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PAIXÃO PELA VERDADE – a coerência intelectual do


evangelicalismo
 Alister McGrath
McGrath

INTRODUÇÃO

A palavra “evangelicalismo” continua a evocar imagens do anti-intelectualismo.

Desde a sua emergência como presença importante no cristianismo global


depois da Segunda Guerra Mundial, pelo menos grande parte do movimento
evangélico não tem visto engajamento teológico sustentado como prioridade presente
em sua agenda substancial. Por que isso?

Quatro razões principais podem ser apresentadas:

1. O lega
legado
do fundam
fundament
entali
alista
sta
O evangelicalismo ainda retém, em alguns cantos, a reputação de ser
intelectualmente pouco profundo.
A presente fixação do movimento na cultura terapêutica estado-unidense do
“sentir-se bem” que é igualmente culpada pela fraqueza intelectual do movimento.

2. A dominância
dominância do pragmati
pragmatismo
smo no evangelicalis
evangelicalismo
mo
A natureza fortemente pragmática do movimento levou a uma ênfase no
crescimento da igreja, pregação do sentir-se bem e estilos de ministério informados
em grande parte pela psicologia secular.
O evangelicalismo se tem tornado um movimento em massa precisamente
porque os evangélicos estiveram preocupados em identificar e promover seu apelo
popular.

3. O secu
secular
larism
ismo
o da academ
academia
ia
Há uma percepção até bem difundida dentro das igrejas de que a teologia
acadêmica, em grande parte, perdeu quaisquer ligações que um dia pode ter tido com
a missão, preocupações e vida da igreja.
 Teólogos acadêmicos ocasionalmente se referem ao evangelicalismo como
ingênuo.
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4. O elitism
elitismo
o da teolo
teologia
gia acad
acadêmic
êmica
a
O distanciamento que a academia toma das realidades da vida cotidiana está
ligado em grande parte, pelo menos na percepção popular, ao elitismo da própria
academia.
O evangelicalismo precisa assegurar que sua preocupação com o apelo popular
nunca seja ganha ou mantida lançando-se fora as raízes teológicas profundas da fé
cristã, que lhe fornece estabilidade e profundidade por meio das divisões entre
gerações. Uma teologia puramente “acadêmica” é elitista e irrelevante; uma teologia
populista pode ter apelo à massa sem ter profundidade nenhuma. Teologia entendida
acertadamente, diz respeito à profundidade intelectual e espiritual e ao poder de
durabilidade.
Em consequência da falta de importância dada à preocupação de cristãos
comuns, por parte dos teólogos acadêmicos, e da pouca profundidade da teologia
populista, seria bom que evangelicalismo incentivasse a emergência de reflexão
teológica séria sustentada de um ponto de vista compromissado dentro da
comunidade cristã, e visse os teólogos como crentes que pensam por si e por outros,
dentro da comunidade da fé.
Os melhores intelectuais podem existir e operar fora da academia.

Nesta obra decidi não adotar a posição defensiva. Em vez disso proponho-me a
expor a coerência da visão evangélica de teologia, e tratar criticamente com seus
rivais contemporâneos. Reconheço plenamente que as perguntas críticas dirigidas
contra a visão evangélica do empreendimento teológico no contexto acadêmico não
podem ser ignoradas. Contudo, desejo poder apresentar uma visão evangélica para a
teologia, sem ser forçado constantemente a defensiva, por causa das implicações
negativas que isso tem para a subsequente apresentação dessa visão.
Esse livro, portanto, representa uma exploração crítica, mas também positiva,
dos fundamentos intelectuais, da coerência e da credibilidade do evangelicalismo.

Definição operante de Evangelicalismo:

1. Um enfoque,
enfoque, tanto devocion
devocional
al como teológico
teológico,, na pessoa
pessoa de Jesus Cristo,
Cristo,
especialmente sua morte na cruz;
2. A identificaçã
identificação
o da Escritura
Escritura como
como autoridade
autoridade suprema
suprema em matéria de
de
espiritualidade, doutrina e ética;
3. Uma ênfase
ênfase na conversão
conversão ou no “novo nascime
nascimento”,
nto”, como
como uma experiência
experiência
religiosa que transforma a vida;
4. Uma preocupação
preocupação em
em compartilhar
compartilhar a fé,
fé, especialment
especialmente
e por meio de
evangelização.

CAPÍTULO 1 - A SINGULARIDADE DE JESUS CRISTO


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O Cristianismo é singular entre todas as religiões do mundo. A razão da sua


singularidade é a figura histórica que se constituiu no seu centro – Jesus Cristo.

O Evangelicalismo é enfático em afirmar não meramente a singularidade de


Cristo, mas também a sua natureza definitiva; no entanto, a afirmação daquela é o
primeiro passo importante na defesa dessa última.

Há muito tempo o evangelicalismo é compromissado com a noção de uma


revelação particular que tem validade universal.

Neste capítulo inicial, exploraremos o entendimento evangélico do lugar de


 Jesus Cristo em relação à fé cristã.

A autoridade de Jesus Cristo

Para o evangelicalismo, Jesus Cristo é de importância constitutiva e definitiva


para o cristianismo; retém autoridade intrínseca fundamentada e enfocada nele
mesmo e em sua obra.

A autoridade de Cristo reside em seu ensino. A autoridade desse ensino não é


inerente, mas deriva de sua correlação com princípios morais já existentes. Qualquer
autoridade que ele possua é derivativa, em vez de ser inerente.

O evangelicalismo é fortemente contra cultural a esta altura; em um contexto


cultural ocidental no qual o direito que o indivíduo tem de criar os próprios mundos é
afirmado vigorosamente, o evangelicalismo declara ser um movimento sob a
autoridade e soberania de Cristo. Uma das características principais da visão do
mundo modernista é o direito de dominar.

Modernismo e domínio

O evangelicalismo é fortemente contracultura, defendendo o direito


fundamental do cristianismo de ser dominado por Cristo, em vez de dominá-lo à luz
dos costumes sociais transitórios contemporâneos.

A insistência evangélica na autoridade de Jesus Cristo não é, portanto, sobre


uma servidão auto imposta, mas sobre um compromisso libertador para com quem
nos livra de sermos escravos da opressão de um mundo faminto por poder.
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A importância de Jesus Cristo

A compreensão evangélica da importância de Jesus Cristo é que ele é tanto


constitutivo como ilustrativo da vida cristã. Em outras palavras, a existência cristã só
é possível na base da vida, morte e ressureição de Jesus Cristo; e a natureza e
conformação dessa existência são em si incorporadas em sua vida, e por ela,
inspiradas e informadas.

Cinco aspectos do entendimento cristão:

1. A importância revelacional de Jesus Cristo:


Para os cristãos, Jesus é a personificação e a auto revelação de Deus. No
cerne da fé cristã está uma pessoa viva, não um livro.
O evangelicalismo representa uma tentativa inflexível e séria de levar todos
os nossos conceitos de Deus e de nós mesmos a serem criticados à luz de
como e em que Deus deseja ser conhecido.
A noção de revelação coloca um desafio direto à autonomia humana.

2. A importância soteriológica de Jesus Cristo:


O novo testamento afirma que a salvação só se torna possível e disponível
por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Nossa preocupação é enfatizar que a morte e ressurreição são vistas como
de importância básica para o evangelho cristão. Talvez um dos temas mais
evidentes do Novo Testamento seja o papel fundamental da cruz em relação
à salvação.
A centralidade da cruz de Cristo é tema principal da teologia e
espiritualidade evangélicas.
a. A cruz é vista como a base exclusiva da salvação.
b. A cruz é tratada como o ponto inicial da teologia autenticamente cristã.
c. A cruz é vista como o centro de todo o pensamento cristão.

3. A importância mimética de Jesus Cristo.


 Jesus Cristo não é somente a base da salvação; Ele encarna os contornos da
vida redimida. Isso não significa que se deva pensar em Jesus Cristo
puramente como um exemplo de homem a quem os cristãos são obrigados a
imitar.
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Imitação é, portanto, o fruto e não a precondição da fé. Tornar-se cristão é


começar o processo, não tanto de conformar-se, como de ser conformado, a
Cristo. Neste processo, não somos nós que atuamos; a atuação é de Deus.
Para o cristão, viver ek pisteôs é viver de acordo com a estrutura da
existência estabelecida e definida pela história de Jesus Cristo, e refletida na
história de Paulo.

4. A importância doxológica de Jesus Cristo:


Compromisso não é meramente o resultado natural de uma experiência e do
conhecimento autenticamente cristão a respeito de Deus; antes, é a marca
comprovadora dessa experiência e conhecimento.
A ênfase evangélica a respeito do senhorio de Cristo tem implicações para o
evangelismo.

5. A importância querigmática de Jesus Cristo:


O conteúdo da proclamação cristã é Jesus Cristo.
O conteúdo cristológico da proclamação cristã é minimizado nos escritos de
Rudolf Bultmann, Gerhard Ebeling e, especialmente Paul Tillich.
 Jesus é visto aqui como exemplo de fé, em lugar de ser visto como seu
objeto. Na proclamação da igreja, é transmitida a fé de Jesus, não a fé em
 Jesus.
Há um fundamento e motivação cristológicos para a evangelização, que o
evangelicalismo nunca viu como extra opcional para uns poucos
selecionados, mas como integral para a vida e testemunho da igreja. A
identidade de Jesus Cristo é tal, que faz a evangelização ser um aspecto
essencial da resposta de crentes, tanto individual como corporativamente, à
sua pessoa e obra.

Estas cinco considerações estão por trás da afirmação cristã decisiva de que
Deus se revelou em Jesus Cristo, que é o fundamento e critério da teologia evangélica.

Conclusão

Para os evangélicos, a teologia cristã é primeira e, sobretudo preocupada com a


identidade e importância de Jesus Cristo, afirmando e reconhecendo a particularidade
de sua cruz e ressurreição, e rejeitando qualquer tentação de cair em generalidades.

Um dos aspectos mais inconfundíveis do evangelicalismo é a sua afirmação dual


da importância de permanecer em um mundo enquanto, simultaneamente,
permanece-se distinto de o mundo. E o recurso central que distingue a igreja do
mundo é Jesus Cristo.
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A compreensão evangélica do íntimo relacionamento entre Jesus Cristo e a


Escritura é tal, que um apelo a Cristo é simultaneamente um apelo a Escritura, assim
como um apelo à Escritura é um apelo a Cristo. Esta observação nos leva à ênfase
evangélica sobre a autoridade da Escritura, para a qual poderemos, agora, nos voltar.

CAPÍTULO 2 – A AUTORIDADE DA ESCRITURA

O princípio da suficiência da Escritura é de importância central para o


Evangelicalismo.

 Talvez nesse ponto que o evangelicalismo mostra mais claramente sua


continuidade teológica e espiritual com a Reforma, a sua preocupação de assegurar
que a vida e o pensamento da comunidade cristã estão fundamentados em, e
continuamente reavaliados à luz da Escritura. Contudo isso não pode ser entendido
como significando que o evangelicalismo é “uma religião de um livro”. Antes, o
evangelicalismo enfoca-se na pessoa e obra de Jesus Cristo, afirmando a centralidade
e soberania de Jesus Cristo em todas as matérias de fé e vida.

Contudo há uma ligação inextricável e íntima entre a palavra de Deus


encarnada e a palavra de Deus na Escritura, e que Jesus Cristo torna-se conhecido
para nós por meio do testemunho da Escritura, que por sua vez está centralizado em
sua pessoa e obra. Esse ponto é tão importante que podemos examiná-lo em maior
detalhe.

A Escritura e Jesus Cristo

A Escritura é vista como um canal, pelo meio do qual Deus se auto revela em
 Jesus Cristo. Embora a Escritura seja portadora dessa auto revelação em Cristo, ela
não deve ser identificada diretamente com essa auto revelação. Ela não é Jesus Cristo.

A compreensão evangélica de autoridade da Escritura enfoca-se


particularmente na pessoa e obra de Jesus Cristo.

Evangélicos observam que o próprio Jesus Cristo via a Escritura (em seu caso o
Antigo Testamento) como tendo sido entregue por Deus ao homem.

Não é questão de ou a Bíblia ou Cristo, como se esses pudessem ou devessem


ser separados. Há uma ligação orgânica essencial entre os dois. Mostramos honrar a
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Cristo, tanto ao reconhecer como verdadeiras as Escrituras que ele mesmo recebeu,
como quando admitimos serem as que a igreja nos transmitiu um testemunho de
Cristo divinamente inspirado.

Em segundo lugar, e decorrendo do acaba de ser dito, a cristologia e autoridade


escritural são inextricavelmente ligadas, em que é a Escritura que nos traz a um
conhecimento de Jesus Cristo.

O mesmo Deus que deu Jesus Cristo de as Escrituras como testemunho de


Cristo. É precisamente pela palavra escrita da Escritura que nós, que vivemos depois
de Cristo, temos acesso à Palavra viva de Deus, que nos é entregue na história.

A autoridade da Escritura

A Escritura estava no coração da devoção e pensamento cristãos.

Para dizer a verdade, o número de cristãos que consideram a Escritura como


autoridade está aumentando; o número dos que, como simpatizantes de tendências
mais liberais, têm se afastado das formas do cristianismo biblicamente centrado está
desaparecendo. Se há uma crise, esta diz respeito à maneira em que essa autoridade
é articulada e formalizada no nível teológico, com certas abordagens mais antigas
sendo agora vistas como respostas condicionais a evoluções culturais gerais,
particularmente na época do Iluminismo.

A insistência cristã na autoridade da Escritura reflete a determinação de não


permitir que nada além da herança cristã se torne norma para o que é
verdadeiramente “cristão”.

Reconhecer a autoridade da Escritura é, pois, algo profundamente libertador.


Livra-nos da exigência escrava que nos faz seguir cada tendência cultural, e todas
elas, e oferece-nos uma estrutura pela qual podemos  julgá-las.

Recuperar a Bíblia permiti-nos imitar a Cristo, em vez do mais recente capricho


de uma cultura fragmentada e confusa.

Permitir que nossas ideias e valores tornem-se controlados por qualquer coisa
ou pessoa que não a auto revelação de Deus na Escritura é adotar uma ideologia, em
vez de uma teologia; é tornar-nos controlados por ideias e valores cujas origens se
acham fora da tradição crista – e potencialmente tornar-nos escravizados por eles.
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Uma teologia que tem base em valores, quer sejam radicais ou conservadores,
tirados somente do mundo secular, torna-se impotente para criticar esse mundo.

Abordagens rivais à autoridade

 Temos quatro áreas em questão:

1. Cultura
2. Experiência
3. Razão
4. Tradição

As duas primeiras são características de abordagens “liberais” para a teologia;


aflitas com a particularidade da fé cristã, elas tentam basear teologia em
fundamentos “universais”. Começamos considerando que autoridade se pode atribuir
à Cultura.

1. Cultura:
Alguns escritores liberais têm argumentado que a teologia deve buscar sua
legitimação e justificativa pública engajando-se com a cultura ocidental.
Isso implica em uma universalidade teórica para com “o mundo moderno” e
para com “a cultura ocidental” que está ausente na realidade.
O “espírito da época” acaba por mostrar-se bastante efêmero, conduzindo a
uma janela igualmente breve de credibilidade para teologias que se baseiam
em costumes práticas sociais contemporâneas.

2. Experiência:
A experiência é um termo impreciso.
Relaciona-se ao mundo interno e subjetivo da experiência, como oposto ao
mundo externo da vida cotidiana.
 Tem enfatizado a importância dos aspectos subjetivos da religião em geral, e
do cristianismo em particular.
Essa preocupação com experiência humana é associada particularmente
com existencialismo, que tem procurado restaurar uma percepção da
importância da vida interior de indivíduos tanto para a teologia como para a
filosofia.
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Duas abordagens principais podem ser observadas:

2.1. A abordagem que se tornou especialmente associada com os


escritores liberais, que argumenta que a experiência provê um recurso
fundamental para a teologia cristã.
2.2. A abordagem tradicional, associada ao evangelicalismo, que
argumenta que a teologia cristã oferece uma estrutura interpretativa pela
qual a experiência humana pode ser interpretada.

A teoria “experimental-expressiva”, segundo Lindbeck, vê as religiões,


inclusive o cristianismo, como manifestações públicas e culturalmente
condicionadas, e afirmações de formas pré-lingüísticas de consciência,
atitudes e sentimentos.

A principal objeção a essa teoria, assim explicada, é sua óbvia incorreção


fenomenológica gritante.

Em primeiro lugar devemos notar a insistência enfática dentro de pelo


menos uma linha de tradição cristã: a experiência e realidade são, pelo
menos potencialmente, para ser opostas de maneira radical.

Em segundo lugar, há uma aparente suposição de que a presente


experiência de um indivíduo, seja qual for ela, constitui-se no primeiro dado
da religião.

Em terceiro lugar, uma questão séria exige atenção com respeito ao


“conteúdo” ou “referente” de uma experiência.

Segundo essa abordagem, a experiência é um explicandum, algo que em si


requer ser interpretado. A teologia cristã oferece uma estrutura pela qual as
ambiguidades da experiência podem ser interpretadas. A teologia visa a
interpretar a experiência. É como uma rede que podemos lançar sobre a
experiência, a fim de capturar seu sentido. A experiência é vista como algo
para ser interpretado, em vez de algo que em si é capaz de interpretar. A
teologia cristã visa assim a dirigir-se a, interpretar e transformar a
experiência humana.

Primeiro, a teologia se dirige a experiência. Segundo, a teologia interpreta a


experiência.
3. Razão:
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Com o surgimento do Ilusionismo veio à demanda de que a sabedoria deve


ser universalmente acessível. A ideia de um conhecimento “privilegiado” de
Deus, mediado apenas pela revelação, foi rejeitada por bases morais. Como
a revelação não era universal, argumentou-se, Deus estava causando
problemas morais por limitar a revelação à pessoa de Jesus Cristo, ao texto
da Escritura, ou ao domínio da igreja. O Ilusionismo, argumentou-se,
qualquer sugestão dessas deveria ser rejeitada como formadora de um
“escândalo de particularidade”

Esse conhecimento tinha de ser universalmente acessível, em todas as


culturas, contextos históricos e regiões geográficas. Para o Ilusionismo, a
razão fornecia exatamente um recurso universalmente válido. Todas as
pessoas tinham uma faculdade racional; portanto, todas podiam usá-la, e
assim ter acesso ao conhecimento de Deus.

A esta altura, precisamos dar ênfase à diferença entre “razão” e


“racionalismo”, que podem parecer idênticos para alguns. Razão é a
faculdade básica humana de pensar, baseada em argumento e evidência. É
teologicamente neutra, e não apresenta nenhuma ameaça à fé – a não ser
que seja vista como a única fonte de conhecimento sobre Deus. Então,
torna-se racionalismo, que é uma dependência exclusiva somente sobre a
razão humana, e uma recusa de permitir que qualquer peso seja dado à
revelação divina. A teologia cristã clássica, incluindo toda a teologia
evangélica responsável, faz uso completo da faculdade humana do raciocínio
– por exemplo, em ponderar bem as implicações de certos aspectos da auto
revelação de Deus.

Como foi que essa notável – e, precisa ser dito, totalmente mal colocada –
confiança na razão em matéria de religião se desenvolveu? Três estágios
podem ser identificados, cada um deles levando naturalmente para o que se
segue:

3.1. Inicialmente, foi argumentado que, como o evangelho era racional,


era inteiramente apropriado demonstrar que o cristianismo fazia sentido
e se apoiava em fundamentos completamente razoáveis.
3.2. Até a metade do século XVII, especialmente na Inglaterra e
Alemanha, uma nova atitude começou a desenvolver-se. O Cristianismo,
argumentava-se, era racional. Razão é capaz de estabelecer o que é
certo sem precisar qualquer assistência da revelação; cristianismo tem
de seguir, sendo aceito onde endossa o que a razão tem a dizer, e sendo
descartado onde segue o próprio caminho.
Esta abordagem ao cristianismo (ou, mais acertadamente, essa forma de
deísmo tingido com cores palidamente cristãs) trata de Deus como uma
ideia, uma construção da mente humana. Deus é algo postulado, uma
ideia que geramos dentro da nossa mente, e depois escolhemos chamar
de “Deus”. Criamos essa ideia. É obra da nossa mente. Mas o
cristianismo tradicional argumentava que Deus não podia ser
simplesmente postulado desse modo cruamente racionalista. Deus tem
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de ser experimentado, ele tem de ser encontrado de frente. Ele é alguém


que nos engaja; e, engajando-nos, força-nos a reavaliar a ideia que
fazemos Dele. Mas o Deus da pura razão está preso dentro dos limites de
mentes humanas. E mentes pequenas contribuem para um Deus
pequeno.
3.3. Finalmente, esta posição racionalista foi empurrada até a sua
conclusão lógica.

4. Tradição:
Para alguns escritores a “tradição” tem bastante autoridade. Tradição seria
entendida aqui como o que designa uma doutrina ou crença tradicional, que
tem força de autoridade por causa da sua antiguidade.
A ideia de “tradição” é de importância para o evangelicalismo moderno. Os
evangélicos têm tido sempre a tendência de ler a Escritura como se fossem
os primeiros a fazer isso. Precisamos lembrar que outros já estiveram lá
antes de nós, e já a leram antes que nós o fizéssemos. Esse processo de
receber a revelação escritural é “tradição” – não uma fonte de revelação
somada a Escritura, e sim um modo particular de se entender a Bíblia que a
igreja cristã tem reconhecido como responsável e confiável. A Escritura e a
tradição não são, pois, para serem vistas como duas fontes alternativas de
revelação; em vez disso, são coinerentes. A Bíblia não pode ser lida como se
nunca tivesse sido lida antes. As histórias e liturgias das igrejas
constantemente nos fazem lembrar que a Escritura já foi lida, avaliada e
interpretada no passado.

“Tradição” é assim entendida acertadamente (por exemplo, pelos


reformadores, como Lutero) na forma de uma história de discipulado – e
leitura, interpretação e luta com a Escritura. Tradição é uma disposição de
ler a Escritura, levando em conta as formas em que esta foi lida no passado.
É uma percepção da dimensão geral da fé cristã, sobre um período extenso
de tempo, que põe em dúvida o individualismo superficial de muitos
evangélicos. Há mais na interpretação da Escritura do que qualquer crente
pode individualmente discernir.

É uma disposição para atribuir peso aos pontos de vista dos que nos
precederam na fé, o que provê lembranças fortes da natureza corporativa da
fé cristã, o que inclui a interpretação da Escritura.

Autoridade bíblica e crítica bíblica

O movimento crítico bíblico enfocou a atenção na Bíblia como um livro humano


escrito por autores humanos.
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O que dizer, porém, dos achados críticos que têm parecido contradizer a
autoridade divina da Escritura? Os evangélicos têm respondido a essas descobertas de
duas maneiras. Negativamente, têm notado as limitações do método crítico;
Positivamente, têm reconsiderado aspectos de seu entendimento de autoridade
bíblica.

Autoridade bíblica e experiência pessoal

Um elemento final em qualquer exposição de autoridade bíblica é o de sua


convicção subjetiva – uma ideia expressa de maneiras bem diferentes como o
“ressoar do toque da verdade” (J.B. Phillips) ou o “testemunho interno do Espírito
Santo” (João Calvino). Quando a Bíblia é recebida e ensinada como a Palavra de Deus,
ela fala às necessidades e situações pessoais com um poder e relevância que
confirmam a autoridade inerente que lhe foi dada por Deus.

A Escritura, como já vimos, possui uma dimensão fortemente objetiva, em que


ela nos contra sobre somo as coisas são; possui também um componente subjetivo,
por meio do qual oferece transformar nossa vida interior – uma oferta que, na
experiência evangélica, é mais do que justificada, e leva a uma ênfase na
evangelização como meio pelo qual outros podem compartilhar dessa mesma
“amizade transformadora” (James Houston). Como Lutero afirmou, nós lemos a
Escritura não simplesmente para saber dos comandos de Deus ( mandata Dei), mas
para encontrar o “Deus que comanda” ( Deus mandantus), e ser transformados como
resultado disso.

A noção de “teologia bíblica”

Segundo Gabler, a “teologia bíblica” era para ser entendida como uma
disciplina puramente histórica e descritiva, enquanto que a “dogmática” era uma
disciplina normativa ou prescritiva.
Estudar “teologia bíblica” tornou-se um exercício em história cristã,
examinando, em muito, a teologia de escritores bíblicos do mesmo modo como se
poderia estudar a teologia do judaísmo primitivo patrístico ou do segundo-templo.

A teologia sistemática não trata apenas de repetir afirmações ou temas bíblicos,


mas de pôr à mostra a configuração completa do pensamento do qual individualmente
eles dão testemunho.
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Escritura e narrativa

 Terminamos esta análise do papel da Escritura no pensamento evangélico


enfocando uma questão de importância considerável na erudição bíblica recente: o
reconhecimento da posição primária do gênero narrativo dentro da Escritura.

O fato de muita da própria Escritura fazer uma narrativa tem sido omitido. Por
quê?

Um fator que parece ser de especial importância nesse respeito é a maneira em


que o evangelicalismo é responsivo diante de seu contexto intelectual.

Revelação diz respeito aos oráculos de Deus, aos atos de Deus, e à pessoa e
 presença de Deus.

Reduzir a revelação a princípios ou conceitos é suprimir o elemento de mistério,


santidade e maravilha na auto manifestação de Deus.

Reconhecer a qualidade narrativa da Escritura permite que seja recuperada a


plenitude da revelação bíblica.

A Bíblia não articula um conjunto de princípios abstratos, mas aponta para uma
vida vivida, uma existência histórica específica, como que em algum sentido
incorporando e dando substância a tal conjunto de princípios.

Narrativas são baseadas em história, em ações, possibilitando que evitemos


pensar no cristianismo em termos de abstrações universais, e, em vez disso,
alicerçando-o no terreno sólido das contingências de nossa existência histórica. Nossa
visão é formada e informada pela história de Jesus de Nazaré, relembrada na
celebração eucarística de sua morte e ressurreição e nos benefícios entendidos e
trazidos, os quais reconhecemos como incorporando a forma ou molde de nossa vida
e comunidades como cristãos.

Há sim um relacionamento dinâmico entre a doutrina e a narrativa bíblicas.


Essa narrativa possui uma subestrutura interpretativa, dando mostra de afirmações
doutrinárias. É evidente que há estruturas conceituais, ligadas a estruturas narrativas,
dentro da Escritura: essas funcionam como pontos iniciais para o processo de geração
de estruturas conceituais mais sofisticadas, no processo de formulação doutrinária.
Com base nessas sugestões escriturais, marcadores e sinalizadores de caminhos
bíblicos, afirmações doutrinárias podem ser feitas, e ser então empregadas como uma
estrutura conceitual para a interpretação da narrativa. A narrativa é relida e re-
visionada à luz dessa estrutura conceitual, no curso da qual modificações à estrutura
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são sugeridas. Há, portanto, um processo de interação dinâmica, de feedback , entre


doutrina e Escritura, entre a estrutura interpretativa e a narrativa.

Narrativas precisam ser interpretadas corretamente; a doutrina cristã oferece a


estrutura conceitual pela qual a narrativa da Escritura é interpretada. Narrativas
exigem interpretação. A narrativa da Escritura não é nenhuma exceção.

A doutrina fornece a estrutura conceitual pela qual a narrativa bíblica é


interpretada.

O princípio sola Scriptura é, em última análise, uma asserção da primazia da


narrativa fundamental da Escritura sobre qualquer estrutura de conceitualismos que
ele possa gerar. A Reforma poderia razoavelmente ser interpretada como um reexame
atrasado da estrutura medieval católica de conceitualismos à luz de sua narração
generativa; similarmente, o slogan da Reforma, ecclesia reformata, ecclesia semper 
reformanda , poderia ser interpretado como uma afirmação da necessidade de
correlacionar continuamente à narrativa generativa e os conceitos resultantes.

CAPÍTULO 3 – EVANGELICALISMO E PÓS-LIBERALISMO

A estratégia liberal de reconhecer normas e fontes de autoridade teológica


derivadas de fora da revelação cristã é vista ser algo como um cavalo de Tróia,
permitindo que ideias e valores do mundo ganhem uma presença e influência
imerecida e nada bem-vinda dentro do cristianismo.

A característica peculiar do pós-liberalismo pode estar localizada em sua


rejeição dos projetos totalizadores da modernidade.

 Três seguintes características fundamentais do pensamento pós-liberal:

1. A primazia da narrativa como uma categoria interpretativa para a Bíblia;


2. A primazia hermenêutica do mundo criado pelas narrativas bíblicas sobre o
mundo da experiência humana;
3. A primazia da linguagem sobre a experiência
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Definindo liberalismo

 Talvez a característica mais distinta do movimento seja o seu acomodacionismo


- isto é, a sua insistência em que doutrinas cristãs tradicionais devem ser reafirmadas
ou reinterpretadas a fim de harmonizá-las com a tendência da época.

A abordagem fortemente fundacionalista do liberalismo ocidental clássico


resulta em sua tarefa de uma busca programática por base universal de assuntos
socialmente importantes como moralidade e religião.

Não há nada distintivamente liberal sobre ser academicamente sério e


culturalmente informado.

O resultado dessa abordagem é bem simples: silencia os cristãos, proibindo-os


de terem quaisquer “insights” distintos que precisem ser ouvidos em público.

O liberalismo acabou tornando o secularismo digno de crédito para o


cristianismo em vez de ser ao contrário. O pós-liberalismo evita esse desastre
apologético.

A apologética é assim entendida como fundamentada em e controlada pela


teologia sistemática, com cada e toda estratégia apologética sendo vista como
provisória e heurística, respondendo à situação particular que está sendo tratada.

A apreciação de Lindbeck sobre o evangelicalismo

O critério fundamental aqui é que palavras humanas não podem definir


experiências adequadamente, mas podem assim mesmo apontar para ela, como
sinalizadores.

A linguagem da teologia cristã funciona sob-restrições semelhantes às que


afetam a poesia: ela é obrigada a expressar em palavras, coisas que por sua natureza
desafiam redução a essas palavras; apesar disso, existe uma ressonância fundamental
entre palavras e experiência.
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Para caricaturar a doutrina cristã, então, como mero jogo de palavras ou como
uma tentativa de reduzir o mistério de Deus a proposições é deixar de apreciar a
maneira em que as palavras nos servem.

A dimensão cognitiva da doutrina cristã é a estrutura sobre a qual a experiência


cristã é apoiada, o canal por meio do qual é transmitida. É um esqueleto que dá força
e forma à carne da experiência.

Como uma língua é correlacionada com uma forma de vida (como


Wittergenstein colocou em relação a “jogos de linguagem”), uma tradição religiosa é
correlacionada com a forma de vida que ela gera e reflete.

O que é verdade?

A teologia é essencialmente interessada na descrição de regras intrabíblicas


para se falar com Deus, Cristo e assim por diante. Essas regras não são estabelecidas
pela teologia; já são dadas no material bíblico em si. Nesse sentido a teologia não
introduz nada de novo ao material bíblico, mas simplesmente expõe as estruturas que
 já estão presentes, em muito como a gramática coloca as regras que governam o uso
da linguagem.

“Verdade” é assim igualada com – virtualmente ao ponto de ser reduzido a –


consistência, ou coerência interna.

A teologia regula a maneira em que cristãos falam sobre Deus, mas não
comenta sobre a pretensão de que tais declarações sejam verdadeiras. “Religião” é,
portanto, a língua; teologia é só a gramática que a regula.

Para os evangélicos, o pós-liberalismo reduz o conceito “verdade” a “coerência


interna”.

Para o evangelicalismo, a teologia é fundamentada sobre a auto revelação de


Deus e avaliada na base dessa mesma auto revelação.

Por que a Bíblia?


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A Escritura tem autoridade, não por causa do que a comunidade cristã escolheu
fazer com ela, mas por causa do que ela é, e do que ela transmite.

Os evangélicos há muito insistiram em que a prioridade da Escritura repousa


em sua inspiração, independentemente de ser reconhecida como tal, por determinada
comunidade ou indivíduo.

CAPÍTULO 4 – EVANGELICALISMO E PÓS-MODERNISMO

Definindo o Ilusionismo

A característica primária do movimento pode ser encontrada em sua declaração


da onicompetência da razão humana. A razão, argumentava-se, era capaz de revelar
tudo o que precisamos saber sobre Deus e moralidade. A ideia de alguma espécie de
revelação sobrenatural era descartada, por ser julgada sem importância, irrelevante.
 Jesus Cristo era apenas um de muitos mestres religiosos, que nos contou coisas que
qualquer um com certo grau de senso comum, de alguma forma nos teria contado. A
razão reinava suprema.

A ascensão do movimento que é agora geralmente conhecida como “pós-


modernismo” através do mundo ocidental é um resultado direto do colapso dessa
confiança na razão, e uma desilusão mais geral com o assim chamado mundo
“moderno”.

Áreas que podem ser identificadas para demonstrar a influência do Iluminismo:

1. A natureza da Escritura:
Existe uma tendência dentro do evangelicalismo de tratar a Bíblia
simplesmente como uma fonte de doutrinas cristãs, e de negligenciar,
suprimir ou negar seu cunho narrativo.

2. Espiritualidade:
Existe uma tendência de ver espiritualidade em termos de entendimento do
texto bíblico – isto é, a leitura da Bíblia tirando sentido de suas palavras e
ideias, e entendendo seu fundo histórico e seu sentido para hoje.
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Precisamos ir para trás do Ilusionismo e recuperar as mais antigas e


autênticas abordagens à espiritualidade, como as que são encontradas em
escritores como Jonathan Edwards, ou John e Charles Wesley.

Definindo o pós-modernismo

O pós-modernismo é geralmente entendido como algo de sensibilidade cultural


sem absolutos, certezas fixas ou fundamentos, que se deleita no pluralismo e
divergência, e que objetiva pensar profundamente o “estabelecimento” radical de
todo o pensamento humano.

Há um compromisso pré-existente com o relativismo ou pluralismo dentro do


pós-modernismo, em relação às questões a respeito da verdade.

A área da teologia cristã mais sensível a essa evolução é a apologética


tradicionalmente vista como uma tentativa de defender e recomendar as pretensões
do cristianismo para o mundo. Apologeticamente, a pergunta que surge no contexto
pós-moderno é a seguinte: como podem elas ser levadas a sério, quando há tantas
alternativas rivais, e quando a própria “verdade” se tornou uma noção desvalorizada?
Ninguém pode pretender possuir a verdade. É tudo uma questão de perspectiva. A
conclusão desta linha de pensamento é tão simples como é devastadora: “a verdade é
que não há nenhuma verdade”.

O pós-modernismo declara que todos os sistemas de crenças devem ser vistos


como igualmente plausíveis. Algo é verdadeiro se é verdadeiro para mim.

CAPÍTULO 5 – EVANGELICALISMO E O PLURALISMO RELIGIOSO

O evangelicalismo afirma de maneira segura que o evangelho cristão é singular,


e não pode ser confundido ou identificado com nenhuma outra religião ou filosofia de
vida.

A natureza de pluralismo
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O surgimento de uma ideologia de pluralismo religioso – melhor visto como uma


subcategoria de pluralismo intelectual e cultural em seu direito, em vez de como uma
entidade específica – é a consequência não tanto de alguma percepção de uma
fraqueza da parte do cristianismo, mas sim do colapso da ideia do Iluminismo de
conhecimento universal.

Esses pressupostos relativistas já se tornaram profundamente enraizados


dentro da sociedade secular, particularmente dentro do pós-modernismo, muitas
vezes com a suposição específica de que eles existem em detrimento da fé cristã.

O que é religião?

Um exemplo da dependência excessiva de categorias ocidentais pode ser visto


em relação ao próprio termo “religião”.

 Tem havido recentemente um esforço resoluto para se reduzir todas as religiões


ao mesmo fenômeno básico global.

Religião é uma categoria bem definida, que pode ser nitidamente,


cirurgicamente distinguida de “cultura” como um todo. O fato e a mitologia clássica
grega, o confucionismo, o taoísmo, as várias e diversas religiões da Índia terem sido
enganosamente reunidas sob o termo genérico “hinduísmo”, o cristianismo, o
totemismo e o animismo, todos estes, poderem ser chamados de “religiões” denota
que isso é uma categoria alarmantemente ampla e difusa, sem qualquer característica
realmente distinta.

Diálogo e respeito mútuo

A ênfase distinta colocada sobre o “diálogo” dentro do pluralismo parece


repousar sobre um modo socrático de diálogo. Essa abordagem presume que os
participantes no diálogo estão todos falando de praticamente a mesma entidade, que
acontece estarem vendo de perspectivas diferentes. Assim, o diálogo oferece um
estilo de abordagem que permite que essas perspectivas sejam reunidas, combinadas,
gerando uma percepção cumulativa que transcende às particularidades de cada uma,
permitindo assim a cada participante sair mais rico e informado. No contexto de
diálogo inter-religioso, a abordagem é muitas vezes comparada a um rei e seus
cortesãos, que se divertem fazendo com que pessoas cegas apalpem diferentes partes
de um elefante. Os relatos dados por esses cegos sobre o que tocaram e sentiram são
bem diferentes; embora superficialmente irreconciliáveis, as descrições podem
facilmente ser harmonizadas como perspectivas diferentes sobre a mesma realidade
maior.
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Cada perspectiva é genuína e válida; sozinha, contudo, é inadequada para


descrever a maior realidade da qual é apenas parte.

Precisamos agora destacar mais claramente um ponto decisivo para determinar


o que é especificamente cristão: a importância da cruz como marca característica dos
cristãos.
Uma abordagem evangélica às religiões e à salvação – o entendimento
cristão de “Deus”

A história religiosa humana mostra que ideias humanas naturais sobre o


número, natureza e caráter os deuses é notoriamente vaga e misturada. A ênfase
cristã é sobre a necessidade de adorar, cultuar, não os deuses em geral (as censuras
de Israel contra a religião canaanita sendo especialmente importantes aqui), mas o
culto a um Deus que optou por tornar-se conhecido.

O Novo Testamento dá uma nova guinada nessa evolução usando para isso a
sua linguagem sobre “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”. Encontrando nas
ações e paixões e Jesus Cristo a identidade de Deus. Em resumo: para os cristãos,
Deus é revelado cristologicamente.

Este ponto é de importância considerável. A maioria dos pluralistas religiosos


ocidentais parece trabalhar com um conceito de Deus formatado pela tradição cristã,
quer isso seja reconhecido abertamente ou não.

Por trás dessas convergentes imagens de salvação está o tema comum a todas:
“salvação em e por meio de Cristo” – isto é o mesmo que dizer que salvação é uma
possibilidade somente por causa da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, e essa
salvação é moldada em sua imagem.

A natureza da Salvação

A declaração “todas as religiões oferecem salvação” é assim potencialmente


pouco mais do que uma tautologia.

A luz dessa abordagem pode-se destacar três afirmações:


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1. O cristianismo tem um entendimento específico da natureza, bases e meios


de obter-se a salvação.
2. O cristianismo é a única religião que oferece salvação no sentido cristão
desse termo.

3. Salvação, no sentido cristão do termo, é proclamada como uma possibilidade


para os que estão presentemente fora da comunidade cristã.

Stalinismo Religioso? Pluralismo e a agenda da modernidade

Mais cedo, ao explorar os contornos intelectuais do modernismo, notamos que


dois temas centrais do modernismo são:

1. Uma ânsia “totalizadora”, que insiste em que tudo precisa ser visto como um
aspecto de uma grande teoria ou “metanarrativa”;
2. Um desejo de dominar matéria crua – cultural, intelectual ou física – para
encaixá-la com os desejos da humanidade.

A atração do pluralismo está não tanto em suas reivindicações de ter a verdade


(que cada vez mais são concedidas serem notavelmente esquivas e pouco profundas),
mas em suas reivindicações de promover tolerância entre as religiões.

CONCLUSÃO: TALVEZ O MAIOR DESAFIO PRA O EVANGELICALISMO NA


PRÓXIMA GERAÇÃO SEJA DESENVOLVER UM COMPROMISSO INTELECTUAL
CADA VEZ MAIOR SEM PERDER SUAS RAÍZES NA VIDA E FÉ DOS CRENTES
COMUNS.

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