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Comportamento Mecânico dos Materiais

Prof. Marco Antonio Meggiolaro

Laboratório VI
Ensaio de Propagação de Trincas
Lucas Affonso Guerreiro – 1610578
Rio de Janeiro, 13 de junho de 2019

1. Objetivo
O objetivo do Ensaio de Propagação de trinca é fazer a análise experimental da taxa de propagação
de trincas por fadiga, da/dN, e dos fatores que influenciam a mesma, como o fator de intensidade
de tensões.

2. Introdução
A análise da vida residual de uma peça trincada é essencial para diversas aplicações de mercado
e de indústria. Após iniciada a trinca, fenômeno esse que pode ser previsto pode métodos diferen-
tes, como os métodos SN e 𝜀N, é importante estudar o seu comportamento de crescimento ao longo
do histórico de carregamento. A microtrinca é iniciada por movimentos de discordâncias e pelas
bandas de deslizamento, normalmente no ponto crítico da peça.
A Mecânica da Fratura (ou Mecânica da Integridade Estrutural) é empregada para avaliar a resis-
tência de estruturas ou componentes contendo trincas ou defeitos. A Mecânica da Fratura Linear
Elástica (MFLE), por sua vez, descreve a magnitude e a distribuição do campo de tensões (linear
elástico) na vizinhança de uma trinca. Em um primeiro momento, essa proposição foi amplamente
refutada pelos cientistas, já que estar-se-ia fazendo contas do regime elástico para um caso plásti-
cos. Entretanto, mais de tarde, a ideia foi confirmada, e significou uma verdadeira revolução na
mecânica da fratura.
O caso do avião F-111 talvez seja um dos
mais simbólicos nessa área de engenharia.
Em um momento de inúmeras inovações tec-
nológicas, como materiais, asas de geometria
variável, o avião era de necessidade urgente
para a Segunda Guerra, e entrou em produ-
ção antes que todos os possíveis errados pu-
dessem ser analisados. O projeto do avião foi,
portanto, baseado na filosofia Safe Life, que
leva em consideração as cargas cíclicas na
estrutura do avião. Por outro lado, este projeto
não leva em conta o efeito de uma trinca, in- Figura 1. Avião F-111.
troduzida em um avião específico e que não
seja detectada nas inspeções não-destrutivas. Quando se percebeu a limitação da filosofia utilizada,
já era tarde demais, já que havia produção em massa. Esse caso levou ao desenvolvimento da
filosofia de projeto tolerante ao dano, em que falhas, tais como uma trinca de 0,05 polegada, são
assumidas existir a priori em um componente crítico. O componente deve tolerar este defeito, resis-
tindo às cargas e sobrecargas de operação normal. O defeito não pode crescer até o tamanho crítico
antes da próxima inspeção. O intervalo entre as inspeções seria determinado por critérios de cres-
cimento de trincas.
Desde então, a tecnologia tem, cada vez mais, se desenvolvido e possibilitado determinação de
vidas estruturais mais precisas.
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3. Instrumentação e Metodologia
3.1. Instrumentos e Aparelhagem
A máquina de ensaio de fadiga utilizada foi uma INSTRON® 8874, com atuador servo-hidráulico
com dois graus de liberdade (há a possibilidade de carregamentos axiais ou torcionais). O atuador
servo-hidráulico, ao contrário dos controladores puramente hidráulicos ou elétricos, garante maior
estabilidade e velocidade na resposta da atuação. Observe a Figura 2 que apresenta um esquema
da malha de controle usada no experimento.

Figura 2. Ilustração da malha de controle do mecanismo.

Além disso, usou-se um dispositivo óptico, em uma mesa micrométrica, com a finalidade de medir
a variação do tamanho da trinca. A Figura 3 e a Figura 4 apresentam a máquina utilizada e o corpo
de prova.

Figura 3. Fotografia da máquina utilizada. Figura 4. Fotografia do corpo de prova padronizado.

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3.2. Metodologia do Experimento
O primeiro procedimento é a aferição das dimensões iniciais do corpo de prova. Logo em seguida,
o corpo é fixado à máquina de testes (por meio dos furos evidentes na peça), em que é inserida a
frequência de carregamento desejada. Ao longo do experimento, utiliza-se a lente e a mesa micro-
métrica para determinar o comprimento da trinca, que é relacionado a um determinado número de
ciclos passados, que é mostrado no computador.

4. Desenvolvimento Teórico
Fadiga é um tipo de falha mecânica, causada primariamente pela aplicação repetida de carrega-
mentos (tensões ou deformações) variáveis, sendo caracterizada pela geração e propagação lenta
e gradual de trincas que levam à ruptura e ao colapso súbito do componente.
Trincas são entalhes bastante afiados, cujo raio da ponta ρ → 0, muito comuns em estruturas e
componentes de máquinas, nas quais elas podem ser geradas durante a fabricação do material, na
fabricação ou na montagem da peça, por dano ou por características operacionais. O presente tra-
balho visa a detalhar o comportamento da propagação da trinca.
Nas vidas longas, o parâmetro que controla a taxa de propagação da trinca, da/dN, é chamado de
gama do fator de intensidade de tensões ΔK. Esse parâmetro também é função de como a trinca é
solicitada. Há, primariamente, três modos de solicitação, como mostra a Figura 5.

Figura 5. Modos de solicitação das trincas.

Em sua grande maioria, as trincas se propagam em modo I, isso é, perpendicularmente à máxima


tensão normal trativa, a fim de evitar o atrito nas suas faces durante a fratura. A Figura 6 apresenta
as parametrizações usadas no modelo de tensões no entorno das trincas.

Figura 6. Parametrização usada para descrever tensões em torno de uma trinca.

Por ser muito complicado o cálculo analítico de energia elástica, foi introduzido, na década de 1950,
o conceito de fator de intensidade de tensões para quantificar o campo das tensões em torno de
uma trinca numa peça predominantemente linear elástica.
Para o modo I de propagação, geralmente pode-se escrever o fator como:

𝐾𝐼 = 𝜎√𝜋𝑎 𝑓(𝑎/𝑤)

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onde 𝐾𝐼 é justamente o parâmetro linear elástico que quantifica o campo de tensões, 𝜎 é a tensão
(nominal) aplicada na peça, 𝑎 é o comprimento da trinca e 𝑓(𝑎/𝑤) é a função que descreve todas
as influências das geometrias da peça e da trinca e da forma do carregamento no campo de ten-
sões. Por ser função basicamente da geometria e das tensões, é possível tabelar-se os valores de
𝐾𝐼 para diversas geometrias, para que se torne mais fácil a sua utilização. Observe-se, entretanto,
que o uso dessa relação se restringe a pontos que não são tão perto nem tão longe da ponta da
trinca.
Para o corpo de prova utilizado no ensaio, o gama de fator de intensidade (relacionada ao gama de
carga aplicada) é dado por:
Δ𝑃 (2 + 𝛼)
Δ𝐾 = (0,886 + 4,64𝛼 − 13,32𝛼 2 + 14,72𝛼 3 − 5,6𝛼 4 ) Equação 1
𝑡√𝑤 (1 − 𝛼)32

onde 𝑡 é a espessura do corpo de prova, 𝑤 é uma dimensão característica normalizada do mesmo


e 𝛼 = 𝑎/𝑤, em que 𝑎 também é uma dimensão padronizada.
De maneira geral, os materiais na realidade não são lineares elásticos, e há zonas plastificadas nas
proximidades da trinca. E a validade do fator 𝐾 é feita quando essa zona plástica é pequena com-
parada à dimensão da peça. A quantificação de tenacidade, em casos que imediatamente antes da
fratura, a zona de perturbação inelástica é ainda bastante pequena, pode ser feita, e a fratura pre-
vista por um parâmetro 𝐾𝐼 = 𝐾𝐼𝐶 . Esses parâmetros foram padronizados pela norma ASTM E399
afim de mitigar divergências experimentais.
Em 1961, Paris, Gomez e Anderson foram os primeiros cientistas a preverem que a taxa de propa-
gação da trinca, da/dN seria controlado majoritariamente pelo gama do fator de intensidade de ten-
sões ΔK. Vários testes foram conduzidos e vários gráficos levantados até que se aceitasse a ideia
totalmente. Se analisarmos um gráfico que relaciona a taxa de propagação e 𝚫K para uma liga
metálica, seria possível observar três fases distintas de propagação, como mostra a Figura 7.

𝑑𝑎
Figura 7. Curva × Δ𝐾 típica para ligas metálicas.
𝑑𝑁

A fase I apresenta características descontínua e está limitada por um limiar de propagação chamado
Δ𝐾𝑡ℎ . A fase II é aquela em que a derivada (na escala logarítmica de ambas as grandezas) é apro-
ximadamente constante. A fase III apresenta crescimento da derivada até a fratura da peça. A regra
de Paris é usada para modelar a fase II da propagação da trinca e está apresentada na Equação 2
abaixo.

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da
= 𝐴Δ𝐾 𝑚 Equação 2
dN

onde 𝑨 e 𝒎 são parâmetros de ajuste dos testes de propagação de trincas por fadiga que dependem
do material.
A regra de Paris é muito simples de ser usada, e, por isso, muito vantajosa, e pode ser aplicada
tanto em projeto quanto na avaliação de integridade estrutural. Com os valores medidos em labo-
ratório, procura-se ajustar, na seção seguinte, os parâmetros A e m para o corpo de prova.

5. Resultados e Análise de Resultados


O primeiro passo foi a aferição das dimensões iniciais características do corpo de prova. A Figura
8 e a Tabela 1 apresentam as dimensões e seus valores.

Tabela 1. Dimensões iniciais do corpo de prova.

𝒕 8 mm
𝒘 40 mm
𝒂 8 mm

Figura 8. Dimensões do corpo de prova.

A carga de tração aplicada foi alternada com amplitude de Δ𝑃 = 8400 𝑁. O ensaio foi iniciado e,
assim, foram anotados 27 pares de informações dados por comprimento 𝑎 e ciclos corridos N. O
teste não foi realizado até a ruptura do corpo. Como o objetivo principal é a modelagem da fase II
da propagação, não há interferência nos resultados. O Gráfico 1 apresenta o resultado, em escala
logarítmica dos pares medidos e a reta que melhor enquadra os pontos, obtida pelo método dos
mínimos quadrados. Observe que os valores de 𝑑𝑎/𝑑𝑁 foram obtidos pela variação da grandeza 𝑎
(𝑎𝑖 − 𝑎𝑖−1 ) e da grandeza N (𝑁𝑖 − 𝑁𝑖−1 ). O fator de intensidade foi calculado de acordo com a Equa-
ção 1.
Relação 𝚫K e Taxa de Propagação da Trinca

Gráfico 1. Resultados em escalara logarítmica.

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A partir da reta apresentada no gráfico acima, conclui-se que os valores dos parâmetros do modelo
de Paris são 𝐴 = 1,2709 × 10−12 e 𝑚 = 3,2552. Os valores esperados estão satisfatórios para a
modelagem da fase II segundo Paris. A dispersão dos dados, bem características de ensaios de
fadiga, também é esperada. A fonte de erro mais provável é aferição visual do comprimento da
trinca a cada instante, isso é, pode haver um erro intrínseco a cada uma das medições. Como o
cálculo de Δ𝐾 envolve uma expressão bastante complexa e não linear, pequenas variações de va-
lores de 𝑎 podem causar grandes diferenças.

6. Conclusão
O procedimento experimental foi bastante satisfatório e foi possível a modelagem de uma curva
𝑑𝑎
× 𝑁 de forma bastante razoável, ratificando a teoria de que o fator de concentração de tensões
𝑑𝑁
é dominante para definir a taxa de propagação de trincas. Além disso, foi possível observar como
testes desse tipo são importantes em análise estrutura e no projeto tolerante a dano. Ainda assim,
é sugerido o levantamento de dados em maior quantidade para mitigar possíveis erros aleatórios.
Os objetivos do experimento foram atingidos de forma satisfatória, e a base teórica foi fundamen-
tada com o ensaio.

7. Bibliografia
Shigley, J. E., Projeto de Engenharia Mecânica, Bookman, Michigan – USA, 2005.

DE CASTRO, Jaime T. P.; MEGGIOLARO, Marco Antônio. Fadiga: Volume I - Iniciação de Trincas,

https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/3496/3496_3.PDF
Acesso em 13/06/2019

https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/24982/24982_3.PDF
Acesso em12/05/2019

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