Inicialmente, é necessário que tenhamos em mente a concepção
de que memória e esquecimento possui uma correlação fundamental.
O perigo do esquecimento pode estar relacionado a perca de experiências contidas em sua memória, de certa forma fazendo com que certos aspectos da identidade cultural, tanto como a significação em torno do patrimônio cultural sofra tensões, ocasionando numa pobreza de interpretações. Outro ponto para reflexão em torno dos perigos do esquecimento diz respeito a perca e confusão dos pontos de referências; referências que já possuem um arcabouço mais solidificado de experiências. Entretanto é de fundamental importância demonstrar os aspectos positivos do esquecimento. Entende-se que o ser humano possui uma necessidade ontológica de esquecer, esta por vezes ligada a busca por reconforto e felicidade, ao lado de reflexões sobre seus verdadeiros anseios. Da mesma forma, o esquecimento pode ser um mecanismo que é capaz de propiciar a quebra de certos preceitos ou dogmas de determinada realidade, valores culturais que muitas vezes se assemelham a padrões, modelos de conduta a se seguir, nos impondo certas amarras e estigma. Neste sentido, se torna um mecanismo que possibilita a construção de novas culturas, de uma possibilidade de construir sua própria “liberdade” e suas experiências por si só. A questão que se faz de pertinente reflexão gira em torno da possibilidade do esquecimento propiciar uma “quebra” com a memória. Em certos momentos, algo desejável, já que nos possibilita de certa forma escolhermos nossas melhores lembranças. Em contraste, têm-se o o fato de que esta quebra possa nos acarretar menor acúmulo de experiências, já que quando filtramos nossa memória para lembrarmos apenas coisas boas, as más lembranças são marginalizadas. O fato é que o esquecimento é um mecanismo de “mão dupla”, sendo um aspecto ontológico necessário, porém, há de se ter cautela quanto aos “excessos” do seu uso.