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300 CURSO DE DIREITO TRIBUTÁRIO

A ressalva, constante do inciso V do art. 150 da Constituição Federal de


1988, tem a finalidade de evitar o entendimento peio qual o pedágio seria
inconstitucional, mas não autorizou a cobrança de pedágio que não seja pela
utilização efetiva de vias conservadas pelo Poder Público.

3.S Imimidades

Imunidade e o obstáculo decorrente de regra da Constituição á incidên­


cia de regra jurídica de tributação. O que é imune não pode ser tributado.
A imunidade impede que a lei defina como hipótese de incidência tributária
aquilo que é imune. É limitação da competência tributána.
Há quem afirme, é certo, que a imunidade não é uma limitação da com­
petência tributária porque não é posterior á outorga desta. Se toda atribuição
de competência importa uma limitação, e se a regra que imuniza participa
da demarcação da competência tributária, resulta evidente que a imunidade
é uma limitação dessa competência.
O importante é notar que a regra de imunidade estabelece exceção.
A Constituição define o âmbito do tributo, vale dizer, o campo dentro do
qual pode o legislador definir a hipótese de incidência-da regra de tributa­
ção. A regra de imunidade retira desse âmbito uma parcela, que toma imune.
Opera a regra imunizante, relativamente ao desenho constitucional do âmbi­
to do tributo, da mesma forma que opera a regra de isenção relativamente â
definição da hipótese de incidência tributána.
A diferença entre imunidade, isenção e não incidência já foi estudada
neste Curso, na parte relativa á exclusão do crédito tributário.
Em edições anteriores afirmamos que a imunidade refere-se apenas aos
impostos. Não aos demais tributos. Hoje, porém, já não pensamos assim.
A imunidade, para ser efetiva, para cum pnr suas finalidades, deve ser abran­
gente. Nenhum tributo pode ficar fora de seu alcance. Não obstante, o art.
150, inciso VI, da Constituição Federal de 1988 diz que é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços uns dos outros:
b) templos de qualquer culto;
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas
fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de
educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos
da lei; e
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
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3.9 imunidade reciproca

A primeira das imunidades acima enumeradas e a denominada recipro­


ca. As entidades políticas integrantes da Federação não podem fazer incidir
impostos umas sobre as outras. Estão protegidos pela imunidade o patrimô­
nio, a renda e os serviços dessas entidades, e de suas autarquias.
A imunidade, entretanto, não se aplica “ao patrimônio, ã renda e aos
serviços, relacionados com a exploração de atividades econômicas regidas
pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que haja con-
traprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, nem exonera
o promitente comprador da obngação de pagar imposto relativamente ao
bem imóvel”. E o que está expresso no art. 150, § 3a, da Constituição Fe­
deral de 1988.
A ressalva relativa ao promitente comprador de imóvel e razoável e
vem do Direito antenor, sem modificação. E importante, porém, observar a
amplitude da ressalva contida no dispositivo acima transcnto no pertinente
à imunidade tributána reciproca do patrimônio, da renda e dos serviços das
entidades públicas. Interpretada literalmente, pode a regra do § 3Q do art.
150 da Constituição Federal de 1988 levar a conclusão surpreendente, como
se passa a demonstrar.
A imunidade não se aplica (a) ao patrimônio, á renda e aos serviços
relacionados com a exploração de atividades econômicas regidas pelas nor­
mas aplicáveis a empreendimentos pnvados; (b) ou em que haja contrapres-
tação ou pagamento de preços ou tarifas pslo- usífáno: ~" •
Assim, têm-se pelo menos duas situações nas quais o patrimônio, a
renda e os serviços das entidades públicas não são imunes, a saber: uma,
quando relacionados com a exploração de atividades econômicas; e outra,
quando relacionados a atividades em que haja contraprestação ou pagamen­
to de preços ou tarifas pelo usuano.
E plenamente justificável a exclusão da imunidade quando o patrimô­
nio, a renda e o serviço estejam ligados a atividade econômica regulada
pelas normas aplicáveis ás empresas pnvadas. A imunidade implicana trata­
mento privilegiado, contráno ao pnncipio da liberdade de iniciativa. Ocorre
que também não há imunidade quando haja contraprestação ou pagamento
de preços ou tarifas pelo usuário. Isto quer dizer que um serviço, mesmo
não considerado atividade econômica, não será imune se houver cobrança
de contraprestação, ou de preço, ou de tarifa. Podem ser tributados pelos
Municípios, por exemplo, os serviços de fornecimento de agua e de esgoto
prestados pelos Estados.
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Pode-se argumentar, e certo, que a expressão ou em que haja contra­


prestação ou pagam ento de preços ou tarifas pelo usuário apenas se presta,
no caso, para qualificar a atividade como de natureza econômica, e, assim,
afastar a imunidade, evitando disputas em tomo do que seja uma atividade
econômica. Ocorre que, se a cobrança de preços ou tarifas qualifica a ati­
vidade como de natureza econômica, neste caso o alcance da ressalva será
igualmente amplo, posto que, havendo tal cobrança, não se há de perquirir
a respeito da natureza da atividade. Basta a cobrança para qualificá-la como
de natureza econômica. Havendo cobrança de contraprestação, de preços ou
de tarifas, não ha imunidade, seja qual for a natureza da atividade desenvol­
vida peía entidade estatal.
Esperamos que essa interpretação ampliativa da ressalva, que em ma­
téria de serviços praticamente anula a regra imumzante, deixando imunes
apenas os serviços gratuitos, não prevaleça. Não podemos, todavia, deixar
de reconhecer que ela e razoável em face do elemento literal do dispositivo
constitucional em exame.
A explicitação relativa ao promitente comprador de imóveis, que não
e novidade, faz-se necessária para afastar divergências. Houve quem sus­
tentasse que o imóvel objeto de promessa de compra e venda, continuando
como propnedade do promitente vendedor, integrando, pois, o patrimônio
da entidade imune, não podia ser tributado. Mas a tese na verdade era im­
procedente. Os efeitos da promessa de compra e venda no Direito Tributário
não são nem poderiam ser os mesmos do Direito C iv il O imóvel objeto de
promessa de compra e venda na realidade sai do patnmônio do promitente
vendedor e se integra no patrimônio do promitente comprador, se não como
um bem, juridicamente considerado, pelo menos como expressão econômi­
ca. Mas o Supremo Tribunal Federal já havia decidido pela imunidade do
imóvel transcrito no Registro Público em nome de autarquia, embora objeto
de promessa de venda a particulares (Súmula n. 74). Dai a necessidade da
explicitação feita na parte final do § 3a do art. 150 da CF de 1988, à qual
amoidou-se a junsprudência do Supremo (Súmula n. 583).
A imunidade das entidades de direito público não exclui o imposto
sobre produtos industrializados (ÍPl), ou sobre circulação de mercadorias
(ICMS), relativo aos bens que adquirem. Ê que o contribuinte destes é o
industnal ou comerciante, ou produtor, que promove a saida respectiva.
O Supremo Tribunal Federal já decidiu de modo contráno, mas reformulou
sua posição.
O argumento de que o imposto sobre produtos industrializados (ÍPI) as­
sim como o imposto sobre operações relativas á circulação de mercadonas
(ICMS) não incidem na saida de mercadonas que o particular (indusínai,
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comerciante ou produtor) vende ao Poder Público, porque o ônus financeiro


respectivo recai sobre este, não tem qualquer fundamento jurídico, Pode ser
válido na âmbito da Ciência das Finanças. Não no Direito Tributário. A re­
lação tributána instaura-se entre o industrial, ou comerciante, que vende, e
por isto assume a condição de contribuinte, e a Fazenda Pública, ou fisco,
credor do tributo. Entre o Estado comprador da mercadona e o industrial,
ou comerciante, que a fomece, mstaura-se uma relação jurídica inteiramente
diversa, de natureza contratual. O Estado comprador paga simplesmente o
preço da mercadona adquirida. Não o tributo. Este pode estar incluído no
preço, mas neste também esta incluído o saláno dos empregados do indus­
trial, ou comerciante, e nem por isto se pode dizer que ha no caso pagamento
de salános. Tal inclusão pode ocorrer, ou não. E circunstancial e independe
de qualquer norma jurídica. Em última análise, no preço de um produto po­
derão estar incluídos todos os seus custos, mas isto não tem relevância para
o Direito, no pertinente á questão de saber quem paga tais custos.
O contribuinte de impostos como o ICMS ou o IPI podena ser o adqui-
rente dos produtos, como acontece nos Estados Unidos com o imposto sobre
vendas. Nos Estados Unidos as lojas anunciam os preços de suas mercado­
rias sem o imposto. Vê-se na vitnna um objeto com o preço de dez dólares, e
quando se vai pagar a quantia cobrada é maior. Nela está incluído o imposto
sobre vendas. O contribuinte, assim, e o comprador.
Ê lamentável a confusão que se tem feito em tomo da questão de sa­
ber quem, do ponto de visto jurídico, paga o imposto, especialmente em se
tratando de repetição do indébito tributáno, situação na qual, em face de in­
terpretação inadequada do art. 166 do Código Tributário Nacionai, tem sido
atribuída relevância jurídica ao fenômeno da repercussão, condicionando
a repetição à prova de sua mocorrência, ou de uma praticamente inviável
autonzação dada por aquele que teria suportado o ônus financeiro do tributo
indevido.
Ressalte-se que a imunidade recíproca e uma forma de expressão do
pnncípio federativo. Não se pode conceber uma Federação sem a imunida­
de tributána reciproca. Assim, a regra da imunidade esta protegida contra
possível emenda constitucional, por força do disposto no art. 60, § 4Q, inciso
I, da Constituição Federal de 1988, segundo o qual “não será objeto de de­
liberação a proposta de emenda tendente a abolir (...) a forma federativa de
Estado”
Não obstante esteja expressa, no art. 150, inciso VI, da vigente Cons­
tituição Federal, apenas em relação aos impostos, em razão do princípio
federativo a imunidade reciproca abrange, seguramente, tambem os demais
tributos. E que o tributo, como expressão que e da soberania estatal, não
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pode ser exigido de quem a íai soberania não se submete, porque é parte
integrante do Estado, que da mesma é titular.
Qualquer emenda que porventura autorizar a União a cobrar qualquer
tributo dos Estados, ou dos Municípios, ou autorizar qualquer destes a co­
brar qualquer tributo da União, ou de qualquer outro Estado, ou Município,
é inconstitucional.

3.10 Imunidade dos templos

Nenhum imposto mcide sobre os templos de qualquer culto. Templo


não significa apenas a edificação, mas tudo quanto seja ligado ao exercício
da atividade religiosa. Não pode haver imposto sobre missas, batizados ou
qualquer outro ato religioso. Nem sobre qualquer bem que esteja a serviço
do culto. Mas pode incidir imposto sobre bens pertencentes â Igreja, desde
que não sejam instrumentos desta. Prédios alugados, por exemplo, assim
como os respectivos rendimentos, podem ser tributados. Não a casa paro­
quial, ou o convento, ou qualquer outro edifício utilizado para atividades
religiosas, ou para residência dos religiosos.
A imunidade concerne ao que seja necessário para o exercício do cul­
to. Nem se deve restringir seu alcance, de sorte que o trib.uto constitua um
obstáculo, nem se deve ampliá-lo, de sorte que a imunidade constitua um
estimulo á prática do culto religioso.
Há quem sustente que os imóveis alugados, e os rendimentos respec­
tivos estão ao abrigo da imunidade desde que sejam estes destinados à ma­
nutenção do culto. A tese é razoável quando se trate de locação eventual de
bens pertencentes ao cuito. Não, porém, quando se trate de atividade per­
manente deste. A locação de imóveis, com a ressalva feita há pouco, é uma
atividade econômica que nada tem a ver com um culto religioso. Coloca-la
ao abrigo da imunidade nos parece exagerada ampliação. A ser assim, as en­
tidades religiosas poderiam também, ao abrigo da imunidade, desenvolver
atividades industriais e comerciais quaisquer, a pretexto de angariar meios
financeiros para a manutenção do culto, e ao abrigo da imunidade estariam
praticando verdadeira concorrência desleal, em detrimento da livre inicia­
tiva e, assim, impondo maus tratos ao art. 170, mciso IV, da Constituição.
Observe-se que, mesmo em relação aos entes públicos, a imunidade
não se estende ao patrimônio, á renda e aos serviços relacionados com ex­
ploração de atividades econômicas. Tal limite ao alcance da imunidade e
razoável também para os templos de qualquer culto, pois, sem ele, esses
templos tendem a se transformar em verdadeiras empresas.
Nenhum requisito pode a lei estabelecer. Basta que se trate de culto
religioso.
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3.11 Imunidades dos partidos políticos, das entidades sindicais


e das instituições de educação ou de assistência social,
sem fin s lucrativos

Não pode haver imposto sobre o patrimônio, a renda ou os serviços dos


partidos políticos, inclusive suas fundações. Os constituintes não perderam
a oportunidade. Colocaram na Constituição de 1988 regra que expressamen­
te convalida, pelo menos no piano estritamente juridico-formal, tais funda­
ções, instituídas com o fim de fugir a certas normas da legislação partidária
e eleitoral.
São também imunes as entidades sindicais. A íetra do dispositivo cons­
titucional refere-se apenas a entidades sindicais dos trabalhadores, o que
revela o seu caráter demagógico. Estanam os sindicatos patronais sujeitos
á tributação? Poderia o Estado esmagá-los com impostos? A liberdade de
associação sena assegurada apenas aos trabalhadores? Qual a abrangência
da palavra trabalhadores, no texto em questão? Parece-nos que a imunidade
deve abranger as entidades sindicais em geral, mas o dispositivo constitu­
cional está ai, a desafiar a argúcia dos hermeneutas que não pretenderem
ficar com sua literaíidade.
São também imunes as instituições de educação ou de assistência so­
cial, sem fins lucrativos. Aqui o constituinte restringiu, também, exagerada-
mente, o alcance que devia ter a regra imunizante. As instituições de educa­
ção deviam ser imunes incondicionalmente. A importância social da ativida­
de de educação o exige. Da mesma forma que são imunes os livros, jornais e
periódicos, sem qualquer perquirição a respeito de saber se quem os produz
tem ou não finalidade lucrativa, e sabido, como é, que as editoras não são
casas de filantropia, também a atividade de educação devia ser imune. Se
assim fosse, certamente não estariamos presenciando a cnse da escola, cujos
administradores já não se podem ocupar das questões educacionais, pois são
mais prementes as questões policiais, as ameaças de prisão e até as pnsões
consumadas, em face das intermináveis querelas com os pais de alunos em
tomo do valor das mensalidades escolares. Sendo a atividade educacional,
como inegavelmente e, socialmente tão importante, sua prática devena ser
estimulada, até porque isto certamente atraina um maior numero de pessoas
para o seu desempenho, aliviando a pressão decorrente da grande demanda
e da insuficiente oferta de vagas nas escolas.
A imunidade das instituições de educação e de assistência social, toda­
via, é condicionada. Só existe para aquelas instituições sem fins lucrativos,
conceito que também tem sido muito mal compreendido. A lei não pode
acrescentar requisitos a serem atendidos. Basta que não tenham fins lucrati­
vos. Ê razoavel, todavia, entender-se que o não ter finalidade lucrativa pode
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traduzir-se no atendimento dos requisitos do art. 14 do Código Tributário


Nacional, a saber:
a) não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas ren­
das a qualquer título;
b) aplicarem integralmente no País os seus recursos na manutenção dos
seus objetivos institucionais;
c) manterem escnturação de suas receitas e despesas em livros revesti­
dos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão.
Não ter fins lucrativos não significa, de modo nenhum, ter receitas li­
mitadas aos custos operacionais. Elas na verdade podem e devem ter sobras
financeiras, até para que possam progredir, modernizando e ampliando suas
instalações. O que não podem é distribuir lucros. São obngadas a aplicar to­
das as suas disponibilidades na manutenção dos seus objetivos institucionais.
O meio para comprovar o cumprimento dessas exigências legais é a
escnturação contábil. Dai a exigência do inciso III do art. 14 do CTN, de
cunho meramente instrumental.
Os requisitos estabelecidos no CTN para o gozo da imunidade em foco
são todos de atendimento continuado. Se a qualquer época deixam de ser
observados, a autoridade competente pode suspender a aplicação do benefí­
cio (CTN, art. 14, § l 2).
Destaque-se que a imunidade em estudo se refere ao patrimônio, á
renda e aos serviços, mas estes são, exclusivamente, os diretamente rela­
cionados com os objetivos institucionais da entidade imune, previstos nos
respectivos estatutos ou atos constitutivos (CTN, art. 14, § 2Q).

3.12 Imunidade do livro, jo rn a l e periódico

Elaborado na vigência da Emenda Constitucional n. 18, de 1965, o


CTN considera imune “o papel destinado exclusivamente á impressão de
jornais, periódicos e livros” (art. 9a, mc. IV, letra “d”). E assim era na Cons­
tituição de 1946 (art. 31, letra “c”). Mas na Constituição de 1967, em sua re­
dação onginal como na decorrente da Emenda n. 1, de 1969, consideraram-
se imunes “o livro, o jornal e os periódicos, assim como o papel destinado a
sua impressão” (art. 19, mc. III, letra “d”). A Constituição Federal de 1988
manteve a imunidade para livros, jornais e periódicos e o papel destinado a
sua impressão (art. 150, mc. VI, letra “d ”). A imunidade, aqui, ê tipicamente
objetiva. Não importa a pessoa a quem pertença o livro, o jornal ou perió­
dico, ou o papei. Este último tem a imunidade condicionada à destmação.
A imunidade do livro, jornal ou periódico, e do papel destinado a sua
impressão, há de ser entendida em seu sentido fmalístico. E o objetivo da
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imunidade podena ser frustrado se o legislador pudesse tributar qualquer


dos meios indispensáveis à produção dos objetos imunes. Ou qualquer ato
que tenha por fim colocar esses objetos em seu destino final. A venda ou
distribuição, a qualquer título, de livro, jornal ou periódico, não podem ser
tributadas. Assim, a imunidade, para ser efetiva, abrange todo o material
necessário á confecção do livro, do jornal ou do periódico. Não apenas o
exemplar deste ou daquele, materialmente considerado, mas o conjunto. Por
jsto nenhum imposto pode incidir sobre qualquer msumo, ou mesmo sobre
qualquer dos instrumentos, ou equipamentos, que sejam destinados exclusi­
vamente â produção desses objetos.
Na interpretação da norma imumzante tem-se de atualizar o seu signi­
ficado, ampliando-se quando necessano o seu alcance para que não reste a
mesma inutilizada por uma espécie de esclerose que a dominaria se preva-
lente o sentido estritamente literal.
Embora a imunidade, em face da expressão literal do art. 150, inciso
VI, da Constituição, diga respeito apenas a impostos, existem fortes razões
para entender-se que também é vedada a cobrança de taxas e contribuições
de melhoria. Os princípios que inspiram a imunidade tributária não permi­
tem que a pessoa ou a coisa imune fique submetida a qualquer tributo, pois
taí submissão podena ensejar o amesquinhamento da imunidade.
Questão das mais relevantes consiste em saber se a imunidade dos li­
vros, jornais e periódicos, e do papel destinado a sua impressão, abrange
os produtos da moderna tecnologia, como os CD-roms e os disquetes para
computadores.
A melhor interpretação das normas da Constituição é aquela capaz de
lhes garantir a máxima efetividade. Toda imunidade tem por fim a realiza­
ção de um princípio que o constituinte considerou importante para a nação.
A imunidade dos livros, jornais e periódicos tem por fim assegurar a liberda­
de de expressão do pensamento e a disseminação da cultura. Como é inegá­
vel que os meios magnéticos, produtos da moderna tecnologia, são hoje de
fundamental importância para a realização desse mesmo objetivo, a resposta
afirmativa se impõe. O entendimento contráno, por mais respeitáveis que
sejam, e são, os seus defensores, leva a norma imumzante a uma forma de
esclerose precoce, inteiramente incompatível com a doutrina do moderno
constitucionalismo, especialmente no que concerne à interpretação especi­
ficamente constitucional.
E certo que o constituinte de 198S teve oportunidade de adotar redação
expressamente mais abrangente para a norma imumzante, e não o fez. Isto,
porém, não quer dizer que o intérprete da Constituição não possa adotar,
para a mesma norma, a interpretação mais adequada, tendo em vista a rea­
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lidade de hoje. Realidade que já não e aquela vivida pelo constituinte, pois
nos últimos dez anos a evolução da tecnologia, no setor de informática, tem
sido simplesmente impressionante. Se em 1988 não se tinha motivos para
acreditar na rápida substituição do livro convencional pelos instrumentos
e meios magnéticos, hoje taí substituição mostra-se já evidente, embora o
livro tradicional ainda não tenha perdida sua notável importância.
Á evolução, no setor da informática, é tão rápida, que o CD ainda nem
ocupou espaços significativos no mercado brasileiro e já esta sendo substi­
tuído, com imensa vantagem, pelo DVD, levando vánas empresas a incluir
drivers especiais em alguns de seus micros; previa-se, mesmo, que até o
final de 1998 “esses drivers terão substituído totalmente os de CD-ROM,
que serão, então, peças de museu” (INFO-Exame, n. 12, dezembro/1997,
p. 44).
Não pode, pois, o intérprete, deixar de considerar essa evolução. Nem
esperar que o legislador modifique o texto. O melhor caminho, sem dúvi­
da, para que o Direito cumpra o seu papel na sociedade, é a interpretação
evolutiva.

3.13 Outras limitações

O art. 151 da Constituição Federal de 1988 proíbe a União de instituir


tributo que não seja uniforme em todo o tem tóno nacional ou que implique
distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federai ou a Mu­
nicípio, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais
destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico
entre diferentes regiões do País (inc. I).
A regra estava na Constituição antenor. Não a ressalva. Houve por isto
quem vislumbrasse nos incentivos fiscais ao desenvolvimento econômico
regional uma possível lesão ao preceito constitucional. Agora a questão
ficou afastada. Não está afastada, porém, a possibilidade de questionar-se
a constitucionalidade de isenções, especialmente do imposto de renda, em
face do princípio da capacidade contributiva.
O mesmo art. 151 proíbe, ainda, a União de tributar a renda das obn­
gações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos,
em níveis superiores aos que fixar para suas obngações e para seus agentes
(inc. II). Como o contribuinte do imposto de renda é a pessoa que a aufere,
teve o constituinte o cuidado de vedar a tributação, pela União, das rendas
auferidas dos Estados, do Distnto Federal e dos Municípios em níveis supe­
riores ao da tributação da renda paga por ela propna. E um reconhecimento
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de que, em face do fenômeno da repercussão, o tributo terminaria por atingir


as próprias pessoas jurídicas pagadoras da renda tributável.
A prática vedada peio inciso II do art. 151 da Constituição Federal de
1988 sena de duvidosa constitucionalidade mesmo que ausente a referida
norma. A presença desta, porém, toma essa mconstitucionalidade inquestio­
nável, e nisto reside seu mento.
O inciso III do art. 151, finalmente, impede que a União isente de tribu­
tos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Essa
regra também tem apenas o mérito de eliminar controvérsias, eis que na ver­
dade bastana o silêncio constitucional, posto que competente para isentar é
o titular da competência para tributar. Na Constituição antenor havia regra
expressa atribuindo à União competência para, mediante lei complementar,
isentar de tributos estaduais e municipais. Era norma evidenciadora do ex­
cesso de centralismo. Por isto explica-se o cuidado do constituinte de 1988,
que afastou, com o inciso III do art. 151, a possibilidade de se argumentar
com a sobrevivência daquela norma centralizadora de poder.
O art. 152, por seu turno, veda aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios estabelecer diferença tributána entre bens e serviços, de qual­
quer natureza, em razão de sua procedência ou destino. Com isto evitou o
constituinte um a forma de “guerra” entre os integrantes da Federação.

4. Competência privativa da União , dos Estados e dos Municípios

Vigora em nosso sistema tributário o regime das competências pnva-


tivas. Tanto para os impostos como para os demais tributos. Em relação aos
tributos cujos fatos geradores são, ou se ligam, a atividades estatais, como
é o caso das taxas e da contribuição de melhoria, a competência tributária
decorre da competência para a prestação do serviço ou para o exercício do
poder de polícia e, amda, para a realização da obra pública, como adiante
será explicado. Em relação aos impostos e que a questão das competências
se coloca propnamente no campo de Direito Tributário.
A atribuição de competência para instituir impostos constitui uma for­
ma de limitação do poder de tributar, na medida em que, ao determinar quais
são os impostos que podem ser cnados pela União, pelos Estados, pelo Dis-
tnto Federai e pelos Municípios, a Constituição delimita o campo fático
que pode servir de suporte a esses impostos. Define o que denominamos o
âmbito constitucional de cada imposto.
O âmbito constitucional do imposto é o fato, ou o conjunto de fatos,
ou a situação de fato, que a Constituição descreve na norma em que atribui
a cada uma das pessoas jurídicas competência para a respectiva instituição.

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