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CENÁRIO DESCRITIVO DA ESCOLA-CAMPO ANÉSIO DE ALMEIDA LEITE

Residentes

Cleiton Ferraz Souza


Denise Emerenciana de Souza
Fernanda Pires Lucrécio
Guilherme Nascimento
Giorgio Piedade Ferrari
Hadryann Cezar Rodrigues
Kathielle de Aguiar Marques
Thiago de Oliveira Gomes

JACAREZINHO (PR)
2018
1. CULTURA ESCOLAR

O primeiro passo para atuar dentro de um colégio é conhecê-lo em suas


diversas dimensões. A partir da cultura escolar do Colégio Anésio, pensando
primeiramente o ensino fundamental, pode-se ressaltar a relação
docente-discente. Esse relacionamento é, de uma maneira geral, saudável. Os
alunos respeitam e cumprem dentro de seus limites e habilidades as atividades
solicitadas pela preceptora Maria Luíza. Obviamente, houve momentos de
desacordo e desacato nas aulas, mas olhando como um todo as turmas
observadas semanalmente, os discentes se envolvem razoavelmente com a
professora, apesar da constante distração dos mesmos com assuntos e
problemas distantes das propostas das aulas de História.

Essas aulas têm como elemento condutor da prática docente o livro


didático. Ele conduz a professora teoricamente e na prática também,
utilizando-se das atividades lá propostas. Mas, apesar dessa posição central
na prática educativa, os manuais didáticos estão em falta e com condições não
muito boas de conservação, portanto não são levados para a casa, ficam na
biblioteca, onde são retirados e devolvidos com constância, de acordo com o
início e término das aulas de História. Ocorre também por parte da docente
Maria Luiza a solicitação para que os alunos façam pesquisas sobre
determinadas temáticas relacionadas a um tema histórico da aula. Há também
o controle sobre a realização total ou insuficiente das atividades dos
estudantes, por meio disso a professora orienta-os sobre suas condições
avaliativas (se estão com notas baixas ou altas, se estão realizando
corretamente as atividades e com que frequência). Em relação à condução da
aula, Maria Luiza utiliza-se na medida do possível da aproximação entre os
conteúdos programáticos e a realidade social-econômica-política dos
discentes. Outros materiais e possibilidades metodológicas além da tríade
lousa-giz-livro didático, como por exemplo os recursos audiovisuais, são bem
problemáticos para serem incorporados nas aulas de História diante das aulas
“picadas” e das dificuldades de se levar os alunos até a sala, montar os
equipamentos e por fim utilizar-se dos mesmos.

Em relação a cultura escolar do ensino médio, o livro didático se faz


presente nessa instituição. Utilizado como manual a ser seguido, o livro guia o
professor em seu trabalho, e o docente o utiliza como auxiliar para desenvolver
atividades com intuito de analisar o conhecimento dos alunos. A preceptora
Maria Luiza utilizou em algumas situações na sala de aula outros materiais
didáticos como filmes, jogos, analise de documento entre outros, com a
finalidade de distanciar-se da tradicional utilização do livro didático como único
meio de ensinar.

Dentro das salas de aulas foi averiguado um importante ponto: a relação


entre professor e alunos. É comum vermos em ambientes escolares o difícil
convívio entre ambos, seja por desrespeito das partes, seja pelo demasiado
autoritarismo do professor ou pela falta dele. O que foi observado nas salas do
ensino médio a respeito desse assunto é justamente o posicionamento da
professora como autoridade, onde é perceptível a relação de ambas as partes.
Ao mesmo tempo que a professora exige respeito, ela se aproxima dos seus
alunos sem dar intimidade a ponto de dizer que a professora é amiga dos
alunos, mas no sentido de conhecer os alunos, de estar presente,
representando assim mais que uma autoridade docente.

Em sala, são utilizados pela professora vários mecanismos afins de


verificar o conhecimento dos alunos. Através de trabalhos individuais ou em
grupos, como provas e atividades desenvolvidas no caderno, a professora
consegue avaliar as condições de seus alunos. Além de utilizar desses
mecanismos para alertar e auxiliar os discentes que encontram mais
dificuldades.

Embora haja todo um esforço por parte da professora em relação a


produção de conhecimento de forma alternativa e buscando sempre maior
aproveitamento e conhecimento dos alunos, muitos são os fatores que
acabam sendo empecilhos para esse desenvolvimento geral. Começando
pelos livros didáticos, que alunos só tem acesso na escola, pois são poucos
exemplares e por alguns motivos a equipe geral considera que seja melhor que
os manuais fiquem na biblioteca da escola e sejam utilizados somente em sala
de aula com o auxílio da professora. Dessa forma, o aluno só tem acesso ao
conhecimento nos ambientes escolares. A estrutura da escola também
impossibilita o acesso diário aos recursos audiovisuais, por falta de
equipamento e espaço.

Esses são alguns dos fatores, porém tem muitos outros que impossibilitam
o funcionamento idealizado pelos professores para o bom aproveitamento
escolar e maior alcance do conhecimento. Todo esse conjunto de observações
das séries finais nos possibilita entender a cultura escolar do Colégio
apresentado.

2. PLANO POLÍTICO PEDAGÓGICO

Qual é a real situação do Colégio Anésio atualmente? Qual escola que se


tem, com base no PPP? Essa instituição se localiza no bairro Aeroporto, uma
localidade de periferia, onde sua população moradora é majoritariamente de
baixa renda. Essa realidade local fez com que o colégio recebesse uma
atenção maior do governo. A escola atende pessoas de faixas etárias que
variam de 10 a 26 anos e convive com uma alta taxa de evasão escolar. Do
ponto de vista físico, o PPP ressalta a precariedade dos espaços físicos da
escola (muitos necessitam de ampliações e reformas), principalmente as salas
de aula, que na média abarcam cerca de 35 alunos, número esse que alguma
situação já chegou a 39, atuando nos três períodos: matutino, vespertino e
noturno. Os materiais para uso pedagógico estão sempre em falta. A
instituição de ensino está sempre em busca de suprir esses déficits, que
atingem tanto o corpo docente quanto discente, esse último apresenta uma
grande distorção idade-ano, ou seja, muitos estudantes não estão de acordo
com as séries escolares que frequentam.

O PPP da instituição ressalta que a escola busca sempre praticar a


democracia em seu cotidiano, a partir das diversas diferenças existentes na
realidade brasileira (gênero, raça, sexualidade e etc.). Mas apesar disso, o
documento afirma que não recebeu ainda nenhum aluno com deficiência física,
motora, auditiva, visual ou mental. Somente estudantes com deficiências
intelectuais e de aprendizagem, que mesmo assim tem a seu dispor apenas
uma sala de apoio, insuficiente para auxiliar plenamente esses discentes.

Do ponto de vista intelectual, o plano pedagógico afirma que os alunos


dessa instituição apresentam um grave problema em relação à prática da
leitura. Há uma grande deficiência nesse quesito, que atinge todas os saberes
escolares, é uma dificuldade interdisciplinar.

O PPP destaca que os docentes do colégio Anésio têm uma realidade bem
complicada, marcada principalmente pelo excesso de carga horária e pela já
citada superlotação de turmas. Isso desemboca numa situação em que a
maioria dos docentes acabam optando por uma metodologia de aula mais
expositiva.

Quais são as projeções do Colégio Anésio? Qual escola se quer, a partir do


PPP? A partir da leitura crítica do mesmo, que entrou em vigor no ano de 2015,
entende-se que o colégio pretende formar sujeitos (por meio da educação) que
estejam aptos a interagirem, problematizarem e intervirem em sua realidade,
em sua comunidade, além de ultrapassarem suas próprias barreiras,
dificuldades. A instituição quer promover uma sociedade mais justa, ética. A
mesma busca promover a luta contra as desigualdades e a incorporação das
diferenças presentes na sociedade no espaço escolar, portanto, pretende-se
transformar a escola num espaço que aceite todos os indivíduos, não importa
suas limitações, origens e condições, para que possam exercer plenamente a
cidadania no Brasil.

Ainda no PPP, é possível perceber uma presença teórica de Paulo Freire na


compreensão de qual prática educacional deve-se efetivar na escola-campo
Anésio. No que se refere a relação docente-discente, pautando-se em Freire, o
documento reafirma a importância da troca de saberes tanto do lado dos
alunos tanto dos professores. Ambos, portanto, deverão aprender
conjuntamente. O projeto pedagógico ressalta ainda que os professores devem
compreender o universo de cada discente, para ajudá-los em suas dificuldades.

De uma maneira sucinta, com base no plano pedagógico da escola-campo


Anésio, a instituição de ensino que se pretende construir é a com menores
taxas de evasão e reprovação, e com altos índices de qualidade, para que se
formem alunos que tenham em si principalmente valores e ações como o
respeito incondicional pela humanidade em sua ampla diversidade, a
criticidade, a cidadania plena, a contribuição para com a sua comunidade, a
valorização da educação e etc.

Quem são os sujeitos da escola? Qual o contexto que estão inseridos? Os


indivíduos que frequentam escola estão inseridos em um contexto de baixa
renda. Segundo o Projeto Político Pedagógico (PPP), O bairro tem um elevado
índice de analfabetismo, de desemprego, de violência e de uso/tráfico de
drogas. Os alunos e outros membros da comunidade estão sempre sujeitos a
essas possibilidades, dentro da escola ou da própria casa. Muitos dos
discentes chegam ao 6° ano sem os conhecimentos básicos de leitura e
escrita. E esse problema está diretamente ligada a uma das deficiências
apresentada pela grande maioria dos alunos, a interpretação de texto.

3. OS RESULTADOS NO IDEB

O IDEB é um indicador que utiliza de informações de desempenho em


exames institucionais, como a Prova Brasil, avaliações restritas às disciplinas
de português matemática, e dados sobre aprovação escolar. Outros
indicadores também são utilizados para nortear o que seria a qualidade da
educação brasileira, como indicadores de rendimento, nível socioeconômico,
complexidade de gestão, entre outros.

O indicador de rendimento é pautado nos cálculos das taxas de aprovação,


reprovação e abandono escolar que se baseiam em dados sobre o rendimento
escolar dos estudantes. Já o indicador de nível socioeconômico (INSE) é
formulado através de um questionário disponibilizados às famílias com a
finalidade de compreender o nível socioeconômico que se encontram os
núcleos familiares e pensar políticas públicas para a localidade e a instituição
de ensino, entretanto o questionário se baseia em bens elementares e
quantidade de produtos de consumo nas residências, muitas vezes acaba não
refletindo a real situação socioeconômica dos estudantes.

Temos também o indicador de complexidade de gestão da escola, que se


pauta em quatro características: porte da escola, número de turnos de
funcionamento, complexidade das etapas ofertadas pela escola e o número de
etapas/modalidades oferecidas pela rede de ensino. Essas características num
todo elaboram o que seria uma maior ou menor complexidade de gestão,
porém analisar o que seria a complexidade de uma gestão não se pode resumir
apenas em poucos atributos como o indicador propõe, outros fatores precisam
ser considerados no qual tenha relação com a forma organizacional da escola.

Os indicadores de adequação da formação docente apresentam uma


classificação dos docentes que considera a formação acadêmica e a disciplina
que leciona. Já o indicador de esforço docente leva em consideração o número
de turnos que cada professor atende. Podemos considerar que o desempenho
de cada escola e dos docentes analisados apenas por um único indicador não
representa a realidade da educação, principalmente por ser determinados de
forma quantitativa.

Segundo os dados do IDEB, o Colégio Anésio de Almeida Leite é


apresentado com plenas condições estruturais e funcionais de atuação. Os
indicadores se mostram condizentes em alguns aspectos com a realidade da
escola-campo, entretanto durante o período de ambientação podemos
perceber algumas contradições entre o que é apresentado pelos índices
elaborados pelo IDEB e as reais condições que o Colégio se encontra. Esses
indicadores apresentam dados como número de alunos que o colégio atende,
as divisões entre os anos finais do fundamental e do ensino médio e os
horários de funcionamento, matutino, vespertino e noturno, que retratam as
informações estruturais da escola-campo. O nível socioeconômico da
instituição atinge o grau 3 segundo o IDEB, uma média considerada regular. Em
relação ao nível de complexidade de gestão tem uma nota variante de 1 a 7, o
colégio Anésio atinge o nível 4.

Quando se comparam os dados do IDEB com a ambientação de nós


residentes, percebe-se algumas diferenças do que está no documento e como
é feito. Tanto na dinâmica do Colégio como na estrutura, vemos que realmente
existe biblioteca, sala de informática, rede de internet, equipamentos
audiovisuais, área verde, dependências e vias adequadas a alunos com
deficiência. Porém os espaços citados se encontram em situações precárias e
acabam não sendo ocupados pelos estudantes pela situação que se
encontram. Consideramos que mesmo indicando inúmeras coisas que
compõem a estrutura escolar, os índices estão distantes da realidade da
escola e principalmente da cultura escolar presente no colégio.

O IDEB se torna um indicador importante quando através dele podemos


perceber alguns fatores como evasão e desempenho escolar. Entretanto se
torna insuficiente para pautar a qualidade da educação pois ignora fatos como
o modo de organização e cultura da escola, a gestão escolar, o nível
socioeconômico, cultural e educacional das famílias, dentre outros fatores.

Podemos colocar como exemplo os índices de aprovação de alunos


oriundos de Jacarezinho no vestibular da UENP, onde o nível de aprovação dos
reincidentes do Colégio Anésio de Almeida Leite é mais elevado perto dos
demais colégios da cidade. Isso ocorre justamente pela cultura escolar
aplicada na instituição, que visa não somente a formação básica, mas também
o ingresso no ensino superior, conforme a fala da preceptora Maria Luiza, que
relata os caminhos seguidos por ex-alunos em suas carreiras profissionais, que
varia de profissões de nível superior a nível básico. Isso contraria a lógica do
IDEB.

Analisando os índices podemos perceber que a responsabilidade da


educação não fica em torno de governos e sim sobre as escolas e o sistema de
ensino. Os próprios indicadores como o de “adequação da formação docente”
e “esforço docente” apresentam muito bem essa responsabilidade que é dada
a escola e aos docentes, caso a instituição não bata as metas estipuladas pelo
IDEB, esses índices aparecem culpabilizando professores por falta de esforço
na prática docente e por falta de formação especializada, como se fossem
fatores únicos para pautar a qualidade ou não da educação.

Essa responsabilização da escola e do sistema de ensino entra na lógica


mercadológica, no qual a avaliação tem um papel fundamental na
implementação dessa perspectiva neoliberal. Para que isso aconteça, formas
de responsabilizar setores da educação e um maior controle são necessários,
através de adequações da gestão escolar, pautando-se em valores de
produtividade e metas a serem atingidas. Portanto para que a educação
atenda os objetivos do mercado a escola precisa modificar toda sua forma
organizacional e cultural, para reproduzir os valores e a lógica do sistema
privado.

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