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A palavra Anticristo ocorre somente nas Epístolas Joaninas; mas existem assim chamados
paralelismos a estas ocorrências no Apocalipse, nas Epístolas Paulinas, e outros menos
explícitos nos Evangelhos e no Livro de Daniel.
São João supõe em suas Epístolas que os primeiros cristãos conheciam o ensinamento
concernente à vinda do Anticristo. “Vocês ouviram que o Anticristo vem” (1Jo 2,18); “Este é o
Anticristo, de cuja vinda vocês ouviram” (1Jo 4,3). Embora o Apóstolo fale de vários Anticristos,
ele distingue entre os muitos e o agente único e principal: “O Anticristo virá. Já agora há muitos
Anticristos.” (1Jo 2,18). Novamente, o escritor esboça o caráter e a obra do Anticristo: “Eles
saíram dos nossos, mas eles não eram dos nossos” (1Jo 2,19); “Quem é mentiroso, senão
aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o Anticristo, que nega o Pai e o Filho” (1Jo
2,22); “E todo espírito que nega Jesus, não é de Deus; e este é o Anticristo” (1Jo 4,3); “Pois
muitos sedutores estão à solta no mundo, que não confessam que Jesus Cristo veio na carne:
este é um sedutor e um Anticristo” (2Jo 1,7). Também quanto ao tempo, o Apóstolo coloca a
vinda do Anticristo na “última hora” (1Jo 2,18); novamente ele mantém que “ele já está agora
no mundo” (1Jo 4,3).
No Apocalipse
São João supõe que a doutrina concernente à vinda do Anticristo já é conhecida a seus
leitores; muitos comentaristas acreditam que ela se tornou conhecida na Igreja através dos
escritos de São Paulo. São João exortava contra os hereges de seu tempo que aqueles que
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O ANTICRISTO
negavam o mistério da Encarnação eram vagas imagens do futuro grande Anticristo. Este
último é descrito em mais detalhes em 2Ts 2,3.7-10. Na Igreja de Tessalônica tinham ocorrido
distúrbios por causa da crença de que a segunda vinda de Jesus Cristo era iminente. Esta
impressão se devia parcialmente a uma interpretação errada de 1Ts 4,15, e parcialmente às
maquinações dos enganadores. Foi tendo em vista remediar estas desordens que São Paulo
escreveu sua Segunda Epístola aos Tessalonicenses, inserindo especialmente 2,3-10. A
doutrina Paulina é esta: “o dia do Senhor” será precedido por “uma revolta”, e a revelação do
“homem da iniqüidade.” Este irá se assentar no templo de Deus, mostrando-se a si mesmo
como se ele fosse Deus; ele irá realizar sinais e falsos prodígios pelo poder de Satanás; ele irá
seduzir aqueles que não receberam o amor pela verdade, para que eles pudessem ser salvos;
mas o Senhor Jesus irá liquidá-lo com o espírito de Sua boca, e destruí-lo com o resplendor de
Sua vinda. Quanto ao tempo, “o mistério da iniqüidade já opera; apenas esperando que aquele
que o detém seja retirado do caminho.” Resumidamente, o “dia do Senhor” será precedido pelo
“homem da iniqüidade”, conhecido nas Epístolas Joaninas como Anticristo; este “homem da
iniqüidade” é precedido por “uma revolta”, ou uma grande apostasia; esta apostasia é o
resultado do “mistério da iniqüidade” que já “opera”, e que, de acordo com São João, mostra a
si mesmo aqui e ali por vagos tipos do Anticristo. O Apóstolo dá três estágios da evolução do
mal: a fermentação da iniqüidade, a grande apostasia, e o homem da iniqüidade. Mas ele
adiciona uma cláusula calculada para determinar o tempo do evento principal mais
precisamente; ele descreve algo primeiro como uma coisa (to datechon), e depois como uma
pessoa (ho katechon), evitando a ocorrência do evento principal: “algo o detém” e “aquele que
o detém”. Nós aqui só podemos enumerar as principais opiniões quanto ao significado desta
cláusula sem discutir os seus valores:
Antes de deixar a doutrina Paulina sobre o Anticristo, nos devemos nos perguntar, de onde o
Apóstolo derivou seu ensinamento? Novamente aqui nós encontramos várias respostas.
1. São Paulo expressa meramente seu próprio ponto de vista baseado na tradição judaica e
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O ANTICRISTO
nas imagens dos Profetas Daniel e Ezequiel. Este ponto de vista tem sido defendido por vários
escritores protestantes.
3. São Paulo derivou a sua doutrina concernente ao Anticristo das palavras de Cristo, da
profecia de Daniel, e dos eventos contemporâneos. Esta opinião, também, é expressada por
Döllinger.
Bousset acredita que havia entre os judeus uma lenda completamente desenvolvida do
Anticristo, que foi aceita e amplificada pelos cristãos; e que esta lenda diverge e contradiz em
importantes pontos as concepções encontradas no Apocalipse. Nós não acreditamos que
Bousset tenha provado completamente a sua opinião; sua visão quanto ao desenvolvimento do
cristianismo e do conceito de Anticristo não excede os méritos de uma engenhosa teoria. Nós
não precisamos entrar em uma investigação da obra de Gunkel, na qual ele traça a idéia de
Anticristo ao dragão primevo das profundezas de Œthe; esta visão não merece mais atenção
do que o resto das fantasias mitológicas desse autor. O que então é o verdadeiro conceito
eclesiástico de Anticristo? Suarez mantém que é de fé que o Anticristo é uma pessoa
individual, um notável inimigo de Cristo. Isto exclui a afirmação daqueles que explicam o
Anticristo ou como toda a coleção daqueles que se opõe a Jesus Cristo, ou como o Papado.
Os hereges Valdenses e Albigenses, assim como Wyclif e Hus, chamavam o Papa pelo nome
de Anticristo; mas a expressão era somente uma metáfora no caso deles. Não foi até o tempo
da Reforma que o nome foi aplicado ao Papa no seu sentido próprio. Isto então passou
praticamente ao credo dos Luteranos, e tem sido seriamente defendido por eles tão
tardiamente quanto em 1861 no "Zeitschrift für lutherische Theologie". A mudança da
verdadeira Igreja para o reino de Anticristo é dita ter ocorrido entre 19 de fevereiro e 10 de
novembro de 607 DC, quando o Papa Bonifácio III obteve do imperador grego Newton, o título
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O ANTICRISTO
“Chefe de Todas as Igrejas” para a Igreja Romana. Uma apelação foi feita a Ap 13,8, em
confirmação desta data, e foi calculado a partir de Ap 11,3, que o fim do mundo poderia ser
esperado em 1866 DC. O Cardeal Belarmino refutou este erro tanto do ponto de vista
exegético como histórico em "De Rom. Pont.", III. A pessoa individual do Anticristo não será um
demônio, como alguns dos escritores antigos acreditavam; nem ele será a pessoa do demônio
encarnada na natureza humana do Anticristo. Ele será uma pessoa humana, talvez de extração
judaica, se a explicação de Gn 49,17, juntamente com a omissão de Dã do catálogo das tribos,
como encontrado no Apocalipse, estiver correta. Deve ser lembrado que a tradição
extra-escritural não nos fornece qualquer suplemento revelado às informações bíblicas
concernentes ao Anticristo. Enquanto estas últimas são suficientes para fazer o crente
reconhecer o “homem da iniqüidade” no tempo de sua vinda, a falta de qualquer revelação
adicional confiável deveria nos colocar em guarda contra os devaneios dos Irvingitas, dos
Mórmons, e de outros recentes proclamadores de novas revelações.
Pode não estar fora de lugar chamar a atenção do leitor para duas dissertações do falecido
Cardeal Newman sobre o assunto do Anticristo. Uma é chamada “A Idéia Patrística de
Anticristo”; ela considera sucessivamente seu tempo, religião, cidade, e perseguição. Ela
formou o número 83 dos “Tratados sobre os Tempos”, e foi republicada no volume chamado
“Discussões e Argumentos sobre Vários Assuntos” (Londres, Nova Iorque, Bombaim, 1899). A
outra dissertação está contida entre os “Ensaios Críticos e Históricos” do Cardeal (Vol. II;
Londres, Nova Iorque e Bombaim, 1897), e traz o título “A Idéia Protestante do Anticristo”. Para
entender a significância dos ensaios do Cardeal na questão do Anticristo, deve ser tido em
mente que uma variedade de opiniões surgiram no decorrer do tempo concernentes à natureza
deste oponente da cristandade.
1. Koppe, Nitzsch, Storr e Pelt argumentaram que o Anticristo é um princípio maligno, não
corporificado em uma pessoa ou um governo; esta opinião está em oposição tanto a São Paulo
como a São João. Ambos Apóstolos descrevem o adversário como sendo distintamente
concreto em forma.
2. Um segundo ponto de vista admitiu que o Anticristo deve realmente aparecer em uma forma
concreta, mas identificou esta forma concreta com o sistema do Papado. Lutero, Calvino,
Zwingli, Melanchthon, Bucer, Beza, Calixtus, Bengel, Michaelis, e quase todos os escritores
protestantes do Continente são citados como suportando este ponto de vista; o mesmo pode
ser dito dos teólogos ingleses Cranmer, Latimer, Ridley, Hooper, Hutchinson, Tyndale, Sandys,
Philpot, Jewell, Rogers, Fulke, Bradford, King James, e Andrewes. Bramhall introduziu
qualificações na teoria, e após isso sua ascendência começou a se desvanecer entre os
escritores ingleses. Nem se deve supor que a teoria Papa-Anticristo foi mantida por todos
protestantes do mesmo modo; o Falso Profeta ou segunda Besta do Apocalipse são
identificados com o Anticristo e o Papado por Aretius, Foxe, Napier Mede, Jurieu,
Cunninghame, Faber, Woodhouse, e Habershon; a primeira Besta do Apocalipse tem esta
posição na opinião de Marlorat, King James, Daubuz, e Galloway; ambas as Bestas são assim
identificadas por Brightman, Pareus, Vitringa, Gill, Bachmair, Fraser, Croly, Fysh, e Elliott.
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O ANTICRISTO
Após este panorama geral das visões protestantes concernentes ao Anticristo, nós devemos
ser capazes de apreciar alguns dos comentários críticos do Cardeal Newman sobre a questão.
1. Se qualquer parte da Igreja for provada ser anticristã, toda a Igreja o é, inclusive o ramo
protestante.
6. Se o Papa é o Anticristo, aqueles que o recebem e seguem não podem ser homens como
São Charles Borromeo, ou Fénelon, ou São Bernardo, ou São Francisco de Sales.
7. Se a Igreja deve sofrer como Cristo, e se Cristo foi chamado Belzebu, a verdadeira igreja de
Cristo deve esperar uma reprovação similar; desse modo, a teoria Papa-Anticristo torna-se um
argumento a favor da Igreja Romana.
8. A chacota “se o Papa não é o Anticristo, ele tem azar de ser tão parecido com ele”, é na
verdade outro argumento a favor das alegações do Papa; uma vez que o Anticristo simula
Cristo, e o Papa é uma imagem de Cristo, o Anticristo deve ter alguma semelhança com o
Papa, se este for o verdadeiro Vigário de Cristo.
IRENAEUS, Adveresus Haer., IV, 26; ADSO (PSEUDO-RABANUS MAURUS), De ortu, vitâ et
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moribus Antichristi, P. L., CI, 1289-98); BELLARMIN, De Rom. Pont., III; NEWMAN, The
Patristic Idea of Antichrist, No. 83 of Tracts for the Times, republished in Discussions and
Arguments on Various Subjects (London, New York, and Bombay 1897).
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