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Síntese para o exame nacional

 Felizmente Há Luar! é um drama narrativo, de caráter social, dentro


dos princípios do teatro épico.

Defende as capacidades do homem, que tem o direito e o dever de


transformar o mundo em que vive, oferecendo-nos uma análise crítica
da sociedade e procurando mostrar a realidade em vez de a
representar, para levar o espectador a reagir criticamente e a tomar
posição;

 Trágica apoteose da história do movimento liberal oitocentista,


Felizmente Há Luar! interpreta as condições da sociedade portuguesa
do início do século XIX e a revolta dos mais esclarecidos, muitas
vezes organizados em sociedades secretas, contra o poder
absolutista;
 A figura centra é o general Gomes Freire de Andrade que está
sempre presente, embora nunca apareça e que, mesmo ausente,
condiciona a estrutura interna da peça e o comportamento de todas as
outras personagens;

Felizmente Há Luar! destaca a preocupação com o homem e o seu


destino, a luta contra a miséria e a alienação, a denúncia da ausência
de moral, o alerta para a necessidade de uma superação com o
surgimento de uma sociedade solidária que permita a verdadeira
realização do Homem;

A defesa da liberdade e da justiça, atitude de rebeldia, constitui a


hybris (desafio) desta tragédia. Como consequência, a prisão dos
conspiradores provocara o sofrimento (pathos) das personagens e
despertará a revolta do espectador;
Tendo como cenário político o início do século XIX, Sttau Monteiro
provocou a reflexão, denunciou as injustiças e avivou a chama da
esperança de liberdade;

O recurso à distanciação histórica e à descrição das injustiças


praticadas no início do século XIX em que decorre a ação permitiu-lhe
colocar em destaque as injustiças do seu tempo e a sua necessidade
de lutar pela liberdade;

As personagens psicologicamente densas e vivas, os comentários


irónicos e mordazes, a denúncia da hipocrisia da sociedade e a defesa
da justiça social são características da obra.
Em exame

2009 – 1ª Fase
2006 – 2ª Fase (Português 139)
2005 – 2ª Fase
2004 – 1ª Fase
2003 – 2ª Fase
História 1 História 2 História 3
1ª linha de ação 2ª linha de ação 3ª linha de ação 4ª linha de ação

A dos construtores do
A do rei D. João V A de Baltasar e Blimunda A de Bartolomeu Lourenço
convento
Abrange todas as Esta é a linha da ação Nesta linha relata-se uma Esta relaciona-se com o
personagens da família real e principal da história, a par da história de amor e o modo de sonho e o desejo de construir
relaciona-se com a 2ª linha 4ª - a que respeita a vida do povo português. As uma máquina voadora.
de ação, uma vez que a construção da passarola. duas personagens (Baltasar Articula-se com a 1ª e 2ª
promessa do rei é que vai Esta 2ª linha de ação vai e Blimunda) são os linhas de ação, porque o
possibilitar a construção do ganhando relevo e une a 1ª à construtores da passarola, e padre é o mediador entre a
convento. Esta linha tem terceira: se o convento é obra a figura masculina é também, corte e o povo. Também se
como espaço principal a corte e promessa do rei, é ao depois, construtor do enquadra na 3ª linha, dado
e, depois, o convento, na sacrifício dos homens, aqui convento, constituindo-se que a construção da
altura da sua inauguração, no representados por Baltasar e como paradigma da força que passarola resulta da força
dia de aniversário do rei. Blimunda, que ela se deve. faz mover Portugal – a do das vontades que Blimunda
Glorificam-se aqui os homens povo. tem de recolher para que a
que se sacrificam, passam passarola voe.
por dificuldades, mas que
também as vencem.
Grupo I
1. Este excerto integra-se na ação principal (construção do
convento), inserindo-se na viagem da grande pedra levada de Pêro
Pinheiro para Mafra, para ser colocada sobre o pórtico da igreja.

2. O texto pode dividir-se em duas partes. A primeira parte é


constituída pelo primeiro parágrafo onde se apresenta, à noite, em
Cheleiros, os trabalhadores, exaustos, uns tentando dormir, outros
a fazerem o velório ao malogrado Francisco Marques que morreu
esmagado pela grande pedra. Todos se preparam para o dia
seguinte. A segunda parte corresponde ao último parágrafo no
qual percebemos o sacrifício, o esforço dos homens e dos animais
durante aquele que é o quinto dia da designada epopeia da pedra.
3. São várias as referências ao percurso íngreme e sinuoso que os
trabalhadores percorrem para transportar a enorme pedra: «grande
descida», «ladeira acima», «a encosta», «outra descida, outra subida». O
esforço humano é evidenciado, revelando a árdua tarefa dos trabalhadores
que lutam contra os obstáculos da Natureza: «extenuados da grande descida
ao centro da terra, espantados de ainda estarem vivos», «sempre em
desassossego de espírito, que do corpo não vale a pena falar, doem todos os
músculos dos homens», «agrupam-se as hostes, repartem-se os esforços,
tantos para aqui, tantos para além, puxem, lá».
O ritmo lento da movimentação dos animais, alternando com progressão e
pausa, valoriza ainda mais o esforço heroico dos trabalhadores anónimos: «O
carro vai ladeira acima, tão devagar como tem vindo», «boiada não
argumenta nem se lastima, apenas se nega, faz que puxa e não puxa, o
remédio é deixá-los descansar um migalho, chegar-lhes ao focinho um
manípulo de palha, daí a pouco estão como se folgassem desde ontem,
ondulam as garupas alceiras pelo caminho fora».
4. A frase «Enquanto não aparece outra descida, outra subida» inclui uma
antítese que descreve o caminho acidentado que os trabalhadores e os bois
tinham de percorrer de Cheleiros rumo a Mafra. Na frase «isto é um campo
de batalha», temos uma metáfora que caracteriza a dificuldade da viagem e
as consequências trágicas da batalha entre os homens e a Natureza.

5. O narrador é heterodiegético. O autor empírico / narrador irónico não


participa na ação apesar da utilização do sujeito na primeira pessoa do plural
que constitui um desafio ao envolvimento do destinatário na história: «não
sabemos que nome tem», «como diríamos».
O narrador é omnisciente, conhecendo a ação: os acontecimentos passados
«em Cheleiros ficou um homem para enterrar, fica também a carne de dois
bois para comer» e futuros: «Amanhã, antes de nascer o sol, recomeçará a
pedra a sua viagem»; as personagens: os pensamentos e sentimentos mais
recônditos «espantados de ainda estarem vivos, uns que outros resistindo ao
sono, com medo de ser isso a morte».
Grupo II
Tópicos a considerar:
• Baltasar, personagem fictícia:
• construtor da passarola;
• trabalhador nas obras do convento.
• A importância de Baltasar na consecução do sonho de voar
• Baltasar, enquanto parte integrante de uma personagem coletiva (os
anónimos que construíram o convento de Mafra)
• Os espaços, S. Sebastião da Pedreira e Mafra
•O final da obra centrado em Baltasar.
Em exame

2010 – 2ª Fase
2008 – 2ª Fase
2006 – 1ª Fase
Estrutura externa
• 10 cantos
• número variável de estâncias, num total de 1102
• todas as estâncias são oitavas de decassílabos
• esquema rimático: abababcc
• rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos.

Estrutura interna
Estrutura interna
Introdução
Estrutura interna
Desenvolvimento
Estrutura interna - Desenvolvimento
Grupo I
1. O excerto integra-se na parte da narração da viagem de Vasco da
Gama à Índia. Os portugueses estão na Ilha dos Amores. Depois
de terem partido da Índia rumo à Pátria, os navegadores
portugueses aportam numa ilha preparada pela deusa Vénus para
recompensar os audazes descobridores. Neste espaço, os lusos,
simbolicamente, são elevados a heróis imortais, acasalando com
as ninfas que lhes propiciam momentos de extraordinário prazer.
Assim, após o banquete festivo, Tétis mostra ao Gama a máquina
do mundo, profetizando as glórias futuras dos portugueses.

2. Tétis pede ao Gama que a siga, pois a «Sapiência Suprema»


concedeu ao ilustre navegador o privilégio de aceder ao
conhecimento vedado ao comum dos mortais: «Faz-te mercê,
barão, a Sapiência / Suprema de, cos olhos corporais, / Veres o que
não pode a vã ciência / Dos errados e míseros mortais.» (estância
76, vv. 1-4).
Grupo I
3. Os portugueses percorrem «um mato / Árduo, difícil, duro a humano trato»
(estância 76, vv. 7 e 8). Tal caracterização espacial remete para as dificuldades
que têm de ser vencidas para ganhar o estatuto de herói. O heroísmo consiste
na elevação alcançada, através da persistência, da coragem na concretização de
façanhas grandiosas. A recompensa está espelhada no campo coberto “ De
esmeraldas, rubis” que o herói pisa e que é digno de um deus.

4. A comoção do Gama, quando Tétis lhe mostra a Máquina do Mundo, («Vendo o


Gama este globo, comovido / De espanto e de desejo ali ficou.» - estância 79, vv.
3-4) inscreve-se na perspetiva renascentista, na medida em que o Renascimento
é o período histórico-cultural em que o Homem tem como objetivo o acesso ao
conhecimento da Natureza e do mundo.

5. A linguagem da estância 76 é valorativa, uma vez que Tétis dá ao Gama o


epíteto de «barão» (homem ilustre) e informa-o de que a Sapiência qualificada
no superlativo «Suprema» lhe concede o privilégio de ser distinguido entre os
mortais. Também a adjetivação expressiva, que qualifica os humanos de
«errados e míseros», a ciência de «vã», o monte de «espesso» e o mato de
«árduo, difícil, duro», reitera e reforça o enaltecimento dos nautas portugueses.
Grupo II
Tópicos a considerar:
 Os elogios e as ameaças proferidos pelo Gigante
 A coragem de Vasco da Gama que venceu o medo e
enfrentou o monstro
 A fragilização do Gigante
 O conhecimento que, na época, se possuía do mar,
dos ventos e das correntes
 O heroísmo dos portugueses que ultrapassaram o
Cabo das Tormentas
Em exame

2010 – 1ª Fase
2008 – 1ª Fase
2006 – 2ª Fase
1ª Parte
“Brasão” Poemas Valores simbólicos
Os Campos O dos Castelos
O das Quinas

Os Castelos Ulisses
Viriato
O Conde D. Henrique
D. Tareja
D. Afonso Henriques
D. Dinis
D. João I
D. Filipa de Lencastre

As Quinas D. Duarte, Rei de Portugal


D. Fernando, Infante de Portugal
D. Pedro, Regente de Portugal
D. João, Infante de Portugal
D. Sebastião, Rei de Portugal

A Coroa Nun’Álvares Pereira

O Timbre A cabeça do Grifo: O Infante D. Henrique


Uma asa do Grifo: D. João, O Segundo
A outra asa do Grifo: Afonso de Albuquerque
2ª Parte
Poemas Valores simbólicos
O Infante
Horizonte
Padrão
O Mostrengo
“Mar Epitáfio de Bartolomeu Dias
Português” Os Colombos
Ocidente
Fernão de Magalhães
Ascensão de Vasco da Gama
Mar Português
A Última Nau
Prece
3ª Parte

“O Poemas Valores simbólicos


Encoberto”
Os Símbolos D. Sebastião
O Quinto Império
O Desejado
As Ilhas Afortunadas
O Encoberto
Os Avisos O Bandarra
António Vieira
Screvo meu livro à beira-mágoa
Os Tempos Noite
Tormenta
Calma
Antemanhã
Nevoeiro
Significado da estrutura de Mensagem
Em síntese
 A estrutura da Mensagem representa um ciclo de nascimento, vida e morte da pátria.
 Mas esta morte não é definitiva, pois pressupõe um renascimento que será o novo império, futuro e
espiritual – o Quinto Império.
 Esse ciclo é visível na estrutura tripartida da obra – Brasão, Mar Português, O Encoberto.

2. Mar Português
Vida
Renascimento
Realização do império
do império
territorial sonhado
espiritual:
Quinto Império

Ó Portugal,
hoje és
nevoeiro...
É a hora!

1. Brasão 3. O
Nascimento Encoberto
Os fundadores e Morte
construtores do império Fim das energias
do império
Padrão
O esforço é grande e o homem é pequeno
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
• Diogo Cão = navegador português, dobrou este padrão ao pé do areal moreno
o Cabo Bojador, estabeleceu relações com o e para deante naveguei.
Congo e introduziu o padrão.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão signala ao vento e aos céus
• Simbologia geral do padrão: poder
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
territorial e difusão da religião.
O por fazer é só com Deus.

E ao immenso e possível oceano


• Valor das quinas: predestinação Ensinam estas quinas, que aqui vês,
portuguesa e do herói Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é portuguez.
• Valor da cruz: procura do além; a busca E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
contínua, permanente em cada E faz a febre em mim de navegar
navegação. Só encontrará de Deus na eterna calma
• “Navegar” = metáfora para toda a O porto sempre por achar.
procura que é a resposta para a constante
insatisfação do herói.
Grupo I
1. A figura de estilo que estrutura o primeiro verso é a antítese. A
afirmação é proferida por Diogo Cão que se autocaracteriza como
navegador. O esforço significa a luta, o sacrifício do homem, neste
caso do nauta, para vencer os obstáculos do mar desconhecido. O
homem, de natureza física frágil, era pequeno, vulnerável, perante
os perigos da Natureza e perante os seus medos, pois desconhecia o
húmido elemento, muitos fenómenos físicos da Natureza, técnicas
de marear para poder enfrentar os imensos perigos a que estava
exposto. Deste modo, para vencer a incomensurável força da
Natureza, o homem « pequeno» devia esforçar-se, sacrificar-se, só o
esforço (espírito de sacrifício, audácia, persistência) lhe
possibilitariam a vitória.

1.1. São expressões equivalentes: «A alma é divina e a obra é imperfeita»


(v. 5); «da obra ousada, é minha a parte feita: / O porfazer é só com
Deus» (vv. 7 e 8).
Grupo I
2. Os traços caracterizadores de Diogo Cão são os seguintes:
navegador aventureiro (“pera deante naveguei” - v. 4), corajoso,
empreendedor, descobridor (“Que, da obra ousada, é minha a
parte feita” – v. 8) , homem de fé (“O por fazer é só com Deus.” –
v. 9) e patriota (“O mar sem fim é portuguez.” – v. 12).

2.1. O navegador caracteriza a sua ação como um feito difícil e


arrojado (“O esforço é grande e o homem é pequeno” – v. 1),
assumindo, no entanto, que a realizou por vontade divina (“O por
fazer é só com Deus.” – v. 9). Assim, as façanhas, as descobertas a
realizar no futuro dependerão também da vontade superior de
Deus (“Só encontrará de Deus na eterna calma / O porto sempre
por achar.” – vv. 15-16).
Grupo I
3. A expressão «O mar sem fim é português» significa que os
Portugueses navegaram em oceanos nunca dantes navegados,
desvendaram os segredos do mar, numa contínua descoberta.
Assim, Diogo Cão enaltece a sua Pátria, como uma nação
predestinada por Deus para grandes feitos.

4. O poema “Padrão” refere-se ao marco físico que os navegadores


portugueses deixavam em terras que descobriam, à medida que iam
desbravando os mares. Eram símbolos de poder territorial e de
difusão da sua religião – o Cristianismo. Este poema integra-se,
logicamente, na segunda parte de Mensagem, intitulada «Mar
Português», constituída por doze poemas. Nesta parte, Fernando
Pessoa enaltece os nautas que plasmaram a Pátria, engrandecendo-
a com as suas descobertas marítimas, numa aventura sublime,
dando novos mundos ao mundo.
Grupo II
Tópicos a considerar:
 Desaparecimento do rei D. Sebastião na desastrosa
batalha de Alcácer Quibir
 Crença no regresso do rei
 Sebastianismo: extrapolação subjetiva do messianismo
 Permanência e eco do sebastianismo na alma dos
portugueses
 Tema aproveitado na literatura portuguesa
 Sebastianismo pessoano em Mensagem: esperança na
criação do Quinto Império em termos culturais e
espirituais.
Em exame

2011 – 2ª Fase
Semelhanças
 Poemas sobre Portugal.
 Conceção da História Portuguesa enquanto demanda mística.
 D. Sebastião, ser eleito, enviado por Deus ao mundo, para difundir a
Fé de Cristo.
 Os heróis concretizam a vontade divina.
 Conceito abstrato de Pátria.
 Apresentação dos heróis da História de forma fragmentária.
 Exaltação épica da ação humana pelos heróis portugueses.
 Superação dos limites humanos pelos heróis portugueses.
 Superioridade dos navegadores lusos sobre os nautas da Antiguidade.
 Glória marcada pelo sofrimento e lágrimas.
 Sacrifício voluntário em nome de uma causa patriótica.
 Estrutura rigorosamente arquitetada.
 Evocação do passado (memória) para projetar, idealizar o futuro
(apelo, incentivo).
Diferenças
Os Lusíadas Mensagem
• Dinamismo: a viagem, a aventura, o • Estatismo: o sonho, o indefinido.
perigo.
• A ação, a inteligência, o concreto, o • O abstrato, a sensibilidade, a utopia, a
conhecimento do Império no apogeu e na falta de razões para ter esperança, o
decadência, a possibilidade de ter sebastianismo.
esperança.
• O poeta dirige-se a D. Sebastião, que era • D. Sebastião é uma entidade que vive na
uma realidade viva, e invetiva o rei a memória saudosa do poeta, uma sombra,
realizar novos feitos que deem matéria a um mito.
uma nova epopeia.
• A memória e a esperança situam-se no • A esperança é utopia, só existe no sonho.
mesmo plano.
Diferenças
Os Lusíadas Mensagem
• Conceção do heroísmo : concretização de • Conceção do heroísmo: de carácter
feitos épicos pelos humanos. mental, conceptual. O autor identifica-se
com os heróis e, através deles, revela-se
num processo lírico-dramático.
Os heróis são símbolos de um olhar
visionário, as figuras são espectros,
resultado do trabalho do pensamento.
• Amor à Pátria: enaltecimento e • Amor à Pátria: atitude metafísica,
imortalização da História de Portugal e dos procura incessante do que não existe.
heróis portugueses, através de um poema Expressão de fé no Quinto Império, evasão
épico, trabalho árduo e longo. angustiada da vivência absurda.
• Linguagem épica, estilo grandiloquente. • Linguagem épico-lírica, estilo lapidar.
Diferenças
Os Lusíadas Mensagem
• Epopeia clássica pela forma e pelo • Mega-poema constituído por 44 poemas
conteúdo. Narração da viagem de Vasco breves, agrupados em 3 partes principais,
da Gama, da luta dos deuses, da História de carácter ocultista, a sua natureza é
de Portugal em alternância, discurso predominantemente de índole
encaixado, analepses e prolepses. interpretativa, com reduzida narração.
• Assunto: os portugueses e os feitos • Assunto: a essência da Pátria e missão
concretos cumpridos. O poeta canta a que esta deverá cumprir.
saga lusa na conquista dos mares.
• Epopeia de dimensão humanista- • Poema épico-lírico-simbólico-mítico,
renascentista: acesso ao conhecimento projeto de ideal de fraternidade universal:
dos segredos da Natureza pelo Homem. utopia. Elogio da loucura, do sonho;
evasão do real, valorização do imaginário.
Diferenças
Os Lusíadas Mensagem
• Os heróis agem norteados pela Fé de • Os heróis, numa atitude contemplativa e
Cristo, dando a conhecer novos mundos enigmática, buscam o infinito: a Índia
ao mundo. tecida de sonhos.
A missão de Vasco da Gama foi coroada de A missão terrena de Portugal foi cumprida
êxito, dela derivou o Império Português do por vontade divina; outra, de índole
Oriente; outra missão poderá ser realizada ocultista, aventura espiritual e cultural,
pelo rei D. Sebastião: difusão do está ainda por cumprir, a hegemonia do
Cristianismo no Norte de África. Quinto Império.

“E contudo persiste o problema que nenhum equívoco pode abolir: o problema (como
dizer?) da correspondência, ou inspiração comum, da Mensagem e de Os Lusíadas.
À distância, a íntima comunidade é inegável: a temática comum, a inspiração épica, o
impulso missionário.
Contudo, uma análise mais aproximada obriga a reduzir substancialmente a
semelhança e a relegá-la por ilusória”
Maria Vitalina Leal de Matos, A Vivência do Tempo em Fernando Pessoa
Conselho
Cerca de grandes muros quem te sonhas. •“Conselho” = verbos no imperativo
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada, • jardim = símbolo que representa o
Põe quantas flores são os mais risonhas, “eu”
Para que te conheçam só assim. • mundo interior (sonho) vs mundo
Onde ninguém o vir não ponhas nada. exterior / ser vs parecer
Faz canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever •O verdadeiro mundo é o interior – o
O teu jardim como lho vais mostrar. dos sonhos.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém, • O jardim esconde a verdadeira
Deixa as flores que vêm do chão crescer essência.
E deixa as ervas naturais medrar.
Faz de ti um duplo ser guardado; • Aparência completa – uma máscara
E que ninguém; que veja e fite, possa em forma de jardim que serve o
Saber mais que um jardim de quem tu és- quotidiano do homem.
Um jardim mais ostensivo e reservado, • Por trás da máscara há sonhos, há
Por trás do qual a flor nativa roça flores selvagens, pobres = o verdadeiro
A erva tão pobre que nem tu a vês... “eu”.
DESPERSONALIZAÇÃO / FRAGMENTAÇÃO
Grupo I
1.1. As expressões que marcam as etapas do conselho são as
seguintes:«Cerca de grandes muros quem te sonhas» (v. 1), «Depois
/ (…) Põe quantas flores são as mais risonhas» (vv. 2 a 4), «Faz
canteiros como os que os outros têm» (v. 7), «Mas/ (…) / Deixa as
flores que vêm do chão crescer / E deixa as ervas naturais medrar»
(vv. 10 e 11), «Faz de ti um duplo ser guardado» (v. 13).

1.2. O sujeito poético aconselha o «tu» a proteger a sua interioridade do


olhar dos outros. Assim, os «muros», obstáculos difíceis se transpor
remetem para a ideia de mundo fechado no qual existem os sonhos,
os desejos íntimos; o sujeito poético aconselha também a plantar no
jardim (espaço de perfeição, beleza exterior) flores «as mais
risonhas» (símbolos da efemeridade da beleza e da vida). Este
jardim e estas flores representam o que se deseja mostrar aos
outros, sendo que se revela apenas a parte superficial, porquanto as
flores e ervas naturais somente crescerão na zona interior onde
reside a verdadeira essência do ser.
Grupo I
2. A expressão «Faz de ti um duplo ser guardado» significa que o
eu poético aconselha o «tu» a criar uma identidade fictícia,
artificial, o “duplo”, que exiba perante os outros, não se
revelando, preservando a sua identidade.

3.
3.1. O tema do texto é a fragmentação do eu. O título do poema é
“Conselho”, pois, ao longo de todo o poema, o sujeito poético
articula atos ilocutórios diretivos, dirigindo-se a um “tu”
(“Cerca”, “Faz”, “Deixa”), para o aconselhar a preferir a divisão
do “eu” num outro (“Cerca de grandes muros quem te cerca” –
v. 1) – um duplo – como forma de salvaguardar a privacidade
(“E que ninguém, que veja e fite, possa / Saber mais do que um
jardim de quem tu és” – vv. 13-14).
Grupo II
Tópicos a considerar:
 Ser poeta é ser criador (“o poeta é um fingidor”)
 Evocar a infância perdida no presente – tema:
nostalgia da infância perdida (inconsciência):
 Consciência do tempo presente = adulto;
 Impossibilidade de viver o sonho de voltar a ser criança
(«Com que ânsia tão raiva / Quero aquele outrora!»);
 Frustração, infelicidade (“A criança que fui vive ou
morreu?”)
 Referir exemplos concretos de poemas (“Pobre
velha música!”, “Quando as crianças brincam”, “
Em exame

2007 – 2ª Fase
2006 – 1ª Fase (Português 139)
Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa ... • Negação do pensamento
Que pensará o meu muro da minha sombra? • Rir – dos que pensam
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim • Autoquestionamento – desagrada e
A perguntar-me cousas. . . incomoda o eu.
E então desagrado-me, e incomodo-me • Comparação com uma sensação
Como se desse por mim com um pé dormente. . . (táctil)

Que pensará isto de aquilo?


Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que • Interrogação retórica
tem? • Reposta: negação do pensamento
Se ela a tiver, que a tenha... • Exemplo: a Natureza não tem
Que me importa isso a mim? consciência
Se eu pensasse nessas cousas, • Valorização das sensações: visuais
Deixaria de ver as árvores e as plantas • Efeitos da consciência no eu: tristeza
E deixava de ver a Terra, e escuridão
Para ver só os meus pensamentos ...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.
Grupo I
1. O sujeito poético afirma que se põe «a rir», não sabendo ao certo
«de quê», todavia, remete esse facto para o ato de pensar,
ridicularizando-o («Que tem que ver com haver gente que pensa ...» -
v. 4). Assim, o eu poético manifesta a sua rejeição pela
intelectualização do sentir («Acho tão natural que não se pense» -
v.1).

2.
2.1. A expressão «com um pé dormente» (v. 9) refere-se ao ato de
pensar, neste caso de se autointerrogar, de refletir.
Ficar «com um pé dormente» incomoda, pois acontece sem
depender da vontade da pessoa. Do mesmo modo, é desagradável,
para o sujeito poético, dar consigo a pensar, ato que rejeita e que,
segundo ele, impossibilita a fruição do real circundante («Se eu
pensasse nessas cousas / Deixaria de ver as árvores e as plantas» -
vv. 15 e 16).
Grupo I
3.
3.1. A vantagem de não pensar é captar a essência da Natureza, através dos
sentidos, de forma plena: «sem pensar, tenho a Terra e o Céu» (v. 20).
Daí a inutilidade do pensamento filosófico-metafísico. Pensar
impossibilita que o eu poético aceda ao conhecimento, à vontade do
mundo, o que lhe causa tristeza: «Se eu pensasse (...) ( (...) deixava de
ver a Terra, / (...) / Entristecia e ficava às escuras» (vv. 15, 17 e 19).

4.
4.1. O poema pode dividir-se em três momentos: no primeiro momento
(versos 1 a 4), o sujeito poético rejeita o ato de pensar e ridiculariza
quem pensa (“Acho tão natural que não se pense” – v. 1); no segundo
momento (versos 5 a 19), o eu poético autoquestiona-se e autocritica-
se, pondo em causa o ato de pensar e valoriza o sentido da visão («Nada
pensa nada» e «E deixava de ver a Terra» - v. 17); no terceiro momento
(verso 20), o sujeito poético considera que «domina» o Universo,
rejeitando o ato de pensar.
Grupo II
Tópicos a considerar:
 Recusa do ato de pensar (“Pensar é estar doente
dos olhos”)
 Aprendizagem de desaprender
 Contacto com a Natureza (“O meu olhar é nítido
como um girassol”)
 Captação do real através dos sentidos, sobretudo
da visão (“Os meus pensamentos são todos
sensações” “ Pensar uma flor é vê-a e cheirá-la”).
Em exame

2004 – 2ª Fase
2002 – 1ª Fase
Não quero recordar nem conhecer-me.
• Linguagem negativa : “não”, “nem”
Somos demais se olhamos em quem somos. • Aceitação passiva da vida - ataraxia
Ignorar que vivemos
Cumpre bastante a vida.

Tanto quanto vivemos, vive a hora • carpe diem


• inexorabilidade do tempo
Em que vivemos, igualmente morta • fugacidade da vida
Quando passa connosco,
Que passamos com ela.

• paradoxo
Se sabê-lo não serve de sabê-lo
• interrogação retórica – constata a
(Pois sem poder que vale conhecermos?) impotência do conhecimento
Melhor vida é a vida • estoicismo
Que dura sem medir-se.
Grupo I
1. O sujeito poético deseja não possuir recordações algumas do passado
(“Não quero recordar”) nem fazer uma autoanálise introspetiva (“nem
conhecer-me”). Esta recusa está expressa na utilização de recursos
linguísticos com conotação negativa: o advérbio “não” e a conjunção
“nem”.

2. O eu poético pretende aceitar a vida tal como ela é («Ignorar que


vivemos / Cumpre bastante a vida» - vv. 3-4), estando implícita, nas suas
palavras, a rejeição do sofrimento. Defende-se assim a ataraxia como
forma de passar pela vida evitando as dificuldades que ela nos
apresenta.

3. Para o sujeito poético, a existência humana é uma passagem fugaz pelo


mundo que deve ser vivida de modo passivo, sem entrega ou de utopia
(«Tanto quanto vivemos, vive a hora» - v. 5). O eu aconselha-nos a
aproveitar o dia a dia (“carpe diem”), pois o tempo é inexorável e
conduz-nos inevitavelmente para a morte: «igualmente morta / Quando
passa connosco,» - vv. 6-7).
Grupo I
4.1. O verbo «poder», precedido da preposição «sem», significa a impotência
do ser humano perante a passagem breve da vida; o verbo «conhecer» é
utilizado com a aceção de ter consciência da fragilidade humana.

5. O poeta revela uma atitude cerebral, racional, em expressões como:


«Não quero recordar»; «Melhor vida é a vida / Que dura sem medir-se»
que evidenciam uma disciplina pessoal no ato de viver, própria de um
estoico. Todo o poema é pessimista, patente na linguagem disfórica
com recurso ao advérbio de negação, à conjunção “nem” e à preposição
“sem”, porque o poeta apresenta a vida exclusivamente como um
percurso, no final do qual está a morte inevitável.

6. O tema é a efemeridade da vida. O sujeito poético constata esta


brevidade e aconselha-nos (utilização da primeira pessoa do plural que
envolve o destinatário do poema) a aproveitá-la sem grandes ambições
e questionamentos.
Grupo II
Tópicos a considerar:
 Aguda consciência da passagem do tempo

 Transitoriedade da vida

 Implacabilidade do Fado

 Desapego dos bens terrenos

 Aceitação calma do destino

 Carpe diem
Em exame

2002 – 2ª Fase
Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-estar que trazia.
Desde ontem a cidade mudou. • Cruz = símbolo de morte
• Mudança do estado de espírito do “eu”
Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou • Ligação ao morto
Agora sem essa monotonia. • Quebra a rotina – mudança negativa
Desde ontem a cidade mudou. • Tédio, monotonia
Ele era o dono da tabacaria.
• Identificação do morto
Um ponto de referência de quem sou
Eu passava ali de noite e de dia.
• Referência = repetição
Desde ontem a cidade mudou.

Meu coração tem pouca alegria,


• Tristeza do “eu”
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
• “eu” - sente-se morto
Desde ontem a cidade mudou.

Mas ao menos a ele alguém o via, •Justificação para o seu estado de espírito
Ele era fixo, eu, o que vou, • Constatação da insignificância da sua vida
Se morrer, não falto, e ninguém diria.
Desde ontem a cidade mudou.
Grupo I
1. O bem-estar do sujeito poético alterou-se porque viu uma cruz na
porta da tabacaria, sinal de que Alves, o dono, morrera («Quem
morreu? (...) / Ao diabo o bem-estar que trazia» - vv. 1 e 3).

2. O dono da tabacaria dava sentido à vida do eu («Ora, era quem eu


via.» - v. 5), pois fazia parte da sua rotina («Estou / Agora sem essa
monotonia.» - vv. 6-7) e isso conferia algum equilíbrio e uma
referência para o sujeito poético («Um ponto de referência de quem
sou.» - v. 10). Ao aperceber-se da morte do Alves, o sujeito poético
ficou consciente da efemeridade da vida, sentindo-se revoltado com
a mudança, acabrunhado, infeliz e mais solitário («Meu coração tem
pouca alegria,» - v. 13).

2.1. O verso « E isto diz que é morte aquilo onde estou» significa que a
vida do eu poético é triste, sem interesse, sem sentido, ainda para
mais com a perda sofrida («Horror fechado da tabacaria!» - v. 15) que
veio desequilibrar a sua vida.
Grupo I
3. O eu não se considera uma referência para ninguém. A propósito da morte do
Alves, o sujeito poético reflete sobre a sua própria vida e o que será depois da sua
morte, revelando-se um falhado, um frustrado e um solitário, pois a ausência do
dono da tabacaria foi sentida (“a ele alguém o via” – v. 17), enquanto que o eu
considera que não fará falta a ninguém quando morrer («Se morrer, não falto, e
ninguém diria: / Desde ontem a cidade mudou» - vv. 19-20).

4. O verso tem a função de refrão, repete e intensifica a ideia: o dono da tabacaria


era, para o sujeito poético, um elemento positivo da cidade. A repetição do verso,
no final de todas as estrofes, evidencia as consequências da morte do Alves para o
eu poético - «a cidade mudou», sendo esta mudança negativa, pois o eu mantinha
com o dono da tabacaria uma relação amistosa que muito lhe agradava.

5. O poema é constituído por cinco quadras de métrica variada, predominando os


versos eneassilábicos. O esquema rimático é abab em todas as estrofes. A rima é
cruzada, sobretudo pobre e toante.
Grupo II
Tópicos a considerar:
 Caracterizar Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando
Pessoa (sensacionista, «sentir tudo de todas as maneiras»,
inadaptado, excessivo, triste, solitário, angustiado, cansado,
entediado...)
 Comparar características de Álvaro de Campos com o seu
criador (diferenças e semelhanças)
 Comparar especificidades da linguagem e do estilo (pontuação
emotiva, adjetivação expressiva, versos longos/ curtos,
versilibrismo, hipérboles, metáforas, enumerações...)
 Exemplos concretos de Campos extrovertido («Ode Triunfal»
ou «Ode Marítima»).
Em exame

2011 – 1ª Fase
2007 – 1ª Fase
2003 – 1ª Fase (Português 139)

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