causas
 toda alteração em que um ser passe da ação à primeiras de todas as coisas e investiga “o Ser enquanto
paixão ou passividade (por exemplo, ser Ser”. A Filosofia Primeira estuda as essências sem
cortado, amado, desejado), ou da passividade à diferenciá-las em essências físicas, astronômicas,
atividade (por exemplo, cortar, amar, desejar); humanas, etc., pois cabe às diferentes ciências estudá-
 toda geração ou nascimento e toda corrupção las como diferentes entre si. À metafísica cabem três
ou morte dos seres; nascer, viver e morrer são estudos:
movimentos. 1. o estudo do ser divino, a realidade
Numa palavra: o devir, em todos os seus aspectos, primeira e suprema da qual todo o restante procura
é o movimento. Parmênides e Platão excluíram o aproximar-se, imitando sua perfeição imutável. As
movimento da essência do Ser. coisas se transformam incessantemente, diz Aristóteles,
Que faz Aristóteles? Nega que movimento ou porque desejam encontrar sua essência total e perfeita,
mudança e Não-Ser ou irrealidade sejam o mesmo. E imutável como a essência divina. Por isso, o ser divino
diferencia os seres conforme estejam ou não em é o Primeiro Motor Imóvel do mundo, isto é, aquilo
movimento. que, sem agir diretamente sobre as coisas, ficando a
Existe a essência dos seres que são e estão em distância delas, as atrai, é desejado por elas. Tal desejo
movimento, isto é, os seres físicos ou naturais (minerais, as faz mudar para, um dia, não mais mudar (esse desejo,
vegetais, animais, humanos), cujo modo de ser se diz Aristóteles, explica por que há o devir e por que o
caracteriza por nascer, viver, mudar, reproduzir-se e devir é eterno, pois as coisas naturais nunca poderão
desaparecer. São seres em devir e que existem no devir. alcançar a perfeição imutável).
Existe a essência dos seres matemáticos, que A mudança ou o devir são a maneira pela qual a
não existem em si mesmos, mas existem como formas natureza, ao seu modo, se aperfeiçoa e busca imitar a
das coisas naturais, podendo, porém, ser separados perfeição do imutável divino. O ser divino chama-se
delas pelo pensamento e ter suas essências conhecidas; Primeiro Motor Imóvel porque é o princípio que move
são seres que, por essência, são imóveis, isto é, não toda a realidade ao mesmo tempo que não se move e
nascem, não mudam, não se transformam nem não é movido por nenhum outro ente. Como já vimos,
perecem, não estando em devir nem no devir. movimento significa ‘mudança’, ‘alterações qualitativas
Existem seres cuja essência é imutável ou e quantitativas sofridas’; nascer é perecer, e o ser divino,
imóvel — não nascem, não se transformam e nem perfeito, não foi gerado; por isso, nunca muda;
perecem —, mas que realizam um movimento local 2. o estudo dos primeiros princípios e
perfeito, eterno, sem começo e sem fim: os astros, que causas primeiras de todos os seres ou essências
realizam o movimento circular. existentes;
E, finalmente, existe a essência de um ser 3. o estudo das propriedades ou atributos
eterno, imutável, imperecível, sempre idêntico a si gerais de todos os seres, graças aos quais podemos
mesmo, perfeito, imaterial, do qual o movimento está determinar a essência particular de um ser particular
inteiramente excluído, conhecido apenas pelo intelecto, existente. A essência ou ousía é a realidade primeira e
que o conhece como separado de nosso mundo, última de um ser, aquilo sem o qual um ser não poderá
superior a tudo o que existe, e que é o ser por existir ou deixará de ser o que é. À essência, entendida
excelência: o ser divino. dessa perspectiva universal, Aristóteles dá o nome de
Para cada um desses tipos de ser e suas essências substância, e a metafísica estuda a substância em geral.
existe uma ciência teorética própria (física, biologia,
psicologia, matemática, astronomia, teologia). Mas Principais conceitos
também deve haver uma ciência geral, mais ampla, mais De maneira muito breve e simplificada, os
universal, anterior a todas essas, cujo objeto não seja principais conceitos da metafísica aristotélica (e que se
esse ou aquele tipo de Ser, essa ou aquela modalidade tornarão as bases de toda a metafísica ocidental) podem
de essência, mas o Ser em geral, a essência em geral. ser assim resumidos:
Trata-se de uma ciência que investiga o que é a essência  primeiros princípios: são os três princípios
e aquilo que faz com que haja essências particulares e que estudamos na lógica, isto é, identidade, não
diferenciadas. Em outras palavras, deve haver uma contradição e terceiro excluído. Os princípios
ciência que estude o Ser enquanto Ser, sem considerar lógicos são ontológicos porque definem as
as diferenciações dos seres. condições sem as quais um ser não pode existir
Essa ciência mais alta, mais ampla, mais nem ser pensado; os primeiros princípios
universal é a Filosofia Primeira, escreve Aristóteles no garantem, simultaneamente, a realidade e a
primeiro livro da obra conhecida como Metafísica. racionalidade das coisas;
 causas primeiras: são aquelas que explicam o
que a essência é e também a origem e o motivo
11
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

da sua existência. Causa (para os gregos) movimentos naturais ou dos seres físicos, isto é, de
significa não só o porquê de alguma coisa, mas todos os seres dotados de matéria e forma. O devir não
também o quê e o como uma coisa é o que ela é aparência nem ilusão, ele é o movimento pelo qual a
é. As causas primeiras nos dizem o que é, como potência se atualiza, a matéria recebe a forma e muda
é, por que é e para que é uma coisa. São quatro de forma.
as causas primeiras:  essência: é a unidade interna e indissolúvel
1. causa material, isto é, aquilo de que um ser é entre uma matéria e uma forma. Essa unidade
feito, sua matéria (por exemplo, água, fogo, ar, terra); lhe dá um conjunto de propriedades ou
2. causa formal, isto é, aquilo que explica a forma atributos que a fazem ser necessariamente
que um ser possui (por exemplo, o rio ou o mar são aquilo que ela é. Assim, por exemplo, um ser
formas da água; a mesa é a forma assumida pela matéria humano é por essência um animal mortal
madeira com a ação do carpinteiro). A forma é racional dotado de vontade, gerado por outros
propriamente a essência de um ser, aquilo que ele é em semelhantes a ele e capaz de gerar outros
si mesmo ou aquilo que o define em sua identidade e semelhantes a ele, etc.;
diferença com relação a todos os outros;  acidente: é uma propriedade ou atributo que
3. causa eficiente ou motriz, isto é, aquilo que uma essência pode ter ou deixar de ter sem
explica como uma matéria recebeu uma forma para perder seu ser próprio. Por exemplo, um ser
constituir uma essência (por exemplo, o ato sexual é a humano mortal por essência, mas é baixo ou
causa eficiente que faz a matéria do óvulo, ao receber o alto, gordo ou magro, negro ou branco, por
esperma, adquirir a forma de um novo animal ou de acidente. A humanidade é a essência primordial
uma criança; o carpinteiro é a causa eficiente que faz a (animal, mortal, racional, voluntário), enquanto
madeira receber a forma da mesa; etc.); o acidente é o que, existindo ou não, nunca afeta
4. a causa final, isto é, a causa que dá o motivo, a o ser da essência (magro, gordo, alto, baixo,
razão ou a finalidade para alguma coisa existir e ser tal negro, branco). A essência é o universal; o
como ela é (por exemplo, o bem comum é a causa final acidente, o particular;
da política; a flor é a causa final da transformação da  substância: é aquilo em que se encontram a
semente em árvore; o Primeiro Motor Imóvel é a causa matéria-potência, a forma-ato, onde estão os
final do movimento dos seres naturais, etc.); atributos essenciais e acidentais, sobre o qual
 matéria: é o elemento de que as coisas da agem as quatro causas; em suma, é o Ser
natureza, os animais, os homens, os artefatos propriamente dito.
são feitos; sua principal característica é possuir Aristóteles usa o conceito de substância em dois
virtualidades ou conter em si mesma sentidos: num primeiro sentido, substância é o ser
possibilidades de transformação, isto é, de individual; num segundo sentido, é o gênero ou a
mudança; espécie a que um ser individual pertence. No primeiro
 forma: é o que individualiza e determina uma sentido, a substância é um ser individual existente; no
matéria, fazendo existir as coisas ou os seres segundo, é o conjunto das características gerais que os
particulares; sua principal característica é ser indivíduos de um gênero e de uma espécie possuem.
aquilo que uma essência é; Aristóteles fala em substância primeira para referir-
 potência: é a virtualidade que está contida se aos seres individuais realmente existentes, com sua
numa matéria e pode vir a existir, se for essência e seus acidentes (por exemplo, Sócrates); e em
atualizada por alguma causa; por exemplo, a substância segunda para referir-se aos sujeitos
criança é um adulto em potência ou em universais, isto é, gêneros e espécies que não existem
potencial; a semente é a árvore em potência ou em si e por si mesmos, mas só existem encarnados nos
em potencial; indivíduos, podendo, porém, ser conhecidos pelo
 ato: é a atualização de uma matéria por uma pensamento (por exemplo, ser humano).
forma e numa forma; o ato é a forma que O gênero é um universal formado por um conjunto
atualizou uma potência contida na matéria. Por de propriedades da matéria e da forma que caracterizam
exemplo, a árvore é o ato da semente, o adulto o que há de comum nos seres de uma mesma espécie.
é o ato da criança, a mesa é o ato da madeira, A espécie também é um universal, formado por um
etc. conjunto de propriedades da matéria e da forma que
Potência e matéria são idênticas, assim como forma caracterizam o que há de comum nos indivíduos
e ato são idênticos. A matéria ou potência é uma semelhantes. Assim, o gênero é formado por um
realidade passiva que precisa do ato e da forma, isto é, conjunto de espécies semelhantes e as espécies, por um
da atividade que cria os seres determinados. Graças aos conjunto de indivíduos semelhantes. Os indivíduos ou
conceitos de potência e ato, a metafísica aristotélica substâncias primeiras são seres realmente existentes; os
pode explicar a causa e a racionalidade de todos os gêneros e as espécies ou substâncias segundas são

12
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

universalidades que o pensamento conhece por meio A metafísica aristotélica inaugura, portanto, o
dos indivíduos. estudo da estrutura geral de todos os seres ou as
 predicados: são categorias lógicas e também condições universais e necessárias que fazem com que
ontológicas, porque se referem à estrutura e ao exista um ser e que ele possa ser conhecido pelo
modo de ser da substância ou da essência pensamento. Afirma que a realidade no seu todo é
(quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, inteligível ou conhecível e apresenta-se como
posse, ação, paixão). Na lógica, a substância é a conhecimento teorético da realidade em todos os seus
primeira categoria. Aristóteles explica que, aspectos gerais ou universais, devendo preceder as
enquanto todas as categorias são predicados investigações que cada ciência realiza sobre um tipo
atribuídos a um sujeito, a substância não é determinado de ser.
atribuída a ninguém porque ela é, justamente, o A metafísica investiga:
sujeito que recebe os predicados. Os predicados  aquilo sem o que não há seres nem
atribuídos a uma substância são constitutivos de conhecimento dos seres: os três princípios
sua essência, pois toda realidade pode ser lógico-ontológicos e as quatro causas;
conhecida porque: possui qualidades (mortal,  aquilo que faz um ser ser necessariamente o que
imortal, finito, infinito, bom, mau, etc.); ele é: matéria, potência, forma e ato;
quantidades (um, muitos, alguns, pouco, muito,  aquilo que faz um ser ser necessariamente como
grande, pequeno); relaciona-se com outros ele é: essência e predicados ou categorias;
(igual, diferente, semelhante, maior, menor,  aquilo que faz um ser existir como algo
superior, inferior); está em algum lugar (aqui, ali, determinado: a substância individual
perto, longe, embaixo, atrás, etc.); está no (substância primeira) e a substância como
tempo (antes, depois, agora, ontem, hoje, gênero ou espécie (substância segunda). É isto
amanhã, de dia, de noite, sempre, nunca); realiza estudar “o Ser enquanto Ser”.
ações ou faz alguma coisa (anda, pensa, dorme,
corta, cai, prende, cresce, floresce, etc.) e sofre
ações de outros seres (é cortado, é preso, é 4. A FÍSICA
puxado, é atraído, é curado, é envenenado, etc.).
As categorias ou predicados podem ser essenciais Recusando o idealismo do mundo das ideias,
ou acidentais, isto é, podem ser necessários e admite que só o homem concreto existe. Quanto ao
indispensáveis à natureza própria de um ser ou podem movimento, parte da constatação da sua existência,
ser algo que um ser possui por acaso ou que lhe explicando-lhe a origem e a natureza. Vejamos que tipo
acontece por acaso, sem afetar sua natureza. de ciência surge daí.
Tomemos um exemplo. Se eu disser “Sócrates é
homem”, necessariamente terei de lhe dar os seguintes Pressupostos metafísicos
predicados: mortal, racional, finito, animal, pensa, Por trás das afirmações da ciência aristotélica há
sente, anda, reproduz, fala, adoece, é menor que uma uma série de noções metafísicas, quanto à natureza dos
montanha e maior que um gato, ama, odeia. corpos e do movimento.
Acidentalmente, ele poderá ter outros predicados: é O movimento é, pois, a passagem da potência
feio, é baixo, é diferente da maioria dos atenienses, é para o ato. O movimento é "o ato de um ser em
casado, conversou com Laques, esteve no banquete de potência enquanto tal", é a potência se atualizando.
Agáton, foi forçado a envenenar-se pelo tribunal de Aristóteles não se refere apenas ao conceito de
Atenas. movimento local. Movimento também pode ser
Se nosso exemplo, porém, fosse uma substância compreendido como movimento qualitativo, pelo qual
genérica ou específica, todos os predicados teriam de o corpo tem uma qualidade alterada, por exemplo,
ser essenciais, pois o acidente acontece somente para o quando o analfabeto aprende a ler. Ou, ainda, como
indivíduo existente, e o gênero e a espécie são universais movimento quantitativo da planta que cresce, pois há
que só existem no pensamento e encarnados nas alteração de tamanho.
essências individuais. Há também a mudança substancial, pela qual
Com esse conjunto de conceitos forma-se o quadro um ser começa a existir (geração) ou deixa de existir
da ontologia ou metafísica aristotélica como explicação (destruição das essências). Ainda mais: se Aristóteles
geral, universal e necessária do Ser, isto é, da realidade. considera que o movimento é a passagem da potência
Esse quadro conceitual será herdado pelos filósofos para o ato, é preciso examinar os tipos de causa que
posteriores, que problematizarão alguns de seus ocasionam o devir.
aspectos, estabelecerão novos conceitos, suprimirão Para explicar esse processo, lembremos o
alguns outros, desenvolvendo o que conhecemos como exemplo do artesão esculpindo uma estátua, atividade
metafísica ocidental. em que podemos distinguir quatro causas: a causa
material é o mármore; a causa eficiente é o escultor; a

13
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

causa formal é a forma que a estátua adquire; e a causa acaba cessando, pelo movimento natural o corpo
final é o motivo ou a razão pela qual a matéria passa a retorna ao lugar natural.
ter determinada forma, ou, dito de outra maneira, é a Mais adiante veremos como a física qualitativa
finalidade para a qual a estátua foi feita. de Aristóteles, baseada na análise da essência dos
Ou seja: a causa material é aquilo de que uma corpos pesados e leves, será alterada pelas inovações
coisa é feita; a eficiente é aquilo com que a coisa é feita; introduzidas por Galileu, no século XVII.
a formal é aquilo que a coisa vai ser; a final é aquilo para
o qual a coisa é feita. A astronomia aristotélica
Convém lembrar que nem sempre é fácil A preocupação com o movimento dos astros é
distinguir (mesmo para Aristóteles) as diferenças entre muito antiga. Povos como os babilônios já tinham
a causa formal e a final. conhecimento de astronomia há dois ou três mil anos
antes de Cristo, e com frequência esses conhecimentos
A física aristotélica misturavam-se a analogias com o destino dos homens,
A física geral é a ciência que trata do ser em comandado pela junção dos astros.
movimento. Já explicitamos os pressupostos São os gregos que, pela primeira vez, tentam
metafísicos da teoria do devir e das quatro causas, explicar racionalmente o movimento dos astros,
elaborados com a finalidade de superar as ilusões dos procurando entender a natureza do cosmos (palavra
sentidos. que, em grego, significa "ordem", "beleza", e se opõe a
Para Aristóteles, os corpos são classificados a caos, "desordem").
partir da teoria dos quatro elementos, elaborada pelo Persiste, no entanto, certa mística nessas
pré-socrático Empédocles, segundo a qual os elementos explicações, decorrente do privilégio dado a algumas
constitutivos de todos os seres são: terra, água, ar e formas e noções tais como perfeição, eternidade,
fogo. Essa teoria foi aceita até o século XVIII, quando repouso e o círculo como forma perfeita. Daí o
Lavoisier demonstrou que não se tratava de elementos, movimento uniforme ser considerado o movimento
mas de substâncias compostas. perfeito, sempre idêntico a si mesmo, e por isso mesmo
No universo aristotélico, todos os corpos estão imutável e eterno. O movimento circular não tem início
dispostos de modo bem determinado, possuindo um nem fim; volta sobre si mesmo e continua sempre; é
lugar natural conforme sua essência. Segundo a teoria movimento sem mudança.
da queda dos corpos, o peso e a leveza são qualidades Acrescente-se a isso a concepção do universo
dos corpos e determinam formas diferentes do finito, limitado pela esfera do Céu, fora do qual não há
movimento. Então, a terra e a água, por serem corpos lugar, nem vácuo, nem tempo...
pesados, têm o lugar natural embaixo; o ar e o fogo,
sendo leves, têm o lugar natural em cima. O geocentrismo
Consequentemente, o movimento natural é O modelo astronômico de Aristóteles baseia-se
aquele em que as coisas retornam ao seu lugar natural, na cosmologia de Eudoxo (400 -347) um dos discípulos
na ordem estática do cosmos. Uma vez no seu lugar de Platão. Esse modelo é geocêntrico (pois tem a Terra
natural, o ser estará realizado e permanecerá em no centro) e é conhecido como "modelo das esferas
repouso. homocêntricas", em que os sete as intermediárias
Para os gregos, portanto, não há necessidade de possam fornecer ligações mecânicas necessárias para a
explicar o repouso, pois a própria natureza do corpo o reprodução do movimento. Mas de onde vem o
explica. O que precisa ser compreendido é o movimento inicial?
movimento: a ordem natural pode ser alterada por um Só pode ser de Deus, o Primeiro Motor Imóvel,
movimento violento causado pela aplicação de uma que determina o movimento da última esfera, a esfera
força exterior. das estrelas fixas, transmitido por atrito às esferas
Enquanto o movimento natural é o da pedra contíguas. Esse movimento vai até a Lua, última esfera
que cai, do fogo que sobe, o movimento violento é o da interna. No centro acha-se a Terra, também esférica,
pedra lançada para cima, da flecha arremessada pelo mas imóvel.
arco. Esse movimento necessita, durante toda sua Todos os modelos propostos pelos gregos eram
duração, de um motor unido ao móvel, de modo que, geocêntricos, e a única exceção é a de Aristarco de
suprimido o motor, cessará o movimento. Isso é fácil Samos (310 -230 a.C.), que propôs um revolucionário
de explicar no caso do cavalo que puxa carroça, mas o modelo heliocêntrico (hélios: "Sol"), nunca aceito e até
exemplo do arremesso de projétil requer de Aristóteles considerado subversivo.
alguns artifícios: ao lançar a pedra, a mão comunica o
seu próprio poder ao ar próximo a ela, provocando um A hierarquização do cosmos
turbilhão que mantém a pedra em movimento; esse Outra característica importante na cosmologia
poder comunica-se por contiguidade e, porque a aristotélica se encontra na hierarquização pela qual a
intensidade diminui a cada transmissão, o movimento
14
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

natureza do Céu é considerada superior à natureza da seja feita à sua inestimável contribuição aos estudos de
Terra. biologia. Sendo filho de médico, herdou o gosto pelo
O universo está dividido em: mundo assunto e chegou a classificar cerca de 540 espécies de
supralunar, constituído pelos Céus, que incluem, na animais, estabelecendo relações entre eles, além de ter
ordem: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, feito dissecações para estudar suas estruturas
Saturno e, finalmente, a esfera das estrelas fixas. anatômicas.
São corpos constituídos por uma substância O fato de não recorrer à experiência pode ser
desconhecida por nós, o éter (não confundir com a entendido pela resistência dos gregos em utilizarem as
substância química), que é cristalino, inalterável, técnicas manuais em campos que consideravam
imperecível, transparente e imponderável. O éter é restritos ao saber contemplativo. Por isso, diante da
também conhecido como quinta-essência, em queda dos corpos, Aristóteles pergunta "por quê"?" e
contraposição aos quatro elementos. não "como"?". Se fizesse essa última pergunta,
Por esse motivo os corpos celestes são procederia à descrição do fenômeno, processo este que
incorruptíveis, perfeitos, não-sujeitos a transformações. só foi iniciado pelos modernos. Mas, perguntando "por
O movimento das esferas é circular, considerado o quê?" envereda pela procura das causas, desembocando
movimento perfeito. inevitavelmente na discussão metafísica da essência dos
O mundo sublunar, correspondente à região corpos. Por isso, a ciência aristotélica é filosófica,
da Terra, que, embora imóvel ela mesma, é o local dos centrada na argumentação baseada nos princípios.
corpos em constante mudança, portanto perecíveis, Além disso, esse procedimento valoriza a
corruptíveis, sujeitos a movimentos imperfeitos: aí não perspectiva finalista que torna a ciência grega
mais acontece o movimento circular das esferas, mas o tipicamente teleológica (telos: "fim"). Segundo
movimento retilíneo para baixo e para cima. Os Aristóteles, todo corpo tende a realizar a perfeição que
elementos constitutivos são os já referidos quatro tem em potência, a atingir a forma que lhe é própria e o
elementos (terra, água, ar e fogo). fim a que se destina. "A natureza é o que tende para um
As ideias de Aristóteles referentes ao universo fim, em movimento contínuo, em virtude de um
serão retomadas pelo matemático e geômetra Cláudio princípio imanente." Como vimos, o corpo pesado
Ptolomeu, no século II da era cristã, na obra conhecida tende para baixo, que é seu lugar natural; a semente
como Almagesto, cuja influência se exerce durante a tende a se transformarem árvore: as raízes adentram no
Idade Média até ser contestada por Copérnico e Galileu. solo para nutrir a planta etc. A concepção teleológica
será criticada na ciência moderna, no século XVII.
Considerações sobre a física de Aristóteles Outro aspecto importante da metafísica
aristotélica é que, ao explicar o movimento como
Essa hierarquia do cosmos proposta por passagem da potência para o ato, Aristóteles faz a física
Aristóteles, em que o mundo é dividido em supralunar desembocar numa teologia: de causa em causa, é
e sublunar, estabelece a distinção de natureza entre a preciso parar numa primeira causa (incausada), num
astronomia e a física aristotélicas. Apenas no primeiro motor (imóvel), evidentemente de natureza
Renascimento essa dicotomia será desfeita, quando divina, e que daria movimento a todas as coisas.
Galileu e depois Kepler e Newton "igualam Céu e Aristóteles chama esse Deus de Ato Puro (pois não tem
Terra", isto é, explicam a física e a astronomia pelas potência alguma) e de Primeiro Motor Imóvel.
mesmas leis.
A partir da cosmologia, percebemos que os
gregos associam a perfeição ao equilíbrio, ao repouso, e 5. A SUPERIORIDADE DOS GREGOS
que a descrição do cosmos é a de um mundo estático.
Para compreendermos bem o pensamento
Mesmo no mundo das mutações, a ciência
aristotélico sobre a ética e a política é importantíssimo
aspira ao ideal de imobilidade, procurando, por trás das
sabermos que ele não entendia as duas separadamente.
aparências mutáveis das coisas, as essências imutáveis:
Isso porque ele, assim como os gregos instruídos, não
pois é em função da substância, da essência, que em
entendia um modo de ser, um comportamento do
determinadas condições tal corpo se comporta de tal
ánthropos (homem) que não fosse o mesmo do zoôn
maneira. Por isso a física aristotélica é qualitativa,
politikon (animal político). Ser homem para ele era ser
porque construída sobre os princípios que definem as
político/cidadão.
coisas, a partir dos quais são deduzidas as
consequências. Trata-se da valorização do método Tanto é que a palavra ética vem de ethos que de
dedutivo, cujo modelo de rigor se encontra na forma abrangente quer dizer modo de ser, e a palavra
matemática. Apesar disso, os gregos não política vem de polis + ética, ou seja, o modo de ser da
matematizaram a física, obra que coube a Galileu. pólis. Não existe comportamento racional/inteligível
Da mesma forma, Aristóteles não recorre a que não seja dentro da pólis.
experiência, embora utilize a observação. Aliás, justiça
15
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

Segundo ele, um homem que não vivesse em 6. A ÉTICA


comunidade, ou era um deus, ou uma fera. E se vivesse
em comunidade que não fosse uma pólis, seria inferior. Como viver essa boa vida, que só era possível
Por isso que um estrangeiro era inferior a um grego e participando da pólis? Aristóteles deixou essa resposta
era legítimo que ele fosse escravizado. em sua obra Ética a Nicômaco. Como já vimos, ele
Daí Aristóteles condenava a escravidão entre os concebia que tudo tem um fim, e não seria diferente
gregos livres, por ser contrário à natureza das coisas. com as ações humanas, que devem ser realizadas
Afirma que algumas pessoas merecem ser escravizadas. objetivando atingir o bem supremo que é a
Os escravos "naturais" são o tipo de pessoas que têm a eudaimonia , comumente traduzida por felicidade.
capacidade de aceitar ordens, mas não têm inteligência
Não devemos entender essa felicidade como
suficiente para pensar por si mesmas. São pessoas
uma emoção que temos quando algo bom nos acontece.
mecânicas. Não são muito melhores que os animais.
Ela está mais para um estado de plenitude, uma forma
Aí você pode pensar, mas não é todo mundo
de viver plena, voltada para o bem, para o saber, para a
gente do mesmo jeito? Nananinanan, não. Vamos botar
justiça, no aperfeiçoamento constante do caráter.
os pingos nos ís. Aristóteles tinha em mente que todos
nós, gregos ou não, somos zoôn (animais), mas apenas Precisamos ter em mente que a ética e a política
os que vivem numa comunidade política, numa pólis, são saberes práticos. E o saber prático pode ser de dois
são zoôn polítikon, são ánthropos (ανθρώπου). tipos: práxis ou técnica.
Ora, nós já vimos que o pensamento racional Na práxis, o agente, a ação e a finalidade do agir
surgiu com a pólis. A racionalidade, que é uma são inseparáveis, pois o agente, o que ele faz e a
descoberta grega, que era, portanto, grega, é uma finalidade de sua ação são o mesmo. Assim, por
racionalidade política, no sentido de comunitária, e o exemplo, dizer a verdade é uma virtude do agente,
que faz o ánthropos (homem) ser superior aos outros inseparável de sua fala verdadeira e de sua finalidade,
animais é justamente isso, ser racional. Mas ele só que é proferir uma verdade; não podemos distinguir o
pode ser racional se fizer parte dessa comunidade falante, a fala e o conteúdo falado.
política que é a pólis, pois somente nela, ele pode
desenvolver a sua natureza racional. E se é assim, a pólis Para Aristóteles, na práxis ética somos aquilo
também é algo natural ao homem. que fazemos e o que fazemos é a finalidade boa ou
virtuosa. Ao contrário, na técnica o agente, a ação e a
As leis que regem a pólis são criações da palavra finalidade da ação são diferentes e estão separados,
(logos/razão), que não é mais ditada pelos deuses a um sendo independentes uns dos outros.
sacerdote que a transmite aos homens. Ela é
genuinamente humana, fruto do debate, da dialética, Um carpinteiro, por exemplo, ao fazer uma
expressão do logos (razão) que organiza a pólis e reina mesa, realiza uma ação técnica, mas ele próprio não é
sobre os homens, não todos os homens, mas sobre os essa ação nem é a mesa produzida por ele. A técnica
gregos. tem como finalidade a fabricação de alguma coisa
diferente do agente (a mesa não é o carpinteiro,
É essa palavra (logos) que é o conhecimento do enquanto uma fala verdadeira é o ser do próprio falante
que é útil, do bem e do mal, do justo e do injusto; e que a diz) e da ação fabricadora (a ação técnica de
viver de acordo com a justiça é viver a boa vida, fabricar a mesa implica o trabalho sobre a madeira com
permitida apenas na pólis. É isso que faz de um grego, instrumentos apropriados, mas isso nada tem a ver com
um zoôn (animal) politikon (superior), e somente este é a finalidade da mesa, uma vez que o fim é determinado
ánthropos (ανθρώπου). pelo uso e pelo usuário). Assim, a ética e a técnica são
distinguidas como práticas que diferem pela relação do
Repito, tudo isso de que estamos falando foi
agente com a ação e com a finalidade da ação.
construído por eles, por isso, não é obra do homem em
geral, mas dos gregos em particular. Aristóteles está Prudência ou sabedoria prática
falando para os gregos, ele está ensinando a eles, e não
a todos os homens do planeta. E por que não? Também devemos a Aristóteles a definição do
campo das ações éticas. Estas não só são definidas pela
Por que ele acreditava que só os gregos eram virtude, pelo bem e pela obrigação, mas também
capazes de entender o que ele estava dizendo, e é aqui pertencem àquela esfera da realidade na qual cabem a
que reside o preconceito que não é só de Aristóteles, deliberação e a decisão ou escolha.
mas dos gregos em geral.
Em outras palavras, quando o curso da
realidade segue leis necessárias e universais, não há
como nem por que deliberar e escolher, pois as coisas

16
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

acontecerão necessariamente tais como as leis que as (materiais e imateriais) para viver plenamente, ou
regem determinam que devam acontecer. Não seja, ter uma vida feliz.
deliberamos sobre as estações do ano, o movimento
dos astros, a forma dos minerais ou dos vegetais. Não 7. A POLÍTICA
deliberamos nem decidimos sobre aquilo que é regido
Assim como o próprio Platão percebeu mais
pela natureza, isto é, pela necessidade.
tarde que seu projeto de funcionamento de uma pólis
Mas deliberamos e decidimos sobre tudo aquilo ideal governada por reis filósofos não era viável,
que, para ser e acontecer, depende de nossa vontade e Aristóteles também sabia que esse projeto nunca daria
de nossa ação. Não deliberamos e não decidimos sobre certo.
o necessário, pois o necessário é o que é e será sempre
Tendo isso em mente, ele elaborou um projeto
tal como é, independentemente de nós. Deliberamos e
político que fosse viável, e desenvolveu uma política
decidimos sobre o possível, sobre aquilo que pode ser
para o homem comum. Mas não entenda esse homem
ou deixar de ser, porque para ser e acontecer depende
como qualquer um. É o homem bem instruído, e de
de nós, de nossa vontade e de nossa ação.
determinadas posses, que o permitisse ter ócio
Com isso, Aristóteles acrescenta à consciência suficiente para se voltar aos estudos e à política.
moral, trazida por Sócrates, a vontade guiada pela
Nessa linha de
razão como o outro elemento fundamental da vida
raciocínio, a polis que esse
ética.
homem habitaria seria a melhor
Devemos a Aristóteles uma distinção central em possível. Ela teria sua
todas as formulações ocidentais da ética: a diferença constituição como sendo um
entre o que é por natureza (ou conforme à physis) e o reflexo desse tipo de homem,
que é por vontade (ou conforme à liberdade). O sendo, portanto, uma
necessário é por natureza; o possível, por vontade. construção natural já que é da
essência do homem viver em
A importância dada por Aristóteles à vontade comunidade, ou seja, ser um
racional, à deliberação e à escolha o levou a considerar animal político. Ele até nos compara com as abelhas que
uma virtude como condição de todas as outras e são gregárias por natureza.
presente em todas elas: a prudência ou sabedoria
prática. “A pólis é uma criação natural, e o homem é, por
natureza, um animal social, e um homem que por
Ela é a sabedoria, o saber prático necessário, a
natureza, e não por mero acidente, não fizesse parte de
chave da felicidade, para viver moderadamente. É a
prudência que nos permite viver sem exageros e nem pólis alguma, seria desprezível ou estaria acima da
deficiências, ou seja, no meio termo. É essa virtude que humanidade, e se poderia compará-lo a uma peça isolada
nos permite saber como agir moderadamente em cada do jogo de gamão. Agora é evidente que o homem, muito
situação particular. mais que a abelha ou outro animal gregário, é um
Prudente é aquele que, em todas as situações, animal social.”
julga e avalia qual atitude e qual ação melhor realizarão Aristóteles. Política, 1253 a-b. Mario da Gama Kury (Trad.).
a finalidade ética, ou seja, garantirão que o agente seja Brasília: Ed. UnB, 1997 (com adaptações).
virtuoso e realize o que é bom para si e para os outros.
E como seria essa polis? Para dar essa resposta,
Na Ética a Nicômaco, encontramos a síntese das Aristóteles analisou 158 constituições diferentes, e
virtudes que constituíam a excelência e a moralidade da definiu os tipos possíveis de governo conforme o
Grécia clássica. Nessa obra distinguem-se vícios e quadro a seguir:
virtudes pelo critério do excesso, da falta e da
moderação: um vício é um sentimento ou uma conduta BOM RUIM
excessivos (temeridade, libertinagem, irascibilidade,
etc.), ou, ao contrário, deficientes (covardia,
insensibilidade, indiferença, etc.); uma virtude é um UM MONARQUIA TIRANIA
sentimento ou uma conduta moderados (coragem,
temperança, gentileza, etc.). POUCOS ARISTOCRACIA OLIGARQUIA

As virtudes são as qualidades do caráter que MUITOS REPÚBLICA DEMOCRACIA


nos permitem conseguir os bens necessários

17
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

A corrupção de um regime a outro, acontece Ora, somente os que não são forçados às
quando quem governa se desvia do objetivo de atingir labutas ininterruptas para a sobrevivência são capazes
o bem comum, e passa a governar de acordo com seus de uma vida plenamente humana e feliz. A pólis injusta,
interesses. portanto, impede que uma parte dos cidadãos tenha
assegurado o direito à vida boa.
Quanto à melhor forma de governo, Aristóteles Quanto à justiça do participável, trata-se do
diz que vai depender do tipo de povo. Segundo ele, direito de todos os cidadãos de participar do poder. Ao
existe uma disposição natural em cada povo que o torna apresentar os diferentes regimes políticos conforme o
propício a determinada forma de governo. número dos que participam do poder — na monarquia,
Particularmente, ele prefere a monarquia, e argumenta um só; na aristocracia, alguns, considerados os
que dentre as formas corrompidas de governo, a melhores; na democracia, todos.
democracia é a melhor. Enquanto Platão se preocupa com a educação e
formação do dirigente político (o governante filósofo),
A justiça
Aristóteles se interessa pela qualidade das instituições
Para determinar o que é a justiça, diz ele,
políticas (assembleias, tribunais, forma da coleta de
precisamos distinguir dois tipos de bens: os partilháveis
impostos e tributos, distribuição da riqueza,
e os participáveis.
organização do exército, etc.).
Um bem é partilhável quando é uma quantidade
Com isso, ambos legam para as teorias políticas
que pode ser dividida e distribuída — a riqueza é um
subsequentes duas maneiras de conceber a qualidade
bem partilhável. Um bem é participável quando é uma
justa da cidade: platonicamente, essa qualidade depende
qualidade indivisível, que não pode ser repartida nem
das virtudes do dirigente; aristotelicamente, das virtudes
distribuída, podendo apenas ser participada — o poder
das instituições.
político é um bem participável.
Existem, pois, dois tipos de justiça na pólis: a
Conclusão: o bom governo
distributiva, referente aos bens econômicos
A teoria política grega está voltada para a busca
partilháveis, e a participativa, referente ao poder
dos parâmetros do bom governo. Platão e Aristóteles
político participável.
envolvem-se nas questões políticas do seu tempo e
A pólis justa saberá distinguir esses dois tipos de
criticam os maus governos. Se por um lado Platão
justiça e realizar ambos.
tentou efetivamente implantar um governo justo na
A justiça distributiva consiste em dar a cada
Sicília, por outro esboçou a idealizada Cailipolis como
pessoa o que lhe é devido e sua função é dar
modelo a ser alcançado. Aristóteles, mesmo recusando
desigualmente aos desiguais para torná-los iguais.
a utopia do seu mestre, aspira também a uma cidade
Suponhamos que a pólis esteja atravessando um
justa e feliz.
período de fome em decorrência de secas ou enchentes
Isso significa que esses filósofos elaboram uma
e que adquira alimentos para distribuí-los a todos. Para
teoria política de natureza descritiva, já que a reflexão
ser justa, a cidade não poderá reparti-los de modo igual
parte da análise da política de fato, mas é também de
para todos. De fato, aos que são pobres, deve doá-los,
natureza normativa e prescritiva, porque pretende
mas, aos que são ricos, deve vendê-los, de modo a
indicar quais são as boas formas de governo.
conseguir fundos para adquirir novos alimentos. Se
A ligação entre ética e política é evidente, na
doar a todos ou vender a todos, será injusta. Também
medida em que a questão do bom governo, do regime
será injusta se atribuir a todos as mesmas quantidades
justo, da cidade boa, depende da virtude do bom
de alimentos, pois dará quantidades iguais para famílias
governante.
desiguais, umas mais numerosas do que outras.
Veremos como essa tendência persiste na Idade
Em suma, é injusto tratar igualmente os
Média, até ser criticada no século XVI, a partir de
desiguais e é justo tratar desigualmente os desiguais para
Maquiavel.
que recebam os bens partilháveis segundo suas
Outra característica típica das teorias políticas
condições e necessidades.
antigas é a concepção cíclica da história, segundo a qual
Isso implica afirmar que numa pólis em que a
os governos se alternam passando de uma forma para
diferença entre ricos e pobres é muito grande a injustiça
outra (de desenvolvimento ou de decadência),
vigora, pois não se dá a todos o que lhes é devido como
representando um curso fatal dos acontecimentos
seres humanos.
humanos. Assim, por exemplo, quando a monarquia
Na pólis injusta, as leis, em lugar de permitirem
degenera em tirania, acontece a reação aristocrática que,
aos pobres o acesso às riquezas (por meio de limitações
decaindo em oligarquia, gera a democracia e assim por
impostas à extensão da propriedade, de fixação da boa
diante.
remuneração aos trabalhadores pobres, de impostos e
tributos que recaiam sobre os ricos apenas, etc.),
vedam-lhes tal direito.

18
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

Aristóteles. Metafísica unicamente as suas determinações, tal é, para eles, o


elemento e o princípio dos seres.
É, portanto, verossímil que quem primeiro (Aristóteles, Metafísica, Col. Os Pensadores, São Paulo, Abril
encontrou uma arte qualquer, fora das sensações Cultural, 1973, p. 212 -213 e 216.)
comuns, excitasse a admiração dos homens, não
somente em razão da utilidade da sua descoberta, mas
por ser sábio e superior aos outros. E com o QUESTÕES
multiplicar-se das artes, umas em vista das necessidades,
outras da satisfação, sempre continuamos a considerar
os inventores destas últimas como mais sábio s que os 01. Considere as seguintes afirmações de Aristóteles e
das outras, porque as suas ciências não se subordinam assinale a alternativa correta.
ao útil.
De modo que, constituídas todas as (ciências) I - "... é a ciência dos primeiros princípios e das
deste gênero, outras se descobriram que não visam nem primeiras causas."
ao prazer nem à necessidade, e primeiramente naquelas
regiões onde (os homens) viviam no ócio. É assim que, II - "... é a ciência do ser enquanto ser."
em várias partes do Egito, se organizaram pela primeira
vez as artes matemáticas, porque aí se consentiu que a Que ciência é essa ou quais ciências são essas?
casta sacerdotal vivesse no ócio.
Já assinalamos na Ética a diferença que existe A) A Ética ou a Política.
entre a arte, a ciência e as outras disciplinas do mesmo
gênero. O motivo que nos leva agora a discorrer é este: B) A Física e a Metafísica.
que a chamada filosofia é por todos concebida como
C) A História e a Metafísica.
tendo por objeto as causas primeiras e os princípios; de
maneira que, como acima se notou, o empírico parece D) A Filosofia Primeira ou a Metafísica.
ser mais sábio que o ente que unicamente possui uma
sensação qualquer, o homem de arte mais do que os
empíricos, o mestre-de-obras mais do que o operário, e
as ciências teoréticas mais que as práticas. Que a 02. A filosofia de Aristóteles (384-322 a.C.) representou
filosofia seja a ciência de certas causas e de certos uma nova interpretação do problema da mobilidade do
princípios é evidente.
ser, em contraposição à tradição filosófica. Para explicar
É pois manifesto que a ciência a adquirir é a das
causas primeiras (pois dizemos que conhecemos cada a mobilidade do ser, Aristóteles utilizou dois conceitos
coisa somente quando julgamos conhecer a sua ontológicos, que foram
primeira causa); ora, causa diz-se em quatro sentidos:
no primeiro, entendemos por causa a substância e a A) a essência e a existência.
qüididade (o "porquê" reconduz-se pois à noção última,
e o primeiro "porquê" é causa e princípio); a segunda B) a substância e o acidente.
(causa) é a matéria e o sujeito; a terceira é a de onde
C) o ato e a potência.
(vem) o início do movimento; a quarta (causa), que se
opõe à prece dente, é o "fim para que" e o bem (porque D) o universal e o particular.
este é, com efeito, o fim de toda a geração e
movimento). Já estudamos suficientemente estes
princípios na Física; todavia queremos aqui associar-
nos aos que, antes de nós, se aplicaram ao estudo dos 03. Aristóteles rejeitou a dicotomia estabelecida por
seres e filósofo faram sobre a verdade. (2) E, com efeito, Platão entre mundo sensível e mundo inteligível. No
evidente que eles também falam em certos princípios e
entanto, acabou fundindo os dois conceitos em um só.
em certas causas; tal exame será, portanto, útil ao nosso
estudo, porque ou descobriremos uma outra espécie de Esse conceito é
causas, ou daremos mais crédito às que acabamos de
A) a forma, aquilo que faz com que algo seja o que é. É
enumerar. A maior parte dos primeiros filósofos
considerou como princípios de todas as coisas o princípio de inteligibilidade das coisas.
unicamente os que são da natureza da matéria.
B) a matéria, enquanto princípio indeterminado de que
É aquilo de que todos os seres são constituídos,
e de que primeiro se geram, e em que por fim se o mundo físico é composto, e aquilo de que algo é feito.
dissolvem, enquanto a substância subsiste, mudando-se

19
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

C) a substância, enquanto aquilo que é em si mesmo e 04) Causa material, causa formal, causa eficiente e causa
enquanto é suporte dos atributos. final são os quatro sentidos que Aristóteles distinque no
termo causa
D) o Ato Puro ou Primeiro Motor Imóvel, causa
incausada e causa primeira e necessária de todas as 08) Segundo Aristóteles, a causa material e a causa
coisas. formal de uma coisa são, respectivamente, aquilo de que
a coisa é feita e aquilo que ela essencialmente é.

16) Segundo Aristóteles, a causa eficiente e a causa final


04. Sobre a teoria das quatro causas de Aristóteles é de uma coisa são, respectivamente, o agente que atua
correto afirmar: sobre essa coisa e o fim que ela se destina.
I- É próprio da ciência investigá-las, pois são as causas
do movimento e do repouso, ou seja, da passagem da
potência ao ato. 06. A filosofia de Aristóteles representou uma nova
interpretação sobre o problema do ser. Nesse sentido,
II- A causa eficiente atua sobre a forma, visto ser a Aristóteles define a ciência como
matéria o ato a que aspiram os seres.
A) conhecimento verdadeiro, isto é, conhecimento que
III- A causa final é própria daquele ser que deve se fundamenta apenas na compreensão do mundo
atualizar as potências contidas em sua matéria para inteligível porque as idéias, enquanto entidades
alcançar a finalidade própria. metafísicas, não mudam.
IV- A forma é o princípio de indeterminação dos seres. B) conhecimento verdadeiro, isto é, conhecimento
Assinale a única alternativa que apresenta as assertivas pelas causas, capaz de compreender a natureza do devir
corretas. e superar os enganos da opinião.

A) Apenas I e III. C) conhecimento relativo porque o ser é mobilidade,


eterno fluxo e a verdade não pode, portanto, ser
B) I, III e IV. absoluta.

C) Apenas II e III. D) conhecimento relativo porque a ciência, enquanto


produção do homem é determinada pelo
D) Apenas I e II.
desenvolvimento histórico.

05. (UEM) Elaborando a teoria das quatro causas e a 07. (UFU 2013) [...] após ter distinguido em quantos
sentidos se diz cada um [destes objetos], deve-se
distinção entre ato e potência, Aristóteles busca explicar mostrar, em relação ao primeiro, como em cada
a realidade do devir e da mudança a que estão predicação [o objeto] se diz em relação àquele.
submetidas as coisas causadas. Assinale o que Aristóteles, Metafísica. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Edições Loyola,
2002.
for correto.
De acordo com a ontologia aristotélica,
01) Para Aristóteles, a mudança implica uma passagem
A) a metafísica é ―filosofia primeira‖ porque é ciência
da potência ao ato; o ato é o estado de plena realização do particular, do que não é nem princípio, nem causa
de uma coisa; a potência, a capacidade que algo tem para de nada.
assumir uma determinação. B) o primeiro entre os modos de ser, ontologicamente,
é o ― por acidente‖, isto é, diz respeito ao que não é
02) Segundo Aristóteles, tudo que acontece tem suas essencial.
causas, essas são a explicação ou o porque de certa coisa C) a substância é princípio e causa de todas as
ser o que é. categorias, ou seja, do ser enquanto ser.
D) a substância é princípio metafísico, tal como exposto
por Platão em sua doutrina.

20
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br
ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 5.

08. (UFU 2011) Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C), apesar


de ter sido discípulo de Platão, criou sua própria A ética e a política, chamadas por Aristóteles (384-322
filosofia. Uma das diferenças marcantes entre os dois é a.C.) de ciências práticas, são importantes objetos de
a importância dada aos fenômenos naturais do estudos para este filósofo. Assinale a alternativa que se
chamado mundo sensível. No mundo sensível, a mudança refere corretamente à tese aristotélica da inclinação
é constante, característica que Aristóteles procura natural dos homens para a sociedade política.
explicar a partir das concepções de matéria, forma,
potência e ato. a) Apenas na sociedade política os homens realizam-se
como seres éticos, ou seja, atualizam sua potência como
Com base nos seus conhecimentos e no texto acima, seres racionais e virtuosos, capazes de proceder com
assinale a alternativa que define corretamente a mediania.
concepção aristotélica de ato e potência. b) A sociedade política deve servir unicamente à
satisfação das necessidades naturais dos homens, uma
A) A potência e o ato são conceitos que não se referem, vez que razão, ética e virtude são qualidades que se
de fato, às coisas materiais sujeitas à transformação. manifestam somente na vida privada.
B) A potência é o momento presente, atual da matéria; c) Os homens são movidos apenas por seus interesses
ato é o que ela poderá vir a fazer. individuais, sendo, então, necessária a sociedade política
C) A potência e o ato não se relacionam com a matéria. para conter suas disposições antissociais e naturalmente
D) A potência é o que a matéria virá a ser, seu devir, o agressivas.
princípio do movimento; ato é aquilo que ela é no d) A sociedade política tem sua forma perfeita na
presente. democracia, o que revela a disposição natural e a
inclinação de todos os seres humanos à razão, à virtude
e à igualdade.
09. (UFU 2011) “Segundo Aristóteles, tudo tende a e) Para Aristóteles, os fins justificam os meios, ou seja,
passar da potência ao ato; tudo se move de uma para se a sociedade política é o único meio de os homens
outra condição. Essa passagem se daria pela ação de viverem juntos, não se devem considerar os aspectos
forças que se originam de diferentes motores, isto é, éticos da vida humana.
coisas ou seres que promoveriam esta mudança. No
entanto, se todo o Universo sofre transformações, o
estagirita afirmava que deveria haver um primeiro 11. (UFU 2012) Em primeiro lugar, é claro que, com a
motor [...]”. expressão “ser segundo a potência e o ato”, indicam-se
CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2006, p. 58. dois modos de ser muito diferentes e, em certo sentido,
opostos. Aristóteles, de fato, chama o ser da potência
Com base em seus conhecimentos e no texto acima, até mesmo de não-ser, no sentido de que, com relação
assinale a alternativa que contenha duas características ao ser-em-ato, o ser-em-potência é não-ser-em-ato.
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. Vol. II. Trad. de Henrique
do primeiro motor. Cláudio deLima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994, p. 349.

A) O primeiro motor é imóvel, caso contrário, alguma A partir da leitura do trecho acima e em conformidade
causa deveria movê-lo e ele não seria mais o primeiro com a Teoria do Ato e Potência de Aristóteles, assinale
motor; é imutável, porque é ato puro. a alternativa correta.
B) O primeiro motor é imóvel, mas não imutável, pois
pode ocorrer de se transformar algum dia, como tudo A) Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua
no Universo. capacidade de se transformar em algo diferente dele
C) O primeiro motor é imutável, mas não imóvel, pois mesmo, como, por exemplo, o mármore (ser-em-ato)
do seu movimento ele gera os demais movimentos do em relação à estátua (ser-em-potência)
Universo. B) Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potência
D) O primeiro motor não é imóvel, nem imutável, pois explica o movimento percebido no mundo sensível.
isto seria um absurdo teórico. Para Aristóteles, o Tudo o que possui matéria possui potencialidade
primeiro motor é móvel e mutável, como tudo. (capacidade de assumir ou receber uma forma diferente
de si), que tende a se atualizar (assumindo ou recebendo
10. O mesmo ocorre com os membros da Cidade: aquela forma).
nenhum pode bastar-se a si mesmo. Aquele que não C) Para Aristóteles, a bem da verdade, existe apenas o
precisa dos outros homens, ou não pode resolver-se a ser-em-ato. Isto ocorre porque o movimento verificado
ficar com eles, ou é um deus, ou é um bruto. Assim, a no mundo material é apenas ilusório, e o que existe é
inclinação natural leva os homens a este gênero de sempre imutável e imóvel.
sociedade.

21
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

D) Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mundo E) baseia-se no que é mais prazeroso em sintonia com
sensível (das coisas materiais) e a potência se encontra o fato de que a natureza é que nos torna mais perfeitos.
tão-somente no mundo inteligível, apreendido apenas
com o intelecto.
14. (UFU 2011) Em sua obra Ética a Nicômaco,
Aristóteles propôs a ideia de que a virtude é a disposição
12. (UEM 2008) Elaborando a teoria das quatro causas para buscar o meio termo ou a justa medida entre o
e a distinção entre ato e potência, Aristóteles busca excesso e a falta em determinada conduta.
explicar a realidade do devir e da mudança a que estão
submetidas as coisas causadas. Assinale o que for Com base nessa afirmação e em seus conhecimentos
correto. sobre a obra de Aristóteles, assinale a alternativa
01) Para Aristóteles, a mudança implica uma passagem correta.
da potência ao ato; o ato é o estado de plena realização
de uma coisa; a potência, a capacidade que algo tem para A) Coragem é o justo meio entre covardia e
assumir uma determinação. temeridade.
02) Segundo Aristóteles, tudo o que acontece tem suas B) Covardia é o justo meio entre temeridade e
causas, essas são a explicação ou o porquê de certa coisa coragem.
ser o que é. C) Temeridade é o justo meio entre coragem e
04) Causa material, causa formal, causa eficiente e causa covardia.
final são os quatros sentidos que Aristóteles distingue D) Coragem, covardia e temeridade não são termos
no termo causa. que se relacionam à ética.
08) Segundo Aristóteles, a causa material e a causa
formal de uma coisa são, respectivamente, aquilo de que
essa coisa é feita e aquilo que ela essencialmente é. 15. Quanto à deliberação, deliberam as pessoas sobre
16) Segundo Aristóteles, a causa eficiente e a causa final tudo? São todas as coisas objetos de possíveis
de uma coisa são, respectivamente, o agente que atua deliberações? Ou será a deliberação impossível no que
sobre essa coisa e o fim a que ela se destina. tange a algumas coisas? Ninguém delibera sobre coisas
eternas e imutáveis, tais como a ordem do universo;
tampouco sobre coisas mutáveis como os fenômenos
13. Leia o texto a seguir. dos solstícios e o nascer do sol, pois nenhuma delas
pode ser produzida por nossa ação.
A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Edipro, 2007 (adaptado).

com a escolha e consiste numa mediania, isto é, a


O conceito de deliberação tratado por Aristóteles é
mediania relativa a nós, a qual é determinada por um
importante para entender a dimensão da
princípio racional próprio do homem dotado de responsabilidade humana.
sabedoria prática. A partir do texto, considera-se que é possível ao homem
deliberar sobre
(Aristóteles. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd
Bornheim. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273.)
A) coisas imagináveis, já que ele não tem controle sobre
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada os acontecimentos da natureza.
B) ações humanas, ciente da influência e da
ética em Aristóteles, pode-se dizer que a virtude ética
determinação dos astros sobre as mesmas.
A) reside no meio termo, que consiste numa escolha C) fatos atingíveis pela ação humana, desde que estejam
sob seu controle.
situada entre o excesso e a falta.
D) fatos e ações mutáveis da natureza, já que ele é parte
B) implica na escolha do que é conveniente no excesso dela.
E) coisas eternas, já que ele é por essência um ser
e do que é prazeroso na falta.
religioso.
C) consiste na eleição de um dos extremos como o mais
adequado, isto é, ou o excesso ou a falta.
16. (UNICENTRO 2011) A lógica formal aristotélica
D) pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em pode ser definida como
A) o estudo dos métodos e princípios usados para
razão de preferências pragmáticas.
distinguir o raciocínio correto do incorreto.
B) o corpo de proposições que tem por finalidade
garantir o estatuto do que é legítimo ou razoável.

22
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

C) o estudo da arte de convencer, que tem como B) a primeira proposição é chamada premissa maior; a
objetivo demonstrar que qualquer raciocínio é lógico. segunda, premissa menor, e a terceira conclusão.
D) a arte de convencer, pautada na mobilização de C) o termo médio é aquele que produz a ligação entre
emoções, como o medo, a hostilidade ou a reverência. os termos das premissas, produz a conclusão e, assim,
E) a estruturação simbólica do real, que tem por ele se faz presente nas premissas maior e menor.
objetivo demonstrar as origens religiosas e metafísicas D) sendo as premissas verdadeiras, a conclusão também
do homem. será, necessariamente, verdadeira.

17. (UFU 2009) Na escola, Joana se queixava a uma 20. (UEM 2008) Do ponto de vista da qualidade, as
amiga sobre um namorado que a abandonara para ficar proposições dividem-se em afirmativas e negativas. De
com outra colega da turma. Tentando consolá-la, a acordo com a quantidade, as proposições podem ser
amiga lhe disse que ela deveria se acostumar com isso, universais, quando o sujeito se refere a toda uma classe;
ou então, nunca mais tentar namorar, pois, disse ela, “os particulares, quando o sujeito se refere à parte de uma
garotos são todos interesseiros”. Deixando a dor de classe; singulares, quando o sujeito se refere a um
Joana de lado, poderíamos sistematizar o argumento da indivíduo.
amiga na forma de um silogismo tal como definido pelo
filósofo Aristóteles, da seguinte maneira: Dentre as proposições abaixo, identifique a(s) que
for(em) universal afirmativa, universal negativa,
Todo garoto é interesseiro. (Premissa maior) particular afirmativa.
Ora, o namorado de Joana é um garoto. (Premissa
menor) 01) Todos os homens são racionais.
Logo, o namorado de Joana é interesseiro. (Conclusão). 02) Nenhum homem é alado.
04) Alguns peixes vivem em rios.
A respeito desse argumento, e de acordo com as regras 08) O homem não é quadrúpede.
da lógica aristotélica, é correto afirmar que 16) Sócrates é filósofo.
A) o argumento é inválido, pois a premissa maior é
falsa. 21. (UEM 2008) Considere o argumento a seguir:
B) o argumento é válido, pois a intenção da amiga era “Alguns homens são inteligentes;
ajudar Joana. ora, alguns homens são professores;
C) o argumento é válido, pois a conclusão é uma logo, os professores são inteligentes.”
consequência lógica das premissas.
D) o argumento é inválido, pois a conclusão é falsa. Sabendo que o argumento é inválido, identifique
qual(is), dentre as regras do silogismo abaixo, ele falha
18. (UFU 2010) Conforme o Dicionário de Filosofia de em observar.
Nicola Abbagnano, Platão emprega a palavra silogismo
para definir o raciocínio em geral. Aristóteles, por sua 01) De duas premissas particulares nada resulta.
vez, o define como o tipo perfeito de raciocínio 02) O termo médio nunca entra na conclusão.
dedutivo, “um discurso em que, postas algumas coisas, 04) Nenhum termo pode ser total na conclusão sem ser
outras se seguem necessariamente.” Considere que a total nas premissas.
premissa “Todo atleta treina”, sentença universal e 08) De duas premissas afirmativas não se conclui uma
afirmativa, é a premissa maior de um silogismo, cuja negativa.
conclusão é: “Logo, Maria treina”. 16) De duas premissas negativas nada pode ser
(ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo concluído.
Bosi e Ivone C. Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2003.)
22. (UEM 2009) Na lógica clássica, três princípios
De acordo com tal definição, assinale a alternativa que lógicos (as três leis do pensamento), a saber, os
indica, corretamente, a premissa menor: princípios de identidade, de não contradição e do
A) Maria não é atleta. terceiro excluído, condicionam o valor de verdade de
B) Maria não treina. todo pensamento e de todo discurso.
C) Maria é atleta. Assinale o que for correto.
D) Maria é atleta, mas não treina. 01) O princípio de identidade afirma que cada coisa é
aquilo que é; uma proposição verdadeira é então
19. (UFU 2014) Em relação ao silogismo categórico de verdadeira.
Aristóteles é INCORRETO afirmar que 02) O princípio de não contradição estabelece que não
A) o termo médio aparece na conclusão do silogismo e se pode afirmar e negar o mesmo predicado do mesmo
nunca nas premissas. sujeito, ao mesmo tempo e na mesma relação.

23
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

04) De acordo com o princípio de não contradição, é Logo, Maria não é justa.
possível que proposições contraditórias possam ser
ambas verdadeiras, mas jamais falsas. 24. (UEM 2012) Segundo a lógica clássica ou
08) O princípio do terceiro excluído afirma que uma aristotélica, temos uma teoria do raciocínio como
proposição é verdadeira ou é falsa, vale dizer, que é inferência (do latim inferre, “levar para”). “Inferir é obter
verdadeira a disjunção p ou não-p. uma proposição como conclusão de uma outra ou de
16) De acordo com o princípio do terceiro excluído, há várias outras proposições que a antecedem e são sua
casos em que uma proposição é parcialmente explicação ou sua causa. O raciocínio realiza
verdadeira ou incompletamente falsa. inferências. [Ele] é uma operação do pensamento
realizada por meio de juízos e enunciada por meio de
23. (UEM 2011) O silogismo é composto de três juízos proposições encadeadas, formando um silogismo.
ou termos: dois termos iniciais, também chamados de Raciocínio e silogismo são operações mediatas de
premissas, e uma inferência lógica ou conclusão. Para conhecimento, pois a inferência significa que só
ser válido, o silogismo deve satisfazer certas regras de conhecemos alguma coisa (a conclusão) por meio de
validade, conforme o teor e a extensão das premissas e outras coisas.”
a forma de raciocínio (indução, dedução) que expressa. (CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 14.ª ed. São Paulo: Ática, 2011, p.
141).
A partir dessas informações, considerando as formas
Segundo o fragmento transcrito, é correto afirmar que
das proposições a seguir e as regras de validade do
01) todo pensamento humano é um raciocínio.
silogismo, assinale o que for correto.
02) o silogismo é resultado de uma inferência sobre
“Todos os cães são mamíferos”: proposição universal afirmativa;
proposições.
“Nenhum animal é mineral”: proposição universal negativa;
04) o conhecimento científico é mediado por
“Algum metal não é sólido”: proposição particular negativa;
raciocínios lógicos.
“Sócrates é mortal”: proposição singular afirmativa
08) a conclusão é a explicação das proposições das quais
(ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria foi inferida.
Helena Pires. Filosofando, introdução à filosofia. 4.ª ed. revista. 16) o raciocínio é o resultado de um silogismo.
São Paulo: Editora Moderna, 2009, p. 133).

01) De duas premissas singulares afirmativas, pode-se


inferir uma conclusão singular afirmativa. Exemplo: 25. (UEL 2011) Leia os textos a seguir.
Meu irmão caçula é calvo.
Meu irmão mais velho é calvo. Aristóteles, no Livro IV da Metafísica, defende o
Logo, sou calvo. sentido epistêmico do princípio de não contradição
como o princípio primário, incondicionado e
02) Em um raciocínio de tipo dedutivo, a conclusão é absolutamente verdadeiro da "ciência das causas
uma inferência lógica contida na extensão das premissas primeiras", ou melhor, o princípio que se apresenta
anteriores. Exemplo:
como fundamento último (ou primeiro) de justificação
Todo brasileiro é sul-americano.
Algum brasileiro é índio. para qualquer enunciado declarativo em sua pretensão
Logo, algum índio é sul-americano. de verdade.

04) Constitui uma forma de raciocínio indutivo a "É impossível que o mesmo atributo pertença e não
seguinte forma de silogismo: pertença ao mesmo tempo ao mesmo sujeito, e na
Proposição universal afirmativa. mesma relação. [...] Não é possível, com efeito,
Proposição singular negativa. conceber alguma vez que a mesma coisa seja e não seja,
Conclusão ambígua (afirmativa e negativa). como alguns acreditam que Heráclito disse [...]. É por
esta razão que toda demonstração se remete a esse
08) Segundo as regras de validade do silogismo, a
conclusão do silogismo a seguir é correta: princípio como a uma última verdade, pois ela é, por
Todo mercúrio é metal. natureza, um ponto de partida, a mesma para os demais
O mercúrio não é sólido. axiomas."
Logo, algum metal não é sólido.
(ARISTÓTELES. Metafísica. Livro IV, 3, 1005b apud FARIA,
Maria do Carmo B. de. Aristóteles: a plenitude como horizonte
16) Segundo as regras de validade do silogismo, a
do ser. São Paulo: Moderna, 1994. p. 93.)
conclusão do silogismo a seguir é correta:
Alguma mulher não é justa. Com base nos textos e nos conhecimentos sobre
Maria é mulher.
Aristóteles, é correto afirmar:
24
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

a) Aqueles que sustentam, com Heráclito, conceber (OLIVEIRA, M. A. Ética e sociabilidade. São Paulo: Loyola,
1993. p.61.)
verdadeiramente que propriedades contrárias podem
Com base no texto e nos conhecimentos sobre
subsistir e não subsistir no mesmo sujeito opõem-se ao Aristóteles, assinale a alternativa correta.
princípio de não contradição. a) A ética é entendida como ciência neutra, uma vez que
aquele que reflete filosoficamente com objetivos ético-
b) Pelo princípio de não contradição, sustenta-se a tese práticos comporta-se como um observador.
heracliteana de que, numa enunciação verdadeira, se b) A filosofia prática pretende refletir sobre a ação
possa simultaneamente afirmar e negar um mesmo humana em que o indivíduo é entendido enquanto
predicado de um mesmo sujeito, em um mesmo pertencente a uma comunidade de cidadãos.
sentido. c) A reflexão ética preocupa-se com os interesses do
sujeito, independentemente das relações com os
c) Nas demonstrações sobre as realidades supra- demais.
sensíveis, é possível conceber que propriedades d) O ser humano que age no mundo permanece
acrítico, posto que os acontecimentos que o atingem
contrárias subsistam simultaneamente no mesmo
são pura facticidade histórica.
sujeito, sem que isso incorra em contradição lógica, e) O valor do saber prático consiste em estabelecer os
ontológica e epistêmica. princípios da vida ética desvinculados da práxis, tendo
como referencial o saber teorético.
d) Para que se possa fundamentar o estatuto axiomático
do princípio de não contradição, exige-se que sua
evidência, enquanto princípio primário, seja submetida 28. (UNICENTRO 2014) Leia o texto a seguir.
à demonstração. Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade,
e toda comunidade se forma com vistas a algum bem,
e) Com o princípio de não contradição, torna-se pois todas as ações de todos os homens são praticadas
possível conceber que, se existem duas coisas não com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as
idênticas, qualquer predicado que se aplicar a uma delas comunidades visam a algum bem, é evidente que a mais
também poderá ser aplicado necessariamente à outra. importante de todas elas e que inclui todas as outras tem
mais que todas este objetivo e visa ao mais importante
de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade
política.
26. (UEL 2008) Quatro tipos de causas podem ser (ARISTÓTELES. Política. 3.ed. Tradução de Mário da Gama
Kury. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997. p.13.)
objeto da ciência para Aristóteles: causa eficiente, final,
formal e material. Assinale a alternativa correta em que Com base no texto e nos conhecimentos sobre
as perguntas correspondem, às causas citadas. Aristóteles e a constituição da Cidade-Estado, assinale
a alternativa correta.
a) Por que foi gerado? Do que é feito? O que é? a) É constituída independentemente da vontade
Quem gerou? humana, sendo empecilho para a liberdade.
b) É uma construção natural, pois o fim dos seres
b) O que é? Do que é feito? Por que foi gerado? humanos é viver em comunidade.
Quem gerou? c) Conjuntamente com as leis, são entraves à liberdade
do indivíduo que lhes impõem o comando.
c) Do que é feito? O que é? Quem gerou? Por que d) Impede que os seres humanos conquistem a
foi gerado? condição de cidadãos do mundo, ficando restritos.
d) Por que foi gerado? Quem gerou? O que é? De e) Resulta dos caprichos dos seres humanos em querer
que é feito? garantir vantagens individuais.

e) Quem gerou? Por que foi gerado? O que é? Do 29. “A virtude é pois uma disposição de caráter
que é feito? relacionada com a escolha e consiste numa mediania...”
(ARISTÓTELES. Ética à Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro
e Gerd Bornheim. 4 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 33.)
27. (UNICENTRO 2014) Leia o texto a seguir.
Livre, para Aristóteles, é o que vive para si e não para Com base no texto e nos conhecimentos sobre a virtude
outro, mas a liberdade não tem sua existência na vida em Aristóteles, assinale a alternativa correta.
do indivíduo isolado, mas na vida inserida nas
instituições éticas da pólis.

25
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

a) A virtude é o governo das paixões para cumprir uma (CORTINA, Adela; MARTÍNEZ, Emilio. Ética. Trad. Silvana
tarefa ou uma função. Cobucci Leite. São Paulo: Loyola, 2005. p. 57.)

b) A virtude realiza-se no mundo das idéias. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a ética
aristotélica, é correto afirmar:
c) A virtude é a obediência aos preceitos divinos.
a) É uma ética que desconsidera os valores culturais e a
d) A virtude é a justa medida de equilíbrio entre o participação discursiva dosenvolvidos na escolha da
excesso e a falta. concepção de bem a ser perseguida.

e) A virtude tem como fundamento a utilidade da ação. b) É uma ética do dever que, ao impor normas de ação
universais, transcende a concepção de vida boa de uma
comunidade e exige o cumprimento categórico das
30. “[...] uma pessoa age injustamente ou justamente mesmas.
sempre que pratica tais atos voluntariamente; quando c) É uma ética compreendida teleologicamente, pois o
os pratica involuntariamente, ela não age injustamente bem supremo, vinculado à busca e à realização plena da
nem justamente, a não ser de maneira acidental. O que felicidade, orienta as ações humanas.
determina se um ato é ou não é um ato de injustiça (ou
de justiça) é sua voluntariedade ou involuntariedade; d) É uma ética que orienta as ações por meio da bem-
quando ele é voluntário, o agente é censurado, e aventurança proveniente da vontade de Deus, porém
somente neste caso se trata de um ato de injustiça, de sinalizando para a irrealização plena do bem supremo
tal forma que haverá atos que são injustos mas não nesta vida.
chegam a ser atos de injustiça se a voluntariedade
também não estiver presente.” e) É uma ética que compreende o indivíduo virtuoso
como aquele que já nasce com certas qualidades físicas
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, e morais, em função de seus laços sanguíneos.
1996. p. 207.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a 32. (UEM 2011) Aristóteles, acerca do cidadão, afirma:
concepção de Justiça em Aristóteles, é correto afirmar: “Em nada se define mais o cidadão, em sentido pleno,
do que no participar das decisões judiciais e dos cargos
a) Um ato de justiça depende da consciência do agente de governo. Desses, uns são limitados no tempo, de
e de ter sido praticado voluntariamente. modo a não ser possível jamais a um cidadão exercer
b) A noção de justo desconsidera a discriminação de duas vezes seguidas o mesmo cargo, mas apenas depois
atos voluntários e involuntários quanto ao de um intervalo definido. [...] Consideramos cidadão o
reconhecimento de mérito. que assim pode participar, como membro, (quer da
c) A justiça é uma noção de virtude inata ao ser humano, assembleia quer da judicatura)”.
a qual independe da voluntariedade do agente. (ARISTÓTELES, Política. In: Antologia de textos filosóficos. Curitiba:
d) O ato voluntário desobriga o agente de SEED-PR, 2009, p. 76).
imputabilidade, devido à carência de critérios para
distinguir a justiça da injustiça. Esse conceito clássico de cidadania ainda é aplicável aos
e) Quando um homem delibera prejudicar outro, a nossos dias. Com base no texto, é correto afirmar que
injustiça está circunscrita ao ato e, portanto, exclui o 01) nas ditaduras, quando a população não pode
agente. participar das decisões políticas, não há cidadania plena.
02) recusar-se a tomar parte nas decisões políticas não
é um direito, mas uma afronta à cidadania.
31. “Aristóteles foi o primeiro filósofo a elaborar 04) a cidadania é uma concessão dos governantes ao
tratados sistemáticos de Ética. O mais influente desses povo.
tratados, a Ética a Nicômaco, continua a ser 08) não há cidadania plena quando a população não tem
como acessar às instituições públicas, como participar
reconhecido como uma das obras-primas da filosofia
delas.
moral. Ali nosso autor apresenta a questão que, de seu 16) a cidadania se resume à democracia, que é o direito
ponto de vista, constitui a chave de toda investigação de escolher os governantes.
ética: Qual é o fim último de todas as atividades
humanas?”

26
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

33. (UEM 2011) “São de índole democrática os (B) Governo dos melhores homens de maneira
seguintes procedimentos: eleger todas as magistraturas absoluta, que governam com vistas ao bem comum.
entre todos os cidadãos; governar todos a cada um, e (C) O governante dirige de acordo com seu interesse
cada um a todos, em alternância; sortear as em detrimento do bem de toda a comunidade.
magistraturas ou na totalidade, ou então só as que não (D) O governo está nas mãos de uma única pessoa cujo
exijam experiência ou habilitação; impedir que o mesmo objetivo é o bem comum.
cidadão exerça duas vezes a mesma magistratura, a não
ser em raras circunstâncias e apenas naquelas escassas
magistraturas que não se relacionam com a guerra; Assinale a alternativa que contém a associação correta.
reduzir ao mínimo o período de vigência de todas as a) I-A, II-C, III-B, IV-D.
magistraturas, ou então, do maior número possível b) I-B, II-A, III-D, IV-C.
delas; atribuir administração da justiça a todos os c) I-B, II-D, III-A, IV-C.
cidadãos escolhidos entre todos; depor a supremacia d) I-C, II-A, III-B, IV-D.
das decisões nas mãos da assembleia no tocante a todos e) I-C, II-D, III-A, IV-B.
os assuntos. Outro aspecto decisivo é o fato de
nenhuma magistratura ser vitalícia e, no caso de um
determinado cargo ter resistido a uma antiga reforma, 35. (ENEM 2009.2) Segundo Aristóteles, “na cidade
ser democrático o fato de restringir o seu poder fazendo com o melhor conjunto de normas e naquela dotada de
que a magistratura seja ocupada por sorteio em vez de homens absolutamente justos, os cidadãos não devem
eleição.” viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios —
(ARISTÓTELES. Política. In: Filosofia. Livro Didático Público. esses tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis
Curitiba: SEED-PR, 2006. p.170). com as qualidades morais —, tampouco devem ser
agricultores os aspirantes a cidadania, pois o lazer é
A partir dessas informações, assinale o que for correto. indispensável ao desenvolvimento das qualidades
morais e a pratica das atividades políticas”.
01) Pode-se afirmar, segundo o texto, que o sorteio de VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidia na
cargos políticos é preferível ao pleito eleitoral, uma vez na cidade-Estado. São Paulo: Atual, 1994.

que a eleição pode favorecer a aristocracia e a oligarquia,


bem como ameaçar a democracia. O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles,
02) Os ideais democráticos descritos pelo texto estão de permite compreender que a cidadania
acordo com os princípios de isonomia (igualdade de
direitos perante a lei) e isègoria (igualdade de direitos ao A) possui uma dimensão histórica que deve ser
uso político e público da palavra). criticada, pois é condenável que os políticos de qualquer
04) Segundo o texto, a escolha dos magistrados é época fiquem entregues a ociosidade, enquanto o resto
endereçada apenas àqueles que têm experiência e estão dos cidadãos tem de trabalhar.
aptos a este ofício, já que nem todos os cidadãos têm B) era entendida como uma dignidade própria dos
direito a ocupar cargos públicos. grupos sociais superiores, fruto de uma concepção
08) As reformas administrativas, segundo o texto, entre política profundamente hierarquizada da sociedade.
outras virtudes no campo democrático, servem para C) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção
provocar novas eleições. política democrática, que levava todos os habitantes da
16) No texto, o estado de exceção, suscitado pela pólis a participarem da vida cívica.
guerra, representa o ponto mais alto para o exercício D) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela
das ideias democráticas. qual o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado as
atividades vinculadas aos tribunais.
34. (UNICENTRO 2014) Com base nos E) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita aqueles
conhecimentos do texto Política, de Aristóteles, que se dedicavam a política e que tinham tempo para
relacione as formas de governo (constituições), na resolver os problemas da cidade.
coluna da esquerda, com o significado de cada uma
dessas formas de governo, na coluna da direita. 36. (ENEM 2013) A felicidade é, portanto, a melhor,
(I) Aristocracia. a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses
(II) Monarquia. atributos não devem estar separados como na inscrição
(III) Governo Constitucional. existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais
(IV) Tirania. justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o
que amamos”. Todos estes atributos estão presentes
(A) A maioria governa a cidade com vistas ao bem nas mais excelentes atividades, e entre essas a melhor,
comum. nós a identificamos como felicidade.
ARISTOTELES. A Politica. São Paulo: Cia das Letras, 2010.

27
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

A) indicador da imagem do homem no estado de


Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais natureza.
excelentes atributos, Aristóteles a identifica como B) condição necessária para a realização da virtude
a) busca por bens materiais e títulos de nobreza. humana.
b) plenitude espiritual e ascese pessoal. C) atividade que exige força física e uso limitado da
c) finalidade das ações e condutas humanas. racionalidade.
d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas. D) referencial que o homem deve seguir para viver uma
e) expressão do sucesso individual e reconhecimento vida ativa.
público. E) mecanismo de aperfeiçoamento do trabalho por
meio da experiência.
37. (ENEM 2014)
TEXTO I
Olhamos o homem alheio às atividades públicas 39. (UEM 2014) “A virtude é, pois, uma disposição de
não como alguém que cuida apenas de seus próprios caráter relacionada com a escolha e consistente numa
interesse, mas como um inútil; nós, cidadãos atenienses, mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é
decidimos as questões públicas por nós mesmos na determinada por um princípio racional próprio do
crença de que não é o debate que é o empecilho para à
ação, e sim o fato de não se estar esclarecido pelo debate homem dotado de sabedoria prática. E é um meio-
antes de chegar a hora da ação. termo entre dois vícios, um por excesso e outro por
falta; pois que, enquanto os vícios ou vão muito longe
TUCÍDIDES. H istória da g uerra do Peloponeso. Brasília: UnB, 1987 ou ficam aquém do que é conveniente no tocante às
(adaptado).
ações e paixões, a virtude encontra e escolhe o meio-
termo.”
TEXTO II
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, Livro II, cap. 6. Coleção Os
Um cidadão integral pode ser definido por nada Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 73).
mais anda menos que pelo direito de administrar justiça
e exercer funções públicas; algumas destas, todavia, são A partir do trecho citado, assinale o que for correto.
limitadas quanto ao tempo de exercício, de tal modo
que não podem de forma alguma ser exercidas duas 01) A virtude é uma disposição decorrente de um
vezes pela mesma pessoa, ou somente podem sê-lo raciocínio que busca um agir equilibrado ou moderado.
depois de certos intervalos de tempo prefixados.
02) Os vícios são disposições que fogem à moderação,
ARISTÓTELES. Política . Brasília: UnB, 1985.
seja porque não atingem esse equilíbrio, seja porque o
Comparando os textos I e II, tanto para Tucidides (no ultrapassam.
século V a.C.) quanto para Aristóteles (no século IV
a.C.), a cidadania era definida pelo(a) 04) O meio-termo da ação virtuosa não é uma regra
única e absoluta, mas deve ser considerada em relação
A) prestígio social. ao indivíduo que age, por isso é uma mediania e não
B) acúmulo de riqueza. uma média.
C) participação política.
D) local de nascimento. 08) A coragem é uma ação virtuosa que está a meio-
E) grupo de parentesco. termo entre os vícios da covardia e do destemor.

16) O meio-termo da ação virtuosa implica a concessão


38. (ENEM 2015) A utilidade do escravo é semelhante de algo e impede que o agente defenda, com
à do animal. Ambos prestam serviços corporais para contundência, seu ponto de vista.
atender às necessidades da vida. A natureza faz o corpo
do escravo e do homem livre de forma diferente. O
escravo tem corpo forte, adaptado naturalmente ao
trabalho servil. Já o homem livre tem corpo ereto,
inadequado ao trabalho braçal, porém apto à vida do
cidadão.
ARISTÓTELES. Política. Brasília: UnB, 1985.

O trabalho braçal é considerado, na filosofia


aristotélica, como

28
Prof. Anderson Pinho www.filosofiaesociologia.com.br

GABARITO

QUESTÕES ARISTÓTELES
01. d 31. c

02. c 32. 1/2/8

03. c 33. 1/2

04. a 34. c

05. 01/02/04/08/16 35. b

06. b 36. c

07. c 37. c

08. d 38. c

09. a 39. 1/2/4/8

10. a
11. b
12. 1/2/4/8/16
13. a
14. a
15. c
16. a
17. c
18. c
19. a
20. 1/2/4/8
21. 1
22. 1/2/8
23. 2/8
24. 2/4
25. a
26. e
27. b
28. b
29. d
30. a

29

Você também pode gostar