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A Admissibilidade da Repristinação Tributária e do Efeito

Repristinatório Pro Contribuinte

A ADMISSIBILIDADE DA REPRISTINAÇÃO TRIBUTÁRIA E DO EFEITO


REPRISTINATÓRIO PRO CONTRIBUINTE
Admissibility of Repristination Tax and Taxpayer Repristinatório Pro Effect
Revista Tributária e de Finanças Públicas | vol. 130/2016 | p. 217 - 236 | Set - Out /
2016
DTR\2016\24115

Renato Alexandre da Silva Freitas


Mestre em Direito na área de concentração de Tutela Jurisdicional no Estado
Democrático de Direito. Graduado em Direito pelo Centro Universitário Toledo, com
especialização lato sensu em Direito Processual, Direito Tributário e Docência no Ensino
Superior. Coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário Unitoledo em
Araçatuba. Professor de Direito Tributário e Direito Empresarial no Curso de Graduação e
Pós Graduação em Direito. Mediador pela Escola Paulista da Magistratura. Participação
nas obras Vinte anos Constituição Federal e 60 anos da Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Coordenador da obra “Novo Código de Processo Civil: análises e reflexos nos
demais ramos do Direito”. Advogado. renato.prof@toledo.br

Vítor de Alcântara Bueno


Pós-graduando em Direito Civil e Direito Processual Civil pelo Centro Universitário
Toledo-Araçatuba/SP. Advogado. alcantara.vitor@yahoo.com.br

Área do Direito: Constitucional; Tributário


Resumo: Presente escrito tem como desiderato principal uma sucinta, porém suficiente
abordagem do que chamamos de Admissibilidade da Repristinação Tributária e do Efeito
Repristinatório pro contribuinte. Trata-se da adoção da tese que pugna pela
admissibilidade do fenômeno jurídico da repristinação bem como do efeito repristinatório
da declaração de inconstitucionalidade em matéria tributária apenas e tão somente
quando isso puder beneficiar o contribuinte como parte hipossuficiente de toda e
qualquer relação jurídico-tributária, ou seja, de leis que foram revogadas por outras e a
revogação destas por novas leis, faz com que as primeiras voltem a viger, porém com a
condicionante de que a volta de sua vigência só será possível caso seja benéfica ao
contribuinte como fator de segurança jurídica.

Palavras-chave: Repristinação - Efeito Repristinatório - Pro contribuinte


Abstract: This writing has the main desideratum a succinct but sufficient approach to
what we call the admissibility of Tax revalidation and Repristinatório effect pro taxpayer.
It is the adoption of the thesis that advocates the admissibility of legal of revalidation
phenomenon and the repristinatório effect of the declaration of unconstitutionality in tax
matters only and only where it can benefit the taxpayer as part hipossuficiente of any
legal and tax relationship , ie laws that were repealed by others and the repeal of by new
laws , makes the first back into effect , but with the condition that the return of its
effectiveness will only be possible if it is beneficial to taxpayers as legal certainty factor.

Keywords: Revalidation - Repristinatório Effect - Pro taxpayer


Sumário:

1Introdução - 2Panorama geral sobre a legislação tributária - 3Da hipossuficiência do


contribuinte - 4Do princípio do in dubio pro contribuinte - 5Da repristinação e do efeito
repristinatório no direito brasileiro - 6A controvérsia envolvendo o Funrural -
7Considerações finais - 8Referências

1 Introdução

A arrecadação tributária é a principal forma de manutenção do Estado, e, em que pese


às desordens de cunho prático, os contribuintes são seus principais beneficiários, eis
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que, a carga tributária arrecadada, ao menos teoricamente se destina ao benefício da


população.

Sendo o contribuinte o principal expoente da relação jurídico-tributária, é ele também a


parte hipossuficiente da referida relação, pois sua deficiência perante o Estado é
infinitamente maior. Diante disso, certos institutos existentes no ordenamento devem
ser interpretados de forma a favorecerem o contribuinte, claro que com ressalvas, pois
não se pode admitir qualquer tipo de locupletamento indevido contra o Estado.

Assim, valendo-se das técnicas hermenêuticas e da voz de nossos tribunais, certas


questões devem ser vistas com ressalvas.

Exemplo clássico que pode ser citado e que também é objeto deste trabalho diz respeito
ao fenômeno da repristinação e do efeito repristinatório das declarações de
inconstitucionalidade de certas leis em matéria tributária. Ambos, em que pese à
semelhança na terminologia, são institutos diferentes, mas em suma se traduzem na
volta de vigência de uma lei outrora revogada pelo advento de outra ou pela declaração
de inconstitucionalidade de lei posterior. Tais fenômenos jurídicos devem ser aplicados
com ressalvas, pois, em alguns casos, uma lei que outrora era mais gravosa ao
contribuinte mas que depois teve sua desconstituição feita por ter sido declarada
inconstitucional uma lei posterior que a revogou ou ter sido revogada por uma segunda
lei que também foi extinta, não pode ser reestabelecida no ordenamento justamente por
ser prejudicial ao contribuinte, pois, caso assim se proceda, o contribuinte está submisso
à insegurança jurídica.

Assim, o que se busca neste trabalho é a defesa da proibição da repristinação legislativa


ou do efeito repristinatório contra o contribuinte, de modo que ambos só podem ser
admitidos caso a lei originariamente extinta seja benéfica àquele.

Para a análise deste assunto, são abordados abaixo os aspectos gerais da legislação
tributária, a hipossuficiência do contribuinte, o princípio do in dubio pro contribuinte, a
repristinação e o efeito repristinatório no direito brasileiro e a controvérsia envolvendo o
FUNRURAL, que é um dos pontos que hodiernamente passa por discussão acerca de sua
ressurreição no sistema na forma originariamente estabelecida. Em suma, o que se
defende não é a proibição da repristinação ou efeito repristinatório no campo tributário,
mas que estes só ocorram caso benéfico ao contribuinte, que, por sua própria natureza,
já é demasiadamente onerado pela carga tributária brasileira.
2 Panorama geral sobre a legislação tributária

A legislação tributária abrange as leis, os tratados e as convenções internacionais, bem


como os decretos e as normas de natureza complementar que regulamentam total ou
parcialmente os tributos e as relações a eles relacionadas. Isso se afirma a partir da
ilação do art. 96 do Código Tributário Nacional, que, aliás, não se perfaz em rol
exaustivo, de modo que a legislação tributária deve ser entendida como todo e qualquer
ato de natureza normativa que trate de matéria tributária, sejam normas emanadas do
texto constitucional até ordens de serviço local.

Aliás, de acordo com o art. 97 do Código supracitado:

Somente a lei pode estabelecer:

I – a instituição de tributos, ou a sua extinção;

II – a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26,
39, 57 e 65;

III – a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto


no inciso I do § 3.º do art. 52, e do seu sujeito passivo;

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IV – a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos


arts. 21, 26, 39, 57 e 65;

V – a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus


dispositivos, ou para outras infrações nela definidas;

VI – as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de


dispensa ou redução de penalidades.

O referido artigo nos traz a figura das leis em sentido estrito, ou seja, leis ordinárias ou
complementares. Todavia, em matéria de legislação tributária ainda existem as figuras
das medidas provisórias, resoluções do senado, como, por exemplo, a disciplina do
ITCMD (art. 155, § 6.º, I e § 1.º, IV da CF/1988 (LGL\1988\3)), tratados e convenções
internacionais (art. 98, CTN (LGL\1966\26)), bem como decretos e normas
complementares.

Traçados os panoramas gerais sobre as leis tributárias, devem ser mencionados outros
aspectos, como os referentes à vigência, aplicação e integração das referidas leis.
2.1 Vigência

No que tange à conceituação de vigência, iniciamos este tópico com lição de Luciano
Amaro que nos diz (2008, p. 193):

“Lei em vigor é aquela que é suscetível de aplicação, desde que se façam presentes os
fatos que correspondam à sua hipótese de incidência. Essa possibilidade de aplicação
supõe que a norma tenha sido validamente editada, isto é, que tenha atendido ao ritual
previsto para sua elaboração e obedecido aos demais limites formais e materiais que
balizam o processo legislativo.”

Não menos importante, Celso Bastos (1992, p. 127) nos lembra que “vigência é aquele
atributo da lei que lhe confere plena disponibilidade para sua aplicação”.

A legislação tributária das pessoas políticas vigora em seus espaços geográficos e fora
deles nos limites estabelecidos na própria lei. Segundo Amaro (2002, p. 187):

“Lei vigente, ou lei em vigor, é aquela que é suscetível de aplicação, desde que se façam
presentes os fatos que correspondam à sua hipótese de incidência. Essa possibilidade de
aplicação supõe que a norma tenha sido validamente editada, isto é, que tenha atendido
ao ritual previsto para sua elaboração e obedecido aos demais limites formais e
materiais que balizam o processo legislativo”.

Aliás, os arts. 101 a 104 do Código Tributário Nacional rezam que:

Art. 101. A vigência, no espaço e no tempo, da legislação tributária rege-se pelas


disposições legais aplicáveis às normas jurídicas em geral, ressalvado o previsto neste
Capítulo.

Art. 102. A legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios vigora,
no País, fora dos respectivos territórios, nos limites em que lhe reconheçam
extraterritorialidade os convênios de que participem, ou do que disponham esta ou
outras leis de normas gerais expedidas pela União.

Art. 103. Salvo disposição em contrário, entram em vigor:

I – os atos administrativos a que se refere o inciso I do art. 100, na data da sua


publicação;

II – as decisões a que se refere o inc. II do art. 100, quanto a seus efeitos normativos,
30 (trinta) dias após a data da sua publicação;

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III – os convênios a que se refere o inc. IV do art. 100, na data neles prevista.

Art. 104. Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorra a
sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o patrimônio ou a
renda:

I – que instituem ou majoram tais impostos;

II – que definem novas hipóteses de incidência;

III – que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de maneira mais
favorável ao contribuinte, e observado o disposto no art. 178.

Insta salientar que a melhor doutrina defende que o conteúdo do art. 104 do CTN
(LGL\1966\26) não foi recepcionado pelo hodierno texto magno, neste sentido Sérgio
Karkache.
2.2 Aplicação

De proêmio, interessante mencionar a lição de Eduardo Sabbag (2015, p. 693) segundo


o qual:

A aplicação da legislação tributária refere-se à execução das normas de tributo aos


contextos da realidade jurídicossocial com os quais elas se entrelaçam. Aplicar a
legislação tributária implica concretizar o desiderato normativo, resultante da vontade do
legislador, no plano fático.

A lei tributária, uma vez em vigor aplica-se de forma imediata aos fatos geradores
pendentes e aos futuros, ou seja, aqueles que já se iniciaram, mas estão incompletos
conforme art. 116 do Código Tributário Nacional.

Nesse sentido também, o art. 106 do referido Código estabelece que: I – em qualquer
caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à
infração dos dispositivos interpretados;

II – tratando-se de ato não definitivamente julgado:

a) quando deixe de defini-lo como infração;

b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão,


desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de
tributo;

c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo
da sua prática.

Passa-se a seguir, à análise da interpretação e integração da legislação tributária.


2.3 Interpretação e integração

Não havendo disposição expressa, o ente ou autoridade responsável pela aplicação da


legislação tributária irá se valer sucessivamente do disposto no art. 108 do Código
Tributário:

Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação


tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada:

I – a analogia, que em seu emprego não poderá resultar na exigência de tributo não
previsto em lei;

II – os princípios gerais de direito tributário;

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III – os princípios gerais de direito público;

IV – a equidade, que em seu emprego não poderá resultar na dispensa do pagamento de


tributo devido.

O rol acima exarado tem natureza taxativa e hierárquica, de modo que deve-se
necessariamente se valer inicialmente da analogia, devendo ser obedecida a ordem
tanto pela autoridade fiscal como pela judicial.

Também, é interessante frisar que os princípios atinentes ao direito privado podem


também ser utilizados no estabelecimento do conteúdo dos institutos jurídicos bem como
seu alcance, mas não são aplicados na definição dos efeitos tributários. Isso se afirma
com base na ilação do art. 109 do CTN (LGL\1966\26).

A observação acima também deve ser feita em relação à própria legislação tributária,
que não pode ser empregada para definir pontos como conteúdo e alcance das formas
de direito privado que são utilizados de forma expressa ou implícita pela Constituição
Federal bem como a dos Estados e as Leis Orgânicas do Distrito Federal e Municípios no
intuito de dar definição ou limitação nas competências de ordem tributária conforme art.
110 do Código Tributário.

Ademais, no que tange à interpretação (art. 111, CTN (LGL\1966\26)), esta é feita de
maneira literal quando disponha sobre:

I – suspensão ou exclusão do crédito tributário;

II – outorga de isenção;

III – dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.

Ainda, a lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se da
maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto (art. 112 do CTN
(LGL\1966\26)):

I – à capitulação legal do fato;

II – à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos


seus efeitos;

III – à autoria, imputabilidade, ou punibilidade;

IV – à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação.

Feitos os apontamentos gerais sobre a legislação tributária, passamos à análise dos


aspectos sobre o contribuinte e da repristinação e efeito repristinatório.
3 Da hipossuficiência do contribuinte

De início, convém mencionar que o contribuinte possui defesa no texto constitucional


conforme elenca a doutrina Siqueira (2006):

A Constituição Federal assegura à sociedade, especialmente aos contribuintes pessoas


físicas e jurídicas, a tutela do Direito da Propriedade, do Livre Acesso ao Judiciário, do
Direito ao Devido Processo Legal, da Liberdade do Exercício das Profissões e ao Princípio
da Livre Iniciativa, dentre outros. Tais direitos, diga-se, encontram-se elencados no art.
5.º da Constituição Federal de 1988, no rol dos Direitos e Garantias Fundamentais do
Cidadão.

De mais a mais, a defesa do contribuinte enquanto ente hipossuficiente constitui objetivo


do próprio Direito Tributário conforme elucidado por Hugo de Brito Machado (2009):

“Relevante, outrossim, é a finalidade do Direito Tributário. O Direito de um modo geral


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tem como finalidade promover o equilíbrio nas relações entre os que têm e os que não
têm o poder. Ou entre os que têm mais e os que têm menos poder. Sabido que o Estado
é a maior expressão de poder que se conhece, fácil é concluir-se que o direito tributário
tem como finalidade limitar o poder de tributar e proteger o cidadão contra os abusos
deste poder. Disto é possível conceituar o Dir. Tributário como 'ramo do Direito que se
ocupa das relações entre o fisco a as pessoas sujeitas a imposições tributárias de
qualquer espécie, limitando o poder de tributar e protegendo o cidadão contra os abusos
deste poder”.

Levando-se em conta a fragilidade do contribuinte, há projeto de lei que visa instituir o


1
Código Nacional de Defesa do Contribuinte (CDCONT).

Nessa senda, há também outro interessante Projeto de Lei Complementar 194/2001,


cujo relator era o Deputado Eduardo Cunha, na Comissão de Finanças e Tributação, que
visa livrar o contribuinte da arbitrariedade fiscal.

Enquanto tais projetos não se concretizam em lei, há decisões em entendem pela


2
aplicação do Código de Defesa de Consumidor às relações jurídico-tributárias.
4 Do princípio do in dubio pro contribuinte

Assim como o postulado de Direito Penal denominado in dubio pro réu, ou seja, o
princípio de que qualquer dúvida deve ser interpretada a favor do réu, no âmbito do
Direito Tributário, havendo controvérsias sobre determinadas matérias, estas devem ser
dirimidas em favor do contribuinte, ou seja, sob a primazia do princípio in dubio pro
contribuinte.

Por oportuno, sobre a analogia feita entre os dois postulados acima, Fernando Facury
Scaff (2013), em publicação intitulada como In dubio pro reo também vale para o
contribuinte nos ensina que:

“Entendo que em caso de empate no julgamento de matéria tributária, por cortes


administrativas ou judiciais, a decisão deverá ser obrigatoriamente vinculada à
absolvição (desoneração), à semelhança do que ocorre em Direito Penal, em face da
identidade entre as duas situações. Tal como no Direito Penal, no Direito Tributário o
Estado acusa o contribuinte/réu alegando que este cometeu uma irregularidade contra o
patrimônio do Fisco (ou, no caso penal, contra a vida ou outro bem que essas normas
assegurem). O Fisco terá que fazer prova de que suas alegações são verdadeiras, e
contribuinte/réu só poderá ser condenado em caso de haver a mais completa certeza da
incorreção de seu procedimento. Caso a dúvida persista – ter havido empate no
julgamento – a decisão só pode ser pela desoneração/absolvição do contribuinte/réu
injustamente acusado. Observe-se que nesta situação não se pode falar em voto de
minerva pró-Fisco; ele necessariamente deve ser pró contribuinte. Trata-se de uma
decisão que vincula o voto de minerva do presidente em favor do contribuinte, não lhe
permitindo outra decisão que não seja o desempate em favor da parte acusada, mas que
não teve contra si a maioria dos votos ordinários daquela corte – ou seja: in dubio pro
contribuinte.”

Outrossim, Marcos de Aguiar Villas-Bôas (2015) nos lembra:

O in dubio pro contribuinte deve ser compreendido como uma norma constitucional
implícita e como uma norma expressa no CTN (LGL\1966\26) (art. 112) que protege o
direito fundamental de propriedade, assim como o in dubio pro reo, o in dubio pro
misero, o in dubio pro consumidor etc., cada qual com suas especificidades decorrentes
das contingências dos seus subsistemas jurídicos.

Feito o apontamento acima, outro postulado do Direito Tributário que é interessante ser
mencionado e que se relaciona com a questão acima é o denominado princípio in dubio
contra fiscum, ou seja, uma regra aplicável em situações que surge mais de uma
interpretação possível, sendo que uma delas pode ser menos favorável ao contribuinte,
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que, como outrora relatado, é a parte hipossuficiente da relação jurídico-tributária.

Aliás, existe um interessante brocardo jurídico que nos diz que: In dubio, magis contra
fiscum est respondendum, ou seja, na dúvida deve-se decidir contra o fisco.

De toda forma, sempre deve-se acautelar na aplicação da legislação tributária, eis que,
sua aplicação de forma desenfreada sempre almejando os interesses do fisco, pode gerar
uma afronta aos direitos fundamentais. Nesse sentido, segundo Jorge Reis Novais (2003,
p. 155):

(...) no texto constitucional ou na literatura especializada são correntes as referências a


’restrições’, ‘limites’ ou ‘leis restritivas’ de direitos fundamentais para significar uma ideia
comum de afectação ou intervenção estatal no domínio dos direitos fundamentais com
algum sentido desvantajoso para os interesses da liberdade”.

Por oportuno, da mesma forma que defendemos que a lei tributária não pode ser
aplicada de maneira indiscriminada sob pena de prejudicar o contribuinte, há que se
reconhecer também que este, em que pese ser a parte fraca em relação ao fisco,
também não pode se valer da própria torpeza, de modo que o fisco não pode ser
prejudicado pela má-fé do contribuinte, pois, ao menos no plano teórico, a principal
beneficiária das arrecadações tributárias é a população. Neste sentido se posiciona o
Superior Tribunal de Justiça conforme julgado que colacionamos abaixo (g.n.):

TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. EQUÍVOCO NO PREENCHIMENTO DO FORMULÁRIO


DE AJUSTE SIMPLIFICADO. ART. 136 DO CTN (LGL\1966\26). INFRAÇÃO TRIBUTÁRIA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO AGENTE. BOA-FÉ DO CONTRIBUINTE E
INEXISTÊNCIA DE DANO OU DE INTENÇÃO DE O PROVOCAR RECONHECIDAS PELO
TRIBUNAL DE ORIGEM. JULGAMENTO BALIZADO PELA EQÜIDADE E PELO PRINCÍPIO IN
DUBIO PRO CONTRIBUINTE. AFASTAMENTO DA MULTA.

I – Apesar da norma tributária expressamente revelar ser objetiva a responsabilidade do


contribuinte ao cometer um ilícito fiscal (art. 136 do CTN (LGL\1966\26)), sua
hermenêutica admite temperamentos, tendo em vista que os arts. 108, IV e 112 do CTN
(LGL\1966\26) permitem a aplicação da equidade e a interpretação da lei tributária
segundo o princípio do in dubio pro contribuinte. Precedente: REsp 494.080/RJ, rel. Min.
Teori Albino Zavascki, DJ de 16.11.2004.

II – In casu, o Colegiado a quo, além de expressamente haver reconhecido a boa-fé do


contribuinte, sinalizou a inexistência de qualquer dano ao Erário ou mesmo de intenção
de o provocar, perfazendo-se, assim, suporte fáctico-jurídico suficiente a se fazerem
aplicar os temperamentos de interpretação da norma tributária antes referidos.

III – Ademais, apenas a título de registro, tal entendimento do Sodalício de origem,


como cediço, não comportaria revisão por parte desta Corte Superior em face do óbice
Sumular 7 deste STJ.

IV – Recurso especial desprovido.

(REsp 699700 RS 2004/0154557-1, rel. Min. Francisco Falcão, julgado em: 21.06.2005,
DJ 03.10.2005 p. 140).

Abaixo, seguimos o presente escrito com a defesa da repristinação e efeito


repristinatório tributários apenas pro contribuinte.
5 Da repristinação e do efeito repristinatório no direito brasileiro

Sobre o instituto da repristinação no Direito Brasileiro, iniciamos este tópico com a


seguinte colocação feita por Adriano Ferreira (2011) ao abordar o assunto:

“O fenômeno pelo qual uma norma jurídica revogada volta, automaticamente, a ser
válida pela perda de validade ou de vigência da norma revogadora chama-se
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repristinação. Ela é expressamente proibida pelo parágrafo 3º do artigo 2º da LINDB:


“Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora
perdido a vigência”.

Em termos meramente didáticos, podemos diferenciar a repristinação em tácita ou


expressa. A repristinação tácita, ou propriamente dita, é um fenômeno automático, ou
seja, o restauro da validade da norma jurídica revogada ocorre no exato instante em que
a norma revogadora perde a validade, sem qualquer previsão expressa. No exemplo
acima, no instante em que a Lei 20 perder a validade, a Lei voltaria a ser válida, mesmo
sem a Lei ter previsto essa hipótese.

A repristinação expressa, ou imprópria, não está proibida pela legislação brasileira.


Consiste no restauro da validade de lei revogada por expressa determinação de outra lei,
seja a revogadora ou seja a revogadora da revogadora. Vamos ilustrar: no exemplo
acima, a Lei 20 revoga a Lei 10, mas é uma lei temporária; ela prevê que, tão logo sua
vigência termine, a Lei 10 voltará a ser válida. Outro caso: a Lei 30 revoga a Lei 20, que
revogou a Lei 10; além disso, determina expressamente que a Lei volte a ter validade.

O fenômeno da repristinação só é admitido no Direito Brasileiro por disposição legal


expressa, isso se conclui a partir da dicção do art. 2.º, § 3.º, do Decreto-Lei 4.657/1942
da LINDB (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – antiga LICC
(LGL\1942\3)).

Sobre o assunto, o art. 27 da Lei 9.868/1999 prevê que o Supremo Tribunal Federal, por
meio de maioria correspondente a dois terços dos ministros e por motivos de segurança
jurídica ou excepcional interesse social, pode proceder a restrição dos efeitos da
declaração de inconstitucionalidade de uma lei ou de um ato normativo, ou, decidir que
ela só terá eficácia após o trânsito em julgado ou momento diverso que venha a ser
fixado. Esta é a chamada “técnica da modulação dos efeitos da decisão” que pode
também ser analogicamente aplicada em casos de controle difuso de constitucionalidade.

Há que se lembrar a diferenciação entre repristinação e efeito repristinatório, sendo


aquela a oriunda da LINDB e o efeito repristinatório o que ocorre na Lei 9.868/1999.

Trazemos à baila uma breve explicação para este último caso (ARRUDA, 2013):

Imaginemos que a Lei “A” seja revogada pela Lei “B”. Esta última não é revogada por lei
alguma, mas a sua inconstitucionalidade é reconhecida, em sede de controle abstrato,
no âmbito do Supremo Tribunal Federal. A declaração de inconstitucionalidade reconhece
a nulidade do ato inconstitucional, negando-lhe eficácia jurídica. Assim, se a Lei “B” é
nula, jamais possuiu eficácia, nunca chegou a revogar a Lei “A”, que volta a ser aplicada.
É exatamente este o efeito repristinatório da declaração de inconstitucionalidade.

Conforme disposição do art. 11, § 2.º, da Lei 9.868/1999 – a qual dispõe sobre o
processo e julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) e da Ação
Declaratória de Constitucionalidade (ADC) perante o Supremo Tribunal Federal – a
concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo
expressa manifestação em sentido contrário. Ou seja, o efeito repristinatório afigura-se
automático, exigindo-se manifestação expressa apenas para o caso de se querer
afastá-lo.

Assim, a saída que pode ser indicada é a adoção de boas técnicas de interpretação, de
modo a sempre buscar a verdadeira vontade da lei, e essa interpretação, em caso de se
questionar a ocorrência de repristinação ou não, deve sempre ser pro contribuinte. Aliás,
“para conhecer, cumprir ou bem aplicar a lei, é preciso captar seu verdadeiro significado
e alcance: interpretá-la” (NOGUEIRA, 1995, p. 86). A respeito de se valer das técnicas
interpretativas e não banalizar o instituto da repristinação, Serpa Lopes nos falava
(2000. vol.I. p. 110):

Os termos do § 3.° do art. 2.° da nossa Lei de Introdução aparecem por demais
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peremptórios, de tal maneira que parecem justificar a corrente unânime dos nossos
juristas, no sentido de interpretá-lo como não oferecendo margem ao renascimento da
lei revogada, a menos que haja disposição legal expressa. Oscar Tenório, porém, atribui
ao citado § 3.° do art. 2.° uma inteligência menos rigorosa e com a qual estamos de
inteiro acordo. Ele admite que, com o se prescrever, no citado § 3.° do art. 2.° – salvo
disposição em contrário – a Lei de Introdução admitiu a repristinação, de modo que o
problema da repristinação se transforma numa questão de interpretação, cabendo ao
intérprete considerá-lo, ao verificar se a lei anterior foi ou não revogada. Na verdade, se
admitirmos a aplicação integral, fatal e intransigente da não ressurreição da lei
revogada, chegaremos a conclusões absurdas, e até em contrário à ostensiva vontade
do legislador.

Outros entendem que, em se tratando de efeito repristinatório, a questão não deve ser
resolvida no campo da interpretação, mas sim logo no pedido da ação declaratória de
inconstitucionalidade, de modo que a norma que foi revogada pela posterior
inconstitucional, na lição de Clèmerson Merlin Clève (p. 250) pode:

“(...) padecer de inconstitucionalidade ainda mais grave que a do ato nulificado.


Previne-se o problema com o estudo apurado das eventuais consequências que a decisão
judicial haverá de produzir. O estudo deve ser levado a termo por ocasião da
propositura, pelos legitimados ativos, da ação direta de inconstitucionalidade. Detectada
a manifestação de eventual eficácia repristinatória indesejada, cumpre requerer,
igualmente, já na inicial da ação direta, a declaração de inconstitucionalidade, e, desde
3
que possível, a do ato normativo ressuscitado”.

Ademais, Alexandre de Moraes (2003, p. 626) elucida que “a declaração de


inconstitucionalidade de uma norma acarreta a repristinação da norma anterior que por
ela havia sido revogada, uma vez que norma inconstitucional é norma nula, não
subsistindo nenhum de seus efeitos.”

Também, Jorge Miranda (2013, p. 266) defende a não ocorrência do efeito


repristinatório. Por questões de segurança jurídica se pode “não proceder ou obstar à
repristinação da norma anterior”, reconhecendo essa possibilidade também em sede de
controle difuso.

Paulo Bonavides sustenta a mesma posição, citando decisão da Corte Suprema Alemã
(2015, p. 308):

“(...) excepcionalmente, disposições inconstitucionais devem, em parte, ou totalmente,


continuar a ter aplicação, se a peculiaridade da norma declarada inconstitucional fizer
necessário por razões constitucionais, nomeadamente aquelas derivadas da segurança
do direito, que se deixe existir o preceito inconstitucional como regulação durante um
período de transição, a fim de que nesta fase uma situação não se produza muito mais
apartada da ordem constitucional do que aquela até então prevalecente.”

Interessante e pertinente a lição de Vicente Ráo (1997, p. 216, apud BASTOS, 1997):

A inviolabilidade do passado é princípio que encontra fundamento na própria natureza do


ser humano, pois, segundo as sábias palavras de Portalis, o homem, que não ocupa
senão um ponto no tempo e no espaço, seria o mais infeliz dos seres, se não se pudesse
julgar seguro nem sequer quanto a sua vida passada. Por essa parte de sua existência,
já não carregou todo o peso de seu destino? O passado pode deixar dissabores, mas põe
termo a todas as incertezas. Na ordem do universo e da natureza, só o futuro é incerto e
esta própria incerteza é suavizada pela esperança, a fiel companheira da nossa fraqueza.
Seria agravar a triste condição da humanidade querer mudar, através do sistema da
legislação, o sistema da natureza, procurando, para o tempo que já se foi, fazer reviver
as nossas dores, sem nos restituir as nossas esperanças.

De mais a mais, a adoção do efeito repristinatório não é exclusividade do Direito


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A Admissibilidade da Repristinação Tributária e do Efeito
Repristinatório Pro Contribuinte

4
Brasileiro, sendo que, no Direito Comparado o referido efeito é apontado por Canotilho
5
(2010, p. 987) em Portugal, no art. 282.1 da Constituição Portuguesa ; na Áustria, no
art. 140.6 da Constituição, conforme Medeiros (1999, p. 665); bem como na Alemanha,
no art. 35 da Lei da Corte Constitucional Federal, de acordo com o apontamento de
Sampaio (2002, p. 224).

Seja como for, a questão de se admitir a repristinação, seja de forma expressa por meio
da própria lei ou por decisão de inconstitucionalidade (efeito repristinatório), deve, a
nosso ver, ser analisada com ressalvas. Essa afirmação se faz porque, em muitos casos,
o retorno da vigência de uma lei devido à sua sucessora ter sido revogada ou declarada
inconstitucional pode, em determinados casos, desenfrear discussões acirradas e ser
fator de insegurança jurídica principalmente ao contribuinte, que, como diversas vezes
reiteradas neste trabalho, é a parte mais frágil da relação jurídico-tributária. Isso
ocorreu, por exemplo, com a declaração de inconstitucionalidade de leis que alteraram a
lei 8.212/1991 que hoje gera controvérsias sobre a forma de arrecadação oriunda do
FUNRURAL, tema este que será abaixo desenvolvido.
6 A controvérsia envolvendo o Funrural

No que tange ao FUNRURAL, de modo análogo, porém não de forma expressa,


discutiu-se sobre o fenômeno repristinatório no direito brasileiro. A repristinação negada
não foi a tradicional ou clássica que é a presente na LINDB, mas sim a oriunda da Lei
9.868/1999 que prevê que, em caso da declaração de inconstitucionalidade de uma lei
que eventualmente revogou outra, a lei que foi declarada inconstitucional é tida como se
nunca tivesse existido no ordenamento jurídico, e a lei que a priori teria sido revogada,
volta a viger.

A questão veio à tona, quando da discussão a respeito do retorno da tributação incidente


sobre a folha de salários-FUNRURAL (art. 22, I e II da Lei 8.212/1991).

Sobre o assunto, trazemos à baila excerto de trabalho elaborado por Thais Romero Veiga
e Breno Ferreira Martins Vasconcelos (2015), intitulado: Discussões atuais envolvendo a
inconstitucionalidade do FUNRURAL. Contínua inconstitucionalidade do tributo após a Lei
nº 10.256/01 e impossibilidade de repristinação da norma para que volte a incidir a
contribuição sobre a folha de salários, que mostra a discussão de forma bem clara:

“Em 03 de fevereiro de 2010, o Plenário do Supremo Tribunal Federal julgou


inconstitucional a contribuição usualmente chamada de "Funrural", "prevista nos arts.
12, incisos V e VII, 25, incisos I e II, e 30, inciso IV, da Lei 8.212/1991, com as
redações decorrentes das Leis 8.540/1992 e 9.528/1997" (01).

O julgamento de inconstitucionalidade ocorreu especialmente porque a base de cálculo


do Funrural, quando da sua instituição, foi definida como sendo a receita bruta, ao passo
que a Constituição Federal apenas autorizava a incidência das contribuições sobre a folha
de salários, o faturamento e o lucro. Dessa forma, o STF entendeu que a instituição
dessa nova contribuição, com base de cálculo não prevista pela Constituição, deveria ter
ocorrido por meio de lei complementar, não por lei ordinária (art. 154, I da CF
(LGL\1988\3)).

Após o julgamento de inconstitucionalidade, diversos produtores rurais pessoas físicas


recorreram ao Poder Judiciário visando a obter a devolução de valores recolhidos
indevidamente e ao reconhecimento do seu direito a não serem submetidos à incidência
da contribuição nas futuras comercializações de produtos rurais.

Tendo sido a inconstitucionalidade declarada pelo Plenário do STF em Recurso


Extraordinário cuja repercussão geral foi reconhecida, os Juízes e Desembargadores
Federais têm dado, majoritariamente, provimento aos pleitos dos contribuintes.
Buscando inverter essa tendência jurisprudencial, a União passou a alegar, nos autos de
tais processos, que:
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A Admissibilidade da Repristinação Tributária e do Efeito
Repristinatório Pro Contribuinte

(i) a exigência do Funrural voltou a ser constitucional após a edição da Lei 10.256/2001,
que promoveu alterações no texto da Lei 8.212/1991 e foi editada após a Emenda
Constitucional 20/1998, a qual inseriu na Constituição a possibilidade de que a receita
bruta seja base de cálculo das contribuições; e

(ii) subsidiariamente, a declaração de inconstitucionalidade causa efeitos repristinatórios,


pois retira do ordenamento jurídico os dispositivos que alteraram a Lei 8.212/1991 para
instituir o Funrural (cuja base de cálculo é a receita bruta), deixando de existir, portanto,
alteração na norma original, que previa a incidência da contribuição sobre a folha de
salários. Isto é, sendo declarada inconstitucional a exigência do Funrural, os produtores
rurais pessoas físicas ficam obrigados ao recolhimento da contribuição sobre a folha de
salários, inclusive com efeitos retroativos.

i - (In)constitucionalidade do Funrural após a edição da Lei 10.256/2001

Esse primeiro argumento da União – de que, quando da edição da Lei 10.256/2001, a


Constituição dava fundamento de validade à instituição do Funrural tendo como base de
cálculo a receita bruta – será analisado pelo STF no julgamento do Recurso
Extraordinário 718.874, cuja repercussão geral também foi reconhecida. Para que
possamos avaliar a procedência de tal alegação, faremos, inicialmente, uma breve
incursão pelo histórico legislativo.

A Lei 8.540/1992, alterando diversos dispositivos da Lei 8.212/1991, criou novo tributo:
a "contribuição do empregador rural para a seguridade social" calculada sobre a "receita
bruta proveniente da comercialização da sua produção".

Após tal alteração, passou a ser exigido do empregador rural pessoa física o
recolhimento da contribuição calculada às alíquotas de 2% (dois por cento) e 0,1% (um
décimo por cento) sobre a receita bruta proveniente da comercialização de sua
produção, o que se dá mediante "desconto" pelo respectivo adquirente, que procede à
retenção e ao recolhimento da contribuição.

Em 1997 foi editada a Lei 9.528, que substituiu a redação da Lei 8.540/1992 nas
modificações feitas no texto original da Lei 8.212/1991. A nova normativa, no entanto,
também redundou no vício da inconstitucionalidade, reconhecido pela Suprema Corte, ao
apenas ter repetido os mesmos desvios perpetrados pela Lei 8.540/1992.

Posteriormente, foi promulgada em 16 de dezembro de 1998 a Emenda Constitucional


20/1998 que, ao alterar o art. 195, I, b, passou a autorizar à União instituir
contribuições sociais, devidas pelo empregador, empresa ou entidade a ela equiparada,
tanto sobre o faturamento como sobre a receita, nova base de cálculo possível da
contribuição. Assim, a partir da EC 20/1998, o legislador ficou autorizado a editar lei
ordinária para também tributar o empregador produtor rural pessoa natural com base no
resultado da comercialização de produtos rurais.

Como toda norma jurídica, porém, deve propagar seus efeitos prospectivamente, a EC
20/1998 não foi capaz de "convalidar" as Leis 8.540/1992 e 9.528/1997, nascidas em
desconformidade com a Constituição Federal então vigente. Essa seria a hipótese da
chamada "constitucionalização superveniente", instituto repelido pela jurisprudência
(...).

Em 10 de julho de 2001 foi publicada a Lei 10.256/2001, que, agora sob o fundamento
material e formal conferido pelo art. 195, I, b alterado pela EC 20/1998, da Constituição
Federal, assim prescreveu: (...).

Assim, apresentado o excerto acima que denota com exatidão um breve resumo dos
fatos, percebemos a questão que gira em torno da admissibilidade ou não do efeito
repristinatório ocasionado pela declaração de inconstitucionalidade das leis que
6
alteraram os dispositivos originais da Lei 8.212/1991.

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A Admissibilidade da Repristinação Tributária e do Efeito
Repristinatório Pro Contribuinte

Sem ingressar no mérito da questão da constitucionalidade ou não dos dispositivos da


atual Lei 10.256/2001, entendemos que seria inviável a permissão do efeito
repristinatório, em especial o de se acolher a tese da União pela retroatividade dos
recolhimentos que passam a incidir sobre a folha de salários. Admitir-se essa
possibilidade, além de gerar insegurança jurídica aos contribuintes, geraria um grande
ônus aos mesmos, que, sendo a parte mais frágil da relação jurídico-tributária, teriam
que recolher contribuições incidentes sobre fatos pretéritos sendo que estar-se-ia
legalizando e convalidando um erro do próprio legislativo quando da alteração da Lei
8.212/1991 em dissonância com o texto constitucional.

A possibilidade do efeito repristinatório da referida norma legal estaria em confronto com


o próprio ordenamento, eis que, a segurança jurídica se enquadra como direito
7
fundamental conforme se vislumbra do artl 5.º, inc. XXXVI, da Constituição Federal.

Outrossim, em nosso entendimento, mesmo que se admitisse a repristinação da norma


originária da Lei 8.212/1991, esta só poderia ocorrer caso fosse benéfica ao contribuinte,
o que não é o caso.

Admitir a tese da repristinação ou efeito repristinatório de modo lesivo ao contribuinte


seria fator de insegurança jurídica conforme mencionado acima. Neste sentido, e
discorrendo sobre a questão atinente ao FUNRURAL abordada outrora, Hugo de Brito
Machado (2002) nos fornece sábias palavras:

“Tal exigência é incompatível com a segurança jurídica. A empresa agro-industrial


praticou suas operações sob o regime jurídico de uma lei que se presumia constitucional.
Formulou o seu plano de atividades com fundamento nesse regime jurídico. Estabeleceu
os preços de seus produtos com base na lei vigente, presumidamente constitucional. Em
face da declaração de sua inconstitucionalidade, não é razoável submetê-la a regime
tributário mais gravoso.

É razoável, pois, esperar-se que o Supremo Tribunal Federal prestigie o princípio da


segurança jurídica e decida que os efeitos da declaração de inconstitucionalidade
operam-se retroativamente apenas a favor do cidadão, não podendo implicar gravame
para o contribuinte. Assim, em relação àquelas empresas agro-industriais com folha de
salário do setor rural muito elevadas, que por isto mesmo deverão pagar, em face da
declaração de inconstitucionalidade, contribuição mais elevada, não terá a declaração de
inconstitucionalidade efeito retroativo. E em relação àquelas empresas agro-industriais
com folha de salários do setor rural diminuta, que por isto mesmo sejam favorecidas
com a declaração de inconstitucionalidade, esta haverá de produzir efeitos retroativos.
Afinal a Corte Maior já decidiu que o princípio da irretroatividade é uma garantia do
cidadão, que não impede o Estado de dispor retroativamente em benefício do particular”.

De mais a mais, Franco (1974, II, p. 3449-3450) é partidário da ideia de que a admissão
do efeito repristinatório gera insegurança jurídica.

Diante de todo o exposto, a tese aqui defendida não é a inadmissibilidade da


repristinação ou do efeito repristinatório da lei, mas sim que ambos sejam reconhecidos
apenas e tão somente em favor do contribuinte.
7 Considerações finais

Da ilação do que foi explanado no escrito acima, tentou-se explicar de forma sucinta,
porém, abrangente, os principais aspectos sobre a legislação tributária como sua
interpretação, integração, aplicação bem como outros fatores.

Do mesmo modo, foram trazidos à tona temas não muito explanados pela doutrina como
a hipossuficiência do contribuinte e o princípio de que ele é a parte mais frágil da relação
jurídico-tributária, que é denominado por princípio do in dubio pro contribuinte.

Feitos tais apontamentos, também foi tratada a questão da repristinação, tanto em


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A Admissibilidade da Repristinação Tributária e do Efeito
Repristinatório Pro Contribuinte

matéria legislativa como constitucional, sendo que, neste último caso, essa repristinação
é chamada de efeito repristinatório, especificamente nas declarações de
inconstitucionalidade de determinadas leis.

O que se tentou mostrar não é a proibição dos referidos institutos – até porque os
mesmos são admitidos de forma excepcional no ordenamento jurídico brasileiro – mas
sim a admissibilidade da repristinação e efeito repristinatório em matéria tributária,
sempre de modo pro contribuinte, de forma que se uma lei é revogada por outra que
mais tarde é também revogada, ou declarada inconstitucional, a lei originária só poderá
voltar à tona caso traga feitos benéficos ao contribuinte, a exemplo de uma lei que
originariamente trazia carga tributária um pouco mais amena. Para tanto, abordou-se
também a controvérsia relativa ao FUNRURAL, que hodiernamente gera discussão nos
campos doutrinário e jurisprudencial exatamente pela questão relativa à aplicação do
efeito repristinatório na cobrança do referido tributo.

O que se sustenta é a inadmissibilidade do ressurgimento de determinada lei caso ela


seja mais gravosa ao contribuinte, seja por questão de equilibrar os polos da relação
jurídico-tributária ou mesmo por segurança jurídica ao indivíduo ou ente pagador de
tributos. Assim, a lei tributária pode sim repristinar, desde que de forma benéfica ao
sujeito passivo da relação tributária, in casu, o contribuinte.
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aumenta eficiência. Disponível em: [http://goo.gl/9PgVc5]. Acesso em: 15 maio 2016.

1 Trata-se do Projeto 2.557/2011 cuja autoria é do deputado Laércio Oliveira (PR-SE).

2 O caso dos presentes embargos se trata de empresa familiar, voltada à comunidade e


seus funcionários, que com o excesso de tributos viu-se obrigada a cada dia reduzir suas
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A Admissibilidade da Repristinação Tributária e do Efeito
Repristinatório Pro Contribuinte

instalações, estando à beira de falir completamente. Assim estão inúmeras empresas por
este Estado. A solução cabe ao próprio Estado-Fisco. Para dar uma hipótese de solução a
esta questão grave de inadimplência tributária, minha tese é de que não se pode deixar
de analisar a relação contribuinte/Estado-Fisco como uma relação de consumo, já que o
contribuinte está para o Estado, assim como os consumidores estão para os
fornecedores. O contribuinte é um consumidor daquilo que o Estado-Administração
coloca à disposição para sua utilização. Dessa forma, o Estado-Administração é um
FORNECEDOR e o contribuinte é um CONSUMIDOR. Sendo o Estado-Fisco integrante do
Estado-Administração, forçosamente o Estado-Fisco é um fornecedor. Assim, entendo
estar caracterizada a relação de consumo, devendo incidir o Código de Defesa do
Consumidor também nas relações dos contribuintes com o Estado, a fim de garantir a
defesa dos interesses dos consumidores, todos eles contribuintes do Estado. Assim
sendo, iniciando com os juros moratórios, eles não devem ser superiores a 1% ao mês,
não ultrapassando os 12% ao ano, consoante legislação extravagante. Com relação à
multa, é flagrantemente abusiva e de excessiva onerosidade a sua permanência em
30%, devendo incidir a Lei 9298, de 02 AGO 1997, consoante definitiva Decisão do
Superior Tribunal de Justiça, devendo ser fixada em 2% sobre o saldo devedor
atualizado. Consoante a alogada capitalização mensal, entendo que ela está sendo
praticada pelo Estado, devendo ser excluída, não se efetuando capitalização de juros,
mas sim a incidência de juros simples. In: Revista Consultor Jurídico. Juiz aplica Código
do Consumidor em cobrança de impostos. Disponível em: [http://goo.gl/u5npE5].
Acesso em: 15 maio 2016.

3 Este também foi o posicionamento do Supremo Tribunal Federal em algumas decisões:


ADIn 2.215-PE (Medida Cautelar), rel. Min. Celso de Mello, 17.04.2001. No mesmo
sentido ADI 2.132/MC, rel. Min. Moreira Alves, DJ de 05.04.02; ADI 2.242, rel. Min.
Moreira Alves, DJ de 19.12.2001; ADI 3218 / CE, rel. Min. Eros Grau, j. 7.12.2004; ADI
2883/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 30.08.2006 .
Outra parte da doutrina nos fala: Entendemos que, da conjugação dos arts. 11, § 2.º, e
27 da Lei 9868, é possível inferir uma autorização para que o STF, mediante um juízo de
ponderação, restrinja ou até mesmo afaste os efeitos repristinatórios das decisões no
controle de constitucionalidade. Mas, sempre que a restrição à repristinação decorrer
não de um juízo sobre a inconstitucionalidade da lei revogada, mas de uma avaliação
política do STF, calcada em razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse
social, ‟pensamos que o quorum de 2/3, previsto no art. 27 da Lei 9.868, também
deverá ser exigido”. In: SARMENTO, Daniel. Jurisdição constitucional e política. São
Paulo: Forense, 2015, p. 37.

4 O autor, todavia, salienta que a aceitação do efeito repristinatório em Portugal não é


aceito de modo indiscriminado: “Tendo em conta a sua razão de ser é lógico que: “(i)
existam esses efeitos quando entre nenhuma norma e a norma repristinada, seja esta a
solução mais razoável ; (ii) não existam quando a norma declarada inconstitucional não
tiver revogado qualquer norma anterior. No caso de a norma repristinada ser
inconstitucional não está vedada ao TC a possibilidade de conhecer dessa
inconstitucionalidade para fundamentar nela a recusa de efeitos repristinatórios (cfr. Ac.
TC 56/84). Mais duvidoso (por violar o princípio do pedido) é a possibilidade de o TC
conhecer e declarar a inconstitucionalidade das normas repristinadas (Ac. 452/1995, DR,
II, 21-11)”. In: José Joaquim Gomes Canotilho, op. cit., p. 988. No mesmo diapasão: Rui
Medeiros, op. cit., p. 660.

5 Art. 281.Fiscalização abstracta da constitucionalidade e da legalidade. 1. O Tribunal


Constitucional aprecia e declara, com força obrigatória geral: a) A inconstitucionalidade
de quaisquer normas;
b) A ilegalidade de quaisquer normas constantes de acto legislativo com fundamento em
violação de lei com valor reforçado; c) A ilegalidade de quaisquer normas constantes de
diploma regional, com fundamento em violação do estatuto da região autónoma; d) A
ilegalidade de quaisquer normas constantes de diploma emanado dos órgãos de
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Repristinatório Pro Contribuinte

soberania com fundamento em violação dos direitos de uma região consagrados no seu
estatuto. Disponível em: BRASIL. PARLAMENTO. Disponível em: [http://goo.gl/Fo0l1I].
Acesso em: 20 maio 2016.

6 Reforçando o posicionamento da inadmissibilidade do efeito repristinatório, sobre os


fatos narrados acima, o Superior Tribunal de Justiça tem o seguinte entendimento: “2.
Outrossim, os efeitos prospectivos previstos no artigo 27, da Lei nº 9.868/1999, são
inaplicáveis pelo Poder Judiciário, sob pena de usurpação da atividade legislativa, mercê
de promover o rompimento da Segurança Jurídica e do Princípio da Isonomia, em
confronto com os contribuintes que, calcados na presunção de legitimidade das leis, não
demandaram contra o Fisco (Precedente da Excelsa Corte: Questão de Ordem no RE
353.657-5-PR). (STJ – AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL: AgRg no REsp
718751 PE 2005/0011658-2, 1.ª Turma, rel. Min. Luiz Fux, Publicação: DJ 17.04.2008 p.
1).

7 Art. 5.º (...) XXXVI– a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a
coisa julgada.

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