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Por Carlos Xavier

para Direito sem Juridiquês


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1. Introdução:

Neste resumo vamos estudar dois pensadores anteriores à Revolução Francesa,


Montesquieu e Rousseau. E nós vamos encontrar um paralelo com os pensadores
contratualistas ingleses, Hobbes e Locke.1
Se quisermos buscar uma chave para compreender esses nossos pensadores
franceses, poderíamos pensar que o Montesquieu é o Locke francês. E o Rousseau? O
Rousseau está mais para o Hobbes, e você vai entender por que.
E aqui, na França, temos o mesmo pano de fundo histórico que na Inglaterra, um
século antes. Estamos falando da transição do absolutismo para o parlamentarismo. E esse
pano de fundo é muito importante para nós entendermos o pensamento tanto de
Montesquieu quanto de Rousseau.

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Recomenda-se o vídeo Contratualismo – Thomas Hobbes e John Locke.

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2. Montesquieu. “Espírito das Leis.” Equilíbrio e moderação:

Começando com Montesquieu, ele era um membro da nobreza francesa. Ele havia
percebido que a monarquia estava num estado já decadente, e se preocupou em uma
forma de que a transição de um regime para outro, da monarquia para o parlamentarismo,
ocorresse de forma estável. Moderação e estabilidade são as palavras que definem o
pensamento do Montesquieu.
E veja só que interessante. O Montesquieu nasceu em 1689, exatamente o ano da
Revolução Gloriosa, a Revolução parlamentarista inglesa. E sabe de onde ele tirou a sua
ideia de separação de poderes? Exatamente da Inglaterra.
Então ele estudou a forma de funcionamento do poder na Inglaterra e, foi assim
que ele trouxe, para a França, a ideia de separação de poderes. A separação de poderes foi
pensada, por Montesquieu, como uma forma de controle do poder. Essa ideia foi
fortemente desenvolvida depois nos Estados Unidos pelos federalistas, mas isso já é
assunto para outro momento.
O Montesquieu via um conflito entre a classe nobre, de um lado, e a classe
popular, de outro (e naquela época povo era sinônimo de burguesia...), e a única forma de
alcançar um equilíbrio nesse conflito e o controle de poder seria, exatamente, o esquema
de separação de poderes.
Mas note que, na ideia do Montesquieu, um poder controla o outro, e com isso se
alcança estabilidade. De novo, a palavra-chave é moderação.
Uma última palavra sobre Montesquieu é que, embora ele tenha visto o Poder
Judiciário como um poder, para ele o poder de julgar era um poder nulo. Isso porque o juiz
era apenas a “boca da lei.” Note como essa ideia influenciou bastante o positivismo jurídico
tradicional e a própria definição de jurisdição de Chiovenda.2

3. Rousseau. “Contrato Social.” Liberdade por meio da lei:

Agora vamos para o Rousseu. Se o Montesquieu nasceu no ano da Revolução


Gloriosa, o Rousseau morreu um ano antes da Revolução Francesa (1788). E se a palavra

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Recomenda-se o vídeo Jurisdição: elementos centrais e conceito de Chiovenda

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“moderação” define o Rousseau, o Montesquieu é definido pelo oposto, pela falta de
moderação. Você já vai entender isso.
Caráter não era exatamente o forte de Rousseau. O sujeito era um crápula, um
verdadeiro libertino, e parece que isso influenciou a ideia que ele desenvolveu sobre o
contrato social.
Lembra dos nossos amigos ingleses? Cada um deles tinha a sua definição própria
sobre o direito natural no estado de natureza, e isso influenciou a forma como eles viam o
estado de sociedade. Para Hobbes o direito natural era a vida, e isso justificava o
absolutismo, enquanto para Locke o direito natural era a propriedade e isso justificava o
liberalismo e o parlamentarismo.
Já para o Rousseau o direito natural no estado de natureza era a liberdade. Os
homens eram livres para viverem da forma como quisessem.
Então, com a transição do estado de natureza para o estado social, o exercício de
liberdade se daria por meio das leis. Os homens abriram mão de sua liberdade natural para
constituir o Estado e, assim, eles exercem a sua liberdade civil nos termos das leis
aprovadas pelo Estado. Essa ideia vai influenciar muito um sujeito chamado Kant, na
Alemanha, mas isso também não é assunto para agora.
Lembre que o Montesquieu estava buscando um regime que conciliasse a nobreza
e o povo (a burguesia). O Rousseau não, ele estava interessado em implodir o absolutismo.
Então ele afirmou a celebre frase de que “todo poder emana do povo.” Conhece? Ela está
no artigo 1º da nossa Constituição.
O que está também na nossa Constituição, mas que o Rousseau nunca disse foi
que esse poder seria exercido de forma representativa. O Rousseau não pensou nessa
democracia representativa. Para ele, a democracia precisava ser direta.
Mas, de todo modo, é com o Rousseau que nasce a ideia de soberania do povo, de
vontade geral do povo. E era disso que se precisava, em termos teóricos, para justificar a
queda da monarquia absolutista. Mas note que a própria Revolução Francesa nunca
estabeleceu a democracia direta idealizada pelo Rousseau. Eles somente pegaram a ideia
de soberania popular, de vontade geral do povo e de liberdade por meio da lei.
E lembre também que se o Montesquieu era definido pela moderação, o Rousseau
era pelo oposto. Então a ideia de separação dos poderes, influenciada pelo pensamento do
Rousseau, acabou gerando a supremacia do Poder Legislativo e, consequentemente, a

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supremacia da lei. E assim nós entendemos o pano de fundo para que o Positivismo
Jurídico tradicional se desenvolvesse.3
E, por que é que nós comparamos o Rousseau com o Hobbes? Porque a ideia do
Hobbes, de um estado absoluto, acaba sendo implicitamente admitida pelo Rousseau.
Então é assim que o Rousseau, com a ideia de vontade geral do povo, ensinava
expressamente que aquele que fosse contrário à vontade geral do povo deveria ser
eliminado. Respeito às minorias não era mesmo o forte dele.
Com isso o estado de terror, de Robespierre, e o império napoleônico, que
seguiram logo após a Revolução Francesa, podem ser inclusive compreendidos como um
desdobramento do pensamento de Rousseau. E o socialismo e os estados totalitários do
Século XX também, mas isso já é outra história.

4. Indicações bibliográficas:

 O Espírito das Leis. Montesquieu


 Contrato Social. Rousseau
 Os Clássicos da Política – vol. 1. Francisco Weffort
 História do Pensamento Jurídico e da Filosofia do Direito. Cláudio de Cicco
 10 livros que estragaram o mundo (e outros 5 que não ajudaram em nada).
Benjamin Wiker
 Por que o nazismo era socialismo e por que o socialismo é totalitário. George
Reisman

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Recomenda-se o vídeo Positivismo Jurídico em 5 Passos.

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