A HISTÓRIA
DA LITERATURA
COMO PROVOCAÇÃO À
TEORIA LITERARIA
Tradução
Sérgio Tellaroli
mfilitora alira
Série
Temas
volume 36
Estudos literários
TEXTO
EDITOR
Fernando Paixão
ASSISTÊNCIA EDITORIAL
Mário Vilela
ARTE
EDIÇÃO DE ARTE (MIOLO)
Divina Rocha Corte
CAPA
Errore Botcini
INDICAÇÃO EDITORIAL
Duda Machado
ISBN 85 08 04631 6
1994
Todos os direitos reservados
Editora Ática S.A.
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São Paulo (SP)
Sumário
I ............................................................................. 5
II ............................................................................. 9
III ............................................................................. 15
IV 18
V ............................................................................. 2~
VI ............................................................................. 24
VII ............................................................................. 27
VIII ............................................................................. 31
IX ............................................................................. 35
X ............................................................................. 41
XI ............................................................................. 46
XII ............................................................................. 50
Notas ........................................................................ 58
*Aqui e nos demais contexto> em que aparece, a palavra " poesia" foi usada para traduzir o
substarmvo alemao l>uhrung. 1 rnprega-s~. portanto, não no 'emido restrito d<· obra cm ver-
so, ma' no de ohra hterána de urna forma geral. (N. r) '
14
l..
VI
fica. A obra literária não é um objeto que exista por si só, ofere-
cendo a cada observador em cada época um mesmo aspecto44.
Não se trata de um monumento a revelar monologicamente seu
Ser atemporal. Ela é, antes, como uma partitura voltada para a
ressonância sempre renovada da leitura, libertar.do o texto da
matéria das palavras e conferindo-lhe existência atual: "parole
qui drJit, en même temps qu'e:Le fui parle, créer un interloc · 't'ur
capable de l'entendre"45. É esse caráter dialógico da obra literária
que explica por que razão o saber filológico pode apenas consis-
tir na continuada confrontação com o texto, não devendo con-
gelar-se num saber acerca de fatos 46. O saber filológico permane-
ce sempre vinculado à interpretação, e esta precisa ter por meta,
paralelamente ao conhecimento de seu objeto, refletir e descre-
ver a consumação desse conhecimento como momento de uma
nova compreensão.
A história da literatura é um processo de recepção e produ- ·
ção estética que se realiza na atualização dos textos literários por
parte do leitor que os recebe, do escritor, que se faz novamente
produtor, e do crítico, que sobre eles reflete. A soma - crescen-
te a perder de vista - de "fatos" literários conforme os registram
as histórias da literatura convencionais é um mero resíduo des ..-.
processo, nada mais que passado coletado e classificado, por isso
mesmo não constituindo história alguma, mas pseudo-história.
Aquele que toma já por uma parcela da história da literatura uma
tal série de faros literários está confundindo o caráter de aconte-
cimento de uma obra de arte com o de um fato histórico. Como
acontecimento literário, o Perceval de Chrétien de Troyes não é
"histórico" no sentido em que o é, por exemplo, a Terceira
Cruzada, contempórânea à obra4 7 • Não se trata de uma action
que, em função de uma série de premissas e motivações imperio-
sas, da intenção reconstruível de um ato histórico e de suas con-
seqüências inevitáveis e incidentais, se possa explicar como even-
to decisivo. O contexto histórico no qual uma obra literária apa-
rece não constitui uma seqüência factual de acontecimentos for-
çosamente existentes independentemente de um observador. O
Perceval torna-se acontecimento literário unicamente para seu lei-
tor, que lê essa obra derradeira de Chrétien tendo na lembrança
26
43
histórica' sabia que, no fundo, não pode haver outra história senão a uni-
versal, porque só a partir do rodo é que o particular se define em seu
significado específico. Como há de arranjar-se aí o invesrigador empírico,
ao qual o rodo jamais se oferece, sem ceder terreno ao filósofo e a seu arbí-
trio apriorístico?"
14 "Grundzüge der Hisrorik", parágrafo 32.
1~ Geschichte der poetischen Nationalliteratur der Deutschen, v. IV, p. VII:
"Nossa lirerarura já teve o seu tempo, e, se não se deseja a paralisação da vi-
da alemã, remos de atrair os ralemos agora desprovidos de uma mera para o
mundo real e para o Estado, onde se há de derramar um novo espírito sobre
uma nova matéria".
l6 Na apresentação de sua Geschichte der poetischen NationalLiteratur der
Deutschen (Schriften ... , op. cir., p. 123), em que Gervinus - nisso, defen-
sor ainda do historicismo do Iluminismo contra o do romantismo - con-
tradiz essa regra básica, afastando-se decididamente da "conduta rigorosa-
mente objetiva da maioria dos historiadores atuais".
17 "Über die Epochen der neueren Geschichre", in: Geschichte und Politik -
Ausgewiihlte Aufiiitze und Meisterschriften, H. Hofmann (ed.), Sturrgarr,
1940, p. 141.
18 "Se se quisesse, porém, [... ) supor que ral progresso consiste no faco de
que, em cada época, a vida da humanidade se faz mais elevada, de que,
portamo, cada geração sobrepuja completamente a precedente - e a últi-
ma seria, assim, a privilegiada, ao passo que as precedentes seriam apenas
as portadoras das seguintes-, isso significaria, então, uma injustiça divi-
na" (ibid.). Há que se falar aqui numa nova teodicéia porque - como o
demonstrou O. Marquard - já a filosofia idealista da história, rejeitada
por Ranke, lograra expressar a demanda recôndita por uma teodicéia, na
medida em que, para aliviar Deus dessa carga, fizera do homem o sujeito
responsável pela história e compreendera o progresso histórico como um
processo jurídico, ou como o progresso nas relações jurídicas humanas
(cf. "Idealismus und Theodizee'', in: Philosophisches }ahrbuch, 73, 1965,
p. 33-47).
l9 Op. cir., p. 528. Cf. p. 526 et seqs., em que Schiller define a tarefa do his-
toriador universal como um processo no qual se pode suspender o princípio
teleológico - isto é, o propósito de encontrar e resolver no curso da
história universal o problema da ordem mundial-, "porque somente se há
de esperar obter uma história universal segundo tal princípio no final dos
tempos". O próprio processo descreve a historiografia como uma espécie de
"história do efeito": o historiador universal "move-se partindo da mais re-
cente situação do mundo rumo à origem das coisas", destacando dentre os
aconrecimenros aqueles que tiveram uma influência fundamental na con-
formação do mundo atual; em seguida, ele retorna pelo caminho que
61
enconrrou e pode, então, "a partir do fio condutor dos fatos registrados",
apresentar como história universal a relação entre a situação passada e apre-
~re ~ m=~- .
20 A conseqüência do princípio segundo o qual o historiador, se deseja apre-
sentar uma época passada, deve primeiramente desvencilhar-se de tudo o
que sabe acerca do curso mais recente da história (Foustel de Coulanges) é
o irracionalismo de uma "empatia" incapaz de prestar contas a si própria
acerca de suas premissas e preconceitos. Ver a respeito W. Beniamin,
"Geschichtsphilosophische Thesen", VII, in: Schriften J, Frankfurt, 1955,
p. 497.
21 W. von Humboldt, op. cit., p. 586.
22 Ibid., p. 590: "O historiador digno desse nome deve apresentar cada acon-
tecimento como pane de um rodo, ou - o que significa a mesma coisa -
evidenciar em cada um deles a forma da história".
23 Característica dessa separação entre história da literatura e crítica literária é
a definição de filologia no Grundri/f der romanischen Philologie de G.
Grober, v. 1, Estrasburgo, 1906, 2. ed., p. 194: "A manifestação na língua
(compreensível apenas de forma mediara) do espírito humano e os feiros
desse mesmo espírito no discurso artístico do passado constituem, portan-
ro, o verdadeiro objeto da filologia".
24 Ver a respeito W. Krauss, 1950, p. 19 et seqs.
25 Cf. a respeiro R. Wellek, 1965, p. 193.
26W. Krauss, 1950, p. 57 er seqs., mostra, a partir do exemplo de E. R.
Curtius, em que grande medida esse ideal científico permaneceu cativo do
pensamento do círculo de [Stefan] George.
r Europiiische Literatur und fateinisches Mittefalter, Berna, 1948, p. 404.
2s Op. cit., p. 66.
29 Uma bibliografia dos escritos de W. Krauss pode ser encontrada no volume
comemorativo Literaturgeschichte ais geschichtlicher Auftrag, organizado por
W. Bahner, Berlim, 1961. As investigações que versam sobre o Iluminismo
europeu figuram na série Neue Beitriige zur Literaturwissenschaft, organizada
por VI.'. Krauss e H. Mayer.
30 Cf. a respeito W. Krauss, 1950, p. 59; P. Demetz, "Zwischen Klassik und
Bolschewismus. Georg Lukács ais Theoretiker der Dichtung", in: Merkur,
12 (J 958), p. 501-15, e id.; Marx, Engels und die Dichter, Sturtgarr, 1959.
31 Inexiste ainda uma exposição completa da teoria literária e da estérica, bem
como de suas conseqüências, no período do degelo; cf. G. Srruve, "Die
sowjetische Lireraturwissenschaft in jüngster Zeit", in: Sowjetstudien
(1959), p. 47-71, e'\<,'. Oelmüller, "Neue Tendemen und Diskussionen
der marxistischcn Ãsthetik", in: Philosophische Rundschau, 9 (1961), p.
181-203.
62
74 Ibid.
67
91 Segundo V. Erlich, op. cir., p. 281, tal conceito possuía para os formalistas
um tríplice significado: "no plano da representação da realidade, a 'quali-
dade diferencial' significava um 'afastar-se' do real e, portanto, a defor-
mação criativa. No plano da língua, a expressão indicava o afastar-se da lin-
guagem habitual. No plano da dinâmica literária, por fim, [... ] uma trans-
formação da norma artística predominante".
92 Como exemplo da primeira possibilidade, pode-se mencionar a revaloriza-
ção (anti-romântica) de Boileau e da poética clássica da contrainte, opera-
da por Gide e Valéry; como exemplo da segunda, a descoberta tardia dos
hinos de Holderlin ou do conceito de Novalis da poesia do futuro (a res-
peito desce último, ver H. R. Jauss in: Romanische Forschungen, 77, 1965,
p. 174-83).
93 Desse modo, os "grandes românricos" canonizados - Lamartine, Vigny,
Mussec e boa parte da lírica "retórica" de Victor Hugo - foram mais e
mais deslocados para o fundo do palco a partir da recepção do "romântico
menor" Nerval, cuja obra Chimeres somente passou a causar sensação a par-
tir do efeito produzido por Mallarmé.
94 Poetik und Hermeneutik II (/mmanente Asthetik -Asthetische Reflexion, or-
ganizado por W. Iscr, Munique, 1966, especialmente p. 395-418).
95 ln: Zeugnisse - Theodor W Adorno zum 60. Geburtstag, Frankfurt, 1963,
p. 50-64; ver também o artigo "General history and aesrheric approach",
para Poetik und Hermeneutik III (v. nota 55).
96 "First, in identifying history as a process in chronological time, we tacitly as-
sume that our knowledge of the moment at which an event emerges from the
fow oftime will help us to account for its appearance. The date ofthe event is a
value-Laden fact. Accordingly, ali events in the history ofa people, a nation, ora
civilization which take place ata given moment are supposed to occur then and
there for reasons bound up, somehow, with that moment" (op. cic., p. 51 ).
97 Esse conccico remonta a G. Kubler, The shape o/time: remarks on the history
ofthings, Ncw Haven/Londres, 1962.
98 Op. cir., p. 53.
99 Poetik zmd Hermeneutik III (ver nota 55), p. 569. A fórmula da "simul-
taneidade do heterogêneo", com a qual F. Sengle (1964, p. 247 ec seqs.)
descreve esse mesmo fenômeno, reduz o problema em uma de suas dimen-
sões, como se depreende também do fato de ele acreditar que essa dificul-
dade da história da literatura pode ser resolvida simplesmente mediante
uma união do método compararista com a interpretação moderna ("o que
significa, portanto, efetuar inrerpreraçóes comparacisras numa base mais
ampla", p. 249).
lOO]. Tynianov e R. Jakobson, Probleme der Literatur- und Sprachforschung
(1928), in: Kursbuch, 5 (1966), p. 75 ["Os problemas dos escudos literários
e lingüísticos", p. 96; ver nota 32]: "A história do sistema apresenta, por sua
69
vez, um novo sistema. A pura sincronia revela-se, então, ilusória: toda sin-
cronia tem seu passado e seu futuro, como elementos estruturais insepa-
ráveis desse sistema".
101 Primeiramente, em "Epochenschwelle und Rezeption", in: Philosophische
Rundschau, 6 (1958), p. 1O1 et seqs., e, por fim, em Die Legitimitat der
Neuzeit, Frankfurt, 1966. Cf. especialmente p. 41 et seqs., em que, a partir
do caso da "secularização", o contexto sucessório da relação entre teologia
cristã e filosofia é explicado e fundado na lógica histórica de pergunta . res-
posta: "Há problemas, portanto, que somente graças à oferta de suas supos-
tas soluções - ou daquilo que, posteriormente, figura como solução de um
problema dado - se colocam e se fixam com obstinada insistência. A tota-
lidade destes constitui o que se poderia chamar o sistema formal da explica-
ção do mundo, em cuja estrutura deixam-se localizar as reocupações que
compõem desde o caráter processual da história até a radicalidade das mu-
danças de época" (p. 43).
102 No âmbito limitado da história de um problema, intentei fazer tal análise
histórica com base num corte transversal em meu artigo "Fr. Schlegels und
Fr. Schillers Replik auf die 'QuereUe des Anciens et des Modernes"', para
Europaische Aujkliirzmg- Herbert Dieckmann zum 60. Geburtstag, organi-
zado por H. Friedrich e F. Schalk, Munique, 1967, p. 117-40.
10.3 A presente situação da discussão em torno das novas tendências estrutura-
listas é apresentada no v. 36-7 dos Yal.e French studies: structuralism, organi-
zado por J. Ehrmann, 1966; sobre sua história, ver G. Harcman,
"Scructuralism: the Anglo-American adventure", ibid., p. 148-68.
º''
1 Agora in: Gesellschaft - Literatur - Wissenschaft: Gesammelte Schriften
1938-1966, organizado por H. R. Jauss e C. Müller-Daehn, Munique,
1967, p. 1-13, especialmente p. 2 e 4.
IOS K. Mannheim, Mensch und Gesellschaft im Zeitalter des Umbaus, Dar-
mstadt, 1958, p. 212 et seqs.
106 Untersuchungen zur mittelalterlichen Tierdichtung, Tübingen, 1959, cf.
p. 153, 180, 225 e 271; ver ainda Archiv fiir das Studium der Neueren
Sprachen, 197 (1961), p. 223-5.
io~ ln: Theorie und Realitat, H. Albert (org.), Tübingen, 1964, p. 87-102.
º
1 8 Ibid., p. 91.
IO<J Ibid., P· 102.
11
º O exemplo do cego proposto por Popper não faz nenhuma diferenciação
entre duas possibilidades distintas: a de um comportamento apenas reativo
e a de um agir experimental. dando-se sob cercas condições. Se a segunda
possibilidade caracteriza o comporcamento científico refletido, por
oposição ao comportamento irrefletido da vida prática, então o pesquisador
sena "criativo" superior, portanto, aos "cegos" e comparável, antes, ao
poeta, como criador de novas expectativas.
70
111 G. Buck, Lemen und Eifahrung, op. cit., p. 70: "[A experiência negativa]
não é apenas instrutiva porque nos leva a reviver o contexto de nossa expe-
riência passada de tal maneira que o novo se integra na unidade corrigida de
um sentido objetivo. [... ) Não é apenas o objeto da experiência que se apre-
senta diverso, mas a própria consciência daquele que experimenta se inver-
te. A obra da experiência negativa é um fazer-se consciente de si. Aquilo de
que nos tornamos conscientes sao os motivos que norteavam a experiência e
que, como tais, não foram questionados. A experiência negativa tem, pois,
primordialmente, o caráter da auro-experienciação que nos liberta para
uma modalidade qualitativamente nova da experiência".
112 Ver acima, nota 34.
113 J. Srriedrer chamou a atenção para o fato de que, nas passagens do diário e
nos exemplos extraídos da prosa de T olsrói aos quais Chklovski se refere em
sua primeira explanação do procedimento do estranhamento, o aspecto pu-
ramente estético encontrava-se ainda vinculado a uma teoria do conheci-
mento e a uma ética: "A Chklovski, porém - ao contrário de Tolstói - ,
interessa primordialmente o 'procedimento' artístico, e não a questão acer-
ca de suas premissas e efeitos éticos" (Poetik und Hermeneutik 11, ver nora
94, p. 288 et seqs.).
114 Flaubert, Oeuvres, Ed. de la Plêiade, Paris, 1951, vol. I, p. 657: "{..] ainsi,
des cette premiere fiwte, des cette premiere chute, elle fait la glorification de
!'adultere, sa poésie, ses voluptés. Voilà, messieurs, qui pour moi est bien plus
dangereux, bien plus immoral que la chute eíle-même!"
115 E. Auerbach, Mimesis: Dargestellte Wirklichkeit in der abendldndischen
Literatur, Berna, 1946, p. 430 [No Brasil, Mimesis. A representação da reali-
dade na literatura ocidental, São Paulo, Perspectiva, p. 434).
11 6 Op. cir., p. 673.
117 Ibid., p. 670.
118 Ibid., p. 666.
119 Cf. ibid., p. 666-7.
120 Ibid., p. 717 (citado a partir do]ugement).
121 Die Schaubiihne ais eine moralische Anstalt betrachtet, Sakular-Ausgabe, v.
XI, p. 99. Ver a respeito R. Koselleck, Kritik und Krise, Freiburg/Munique,
1959, p. 82 er seqs.
122 "Zur Systematik der künstlerischen Probleme", in: jahrbuch for Asthetik,
1925, p. 440; sobre a aplicação dessa fórmula a fenômenos da arte contem-
porânea, ver M. lmdahl, Poetik und Hermeneutik III (ver nora 53), p. 493-
505 e 663-4.
1-1- ~i
ANEXO
Os horizontes do ler*
~m.~rn'D'
GRÁFICA E EDITORA LTDA.
Ruo Marino Crespl. 274
Mo6ca·CEP03112·090 SP
Fone 292-5339 • 93·4883
obra, logo, é produzir história da
1iteratu ra.
A proposta de Jauss deseja supe-
rar contradições até então resisten-
tes: a separação entre história da li-
teratura e estética; e a necessidade
de entender a permanência de uma
obra ao longo do tempo, sem trope-
çar numa visão idealista. Jauss é
materialista, ao atribuir esse fato à
atuação do público e não a valores
eternos e imutáveis contidos. na
obra, princípio básico da estética
idealista de que nem mesmo o
marxismo se livrou.
O resultado é altamente interes-
sante para a teoria da literatura, já
que a libera do conceito de autono-
mia do texto, sem cair no subjetivis-
mo ou no impressionismo. A estéti-
ca da recepção proposta por Jauss
concebe o texto como objeto histó-
rico, a que se anexam as leituras de
que foi alvo, segura de que, mesmo
assim, ele nada perde em unidade
ou compreensibilidade. r associa a
teoria da literatura às recentes in-
vestigações sobre as relações com
a história, que tanto podem ser in-
ternalizadas pela ficção, quanto re-
presentadas pelos intercâmbios en-
tre arte e sociedade.
Regina Zilberman
PUCRS
"º abismo entre literatura e história, entre o co-
nhecimento estético e o histórico, faz-se superá-
vel quando a história da literatura não se limita
simplesmente a descrever o processo da história
geral conforme esse processo se delineia em
suas obras, mas quando ela revela aquela função
verdadeiramente constitutiva da sociedade que
coube à literatura, concorrendo com as outras ar-
tes e forças sociais, na emancipação do homem
de seus laços naturais, religiosos e sociais."
9 788508 046317