Módulo UC25: Técnicas de expressão e actividades práticas em creche e J.I Formadora: Carla Cunha
Creche – como surge e para quê?
A modificação na estrutura familiar, traduzida numa intervenção da mulher no
mercado de trabalho, deve-se, entre outras causas, à necessidade do equilíbrio do orçamento familiar, ao desejo do empenho de um papel activo na vida social ou ainda ao desejo da sua realização profissional. Assim, a implantação de equipamentos para as crianças, que não podem estar com a família durante uma parte do dia, impõe-se cada vez mais como forma de ajuda à criança, em primeiro lugar, à família e à sociedade. É, nesta óptica que surge a Creche como uma resposta social (que se destina a crianças com idades compreendidas entre os 3 meses e os 3 anos), onde a criança deve ser acolhida, amada e respeitada na sua originalidade e ajudada a crescer harmoniosamente. De origem francesa, a palavra “creche” significa “manjedoura”, denominação dada ao abrigo para bebés necessitados que começavam a surgir em França no século XVIII. No século XIX, a aceleração da entrada da mulher no mercado de trabalho com a concomitante organização das famílias como conjuntos nucleares (simplesmente, pai, mãe e filhos) com a consequente ausência no agregado de avós ou tias para cuidar das crianças, incentivou o aumento do número de creches (Rizzo, 1991). Com o aparecimento das creches, o lar ou o ambiente familiar deixa de ser o único contexto tradicional de desenvolvimento da criança, transferindo-se também ao educador/técnico da acção educativa a responsabilidade de acompanhar este processo. Segundo autor Granger, a creche é “um local onde a criança muito pequena recebe cuidados que ajudam o seu desenvolvimento emocional e intelectual, social e físico, onde a alimentação, a supervisão da saúde, os cuidados médicos, o descanso e as actividades, são oferecidas de acordo com exigências do processo de desenvolvimento da criança. Isto é conseguido através do pessoal que deve ter treino adequado para os cuidados e a educação da criança desta idade, através de brinquedos e equipamentos indicados para responder às necessidades. Será um local onde os pais podem deixar os filhos durante parte do dia, partilhando as suas responsabilidades e os cuidados que lhe são dispensados com pessoal da creche”.(Granger, 1976:25). “Creche é, portanto, dentro do conceito actual, um ambiente especialmente criado para oferecer condições óptimas, que propiciem e estimulem o desenvolvimento integral e harmonioso da criança” (Rizzo, 1988:23). O trabalho em creche deve residir “em dar «espaço», oportunidade e estímulo, de base social - afectiva, para a criança crescer e oferecer situações de sucesso a fim de que ela queira continuar crescendo, de forma natural, segura e feliz” (Rizzo, 1988:27). Numa definição mais formal, as “creches são estabelecimentos destinados a receber crianças em regime de semi-internato até aos três anos de idade, destinando-se a auxiliar as famílias na promoção da saúde e na educação das crianças, que não podem ser mantidas no meio familiar durante o dia” (Granger, 1976:23). “ Em Portugal a creche está devidamente regulada em termos legais, sendo o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social a entidade que a tutela. O guião técnico da Direcção Geral de Acção Social de Dezembro de 1996, define a creche como uma resposta social onde a criança deve ser acolhida, amada e respeitada na sua originalidade, e ajudada a crescer harmoniosamente. No n.º 248 da primeira série do Diário da Republica, de 27 de Outubro de 1989, são referidos os seguintes objectivos da creche: Proporcionar o atendimento individualizado da criança num clima de segurança afectiva e física que contribua para o seu desenvolvimento global; Colaborar estreitamente com a família numa partilha de cuidados e responsabilidades em todo o processo evolutivo da criança; Colaborar no despiste precoce de qualquer inadaptação ou deficiências, encaminhando adequadamente as situações detectadas; Criar um clima afectivo adequado; Proporcionar à criança situações idóneas que possam permitir-lhe o desenvolvimento da sua inteligência; Deixar a criança descobrir por si própria; Potenciar a confiança da criança em si própria e nas suas possibilidades; Ligação família/escola; Realizar um atendimento psicopedagógico no dia-a-dia, proporcionando um desenvolvimento emocionalmente seguro, sem substituir a família. Promover a integração e adaptação da criança; Criar laços afectivos com a criança; Respeitar a individualidade e o ritmo de cada um; Promover a interacção escola/família; Ajudar a criança a tomar consciência de si própria e a aceitar-se tal como é, fortalecendo a sua auto-estima; Promover a socialização; Promover a autonomia e participação activa da criança; Ajudar cada criança a progredir tanto quanto lhe seja possível, valorizando o seu percurso; Estimular o desenvolvimento físico, a coordenação motora, e o desenvolvimento sensorial e cognitivo, a função simbólica e da linguagem; Encorajar a criança, gradualmente, a desenvolver a sua capacidade para “estar” com os adultos, com as outras crianças, com objectos; Criar um espaço onde as crianças se sintam felizes, com oportunidades de experiências e vivências diversificadas; Desenvolver sentimentos de pertença a um grupo, de solidariedade e inter- ajuda; Proporcionar vivências de vida democrática; Desenvolver sentimentos de respeito pelos outros, abertura à diversidade e valorização das diferenças sociais, culturais, intelectuais e físicas. Desta forma, a creche e outras instituições infantis, deverão favorecer o desenvolvimento físico e mental, diminuindo os efeitos desfavoráveis da separação temporária da criança, da sua família, em que o Educador de Infância, terá aqui um papel fundamental. Dado que os primeiros anos de vida são decisivos no desenvolvimento do ser humano, é necessário conhecer um conjunto de normas que constituem princípios orientadores para que as creches estejam organizadas de modo a criarem um quadro de vida capaz de responder, de forma particular, às necessidades e interesses das crianças. Assim, a acção da educação nas creches, embora não descuide a satisfação das necessidades físicas e fisiológicas básicas, deverá ser entendida essencialmente como uma acção promotora de desenvolvimento infantil, em seus aspectos também básicos de interacção e de estimulação. A creche não deve ser nem um orfanato, nem uma escola materna, locais de vigilância e custódia de crianças consideradas pouco autónomas e tão pouco activas que necessitam exclusivamente de cuidados fisiológicos. Esta evolução do conceito creche foi acompanhada por um conhecimento mais alargado sobre a criança com menos de 3 anos, que hoje é vista como um ser com capacidades próprias interagindo e influenciando o meio onde está inserida. Permitindo uma comunicação permanente e uma socialização constante de forma a proporcionar um desenvolvimento adequado à criança, a creche deve proporcionar actividades diversificadas que favorecem por um lado o contacto físico entre a criança – adulto e, por outro, um desenvolvimento de linguagem mais cedo e de uma forma mais complexa. Com o papel vital de satisfazer as necessidades básicas da criança, garantindo um ambiente seguro e saudável, o desenvolvimento integral e harmonioso de todas as potencialidades e competências da criança e organização curricular da creche deverá contemplar um ambiente calmo, seguro, estimulante e felicitador de aprendizagens e interacções sociais e afectivas. O carácter educativo da creche engloba, por isso mesmo, tudo o que acontece no seu dia-a-dia organizado e planificado tendo uma vista os interesses a necessidade da criança, bem como as necessidades de aprendizagem pessoal e social, expressão e comunicação e conhecimento do mundo. Os serviços educativos apropriados em termos de desenvolvimento para crianças de creche (4 meses-3anos) são bem diferentes de todos os programas de jardim-de infância. Em creche estes são determinados pelas características e necessidades específicas das crianças durante os três primeiros anos de vida. Até aos três anos a relação criança adulto passa por diversas etapas. Durante os primeiros nove meses de vida, elas iniciam as primeiras interacções sociais e conseguem distinguir as pessoas estranhas das pessoas amigas. Reagem de uma forma positiva às interpelações das pessoas conhecidas. Se o adulto é estranho podem ter uma reacção de desagrado e de evitamento. A criança pequena consegue desenvolver uma relação de confiança e de segurança em relação ao adulto se este por sua vez responder às necessidades físicas e emocionais da criança. As crianças desta idade necessitam de sentir que o adulto é alguém que lhe dá apoio e carinho nas interacções com o mundo que a rodeia. Gabriela Portugal, defende que “Do ponto de vista das crianças, as relações interpessoais afiguram-se como determinantes: em grande parte, a sua vitalidade, a sua atitude perante o mundo e a vida estão relacionadas com a forma como foi ou não amada desde o início da sua existência. As pesquisas no campo do desenvolvimento destacam a importância crucial das relações sociais como fonte primária de variação no desenvolvimento sócio emocional” (1998:21).
Referências Bibliográficas
Creches - crianças, faz de conta & Cia, Zilma de M. Oliveira, Editora Vozes;
Post , Jacalyn ; HOHMANN, Mary (2003) Educação de Bebés em Infantários: