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Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

• Escala de Inteligência de Wechsler para Adultos –


3ª edição (WAIS-III)
A WAIS-III é um instrumento clínico de administração individual, que
avalia a inteligência de sujeitos com idades a partir dos 16 anos e 11
meses. À semelhança de todas as escalas de inteligência de Wechsler, a
WAIS-III é constituída por vários subtestes, cada um deles avaliando um
aspecto diferente da inteligência.
O desempenho dos sujeitos pode ser sintetizado em três resultados
compósitos, identificados como QI Verbal, QI de Realização e QI de Escala
Completa. A análise destes resultados permite ao psicólogo determinar a
qualidade do desempenho do indivíduo relativamente a um conjunto de
aptidões intelectuais. Para além destas três escalas, a WISC-III na sua
versão portuguesa permite ainda obter quatro índices complementares,
identificados a partir de análises factoriais dos resultados no conjunto de
subtestes. Estes índices, designados de “Índices Factoriais”, correspondem
aos seguintes resultados compósitos: Compreensão Verbal, Organização
Perceptiva, Memória de Trabalho e Velocidade de Processamento.

Concepção de Inteligência
Mantendo-se fiéis ao conceito de inteligência proposto por Wechsler, os
subtestes da WAIS-III foram seleccionados de forma a abranger um leque
diversificado de aptidões mentais, reflectindo desta forma o funcionamento
intelectual global do indivíduo. Os subtestes fazem apelo a várias facetas da
inteligência, embora nenhum deles reflicta a totalidade dos
comportamentos inteligentes.
Convém salientar que a concepção de inteligência como um todo não
significa que se verifique um desenvolvimento homogéneo das
capacidades/aptidões que lhe estão inerentes. De facto, a experiência
mostra que os sujeitos podem obter, simultaneamente, resultados elevados
e resultados reduzidos em subtestes distintos, o que evidencia um
desenvolvimento diferenciado ao nível das suas aptidões intelectuais e, por
isso, esse mesmo desenvolvimento resultará em padrões de desempenho
bastante diversificados.
Embora as aptidões intelectuais que constam desta Escala possam ser
consideradas como determinantes essenciais de um comportamento
inteligente, existem outros factores de natureza não intelectiva, que
desempenham um papel influente na expressão das aptidões intelectuais
(p.e. traços de personalidade, atitudes).

Organização da escala
A aplicação alternada dos subtestes Verbais e de Realização tem como
objectivo manter o interesse do sujeito ao longo da administração da
Escala.

• Completamento de Gravuras (R): conjunto de gravuras coloridas


representando objectos e ambientes comuns, em cada um dos quais falta
uma parte importante que o examinado deverá identificar. O que avalia:

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discriminação perceptiva entre o que é essencial e o que é acessório,
mobilização da atenção e memória a longo prazo na modalidade visual.
• Vocabulário (V): série de palavras apresentadas oralmente e por escrito,
que o examinado terá de definir oralmente. O que avalia: conhecimento
de palavras, fluência verbal, uso/emprego de linguagem, riqueza e tipo de
linguagem, compreensão verbal e raciocínio mais abstracto. Depende das
aprendizagens ao longo da vida (ou seja, envolve a memória a longo prazo).
• Código: Dígito-Símbolo (R): série de números, cada um emparelhado
com um símbolo de tipo hieroglífico. Usando uma chave, o examinado terá
de escrever o símbolo que corresponde a cada número. O que avalia:
capacidade para aprender material não verbal, memória visual imediata,
previsão associativa, rapidez motora.
• Semelhanças (V): série de pares de palavras apresentados oralmente,
para cada um dos quais o examinado terá que explicar a semelhança entre
os objectos comuns ou conceitos que representam. O que avalia:
raciocínio lógico-abstracto (capacidade para extrair relações entre coisas ou
ideias), compreensão; relações entre conceitos; pensamento abstracto e
associativo.
• Cubos (R): conjunto de padrões geométricos apresentados como modelo
ou impressos a duas dimensões, que o examinado terá de reproduzir
usando cubos com duas cores. O que avalia: capacidade para construir
desenhos abstractos a partir de partes, percepção visual, relações
espaciais, coordenação visuo-motora.
• Aritmética (V): série de problemas de aritmética que o examinado terá
de resolver mentalmente e responder oralmente. O que avalia:
capacidade para realizar contas simples e cálculos aritméticos
mentalmente, concentração, raciocínio e cálculo numérico, manipulação
automática de símbolos e memória de trabalho aplicados a conceitos
aritméticos.
• Matrizes (R): série de padrões incompletos que o examinado terá de
completar apontando ou dizendo o número da resposta correcta entre cinco
alternativas possíveis.
• Memória de Dígitos (V): série de sequências de números apresentadas
oralmente que o examinado terá que repetir literalmente para os Dígitos de
Sequência Directa e repetir em ordem inversa para os Dígitos de Ordem
Inversa. O que avalia: memória a curto prazo (memória de trabalho) na
modalidade auditiva e verbal, bem como capacidade de atenção e
concentração.
• Informação (V): série de questões apresentadas oralmente que avaliam
o conhecimento geral do examinado acerca de acontecimentos comuns,
objectos, lugares e pessoas. O que avalia: aprendizagens escolares,
conhecimentos gerais adquiridos, memória a longo-prazo e assimilação de
experiências.
• Disposição de Gravuras (R): conjunto de gravuras apresentadas
desordenadamente que o examinado terá que reordenar numa história com
sequência lógica. O que avalia: capacidade para antecipar e compreender
sequências de acção, percepção e compreensão de situações sociais e
captação de sequências causais.
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• Compreensão (V): série de questões apresentadas oralmente que
exigem do examinado apreensão e articulação de regras e conceitos sociais
ou soluções para problemas do quotidiano. O que avalia: compreensão
das normas sociais que regulam a vida em sociedade, juízo social e
conhecimento prático.
• Pesquisa de Símbolos (R): série de grupos emparelhados, em que cada
par consiste num grupo alvo e num grupo de pesquisa. O examinado terá
que indicar, marcando a caixa apropriada, se algum dos símbolos alvo
aparece no grupo de pesquisa. O que avalia: capacidade para identificar
formas geométricas idênticas.
• Ordenação de letras e números (V): série de sequências de letras e
números apresentados oralmente que o examinado terá que,
simultaneamente, ordenar e repetir também oralmente, os números por
ordem crescente e as letras por ordem alfabética.
• Composição de Objectos (R): conjunto de puzzles representando
objectos comuns, apresentados segundo uma configuração estandardizada,
que o examinado terá de montar para construir um todo com significado. O
que avalia: capacidade para visualizar e construir um objecto a partir das
suas partes, memória de formas, orientação e estruturação espaciais.
QI QI IC IO IM IV
Subtestes
V R V P T P
Completamento de
Gravuras
Vocabulário
Código
Semelhanças
Cubos
Aritmética
Matrizes
Memória de Dígitos
Informação
Disposição de
Gravuras
Compreensão
(Pesquisa de
Símbolos)
(Ordenação de
Letras e Números)
(Composição de
Objectos*)
* Apesar do subteste Composição de Objectos ser opcional, poderá ser
aplicado para se obter uma representação mais rica das aptidões do
examinado. Se o subteste Composição de Objectos é aplicado em conjunto
com os outros subtestes, os seus resultados não devem ser utilizados no
cálculo dos QI ou dos Índices Factoriais. A Composição de Objectos pode
substituir qualquer outro subteste de Realização.

De notar que nem todos os subtestes são necessário para se obter quer
os QI quer os Índices Factoriais. No entanto, para obter ambos os tipos de
resultados (QI e Índices Factoriais) os 13 subtestes terão de ser aplicados
(com excepção ao Composição de Objectos).

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Cada um dos QI obtidos expressa-se numa distribuição de média 100 e
desvio-padrão 15; os resultados factoriais expressam-se igualmente numa
escala com média 100 e desvio-padrão 15.

• QI de Escala Completa: representa uma pontuação total de inteligência.


Mostra correlação com outras medidas de inteligência e com o desempenho
escolar.
• QI Verbal: habitualmente é um bom preditor do desempenho escolar,
reflecte a capacidade verbal e linguística do indivíduo, mas também a
familiaridade com a linguagem e cultura do país. Os subtestes da escala
verbal incluem muitos itens relacionados com a educação e a cultura, logo
para ter um bom desempenho nesta escala, o indivíduo necessita de
aptidões e conhecimentos que são adquiridos na escola, em casa e através
da exposição à cultura.
• QI realização: está menos relacionado com conteúdos verbais e
culturais, sendo possível obter-se um QI de realização elevado sem proferir
qualquer palavra. O desempenho nos testes de realização não depende de
factores culturais e, nesse sentido, a escala de realização pode constituir
uma medida mais justa/isenta que fornece uma estimativa da capacidade
fluida (sobretudo testes Cubos, Código, Pesquisa de Símbolos). Indivíduos
com problemas verbais, de linguagem ou de outros contextos culturais (≠
da amostra aferição) podem obter QI realização superior ao verbal. É um QI
pouco (ou nada) relacionado com o desempenho escolar, pois os itens não
avaliam capacidades habitualmente relacionadas com aprendizagens e
tarefas escolares.

Interpretação dos QIs e dos Índices Factoriais


QI/IF
(int. conf. Classificação
95%)
130 ou mais Muito superior
120-129 Superior
110-119 Médio Alto
90-109 Médio
80-89 Médio Baixo
70-79 Limite
Extremamente
< 69
baicxo
Interpretação quantitativa. As distribuições dos QIs Verbal, de Realização
e da Escala Completa, bem como dos Índices Factoriais, apresentam uma
média de 100 e um desvio-padrão de 15. Interpretação qualitativa.
Alguns psicólogos, ao analisarem o desempenho de um sujeito, preferem
combinar o sistema quantitativo com um sistema qualitativo.

Uma diferença de 9 pontos entre QIV e QIR é estatísticamente


significativa para o nível de significância de 0.05. Diferenças entre QIV e
QIR de 17 ou mais pontos ocorrem na amostra de aferição numa frequência
inferior a 15%, sendo suficientemente raras para permitir uma
interpretação clínica.
Quando o QIV < QIR pode-se colocar as seguintes hipóteses:
perturbação da aprendizagem, especialmente perturbações de
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aprendizagem da leitura; ausência de oportunidades para a aquisição de
conhecimentos culturais; lesões cerebrais unilaterais.
Quando QIV > QIR pode-se colocar as seguintes hipóteses: perturbação
da percepção visual, da análise visuo-espacial e da coordenação visuo-
motora; depressão; esclerose múltipla; alcoolismo; alzheimer; lesões
cerebrais unilaterais; nível de escolaridade superior.

Utilizações da WAIS-III
Sendo um instrumento de avaliação do funcionamento intelectual
global, a WAIS-III é apropriada para diversos propósitos. Primeiro, pode ser
utilizada como um teste psico-educacional, para o planeamento escolar e
orientação vocacional no ensino secundário e pós-secundário. É muitas
vezes o principal teste para o despiste de perturbações de aprendizagem e
para a identificação de funcionamentos extremos e de casos de
sobredotação. Além disto, os testes de funcionamento intelectual têm sido
amplamente utilizados em contextos escolares, para predição do
desempenho escolar. Quando os testes são utilizados como fundamento de
decisões de colocação no ensino especial, é por vezes necessário aplicar
novamente o teste ao adolescente. Pode ser também útil para,
periodicamente, reavaliar crianças ou adolescentes em contextos especiais.
Segundo, a WAIS-III é útil para o diagnóstico diferencial de desordens
neurológicas e psiquiátricas que afectem o funcionamento mental. Para
este propósito, a avaliação intelectual é conduzida frequentemente no
contexto de uma avaliação mais completa que inclui a entrevista clínica,
outros testes cognitivos e neuropsicológicos, e instrumentos de auto-
descrição para avaliação de psicopatologia e da personalidade. A WAIS-III é,
por vezes, utilizada para a avaliação intelectual no contexto da selecção
profissional e de programas de formação e desenvolvimento. Finalmente, a
WAIS-III é adequada para utilização em investigação clínica.

 Diagnóstico de Perturbação da Aprendizagem


De acordo com o DSM-IV, a identificação de uma perturbação de
aprendizagem requer que um indivíduo demonstre “um funcionamento
intelectual geral significativamente inferior à média” (i.e. QI de Escala
Completa < 70) e uma significativa diminuição da adaptação em, pelo
menos, duas das seguintes áreas: comunicação, cuidado pessoal, vivência
familiar, competências sociais e interpessoais, uso de recursos da
comunidade, orientação de si, competências de desempenho académico,
trabalho, lazer, saúde e segurança. Um desempenho muito baixo num teste
que avalia a capacidade intelectual geral, como a WAIS-III, é um critério
necessário mas não suficiente para o diagnóstico de perturbação da
aprendizagem. O diagnóstico mais exacto baseia-se em dados provenientes
de múltiplas fontes, i incluindo avaliações do funcionamento em casa, na
escola e na comunidade.
Assim como um funcionamento intelectual inferior não é indicador de
um diagnóstico de perturbação da aprendizagem, um resultado baixo na
WAIS-III não revela necessariamente um nível baixo do funcionamento
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intelectual. Baixos QI podem efectivamente reflectir, como acontece na
maioria dos casos, um nível baixo de funcionamento intelectual, mas outros
factores, como os seguintes, podem estar implicados: ansiedade e
distracção incapacitantes, psicopatologia grave, surdez, baixa motivação ou
persistência inadequada, comportamento extremamente hostil ou uma
relação muito deficiente com o examinador. Antes de diagnosticar um baixo
funcionamento intelectual ou perturbação da aprendizagem, o examinador
deverá tomar em consideração todos estes factores.

 Diagnóstico de Perturbação Neuropsicológica


Apesar de Wechsler não ter concebido as suas escalas explicitamente
como instrumentos neuropsicológicos, reconheceu o seu contributo para a
compreensão das relações entre o cérebro e o comportamento. A medida
do funcionamento mental e a determinação do nível de inteligência são,
frequentemente, de uma enorme ajuda em diversas situações
caracterizadas por défices de memória, linguagem e outros.
No contexto de uma avaliação neuropsicológica, o teste de inteligência
é tipicamente aplicado como parte de uma extensa bateria de testes para
avaliação de múltiplos domínios do funcionamento psicológico. É útil uma
visão global da inteligência como um factor geral amplo que abrange as
mais distintas funções medidas pelos testes mais especializados.

 Diagnóstico de Sobredotação
A inteligência superior é uma componente da “sobredotação”, mas a
maioria das definições de sobredotação incluem igualmente desempenhos
fora do comum em outros domínios como o artístico, o psicomotor, a
criatividade, a aptidão musical e a liderança. Assim, a avaliação da
sobredotação envolve habitualmente avaliações da aptidão intelectual
global, bem como de outras competências e talentos. Além disso, devido ao
facto de as definições de sobredotação variarem de contexto para contexto,
o examinador poderá precisar de adaptar os procedimentos de avaliação às
necessidades de um programa particular.

• Testes de Factor G (Matrizes Progressivas de


Raven – SPM)
(não são testes de organização perceptiva mas de raciocínio abstracto)

Encontramos à nossa disposição, da autoria de John C. Raven, três


instrumentos a este nível: Matrizes Progressivas Coloridas (1956), Matrizes
Progressivas Standard (1956) e Matrizes Progressivas Avançadas (1962).
Estes são testes de racícocinio lógico-abstracto, muito saturados no factor g
e saturados também no factor organização perceptiva (dado que os
estímulos são visuais. Por isso se compara o resultado nestes testes com
Semelhanças ou Vocabulário pois estes avaliam o raciocínio lógico abstracto
em estímulos verbais, permitindo perceber ser é da organização perceptiva
ou do raciocínio lógico abstracto; adicionalemnte compara-se com a parte

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de realização da WAIS, particularmente, Cubos, Matrizes e Complemento de
Gravuras, pois avaliam o mesmo que este teste de factor g).
Centrando-nos nas Matrizes Progressivas Standard, podemos
considerar que se trata de um teste composto por 5 séries de 12 problemas,
de dificuldade crescente inter e entre séries (o que é útil para perceber se
há dificuldades de atenção, sendo estas manifestadas por uma
inconsistência na resposta a itens mais fáceis/difíceis, ou seja,
heterogeneidade nas respostas correctas).
Estes testes são também sensíveis à deterioração mental. Verifica-se
uma deterioração fisiológica normal em todas as pessoas com a idade. Aqui
referimo-nos a uma perda da eficiência intelectual abrupta que ocorre em
alguns casos, de natureza mais patológica do que o normal. Trata-se de
uma consequência em termos do desempenho da pessoa (pré-mórbido).
Não tem nenhuma relação específica com nenhum diagnóstico ou
prognóstico, as perturbações neurológicas são apenas uma causa possível.
Isto é apenas uma consequência (como o é a febre). Assim, existem provas
mais sensíveis a esta deterioração que outras, p.e. estas e o TRV de Benton.
Estas provas são-no pois são mais afectadas do que p.e. a WAIS (ainda que
esta também seja) a esta alteração. Todavia, apenas conseguimos saber
que é algo que se passou no funcionamento daquela pessoa (que perdeu
algo vs. nunca o teve) se compararmos com tarefas que não sejam tão
afectadas por isso (Vocabulário e Informação – são mais estáveis, não
sendo afectadas por estas perdas; estes dois subtestes permitem
estabelecer o funcionamento pré-morbido e comparar com o funcionamento
actual do sujeitos, p.e., nas SPM).

Comparação da escala de Weschler com o Testes de factor g


Em termos gerais podemos considerar que os resultados tendem a ser
concordantes. Contudo, no caso de os resultados serem discordantes, é
possível levantar as seguintes hipóteses:

Resultados no teste de factor g são superiores aos da Escala


de Wechsler
 Intervenção de factores não intelectuais (motivação, atenção,
concentração, características da personalidade). Pode-se considerar, a título
ilustrativo o impacto do tempo na parte de realização da WAIS, a existência
de estímulos reais na WAIS e o impacto dos factores sócio-económicos.
 Intervenção de factores específicos verbais na eficiência demonstrada
na escala de Wechsler (p.e. caso de crianças com dislexia ou dificuldades
na leitura).

Resultados no teste de factor g são inferiores aos da Escala de


Wechsler
 Deterioração mental.
 Dificuldades de organização perceptiva.
 Dificuldades na mobilização da atenção.
 Motivação.
 Dificuldades na resistência à distracção.

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O tempo médio nas Matrizes Progressivas Standard é 25 a 35 minutos


(nas coloridas era 15 a 20).

• Figura Complexa de Rey


Em 1942 os autores propuseram um teste que consistia em copiar e
depois em reproduzir de memória um traçado geométrico complexo, onde
se encontravam reunidas as seguintes propriedades:
 Ausência de significado;
 Realização gráfica fácil;
 Estrutura de conjunto suficientemente complicada para solicitar uma
acuidade perceptiva analítica e organizadora.

O Teste da Figura Complexa de Rey é um dos testes mais utilizados no


contexto da avaliação neuropsicológica: avalia um conjunto diversificado de
processos cognitivos tais como as competências de
organização/construção visuo-espacial e de planificação, as
estratégias de resolução de problemas, as funções perceptivas e
motoras e a memória visual. Assim, é um teste que permite avaliar a
Organização Perceptiva e a Estruturação Espacial (cópia) e a Memória
Visuo-espacial (memória).
Tem sido utilizado como teste de avaliação da organização perceptiva e
da memória (memória não verbal e memória visual) de crianças,
adolescentes e adultos (incluindo adultos idosos) em diferentes contextos
de exercício da prática psicológica.
As vantagens que a Figura Complexa de Rey apresenta sobre outros
testes neuropsicológicos são seguidamente apresentadas:
 Tempo de aplicação breve;
 Material simples e facilmente disponível;
 Exigência de compreensão e expressão verbais mínimas;
 Estudos relativamente numerosos.

Este teste, da autoria de André Rey, compõe-se de uma figura


complexa sem significado aparente. A sua realização gráfica é fácil, mas a
sua estrutura é suficientemente complexa para exigir uma actividade
perceptiva analítica e organizadora.

Objectivo geral do teste: avaliar a percepção visual e a elaboração


dessa percepção, bem como actividade de memorização visual (a prova
envolve, portanto, uma fase de cópia e outra de reprodução de memória).
Existem duas formas da prova:
– A forma A, muito complexa e destinada sobretudo indivíduos com mais
de 8 anos;
– A forma B, mais simples que se destina a crianças entre os 4 e os 7
anos.

• Cópia do Modelo

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O modelo a reproduzir é apresentado horizontalmente ao indivíduo, com o


pequeno losango terminal orientado à direita e a ponta voltada para baixo.
Dá-se ao sujeito uma folha de papel branca, sem linhas e tem-se à mão 5
ou 6 lápis de diferentes cores.
Se o sujeito começar pelo rectângulo grande e prosseguir desenhando as
diagonais, deve-se deixá-lo trabalhar com o mesmo lápis e só se efectua a
mudança no momento em que passar às estruturas interiores ou exteriores
que fizeram parte dessa estrutura. Se pelo contrário começa por um
detalhe, a mudança deve fazer-se quando um outro detalhe for abordado. É
conveniente que o examinador conheça os diversos estádios do processo de
cópia pois são precisamente esses estádios que importa localizar.
A maioria dos indivíduos normais é de algum modo imediatamente
atraída pela armadura central. À volta desta armadura central coloca os
detalhes exteriores e os detalhes interiores cuja ordem de sucessão não
parece ser muito relevante para os autores.
Os indivíduos débeis começam por um detalhe, depois copiam o
próximo e assim sucessivamente, método que conduz a uma cópia
defeituosa, na qual as proporções gerais não são respeitadas e, como tal,
resultam em deformações que aumentam à medida que a cópia progride.

A prova de cópia da figura complexa pode utilmente ser


complementada por uma verificação, sempre que o sujeito trabalhar de um
modo primitivo ou pouco racional. Assim, quando tiver terminado, pergunta-
se se não haveria uma maneira melhor de fazer o desenho. Muitos são os
casos em que os indivíduos descobrem rapidamente o valor do rectângulo
grande e das diagonais e não compreendem porque é que este ponto tão
importante lhes escapou. Para outros, trata-se de um problema complicado,
que tentam resolver reflectindo. Finalmente, para outros, embora não
modifiquem o seu método, substituem-no por outro equivalente.
Esta verificação não deverá ser feita imediatamente após a cópia da
gravura. Passa-se, então, à segunda parte, i.e., à reprodução de memória e
é somente após esta última que se sujeita a criança à crítica do seu
processo de cópia.

Análise da Cópia
Informa sobre a organização perceptiva e o desenvolvimento
intelectual. Esta análise tem em consideração 3 aspectos: precisão da
cópia, tipo de cópia e tempo de realização.

 Precisão da cópia

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Posição Pontua

Para cada elemento


Presença e Precisão
relativa ção
Bem
2 pontos
Correcto colocado
Mal colocado 1 pontos
Bem
Deformado ou incompleto mas 1 ponto
colocado
reconhecível
Mal colocado ½ ponto
Ausente ou irreconhecível 0 pontos

 Tipo de cópia
Tipo I – construção sem armadura: inicia com o rectângulo central,
sendo o elemento estruturante do desenho, em relação ao qual se agrupa
os outros elementos da figura. É um tipo dominante nos adultos, estando,
no entanto, presente desde os 4 anos, aumentando lentamente até atingir
uma frequência máxima na idade adulta.
Tipo II – detalhes da armadura: inicia com um detalhe ligado ao
rectângulo central (p.e. a cruz superior esquerda) ou desenha o rectângulo
central com um detalhe acoplado. A restante reprodução é feita em função
do rectângulo enquanto “armadura”. É um tipo acessório de cópia que
aparece aos 6 anos e desenvolve-se regularmente até aos 12 anos onde
atinge a frequência mais elevada para, em seguida, diminuir até à idade
adulta.
Os tipos I e II são semelhantes por polarizarem o desenho em torno do
rectângulo central. O tipo II é uma variante do tipo I e ambos são
englobados no Tipo I/II.
Tipo III – contorno geral: inicia com o contorno geral da figura, sem
individualizar o rectângulo central. Obtem um “continente” no qual são
colocados os detalhes interiores. Tipo de cópia acessório que diminui depois
dos 6 anos (embora possa assumir uma expressão razoável até aos 10
anos) e que é negligenciável na idade adulta, sendo, contudo, frequente em
adultos com atraso mental.
Tipo IV – justaposição dos detalhes: inicia com qualquer elemento ao
qual se seguem os outros, por contiguidade, sem se reconhecer um
princípio “organizador”. Há justaposição de detalhes uns aos outros,
procedendo por proximidade. Não há elemento director da reprodução.É
frequente em crianças autistas e em crianças dos 5 aos 10 anos, e raro em
adultos (embora se tenda a encontrar em artistas).
Tipo V – detalhes em fundo confuso: inicia com qualquer elementos da
figura, resultando num desenho nada estruturado e do qual não se
reconhece o original, apenas alguns detalhes. Reproduz uma figura pouco
ou nada estruturada na qual não se reconhece o modelo mas onde certos
detalhes do modelo são claramente reconhecidos. É dominante aos 4 anos,
e tende a desaparecer aos 8 anos.
Tipo VI – redução a um esquema familiar: inicia com qualquer elemento
resultando numa figura familiar ao próprio, havendo uma distorção muito
grande da figura de modo a assemelhá-la a algo familiar (p.e., casa, barco,
homem, etc.). É raro, mas ocorre entre os 4 e os 6 anos e em casos de
perturbação psicopatológica.

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Tipo VII – garatuja: não se reconhece nenhum elemento da figura, nem
a forma global. É frequente em idades até aos 3-4 anos.

 Tempo da cópia

No que respeita ao tempo, deve-se arredondar ao minuto superior.


 Ver tabela do tempo na cópia (tab. IV).
 Ver tabela do tempo na memória.

Considerações interpretativas sobre a Cópia

A. Processos de cópia inferiores


a) Tipo de cópia inferior (em relação à idade) / Cópia pouco precisa:
− Atraso do desenvolvimento intelectual, o qual é responsável por uma
organização perceptiva e uma coordenação visuo-motora deficientes;
− Dificuldades específicas na organização perceptiva, estruturação
espacial e coordenação visuo-motora, quando o nível intelectual é
normal;
− Dificuldades na coordenação visuo-motora por falta de treino

b) Tipo de cópia inferior (em relação à idade) / Cópia precisa e rica:


− Tempo de cópia longo. Sujeitos empenhados com dificuldades na
análise rápida e racional das estruturas visuo-espaciais.
− Tempo de cópia curto, traçado fácil e firme. Sujeitos dotados para o
desenho que copiam a figura de um modo pouco racional (tipo IV), mas
fazem-no com qualidade.

B. Processos de cópia superiores


a) Tipo de cópia superior (em relação à idade) / Cópia precisa e rica:
− Sujeitos empenhados, capazes de analisar e estruturar
racionalmente os dados visuo-espaciais (o tempo de cópia é normal ou
longo);

b) Tipo de cópia superior (em relação à idade) / Cópia pouco precisa:


− Tendência para realizar a cópia num tempo reduzido (“à pressa”),
com esquecimentos e imprecisões gráficas, embora a capacidade de
elaboração perceptiva seja evoluída (i.e. são sujeitos dotados para o
desenho).

• Reprodução de memória do Modelo


Após uma pequena pausa (não mais de 3 minutos), passa-se ao
segundo tempo da prova que consiste na reprodução da figura copiada.
Propõe-se, pois, ao indivíduo que, numa outra folha, desenhe de memória a
configuração geométrica. A técnica de vários lápis deve ser mantida, na
medida em que permite constatar o progresso da cópia.
Não há limite para a reprodução e ao indivíduo indicará quando julgue
ter terminado. O tempo médio de realização da tarefa de memória é 4
minutos.

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Análise da Reprodução de Memória


Este segundo momento da prova é avaliado segundo dois parâmetros:
precisão da reprodução e tipo de reprodução de memória (como no primeiro
momento).
A reprodução de memória é geralmente consonante com o tipo de
cópia, mas podem ocorrer regressões sobretudo nas crianças mais novas (<
7 anos).
Entre o centil 25 e 75 estamos na média.

Considerações interpretativas sobre a Reprodução de Memória

Resultados baixos:
− Se a cópia for normal, indicam dificuldades na memória visuo-espacial;
− Se a cópia for deficiente, traduzem as dificuldades de análise
perceptiva e de estruturação espacial já reveladas na cópia.

NOTA: quando a reprodução de memória é muito pobre, mesmo que a


cópia tenha sido deficiente, pode-se pensar em dificuldades de memória.

Considerações clínicas:
− Mudança na posição do modelo (90º) --» frequente nas crianças, com
significado nos adolescentes e adultos --» dificuldades intelectuais;
− A partir dos 12 anos, os tipos de cópia V, VI e VII sugerem dificuldades
intelectuais;
− Reprodução com sobrecarga de elementos (adições), tendência para
riscar espaços brancos e tendência para repassar traços --» psicopatia.

• Teste de Retenção Visual de Benton


Este teste visa a avaliação do funcionamento mnésico do indivíduo,
concretamente a sua memória visual imediata. De um modo indirecto, o
TRV de Benton avalia também a função visuo-motora.
É composto por 3 formas paralelas – C, D e E. Habitualmente, a forma
mais utilizada é a C sendo que, se existirem dúvidas no diagnóstico, será
útil aplicar também outra forma paralela. No que se refere aos cartões de
estímulos (10, no total), os dois primeiros cartões apresentados no caderno
de estímulos consistem numa única figura geométrica; nos cartões
seguintes são apresentadas figuras compósitas. A tarefa do sujeito é
reproduzir as figuras de memória, respeitando a dimensão relativa dos
diferentes elementos (não se avalia, portanto, o maior ou menos “jeito”
para o desenho).
No que concerne à aplicação, é possível distinguir 4 modalidades:
 Modalidade A – é a modalidade habitualmente mais utilizada. Cada
cartão é apresentado durante 10 segundos, após os quais é retirado do
campo visual. Pede-se ao sujeito que reproduza, de imediato, a figura.

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 Modalidade B – é uma modalidade habitualmente mais utilizada no


contexto de investigação. Cada cartão é apresentado durante 5 segundos,
após os quais é retirado do campo visual. Pede-se ao sujeito que reproduza,
de imediato, a figura.
 Modalidade C – esta modalidade não tem tempo limite sendo que, cada
cartão apresentado permanece no campo visual do indivíduo de modo a ser
directamente copiado. Esta modalidade é especialmente útil quando
existem dúvidas sobre o que terá provocado o mau desempenho no teste:
terá sido um défice na memória visual ou na organização perceptiva? Se o
défice for na organização perceptiva, espera-se que o indivíduo apresente
dificuldades mesmo perante uma tarefa de cópia. No entanto, não faz muito
sentido aplicar esta modalidade num processo de avaliação psicológica em
que já tenham sido aplicados outros subtestes que medem a Organização
Perceptiva (p.e. alguns subtestes da WAIS-III e Figura Complexa de Rey).
 Modalidade D - cada cartão é apresentado durante 10 segundos, após
os quais é retirado do campo visual. Pede-se ao sujeito que reproduza a
figura de memória, após 15 segundos de retenção.

Cotação quantitativa

A cotação quantitativa do TRV Benton tem em conta dois parâmetros:


Eficiência --» n.º de cartões correctamente reproduzidos, i.e. sem
qualquer erro (dos 10 que são apresentados). A pontuação correspondente
à eficiência toma o valor de 0 (presença de erros) ou 1 (ausência de erros).
Por exemplo, se o indivíduo reproduzir correctamente 9 cartões e
apresentar erros num deles, a sua nota de eficácia é 9 (1 ponto por cada
correcto).

Precisão --» n.º total de erros nos cartões incorrectamente


reproduzidos. Teoricamente, este valor pode ser ilimitado.

As notas obtidas referentes à eficiência e precisão informam sobre a


memória visual, a percepção visual e as aptidões grafo-perceptivas,
traduzindo o nível de eficiência actual.
Estas medidas proporcionam uma indicação sobre a probabilidade de
uma deterioração mental, sem implicações etiológicas nem prognósticas.
De facto, embora o TRV de Benton seja uma tarefa de memória a curto-
prazo, no que concerne ao propósito inicial de elaboração, o autor pretendia
utilizá-lo para despistar situações de doença mental, cuja presença seria
evidenciada por um desempenho deficitário neste tipo de tarefa. Para isso,
Benton procurou comparar o nível de eficiência actual do indivíduo (com o
processo patológico presente) com uma estimativa do nível pré-mórbido.
Nas crianças, os resultados de eficiência e precisão são interpretados
em termos de uma inaptidão específica de memória visual e/ou de função
visuo-motora. Nesta população, não tem lógica levantar a hipótese de
existência de uma Deterioração Mental na medida em que as crianças ainda
se encontram em processo de desenvolvimento.

13
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
É importante atender para o facto de existem quadros clínicos (p.e.,
depressão) em que há perda de eficiência temporária ao longo da presença
do quadro. Contudo, em quadros neurológicos essa perda mantem-se (p.e.,
Alzheimer).

Como fazer a estimativa do nível pré-mórbido? Idealmente, esta


estimativa seria feita recorrendo aos resultados de uma avaliação
psicológica elaborada antes da perturbação. Como na grande maioria dos
casos tal não é exequível, opta-se por uma medida mais indirecta: analisar
os resultados dos subtestes que medem aptidões teoricamente inalteráveis
ao longo do desenvolvimento do indivíduo (mesmo aquando patologia).
Estes resultados referentes às aptidões inalteradas seriam, então,
comparados com aqueles que são obtidos em subtestes sensíveis à perda
de eficiência (p.e. Matrizes Progressivas; TRV Benton; subtestes da WAIS-III
que dependem do raciocínio lógico-abstracto).
As estimativas das notas de eficiência e precisão pré-mórbida são feitas
atendendo a uma das tabelas que é apresentada no Manual do TRV de
Benton e que tem por base a idade e o nível intelectual, obtido na WAIS-III.
O nível intelectual utilizado é aquele que é extraído da WAIS-III, e não de
outro teste de factor g, porque a WAIS é composta por alguns subtestes que
não são sensíveis à perda de eficiência mental e, como tal, permitem uma
melhor estimativa do funcionamento pré-mórbido. De salientar que, se o
indivíduo tiver um desempenho heterogéneo, faz sentido comparar com o
nível de inteligência pré-morbido, correspondente ao seu melhor
desempenho).
Atendendo a esta estimativa, o psicólogo deve comparar aquilo que é
“suposto” o indivíduo fazer com aquilo que “faz realmente”.
No que concerne à eficiência…
. -2 permite levantar a hipótese de
Deterioração Mental
Nota obtida-nota . -3 sugere Deterioração Mental
esperada
. -4 ou inferior forte indicação de
Deterioração Mental

No que concerne à precisão…

. +3 permite levantar a hipótese de


Deterioração Mental
Nota obtida-nota . +4 sugere Deterioração Mental
esperada
. +5 ou superior forte indicação de
Deterioração Mental

A organicidade é a principal causa de um desempenho indicador de


Deterioração Mental. No entanto, antes de se colocar esta hipótese, é
necessário excluir outras possíveis causas de prejuízo no desempenho do
TRV de Benton e que em nada se relacionam com Deterioração Mental.
Algumas destas causas são:
14
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
− Depressão grave;
− Doença física incapacitante (principalmente as que afectam a
coordenação motora);
− Esquizofrenia;
− Dificuldades grafo-perceptivas associadas a uma educação pobre;
− Pessoas que desejam simular perda de eficiência mental para, p.e.,
terem direito a reforma antecipada. Estas pessoas diferenciam-se daqueles
que, efectivamente, apresentam doença cerebral porque, do ponto de vista
quantitativo, dão mais erros que os indivíduos com deterioração mental e,
do ponto de vista qualitativo, o seu tipo de erros é diferente.

Cotação qualitativa: tipos de erros

 Omissões:

?
Omissão da figura principal
esquerda

 Distorções:

Distorção da figura principal


esquerda
 Perseverações:

Repetição da figura principal esquerda


(atenção: os erros têm de ocorrer15
em
cartões consecutivos)
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

 Rotações:

Rotação da figura principal


direita
 Deslocamentos:

Deslocamento (sentido vertical) da figura


periférica
 Erro de dimensão

Não é respeitada a dimensão do estímulo original


(sempre que a figura periférica é 3/5 superior à figura principal;
sempre que a figura principal é 3/5 inferior à outra figura
principal)

Características do desempenho dos pacientes com doença


cerebral orgânica

 Maior n.º de Omissões


 Uma ou duas omissões podem ocorrer na normalidade. Mais do que
duas omissões são raras e sugerem défice perceptivo ou limitações ao nível
da memória visual a curto-prazo, principalmente quando as omissões
ocorrem sistematicamente para um dos lados (o que pode indicar danos
cerebrais no hemisfério contra-lateral).

 Presença de Erros de Dimensão


 A presença de erros de dimensão é rara na população normal.

16
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
 Pacientes com lesões cerebrais unilaterais tendem a negligenciar
os estímulos do campo visual contra-lateral

 Pacientes com lesões nos lobos frontais apresentam muitos erros


de perseveração.

• Escala de Memória de Wechsler – 3ª ed. (WMS-III)


A escala de memória de Wechsler avalia o funcionamento mnésico. A
WMS-III foi normalizada em conjunto com a WAIS-III e aplica-se dos 16 aos
89 anos. É utilizada em clínica com ndivíduos com suspeita de défice
neurológico. A WMS-III é composta por 11 subtestes.
Os subtestes Memória Lógica I e II, Faces I e II, Pares Verbais
Associados I e II, Gravuras de Família I e II, Sequências Letras-Números e
Memória Espacial são de aplicação obrigatória e permitem obter 8 Índices
Primários de desempenho. Os subtestes são resultados padronizados com
uma média de 10 e um desvio padrão de 3.
Os Índices Primários são resultados padronizados com uma média de
100 e um desvio padrão de 15. Os Índices Primários avaliam diferentes
tipos de memória: memória a curto prazo, memória a longo prazo, memória
de trabalho, nas modalidades auditiva e visual. Possibilitam ainda
informação sobre os processos de recuperação (evocação e
reconhecimento).

ÍNDICES PRIMÁRIOS
Memória Lógica I: subteste que é formado por duas
histórias curtas que são evocadas imediatamente.
Memória Pares Verbais Associados I: lista de 8 pares de
Auditiva palavras não relacionadas, em 4 ensaios, sendo
Imediata cada um deles seguido de uma tarefa de evocação
guiada. A ordem de apresentação dos pares de
palavras é diferente em cada ensaio.
Memória Faces I: apresentação sequencial de um conjunto
Imediata de 24 faces; reconhecimento imediato do tipo
sim/não a partir de um conjunto de 48 faces, as 24
previamente apresentadas mais 24 novas faces.
Memória
Visual Gravuras de Família I: uma gravura com uma
Imediata família e uma série com 4 cenas em que aparecem
alguns dos membros dessa família. Após a
apresentação das 4 cenas segue-se uma tarefa de
evocação imediata (quem está presente, onde e a
fazer o quê?).
Memória Memória Memória Lógica II: subteste apresentado 25 a 30
Geral Auditiva minutos após o subteste Memória Lógica I. Inclui
Diferida uma tarefa de evocação diferida e uma tarefa de
reconhecimento para cada história.
Pares Verbais Associados II: evocação guiada e
reconhecimento da lista de palavras após 25 a 30
17
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

minutos da realização de Pares Verbais Associados


I.
Faces II: reconhecimento diferido 25 a 30 minutos
das 24 faces entre as 48 sucessivamente
apresentadas.
Memória
Visual Diferida Gravuras de Família II: após 25 a 30 minutos da
realização de Gravuras de Família I, o sujeito deve
responder às mesmas perguntas sem voltar a ver
as cenas.
Reconhecime Memória Lógica II
nto Auditivo Pares Verbais Associados II
Sequências Letras-Números
Memória
de Memória Espacial: tabuleiro com cubos para o sujeito reproduzir
Trabalho séries de diferente extensão, na ordem directa e inversa da
apresentação.

Esta escala avalia os vários parâmetros do funcionamento mnésico e


tem acompanhado as edições da WAIS. A WMS determina também défices
mnésicos ao nível intelectual do indivíduo, dai ser utilizada em conjunto
com a WAIS. Geralmente há concordância entre o nível intelectual e as
capacidades mnésicas podendo ocorrer, nos indivíduos normais, uma
variação normativa. Contudo, quando ocorre uma grande discrepância,
portanto, entre as capacidades intelectuais e as capacidades mnésicas, esta
tende a sugerir a presença de uma doença neurológica. Assim, a
discrepância entre o resultado na WMS e o resultado na WAIS permite tirar
ilações sobre a possibilidade ou não de doença neurológica.

Subtestes Opcionais:
 Informação e Orientação.
 Lista de Palavras I e II (a lista I é apresentada 4 vezes e pede-se ao
indivíduo uma evocação imediata da mesma, depois é apresentada uma
lista II e no final da sua apresentação pede-se ao indivíduo que recorde
novamente a lista I. Apos um período de 25-30 minutos pede-se novamente
que recorde a lista I – lista II funciona como estimulo distractor).
 Memória Visual I (tarefa semelhante ao Teste de Benton em que os
estímulos são apresentados durante 10 segundos e depois é pedido ao
sujeito uma reprodução) e II (após a apresentação do estimulo procede-se
tendo em conta três tarefas diferentes: de reconhecimento, de
discriminação perceptiva e de cópia).
 Controlo Mental (composto por um total de 8 itens em que 4 destes
avaliam a memória de automatismos - ex.: dizer o abcedário ou contar até
20 – e, os outros quatro itens avaliam a capacidade de realização de duas
tarefas em simultâneo – ex.: contar de 6 em 6 e dizer um dia da semana
entre estas sequências).
 Memória de Dígitos (semelhante à WAIS).

18
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
Nota: a designação I e II refere-se à realização destes subtestes em dois
momentos diferentes, num primeiro momento (momento I), e após um
período de cerca de 25-30 minutos (momento II). De enfatizar que, em
ambos estes momentos, o sujeito realiza as mesmas tarefas consistindo o
momento II numa repetição da realização da tarefa com o objectivo de
avaliação da informação diferida após o intervalo de retenção (dai que o
WMS avalie a memória imediata e a memória geral).

Os Índices Compósitos são suplementares e calculam-se a partir de


Memória Lógica I e II e Pares Verbais Associados I e II:
Aprendizagem num Ensaio: avalia a evocação imediata após uma
única apresentação de informação auditiva.
Curva de Aprendizagem: permite comparar a capacidade de
evocação auditiva após vários ensaios com a evocação após o primeiro
ensaio.
Retenção: permite comparar a evocação diferida, após um intervalo de
25-30 minutos, com a evocação imediata.
Recuperação: compara evocação com reconhecimento.

A análise das discrepências entre funcionamento mnésico e


funcionamento intelectual apresenta semelhanças em relação ao Teste de
Benton pela comparação da eficiência actual com a eficiência pré-morbida
(medida a partir da WAIS). Este procedimento permite avaliar se as
discrepâncias são normais ou se indicam uma causa clínica/orgânica. Os
dois métodos para as discrepâncias entre o funcionamento intelectual e o
funcionamento mnésico são:
Método da diferença simples: QIEC – Índice Memória Geral (por ser a
medida mais fidedigna da memória) = … (Apêndice C, pp. 288-291, WAIS-III
and WMS-III, Technical Manual).
Método da diferença prevista (método mais utilizado e
recomendado): Índice Memória Geral obtido – Índice Memória Geral previsto
(com base no QIEC da WAIS-III, através de tabelas) = … (Apêndice B, pp.
264-273, WAIS-III and WMS-III, Technical Manual). Este método permite
saber se a discrepância é estatística e clinicamente significativa e se
apresenta uma causa orgânica ou não. (nota: a memória geral é o índice
que agrega a memória das tarefas após um intervalo de retenção –
memória diferida -, constituindo o melhor indicador da capacidade de
memória envolvida nas actividades mais diárias).

• MMPI-2
Por comparação com o MMPI, a principal diferença que existe no MMPI-2
é uma actualização que foi feita aos dados normativos utilizados; não se
efectuaram quaisquer mudanças nos grupos clínicos de critérios, sob pena
de invalidar toda a vasta gama de estudos empíricos compilados ao longo
dos anos.

Características gerais do instrumento

19
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
Objectivo geral: o MMPI-2 permite caracterizar a personalidade global
do indivíduo, visando principalmente uma diferenciação entre a
normalidade e a patologia, em contexto clínico. De modo a averiguar
características mais específicas da perturbação (eventualmente
identificada), será conveniente recorrer a instrumentos mais específicos.
Esta diferenciação entre a normalidade e a patologia faz-se atendendo
às escalas mais elevadas do perfil obtido pelo indivíduo. Assim, consoante o
indivíduo tenha pontuações mais elevadas nas diferentes escalas, isso
significa que as suas respostas se aproximaram das dadas pelo grupo
clínico critério (nos quais se baseou a construção da escala). De salientar
que isto não significa que o indivíduo tem a patologia correspondente à
escala mais elevada; a interpretação do seu perfil faz-se de uma forma
configuracional (utilizam-se mesmo números e não os nomes das
perturbações para designar as diferentes escalas, de modo a evitar estas
interpretações incorrectas).

Condições de aplicação: 18 ou mais anos (versão adultos)

Duração da aplicação: 1h a 1h30m. Contudo, perante indivíduos com


patologia, a aplicação é mais prolongada e, por vezes, é mesmo necessário
reparti-la por várias sessões (com um intervalo de não mais de uma
semana).
Formas do teste:
− Forma caderno e forma caderno de lombada grossa. A forma de
lombada grossa tem duas vantagens a destacar: 1. facilita a aplicação do
instrumento a indivíduos que se encontrem hospitalizados (p.e. na cama); 2.
as folhas que constituem o inventário estão dispostas de modo que as
respostas possíveis sejam apresentadas juntamente com o item (daí que o
indivíduo não tenha de estar sempre a mudar de folha).
A ordenação dos itens nas duas formas é idêntica. Os 370 primeiros
itens são os que possibilitam a cotação (básica) das escalas de validade e
das escalas clínicas, daí que possam ser utilizados como uma versão
reduzida do inventário MMPI-2.
− Forma gravada, muito útil para semi-letrados e pessoas com
deficiên
cias
sensoria
is.

Indispensável: correcção de K (concretamente no MMPI-2)


Na construção do perfil de personalidade do indivíduo, recomenda-se a
utilização da correcção de K, a qual permite tornar o perfil mais
discriminado no que concerne à presença resultados indicadores de
patologia, em algumas escalas. Concretamente, a escala K é referida como
a escala da “defensividade”, a qual pode existir no indivíduo sob a forma de
uma tendência (por vezes não consciente e não deliberada) de falsificar o
seu perfil (p.e. nega dificuldades psicológicas). Esta “negação” vai fazer
com que as suas respostas ao inventário não conduzam a resultados tão
elevados nas escalas clínicas; ou seja, a patologia é mascarada.
20
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
Este método de correcção vai consistir, então, num aumento do valor
ponderado de algumas escalas clínicas, de modo a “compensar” esta
eventual falsificação. De destacar que a maior parte da informação
disponível sobre a interpretação do MMPI-2 é baseada em resultados K-
corrigidos e, como tal, a aplicação deste método é indispensável. Deste
modo…

Hs + 0.5 K
Pd + 0.4 K
Pt + 1 K
Sc + 1k
Ma + 0.2 K

NOTA: as escalas clínicas Depressão, Histeria e Paranóia não requerem


uma correcção de K; as escalas Masculinidade-Feminilidade e Introversão
Social não são escalas clínicas.

De atender que, em casos de “normalidade” do indivíduo, esta


correcção vai fazer com que o indivíduo possa obter um perfil a tender para
o patológico. Contudo, tal situação constitui-se como uma excepção, na
medida em que, habitualmente, o MMPI-2 é aplicado nos casos em que se
suspeita da presença efectiva de psicopatologia.

Algumas considerações relativamente à interpretação das


escalas
A interpretação do MMPI-2 realiza-se do geral para o particular, i.e., é
importante primeiro atender às escalas mais elevadas, e após a integração
da informação destas escalas com os dados da história clínica, realiza-se a
interpretação das escalas mais baixas atendendo sempre aos dados da
história clínica.
Os resultados baixos não são fáceis de interpretar, assim sendo, é
importante proceder à interpretação dos resultados baixos tendo em conta
os resultados nas outras escalas. Desta forma, p.e., um resultado elevado
na escala 2 (depressão) associado a um resultado baixo na escala 9
(Hipomania) não é de estranhar, uma vez que, estas duas escalas avaliam
variáveis exactamente opostas.

Escalas de Validade
Escala ? (Não Sei)
Corresponde ao total dos itens sem resposta e dos itens respondidos
simultaneamente V e F. Resulta de: descuido ou confusão; tentativa de não
admitir aspectos indesejáveis do próprio (omitir para não mentir); indecisão;
falta de experiência sobre o conteúdo do item
Protocolos com mais de 10 itens omitidos devem ser interpretados com
grande reserva e protocolos com mais de 30 itens omitidos não devem ser
interpretados. Deve-se sempre encorajar o sujeito a responder ao maior
número de itens possível.

Resultad Interpretação
21
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

o Bruto
0-2 Normal. O cliente omitiu poucos ou nenhuns itens.

Suave. O cliente omitiu levemente mais itens do que o considerado


normativo. As escalas cujos itens foram omitidos devem ser
3-5 verificadas. Existe pouca probabilidade de distorção do perfil a
menos que todos os itens omitidos sejam da mesma escala.

Moderado. O cliente omitiu mais itens do que o considerado


normativo. Se possível, o cliente deve ser encorajado a completar
6-25 os itens omitidos. O perfil pode ter uma validade questionável se o
número de itens omitidos se aproxima de 25.

Elevado. O cliente não apresenta disposição ou é incapaz de


completar o MMPI-2 de forma apropriada. Pode ser manifestamente
cuidadoso na tentativa de não revelar qualquer informação
Superior a significativa sobre si, obsessivamente incapaz de tomar uma
26 decisão relativamente a numerosos itens ou simplesmente não-
cooperativo não tendo, por isso, respondido aos itens. Se possível, o
clínico deve pedir ao cliente para completar os itens omitidos ou
para re-administrar todo o teste.

Escala L
Foi construída para detectar tentativas deliberadas e pouco sofisticadas
para transmitir uma imagem de si favorável. Os 15 itens que a constituem
retratam pequenas falhas que a maior parte das pessoas está disposta a
admitir. São os do MMPI original e foram seleccionados segundo uma
metodologia racional, e.g. “Não gosto de todas as pessoas que conheço”. O
sentido desviante de resposta é “Falso”. O número médio de itens da escala
L respondidos no sentido desviante na amostra normativa é 3.
Se um resultado baixo em L surgir associado a um resultado baixo em K
e a resultados altos em F podemos estar na presença de uma excessiva
auto-crítica e exagero de atributos negativos.

Resulta
Interpretação
do T
Elevados. A pessoa não está a ser honesta e franca nas suas
Superior respostas. Nas restantes escalas esta atitude vai originar resultados
a T65 mais baixos e o sujeito aparentará um melhor ajustamento
psicológico. O protocolo não deve ser interpretado.

Moderados. Defensividade, mas o protocolo pode ser interpretado se


se tomar em linha de conta esta característica. Estas pessoas são
convencionais e socialmente conformistas, são rígidas e moralistas e
T55-T65 sobrevalorizam o seu valor pessoal. Utilizam excessivamente
mecanismos de defesa como a repressão e a negação e têm pouco
insight sobre as suas motivações e sobre as consequências dos seus
comportamentos nos outros.

22
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

Baixos. A pessoa respondeu com franqueza e tem suficiente


confiança em si para poder admitir pequenas falhas. São pessoas
Inferior a socialmente atentas, confiáveis e independentes. Aparentam ser
T50 fortes, tranquilas, agem com naturalidade e têm facilidade em
assumir papéis de liderança. Comunicam as suas ideias com
facilidade embora por vezes possam parecer cínicas e sarcásticas.

Escala F
Composta por 60 itens que retratam características diversas, i.e.
atitudes e comportamentos anti-sociais, hostilidade, pensamento paranoide,
problemas de saúde, etc. Estes itens foram seleccionados por terem sido
respondidos em sentido desviante por menos de 10% da amostra
normativa.
Características associadas a resultados elevados na escala F:
turbulência emocional, ansiedade e depressão, sentimentos de tristeza e de
falta de esperança, perturbações do sono e dificuldade em lidar com os
acontecimentos stressantes do dia a dia, poucas relações de amizade,
inaptidão social, pouca motivação para a conquista e intolerância à
frustração.

Resultad
Interpretação
oT
Extremamente Elevados. Perfil provavelmente inválido. A pessoa
pode ter respondido ao acaso, pode ter respondido só verdade ou
Superior estar a tentar transmitir uma imagem de si muito negativa (Faking
a T100 bad). Na população psiquiátrica, resultados desta ordem remetem
para psicopatologia muito grave com delírios, alucinações,
embotamento afectivo. O diagnóstico de psicose é provável.

Muito Elevados. Possível exagero da sintomatologia e dos


problemas. Também pode acontecer que o sujeito tenha respondido
T80-T99 a todos ou quase todos os itens do MMPI-2 no sentido “Falso”.
Resultados desta ordem também surgem em pacientes
psiquiátricos, especialmente em psicóticos.

Elevados. Convicções sociais, políticas ou religiosas um tanto


extremadas e eventualmente desviantes. Pacientes com
T65-T79 perturbações neuróticas ou mesmo psicóticas têm resultados desta
grandeza.

Moderados. Corresponde a uma elevação moderada e significa que a


pessoa pode ter respondido no sentido desviante a um conjunto de
T65-T50 itens específicos, sugerindo dificuldades numa determinada área
(trabalho, saúde, relações familiares…). No geral a pessoa funciona
adequadamente.

Inferior a Baixos. Pessoas conformistas, adequadas e sem psicopatologia.


T50 Considerar, no entanto, a possibilidade de falsificação no sentido

23
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

favorável.

Escala FB
Esta escala foi originalmente desenvolvida para a forma experimental do
MMPI-2. Uma vez que os itens da escala F surgiam no início do caderno de
respostas foi criada esta escala para avaliar a validade das respostas aos
itens que se encontravam no final do caderno.
A escala FB é constituída por 40 itens, respondidos no sentido desviante
por menos de 10% da amostra normativa.
Num protocolo em que a escala F reflecte validade das respostas, uma
elevação em FB sugere uma atitude de resposta aos últimos itens do teste
inválida. Neste caso as escalas básicas podem ser interpretadas, mas não é
correcto interpretar as escalas suplementares e de conteúdo (que se
baseiam no itens que estão no final caderno). É claro que se a escala F não
indicar validade, o protocolo não deve ser interpretado.
Há pouca investigação sobre a escala FB e por isso recomenda-se a
utilização dos cut-offs da escala F na sua interpretação.
Para um enviezamento de respostas, resultados elevados nesta escala
acompanham-se de resultados T>80 na escala TRIN (na direcção de
verdadeiro).

Resultad
Interpretação
oT
Muito Elevados. o perfil tende a ser inválido. Estes clientes tendem a
Superior mostrar-se severamente desorganizados e psicóticos se
a T110 responderam aos itens de forma precisa; estas características são
aparentes na entrevista clínica.

Elevados. o perfil pode ser inválido; outros indicadores de validade


devem ser tidos em conta para determinar em que medida o cliente
sinalizou psicopatologia (overreporting). Se os itens foram
respondidos de forma precisa, a elevação reflete a severidade do
T81-T110 distress e a extensão de psicopatologia que o cliente está a
experienciar (que será claramente aparente na entrevista clínica).
Estes inidividuos tendem a ser diagnosticados como tendo uma
perturbação do comportamento severa ou como psicóticos,
dependendo da sua idade e tipo de facilidade de tratamento.

Moderados. clientes que reconhecem as experiências incomuns


representadas nas escalas mais do que o normativo. As elevações
T59-T80 reflectem a extensão e a severidade da psicopatologia do cliente, e
a forma como o cliente se adaptou à sua psicopatologia.

Normais. Clientes que apresentam disposição para reconhecer um


T46-T58 número típico de experiências incomuns.

Escala F(p)

24
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
Esta escala é constituída por 27 itens e é um complemento da escala F.
Pretende identificar respostas pouco frequentes quer na amostra normativa
quer na amostra psiquiátrica.
A grande vantagem desta escala em relação à F é exactamente facilitar
a diferenciação entre pessoas que tentam deliberadamente passar uma
imagem negativa de si e doentes psiquiátricos.
Resultados F(P) > T100 sugerem faking bad.

Escala K
Detecta tentativas subtis de negação da psicopatologia e de transmissão
de uma imagem de si mais favorável, ou, pelo contrário, de exagero de
psicopatologia e transmissão de uma imagem de si desfavorável.
A escala K do MMPI-2 inclui os 30 itens da escala K original. Os itens da
escala K cobrem diversas áreas de conteúdo: hostilidade, desconfiança,
conflitos familiares, falta de confiança em si, tendência para ter
preocupações excessivas…).
Ainda que resultados acima da média indiquem defensividade, elevações
moderadas podem igualmente reflectir uma maior força do ego e a
presença de recursos psicológicos.
Quando resultados moderados são encontrados em pessoas que não
aparentam perturbação psicológica e que funcionam relativamente bem é
provável que reflictam características positivas e não defensividade.

Resulta
Interpretação
do T
Muito Elevados. há uma forte sugestão de falsificação no sentido
Superior favorável (faking good) ou então de um padrão de respostas sempre
a T65 “Falso”.

Elevados. Defensividade - negação de sintomas e de problemas,


tentativa de transmitir uma imagem de adequação, controlo e
eficácia. Intolerância no que diz respeito à aceitação de
comportamentos e crenças pouco convencionais. Ausência de
T55-T65 insight sobre o seu funcionamento psicológico. São vistos pelos
outros como tímidos, inibidos e hesitantes. Quando um resultado em
K é muito elevado e se faz acompanhar por elevações nas escalas
clínicas estamos na presença de uma pessoa francamente
perturbada que tem pouca noção dos seus problemas e dificuldades.
Médios. Adequado equilíbrio entre uma avaliação positiva de si e o
reconhecimento crítico de aspectos negativos do self. São pessoas
T40-T55 psicologicamente bem ajustadas, que manifestam poucos sinais de
perturbação emocional. São independentes, confiantes e capazes de
lidar com os seus problemas de um modo adequado.

Inferior a Baixos. Exagero na sintomatologia. Pessoas muito críticas em


T40 relação a si próprias e aos outros, ineficazes no modo como lidam
com as dificuldades do dia a dia, com pouco insight sobre as suas
motivações e comportamentos. São conformistas, respeitadoras da
autoridade, inibidas e desconfiadas em relação às motivações das

25
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

outras pessoas. Sugestão de falsificação no sentido desfavorável


(faking bad) ou de um padrão de respostas sempre “Verdade”.

Escala S
Escala constituída por 50 itens que avaliam a tendência que algumas
pessoas têm para mostrar que se dão muito bem com os outros, que são
muito virtuosas, responsáveis, livres de problemas psicológicos, com
poucas ou nenhumas falhas morais.
Os resultados da escala S estão muito correlacionados com os resultados
da escala K. Pensa-se que S mede sensivelmente o mesmo que K e que
pode ser útil na identificação de pessoas normais que estão a tentar passar
uma imagem mais positiva de si quando respondem ao MMPI-2.
Esta escala não é tão eficaz a identificar defensividade ou atitude
faking good junto de doentes psiquiátricos.
Considera-se que um resultado bruto igual ou superior a 29 distingue
pessoas que respondem com honestidade de pessoas que respondem
tentando dar uma imagem de si favorável (faking good). Mais estudos sobre
esta escala são, no entanto, necessários.
Os resultados nesta escala podem, conjuntamente com os resultados
na escala K, identificar as pessoas que enviezam as suas respostas no
sentido de faking good.

Indicadores de Consistência
Escala VRIN
Esta escala proporciona informação sobre a tendência para responder de
forma inconsistente aos itens do MMPI-2. É constituída por 47 pares de itens
com conteúdo semelhante ou oposto.
Resultados na escala VRIN > T80 sugerem um padrão inconsistente de
resposta e sugere a possibilidade do protocolo ser inválido e não
interpretável.
A escala VRIN deve ser utilizada em conjunto com a escala F.
– Resultados elevados em F e em VRIN suportam a hipótese e Resposta
ao Acaso.
– Resultados elevados em F e resultados médios ou baixos em VRIN
sugerem:
• Perturbação psicológica grave;
• Tentativa de passar uma imagem desfavorável de si;
• Respostas só Verdade ou só Falso. Para esclarecer esta hipótese é
necessário analisar TRIN…

Escala TRIN
Esta escala foi desenvolvida para detectar padrões de resposta
inconsistente quer por o sujeito responder a todos os itens Verdade, quer
por responder a todos os itens Falso.
É constituída por 20 pares de itens que têm um conteúdo oposto.
26
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
Um resultado bruto de 13 ou mais (T>80 Verdade) sugere tendência para
responder Verdade de um modo indiscriminado. Um resultado bruto de 5 ou
menos (T>80 Falso) sugere tendência para responder Falso de um modo
indiscriminado. Ambos invalidam o protocolo.

Padrões de resposta às escalas de validade e de consistência


Padrão de resposta aleatória – escalas VRIN, F, Fb e Fp elevadas
(cerca de 100 ou mais), escala L moderadamente elevada (T=60-70), e as
escalas K e S baixas (T=50). A VRIN é útil para determinar se os resultados
desviantes são devido a respostas aleatórias ou a respostas de faking bad.
Desta forma, o padrão de resposta aleatória resulta em resultados muito
elevados na escala VRIN.
Padrão de resposta “tudo-verdadeiro” – escala F muito elevada
(acima de 100), escalas Fb e Fp mostram-se ao mesmo nível que a escala F,
resultados nas escalas L, K, e S baixos (abaixo de 50), e elevações nas
escalas clínicas da parte direita do perfil, geralmente, com os resultados
mais elevados nas escalas 6 e 8.
Padrão de respostas “tudo-falso” – elevações nas escalas L, F, e
K, sendo os resultados mais elevados encontrados nas escalas clínicas da
parte esquerda do perfil. Os rersultados nas escalas Fb e VRIN tendem a
estar baixos (T=50) na série de respostas “tudo falso”. O resultado em Fp
está geralmente muito elevado (mais de 100), o resultado na escala S tende
a estar moderadamente elevado (T=70-80) e o resultado na escala TRIN
tende a estar elevado (na direcção de falsificação indica respostas falsas
indiscriminadas).
Padrão de respostas de apresentação negativa (faking bad) –
resultados muito elevados em F, Fb e Fp (geralmente acima de 100). TRIN e
VRIN não estão significativamente elevadas. Resultados nas escalas clínicas
estão muito elevados (indivíduos normais faking bad tendem a exacerbar
mais os sintomas do que os indivíduos com psicopatologia, apresentando
escalas clínicas mais elevadas) com as escalas 6 e 8 tipicamente muito
elevadas. As escalas 5 e 0 tipicamente são as menos elevadas no perfil
faking bad. Diferenças importantes: as escalas F e Fp estão geralmnte mais
elevadas em indivíduos faking bad relativamente a pacientes com
psicopatologia. Resultados na escala F para um indivíduo psicótico está
entre 70-90 enquanto num indivíduo faking bad o resultado na escala F
geralmente está acima de 100.
Padrão de respostas de apresentação positiva (faking good) –
as escalas L e K tendem a estar significativamente elevadas e o resultado
na escala F está geralmente abaixo de 50. Os resultados em K tendem a
mostrar-se mais elevados relativamente aos resultados em F. Os resultados
nas escalas clínicas tendem a mostrar-se baixos.

Escalas Clínicas
Escala 1 (Hiponcondria)
Originalmente desenvolvida para identificar pacientes com Hipocondria.
Este diagnóstico caracteriza-se por uma preocupação com o funcionamento
do corpo e por medos relativos à presença de eventuais doenças.

27
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
Pessoas com doenças físicas reais têm resultados moderados nesta
escala (≈ T60). Pessoas mais velhas têm resultados ligeiramente mais
elevados do que os dos adultos da amostra de estandardização, o que
provavelmente reflecte o declínio da saúde com a idade.
T>80 ð Preocupações muito acentuadas e até bizarras com o
funcionamento do corpo. Quando a escala 3 também está elevada devemos
considerar a hipótese de perturbação de conversão. Se a escala 8
acompanhar a elevação da escala 1 podem ocorrer delírios somáticos.
T= 60-80 ð queixas somáticas vagas e de natureza não específica.
Quando surgem sintomas específicos, estes incluem: dor crónica, dores de
cabeça e perturbações gastrointestinais. Outros sintomas característicos
são: fraqueza crónica, falta de energia, fadiga e perturbações do sono,
preocupação com a saúde e tendência para desenvolver sintomas físicos
em resposta ao stress. Do ponto de vista dos atributos da personalidade,
estas pessoas são: egoístas, narcísicas, pessimistas, derrotistas, cínicas,
insatisfeitas, infelizes e fazem os outros infelizes. São muito queixosas,
exigentes e críticas para com os outros ainda que expressem a hostilidade
de modo indirecto. São pessoas pouco ambiciosas e pouco entusiastas, que
funcionam num nível reduzido de eficiência. Consideram-se doentes e
procuram explicações e tratamentos médicos para os seus sintomas. Têm
pouco insight em relação à possível origem psicológica dos seus sintomas,
resistindo a interpretações psicológicas. São maus candidatos para
psicoterapia. Os seus problemas tendem a ser mais crónicos do que
situacionais.
Resulta
Interpretação
do T
Baixo. É um grupo heterogéneo visto que a sua característica
comum é a não confirmação de sintomas hipocondríacos. São
descritos como alertas, espontâneos, menos prováveis de se
Inferior preocuparem com a sua saúde, têm falta de energia ou parecem
a 45 cansados, e não são desnecessariamente preocupados acerca de
reacções adversas dos outros. As pessoas que trabalharam ou
viveram com hipocondríacos também tendem a apresentar
resultados baixos nesta escala.

45-57 Normal. Estes clientes têm um número típico de sintomas físicos.

Moderado. Resultados no limite inferior deste intervalo são típicos


em pessoas com incapacidades físicas e pessoas com doença física
58-64 real. Estes clientes podem ter alguma preocupação acerca do seu
funcionamento corporal e são provavelmente vistos como imaturos,
teimosos, e com falta de orientação.

65 e Elevado. Envolve qualquer população caracterizada pela


superior preocupação excessiva acerca das funções corporais e sintomas
hipocondríacos vagos. Estes clientes estão excessivamente
preocupados com sintomas físicos vagos e podem usá-los para
manipular e controlar os outros. Eles são cínicos, queixosos, exigem
atenção, e geralmente são negativos e pessimistas. O prognóstico

28
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

de intervenção psicológica ou física é reservado. Estes clientes


focam-se em sintomas corporais vagos e resistem a qualquer forma
de resolução. Adicionalmente, os indivíduos com estes resultados
são descritos como pessimistas, azedos na vida, e evidenciando
inadequação e ineficiência pessoal de longa duração. Parecem ter
um gosto especial em exagerar as doenças do mundo e da sua
própria situação.

Escala 2 (Depressão)
Originalmente desenvolvida para identificar pacientes com Depressão.
Os principais sintomas de Depressão são: desânimo, falta de esperança no
futuro, insatisfação com a vida.
A escala 2 é um excelente indicador do grau de insatisfação com a vida.
Resultados muito elevados sugerem depressão clínica, resultados
moderados indicam desânimo e falta de envolvimento com a vida.
Os resultados da Escala 2 são influenciados pela idade: adultos mais
velhos têm resultados superiores.
T>70 ð presença de sintomas depressivos: tristeza, ausência de
esperança, pessimismo em relação ao futuro e em relação à capacidade de
superar dificuldades, ideação suicida, desvalorização e sentimentos de
culpa, falta de energia, falta de prazer, choro, lentidão psicomotora, queixas
físicas, perturbação do sono, fadiga, agitação, tensão, dificuldades de
concentração, medos, irritação, preocupações excessivas e injustificadas,
falta de confiança, introversão, timidez…

Resulta
Interpretação
do T
Baixo. Estes clientes tendem a estar em alerta, serem sociáveis,
activos e, efectivos numa variedade de tarefas. Resultados neste
intervalo sugerem que os clientes não estão adversamente
afectados pelos comportamentos que os levaram a uma avaliação.
Têm menos probabilidade de sofrerem de insónias ou de se
preocuparem com a saúde e maior probabilidade de serem
Inferior divertidas e auto-confiantes. Algumas pessoas com baixos
a 45 resultados também são descritas como descontroladas; isto pode ser
manifesto por exibicionismo, impulsividade, e imprudência. Para
alguns, a sua actividade, agressividade, e tendência de exibição
interfere com as suas relações interpessoais.Deve-se ter a certeza
que estes comportamentos são apropriados para a situação e
contexto da pessoa (i.e., os clientes raramente pontuam neste
intervalo).
Normal. Estes clientes têm um número típico de atitudes e
45-57
comportamentos que reflectem depressão sintomática.
58-64 Moderado. Estes clientes estão insatisfeitos com algo ou com eles
mesmos, mas podem não reconhecer este estado como depressão.
O seu grau médio de insatisfação pode representar apropriadamente
a situação. Ou podem não estar realmente preocupados acerca do
que está a acontecer com eles, ou podem ter aprendido a ajustarem-
29
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

se a uma existência depressiva crónica. Estas pessoas são vistas


como timidas, propicias a preocupação e depressão, e insatisfeitas,
quer com elas mesmas quer com a sua situação pessoal.
Elevado. Estes clientes exibem uma tristeza e humor depressivo
geral quer acerca da vida quer acerca deles mesmos. O clínico pode
determinar a fonte deste humor depressivo perguntando ao cliente
ou examinando as escalas clínicas. À medida que os resultados
aumentam, o pessimismo, depressão, e desespero começam a
65 e invadir a vida inteira do cliente. Estes clientes tendem a estar
superior deprimidos, retraidos, culpados e auto-depreciativos. As pessoas
com resultados elevados nesta escala estão a reconhecer o seu
desconforto e insatisfação pessoal com o seu nível de
funcionamento actual. O seu sofrimento subjectivo pode representar
ansiedade e os seus concomitantes, ou pode representar uma
condição depressiva genuina.

Escala 3 (Histeria)
Originalmente desenvolvida para identificar pacientes que têm reacções
histéricas a situações de stress.
Alguns dos itens desta escala reportam a queixas físicas de natureza
específica, por exemplo, dores no peito e coração, náuseas e vómitos, dores
de cabeça. Outros reflectem a negação de problemas psicológicos e de
desconforto em situações sociais.
Os resultados da Escala 3 são influenciados pelo nível intelectual
(pessoas com um nível intelectual superior obtêm pontuações superiores) e
pelo género (as mulheres obtêm resultados superiores).
Tal como acontece com a escala 1, pessoas com doenças reais sem
grande participação de factores psicológicos, obtêm resultados próximos de
T60.
T>80 ð sintomatologia histérica clássica.
Pessoas com resultados elevados reagem ao stress e às
responsabilidades através do desenvolvimento de sintomas físicos. Estes
sintomas não têm, no entanto, o padrão de nenhuma perturbação orgânica.
Os sintomas surgem repentinamente em situações de stress e desaparecem
quando os factores de stress desaparecem. Estas pessoas não sentem
grande perturbação emocional, mas referem, por vezes, sentimentos de
tristeza e de ansiedade. Falta de energia, cansaço e perturbações do sono
são frequentes. Estas pessoas têm pouco insight sobre possíveis causas da
sua sintomatologia, sobre as suas motivações e sentimentos. São imaturas
e até infantis, auto-centradas, narcísicas e esperam grande atenção e
afecto dos outros. Quando não recebem essa atenção mostram um
ressentimento indirecto. Os afectos mais negativos são negados. Embora
tenham facilidade nas relações sociais estas relações são superficiais e
imaturas. Um dos diagnósticos mais frequentes é Perturbação de
Conversão.

Resulta
Interpretação
do T

30
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

Baixo. Estes clientes tendem a ser sarcásticos, timidos, não


aventureiros e socialmente isolados. Tendem a sentir que a sua vida
é difícil e, sentem-se cansadas. São vistos como tendo interesses
Inferior
limitados e sendo socialmente conformistas. São vistas como tendo
a 45
poucas defesas para as proteger do ambiente externo e
consequentemente são vulneráveis a ambiente sobrecarregador e
duro.
Normal. Estes clientes têm um número típico de preocupações
45-57 acerca do seu funcionamento físico e dos motivos das outras
pessoas.
Moderado. Estes clientes são provavelmente exibicionistas,
extrovertidos e superficiais. São ingénuos, auto-centrados, e negam
58-64
quaisquer problemas. Preferem olhar para o lado optimista da vida e
evitar questões desagradáveis.
Elevado. Estes clientes são ingénuos, sugestiveis, têm falta de
insight acerca do seu comportamento e do comportamento dos
outros, e negam quaisquer problemas psicológicos. As pessoas com
resultados elevados nesta escala são descritas como egocêntricas,
imaturas, e infantis. Exigem atenção e são manipuladoras nas
relações interpessoais. Tendem a não ser inibidas nas suas relações
sociais, embora se relacionem com os outros num nível superficial e
65 e imaturo. A sua insensibilidade aos outros e falta de empatia reflecte
superior o seu envolvimento egocentrico. Debaixo de stress, irão aparecer
sintomas físicos específicos. Eles olham para soluções simplistas,
concretas para os seus problemas, soluções que não requerem auto-
exame. As suas defesas primárias são negação e repressão, e
geralmente estas pessoas parecem ser defensivas e super-
controladoras. Tendem a ser emocionalmente imaturas e lábeis. Um
medo profundo da dor, emocional e física, pode caracterizar as
pessoas com resultados elevados nesta escala.

Configurações da Tríade Neurótica:


Quatro configurações englobam as relações mais frequentemente
encontradas entre as três escalas na tríade neurótica (1, 2 e 3), em que as
três escalas estão elevadas, mas umas mais que outras.
1. Conversão “V”: Escala 1 e 3 mais elevadas que a escala 3 (p.e.,
escalas 1 e 3 acima de 65 e escala 2 entre 50 e 65). Um cliente com esta
configuração está a converter problemas pessoalmente dolorosos em
problemas mais racionais e socialmente aceitáveis; isto é, a pessoa está a
converter problemas psicológicos em sintomas físicos. A elevação global
desta configuração reflecte a quantidade e cronicidade de sofrimento
psicológico que o cliente está a experienciar. Quanto maior a elevação
relativa das escalas 1 e 3 em relação à escala 2 mais severas, duradouras,
e resistentes à mudança são as defesas do cliente contra encarar a fonte
actual de sofrimento na sua vida. Quando a escala 3 é mais elevada que a
1, o cliente tende a ser optimista em relação aos sintomas físicos, que estão
especifica e usualmente focados na cabeça e extremidades. Em contraste,
quando a escala 1 está mais elevada que a escala 3, o cliente tende a ser
amargo e pessimista acerca dos sintomas físicos vagos e gerais.
31
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
2. Padrão descendente: Todas as três escalas estão acima do resultado
65, com a escala 1 sendo a mais elevada, seguida da escala 2 e 3 numa
ordem descendente. Os clientes com esta configuração têm uma
hipersensibilidade de longa duração a disfunção física mesmo a mais
pequena, e têm sintomas físicos constantes sem patologia física adequada.
Os seus sintomas físicos muitas vezes incluem nauseas, tonturas, insónias e
dores de cabeça. Estes clientes tipicamente têm registos de trabalho e
relações conjugais estáveis. Eles vêm pouca ou nenhuma correlação entre
os sintomas físicos e quaisquer problemas psicológicos.
3. Escala 2 mais elevada que as escalas 1 e 3 (p.e., escala 2 superior a
65 e escalas 1 e 3 entre 50 e 65): Estes clientes têm problemas crónicos
com sintomatologia mista. Sintomas físicos múltiplos, depressão,
características histeróides são típicas, particularmente à medida que esta
configuração aumenta na elevação global. Estes clientes estão usualmente
fatigados, ansiosos, e cheios de dúvidas acerca deles, o que os previne de
fazerem alguma coisa. São descritos como dependentes e imaturos. Tais
pessoas muitas vezes aprenderam a tolerar grande infelicidade e elevados
níveis de desconforto; consequentemente, podem ter pouca motivação para
o tratamento. Parecem operar em baixos níveis de eficiência por longos
períodos de tempo.
4. Padrão ascendente: Todas as três escalas estão acima do resultado
65, em que cada escala seguinte é maior do que a anterior (portanto, a
escala 1 é a mais baixa, a escala 2 é mais elevada que a escala 1, e a
escala 3 é a mais elevada). Este padrão é tipicamente encontrado em
mulheres que têm história de queixas ginecológicas. Estas mulheres
relatam muitos problemas conjugais, incluindo queixas sexuais tais como
frigidez e uma história longa de saúde debilitada. Os homens com esta
configuração provavelmente têm estados crónicos de ansiedade e exibem
efeitos físicos de tensão prolongada e preocupação, tais como problemas
gástricos e úlceras. Em ambos, homens e mulheres, esta configuração
reflecte uma mistura de características depressivas com numerosos
sintomas físicos. Falta de insight psicológico e resistência à interpretação
psicológica do comportamento são típicos de clientes com esta
configuração.

Escala 4 (Desvio Psicopático)


Originalmente desenvolvida para identificar pacientes com o diagnóstico
de personalidade psicopática. Os itens que a constituem cobrem várias
temáticas: insatisfação com a vida, problemas familiares, delinquência,
problemas sexuais e problemas com a autoridade.
Os resultados desta escala são influenciados pela idade: os jovens tem
resultados ligeiramente mais elevados do que as pessoas mais velhas.
Esta escala pode ser entendida como uma medida de rebeldia.
Resultados mais elevados estão associados à passagem ao acto de uma
forma anti-social e criminosa. Resultados moderados expressam uma
rebeldia socialmente modulada.

32
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
T>75 ð dificuldade na incorporação dos valores e normas da sociedade.
Comportamentos anti-sociais i.e. mentira, roubo, comportamentos sexuais
promíscuos, abuso de álcool e drogas. Rebeldia e conflitos com a
autoridade. As relações familiares/matrimoniais são conflituosas e os
familiares tendem a ser responsabilizados pelas dificuldades. Na
escola/trabalho os resultados não são bons. Impulsividade, intolerância à
frustração e procura da satisfação imediata. Incapacidade de aprender com
a experiência. Ausência de culpa. Imaturidade, egocentrismo,
insensibilidade às necessidades e sentimentos dos outros. Numa primeira
impressão, transmitem uma imagem favorável e sedutora, mas
estabelecem relações superficiais e narcísicas. São pessoas extrovertidas,
activas, aventureiras, espontâneas, que passam por inteligentes e auto-
confiantes. São hostis e agressivas, cínicas e vingativas. As mulheres
tendem a mostrar esta agressividade de modo mais indirecto.
Os diagnósticos mais frequentes são Perturbação da Personalidade Anti-
social ou Perturbação Passiva-agressiva.

Resulta
Interpretação
do T
Baixo. Estes clientes tendem a ser rígidos, convencionais,
conformistas e submissos. Usualmente são capazes de tolerar muita
mediocridade, e aborrecimento. Os homens têm falta de interesse
Inferior
na actividade heterossexual, particularmente se este é o ponto mais
a 45
baixo do perfil. Têm menos probabilidade de serem mal humorados,
ficarem zangados, ou agir com teimosia. Estas pessoas são
socialmente constrangidas e têm interesses limitados.
Normal. Estes clientes têm um número típico de preocupações
45-57 acerca dos membros da família e figuras de autoridade. Estão
confortáveis com eles mesmos e com os outros.
Moderado. Estes clientes podem estar genuinamente preocupados
com problemas e questões sociais; podem responder a conflitos
58-64 situacionais, ou podem ter um ajustamento a um nível habitual de
conflito social e interpessoal. Se o conflito é situacional, o resultado
deve voltar ao intervalo normal quando o conflito for resolvido.
65 e Elevado. Estes clientes estão a lutar contra algo, que é usualmente
superior alguma forma de conflito com membros da sua família ou com
figuras de autoridade. Estes conflitos podem não ser
necessariamente agidos explícitamente; a rebeldia e raiva contra os
outros é rapidamente aparente mesmo nestes casos. São
provavelmente não confiáveis, egocentricos, e irresponsáveis.
Podem não ser capazes de aprender a partir da experiência ou
planear. Estes clientes têm uma fachada social boa e causam uma
boa impressão inicial, mas as características psicopatas irão surgir
em interacções mais longas e em situações de stress. As pessoas
com resultados elevados nesta escala usualmente são descritas em
termos desfavoráveis: zangadas, impulsivas, emocionalmente
superficiais, e imprevisíveis. São socialmente inconformistas,
negligenciam regras sociais e convenções em geral e figuras de
autoridade em particular. São pessoas que revelam
33
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

irresponsabilidade, falta de confiança, mau humor, e ressentimento.


Muitas vezes têm uma longa história de relações familiares e sociais
inadequadas. Elevações nesta escala estão positivamente
correlacionadas com frequência de comportamentos delinquentes e
criminosos.

Escala 5 (Masculinidade-Feminilidade)
Escala de atitudes e interesses (interesses profissionais, hobbies,
preocupações e medos, relações familiares, etc.)
No MMPI, a escala 5 era muito influenciada pelo nível educacional dos
sujeitos. Esta influência não é tão evidente no MMPI-2. Long, Graham e
Timbrook (1994) verificaram que homens e mulheres de nível educacional
superior têm resultados cerca de 5 pontos de nota T acima dos resultados
obtidos por homens e mulheres com nível educacional baixo. Estas
diferenças reflectem a variedade de interesses das pessoas de nível
educacional superior e não justificam interpretações diferenciadas em
função do nível de educação.
Resultados elevados:
– Nos homens reflectem variedade de interesses e ausência de
interesses estereotipados (tipicamente masculinos): interesses estéticos,
artísticos, capacidade para participar nas tarefas caseiras, na educação
dos filhos.
– Nas mulheres são pouco frequentes e indicam rejeição do papel
tradicional feminino.
Resultados Baixos:
– Nos homens reflectem interesses tipicamente masculinos.
– Nas mulheres reflectem interesses tipicamente femininos (por
exemplo, são mulheres que tiram grande prazer do seu papel de
esposas e mães).

Resulta
Interpretação (Homens) Interpretação (Mulheres)
do T
Estas mulheres tendem a ser
recatadas, sedutoras, e
parecerem indefesas. Elas super-
Estes homens identificam-se
identificam-se com o papel
muito fortemente com o papel
Inferior feminino e por vezes são
masculino tradicional, e
a 45 bastante caricaturantes dele.
podem ser compulsivos e
Baixo Este comportamento pode ser
inflexíveis acerca da sua
subtilmente manipulador ou
masculinidade.
podem conceber-se a elas
mesmas como realmente
indefesas.
Estes homens têm interesses Estas mulheres têm interesses e
45-57
e actividades masculinas actividades genuininamente
Normal
tradicionais. femininas tradicionais.
34
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

Estes homens tendem a ter


Estas mulheres são menos
interesses estéticos tais como
58-64 tradicionalmente orientadas
arte, musica, e literatura.
Moderad para o papel feminino, e têm
Podem ser passivos e preferir
o um interesse nas actividades
trabalhar nos problemas de
masculinas também.
forma dissimulada e indirecta.
Estas mulheres podem ou não
ter interesses masculinos
reais, mas são definidas como
Estes homens são passivos, não interessadas em parecer
direccionados para o interior, ou comportar-se de acordo
e têm interesses e actividades com um papel feminino
estéticas. Não se identificam tradicional. Podem tornar-se
65 e com o papel masculino ansiosas se esperam que elas
superior tradicional. Homossexuais limitem o seu comportamento
Elevado auto-proclamados e pessoas ao que é prescrito pelo papel
que pretendem admitir feminino tradicional. É
abertamente as suas provável apresentarem
preocupações homossexuais comportamento agressivo,
irão ter estes resultados. enquanto que o
comportamento homossexual
não é provável de ser
encontrado.

Escala 6 (Paranóia)
Originalmente desenvolvida para identificar pacientes com sintomas
paranóides como: ideias de referência, sentimentos de perseguição, auto-
conceito grandioso, desconfiança, sensibilidade à crítica, rigidez.
Esta escala produz poucos falsos positivos: pessoas com resultados
elevados nesta escala têm sintomas paranóides.
T>70 ð provável psicose, sobretudo se a escala 6 for a mais elevada do
perfil. Nestes casos, encontramos alterações do pensamento (delírios de
perseguição ou de grandeza) e ideias de referência. São pessoas que se
sentem maltratadas pelos outros e que reagem com zanga e ressentimento.
Assim, utilizam o mecanismo de defesa projecção (a hostilidade é posta nos
outros o que justifica o ressentimento). Os diagnósticos mais frequentes são
o de esquizofrenia e o de paranóia.
T= 60-70 ð sintomas psicóticos não são comuns. São pessoas que têm,
no entanto, traços de personalidade paranóide: sensibilidade à crítica,
fazem-se de vítimas e acham que toda a gente as quer prejudicar, culpam
os outros pelas suas dificuldades. São desconfiadas e reservadas, hostis,
ressentidas e estão sempre a argumentar. São moralistas e rígidas nas suas
opiniões e atitudes.

Resulta
Interpretação
do T
Inferior Baixo. As pessoas com resultados baixos nesta escala na população
a 45 psiquiátrica são frequentemente descritas como teimosas, evasivas,
e explicitamente cautelosas. As pessoas normais com resultados
35
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

baixos nestas escalas são descritas geralmente em termos positivos:


socialmente competentes, dignas de confiança, equilibradas, e
convencionais. Estes clientes têm interesses limitados e tendem a
ser insensíveis ou não conscientes dos motivos das outras pessoas.
Normal. Estes clientes são interpessoalmente sensíveis e pensam
45-57
clara e racionalmente.
Moderado. Profissionais de saúde mental que são interpessoalmente
sensiveis e empáticos com os outros frequentemente têm resultados
58-64 neste intervalo. Estes clientes podem estar explicitamente sensiveis
ao criticismo e personalizar a acção dos outros em direcção a eles
mesmos.
Elevado. As pessoas com resultados elevados nesta escala são
geralmente descritas como sendo desconfiadas, hostis, defensivas,
explicitamente sensíveis, argumentativas, e propicias a culpar os
outros. Elas tendem muitas vezes a exprimir a sua hostilidade
65 e
explicitamente e racionalizam isso como resultado de algo que os
superior
outros lhes fizeram. Embora possam não evidenciar realmente uma
perturbação do pensamento psicótico, usualmente é evidente uma
estrutura de carácter paranóide. Mas uma perturbação do
pensamento ou ilusional pode estar rapidamente aparente.

Configurações das escalas 4, 5 e 6: Uma configuração envolve as


escalas 4 e 6 com resultados superiores a 70 e a escala 5 com resultados
inferiores a 35. As mulheres com esta configuração são hostis e zangadas
mas incapazes de exprimir estes sentimentos directamente. São
extensivamente exigentes, dependentes, e têm uma necessidade quase
desmedida de afecto. Infelizmente, estes comportamentos apenas servem
para alienar os outros significativos, e isto diminui a probabilidade das suas
necessidades serem satisfeiras. Dificuldades conjugais, problemas
familiares e disfunções sexuais são comuns.

Escala 7 (Psicastenia)
Originalmente desenvolvida para identificar sintomas característicos de
Psicastenia: dúvidas excessivas, compulsões, obsessões e medos pouco
razoáveis. Este diagnostico já não se utiliza. Actualmente o que mais se lhe
aproxima é o de Perturbação Obsessivo-Compulsiva.
A escala 7 é um bom indicador dos níveis de tensão e ansiedade do
sujeito.
Resultados elevados reflectem ansiedade, tensão e agitação,
preocupações excessivas, medos e apreensão, dificuldades de
concentração, tristeza, pessimismo, fadiga, insónia, pesadelos, queixas
físicas (sistemas cardiovascular, gastrointestinal e genito-urinário). A par
das dúvidas excessivas, dos pensamentos obsessivos e dos
comportamentos compulsivos estas pessoas sentem grande insegurança,
sentimentos de inferioridade e são extremamente autocríticos. Podem
também existir características depressivas associadas. São rígidos,
moralistas, exigentes para consigo e para com os outros, perfeccionistas,
organizados, confiáveis, mas pouco criativos. Não lidam bem com o stress,
são tímidos e não interagem bem do ponto de vista social.
36
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
O diagnóstico mais frequente é o de Perturbação de Ansiedade.

Resulta
Interpretação
do T
Baixo. As pessoas com resultados baixos nesta escala são
geralmente descritas em termos positivos. São vistas como
responsáveis, divertidas, calmas, capazes, e eficientes. Estes
clientes são seguros e confortáveis com eles mesmos e são
Inferior emocionalmente estáveis. São orientados para o sucesso,
a 45 persistentes, e capazes. Há uma ausência de preocupações e têm
uma atitude relaxada em direcção às responsabilidades. Devemos
assegurar que estes comportamentos são apropriados para a
situação e contexto da pessoa (i.e., os clientes raramente têm
resultados neste intervalo).
Normal. Estes clientes podem lidar com responsabilidades
45-57
profissionais e pessoais sem preocupação ou ansiedade exageradas.
Moderado. Estes clientes são geralmente exigentes na realização
das suas obrigações e podem preocupar-se se não conseguem fazê-
58-64
lo. Não se vêem como ansiosos nem os outros os vêem como
ansiosos.
Elevado. Estes clientes são preocupados, tensos e indecisos. Podem
65-89 desenvolver agitação e a ansiedade é explícita para eles mesmos e
para os outros.
Muito elevado. Estes clientes usualmente têm ruminações agitadas e
obsessões que já não controlam a sua ansiedade. Podem estar
90 e
presentes sentimentos de culpa incapacitantes. O tratamento
superior
psicofarmacológico para a ansiedade pode ser necessário antes de
outras formas de intervenções terapêuticas serem instituidas.

Escala 8 (Esquizofrenia)
Originalmente desenvolvida para identificar pacientes com Esquizofrenia.
Alguns dos itens referem-se a sintomas psicóticos (delírios, alucinações,
embotamento afectivo), outros reflectem preocupações, insatisfação,
medos, relações familiares pobres, dificuldade no controlo dos impulsos e
inadaptação social.
Os resultados da Escala 8 são influenciados pela idade: os jovens tem
resultados superiores.
Resultados extremamente elevados (T superior a 100). As pessoas com
resultados extremamente elevados nesta escala são caracterizadas por
sofrerem stress prolongado e severo, acompanhado por uma
descompensação aguda, se os itens foram confirmados consistentemente e
precisamente. Estas características irão ser rapidamente aparentes na
entrevista clínica. Estas pessoas tipicamente não são esquizofrénicas; é
mais provável que estejam a experimentar reacções psicóticas agudas.
T>90 ð Normalmente não sugere psicose, reflectindo perturbação
psicológica aguda ou falsificação do perfil.
T= 75-90 ð Psicose

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Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
Resultados elevados nesta escala podem reflectir características
esquizóides (São pessoas que não se sentem parte do seu ambiente social,
sentem-se isoladas, alienadas e pouco aceites pelos pares. São reservadas
e evitam lidar com pessoas e com novas situações). Sugerem, igualmente,
apreensão, ansiedade, dificuldades de concentração, tristeza e depressão,
pessimismo, ideação suicida, hostilidade, ressentimento, tendência para
“sonhar acordado” e mesmo dificuldade em separar realidade e fantasia.
Reflectem, igualmente, dúvidas, insegurança, sentimentos de inferioridade
e insatisfação. Estas pessoas são vistas como não convencionais,
inconformistas, excêntricas.

Resulta
Interpretação
do T
Baixo. Estes clientes são convencionais, realistas, com interesses
muitos práticos e pouco interessados em questões teóricas ou
filosóficas. Não são imaginativos e são concretos, podendo ter
Inferior
dificuldade com pessoas que percebem o mundo de maneira
a 45
diferente da deles. As pessoas com resultados baixos nesta escala
são vistas como sendo obedientes, submissas, e explicitamente
aceitando a autoridade.
Normal. Esquizofrénicos crónicos que se ajustaram ao seu processo
psicótico podem ter resultados neste intervalo. Caso contrário, os
45-57
clientes relatam um número típico de preocupações acerca deles
mesmos e de como se relacionam com os outros.
Moderado. Estes clientes pensam diferentemente dos outros, os
pensamentos podem reflectir criatividade, uma atitude inovadora,
58-64
ou processos reais do tipo esquizóide. Estes clientes tendem a evitar
a realidade através da fantasia e sonhar acordado.
65-89 Elevado. Estes clientes sentem-se alienados e remotos do seu
ambiente, o que pode reflectir um processo psicótico real ou
situacional ou sofrimento pessoal. As intervenções terapêuticas
devem ser directivas e apoiantes e frequentemente requerem
medicamentos psicotrópicos. As pessoas com resultados elevados
nesta escala são descritas como frias, apáticas, alienadas,
incompreendidas, e têm dificuldades em pensar e comunicar, o que
se pode reflectir numa perturbação do pensamento psicótica real.
Estes indivíduos podem sentir que têm falta de algo essencial para
serem uma pessoa real. Tendem a preferir sonhar acordados e
fantasiar, a relações interpessoais. Sentem-se isolados, inferiores, e
insatisfeitos consigo mesmos. À medida que se aproxima de um
resultado de 75, as peculiaridades no pensamento e lógica tornam-
se mais aparentes ou, processos de pensamentos esquizofrénicos ou
esquizóides reais podem ser evidentes. À medida que o resultado se
aproxima de 80, a presença de uma perturbação do pensamento é
provável. As pessoas com resultados elevados nesta escala podem
parecer confusas e desorientadas e podem ter julgamento pobre.
Frequentemente demonstram características depressivas associadas
e retardação psicomotora. Todos estes comportamentos podem ser
um resultado de um processo esquizofrénico, um ajustamento

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Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

esquizóide, ou stress prolongado e severo.


Muito elevado. Estes clientes estão sob stress situacional agudo e
severo. Os clientes que estão a passar uma crise de identidade
90 e
(como na adolescência) podem ter um resultado neste intervalo.
superior
Estes clientes tipicamente não são esquizofrénicos, embora possa
ter um episódio psicótico breve.

Configurações das escalas 6, 7 e 8: Uma configuração frequente


envolve a escala 6 e 8 acima do resultado 80 e a escala 7 abaixo do
resultado 65. Esta configuração é por vezes designada como o “V”
psicótico. Os clientes que exibem esta configuração provavelmente são
emocionalmente retraidos, socialmente isolados, desconfiados, hostis, e
têm falta de insight acerca do seu próprio comportamento. Podem também
ter perturbações do pensamento, ilusões e alucinações. São usualmente
rotulados como psicóticos com o diagnóstico mais frequente de
esquizofrenia paranóide.

Escala 9 (Hipomania)
Originalmente desenvolvida para identificar pacientes com sintomas
hipomaníacos: euforia, discurso e actividade motora acelerada,
irritabilidade, fuga de ideias e breves períodos de depressão.
A escala 9 pode ser entendida como uma medida de energia física e
psicológica. Quando os resultados na escala 9 são elevados, características
sugeridas por outras escalas podem ser activadas.
Os resultados da Escala 9 são influenciados pela idade: os jovens tem
resultados superiores.
Esta escala é muitas vezes descrita como estando elevada em pessoas
com danos cerebrais. Embora algumas pessoas com danos cerebrais
possam demonstrar comportamentos hiperactivos e impulsivos,
virtualmente qualquer tipo de resposta emocional pode ocorrer em pessoas
com danos cerebrais, particularmente depressão.
T>80 ð episódio maníaco: actividade excessiva e sem propósito,
discurso acelerado, alucinações, delírios de grandeza, labilidade de humor,
fuga de ideias e confusão.
Resultados elevados, mas mais moderados, não estão associados a
sintomas psicóticos. Reflectem uma tendência para a actividade excessiva e
para a valorização excessiva e irrealista do próprio. São pessoas com muita
energia, faladoras que preferem a acção ao pensamento. Têm muitos
interesses e vários projectos em simultâneo, mas nem sempre os concluem.
São pessoas criativas, empreendedoras, com pouco interesse por
actividades rotineiras ou pelos detalhes. Aborrecem-se com grande
facilidade e a sua tolerância à frustração é muito baixa. Têm dificuldade no
controlo dos impulsos, têm episódios de irritabilidade, hostilidade e
explosões de agressividade. Têm um optimismo irrealista e um auto-
conceito grandioso. Têm tendência para abusar do álcool, das drogas e para
terem problemas com a lei. São sociáveis, gregárias e criam boa impressão.
No entanto, estabelecem relações superficiais em que tentam dominar e
manipular os outros que, rapidamente, se apercebem da sua natureza

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Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
pouco confiável. Apesar de exibirem excessiva auto-confiança referem
sentir-se insatisfeitos, tensos, nervosos e agitados. Por vezes, ocorrem
episódios de depressão.

Resulta
Interpretação
do T
Extremamente baixo. As pessoas com resultados extremamente
baixos nesta escala são descritas como apáticas, com pouca
energia, e desinteressadas. Tais pessoas usualmente estão
significativamente deprimidas independentemente do seu resultado
Inferior
na escala 2. A possibilidade de depressão séria deve ser considerada
a 38
quando esta escala está neste intervalo mesmo que o resto do perfil
esteja dentro dos limites normais. De facto, baixos resultados (T<35)
nesta escala são os melhores indicadores da presença de depressão
significativa, mais do que os resultados elevados na escala 2.
Baixo. Estes clientes têm uma baixa energia e nível de actividade
que pode reflectir circunstâncias situacionais tais como fadiga ou
depressão real. As pessoas normais com mais de 60 anos
Inferior frequentemente têm resultados no limite superior deste intervalo.
a 45 São consideradas pessoas confiáveis, honestas, maduras, e
conscienciosas. Frequentemente participam muito pouco nas
actividades sociais. Não é provável que tenham movimentos de
excitação ou falar demasiado.
Normal. Estudantes universitários normais e adolescentes têm
45-57 resultados no limite superior deste intervalo ou mesmo um pouco
superiores. Estes clientes têm um nível de actividade normal.
Moderado. Estes clientes são activos e energéticos. Restrições
58-64 externas no seu nível de actividade podem resultar em agitação e
insatisfação expressa explicitamente.
Elevado. Estes clientes são demasiado activos, emocionalmente
lábeis, e podem experienciar fuga de ideias. Embora o humor do
cliente seja tipicamente eufórico, podem ocorrer explosões
temperamentais. Estes clientes são impulsivos, podem ter uma
incapacidade de gratificação adiada, têm problemas em controlar o
65 e seu comportamento, e demonstram hostilidade e irritação. As
superior pessoas com resultados elevados nesta escala são descritas como
sendo impulsivas, competitivas, faladoras, narcísicas, amorais,
extrovertidas, e superficiais nas relações sociais. Podem demonstrar
características maniacas reais (com resultados mais elevados): fuga
de ideias, labilidade do humor, ilusões de grandeza, impulsividade e
hiperactividade.

Escala 0 (Introversão Social)


Originalmente desenvolvida para avaliar a tendência para o evitamento
de situações sociais e de responsabilidades.
É constituída por dois tipos de itens: itens que remetem para a
participação social e itens que reflectem dificuldades de ajustamento e
tendência para a auto-desvalorização.

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Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
Os resultados elevados reflectem introversão social, insegurança e
desconforto em situações sociais, timidez, reserva, evitamento. São
pessoas que se sentem melhor quando estão sozinhas ou com um pequeno
grupo de amigos. Não participam em muitas actividades sociais. Sentem-se
particularmente desconfortáveis com membros do sexo oposto. Tem pouca
confiança em si e são difíceis de conhecer. Têm uma grande sensibilidade
ao que os outros pensam sobre eles e controlam-se bastante, não
expressando directamente o que sentem. Aceitam a autoridade, são
passivas e submissas. São pessoas em quem se pode confiar,
convencionais, pouco originais, rígidas e com dificuldade em tomar
decisões. Têm tendência para se preocuparem e para se sentirem tensos,
irritáveis e ansiosos. Não têm muitos interesses, não têm grande energia,
por vezes têm episódios de depressão. Culpabilidade e preocupação com a
saúde são frequentes.
Resultados baixos surgem em pessoas extrovertidas, sociáveis,
amigáveis, faladoras. Têm uma grande necessidade de estar em grupo, são
activas, energéticas e expressam-se com facilidade e fluência. São
competitivas e desejam poder, estatuto e reconhecimento.
A elevação nesta escala tipicamente suprime o acting out visto na
elevação das escalas 4 e 9, enquanto que pode acentuar os
comportamentos ruminantes vistos com elevações nas escalas 2 ou 7 e
especialmente na escala 8.

Resulta
Interpretação
do T
Extremamente baixo. As pessoas com resultados extremamente
baixos nesta escala são descritas como sendo excêntricas,
Inferior
superficiais na sua relação com os outros, e têm falta de qualquer
a 35
intimidade real. Têm relações sociais muito superficiais, sem
qualquer profundidade real.
Baixo. Estes clientes são socialmente extrovertidos, sociais, e
socialmente equilibradas. As pessoas com resultados baixos nesta
escala são essencialmente descritas como extrovertidas. São
Inferior
sociáveis, demissionárias e versáteis nas suas interacções com os
a 45
outros. Elas participam em muitas actividades sociais. Podem ser
incapazes de gratificação adiada e ser emocionalmente
descontroladas.
Normal. Estes clientes relatam um equilibrio entre atitudes e
45-57
comportamentos extrovertidos e introvertidos.
Moderado. Estes clientes preferem estar sozinhos ou com um
58-64 pequeno grupo de amigos. Podem ter a capacidade de interagir com
os outros, mas geralmente preferem não o fazer.
65 e Elevado. Estes clientes são socialmente introvertidos, timidos e
superior inseguros. Os pacientes também são descritos como inseguros,
pessimistas, auto-depreciativos, e ansiosos nas suas relações com
os outros. Adicionalmente, retraem-se e evitam outros significativos,
o que serve para exacerbar os seus problemas visto que outros
poderiam ser capazes de ajudá-los. A probabilidade de acting out é
diminuida e a probabilidade de comportamento ruminativo é
41
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2

aumentada. A intervenção deve especificamente dirigir-se para a


tendência do cliente em retrair-se.

Configurações Clássicas
Perfil “Neurótico”
• Neurótico com
predomínio de queixas
somáticas.
• O perfil neurótico é
descendente.
• As escalas 1, 2 e 3
estão acima de T65 e são
as mais elevadas do perfil.
As escalas 7 e 8 também
podem estar acima de T65
e nestes casos o perfil é
mais grave.
• A elevação na escala 2
deve-se à ansiedade (não
havendo de facto depressão).
• É frequente a escala 7 estar mais elevada do que a 8 (na psicose acontece o
contrário).

Perfil “V de Conversão”
• As escalas 1 e 3 são
superiores à escala 2 (oito ou
mais pontos de nota T) e as
escalas 1 e 3 têm um
resultado T igual ou superior a
T65.
• Este V reflecte a presença
de sintomas de conversão.
• No perfil, outras escalas
podem estar elevadas, mas
não tão elevadas como as
escalas 1 e 3.
• A escala 2 baixa demonstra
ausência de ansiedade.
• Há uma conversão da
perturbação psicológica em tensões ao nível do corpo, dai as escalas 1 e 3
elevadas (predomínio de
queixas somáticas).
• Escala F baixa (medida da
turbulência emocional
baixa).

Perfil “Psicótico”
• O perfil psicótico é
ascendente.
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Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
• As escalas 6, 7, 8 e 9 estão acima de T65 e são as mais elevadas do perfil.
• Geralmente a escala F está elevada e a escala K baixa

Perfil “V Psicótico”
• As escalas 6 e 8 são
superiores à escala 7 (oito ou
mais pontos de nota T) e as
escalas 6 e 8 têm um
resultado T igual ou superior
a T65.
• Sugere a presença de
delírio.
• Se existe uma elevação na
escala 2 está presente uma
psicose esquizofrénica.
• Se a escala 6 tem um
resultado mais elevado do que a escala 8 está presente uma psicose delirante.

Perfil “V Passivo-Agressivo”
• Este perfil ocorre quando
as escalas 4 e 6 são iguais
ou superiores a T65 e a
escala 5 tem um resultado
abaixo de T50.
• Este perfil sugere
características de
personalidade passivo-
agressivas.
• Este é um perfil mais
frequente nas mulheres.
• A escala 5 baixa mostra
dependência e submissão.
• As escalas 4 e 6 elevadas
mostram hostilidade e agressividade.
• A diferença entre as escalas 4 e 6 (elevadas) e a escala 5 (baixa) é de cerca
de 15/20 pontos.

43
Avaliação Psicológica do Adulto: Módulo 2
Perfil “Estado-Limite”
• Todas ou quase todas
as escalas clínicas têm
resultados iguais ou
superiores a T65.
• A escala F apresenta
uma grande elevação.
• Este perfil sugere
Perturbação Estado-
Limite da Personalidade.

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