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RITUAL (Ritual - do Introduction to Performance Studies) Tradugao de Aressa Rios ‘Ritual, jogo e performance ‘eformances — sejam elas performances artisticas, esportivas ou a vida dié- ‘stem na ritwalizagao de sons e gestos. Mesmo quando pensamos que sendo espontaneos e originais, a maior parte do que fazemos ¢ falamos ‘2 e dita antes ~ “até mesmo por nés”. As performances artisticas mol- /smarcam suas apresentacées, sublinhando o fato de que o comportamento é “nao pela primeira vez”, mas feito por pessoas treinadas que levam para se preparar e ensaiar. A performance pode ser caracterizada por .ento altamente estilizado, assim como no Kabuki, kathakali, ballet, ow dramaticas dos povos nativos australianos. Ou pode ser congruente .ento da vida didria, como no naturalismo. Além das performan- , existem os esportes € os entretenimentos populares, que variam 20 rock, ¢, claro, os papéis da vida didria. ‘Me texto O que é performance”, eu apontei que essas performances consistem ientos duplamente exercidos, codificados e transmissiveis. Esse nto duplamente exercido & gerado através de interacdes entre o © ritual. De fato, uma definigao de performance pode ser: comportamento condicionado/permeado pelo jogo. Rituais so uma forma de as pes- ‘embrarem. Rituais s40 memérias em ago, codificadas em agées. Rituais == ajudam pessoas (e animais) a lidar com transig6es dificeis, relagdes = performance’ foi publicado na revista O Percevejo, n. 12, editada por Zeca Ligiéro, SC. Unirio, 2004. Ritual (do Introduction fo Performance Studies) 4“ ambivalentes, hierarquias € desejos que problematizam, excedem ou violam as normas da vida didria. O jogo da as pessoas a chance de experimentarem temporariamente o tabu, o excessivo e 0 arriscaclo. Vocé pode nunca ser Edipo ou Electra, mas vocé pode performé-los “numa peca”. Ambos, ritual e jogo, levam as pessoas a uma “segunda realidade”, separada da vida cotidiana. Esta realidade é onde elas podem se tornar outros que nao seus eus diérios. Quan- do temporariamente se transformam ou expressam um outro, elas performam ages diferentes do que fazem na vida didria. Por isso, ritual e jogo transfor- ‘mam pessoas, permanente ou temporariamente. Estes so chamados “ritos de passagem”, ¢ alguns exemplos sao: iniciagBes, casamentos e funerais. No jogo, as transformacées so tempordtias, limitadas pelas regras do jogo. As artes do espetaculo, esportes e jogos sio lidicas, mas frequentemente se utilizam dos processos do ritual. Variagoes de ritual Nés nfo podemos passar um dia sequer sem executar dezenas de rituais. Sao rituais religiosos, rituais da vida didria, rituais de papéis sociais, rituais pro- fissionais, rituais politicos, de negécios e do sistema judicial. Mesmo os animais performam rituais. Muitas pessoas identificam o ritual com as praticas religiosas. Na religiao, rituais dio forma ao sagrado, comunicam doutrina e moldam individuos den- tro de comunidades. Se pessoas decretam a maioria dos rituais seculares da vida cotidiana, dificilmente notam o que esto fazendo (na vida didria, é dificil distinguir entre “ritual”, “hAbito” “rotina”); porém, rituais religiosos so cla- ramente marcados. Nés sabemos quando nés os performamos. Bilhées de seres humanos encontram o ritual diretamente através religiao. Evidéncias de rituais religiosos remontam aos primeiros periodos da historia humana e até mesmo a pré-histéria. Diversos sitios rupestres e cemitérios que datam de 20.000 ~ 30.000 anos atrds esto cheios de objetos de “arte” que espe- cialistas concordam serem de significado ritual. Em todo 0 mundo, a época atual estd saturada de religido e rituais religiosos. Existem a ceia de PAscoa, as cinco prostragées didrias em dire¢ao & Meca dos mulcumanos, a Eucaristia Catélica Romana, a ostentaco de uma chama de cinfora no pice do puja (oferenda) hindu, as dancas, miisicas ¢ os discursos de uma pessoa possuida por um orixa de Umbanda ou Candomblé - e muitos mais a listar, ainda que uma pequena fragio deles. Rituais religiosos sao tao variados como as préprias religides. 50 Performance ¢ Antropologia de Richard Schechner es! pera a Princesa Turca Mariana, Tambor de Mina, Para. Foto © Zeca Ligiéro, 2011, ai maia para 0 Deus do Fogo, Sclola, Guatemala, Fota © Zeca Ligiéro, 2012. Ritual (do Introduction to Performance Studies) 51

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