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ESTADO DE ALAGOAS

PREFEITURA MUNICIPAL DE FEIRA GRANDE


PROCURADORIA DO MUNICÍPIO, Tel.: 3524-1133
Rua do Comércio, s/n – Centro – Feira Grande/AL – CEP: 57.340-000

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR RELATOR DO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DE ALAGOAS

Ação de ilegalidade de greve nº 0802839-70.2019.8.02.0000

MUNICÍPIO DE FEIRA GRANDE, devidamente qualificado nos autos do


processo em epígrafe, por conduto de seus advogados legalmente constituídos, vem,
mui respeitosamente, à ínclita presença de V. Exa., em face de petição apresentada pelo
réu, opor as seguintes e breves considerações, pugnando, ao final, pela imediata
concessão da tutela de urgência para se decretar o fim do movimento paredista.

Pois então.

Excelência, não houve cessação das negociações, pois, estava designada


uma reunião para o dia 24/05/2019, e, não obstante, o Sindicato réu decretou a greve
e não cessou a paralisação. Fato este que, de per si, torna ilegal a greve deflagrada.
Segunda-feira, dia 27 de maio de 2019, inclusive, houve reunião com a presença do
Ministério Publico local, o Município e o Sindicato, a fim de deliberar sobre a greve.

Como enfatizado, o direito de greve é regulamentado pela Lei nº 7.783/89,


a qual estabelece em seu art. 3º que o direito de greve poderá ser exercido quando
“frustrada a negociação”.

Da forma como os fatos se desenrolaram, patente a inobservância do já


mencionado art. 3º da Lei nº 7783/89, cuja venia pedimos para transcrevê-lo, verbis:

Art. 3º - Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de


recursos via arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho.

No caso, além da reunião do dia 25/05/2019, está designada uma nova


reunião para o dia 03/06/2019, com a presença do MP, do Sindicato e do Município
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com sua equipe técnica, para discussão quanto à possibilidade da concessão ou não de
reajuste, restando demonstrado que as negociações ainda não se encerraram e a
ofensa ao art. 3º da Lei 7783/89.

A afirmação de que o Sindicato já oficiou 09 vezes o Município de Feira


Grande sem resposta também é mentirosa, pois atenta diretamente contra a prova dos
autos, donde se extraem diversos ofícios encaminhados pelo Município ao Sindicato.

E mais, a greve foi deflagrada sem comunicação prévia ao Município, sem


a juntada do estatuto e sem a apresentação da ata da assembleia que a deflagrou,
estando, portanto, em manifesta ilegalidade o movimento paredista. Inclusive, na
petição que ora se rebate também não foi anexado o estatuto do sindicato.

Tal documento é de vital importância para a demanda. Eis que é de tal


instrumento que se observa a legitimidade do sindicato, a regularidade na convocação
da Assembleia Geral, a instauração da greve ante o quórum necessário para o
acolhimento da paralisação.

É através do Estatuto do sindicato, que se analisa se há regulamentação


específica sobre a possibilidade de convocação de Assembleia Geral, seja ordinária,
seja extraordinária, para tratar de assunto relacionado a movimento grevista. O que
havendo ausência de tais previsões viola-se o disposto no § 1º do art. 4º da Lei
nº 7.783/89, in verbis:

Art. 4º Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na


forma do seu estatuto, assembleia geral que definirá as
reivindicações da categoria e deliberará sobre a paralisação
coletiva da prestação de serviços.
§ 1º O estatuto da entidade sindical deverá prever as
formalidades de convocação e o quórum para a deliberação, tanto
da deflagração quanto da cessação da greve.

Então, a presente situação ora exposta, retrata uma das condições que
força a considerar a ilegalidade de greve deflagrada pelo sindicato municipal.

Conforme se observa da própria ata anexada pelo Sindicato, datada de 15


de maio, não houve comunicação expressa com 72 horas de antecedência, nem a
referida ata fora enviada ao município, acompanhada do estatuto e da lista de presença.
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O Município tomou conhecimento da greve decretada no dia 15 e no dia 16,


durante diversas manifestações do Sindicato, em flagrante violação ao art. 13 da Lei nº
7783/89, veja-se:

Art. 13. Na greve, em serviços ou atividades essenciais, ficam as


entidades sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso,
obrigados a comunicar a decisão aos empregadores e aos usuários
com antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas da
paralisação.

Importa ressaltar, ainda, que a citada comunicação prévia, além de uma


obrigação é revestida de formalismo, devendo necessariamente conter a justificação
sobre a causa do movimento paredista, o lapso temporal de paralisação do aludido
movimento, além de aclarar a forma de atendimento emergencial durante a greve e a
garantia da prestação dos serviços indispensáveis à comunidade.

E também não se publicou o edital de convocação da assembleia para


decretação da greve, muito menos se notificou o município quanto a este edital. O
edital anexado aos autos não tem prova de sua publicação tempestiva. Destaque-se
que o edital deve ser publicado na forma e com a antecedência prevista no estatuto.

Dessa forma, está patente a ilegalidade da greve, decretada na surdina.

A relação de nomes anexada à petição do Sindicato não se presta a


demonstrar o atendimento ao percentual de 30%, pois foi elaborada de forma
unilateral, quando, na verdade, Excelência, não consta a assinatura de nenhum dos
professores citados, de tal forma que não se sabe se estão de fato trabalhando ou não.

No Município de Feira Grande a realidade é outra. As aulas estão suspensas


e prejudicadas em decorrência da greve, o que é prova cabal e inafastável de que o
percentual de 30% está sendo descumprido.

Do mesmo modo, Excelência, a mera indicação de nomes, sem horário de


trabalho, sem assinatura, sem a lotação, nada diz a respeito do cumprimento do
percentual e até mesmo impede o controle e a fiscalização pelo Poder Público.

EM NENHUM MOMENTO NAS REUNIÕES EM QUE SE DISCUTIU A GRAVE SE


TRATOU SOBRE MANUTENÇÃO DE PERCENTUAL MÍNIMO.
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Outrossim, segue anexa ao presente uma planilha elaborada pela


Secretaria Municipal de Feira Grande, a qual atesta o descumprimento do percentual
de 30%, em ofensa ao Art. 11 da Lei nº 7783/89, que é explícito ao determinar que
sejam assegurados, durante a greve, a manutenção dos serviços essenciais:

Art. 11 - Nos serviços ou atividades essenciais, os Sindicatos, os


empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum
acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços
indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da
comunidade.

Por último, vale dizer que o pleito do Sindicato de reajuste não pode ser
atendido, sob pena de violação a Lei de Responsabilidade Fiscal, uma vez que o
Município está acima do limite de gastos com pessoal, que o percentual mínimo de
gastos em educação (25%) vem sendo cumprido, que o percentual mínimo de gastos de
60% dos recursos do FUNDEB com profissionais do magistério também vem sendo
cumprido, inclusive, a previsão de aplicação (sem reajuste) para este ano é de 71% de
todo o montante do FUNDEF apenas para custeio de remuneração dos professores.

Ora, se o Município de Feira Grande não descumpre nenhum dispositivo de


Lei quanto aos professores (não atrasa salário, paga a todos os profissionais acima do
piso, gasta 25% em educação, aplica mais de 70% dos recursos do FUNDEB com o
pagamento de salário dos professores), qual o verdadeiro motivo da greve?

E mais, se o Município está acima do limite de gastos com pessoal e não


pode conceder o reajuste, como se pode manter o movimento grevista? Seria
irresponsável e temerário conceder reajuste na atual conjuntura financeira do
Município e do país.

Tudo isso está devidamente demonstrado no relatório financeiro dos


recursos do FUNDEB. Se for concedido o reajuste o próprio fundo está inviabilizado e o
total de recursos do FUNDEB será utilizado para pagamento de magistério.

Além de tudo, o Sindicato requer um reajuste de aproximadamente 16% a


incidir sobre o salário de todos os professores do Município de Feira Grande, conforme
se verifica das fotos abaixo, extraídas do facebook do SiNDSFEIRA e de líderes do
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movimento grevista, o que se mostra totalmente desarrazoado e desproporcional, além


de acarretar um impacto financeiro anual de mais de 2 milhões de reais.

Por todas essas considerações, mostra-se patentemente ilegal a greve


deflagrada pelo SINDSFEIRA, razão pela qual deve este Tribunal determinar o fim do
movimento paredista e o imediato retorno dos professores a atividade em sala de aula.

Termos em que, pede deferimento.

Feira Grande, 29 de maio de 2019.

Flávio Augusto Brandão Cesar


OAB/AL nº 12.516

Rubens Marcelo Pereira da Silva


OAB/AL nº 6638

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