Você está na página 1de 7

A FUNDAÇÃO DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL

Embora tenha a Maçonaria brasileira, se iniciado em 1796 com a


Loja Cavaleiros da Luz, criada em Salvador, Bahia, e ainda com a Loja União
em 1800, sucedida pela Loja Reunião em 1802, no Rio de Janeiro, só em
1822, quando a campanha pela independência do Brasil se tornava mais
intensa, é que iria ser criada sua primeira obediência com jurisdição nacional,
exatamente com a incumbência de levar a cabo o processo de emancipação
política do País.
Aos 17 dias do mês de Junho de 1822, achando-se abertos os
augustos trabalhos da nossa Ordem, na Loja COMÉRCIO E ARTES NA
IDADE D'OURO, sob os auspícios do GRANDE ORIENTE DE
PORTUGAL, no grau de aprendiz, o irmão capitão JOÃO MENDES VIANA,
venerável da Loja Comércio e Artes, única até este dia regular no Rio de
Janeiro e que nessa ocasião resumia o povo Maçônico, reunido para
inauguração e criação do GRANDE ORIENTE BRASILIANO, em toda
plenitude de seus poderes.
Tomando assento no meio do quadro, em uma mesa preparada para
tal fim, estavam o Evangelho, o Compasso, o Esquadro, a Constituição e uma
Urna para coleta dos votos das Eleições dos Oficiais que se faria a seguir.
O 1º Grão Mestre da maçonaria Brasileira, foi o Irmão JOSÉ
BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA, sendo este nomeado por aclamação.
Logo após foi feita a eleição para os demais cargos, ficando a administração
constituída da seguinte forma:
- 1º Grande Vigilante - JOAQUIM GONÇALVES LEDO
- 2º Grande Vigilante - capitão JOÃO MENDES VIANA
- Grande Orador - cônego JANUÁRIO DA CUNHA BARBOSA
- Grande Secretário - MANOEL JOSÉ DE OLIVEIRA
- Grande Chanceler - FRANCISCO DA CHAGAS RIBEIRO
- Grande Cobridor - JOÃO DA ROCHA
- Grande Experto - JOAQUIM JOSÉ DE CARVALHO.
• A constituição Brasílica Maçônica, começou a ser escrita em 15 de
maio de 1822, a pedido do irmão Joaquim Gonçalves Ledo, ainda
na Loja Comércio e Artes.
• Também na mesma sessão, foi decidido que o rito Adonhiramita
adotado até então pela Loja Comércio e Artes, seria substituído
pelo Rito Moderno ou Francês, sendo este adotado pelo Grande
Oriente, ao contrário do que pensam muitos irmãos que o Rito
Oficial do Grande Oriente na época de Sua fundação seria o
Adonhiramita.
• O primeiro registro da intenção de se fundar a nova obediência, foi
uma carta escrita por Gonçalves Ledo ao seu irmão de sangue
Custódio ainda em Portugal datada de 1808.

Aos 21 dias do mês de Junho de 1822, já na Segunda Sessão do


Grande Oriente, dirigida pelo 1º Grande Vigilante JOAQUIM GONÇALVES
LEDO, consta que considerando já estar estabelecido o GRANDE ORIENTE
BRASILEIRO OU BRASILIANO, propôs que se cumprisse o requisito de
mandar erigir três Lojas Metropolitanas, e assim foi criada da Loja
COMÉRCIO E ARTES (nº01) mais Duas Lojas com os nomes de UNIÃO E
TRANQUILIDADE (nº 02) e ESPERANÇA DE NITERÓI (nº 03), as quais
deveriam ser seus membros escolhidos por sorteio a partir do quadro de
Obreiros da Loja Comércio e Artes. E assim que foram sorteados os
Veneráveis, procedeu-se ao sorteio dos demais irmãos, ficando estabelecido o
quadro das três Lojas.
• Vejam meus irmãos que ao contrário do que muitos pensavam, o
desmembramento da Loja Comércio e Artes, com a criação das
outras duas Lojas, não aconteceu antes da Fundação do Grande
Oriente e sim quatro dias depois, na sua Segunda sessão em 21 de
Junho de 1822.
• Na primeira sessão do Grande Oriente foi levantada a questão de
ser o sorteio dos membros que fariam parte de cada Loja, deveria
ser feito por divisão de graus, ficando cada Loja com o mesmo
número de irmãos graduados, o que não foi aceito por
GONÇALVES LEDO, então 1º Vigilante do Grande Oriente, ele
argumentou que o sorteio deveria ser independente dos graus que
cada irmão tinha sendo os irmãos que ocupariam cargos na
administração e não tinham o grau de mestre, estes receberiam por
comunicação o grau de mestre, sendo esta proposta aprovada, já
preparando o terreno para a entrada de D. Pedro I na Ordem.
• O Primeiro endereço do Grande Oriente na época de sua fundação
era um sobrado na esquina da rua São Joaquim (Marechal Floriano)
e Rua do Fogo (Rua dos Andradas), onde funcionava a Loja
Comércio e Artes.

Aos 8 dias do Mês de Julho de 1822 em sua quarta Sessão, ficou


determinado que os trabalhos de cada uma das oficinas, seriam iniciados com
os obreiros dela e que os das outras entrariam depois, porque era necessário
que cada obreiro fosse conhecido dentro de sua Loja, para que não fossem
apresentados Saco de proposições e nem que votassem assuntos não
pertenciam a sua Loja. Então resolveu-se que os irmãos da Loja nº1 usariam
uma roseta de fita branca no antebraço direito, a Loja nº 2 usariam uma fita
azul e a Loja nº 3, usariam uma fita vermelha. Para evitar irregularidades nas
informações foi também estabelecido que os futuros candidatos deveriam
responder a quatro pontos antes de adentrarem para a Ordem:
1- Estado civil: se é casado, que tratamento dá a esposa e a família e, se é
solteiro, que decência observa de costumes.
2- Emprego: que crédito tem, no desempenho de seus deveres civis e morais.
3- Política: quais os seus sentimentos pela causa do Brasil e de sua
Independência.
4- Costume em geral: que amor a beneficência e adesão à amizade.

• Nesta sessão como podemos observar foi criada a nossa sindicância


e na Quinta Sessão ficou decidido que o proponente (candidato)
não mais poderia fazer o seu pedido de iniciação e elevação, e que
o mesmo só poderia ser aceito com a assinatura própria e a de dois
Maçons, já que era grande o número de reprovações de propostas e
eram iniciados/ elevados, candidatos sem condições morais e sem
compromisso com a causa (Independência).

Aos 2 dias do mês de agosto de 1822, em sua nona sessão, é


apresentada a proposta pelo então Grão Mestre JOSÉ BONIFÁCIO DE
ANDRADA E SILVA de iniciação do então Príncipe Regente Dom PEDRO
DE ALCANTARA a que foi aceita com unânime aplauso e aprovada por
aclamação geral sendo este iniciado nesta mesma sessão.
Aos 5 dias do mês de agosto de 1822, em sua décima sessão,
presidida interinamente pelo 1º vigilante JOAQUIM GONÇALVES LEDO,
consta ter sido proposto e aprovado para o grau de Mestre, o aprendiz Dom
PEDRO DE ALCANTARA.
• Como foi dito anteriormente a jogada política se concretizava já
que D. PEDRO foi elevado ao grau de Mestre por comunicação.
• Na época havia a deficiência por falta de rituais dos graus, e com
isso não havia as cerimônias liturgicas que hoje fazemos.

Aos 9 dias do mês de Setembro de 1822, em sua Décima Quarta


sessão, dirigida pelo 1º Vigilante JOAQUIM GONÇALVES LEDO, que após
discurso inflamado, e com sólidas razões, fosse proclamada a nossa
Independência, propusera ainda o nosso irmão 1º vigilante que a proposta
fosse discutida para que não fosse tomada como precipitada e que só a
independência seria a salvação desta Pátria. Foi proposta também a colocação
de uma caixa de beneficência na sala dos Passos Perdidos, para que os irmãos
ficassem obrigados em todas as sessões que estivessem presentes, a lançar
metais, em sinal de sua caridade, perfazendo-se uma receita separada do
produto dessa caixa, para socorro as viúvas necessitadas e educação dos
orfãos carentes, proposta que foi aprovada com entusiasmo.
• Existe uma diferença dos calendário maçônicos, utilizados na época
com os de hoje, e por isso a data do pedido de independência
proposto por GONÇALVES LEDO, aparece após a realização da
mesma.
• Tem início no Brasil com a criação da Caixa de Beneficência, o
nosso Tronco de Beneficência/Solidariedade, que utilizamos até
hoje, nem sempre com os fins para que o mesmo foi criado.

Aos 4 dias do mês de outubro de 1822, em sua Décima Sétima


sessão presidida pelo 1º Vigilante JOAQUIM GONÇALVES LEDO na
ausência do Grão Mestre eleito JOSÉ BONIFACIO, presta juramento e
assume o Grão Mestrado o irmão D. PEDRO I e tendo o 1º Vigilante
GONÇALVES LEDO se pronunciado que a Maçonaria através do Grande
Oriente, tomou a iniciativa da Independência do Brasil, tendo sido alcançada
pelo trabalho de seus membros.

• Como a Décima Sexta sessão foi presidida por JOSÉ BONIFÁCIO


e na Décima Sétima Sessão já aparece DOM PEDRO I, fazendo seu
juramento e tomando posse, quando foi feita a eleição para
substituição do Grão Mestre? Se é que houve!
• Isto se resume em um golpe político aplicado em JOSÉ
BONIFÁCIO por GONÇALVES LEDO, já que ambos disputavam
a influência política sobre D. PEDRO I.

Aos 11 dias do mês de outubro de 1822, em sua Décima Nona


sessão, sob a presidência do irmão Grão Mestre PEDRO DE ALCANTARA,
após a expulsão do Irmão JOÃO FRANCISCO DE CAMPOS LISBOA, por
julga-lo indigno de ver a luz ficou determinado que além dos proponentes
também seus informantes fossem responsáveis pelos candidatos a iniciação.
Ficou também determinado que nas sessões econômicas de cada loja, só
poderiam fazer parte os seus Obreiros, e nunca visitantes.
• Acredito eu, que nesta sessão teve início a responsabilidade dos
Padrinhos e sindicantes de cada candidato indicado.
• Foi criada a nossa sessão de Finanças, que hoje fazemos.

Esses foram os resumos, das dezenove atas das sessões realizadas


pelo Grande Oriente e no dia 25 de outubro de 1822 conforme o termo de
encerramento Lavrado no livro de ouro do Grande Oriente, a obediência
suspendia, oficialmente seus trabalhos, em atenção a ordem do Grão Mestre,
datada de 21 de outubro de 1822 e dirigida ao 1º vigilante nos seguintes
termos:
Meu Ledo:
Convindo fazer certas averiguações tanto públicas como
particulares na Maçonaria, mando primo como Imperador,
segundo como Grão Mestre, que os trabalhos se suspendam até
Segunda ordem minha. É o que tenho a participa-vos agora.
Resta-me reiterar os meus protestos como irmão. Hoje mesmo
deve ter execução e espero que dure pouco tempo a suspensão
porque em breve consiguiremos o fim que deve resultar das
averiguações.
Ass. Pedro Guatimozin Grão Mestre, 21 de outubro de 1822.

Ledo todavia não cumpriu as determinações, preferindo manter


entendimentos com o Grão Mestre e Imperador, o qual logo depois
reconhecendo a atitude precipitada, enviou em 25 de outubro de 1822 ao 1º
vigilante a seguinte carta:

Meu Irmão:
Tendo sido outro dia suspendido nossos augustos trabalhos, pelos
motivos que vos participei, e achando-se hoje concluídas as
averiguações, vos faço saber que Segunda feira que vem os
nossos trabalhos devem recobrar o seu antigo vigor, começando
pela abertura do Grande Oriente em Assembléia Geral. É o que
por hora tenho a participa-vos, para que passando as ordens
necessárias assim o executeis.
Ass. Irmão Pedro Maçom Rosa Cruz, 25 de outubro de 1822.

• Havia na época uma disputa política entre entre LEDO e


BONIFÁCIO e a mesma acabou por fechar o Grande Oriente e não
sendo este reaberto conforme a carta enviada a Lêdo.
• D. PEDRO só fechou o Grande Oriente por causa de denuncias
feitas por JOSÉ BONIFÁCIO, de que LEDO havia feito D.
PEDRO jurar sobre uma Constituição Brasileira, que ainda não
havia sido feita e de ter colhido duas assinaturas de D. PEDRO em
documentos em branco.
• Antes de 25 de Outubro, LEDO foi deportado para Portugal, e o
Grande Oriente só foi reaberto em 1831, com a ida de D. PEDRO
para Portugal, não sem antes fechar o APOSTULADO, organização
anterior ao Grande Oriente que era presidida por BONIFÁCIO.

CONCLUSÕES:
- Nos nossos livros de História Gonçalves Lêdo merecia um destaque maior,
já que na causa da Independência este Irmão teve um papel tão importante
ou maior que o Irmão José Bonifácio.

- A Maçonaria Brasileira soube se Organizar nas épocas em que o País mais


precisou dela, digo: Independência, Industrialização, Abolicão,
Proclamação da Republica e tantos outros fatos importantes na Construção
deste País
- Meus Irmãos, temos que lembrar que nossos Irmãos de outrora fizeram a
sua parte, e que em momentos não tão distantes tivemos até alguns
Presidentes da República, mais após a implantação da Ditadura Militar
ficamos anestesiados, e não estamos notando que a Ditadura já acabou, e
que podemos novamente nos manifestar e participar ativamente da Política
do País, sem o medo de sermos fechados. Precisamos reorganizar a nossa
Maçonaria, pois de nada adianta termos Irmãos em cargos de destaque no
nosso País se não temos Organização, isso é, uma diretriz. Então porque
não seguirmos o caminho da Loja Comércio e Artes da qual faço um
pequeno resumo de algumas das suas principais atividades, dentre tantas:

- Fundadora do Grande Oriente Brasílico / Brasiliano (17/06/1822)


- Iniciou D. Pedro I nos augustos Mistérios (02/08/1822)
- Fundadora do Grande Oriente do Nacional Brasileiro /Passeio (1830)
- Voltou ao Grande Oriente Brasiliano, agora já com a denominação de
Grande Oriente do Brasil quando este foi reaberto (1831)
- Patrocinadora de diversas palestras de grande interesse para da maçonaria
e da comunidade;
- Engajou-se no projeto Maçonaria Contra as Drogas, dando novo rumo a
esta empreitada.
- termino este trabalho deixando uma pergunta para reflexão: O que
realmente queremos?

- Este trabalho não poderá ser considerado obra finita, podendo os


irmãos se assim quiserem, acrescentar, subtrair, substituir ou
discordar de parte ou todo, já que a finalidade do mesmo é a discussão
/ debate, do tema apresentado.

ASS. Sylvio Roberto de Menezes CIM. 191274


Loja nº 1305 – Barão de Cayrú
Bibliografia-
Os Maçons na Independência do Brasil - José Castelanni.
Trabalho sobre a Fundação da Loja Comércio e Artes do Irmão IVALDO
GONÇALVES LOBATO.
As cópias das 19 primeiras atas do Grande Oriente do Brasil, cedidas pelo
Irmão MARCOS, Past-venerável da Loja Comércio e Artes.

Rio de Janeiro – RJ – 30 de Maio de 2006.

Você também pode gostar