DIREITO
ADMINISTRATIVO
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - NEPOTISMO
O Ministério Público do Estado da Paraíba, por meio de seu representante legal infra firmado, em
exercício na Promotoria de Justiça dessa Comarca, vem, com fulcro nos artigos 37 caput e §4º, 129 II e III,
182 e 225, todos da Constituição da República, no artigo 25, inciso IV, “b”, da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público), na Lei n.º 7.347/85, art. 21 e na Lei 8.429/92, ajuizar a presente
I - DOS FATOS
A presente ação visa responsabilizar o prefeito Municipal de XXXXX – PB, por ter, na condição de
gestor público, incidido na prática de NEPOTISMO no âmbito do Poder Municipal, ao nomear e autorizar a
permanência para cargos comissionado terceiros com relação de parentesco consanguíneo, em linha reta, e
por afinidade, seus.
A presente ação foi impulsionada a partir de uma “denúncia”, motivada por vereadores locais, a
saber: Fulano de Tal, Cicrano de Tal e Cinética de Tal, que apresentaram cópias dos seus diplomas
expedidos pela Justiça Eleitoral e, o fizeram na condição de representantes do povo, que, por conseguinte,
possuem a obrigação de fiscalizar, velar e zelar pelos bens públicos e da comunidade.
Pois bem, supramencionados vereadores apresentaram – à Procuradoria Geral do Ministério Público
Estadual, para averiguação da conduta criminal, que, por sua vez, remeteu os autos a essa Promotoria de
Justiça cumulativa – documento, contendo uma lista com diversos nomes de pessoas com parentesco, que
exercem funções públicas, sendo, portanto, beneficiados pelo seu parente, prefeito.
A cópia dos documentos que instruem a presente ação, evidenciam, de maneira cristalina, a prática
do Nepotismo no Município de XXXXX – PB, consubstanciada na nomeação de pessoas, por indicação de
parente e afins, para o exercício de cargos comissionados, conforme quadro demonstrativo abaixo
transcrito:
NOME E CARGO OCUPADO PARENTE E FUNÇÃO OCUPADA
RIQUINHO RICO DA SILVA - PREFEITO MÃE DO PREFEITO, Josefa Rica da Silva - DENTISTA
Fulano – SECRETÁRIO DE
PARENTE, Fulana
AGRICULTURA
Nepotismo cruzado:
Diante de tais constatações, verifica-se que o promovido nomeou nos quadros as pessoas aduzidas,
incidindo, por conseguinte, em Nepotismo, razão pela qual se busca sua responsabilização.
Diante da clara afronta aos Princípios Constitucionais da Moralidade Administrativa,
Impessoalidade, Igualdade e Eficiência, que regem a Administração Pública, decorrente da prática nefasta
do nepotismo, resolveu o Ministério Público ajuizar a presente ação para a responsabilização do agente
ímprobo.
II - DO DIREITO
Portanto, seja tomando como ponto de vista o tratamento anti-isonômico (ou pessoal) ofertado aos
administrados, ou a personalização da Administração Pública na figura do agente competente para
promovê-la, a prática do nepotismo encontra obstáculos insuperáveis nos princípios da isonomia e da
impessoalidade.
Apesar de ter poder discricionário na escolha do ocupante de cargo em comissão ou função de
confiança, o administrador público não pode fundar-se na afinidade ou na consanguinidade, pois, se tal
conduta fosse permitida, o preenchimento de cargos e funções públicas estariam sujeitos à transmissão
hereditária, que teve vigência nos períodos régios, em detrimento do interesse público para beneficiar o
interesse familiar do agente público.
1 RANGEL JÚNIOR, Hamilton. Princípio da moralidade institucional: conceito, aplicabilidade e controle na Constituição de 1988.
São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001. pp. 27-30.
2 O qualificativo “ético” é aqui manejado de forma ampla, a abranger todas as formas de manifestações deontológicas que a
humanidade seja capaz de produzir (sejam elas éticas em sentido estrito, jurídica ou moral).
3 “Não se trata — diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito — da moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como
‘o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina do interior da administração’” (MEIRELLES, Hely Lopes apud MORAES,
Alexandre. Direito Constitucional. 21 ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p. 82).
artesanal que o Direito virá a preservar” 4.
O trato da matéria, outrossim, deve sempre obedecer a um juízo de adequação entre a atuação
administrativa concreta e a “moral administrativa”, estabelecendo, de pronto, se a medida é compatível ou
não com o conjunto de valores que a sociedade erigiu objetivamente como modelos à condução de sua
máquina administrativa. É a partir da análise excludente que se verifica o grau de moralidade de um ato
infraconstitucional, já que é inviável a delimitação exata das prescrições éticas objetivamente aceitas pela
sociedade brasileira5.
Tomando o caso examinado em específico, infere-se que a reprovação social ao nepotismo, como
visto, vem de longa data. A concepção de que uma pessoa, por deter atributos parentais diversos de outras,
deve receber melhores oportunidades profissionais é contrária ao sentimento ético de uma forma geral,
ultrapassando consideravelmente as barreiras de tempo e espaço.
Isso se deve muito à natureza das normas ofendidas pela prática do nepotismo. Deveras, os valores
da igualdade e da indisponibilidade da coisa pública só não encontram guarida jurídica, ética ou moral em
sociedades que abonem a confusão patrimonial dos bens estatais com os de seus soberanos ou que estejam
sob regime de exceção.
Além disso, a nomeação de nepotes, ainda que tomada de per si (sem se considerar as normas do
Direito posto), é tida como antiética.
A consciência coletiva nacional tende a se sentir repugnada com a manipulação da máquina estatal
em prol de interesses próprios, pelos representantes de seu titular, o povo — mormente na atualidade,
quando a população tem se deparado constantemente com a omissão penosa do Estado em vários serviços
de ordem essencial.
4 RANGEL JÚNIOR, Hamilton. Princípio da moralidade institucional: conceito, aplicabilidade e controle na Constituição de 1988.
São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001. pp. 29-30.
5 José dos Santos Carvalho Filho (Direito Administrativo. 10ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 15) expressa bem essa
tendência de identificação direta da imoralidade do ato.
6 GARCIA, Emerson. O nepotismo. Disponível em: http://www.jus.com.br. Último acesso em: 20 fevereiro 2006; itálicos originais.
define as fronteiras do que é subjetivo (individual) e do que é objetivo (coletivo),
desrespeitar essa fronteira é fugir ao senso comum, e, na linha desse autor, manifestar-se
arbitrário, fugidio ao sentido, à valia, à dignidade intrínseca das coisas; eivado de
imoralidade, então”7.
Como se vê, a contratação ou nomeação de parentes por aqueles que detenham tais prerrogativas no
serviço público, pela sua frontal contraposição ao conjunto de regras éticas afetas à Administração Pública
brasileira, revelam-se faltas ao Princípio Constitucional da Moralidade Administrativa.
E mais adiante arremata o constitucionalista brasileiro, fazendo citação direta a Joaquim Gomes
Canotilho e Vital Moreira:
“Canotilho e Moreira, igualmente, fazem essa advertência, afirmando que “não se trata de
uma perspectiva meramente tecnocrática, pois, como resulta do princípio da gestão
participativa, à Constituição interessam não apenas os meios tecnológicos de organização,
mas também as condicionantes sócio-políticas em que se move a Administração Pública” 9”
Faz-se viável, portanto, depurar — ante o conteúdo jurídico do princípio da eficiência — que o
contexto analisado apresenta transgressões indeléveis também a essa norma basilar da Administração
Pública.
A racionalização dos meios, a obtenção de resultados mais céleres, a conformação de uma produção
administrativa mais acelerada aos princípios e regras jurídicos, todos objetivos almejados pela previsão
constitucional, só podem ser alcançados a partir de uma sistematização racional, cientificamente
organizada, do quadro de servidores públicos.
Tal modo de execução das atividades administrativas tem como pressuposto inarredável, assim, o
7 RANGEL JÚNIOR, Hamilton. Princípio da moralidade institucional: conceito, aplicabilidade e controle na Constituição de 1988.
São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001. pp. 18-19; grifos acrescidos.
8 MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 12 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 317; itálicos originais; negritos acrescidos.
9 Idem, ibidem.
ingresso de servidores capacitados de acordo com a função a ser exercida, selecionados pelo modo mais
apropriado na atualidade, do ponto de vista econômico, administrativo e jurídico: a seleção objetiva
(gênero do qual o concurso público é espécie).
A concorrência de fatores estritamente subjetivos, como os de parentesco, emocionais e até afetivos
no processo seletivo, a contrario sensu, é fator de ineficiência das atividades dos futuros selecionados para
cargos ou funções públicas, gerando incontido desrespeito ao comando principiológico constitucional.
Portanto, a prática do Nepotismo se choca com o Princípio da Eficiência, especialmente na forma de
provimento do cargo ou função. A nomeação de um parente para o exercício de cargo público não garante
a eficiência desse sevidor, o que seria mais provável de se obter com a adoção de um critério objetivo de
seleção, como o concurso público.
A Doutrina tradicional do ramo constitucional do Direito há muito apregoa a incompatibilidade da
prática de favorecimento pessoal com o modelo de Estado Democrático de Direito adotado pela Carta de
1988, principalmente em razão da má qualidade do serviço ofertado:
“A democracia, com eleições periódicas e substituições freqüentes dos governantes, numa
primeira fase, até piorou a situação, dando ensejo ao triunfo do spoil´s system. Cada mudança
de governo, particularmente quando este passava para o partido adversário, acarretava a
“derrubada” dos servidores nomeados pelo anterior e a distribuição dos lugares entre os
apaniguados do novo, como pagamento pelos serviços eleitorais prestados.
Tal sistema gerava inconvenientes graves, quais a instabilidade administrativa, as
interrupções no serviço, a descontinuidade nas tarefas, e não podia ser mantido no Welfare
State, cujo funcionamento implica a existência de um corpo administrativo capaz,
especializado e treinado, à altura de suas múltiplas tarefas. Se de modo geral foi abandonado,
mas se demitindo os admitidos pelo governo anterior, continua a praxe de premiar os
correligionários à custa da administração pública”10.
Na mesma esteira, apregoa Diógenes Gasparini sobre a ineficiência do processo discricionário de
escolha de servidores:
“Pelo concurso, afastam-se os inábeis e os indicados por figuras proeminentes do mundo
administrativo, social e político, e prestigiam-se os mais aptos à satisfação dos interesses da
Administração Pública”11.
Anotem-se, ainda, as oportunas considerações do Min. Carlos Ayres de Britto, relator da ADC nº 12,
que tem por objeto a Resolução nº 07 do Conselho Nacional de Justiça, acrescentando variados outros
empecilhos à concreção do princípio da eficiência, a partir da prática de nepotismo:
“36.(...)II – o princípio da eficiência, a postular o recrutamento de mão-de-obra qualificada
para as atividades públicas, sobretudo em termos de capacitação técnica, vocação para as
atividades estatais, disposição para fazer do trabalho um fiel compromisso com a assiduidade
e uma constante oportunidade de manifestação de espírito gregário, real compreensão de que
servidor público é, em verdade, servidor do público. Também estes conceitos passam a
experimentar bem mais difícil possibilidade de transporte para o mundo das realidades
empíricas, num ambiente de projeção do doméstico na intimidade das repartições estatais,
a começar pela óbvia razão de que já não se tem a necessária isenção, em regra, quando se
vai avaliar a capacitação profissional de um parente ou familiar. Quando se vai cobrar
assiduidade e pontualidade no comparecimento ao trabalho. Mais ainda, quando se é
preciso punir exemplarmente o servidor faltoso (como castigar na devida medida um pai, a
própria mãe, um filho, um(a)esposo (a) ou companheiro (a), um(a) sobrinho (a), enfim, com
quem eventualmente se trabalhe em posição hierárquica superior?). E como impedir que os
colegas não-parentes ou não-familiares se sintam em posição de menos obsequioso tratamento
funcional? Em suma, como desconhecer que a sobrevinda de uma enfermidade mais séria, um
trauma psico-físico ou um transe existencial de membros de u´a mesma família tenda a
repercutir negativamente na rotina de um trabalho que é comum a todos? O que já significa a
paroquial fusão do ambiente caseiro com o espaço público. Pra não dizer a confusão mesma
10 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 1993. p. 203; grifos acrescidos.
11 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 172.
entre tomar posse nos cargos e tomar posse dos cargos, na contra-mão do insuperável
conceito de que “administrar não é atividade de quem é senhor de coisa própria, mas gestor
de coisa alheia” (Rui Cirne Lima);
Também, o Supremo Tribunal Federal, nos autos do Recurso Extraordinário nº 579.951-4/RN, no
voto do Relator Ricardo Lewandowshi, já reconheceu expressamente:
“E no mais das vezes, a nomeação de parentes, dada absoluta inapetência destes para o
trabalho e o seu completo despreparo para o exercício das funções que alegadamente exercem,
vulnera também o princípio da eficiência, introduzido pelo constituinte derivado no caput do
art. 37 da Carta Magna, por meio da EC 19/1998, num evidente desvio de finalidade,
porquanto permite que o interesse privado, isto é, patrimonial, no sentido sociológico e também
vulgar da expressão, prevaleça sobre o interesse coletivo”.
Para o Ministro, o que está em causa “não é o trabalho desempenhado por esses “servidores-
parentes”, mesmo porque a obrigação de bem trabalhar constitui dever de todos os ocupantes de cargos
públicos, sejam eles concursados ou não. O que está em debate, com efeito, não é a qualidade do serviço
por eles realizado, mas a forma do provimento dos cargos que ocupam, que se deu em detrimento de
outros cidadãos igualmente ou mais capacitados para o exercício das mesmas funções, gerando a
presunção de dano à sociedade como um todo”. Não se questiona a competência, a aptidão ou a capacidade
dos parentes nomeados, mas a força propulsora da indicação para o cargo ou função.
Por outro lado, a nomeação de parentes aumenta as chances de comprometer a excelência na
prestação do serviço público. Isto também porque a hierarquia administrativa acaba por ser viciada pela
prática do Nepotismo. Afinal, se o servidor foi galgado ao cargo em razão das fortes relações de parentesco
que têm com a autoridade pública, não é crível que seus deslizes funcionais sejam reprimidos pela
Administração com o rigor exigido pela lei.
Também é de se supor que ao servidor parente, em razão do parentesco, sejam reservadas as tarefas
mais amenas, os trabalhos menos penosos, as oportunidades mais cobiçadas. Afinal, ele é da família.
Não é desarrazoado presumir, ainda, que as cobranças e as exigências de resultados sejam
reservadas apenas aos servidores não parentes. Afinal, eles não são da família. Novamente, o interesse
público cede diante do interesse familiar e o princípio da impessoalidade é malferido.
12 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 16 ed. São Paulo: Malheiros, 2003. pp. 64-65; itálicos
originais.
ou seus donos, cabendo-lhes por isso tão-só o dever de guardá-los e aprimorá-los para a
finalidade a que estão vinculados13.
A mesma leitura é ofertada pelos Tribunais:
“ADMINISTRATIVO: PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE DO INTERESSE PÚBLICO. PODER
DE DIREÇÃO DO PROCESSO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO GERAL DE DIREITO QUE VEDA O
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA, DESCONTO DO MONTANTE JÁ PAGO NA VIA
ADMINISTRATIVA. AUSÊNCIA.
1 - Ainda que não tenha havido pedido da parte a respeito do desconto das parcelas pagas na
via administrativa, agiu o MM. Juiz a quo corretamente, ao determinar a dedução do montante
aludido, em atenção ao princípio da indisponibilidade do interesse público.
2 - Aplicação do princípio geral de direito que veda o
enriquecimento sem causa.
3 - Em face do princípio da indisponibilidade do interesse público, não remanesce à
administração pública qualquer margem de escolha para optar entre o pagamento do
montante devido sem o desconto do que já foi pago administrativamente ou com o referido
desconto.
4 - O administrador no exercício da gestão do dinheiro público, exerce função
administrativa, estando portanto adstrito ao cumprimento da finalidade pública erigida na
lei e nos princípios constitucionais, dentre os quais exsurge sobranceiro o princípio da
indisponibilidade do interesse público.
5 - Agravo improvido”. (TRF 3ª Região, Agravo de Instrumento nº 46.652, Relator(a): Juiz Arice
Amaral, Segunda Turma, Julgamento: 30/11/1999, DJU: 12/04/2000, p. 175; grifos acrescidos).
A partir das linhas básicas relativas ao princípio da indisponibilidade do interesse público, infere-se
que a nomeação ou contratação de nepotes afronta também essa prescrição fundamental da Carta
Republicana 1988.
Deveras, como já restou assentado, o agente motivador da prática de nepotismo traz para o exercício
de suas funções interesses destinados à mera promoção econômica de familiares, em detrimento do norte
de consecução eficiente do bem coletivo a que está submetida à Administração Pública.
O desvio de finalidade, neste ponto, é expresso. O ato que deveria ter como fim único a realização de
medidas administrativas instrumentais à realização concreta das aspirações da sociedade volta-se de
súbito ao favorecimento de alguns indivíduos particulares, que detêm vínculo de parentesco com o agente.
A confusão entre as personalidades natural e administrativa do agente gera total desprestígio à
necessária separação republicana entre as esferas privada e pública, e, por conseguinte, subtrai do
interesse público ferramentas imprescindíveis à sua materialização.
Depreende-se, pois, que o desvio de finalidade inerente ao ato de Nepotismo denuncia a
interferência de interesses privados do agente na condução do munus público, contrariando a regra basilar
do Estado Democrático de Direito14.
13 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 17; itálicos originais.
14 O Princípio é norma constitucional implícita, decorrência direta da adoção do modelo de Estado Democrático de Direito e de
alguns comandos esparsos do texto constitucional. Cf., para tanto, MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito
Administrativo. 16 ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 87.
Há muito a Doutrina vem acentuando a força normativa dos princípios constitucionais. As lições de
que os seus conteúdos devem ser encarados como meras declarações de vontade ou normas programáticas
sem eficácia imediata já foram ultrapassadas, em homenagem ao corolário da supremacia constitucional.
Com efeito, se é certo que as normas constitucionais detêm superioridade material e formal frente à
legislação ordinária, com mais razão ainda deve-se atribuir maior efetividade à sua principiologia. Os
princípios, como normas gerais, informadoras e regentes de todo o sistema jurídico representam
prescrições de ordem fundamental, necessárias à própria existência válida da norma jurídica.
Sem esse alicerce — ou sem a sua correspondente efetividade, a ordem constitucional tende a sofrer
um colapso irreversível, pondo em risco a própria base do sistema jurídico.
Portanto, os princípios não são meras recomendações. São, sim, comandos normativos, de caráter
congente, impositivo e aplicação imediata.
A aplicação impositiva e imediata dos princípios constitucionais em matéria de nepotismo foi
entendimento recentemente sufragado pelo Supremo Tribunal Federal, nos autos do Recurso
Extraordinário nº 579.951-4/RN, no voto do Relator Ricardo Lewandowshi, quando reconheceu
expressamente:
“É que os princípios constitucionais, longe de configurarem meras recomendações de caráter
moral ou ético, consubstanciam regras jurídicas de caráter prescritivo, hierarquicamente
superiores às demais e “positivamente vinculantes”, como ensina Gomes Canotilho.7 A sua
inobservância, ao contrário do que muitos pregavam até recentemente, atribuindo-lhes uma
natureza apenas programática, deflagra sempre uma consequência jurídica, de maneira
compatível com a carga de normatividade que encerram. Independentemente da preeminência
que ostentam no âmbito do sistema ou da abrangência de seu impacto sobre a ordem legal, os
princípios constitucionais, como se reconhece atualmente, são sempre dotados de eficácia, cuja
materialização pode ser cobrada judicialmente se necessário.
(...)
Ora, tendo em conta a expressiva densidade axiológica e a elevada carga normativa que
encerram os princípios abrigados no caput do art. 37 da Constituição, não há como deixar de
concluir que a proibição do nepotismo independe de norma secundária que obste formalmente
essa reprovável conduta. Para o expurgo de tal prática, que lamentavelmente resiste incólume
em alguns “bolsões” de atraso institucional que ainda existem no País, basta contrastar as
circunstâncias de cada caso concreto com o que se contém no referido dispositivo
constitucional”.
E citou a manifestação do Ministro Gilmar Mendes sobre a mesma matéria:
“Dentre tais pronunciamentos, destaco a manifestação do Ministro Gilmar Mendes, nos
seguintes termos: “Essa moralidade não é elemento do ato administrativo, como ressalta
GORDILLO, mas compõe-se dos valores éticos compartilhados culturalmente pela comunidade
e que fazem parte, por isso, da ordem jurídica vigente. A indeterminação semântica dos
princípios da moralidade e da impessoalidade não podem ser um obstáculo à determinação da
regra da proibição ao nepotismo. Como bem anota GARCÍA DE ENTERRIA, na estrutura de
todo conceito indeterminado é identificável um ‘núcleo fixo’ (Begriffkern) ou ‘zona de certeza’,
que é configurada por dados prévios e seguros, dos quais pode ser extraída uma regra aplicável
ao caso. A vedação ao nepotismo é regra constitucional que está na zona de certeza dos
princípios da moralidade e da impessoalidade ”(grifei).
(...)
“Assim, o argumento, data venia falacioso, de que, se a Carta Magna não vedou expressamente
a ocupação de cargos em comissão ou de confiança por parentes, essa prática seria lícita, não
merece prosperar, pois totalmente apartada do ethos que permeia a “Constituição-cidadã” a
que se referia o saudoso Ulisses Guimarães”.
E concluiu dizendo:
“Por tudo quanto até aqui exposto, entendo que carece de plausibilidade a exegese segundo a
qual que o nepotismo seria permitido simplesmente porque não há lei que o proíba ”.
Desta feita, assentado que os conteúdos normativos dos princípios constitucionais administrativos
vedam a contratação ou nomeação de parentes de forma arbitrária e que a vinculação e efetividade plenas
dessas normas são ínsitas à própria organização constitucional e amplamente reconhecidas pela Doutrina
especializada, é forçoso reconhecer a inconstitucionalidade e, por conseguinte, a nulidade dos atos que
revelem a prática de Nepotismo.
15 DINIZ, Maria Helena. Lei de Introdução ao Código Civil Comentada. 3. ed.. São Paulo. Saraiva, 1997. pág. 110-112.
disso, os fundamentos de decisões adotados em sede de controle concentrado de constitucionalidade —
do qual a ADC é espécie — são tão vinculantes quanto seus dispositivos, e deles inafastáveis, como se
pode aferir da decisão do mesmo Pretório na Reclamação 2986/SE.
Com essa decisão, vê-se que o Supremo Tribunal Federal tem adotado e defendido, sob o nome de
transcendência dos fundamentos, entendimento segundo o qual os próprios fundamentos da decisão em
sede de controle concentrado de constitucionalidade são vinculantes frente aos órgãos do Judiciário e à
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal 16, por serem
logicamente indissociáveis do dispositivo declaratório final:
“FISCALIZAÇÃO ABSTRATA DE CONSTITUCIONALIDADE. RECONHECIMENTO, PELO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DA VALIDADE CONSTITUCIONAL DA LEGISLAÇÃO DO
ESTADO DO PIAUÍ QUE DEFINIU, PARA OS FINS DO ART. 100, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO, O
SIGNIFICADO DE OBRIGAÇÃO DE PEQUENO VALOR. DECISÃO JUDICIAL, DE QUE ORA SE
RECLAMA, QUE ENTENDEU INCONSTITUCIONAL LEGISLAÇÃO, DE IDÊNTICO CONTEÚDO,
EDITADA PELO ESTADO DE SERGIPE. ALEGADO DESRESPEITO AO JULGAMENTO, PELO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, DA ADI 2.868 (PIAUÍ). EXAME DA QUESTÃO RELATIVA AO
EFEITO TRANSCENDENTE DOS MOTIVOS DETERMINANTES QUE DÃO SUPORTE AO
JULGAMENTO, “IN ABSTRACTO”, DE CONSTITUCIONALIDADE OU DE
INCONSTITUCIONALIDADE. DOUTRINA. PRECEDENTES. ADMISSIBILIDADE DA
RECLAMAÇÃO. MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA.
[...]
O litígio jurídico-constitucional suscitado em sede de controle abstrato (ADI 2.868/PI),
examinado na perspectiva do pleito ora formulado pelo Estado de Sergipe, parece introduzir a
possibilidade de discussão, no âmbito deste processo reclamatório, do denominado efeito
transcendente dos motivos determinantes da decisão declaratória de constitucionalidade
proferida no julgamento plenário da já referida ADI 2.868/PI, Rel. p/ o acórdão Min. JOAQUIM
BARBOSA.
Cabe registrar, neste ponto, por relevante, que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no
exame final da Rcl 1.987/DF, Rel. Min. MAURÍCIO CORREA, expressamente admitiu a
possibilidade de reconhecer-se, em nosso sistema jurídico, a existência do fenômeno da
“transcendência dos motivos que embasaram a decisão” proferida por esta Corte, em processo
de fiscalização normativa abstrata, em ordem a proclamar que o efeito vinculante refere-se,
também, à própria “ratio decidendi”, projetando-se, em consequência, para além da parte
dispositiva do julgamento, “in abstracto”, de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade.
Essa visão do fenômeno da transcendência parece refletir a preocupação que a doutrina vem
externando a propósito dessa específica questão, consistente no reconhecimento de que a
eficácia vinculante não só concerne à parte dispositiva, mas refere-se, também, aos próprios
fundamentos determinantes do julgado que o Supremo Tribunal Federal venha a proferir
em sede de controle abstrato, especialmente quando consubstanciar declaração de
inconstitucionalidade, como resulta claro do magistério de IVES GANDRA DA SILVA
MARTINS/GILMAR FERREIRA MENDES (“O Controle Concentrado de Constitucionalidade”, p.
338/345, itens ns. 7.3.6.1 a 7.3.6.3, 2001, Saraiva) e de ALEXANDRE DE MORAES
(“Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional”, p. 2.405/2.406, item n. 27.5,
2ª ed., 2003, Atlas)”17
Com isso, os fundamentos adotados na decisão da ADC nº 12 se aplicam a todas as hipóteses fáticas
semelhantes às apresentadas ao Poder Judiciário que reclamem a definição da disciplina constitucional
sobre o Nepotismo.
Além da analogia, vale dizer que os princípios gerais do direito também são aplicáveis em caso de
omissão legislativa (art. 4º da LICC).
16 Art. 102, §2º, da Constituição da República.
17 Reclamação 2986 MC/SE, Relator: Celso de Mello, Decisão: 11/03/2005; grifos acrescidos.
No caso do Nepotismo, o princípio da Razoabilidade determina de forma imperiosa a aplicação de
tratamento isonômico a todos os órgãos da Administração Pública, mediante a integração do sistema
jurídico, aplicando-se a Súmula nº 13 juntamente com os dispositivos da Resolução nº 7-CNJ, aos poderes
Executivo e Legislativo e ao Ministério Público. Dessa maneira, haverá a integração do sistema jurídico de
forma e será conferido tratamento isonomico e com igual rigor a todo Nepotismo, seja no Judiciário, no
Executivo, no Legislativo, no Ministério Público ou nos Tribunais de Contas.
Não é lógico ou racional que uma hipótese de Nepotismo caracterizada no Poder Judiciário não se
caracaterize nos Poderes Executivo ou Legislativo. Não pode haver tratamento diferenciado entre poderes.
A partir da aplicação conjunta da Súmula nº 13 e da Resolução nº 07, seja pela analogia, seja pelo
principio da Razoabilidade, resta evidenciada a proibição de contratar ou nomear parentes até o 3º grau da
autoridade nomeante, de servidor comissionado da mesma pessoa jurídica e de membros de Poder (Juízes,
membros do Ministério Público, Secretários, Governadores, Prefeitos, Deputados, Vereadores e membros
de Tribunais ou Conselhos de Contas 18), para o exercício de cargo comissionado ou função de confiança ou
gratificada, inclusive para o exercício de cargo a ser ocupado por agente político, já que nem a súmula e
nem o voto do Ministro-Relator excetuaram esses cargos, e mesmo que não haja subordinação direta e que
o parente daqueles tenham se submetido a concurso público.
Conclui-se que as pessoas que geram Nepotismo são: autoridade nomeante, agentes políticos,
membros de Poder e servidores comissionados. As pessoas que são atingidas pelo nepotismo são: agente
político não eleito/não concursado, servidor comissionado e ocupante de função de confiança ou
gratificada.
19 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23 ed. São Paulo: Malheiros, 2004. pp. 46-47; grifos acrescidos.
20 Até mesmo a interpretação conforme a constituição, método de declaração de inconstitucionalidade de norma ou ato
administrativo sem redução de texto, considera esse primado, já que exclui uma das interpretações oriundas daquele texto escrito.
Ainda que não haja redução do texto literal do ato, a atividade fiscalizatória do órgão Judiciário determina a exclusão
(incidentalmente ao caso fático tratado ou de forma abstrata, geral) de uma das normas extraídas daquele diploma administrativo
ou legal a partir do processo de exegese. Há, em verdade, redução normativa, sendo inviável cogitar-se de convalidação do ato
impugnado.
21 Celso Antônio agrupa no conceito de “desvio de poder” o uso do ato para fim diverso, ainda que público, do que estabelecido
legalmente, bem como para fim particulares, em flagrante desvio à finalidade pública (Cf. MELLO, Celso Antônio Bandeira de.
Curso de Direito Administrativo. 15 ed. São Paulo: Malheiros, 2003. pp. 371-372).
22 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 12 ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 225; negritos originais; sublinhados
acrescidos.
23 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 15 ed. São Paulo: Malheiros, 2003. pp. 430 e 434; itálicos
originais; sublinhados acrescidos.
desnatura a higidez jurídica do ato, eivando-o de vício insanável. O interesse público fica, por
conseguinte, em segundo plano.
Desta feita, todos os de nomeação e posse dos nepotes devem ser declarados nulos pelo Poder
Judiciário, em face da inércia no exercício do poder de autotutela pela própria Administração Pública
demandada.
No julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, do Recurso Extraordinário nº 579.951/RN, o
Ministro Ricardo Lewandowski declarou NULO o ato de nomeação considerado Nepotismo:
“Por todo o exposto, pelo meu voto, conheço do recurso extraordinário, dando-lhe parcial
provimento, declarando nulo o ato de nomeação de Francisco Souza do Nascimento,
considerando hígida a nomeação do agente político Elias Raimundo de Souza, em especial por
não ter ficado evidenciada a prática do nepotismo cruzado, acompanhando, nesse aspecto, o
entendimento da douta maioria.”
E meio do voto, o Ministro fez referência à ementa referente a ADI nº 2.661/MA, julgado de relatoria
do Ministro Celso de Mello:
“O PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA - ENQUANTO VALOR CONSTITUCIONAL
REVESTIDO DE CARÁTER ÉTICO-JURÍDICO - CONDICIONA A LEGITIMIDADE E A VALIDADE
DOS ATOS ESTATAIS. - A atividade estatal, qualquer que seja o domínio institucional de sua
incidência, está necessariamente subordinada à observância de parâmetros ético-jurídicos que
se refletem na consagração constitucional do princípio da moralidade administrativa. Esse
postulado fundamental, que rege a atuação do Poder Público, confere substância e dá
expressão a uma pauta de valores éticos sobre os quais se funda a ordem positiva do Estado. O
princípio constitucional da moralidade administrativa, ao impor limitações ao exercício do
poder estatal, legitima o controle jurisdicional de todos os atos do Poder Público que
transgridam os valores éticos que devem pautar o comportamento dos agentes e órgãos
governamentais”.
Somente com a proibição do Nepotismo é que o interesse público estará a salvo dessas e de outras
mazelas. Do contrário, havendo desvio de finalidade no ato administrativo, pela incidência do Nepotismo
em sua motivação, o ato será sempre viciado, portanto, nulo de pleno direito.
Promotor de Justiça
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL (não apresentação
de projeto de aterro sanitário)
a ser processada segundo o rito ordinário, em face de FULANA, brasileira, Prefeita do Município de
XXXXX – PB, Portadora do CPF 000.000.000-00, podendo ser encontrada na Rua dos Prefeitos, Bairro,
XXXXX – PB, ou na sede administrativa da Prefeitura Municipal de XXXXX – PB, pelos fatos e
fundamentos a seguir declinados.
I. DOS FATOS
A demandada, na condição de gestora do município de XXXXX – PB, não apresentou projeto de
aterro sanitário, em consórcio ou separadamente à SUDEMA, órgão licenciador para atividade,
devidamente acompanhado de cronograma de execução, contemplando todas as exigências discriminadas
na Resolução CONAMA nº308/2002. Também não apresentou projeto de recuperação da área degradada,
utilizada como lixão, à SUDEMA, para que o aterro sanitário fosse instalado em local diverso.
Acentuou, ainda, o órgão supramencionado, que o município foi autuado por fazer funcionar aterro
sanitário “LIXÃO”, serviço potencialmente poluidor, sem licença dos órgãos ambientais competentes.
Tendo em vista, o não cumprimento das exigências já mencionadas, foi a demandada condenada
pela Justiça Federal, em sentença transitada em julgado (TRF-5ª Região – Apelação Cível nº 528.749-PB –
Processo 2007.82.00.009354-7. Rel.: Juiz Francisco Cavalcanti) 24; ficando, por conseguinte, latente a
inobservância da gestora municipal com os desígnios da Constituição Federal, que determina como sendo
um dever dos gestores a proteção e defesa do Meio Ambiente, bem como das diretrizes da Política
Nacional dos Resíduos Sólidos, que reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes,
metas e ações, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos
sólidos, estipuladas na Lei Federal nº 12.305/2010.
O descumprimento, portanto, deixou em risco o a saúde a população, bem como a fauna e a flora
local. É sabido que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações; e que incumbe ao Poder Público proteger a
fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, e, ainda,
que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas
ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
Ao inobservar as diretrizes legais e as determinações do Processo 2007.82.00.009354-7, a gestora do
município de XXXXX – PB, causou poluição em níveis tais que resultam em danos à saúde humana, e que
24 Ementa em anexo.
provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora, quando fez lançamento de
resíduos sólidos, líquidos, gasosos e detritos, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou
regulamentos.
A comunidade local e o meio ambiente, como um todo, face a inércia do poder publico municipal,
estão, de tal maneira, até a presente data, em risco.
II. DO DIREITO
a) Do cabimento da ação civil pública e da legitimidade do Ministério Público
A Constituição Federal assegura o acesso à Justiça (garantias da ação e da defesa), em dispositivo que
assim se ostenta:
“A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (art. 5º, XXXV).
O princípio inserto em tal dispositivo confere o direito subjetivo de se postular provimento
jurisdicional em virtude de violação da ordem jurídica.
Atento à existência de interesses de elevada abrangência e repercussão, que aproveitam em maior ou
menor medida a toda coletividade, o legislador regrou, em uma série de dispositivos, o exercício do direito
de ação por meio de instrumento coletivo, a ser utilizado pelo órgão estatal incumbido da defesa do
interesse social.
O artigo 129, III, da Carta Política, por outro lado, conferiu ao Ministério Público a função de
promover ação civil pública para a proteção de interesses difusos e coletivos, como um dos instrumentos
ensejadores da consecução das finalidades institucionais, isto é, a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (artigo 127, da CF).
A Lei nº 7.347/85 prevê a possibilidade de propositura de ação civil pública para tutela de todo e
qualquer interesse difuso ou coletivo (artigo 1º, IV), bem assim a legitimidade do Ministério Público para
seu ajuizamento (artigo 5º).
A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei nº 8.625/93), por outro giro, atribuiu ao
Ministério Público a função de promover a ação civil pública destinada à proteção, prevenção e reparação
dos danos causados a interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos.
Assim, na medida em que se discute na presente ação matéria que interessa a todas as pessoas da
comunidade de Pilar - PB, inegável a adequação do meio processual utilizado e a legitimidade ativa do
Parquet.
25 Ementa em anexo.
26 Conforme: Pazzaglini Filho, Marino. et al, Improbidade administrativa. 3. Ed. São Paulo: Atlas, 1998. p. 13.
Esses atos estão previstos em leis. No caso do exercício da atividade urbanística e ambiental o agente
público não tem qualquer margem de atuação em critérios de conveniência e oportunidade. Nessa esteira
são as palavras de Hely Lopes Meirelles27: “o agente público fica inteiramente preso ao enunciado da lei,
em todas as suas especificações”.
De tal sorte, a omissão de qualquer representante do Poder Público – quando versar acerca de
matéria ambiental - implica na busca de sua responsabilização imediata, o que presentemente ocorre por
intermédio de ação civil de improbidade administrativa ambiental.
Isto porque, as questões ambientais são marcadas de intensa atividade administrativa, concernentes
em atos autorizadores ou licenciadores do Poder Público e atos de fiscalização das práticas potencialmente
danosas ao meio ambiente, além do implemento de programas voltados à proteção ambiental dos diversos
recursos disponíveis.
Eventual omissão, que não tem por antecedente o exercício da discricionariedade, significa descaso
com a coisa pública.28
A Lei de Improbidade Administrativa deve ser aplicada de maneira correlacionada com as leis
ambientais de forma a observar e obedecer aos princípios que regem o Direito Ambiental, insculpidos pela
Constituição Federal.
Isso porque, se, por um lado, o Estado é o promotor por excelência da defesa do meio ambiente na
sociedade quando elabora e executa políticas públicas ambientais e quando exerce o controle e a
fiscalização das atividades potencialmente degradadoras do meio ambiente, por outro lado, ele aparece,
também, em muitas circunstâncias, como responsável direto e indireto pela degradação da qualidade
ambiental, quando elabora e executa outras políticas públicas – como, por exemplo, as relacionadas ao
desenvolvimento econômico e social – e quando se omite no dever que tem de fiscalizar as atividades que
causam danos ao meio ambiente e de adotar medidas administrativas necessárias à preservação da
qualidade ambiental.29
Em decorrência da norma trazida na Constituição Federal coube ao legislador brasileiro especificar
os atos de improbidade administrativa, o que ocorreu com a vigência da Lei nº 8.429/92, conforme se vê de
seus artigos 1º, 2º, 4º, 5º, 11 e 12:
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra
a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao
patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou
concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos
na forma desta lei.
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas
entidades mencionadas no artigo anterior.
Art. 4° Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela estrita
observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato
dos assuntos que lhe são afetos.
Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do
agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano.
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
III. DA JURISPRUDÊNCIA
Corroborando com o intento, podemos citar várias decisões dos tribunais brasileiros:
DIREITO ADMINISTRATIVO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA -PREFEITO - CONDUTAS QUE
OCASIONARAM DANOS AMBIENTAIS - INOBSERVÂNCIA DO ARTIGO 225 DACONSTITUIÇÃO
FEDERAL - CARACTERIZAÇÃO DE ATODE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - APLICAÇÃO DA
LEI 8.429/92. Súmula: Negaram Provimento. (TJMG, Número doProcesso:1.0107.06.999989-
7/001, Relator: Audebert Delage, Data do Julgamento: 05/10/2006, Data da
Publicação:24/10/2006)
“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. (APELAÇÃO CÍVEL. CONSTITUCIONAL,
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MUNICÍPIO DE PINHEIRO
MACHADO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
URBANOS. ATERRO CONTROLADO. DANOS AMBIENTAIS. NECESSIDADE DE COBERTURA
DIÁRIA. OMISSÃO DO PREFEITO MUNICIPAL. PROCEDÊNCIA NA ORIGEM. IMPROVIMENTO
EM GRAU RECURSAL. 1. PRELIMINAR. REVALIDAÇÃO DA SENTENÇA DESCONTITUÍDA
PELO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. (...) 2. DO APELO DO MUNICIPIO DE PINHEIRO MACHADO.
De acordo com a norma 8.849/85 da ABNT, item 3.2, a necessidade de cobertura do lixo é
diária, o que possibilita a adequação das condições operacionais do aterro. Ademais, esta
técnica de cobertura diária e utilizada em todos os aterros do Brasil. IMPROVIMENTO. 3. DO
APELO DE CARLOS ERNESTO BETIOLLO. 3.1. Comete ato de improbidade o administrador
que retarda e omite indevidamente ato de ofício, agindo contrariamente ao dever de boa
administração, conforme o art. 11, II da Lei n.º 8.429/92. 3.2. Ainda mais quando o mesmo
administrador é recorrente na conduta, porquanto, ao que se constata dos autos pela segunda
vez, em mandatos consecutivos, o ex-prefeito Carlos Ernesto Betiollo deixou de proceder a
cobertura de resíduos sólidos urbanos depositados em aterro controlado, o que importou em
ocorrência de danos ambientais. IMPROVIMENTO. PRELIMINAR REJEITADA. APELOS NÃO
PROVIDOS.) INEXISTÊNCIA DE OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO, OMISSÃO OU
NECESSIDADE DE ESCLARECIMENTOS. EMBARGOS DESACOLHIDOS”. (Embargos de
Declaração Nº 70018431924, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Wellington Pacheco Barros, Julgado em 21/03/2007)
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - I - Ação promovida
em face de prefeito. Competência do Juízo de primeiro grau. Inconstitucionalidade dos §§ 1o e
2°, do artigo 84, do Código de Processo Penal, declarada pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal
(ADIN 2797). AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA -II – A causa de pedir e
o pedido apresentam-se claros e objetivos, não havendo qualquer dificuldade de interpretação
capaz de dificultar a defesa dos réus. III - Legitimidade ativa do Ministério Público. A norma
constitucional, definindo como funções institucionais do Ministério Público, ‘a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis’, atribuiu
poderes para “promover o inquérito civil e a ação civil pública, para proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos” (arts. 127 e 129,
inc. III). (...) Preliminares afastadas. Recurso improvido”. (TJ/SP, Agravo de Instrumento nº
4031475700, Relator(a): Moacir Peres, Órgão Julgador: 7ª Câmara de Direito Público, Data do
Julgamento: 08/10/2007).
“ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – AÇÃO CIVIL
PÚBLICA - ART. 11 DA LEI N. 8.429/92 - NECESSIDADE DA CORTE DE ORIGEM MANIFESTAR-
SE SOBRE LESÃO A PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS - OMISSÃO RELEVANTE - VIOLAÇÃO
DO ART. 535, II, DO CPC. 1. O Tribunal a quo não atentou para o fato de que os atos de
improbidade, a teor do art. 11 da Lei n. 8.429/92, também se configuram mesmo quando
inexistente lesão ao erário público ou enriquecimento ilícito dos réus. 2. “A existência de
omissão relevante à solução da controvérsia, não sanada pelo acórdão recorrido, caracteriza a
violação do art. 535 do CPC.” (REsp 839.468/BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, DJ
13.11.2006). 3. Recurso especial parcialmente conhecido e provido, a fim de que os autos
retornem ao Tribunal a quo para o julgamento completo dos embargos de declaração” (STJ,
REsp 736656 / MG, 2ª Turma, Ministro HUMBERTO MARTINS, Data do Julgamento
06/02/2007).
“EMENTA: 1) PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. CABIMENTO. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA ATUAR NA
DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO. ART. 129, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. O
cabimento da Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa e a legitimidade do
Ministério Público para propô-la decorre da previsão expressa do art. 129, III, da Constituição
Federal de 1988, segundo o qual é função institucional do Ministério Público promover o
inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. 2) PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO.
SANÇÕES PREVISTAS NA LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (LEI Nº. 8.429/92).
POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. AUSÊNCIA DE INÉPCIA DA INICIAL. a) Não há que se
falar em impossibilidade jurídica do pedido, porque o pleito do Ministério Público de que o
Apelante seja condenado pela prática de ato de improbidade administrativa, com as sanções
dela decorrentes, não é vedado pelo ordenamento jurídico, pelo contrário, está expressamente
previsto. b) De mesma forma, não há que se falar em inépcia da inicial porque não há
qualquer dúvida, como afirma o Apelante, sobre o que pretende o Autor, já que ficou claro,
desde a inicial, que o que pretende é a condenação do Apelante pela prática de ato de
improbidade administrativa consistente na omissão de encaminhar ao Tribunal de Contas os
documentos referentes às licitações efetuadas no Município de Inajá no exercício financeiro de
1994 período em que o Apelante era dele Prefeito. 3) ADMINISTRATIVO. PRESCRIÇÃO. ART. 23
DA LEI Nº. 8.429/92. INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO CIVIL. PREVALÊNCIA DA NORMA
ESPECIAL. O prazo prescricional para a propositura de Ações Civis Públicas por ato de
improbidade administrativa é o previsto no art. 23 da Lei nº. 8.429/92, ou seja, de cinco (5)
anos, contados a partir do término do exercício do mandato de Prefeito, e não o geral previsto
pelo Código Civil, já que, conforme regra de hermenêutica, deve prevalecer a norma especial.
4) ADMINISTRATIVO. LEI 8.429/92. OMISSÃO INJUSTIFICADA DE PREFEITO EM ENVIAR AO
TRIBUNAL DE CONTAS OS DOCUMENTOS REFERENTES ÀS LICITAÇÕES DO MUNICÍPIO NO
EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 1994. VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA
MORALIDADE ADMINISTRATIVA. DANO NÃO COMPROVADO. IRRELEVÂNCIA. ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA VERIFICADO. a) Ao sonegar, injustificadamente, os
documentos referentes às licitações efetuadas no Município de Inajá no exercício financeiro de
1994, período em que o Apelante era dele Prefeito, mesmo após o Tribunal de Contas os ter
solicitado, caracteriza ato de improbidade administrativa, porquanto, ao assim agir, o Chefe do
Poder Executivo Municipal violou os princípios da legalidade e da moralidade. Desta forma, o
Apelante deixou de prestar contas quando tinha o dever de fazê-lo, o que, segundo o art. 11, VI,
da Lei nº. 8.429/92 caracteriza ato de improbidade administrativa. b) O fato de nenhum dano
material ter restado comprovado não prejudica a aplicação das sanções legais previstas, já que
conforme o art. 21, I da Lei nº. 8.429/92, a aplicação das sanções independe “da efetiva
ocorrência de dano ao patrimônio público.”. 5) ADMINISTRATIVO. ART. 12, III DA LEI DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. APLICAÇÃO DE SANÇÕES DESPROPORCIONAIS SE
COMPARADAS À GRAVIDADE DO ATO. REDUÇÃO DE OFÍCIO. POSSIBILIDADE. a) Em se
tratando de sanções desproporcionais aplicadas pela prática de ato de improbidade pode o
Tribunal, de ofício, reduzi-las. b) No caso, a suspensão dos direitos políticos do Apelante por
cinco (5) anos e sua condenação ao pagamento de pena de multa de cinqüenta (50) vezes o
valor da remuneração por ele percebida é desproporcional se comparada à gravidade do ato,
razão pela qual reduzo a suspensão para três (3) anos e a multa para quatro (4) vezes o valor
da remuneração mensal percebida pelo Apelante em dezembro de 1996. 6) APELO A QUE SE
NEGA PROVIMENTO; SANÇÕES REDUZIDAS DE OFÍCIO” (TJ/PR, Acórdão nº 17773, 5ª
Câmara Cível, Rel.: Leonel Cunha, julgado em 05/06/2007).
“AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS SUFICIENTES DA PRÁTICA DE
ATO ÍMPROBO A ENSEJAR O RECEBIMENTO DA INICIAL - DECISÃO FUNDAMENTADA -
ANÁLISE DE TODAS AS PRELIMINARES ARGUIDAS PELA DEFESA - ARTIGO 17, § 8º, DA LEI
Nº 8.429/92 - INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO - RECURSO NÃO PROVIDO - DECISÃO UNÂNIME.
- Não sendo constatada qualquer das hipóteses de rejeição da inicial, de acordo com o artigo
17, § 8º, da Lei de Improbidade Administrativa e havendo indícios da prática de ato ímprobo,
ilegal ou lesivo ao patrimônio público, o recebimento da ação civil pública é medida que se
impõe” (TJ/PR, Acórdão 16695, 5ª Câmara Cível, Rel.: Antonio Lopes de Noronha, Julgamento:
21/11/2006).
“ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. EX-PREFEITO. NEGATIVA DE PUBLICIDADE A ATOS OFICIAIS. ARTIGO 11,
IV, DA LEI Nº 8.429/92. SENTENÇA DE 1º GRAU QUE EXTINGUE O FEITO SEM JULGAMENTO
DE MÉRITO, ANTE A INÉPCIA DA INICIAL E A ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. DESACERTO. RESPONSABILIZAÇÃO DO EX-PREFEITO. VIOLAÇÃO
AOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA PUBLICIDADE. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO PARA PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM O FIM DE RESGUARDAR O
PATRIMÔNIO PÚBLICO. MÉRITO. JULGAMENTO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 515, PARÁGRAFO
3º DO CPC. MATÉRIA DE DIREITO. CONJUNTO PROBATÓRIO SUFICIENTE AO DESLINDE DA
CAUSA. CONDIÇÕES DE PRONTO JULGAMENTO. CONFIGURAÇÃO DE ATOS DE
IMPROBIDADE .OMISSÃO. DESCUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL. DESNECESSIDADE DE
PREJUÍZO AO ERÁRIO. APLICAÇÃO DAS PENALIDADES DE FORMA PROPORCIONAL À
GRAVIDADE DO ATO ÍMPROBO PRATICADO PELO EX- PREFEITO. HONORÁRIOS DA
SUCUMBÊNCIA DEVIDOS AO FUNDO ESPECIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. LEI ESTADUAL
Nº 12.241/1999. RECURSO DE APELAÇÃO PROVIDO E ADESIVO NÃO CONHECIDO. 1. É
possível propor-se ação civil pública com fulcro na Lei de Improbidade Administrativa
(8.429/92), cuja natureza da demanda se amolda às prerrogativas do parquet. 2. O Ministério
Público tem atribuições (deveres) constitucionais para funcionar como parte nos processos que
envolvem interesse público, como o são as ações de improbidade administrativa, inclusive com
o dever de atuar preponderantemente como parte, movimentando o Judiciário quando
identifique qualquer possibilidade de lesão aos princípios que regem a administração pública.
3. Os artigos 515 e 516 do CPCivil permitem que sejam apreciadas pelo Tribunal todas as
questões suscitadas e discutidas no processo ainda que a sentença não as tenha julgado por
inteiro, além de serem também submetidas ao exame pelo Tribunal as questões anteriores à
sentença, ainda não decididas. 4. Mesmo inexistindo dano patrimonial ao erário público, deve
ser admitida a prática de ato de improbidade administrativa, mormente quando tal ato infrinja
direitos de natureza não patrimonial, como a legalidade, a moralidade e a publicidade. 5. A
publicidade dos atos oficiais está elencada na Constituição Federal como um dos princípios
basilares da administração pública, sendo esta a razão suficiente para que a sua negativa pelo
agente público seja considerada como ato ímprobo. 6. Ademais, não há que se falar em
ausência de improbidade pela não configuração de prejuízo ao erário, uma vez que a negativa
de publicidade dos atos administrativos está classificada na Lei Nº 8.429/92 como pertencente
aos “atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da administração
pública.”. 7. As penas da LIA são cumulativas e concorrentes e o princípio da
proporcionalidade somente é aplicável no plano quantitativo e não qualitativo. Apelação
provida. Recurso Adesivo não conhecido” (TJ/PR, acórdão nº 27207, 1ª Câmara Cível, Rel.
Rosene Arão de Cristo Pereira, Julgamento: 25/07/2006).
“REEXAME NECESSÁRIO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR DANO
CAUSADO AO MEIO AMBIENTE CUMULADA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER LIXO URBANO -
LOCAL INAPROPRIADO PARA O DEPÓSITO - DANOS AO MEIO AMBIENTE CARACTERIZADO
SENTENÇA MANTIDA. PARÁGRAFO 1º IV) que impõe ao poder público ações efetivas de
preservação. É necessária a atenção redobrada quanto ao destino dado ao lixo urbano, vez que
tem causado desastres ecológicos de grande monta. Não é prejudicial somente à fauna e à
flora, pois neste caso pode causar um dano à saúde física da população, por encontrar-se o
lixão, dentro da área de mananciais do Município de Realeza. Observa-se que os responsáveis
não estão dando a devida atenção ao caso, uma vez que assinaram um acordo(f. 30) e não
cumpriram, justificando com alegações de não possuírem recursos financeiros e que a
burocracia atrapalha o andamento dos projetos, que nada mais significam do que atos
protelatórios que na verdade se traduzem em descaso com o problema. Neste sentido, têm
entendido os Tribunais: AÇÃO CIVIL PÚBLICA DANOS PROVOCADOS AO MEIO AMBIENTE
DEVIDO À DEPOSIÇÃO DE LIXO EM LOCAL E FORMA INADEQUADOS PELA
MUNICIPALIDADE ADEQUAÇÃO DA AÇÃO PREVISÃO CONSTITUCIONAL ARTIGO 225,
PARÁGRAFO 1º, IV, DA C/F OBRIGAÇÃO DO PODER PÚBLICO DE DEFESA E PRESERVAÇÃO
DO MEIO AMBIENTE’(AC n.º 153.486.5/3 8ª Câmara de Direito Público do TJSP Rel. Des. Celso
Bonilha) (TJ/PR; Acórdão n.º 9564; 6ª Câmara Cível; rel. Juiz Conv: Mário Helton Jorge; Julg.
09/10/2002).
IV. DO PEDIDO
Ante o exposto, o Ministério Público do Estado da Paraíba requer:
a) seja a presente ação seja recebida, autuada e processada na forma e no rito ordinário, conforme
preconiza o artigo 17 da Lei nº 8.429/92;
b) seja, ao final, a presente ação julgada procedente, em todos os seus termos;
c) a citação da demandada, para, querendo, oferecer contestação, sob pena de revelia;
d) a procedência do pedido para que seja reconhecida a existência da ato de improbidade
administrativa ambiental, nos termos do artigo 11 da Lei 8.429/92, e, por conseguinte, condenar a
demandada nas sanções do artigo 12, inciso III, do mesmo diploma legal (Lei 8.429/92), a saber:
ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três
a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta
ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de
três anos.
e) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, desde logo, ante o teor do
disposto no artigo 18 da Lei n° 7.347/85.
E. deferimento.
Pilar - PB, 12 de agosto de 2013
Promotor de Justiça
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER EM DECORRÊNCIA DE DESVIRTUAMENTO DE
PROGRAMAS SOCIAIS DO GOVERNO FEDERAL
O Ministério Público Estadual, por seu Promotor de Justiça, infra-assinado, no uso de suas
atribuições legais previstas nos artigos 1º e 26, inciso IV, alínea “a”, da Lei Complementar nº ____, e com
fundamento no artigo 129, incisos II e III , da Constituição Federal de 1988, bem como no artigo 3°, da Lei
n. 7.347/85 e com supedâneo nos elementos fáticos e jurídicos colhidos nos autos do Inquérito Civil
nº__________, que foi instaurado pela Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e da
Cidadania, doravante referendado como IC ____ propõe a presente
em face do MUNICÍPIO de ________, na pessoa do Prefeito Municipal, ___________, com sede na Av.
________, n.____, bairro, nesta cidade; e da coordenadora dos programas de benefícios estaduais________,
residente à rua ________, bairro ____, neste Município, pelos seguintes fatos e fundamentos jurídicos:
DOS FATOS
Tratam os presentes autos de inquérito civil instaurado pela Promotoria de Justiça de Defesa dos
Direitos Humanos e da Cidadania, no dia _________, a fim de averiguar se os beneficiários de programas do
Governo (Municipal, Estadual e Federal) estavam atendendo, ou não, aos requisitos exigidos pelos mesmos
para a devida inclusão, tendo em vista que chegou ao conhecimento deste órgão a informação da
existência de beneficiários credenciados nos referidos programas sociais em desacordo com as exigências
legais previstas, entre outros, do Decreto n. 11.857, de 20 de abril de 2004 (fls.______).
Diante da informação, fora instaurado o IC n.º________, no qual foram juntados os ofícios
encaminhados à Coordenadora Municipal dos programas bolsa-escola e segurança alimentar,
Sr.ª_________, tendo a mesma informado sobre a impossibilidade de fornecer a relação contendo nomes e
endereços dos beneficiários dos mencionados programas (fls._____), bem como ofício da Prefeitura
Municipal de_________, no qual o Sr. _____________encaminhou a relação dos beneficiários cadastrados
nos programas sociais do Governo Federal (fls. ________), como também ofício à Superintendente dos
Programas de Inclusão Social, Sr.ª ____________, onde a mesma encaminhou a relação dos beneficiários
que recebem do programa bolsa escola estadual (fls. ______) e também o ofício, no qual a supracitada
Superintendente narrou como é realizada a entrega do benefício do referido programa e cópia do Decreto
que rege o programa de inclusão social, juntamente com a relação dos beneficiários com o nome, CPF e RG
(fls._____).
Em ___ de _______de___, fora determinado (fls.____) que se oficiasse à Prefeitura Municipal
de______, na pessoa do chefe do poder executivo a fim de requerer a informação de cargos e salários das
pessoas constantes às fls. ______(funcionários públicos municipais), bem como a expedição de notificação
às demais pessoas (fls.____), a fim de comparecerem nesta Promotoria de Justiça para serem tomadas por
termo as respectivas declarações.
Em resposta ao ofício (fls.____), o prefeito municipal encaminhou a certidão contendo nomes das
pessoas com os respectivos cargos e salários (fls.___). Assim sendo, houve a necessidade de notificação das
mencionadas pessoas, a fim de serem ouvidas na Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e
da Cidadania.
Fora juntado o Decreto n.º _______da Prefeitura Municipal de________, sobre a tomada de contas no
Programa PETI (fls.____).
Em_________, fora oficiado ao Conselho Superior do Ministério Público, a fim de solicitar dilação de
prazo do mencionado inquérito (fls.____).
Na data de____________, fora efetuada a juntada de extratos bancários referentes a pagamentos da
“Bolsa Criança Cidadã” (fls.______).
Fora oficiado à Superintendente da Secretaria de Estado de Trabalho, Assistência Social e Economia
Solidária, a fim de solicitar os critérios adotados para o fornecimento de benefícios aos acampados do
Município de __________(fls.____).
Efetuou-se a juntada do ofício acerca da solicitação de fls.____ da Superintendente do Programa de
Inclusão Social da Secretaria de Estado de Trabalho, Assistência Social e Economia Solidária, bem como
cópia do Decreto Estadual n.º _____ (fls._____).
É o relatório.
DA FUNDAMENTAÇÃO
I– PRELIMINAR de MÉRITO
– Da legitimidade ad causam
II – DO MÉRITO
Da análise das provas documentais acostados aos autos e, principalmente, das provas testemunhais,
constata-se que o Poder Executivo Municipal de __________e a Coordenadora___________, desde a
implantação dos benefícios assistenciais neste Município, não procederam ao recadastramento de todos os
beneficiários, a fim de averiguar se os mesmos ainda continuam atendendo aos requisitos exigidos para
tais benefícios, bem como se outras pessoas poderiam ser cadastradas para passarem a receber algum
benefício social, como nos demonstram, por exemplo, as seguintes declarações, verbis:
“(...)”
Das declarações da coordenadora ____________infere-se que a mesma contrariou e continua
contrariando o princípio da eficiência, pois, embora esteja à frente dos programas sociais estaduais
desde_______, até a presente data demonstrou-se ineficiente para o cargo que ocupa, confessando,
inclusive, que desde _______os beneficiários da área rural não mais receberam visitas das agentes, haja
vista não possuírem veículo para se deslocarem até a zona rural e, ainda, que pode acontecer de que
beneficiários residentes na zona rural estejam recebendo benefícios sem estarem atendendo aos requisitos.
Da mesma forma, vem ocorrendo com as pessoas acampadas nesta Comarca, só que neste caso, torna-se
mais evidente a ineficiência da coordenadora, pois sequer sabe quem são os beneficiados, haja vista tal
encargo ser da própria coordenação do acampamento, porém não há qualquer documento que comprove
ser da coordenação tal incumbência. Vejamos as declarações da coordenadora, verbis:
“...” (fls.____)
Da análise das declarações supracitadas, verifica-se que não havia e ainda não há escolha criteriosa
por parte daqueles que são responsáveis pela gestão dos benefícios advindos da União, in casu, o
Município de __________e do Estado de__________, ou seja, da Coordenadora ______________, a qual
chegou a admitir que “...”(fls._____).
No que tange à ineficiência do Município, verifica-se que não houve, desde a concessão dos
benefícios advindos da União, a preocupação de recadastrarem, pelo menos uma vez por ano, as pessoas
inscritas nos diversos programas, pois, somente desta forma é que estaria atendendo um dos princípios
mais básicos da Administração Pública, qual seja, o da eficiência.
No mesmo diapasão segue a atual secretária municipal de assistência social, pois, segundo esta “até
a presente data não houve o recadastramento total dos beneficiários do bolsa família, do bolsa escola
federal, do vale gás e do bolsa alimentação” (fls.____) , ou seja, revelando o total descaso para com o
erário público, por conseguinte, contrariando o princípio da eficiência.
Ocorre que sequer o Município tem o controle dos beneficiários que trabalham na própria
Administração Pública Municipal, como nos demonstram as declarações abaixo transcritas, a fortiori, as
demais pessoas, via de conseqüência, tal qual ocorre com a coordenadora dos benefícios estaduais, o
Município também contrariou e continua contrariando o princípio da eficiência.
A fim de corroborar a constatação supracitada, qual seja, a ineficiência, vejamos as seguintes
declarações:
“...” (fls. _____)
“...” (fls. _____)
É de meridiana clareza a omissão dos agentes, vale dizer, do Chefe do Poder Executivo Municipal,
bem como da coordenadora dos benefícios destinados aos acampados e à população rural, vez que ao
longo de todos esses anos, os mesmos não se deram o trabalho de averiguar se todos os beneficiários
atendiam aos requisitos exigidos, como, por exemplo, os estabelecidos no Decreto n. _______/________
(fls.____) e no Decreto n. _______(fls.____).
Neste ponto, é oportuna a lição de Celso Antônio Bandeira de Mello30, verbis:
“... a Administração Pública está, por lei, adstrita a cumprimento de certas finalidades,
sendo-lhe obrigatório objetivá-las para colimar interesse de outrem: o da coletividade. É em
nome do interesse público – o do corpo social – que tem de agir, fazendo-o na conformidade
da intentio legis. Portanto, exerce ‘função’, instituto – como visto – que se traduz na idéia de
indeclinável atrelamento a um fim preestabelecido e que deve ser atendido para o benefício
de um terceiro. É situação oposta à da autonomia da vontade, típica do Direito Privado. De
regra, neste último alguém busca, em proveito próprio, os interesses que lhe apetecem,
fazendo-o, pois, com plena liberdade, contanto que não viole alguma lei”.
Ademais, é cediço que o benefício, por exemplo, o bolsa-escola, se destina àquele que esteja numa
situação tal que haja a necessidade de que lhe seja fornecido, porém, a partir do momento que o status quo
ante é modificado, faz-se necessária nova avaliação para que o mesmo continue recebendo. Por outro
30 In “Curso de Direito Administrativo”, 17ª edição, editora Malheiros, São Paulo, 2004, p. 89.
vértice, não havendo nova avaliação, certamente, tornar-se-á difícil constatar se o mesmo ainda deverá
continuar recebendo o benefício.
Da análise das declarações, verificamos que havia pessoas que não deveriam estar recebendo
qualquer espécie de benefício social, porquanto não atendiam ao mínimo exigível para estarem
cadastradas, vale dizer, a renda per capita da família era superior a meio salário mínimo, senão vejamos:
“...” (fls. ____)
O exemplo mais evidente do descontrole por parte do Município é demonstrado através das
declarações da Sra. _______às fls.____, verbis:
“...” (fls. _____)
O que se percebe da leitura, por exemplo, do ofício de fls. ____ é que ora o Município diz que a
responsabilidade é da Coordenadoria do Estado no Município, ou seja, da Sra. _________, ora do
Ministério de Desenvolvimento Social, quando, ao nosso sentir, a responsabilidade é de todos os agentes
que administram a coisa pública.
É importante frisar que o agente público deve obedecer indiscutivelmente aos
princípios da Administração Público esculpidos no artigo 37, caput, da CF/88, sob pena de fazer da coisa
pública um negócio particular, esquecendo-se do mais comezinho princípio, vale dizer, o da eficiência,
pois, o Município de ______e a coordenadora________, até a presente data, demonstraram-se ineficientes
nos seus misteres, haja vista não terem procedido ao recadastramento dos beneficiários dos programas
sociais levados a efeito pelos Governos Estadual e Federal.
Ademais, conforme preleciona Alexandre de Moraes, verbis;
“O administrador público precisa ser eficiente, ou seja, deve ser aquele que produz o efeito
desejado, que dá bom resultado, exercendo suas atividades sob o manto da igualdade de
todos perante a lei, velando pela objetividade e imparcialidade.” (in “Direito
Constitucional”, 6ª edição, editora Atlas, São Paulo , 1999, p. 297).
Nesse diapasão, segue a professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, para quem o princípio da
eficiência:
“... impõe ao agente público um modo de atuar que produza resultados favoráveis à
consecução dos fins que cabem ao Estado alcançar...” (in “Direito Administrativo”, 10ª
edição, editora Atlas, São Paulo, 1998, p. 73/74).
As omissões dos réus demonstram o total descaso para com a coisa pública, pois, há pessoas
necessitadas que deveriam estar inseridas em algum programa social, bem como há pessoas que deveriam
ser excluídas e que ainda estão usufruindo o dinheiro que não lhes deveria ser destinados, como é o caso
da maioria dos servidores públicos deste município.
Os réus tinham, têm e terão o dever-poder de atender ao princípio da eficiência e, para tanto,
deverão proceder ao recadastramento de todas as pessoas.
Neste momento é oportuno lembrar aos réus o pensamento de Platão, verbis:
“...chamei aqui de servidores das leis aqueles que ordinariamente são chamados de
governantes, não por amor a novas denominações, mas porque sustento que desta
qualidade dependa, sobretudo a salvação ou a ruína da cidade. De fato, onde a lei está
submetida aos governantes e privada de autoridade, vejo pronta a ruína da cidade; onde, ao
contrário, a lei é senhora dos governantes e os governantes seus escravos, vejo a salvação
da cidade e a acumulação nela de todos os bens que os deuses costumam dar às cidades.”
(Leis, 715d).
Com base no princípio da eficiência é que foi analisada as condutas omissivas dos réus, afigurando-
se-nos a invocação do princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário (art. 5°, inciso XXXV,CF/88) para
que ao final confira total procedência aos pedidos e requerimentos abaixo elencados.
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, o membro do Ministério Público infra-assinado pede:
a total procedência dos pedidos formulados na presente ação;
que seja determinado ao Município, no prazo de 30 (trinta) dias, como obrigação de fazer, o
recadastramento total de todos os beneficiários de programas sociais relativos aos Governos
Municipal, Estadual e Federal;
que seja determinado à coordenadora_______, como obrigação de fazer, o recadastramento de todos
os acampados do Município e da população rural, bem como dos demais beneficiários de
programas sob a sua coordenação no prazo de 30 (trinta) dias;
a condenação dos réus ao pagamento das custas processuais e honorários periciais;
e, ainda, que seja fixada, em sentença, nos termos do artigo 11, da Lei n.º 7347/85, a multa no valor
correspondente a 1.000 (mil) UFERMS/dia, para cada descumprimento judicial que o
Município e a Coordenadora ________vierem a praticar, a ser depositado no “Fundo Estadual
de Defesa e Reparação dos Direitos Difusos Lesados”.
DOS REQUERIMENTOS
Nestes Termos
Pede deferimento.
Promotor de Justiça
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE COM PEDIDO
LIMINAR
O Ministério Público Estadual, por seu Promotor de Justiça Substituto, infra-assinado, no uso de
suas atribuições legais previstas nos artigos 1º e 26, inciso IV, alínea “a”, da Lei Complementar nº_____, e
com fundamento no artigo 129, incisos II e III , da Constituição Federal de 1988, e com supedâneo nos
elementos fáticos, técnicos e jurídicos colhidos nos autos do inquérito civil nº_____, que foi instaurado
pela Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, doravante referendado como IC 03/00 propõe a
presente
I. DOS FATOS
No dia _________ esta Promotoria de Justiça instaurou o inquérito civil sob o n. ______, através da
Portaria n.º _____(fls._____), visando apurar a razão pela qual estava e ainda continua sendo “jogado” lixo
em local inadequado, sendo, inclusive, tolerado pelo poder público municipal a freqüência de pessoas no
local, a fim de se alimentarem dos restos de lixo que lá são despendidos diariamente, tendo como
investigado o Município de___________, na pessoa de seu Prefeito.
Devidamente notificado (fls.___), o Prefeito Municipal respondeu às fls._____, asseverando o
seguinte:
“... em razão de compromissos inadiáveis, assumidos anteriormente, não poderei
comparecer nesta data na Promotoria de Justiça...” (g.n.)
Embora o Prefeito Municipal tenha aduzido às fls. ____que compareceria à Promotoria de Justiça no
dia _______, o mesmo não se fez presente.
A “Empresa de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural de _______”, através do engenheiro
agrônomo ________(fls._____) enviou à Promotoria de Justiça “Laudo Técnico”, onde elencou várias
sugestões, as quais, em sua maioria não foram atendidas pelo Município.
Embora o Prefeito Municipal tenha sido convidado, novamente, para chegar a um termo de
ajustamento, o mesmo limitou-se em responder ao ofício (fls.___), datado de ______, cujo recebimento deu-
se aos________, aduzindo no item 03 o seguinte:
“Considerando que não houve instrução técnica no inquérito civil, considero razoável a
supressão do parágrafo terceiro, em sua totalidade, até porque inócuo o parágrafo, haja
vista o fato de que, posteriormente vindo a ser ajuizada ação objetivando ressarcir
eventuais prejuízos ao meio ambiente e sendo julgada procedente, decorrerá a necessidade
de indenização sem que exista uma ação principal...” (g.n.)
Ainda, no bojo do referido ofício, o Prefeito Municipal finalizou, aduzindo que:
“Por fim sobre o prazo de 90 dias para apresentar projeto de recuperação da área e estudo
de impacto ambiental é muito pequeno. Ademais, a elaboração do EIA – Estudo de Impacto
Ambiental – em três áreas (como consta do item 5) encarecerá muito, razão porque
entendemos razoável ser melhor discutido este item.”
Às fls.___ o Ministério Público expediu ofício ao alcaide, haja vista até aquela data (___________) o
Município não ter tomado qualquer medida concreta na tentativa de, pelo menos, amenizar o problema, ao
que foi respondido (fls.____), entre outros itens, que:
“03. Por conseguinte, tomamos a providência de incluir, no orçamento do exercício de
2001, a dotação para esta finalidade, enviando no prazo legal à Câmara Municipal;”
Em atenção à solicitação feita pela Promotoria de Justiça, o “Conselho Regional de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia do Estado de ________– CREA” remeteu ao órgão do Ministério Público outro
“Laudo Pericial” (fls._____), o qual fora elaborado pelo engenheiro agrônomo _________, onde fez constar
em sua conclusão, verbis:
“O líquido proveniente da decomposição do resíduo orgânico (“chorume”), se acumula
formando uma pequena lagoa, poluindo superficialmente e com certeza poluindo também o
lençol freático, principalmente o Aqüífero Caiuá...O local possui apenas uma cerca que
isola parcialmente a área, não possuindo nenhum tipo de vigilância, o que permite a
presença de catadores, inclusive crianças...”
Tal qual o parecer da EMPAER, o CREA fez algumas recomendações, as quais, salvo melhor juízo,
não foram acolhidas.
A Promotoria de Justiça, em __________, oficiou ao Prefeito Municipal, solicitando a presença do
“ilustre” alcaide, a fim de que pudessem ser discutidas as propostas apresentadas pelos técnicos, bem
como, solicitou que o Município indicasse três áreas possíveis, para que a “Secretaria de Estado do Meio
Ambiente – SEMA”, pudesse escolher uma delas (fls. ____), ao que foi respondido, entre outros itens:
“02. Não será possível a presença do Prefeito, tendo em vista ter recebido o Ofício no dia
______, quando a agenda já se encontrava completamente tomada até o dia_____,
principalmente nesta data, quando tenho compromissos de interesse do Município já
anteriormente assumidos no Estado de_____.” (g.n.)
No item 04 do referido documento, assevera, em suma, que não havia escolhido as áreas solicitadas
pela Promotoria de Justiça.
Consta na ata da reunião do dia __________(fls.___), onde o engenheiro civil da Prefeitura, ________,
o qual estava representando o alcaide, propôs, entre outros que:
“O Prefeito deverá informar sobre a arborização no prazo de 15 (quinze) dias... Quanto à
aquisição de outra área também a SEMA deve aprová-la e deve ter dotação orçamentária
específica o que não ocorre no momento...”
A Promotoria de Justiça oficiou, novamente, o alcaide, no dia________, haja vista até aquela data o
Município não ter tomado as providências no sentido de protocolar junto à SEMA, o competente pedido de
licença para exercer as atividades relacionadas ao lixão (fls.___), o qual, até a presente momento, não foi
respondido.
Às fls. 94 o Prefeito Municipal foi oficiado, a fim de que se manifestasse quanto ao desejo de
consorciar-se com o Município de________, com vistas a construir um aterro sanitário, ao que não foi
respondido, sendo, novamente, oficiado (fls.____), o qual, novamente, não foi respondido.
O assessor técnico, engenheiro ________(fls._____) em sua conclusão técnica, disse que:
“Após a análise dos itens acima, recomendamos que o município, através do Sr. Prefeito
Municipal elabore um Termo de Ajuste de Conduta com a Promotoria de Justiça vinculando
as seguintes atividades:
Projeto técnico para a recuperação da área degradada.
Projeto técnico para a implantação do aterro sanitário.
Às fls.___ a Promotoria de Justiça requisitou informações ao alcaide sobre as providências tomadas
pelo Município, no que tange ao “lixão”, ao que não foi respondido.
Expediu-se notificações ao Chefe da Vigilância Sanitária do Município (fls. ___), assim como, para o
“gerente” de obras do Município (fls._____), tendo comparecido somente este no dia _______, conforme
“Termo de Declarações” (fls.______), acompanhado do assessor jurídico do Município.
O “Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA”, enviou à
Promotoria de Justiça o “Relatório de Vistoria” (fls._____), onde fez constar que no dia ______, a situação
do “lixão” encontrava-se da seguinte forma:
“O lixão está localizado na margem da Av. Pres. Vargas, onde foi constatada a situação
calamitosa...A Prefeitura retira terra do local, rebaixando o solo e fazendo buracos, onde o
lixo vem sendo depositado a céu aberto, sem qualquer cuidado... Plásticos são levados pelo
vento para as áreas adjacentes, podendo provocar a morte por asfixia de animais...
Observou-se a presença de várias pessoas, inclusive crianças... Muitos frascos de produtos
veterinários foram encontrados espalhados pela área... As águas do subsolo, provavelmente
estão sofrendo contaminação direta e constante... ficou evidente a contaminação da água...
A área não está apropriada para disposição final do lixo... A escolha de nova área implica
em executar alguns levantamentos, tais como: profundidade de lençol freático, distância de
mananciais... é um trabalho que deve ser feito com a máxima urgência, para cessar a
degradação ambiental... Quanto a possibilidade de recuperação da área, esta só é possível
se for retirado todo o lixo ali depositado...” (g.n.)
Devidamente notificados o engenheiro ___________, bem como o alcaide, os mesmos não se fizeram
presentes nas datas marcadas, os quais responderam, respectivamente:
“... informo que não poderei comparecer em virtude de compromisso de ordem profissional
assumido anteriormente para esta mesma data na cidade de _______...” (fls.___)
“... impossibilidade em comparecer nesta Promotoria, data de_____, às ____horas, tendo em
vista compromissos oficiais anteriormente agendados em -------- e --------, cujos são
inadiáveis (sic).” (g.n.) (fls. ___)
Insta salientar que o Prefeito Municipal fora notificado no dia _____, vindo, somente, há menos de
24 (vinte e quatro) horas do ato, comunicar que já possuía compromissos “inadiáveis”.
É o relatório.
II – DO MÉRITO
II.1. Do “Lixão”
Consta dos autos do IC _____ que na avenida Presidente Vargas existe um local inadequado para
onde são destinados todos os lixos da cidade de _____________.
Entrementes, não há qualquer “Estudo de Impacto Ambiental – EIA”, realizado pelo Poder Público
Municipal, pelo contrário, existem diversos laudos técnicos condenando o referido local, a ponto de se
fazer necessário a total retirada do lixo, para ser possível a recuperação da área, conforme “Relatório de
Vistoria” do IBAMA (fls. _____).
Neste ponto é oportuno trazer à colação o ensinamento de Édis Milaré, segundo o qual:
“LIXÃO – Forma inadequada de disposição final de resíduos sólidos, que consiste na
descarga do material no solo se qualquer técnica ou medida de controle. Este acúmulo de
lixo traz problemas como a proliferação de vetores de doenças (ratos, baratas, moscas,
mosquitos etc.), a geração de odores desagradáveis e a contaminação do solo e das águas
superficiais e subterrâneas pelo chorume. Além disso, a falta de controle possibilita o
despejo indiscriminado de resíduos perigosos, favorece a atividade de catação e a presença
de animais domésticos (suínos, p. ex.) que se alimentam dos restos ali dispostos.” (in
“Direito do Ambiente”, 2ª edição, editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 2001, p. 735).
A definição supracitada demonstra exatamente o que vem ocorrendo na cidade de ____________,
bastando, para tanto, verificar as fotografias acostados aos autos às fls.________.
Neste ponto é oportuno trazer à colação o ensinamento do professor italiano Renato Alessi, in verbis:
“La reazione e la responsabilitá dell´amministrazione per il danno cagionato dall
´esplicazione illecita della funzione amministrativa presuppone la giuridica riferibilità all
´ente pubblico dell´atto dannoso.” ( in “Diritto Amministrativo”, II, La Giustizia
Amministrativa, Milano, Dotta Giùffrê - Editore, 1950,p. 45) (“A reação e a responsabilidade
pelo dano causado pela administração, haja vista a explicação ilícita daquele que exerce a
função administrativa, pressupõe a manifestação jurídica para o ente público, em
decorrência do ato danoso.”) (tradução nossa)
II.9. Da liminar
É mister que haja a concessão de medida liminar, initio litis, a fim de que o meio-ambiente não
continue sendo alvo da inércia do chefe do poder executivo municipal, vez que a área do depósito de lixo,
conforme os vários pareceres técnicos acostados aos autos, continuará sendo irrecuperável, caso o lixo não
seja retirado daquele local.
Como se não bastasse o prejuízo ambiental, o que configura, inclusive crime ambiental, a população
estará sendo prejudicada, direta ou indiretamente, haja vista a contaminação do lençol freático Caiuá, além
da possibilidade constante de morte dos animais por asfixia.
31 “Curso Avançado de Processo Civil”, Vol. 3, 3ª edição, editora RT, 2000, p.28.
Ante o exposto, o membro do Ministério Público infra-assinado pede:
1) LIMINARMENTE, que seja retirado todo o lixo situado na avenida____________, conhecido como
“lixão”, destinando-o para outro local previamente autorizado pela “Secretaria de Estado do
Meio Ambiente – SEMA”, devendo, o Município, para tanto, apresentar o “Estudo de Impacto
Ambiental – EIA” e o “Relatório de Impacto ao Meio Ambiente – RIMA” no prazo de 15
(quinze) dias;
2) LIMINARMENTE, que seja determinado ao Município que destine um local para a coleta de
recipientes vazios de agrotóxicos, a fim de que os mesmos sejam enviados, a posteriori, às
empresas produtoras dos respectivos produtos, a exemplo do vem acontecendo em outros
Municípios de ________, conforme revelado por ocasião da audiência pública realizada no
CREA na cidade de ___________;
3) que o Prefeito Municipal comprove, através de provas documentais a razão pela qual não se fez
presente na Promotoria de Justiça nos dias: _______e ________, bem como, porque deixou de
enviar a informações requisitadas acerca do andamento das providências tomadas pelo
Município (fls._____);
4) que sejam juntadas aos autos cópias autenticadas do pedido de licença para utilizar a área do
“lixão”, devidamente protocolada junto à “Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA”;
5) que sejam remetidas cópias dos autos à “Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SEMA”, à
Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de _________e à Câmara de Vereadores para que
sejam tomadas as medidas cabíveis, haja vista a necessidade de apurar a ocorrência de
infrações administrativas e penais do Prefeito Municipal da cidade de_________, com fulcro
no disposto no Capítulo VI da Lei n. 9605/98, Lei Complementar n. ______e no Decreto-lei n.
201/67;
6) que seja elaborado projeto técnico para a recuperação da área degradada, bem como projeto
técnico para a implantação do aterro sanitário, conforme conclusão do engenheiro
_________(fls.____), o qual deverá ser confeccionado dentro de 30 (trinta) dias;
7) que seja colocado um vigia 24 (vinte e quatro) horas, todos os dias da semana, no local destinado
ao depósito de lixo;
8) que seja retirado todo o lixo depositado no atual “lixão”, haja vista a recuperação da área só ser
possível após sua retirada, conforme parecer técnico do IBAMA (fls.____);
9) que apresente cópia autenticada que comprove ter incluído no orçamento do exercício de 2001 a
dotação para as despesas destinadas ao lixão, bem como da Lei Municipal referenda às
fls.____;
10) sejam aplicadas as disposições da “Lei de Improbidade Administrativa” (Lei n. 8.429/92), haja
vista o prescrito nos artigos 4º; 11, caput, inciso II; 12, inciso III;
11) que sejam remetidas cópias ao “Tribunal de Contas” do Estado, a fim de que tomem as
medidas que se fizerem necessárias;
12) a condenação dos réus ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios,
estes a serem recolhidos ao Fundo Estadual de Manutenção e Desenvolvimento do Ministério
Público, criado por Lei Estadual;
13) sem prejuízo da responsabilidade penal por possível prática de crime de desobediência, requer,
ainda, que seja fixada, em sentença, nos termos do artigo 11, da Lei n.º 7347/85, a multa no
valor correspondente a 1.000 (mil) UFERMS, para cada descumprimento judicial que o
Município vier a praticar, sendo que os valores daí advindos devem ser recolhidos ao Fundo
Estadual de Defesa do Meio Ambiente– FEDMA;
14) que sejam remetidas cópias autenticadas da “Lei de Diretrizes Orçamentárias” do ano de ______;
julgue procedentes todos os pedidos.
IV – DOS REQUERIMENTOS
Protesta provar o alegado pelos meios de prova em direito admitidos, juntada de novos documentos,
oitiva das testemunhas inframencionadas.
Nestes Termos
Pede deferimento.
Promotor de Justiça
Rol de Testemunhas:
1.
2.
ALEGAÇÕES FINAIS POR INFRINGÊNCIA AO ART. 1º, INCISO V E XII, DO DECRETO-LEI Nº 201/67 E
ARTIGO 92 DA LEI N. 8.666/93
Autos n._____________________
Autor: ______________________
Réu: _______________________
ALEGAÇÕES FINAIS
O órgão do MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por sua Promotora de Justiça, vem, perante Vossa
Excelência, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS aduzindo, para tanto, o seguinte:
Tratam os autos de ação penal pública, figurando como ré ______________, ex-prefeita municipal,
sendo-lhe imputados os crimes previstos nos incisos V (ordenar ou efetuar despesas não autorizadas por
lei, ou realizá-las em desacordo com as normas financeiras pertinentes) e XII (antecipar ou inverter a
ordem de pagamento a credores do Município, sem vantagem para o erário), ambos do art.1º do Decreto-
Lei 201, de 27 de Fevereiro de 1967, e, ainda, o crime tipificado no artigo 92 da lei 8.666/93 (admitir,
possibilitar ou dar causa a qualquer modificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor
do adjudicatário, durante a execução dos contratos celebrados com o Poder Público, sem autorização em
lei, no ato convocatório da licitação ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatura
com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade), e do artigo 359-C do Código Penal.
O órgão do Ministério Público Estadual juntou documentos às fls. 09/262.
A denunciada, preliminarmente, argüiu “inépcia” da denúncia (fls.______) e, no mérito, aduziu que,
se alguma coisa ocorreu, fora uma mera irregularidade (fls.____). Juntou documentos às fls._____.
Houve o recebimento da denúncia às fls.____, por conseguinte, procedeu-se ao interrogatório da
denunciada às fls.____.
É o sucinto relatório.
I - FUNDAMENTAÇÃO
Da análise dos autos, infere-se que o Município de _______, por meio da chefe do poder executivo
municipal à época, celebrou convênio com a “____________”, com a finalidade de pagar os plantões
médicos e prestar o atendimento da saúde da comunidade de ___________.
No referido convênio, estipularam-se as dotações que garantiriam as despesas efetuadas.
Outrossim, não houve cumprimento do convênio pela municipalidade, vez que somente foram
empenhados e pagos, em favor da ______________, os valores de R$ ___________(_________) e o contrato
estipulava que seriam repassados ____ (_____) parcelas de R$ __________(_____________), totalizando R$
__________(___________).
Do total de R$ __________contratados, não foram empenhados e nem pagos a diferença de R$
__________(_____________).
Insta salientar que a responsabilidade da ré sobre o prejuízo gerado à Municipalidade é manifesto
e a sociedade não pode ficar ao alvedrio de agentes públicos, que passam a dispor do dinheiro público
como se seu fosse, infringindo princípios da Administração Pública como, por exemplo, da legalidade.
O princípio da legalidade é essencial ao Estado de Direito e, principalmente, ao Estado Democrático
de Direito, constituindo, assim, vetor basilar do regime jurídico-administrativo.
É oportuno destacar que se permite a atuação do agente público, ou da Administração Pública,
apenas se concedida ou deferida por norma legal, não se admitindo qualquer atuação que não contenha
prévia e expressa permissão legal.
O cidadão, a fortiori, o administrador da coisa pública deve respeitar, entre outros princípios, o da
supremacia do interesse público sobre o privado, pois:
“O homem público não pode deixar que interesses particulares se sobreponham ao interesse
público, logo, deve em seus atos revelar a verdade real, nem que tenha para isso deixar de
lado sua posição pessoal, porquanto, diferentemente do que ocorre com a Administração
Privada, onde se pode fazer tudo que a lei não proíba, na Administração Pública só se pode
fazer o que a lei determina.”32
Não é despiciendo dizer que violar princípios, sejam eles explícitos ou implícitos, é buscar a
bancarrota de qualquer Estado que se diz de “Direito”.
Nesse diapasão, temos o ensinamento do professor Celso Antônio Bandeira de Mello, segundo o
qual:
“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma. A desatenção ao
princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o
sistema de comandos”.33
Entre outros princípios a que se devem submeter os agentes públicos, cabe ressaltar aqueles
dispostos no artigo 37, caput, da Constituição Federal de 1988, quais sejam, legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência.
Observa Luciano Ferreira Leite que “o primeiro direito do administrador frente à Administração,
consiste, portanto, na garantia de legalidade do comportamento administrativo e na aderência desse
mesmo comportamento ao interesse público, hipoteticamente descrito na norma”. 34
Por fim, não se pode conceber que agentes públicos desconheçam seus deveres e obrigações,
porquanto o agente público só pode atuar secundum legem, vale dizer, só poderá fazer ou deixar de fazer
alguma coisa quando a lei autorizar, pois, na Administração Pública não há liberdade nem vontade
pessoal.35
32 D´ANGELO, Élcio e Suzi D´Angelo. In “O Princípio da Probidade Administrativa e a Atuação do Ministério Público”, 2ª edição,
editora LZN, Campinas/SP, 2004, p. 13.
33 Curso de Direito Administrativo. Editora Malheiros, 5ª edição, 1994, p.451.
34 Discricionariedade Administrativa e Controle Judicial. Editora RT, 1981, p. 35.
35 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. Editora Saraiva, São Paulo, 1997, p. 82.
Com efeito, a denunciada, uma vez que não atendeu ao prescrito na Lei n.______, realizou despesas
outras que não as que deveriam realizá-las, via de conseqüência, agiu em desacordo com as normas
financeiras pertinentes, qual seja a Lei Municipal n._______.
A própria denunciada reconhece ter agido em desacordo com a Lei Municipal n.______, porém,
alega tratar-se de mera irregularidade. Vejamos o aduzido, quando de sua defesa prévia, verbis:
“Portanto, o convênio juntado às f. _____estão dentro das normas e se não foi cumprido,
ocorreu uma mera irregularidade que não constitui, em tese, crime previsto no art. 1º, inciso
V, do Decreto Lei 201/67, passível de ação penal.” (g.n.) (fls.____).
Sendo a denunciada a gestora do erário público e existindo uma norma que delimitava a destinação
do orçamento público municipal, não poderia a mesma desatender, sem motivo justificável, o estipulado
pelas Leis Municipais nº______. _____e ______.
Outrossim, da análise dos recibos emitidos pelos profissionais da área da saúde, observa-se a
constância de repasses parciais da Prefeitura Municipal aos mesmos, como, por exemplo, os acostados às
fls._______, entre outros, revelando, assim, que, de fato, não houve o pagamento integral do devido,
embora houvesse previsão na lei orçamentária.
É oportuno, também, trazer a lume as seguintes declarações:
“...” (Declarações de _______às fls. ____).
“...” (Declarações de _______às fls.____).
Destarte, se havia previsão orçamentária para o cumprimento dos compromissos assumidos pela
Prefeitura Municipal, na pessoa da denunciada, logo, concessa venia, admitir que a falta dos pagamentos
devidos é mera irregularidade é aceitar que o administrador público poder fazer tudo o que a lei não prevê,
de acordo com a sua livre e espontânea vontade.
36 In “Direito Adquirido, Emendas Constitucionais e Controle da Constitucionalidade”, 3ª edição, editora Renovar, Rio de Janeiro,
2004, p. 76.
37 In “Direito Administrativo Brasileiro”, 25ª edição, editora Malheiros, São Paulo, 2000, p. 221.
“Anulação: a extinção do contrato pela anulação é também forma excepcional e só pode ser
declarada quando se verificar ilegalidade na sua formalização ou em cláusula essencial. (...) A
extinção unilateral do contrato ilegal, sempre precedida de procedimento regular e com
oportunidade de defesa, só é admissível nos ajustes tipicamente administrativos, não o sendo
nos de Direito Privado celebrados pela Administração (compra e venda, doação e outros), cuja
nulidade só pode se declarada por via judicial em que se demonstre o vício que os invalida.”
Por conta de atos como estes é que, infelizmente, insistimos em dizer que:
“A realidade brasileira tem demonstrado que o agente público, sob o argumento de estar
atendendo aos anseios da sociedade, vem praticando atos administrativos de forma diversa
daquela prevista na regra de competência, vale dizer, está determinando a execução de ato não
permitido por lei, utilizando-se, para tanto, a afirmação falaciosa de que a lei não previa a sua
proibição.”38
Data maxima venia, invocar a Lei de Responsabilidade Fiscal, naquele momento, para subsidiar os
atos contrários à norma prescrita no artigo 1º, inciso XII, do Decreto-lei n. 201/67, é tentar buscar
absolvições às custas da sociedade de_______, pois aquela lei não veio a lume para prejudicar o
administrador probo e, sim, para desmascarar as artimanhas perpetradas pelos administradores ímprobos.
38 D´ANGELO, Élcio e Suzi D´Angelo. In “O Princípio da Probidade Administrativa e a Atuação do Ministério Público”, 2ª edição,
editora LZN, Campinas/SP, 2004, p. 68.
referido artigo, porquanto o mesmo não poderia subsumir-se à conduta anterior descrita pela denunciada,
vez que, à luz do Código Penal, temos:
“Art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.”
Outrossim, não podemos olvidar a norma constitucional que consubstancia a irretroatividade da lei
penal in pejus, senão vejamos:
“Art. 5º. Omissis:
(...)
XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;”
Destarte, se a denunciada assumiu obrigação no último ano do seu mandato, precisamente no dia
_________(fls._____) e, uma vez que o mandato se findou no mês de dezembro, por conseguinte, é forçoso
concluir que a denunciada não cometeu o crime tipificado no artigo 359-C, do Código Penal.
II - CONCLUSÃO
Ante o exposto, o órgão do Ministério Público Estadual requer a condenação da ré _________como
incursa nas penas do art. 1º, inciso V e XII, do Decreto-lei nº 201/67 e artigo 92 da Lei n. 8.666/93, porém,
requer-se a absolvição da mesma no que tange ao tipo prescrito no artigo 359-C, do Código Penal, nos
termos da fundamentação retro.
Promotor de Justiça
RAZÕES DE AGRAVO DE INSTRUMENTO EM FACE DE PREFEITO MUNICIPAL
I. DOS FATOS
No dia ______ esta Promotoria de Justiça do Meio Ambiente instaurou, através da Portaria n.º _____
(fls.____), o inquérito civil - IC n. _____, com a finalidade de se apurar os responsáveis pelos danos
causados ao meio ambiente, haja vista as erosões na estrada vicinal, localizada no final da linha
do__________, km____, cujo mapa segue em anexo (está hachuriado).
A Promotoria de Justiça encaminhou ofício ao geógrafo do Município (fls.___), onde foi requisitado,
no prazo de 15 (quinze) dias, “Parecer Técnico” sobre o objeto do IC____, sendo respondido pelo prefeito
municipal (fls.___), o qual aduziu, em suma, que estaria designando uma comissão técnica, constituída
pelo Dr.______, engenheiro agrônomo; Dr. ___________e pelo referido Sr.____, geógrafo e agrimensor, todos
da Gerência de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Município, acrescentando que o
“aludido travessão não faz parte do sistema viário do Município”, porém não fez prova do aduzido quando
de sua contestação da ação civil pública.
Foram notificados para comparecer à Promotoria de Justiça, no dia _________, as seguintes pessoas:
________(fls.___); ______________________(fls.____);______________________(fls.____) e, ainda, convidados:
o representante da “Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA” (fls.____); o
geólogo______________ (fls.___);____________, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Cultura e
Turismo (fls.____); o comandante da Polícia Ambiental da cidade de___________, Tenente
_______(fls.______).
Às fls. ____fora anexado o “Parecer Técnico” da comissão municipal, onde o alcaide julgou oportuno
salientar entre outros “julgamentos” que:
“3. Tal degradação, exatamente idêntica ao que ocorre, nos dias atuais, em todo o território do
Município, é causada exclusivamente pelos proprietários Rurais...
5. O Tal “travessão” citado, nunca fez parte da rede viária do Município... Todos os
reclamantes, porventura residentes na linha _________, tem esta devidamente mantida e
conservada pela Prefeitura, que, inclusive mantém ônibus diário por ali (sic), no transporte de
Estudantes.
6... a Prefeitura foi a luta... adquiriu possantes tratores com moderno terraceador para
construir curvas de nível, oferece serviços técnicos inteiramente as expensas do erário
Municipal”. (g.n.)
O chefe substituto do IBAMA-______, encaminhou o relatório providenciado pelo técnico do IBAMA
(fls. 56/62), cuja conclusão fora a seguinte:
“Considerando que a causa dos danos ambientais verificados no local, tem origem na falta de
manutenção do trecho da estrada, de responsabilidade da Prefeitura Municipal de_______,
sugerimos que a mesma seja responsabilizada e notificada por tais danos.” (g.n.)
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo, através do engenheiro agrônomo,
________, encaminhou “Relatório de Vistoria” (fls._______), cuja conclusão fora a seguinte:
“O processo erosivo está configurado como voçoroca, e precisa de soluções imediatas,
principalmente em virtude da proximidade do período de chuvas intensas que poderão
ocasionar ainda maiores danos ambientais.
A participação de todos os envolvidos faz-se necessário...” (g.n.)
No dia _______houve a audiência para tratar do referido objeto do inquérito civil, onde se fizeram
presentes as seguintes pessoas:_______________;________________, cuja conclusão fora a seguinte
(fls._____):
“...”
Assim sendo, ao término da audiência, todos assinaram o referido termo.
O chefe do poder executivo municipal encaminhou ofício a esta Promotoria de Justiça (fls.____),
aduzindo, entre outros argumentos:
“13 - Por outro lado, a presença na audiência, da ilustre Vice Prefeita do município, se
constitui em simples gentileza, tendo em vista que o Prefeito se encontrava no Estado
do_______, tratando de compromissos anteriores da área de Saúde...” (g.n.)
Entrementes, em sua contestação (cópia em anexo – fls. ____) reconhece, contrariando o aduzido às
fls.____, que o referido “Termo de Audiência” (cópia em anexo – fls. ____) traduz um “Termo de
Ajustamento de Conduta”.
Destarte, diante de tais provas documentais, técnicas e, ainda, haja vista o reconhecimento de que as
máquinas deveriam estar trabalhando dentro do prazo estipulado no referido “Termo de Ajustamento”, e,
diante da inércia do Município em ver resolvido o problema ambiental causado, entre outros motivos, pela
sua omissão, fez-se necessária a propositura da Ação Civil Pública n._______.
II – FUNDAMENTAÇÃO
A liminar concedida pelo minucioso juiz singular fora dada com espeque nas referidas normas,
mesmo porque teve a oportunidade de apreciar todas as provas produzidas nos autos, as quais, certamente,
não foram levadas ao conhecimento do juízo ad quem pelo agravado.
Portanto, o argumento do agravado, de forma isolada, não possui guarida para dar subsídio ao
julgador, faltando, por isso, fundamentação.
Ademais, à luz do Código de Processo Civil, é cediço que:
“Art. 333. O ônus da prova incumbe:
(...)
II – ao réu (in casu, o peticionário, ora agravado) quanto à existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor.” ( observação e grifo nosso).
Outrossim:
“Incumbe à parte diligenciar a juntada da prova, quando a mesma se encontra em seus
próprios arquivos.” (JTA 98/269)
O Município de___________, certamente, possui o mapa da cidade, então resta a pergunta: Porque
não juntou nos autos da Ação Civil Pública o referido documento, pelo contrário, reconheceu ser o
travessão, como, de fato, o é, haja vista o mapa juntado em anexo pelo agravante, fazer parte do Município,
não fosse assim, não teria reconhecido o documento de fls. _____como um termo de ajustamento, em cujo
bojo consta que os trabalhos contra a erosão devem ser concomitantes, vale dizer, entre os proprietários
das fazendas limítrofes à estrada e o Município e, não, de forma isolada, sob pena dos problemas
ambientais continuarem ad perpetuam, bastando, para tanto, analisar os pareceres técnicos elaborados
pelos engenheiros do “Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –
IBAMA” e da “Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Cultura e Turismo do Estado de
________________”.
II.2. DO MÉRITO
Pelo princípio da eventualidade ou da preclusão, caso as preliminares não sejam conhecidas, é
mister que adentremos no mérito.
Tal acordo fora assinado por 13 (treze) pessoas, entre elas, pela vice-prefeita onde:
“Chegou-se ao consenso de que o prazo de 15 (quinze) dias é o suficiente para dar início aos
trabalhos...”
Ocorre que decorreram quase 03 (três) meses e até a presente data a Administração Pública não se
dignou de iniciar os trabalhos no referido travessão.
A sociedade, que se faz representar pela instituição do Ministério Público, bem como o meio
ambiente, não pode ficar ao nuto daquele que fora eleito pela mesma sociedade que se vê, hodiernamente,
diante de uma erosão que se arrasta há anos, sem que fosse tomada qualquer providência.
Porém, não se pode olvidar, conforme ensina Wolgran Junqueira Ferreira, verbis:
“Por questão de ordem moral, ética e jurídica, as pessoas a quem se confiou a administração
de bens públicos, são obrigadas a um extremo cuidado com o manuseio da coisa pública. Não
podem fazer como seus, os bens e haveres da comunidade.” (in “Responsabilidade dos
Prefeitos e Vereadores”, 7ª edição, editora Edipro, 1999, p. 11).
O alcaide aduz que fora afirmado que o problema se arrasta por longo período – 05 anos, como, de
fato o é, porém tal descaso não afasta o periculum in mora, pelo contrário, revela-nos quão urgente se torna
em resolver este problema ambiental.
Não fosse o referido travessão pertencente à massa viária do Município de ___________, então, por
qual razão o alcaide estaria preocupado com o mesmo, inclusive encaminhando equipe técnica de próprio
Município para elaborar laudo técnico? Só há uma resposta, porque tal travessão pertence ao Município de
___________, daí o aduzido na decisão do juízo ad quem não ter fundamentação objetiva, haja vista ter
feito constar que o Executivo Municipal não poderia ser compelido a promover o conserto de uma estrada
vicinal que sequer é municipal.
Cabe ressaltar que a característica periculum in mora “é significativa da circunstância de que ou a
medida é concedida quando se a pleiteia ou, depois, de nada mais adiantará a sua concessão. O risco da
demora é o risco da ineficácia”39.
A relutância do alcaide em disponibilizar “seus tratores” está causando prejuízos irreversíveis à
natureza, razão pela qual é mister que se mantenha a decisão do juízo a quo, vale dizer, que o Município
cumpra com o estabelecido no dia _____________, desde já, porquanto o referido prazo já decorreu sem
que houvesse qualquer medida deste, sob pena de tornar-se ineficaz o provimento final ( periculum in
mora).
III – CONCLUSÃO
39 WAMBIER, Luiz. In “Curso Avançado de Processo Civil”, Vol. 3, 3ª edição, editora RT, 2000, p.28.
Destarte, ante o exposto, o membro do Ministério Público Estadual requer que o presente recurso
seja CONHECIDO e que lhe seja dado PROVIMENTO, a fim de que se mantenha a decisão proferida pelo
juízo a quo, conforme exposto nos termos da fundamentação retro.
___________, ___ de ___________ de _______.
Promotor de Justiça
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