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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA EM COMUNIDADES


QUILOMBOLAS: estudo de caso em Conceição do Imbé*

Liana Príscilla Nunes Fernandes**


Lucimara Pereira Muniz***

RESUMO

Este trabalho tem como perspectiva a educação ambiental na Comunidade Quilombola de


Conceição do Imbé, situada no município de Campos dos Goytacazes, no distrito de
Morangaba. A pesquisa foi composta na execução de um projeto no âmbito da educação
ambiental, baseado na percepção ambiental da comunidade. Tal comunidade é rural e possui
um histórico de assentamento feito pelo INCRA em 1987. No projeto foi abordado todo o
histórico e foi apresentado para a comunidade local a verdadeira necessidade de proteção
ambiental, visando a sustentabilidade. Para tanto permitiu-se fundamentalmente da perspectiva
do referencial de literatura que viabilizou a compreensão do arranjo histórico e cultural
selecionado para área de estudo e identificou-se a adequada metodologia educacional para esta
comunidade. Assim, busca-se por meio de discussões, e atividades realizadas a troca horizontal
de conhecimento induzindo a reflexão e repercussão na mudança de concepção da comunidade
em respeito às questões ambientais e de sustentabilidade.

Palavras-chave: Educação ambiental. Comunidade Quilombola. Sustentabilidade.

___________________________
* Este artigo constitui-se no Trabalho de Conclusão de Curso da Pós-graduação lato sensu em Educação
Ambiental, cursada no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Fluminense, campus Campos Centro,
nos anos de 2016/2017, desenvolvido sob a orientação da Profạ Me.Tatiana Almeida Machado e co-orientação do
Profº Dsc. Luis Felipe Umbelino dos Santos.
** Licenciada em Geografia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense e Bacharelada
em Serviço Social pela Universidade Federal Fluminense. E-mail: lianafernandes1@hotmail.com.
*** Licenciada em Letras pelo Centro Universitário Fluminense e Licenciada em História pela Universidade
Salgado de Oliveira. E-mail: lu_tise@hotmail.com.
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THE ENVIRONMENTAL EDUCATION APPLIED IN QUILOMBOLAS


COMMUNITIES: a case study in Conceição do Imbé

ABSTRACT

This work focuses on environmental education in the Quilombola Community of Conceição do


Imbé, located in the municipality of Campos dos Goytacazes, in the district of Morangaba. The
research was composed in the execution of a project in the scope of environmental education,
based on the environmental perception of the community. This community is rural and has a
settlement history made by INCRA in 1987. In the project the whole history was approached
and the real need for environmental protection was presented to the local community, aiming
for sustainability. In order to do so, it was fundamentally possible from the perspective of the
literature reference that enabled the understanding of the historical and cultural arrangement
selected for study area and identified the appropriate educational methodology for this
community. Thus, through discussions and activities, the horizontal exchange of knowledge is
sought, inducing reflection and repercussion in the change of the community's conception
regarding environmental and sustainability issues.

Key-words: Environmental education. Community Quilombola. Sustainability.


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1 INTRODUÇÃO

A luta pela garantia dos direitos quilombolas é histórica e política. No Brasil a questão
quilombola esteve presente, do ponto de vista legal, tanto no regime colonial como no imperial
de forma significativa. Desde o século XVI, o Brasil utilizou mão-de-obra escrava negra na
atividade agrícola e principalmente para o cultivo de cana-de-açúcar. E no município de
Campos dos Goytacazes não foi diferente. Como a cana-de-açúcar era a base da economia
campista, a utilização de escravos era muito acentuada, porém houveram resistências negras e
rebeldias e consequentemente fugas individuais e em massa principalmente por conta do
trabalho forçado e dos maus tratos exercidos pelos feitores.
Os negros que reagiam à escravidão e que conseguiam fugir, se refugiavam em locais
bem escondidos no meio das matas e se aglomeravam criando comunidades chamadas
quilombos. Nestas comunidades, eles viviam de acordo com sua cultura africana, plantando e
produzindo em comunidade. Estimativas indicam que no território brasileiro existem cerca de
três mil comunidades quilombolas distribuídas pelos Estados da Federação, embora menos da
metade esteja catalogada (BRASIL, 2004a).
Homens e mulheres negros vêm lutando há séculos e viram no período de pós abolição
o fortalecimento pelos direitos. A batalha pelos direitos quilombolas se somou às lutas da
população negra de modo geral, sendo uma forte bandeira dos movimentos negros organizados
durante os séculos XX e XXI.
Foi então com a Constituição de 1988 que as comunidades quilombolas passaram a ter
o direito ao reconhecimento de suas terras, é o que expressa o artigo 68 no Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1988 que prevê: “Aos remanescentes
das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade
definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.”
Em nossa região, a comunidade quilombola de Conceição do Imbé, é composta por
descendentes de escravos que trabalhavam nas fazendas de café e cana de açúcar e após a
abolição da escravidão em 1888, eles continuaram trabalhando nas fazendas, mas agora na
condição de assalariados.

A região onde hoje está o município de Campos dos Goytacazes e os demais


municípios que dela se emanciparam, possui durante bom período de nosso passado,
a maior população escrava de toda a província do Rio de Janeiro. O acúmulo dessa
massa de escravos foi para mover as engrenagens da economia local, realizando as
árduas tarefas na criação de gado, extração de madeiras, agricultura de alimentos,
produção de açúcar, café e os serviços advindos dessas atividades nos lares,
estabelecimentos comerciais e no transporte da produção. (CORDEIRO, 2010, p. 14)
4

A Fundação Cultural Palmares, identificou que Conceição de Imbé se tratava de uma


Comunidade Quilombola, recebendo a Carta de Auto Reconhecimento em 20051.
Para tanto, a Educação Ambiental pode ser entendida como uma metodologia em
conjunto com o objetivo de gerar uma consciência ecológica em cada pessoa, preocupada na
análise de cada um dos problemas ambientais diagnosticados e com isso buscando soluções,
resultados e inclusive preparando cidadãos como agentes transformadores permitindo mudar o
comportamento volvido à proteção da natureza.
Como a sociedade vivencia atualmente a degradação do meio ambiente e do seu
ecossistema, em uma busca desenfreada e em sua maioria das vezes inconsequente de suprir
suas necessidades de satisfazer seus desejos de consumo, faz se necessário inserir nessas
comunidades a educação ambiental como forma de conscientização, afim que os moradores
entendam a verdadeira necessidade da proteção ambiental como própria proteção da cultura
remanescente histórica.
[...] a finalidade primordial da educação ambiental é revolucionar os indivíduos em
suas subjetividades e práticas nas estruturas sociais-naturais existentes. Ou seja,
estabelecer processos educativos que favoreçam a realização do movimento de
constante construção do nosso ser na dinâmica da vida como um todo e de modo
emancipado. Em termos concretos, isso significa atuar criticamente na superação das
relações sociais vigentes, na conformação de uma ética que possa se afirmar como
“ecológica” e na objetivação de um patamar societário que seja a expressão da ruptura
com os padrões dominadores que caracterizam a contemporaneidade. (LOUREIRO,
2004, p. 73)

Portanto, a conscientização ambiental impõe a sociedade novas formas de pensar e agir


individualmente e coletivamente. Para tanto é necessário que haja um equilíbrio entre o homem
e o meio ambiente para que assim a sociedade se consentisse em mudar conceitos e rever a
importância que o meio ambiente representa para a manutenção da vida e para isso é preciso
uma mudança no comportamento do ser humano em relação ao meio ambiente. Assim, o
objetivo desse trabalho foi de contribuir para que os moradores entendam a verdadeira
necessidade da proteção ambiental como própria proteção da cultura remanescente histórica.

1
http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2017/06/CERTIDÕES-EXPEDIDAS-ÀS-COMUNIDADES-
REMANESCENTES-DE-QUILOMBOS-12-06-2017.pdf
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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Da escravidão ao quilombo: breve histórico da escravidão no Brasil ao


reconhecimento da Comunidade Quilombola de Conceição do Imbé

No Brasil a escravidão teve início na primeira metade do século XVI, com a produção
do açúcar. Os portugueses traziam homens e mulheres negros de suas colônias na África e
quando chegavam no Brasil eram vendidos iguais objetos para os senhores. O transporte era
feito em navios, com os escravos colocados em seus porões, chamados negreiros (tumbeiros).
Eram transportados em condições subumanas e amontoados nos porões. Muitos morriam na
própria viagem, e tinham seus corpos jogados ao mar.

Foi no Brasil que a escravidão colonial alcançou o seu mais alto nível de
desenvolvimento. Na América, fomos uma das primeiras nações a conhecer o
escravismo e a última a aboli-lo. Dois terços de nosso passado transcorreram sob o
marco da instituição negreira. O Brasil foi a nação americana que importou o maior
número de africanos escravizados. Nossa economia escravista produziu a mais rica
gama de mercadorias coloniais com a mão-de-obra servil: pau-brasil, açúcar, arroz,
café, ouro, fumo, charque, etc. Praticamente não houve região do território nacional
que não tenha sido tocada pela escravidão. Os negros feitorizados foram empregados
em infindáveis tarefas e trabalhos, urbanos e rurais. (MAESTRI, 1993, p. 19)

Vieram muitos escravos africanos para o Brasil para trabalhar nas lavouras dos senhores,
no trabalho nos latifúndios de cana de açúcar, nas minas de ouro e diamantes, nas fazendas de
café ou mesmo no trabalho doméstico havendo então a exploração da força de trabalho tanto
de homens quanto de mulheres africanas.

O negro era o principal pilar nos mais variados aspectos da vida econômica do Brasil
colonial - produção açucareira, mineração, atividades urbanas, etc. (MAESTRI, 1993,
p.28)

A rotina de trabalho desses escravos era árdua e muita das vezes chegava a dezesseis
horas diárias de trabalho.

A produção de açúcar exigia duras, longas e ininterruptas jornadas de trabalho. Era


necessário encontrar braços abundantes e baratos para os engenhos, roças e
plantações; porém, a contratação do braço assalariado era impossível. (MAESTRI,
1993, p. 55).
6

As condições de vida eram precárias, sua alimentação extremamente limitada e não


contava com nenhum tipo de assistência ou garantia e caso não obedecessem seu senhor, eram
castigados fisicamente com punições públicas e muita das vezes chicoteados até a morte.
A escravidão foi um processo de extrema violência. Os negros não aceitaram esta
desgastante rotina de trabalho e nem a escravidão que lhes era imposta. O negro então reagiu à
escravidão fugindo. Foram então se aglomerando criando comunidades chamadas quilombos e
nestas comunidades eles viviam de acordo com sua cultura africana, plantando e produzindo
em comunidade.
De acordo com Cordeiro,

Algumas das considerações que levaram os escravos a rebelião contra seus senhores,
e as tentativas de fugas em massa, está com certeza, a maneira como o negro era
tratado, tendo que trabalhar de quatorze a dezesseis horas por dia, normalmente mal
alimentado e ainda sendo torturado por qualquer ato de insubordinação. Existiam
senhores que empregavam pessoas com a especialidade de torturar selvagemente os
negros. Por esse e muitos outros motivos é que surgiu no Brasil uma grande
quantidade de Quilombos. (CORDEIRO, 2009, p. 98-99)

Surgiram então as comunidades quilombolas que representaram uma das formas de


resistência e combate à escravidão. Rejeitando a cruel forma de vida, os negros buscavam a
liberdade e uma vida com dignidade, resgatando a cultura e a forma de viver. Atualmente ainda
existem essas comunidades formadas de remanescentes de quilombos. É o que prevê o art. 2º
do Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003.

Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste


Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória
histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de
ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida
(BRASIL, 2003).

A partir do século XIX, alguns poucos escravos conseguiam comprar a sua liberdade,
comprando a carta de alforria, com o pouco que juntavam em toda a vida. Mas mesmo livres
sofriam com o preconceito, não tendo oportunidades na sociedade.

O racismo no Brasil se apresenta como um dos grandes desafios a serem superados


pela população negra, já que esta condição, acrescida da distribuição injusta da riqueza
e dos inúmeros benefícios gerados pela política econômica à classe dominante,
notadamente “branca”, relegam a grande maioria negra a condições extremamente
precárias de sobrevivência. (TOMÉ, 2004, p. 02).
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A formação de grupos de escravos fugitivos se deu em toda parte do Novo Mundo onde
houve escravidão. No Brasil estes grupos foram chamados de quilombos ou mocambos, os
quais às vezes conseguiram congregar centenas e até milhares de pessoas (REIS, 1996).
A Fundação Cultural Palmares, já certificou até junho de 2017 2 mais de 2.600
comunidades espalhadas por todo o território brasileiro. Só no estado do Rio de Janeiro temos
37 comunidades reconhecidas e no município de Campos dos Goytacazes/ RJ temos 4 (quatro),
são elas: Aleluia, Batatal, Cambucá e Conceição do Imbé. A Fundação, identificou que
Conceição de Imbé se tratava de uma Comunidade Quilombola, recebendo a Carta de Auto
Reconhecimento em 2005.
Em nossa região, a comunidade quilombola de Conceição do Imbé, é composta por
descendentes de escravos que trabalhavam nas fazendas de café e cana de açúcar e após a
abolição da escravidão em 1888, eles continuaram trabalhando nas fazendas, mas agora na
condição de assalariados. “Falar dos quilombos e dos quilombolas no cenário político atual é,
portanto, falar de uma luta política e, consequentemente, uma reflexão científica em processo
de construção” (LEITE, 2000, p.333).
A sociedade brasileira atual ainda traz as marcas do escravismo, quer seja, por meio do
preconceito ou mesmo da exclusão social. Ainda não se vive em uma real democracia racial,
pois mesmo após a abolição, nota-se que o negro não consegue, na maioria das vezes, ocupar
um lugar de destaque na sociedade.

2.2 Educação ambiental e Sustentabilidade em Comunidades Quilombolas

Atualmente vive-se a degradação do meio ambiente e do seu ecossistema por causa da


busca desenfreada e, muitas vezes inconsequente em suprir suas necessidades e satisfazer seus
desejos de consumo, utilizando de maneira irresponsável os recursos naturais que nosso mundo
tem a oferecer sem se preocupar com o futuro.
A questão ambiental tem imposto a sociedade contemporânea a busca sobre novas
formas de pensar e agir individualmente e coletivamente, de pensar em outras possibilidades
que possam suprir as necessidades humanas e de relações sociais que não perpetuem tantas
desigualdades e exclusão social, e, ao mesmo tempo garantam a sustentabilidade ecológica.

2
http://www.palmares.gov.br/?page_id=37551. Acesso em 11 de julho de 2017.
8

O esgotamento ecológico e a desigualdade gerada pelo avanço do mundo globalizado


acabam gerando uma degradação ambiental muito grande, pensando nisso e no uso desenfreado
dos recursos naturais é que podemos analisar melhor e colocarmos em prática o conceito de
sustentabilidade. O desenvolvimento sustentável seria o desenvolvimento a partir de uma lógica
que satisfaça as necessidades do presente, do nosso tempo vivido, sem comprometer a
capacidade de satisfazer as necessidades das gerações futuras (ROOS; BECKER, 2012).
É o que nos diz Leff (2001, p.31):

O princípio de sustentabilidade surge como uma resposta à fratura da razão


modernizadora e como uma condição para construir uma nova racionalidade
produtiva, fundada no potencial ecológico e em novos sentidos de civilização a partir
da diversidade cultural do gênero humano. Trata-se da reapropriação da natureza e da
invenção do mundo; não só de um mundo no qual caibam muitos mundos, mas de um
mundo conformado por uma diversidade de mundos, abrindo o cerco da ordem
econômica-ecológica globalizada.

Para isso o desenvolvimento sustentável deve estar, também, aliado à educação


ambiental, a família e a escola devem ser os iniciadores da educação para preservar o ambiente
natural. A Educação Ambiental surge como política pública no Brasil com o estabelecimento
da Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA (Lei nº 6.938, de 1981), no contexto da
Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental de Tbilisi 3 1977, que destacou o
processo educativo como dinâmico, integrativo, permanente e transformador, justamente
porque possibilita a aquisição de conhecimentos e habilidades de forma participativa
(BRASIL,2005).
Antes disso a Constituição Federal de 1988, em seu Art. 225, § 1º, inciso VI, assegura
o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, atribuindo ao Estado o dever de “promover a educação
ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio
ambiente” (BRASIL, 1988). Posteriormente, foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Fundo Nacional de Meio Ambiente para
fortalecer a área ambiental no governo federal e promover novos processos educativos.

3
Em 1977, na cidade de Tbilisi, antiga URSS, ocorreu o mais importante evento internacional em favor da
educação ambiental até então já realizado, organizada pela UNESCO. Foi a assim chamada “Primeira Conferência
Intergovernamental sobre Educação Ambiental”, que foi responsável pela elaboração de princípios, estratégias e
ações orientadoras em educação ambiental que são adotados até a atualidade.
http://www.meioambiente.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=72. Acesso em 11 de julho de
2017.
9

A educação ambiental é, um processo de aprendizado, como todo processo educativo, a


comunicação de questões relacionadas à interação do homem com o ambiente natural, é um
instrumento de formação de uma consciência pelo conhecimento e reflexão sobre a realidade e
principalmente de comprometimento com a dimensão cultural e de inclusão nas questões
sociais.

A educação ambiental objetiva a formação da personalidade despertando a


consciência ecológica em crianças e jovens, além de adulto, para valorizar e preservar
a natureza, porquanto, de acordo com princípios comumente aceito, para que se possa
prevenir de maneira adequada, necessário é conscientizar e educar. A educação
ambiental é um dos mecanismos privilegiados para a preservação e conservação da
natureza, ensino que há de ser obrigatório desde a pré-escola, passando pelas escolas
de 1° e 2º grau, especialmente na zona rural, prosseguindo nos cursos superiores
(LANFREDI, 2002, p. 197).

Sendo assim, como a educação ambiental promove uma conscientização e se consagra


enquanto um processo libertador, principalmente em uma comunidade quilombola onde a
educação ambiental vem sendo estabelecida de forma gradativa com intuito de melhorar a
qualidade de vida da população quilombola. Consequentemente pode-se perceber a diminuição
dos problemas causados ao meio ambiente e mostrando a eles que o processo educativo não
encerra apenas na aquisição de informações, na prática de formação de sujeitos e produção de
valores, mas, sobretudo valorizando e resgatando sua própria história e identidade, com enfoque
especial às questões ambientais, educativas e culturais.
Geralmente essas comunidades quilombolas crescem ao redor de lugares mais isolados,
como próximo a florestas ou rios, e assim surge a necessidade da conscientização ambiental da
utilização dos recursos disponíveis, para que os recursos naturais sejam fontes renováveis de
sustento dessas comunidades. É necessário que haja um equilíbrio entre o homem e o meio
ambiente para que assim a sociedade se conscientize em mudar conceitos e rever a importância
que o meio ambiente representa para a manutenção da vida e para isso é preciso uma mudança
no comportamento do ser humano em relação ao meio ambiente.

3 METODOLOGIA

O presente estudo de pesquisa no âmbito de educação ambiental na Comunidade


Quilombola de Conceição do Imbé, localizada no município de Campos dos Goytacazes
caracterizou-se por uma pesquisa qualitativa, porque desta maneira articulamos a concepção
10

crítica da realidade social que recusa a simples fatualidade, considerando que a realidade é
construção social da qual o investigador participa, podendo ser articulado aos dados estatísticos.
Esta pesquisa utilizou como ferramenta de coleta de dados uma entrevista
semiestruturada com perguntas abertas e fechadas, para que pudéssemos analisar a concepção
da comunidade em respeito às questões ambientais e de sustentabilidade. Uma parte da
entrevista apresentará às várias opções de respostas dos entrevistados e a outra opinião própria
do sujeito da pesquisa com base em sua vivência. Entende-se, assim, que é importante para uma
abordagem mais rica a junção de ambas.
A pesquisa ocorreu da seguinte maneira: a visita na comunidade foi realizada durante
todo o dia 05 de outubro de 2017, ao chegarmos lá pedimos autorização do Presidente da
Associação de Moradores da comunidade e explicamos a ele o que seria realizado na
comunidade. Em seguida entrevistamos dez moradores da comunidade em pontos distintos
como na casa do presidente da associação, posto de saúde e escola municipal.
Ao final da aplicação dessas entrevistas, os dados foram analisados e tabulados para que
assim fossem melhor analisados os resultados da pesquisa. Além disso, foi realizada uma
análise crítica dos resultados obtidos, articulando esses resultados com as informações
adquiridas por meio da revisão bibliográfica.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A apresentação dos resultados a seguir tem como base a análise dos questionários
respondidos pelos moradores da comunidade. Responderam ao questionário dez moradores da
comunidade.
11

Faixa Etária
60 anos em diante
51 a 60 anos
41 a 50 anos
31 a 40 anos
21 a 30 anos
11 a 20 anos
0 1 2 3 4 5

Faixa Etária

Grau de Instrução

Ensino Médio Completo


Ensino Médio Incompleto
Ensino Fundamental Completo
Ensino Fundamental…
Analfabeto
0 1 2 3 4 5

Grau de Instrução

Figura 1: Perfil dos entrevistados

De acordo com os levantamentos e as informações contidas na figura 1, a faixa etária


predominante em nossa pesquisa foi entre 41 a 50 anos de idade e 40% desses moradores
completou o ensino fundamental. A quantidade de moradores de uma mesma residência gira
em torno de 4 pessoas por cada domicílio, ou seja, estima-se que nesta comunidade vivem mais
de 200 pessoas.
Quando foram perguntados sobre o esgoto de suas residências 100% dos moradores nos
informaram que vai para a fossa. Essa situação reforça a importância e a necessidade do
tratamento do esgoto, para que a contaminação do solo e do lençol freático não seja mais
necessário. Sendo assim, é importante tratar e dispor adequadamente o esgoto.
Perguntados sobre a origem da água em suas residências, 100% da população que
respondeu ao questionário informou que vem do poço, porém enfatizaram que a água do poço
é usada para afazeres domésticos e a água para consumo vem da nascente próximo de suas
casas.
12

O que você faz com o lixo que


produz?
Outros 3
Separa para produção de artesanatos 0
Joga em terrenos baldios ou no chão 0
Separa para coleta seletiva 7
Joga no lixo 0

0 1 2 3 4 5 6 7 8

O que você faz com o lixo que produz?

Figura 2: Destino do lixo

Com relação ao destino do lixo, demonstrado na figura 2, 70% separa para a coleta
seletiva que é realizada duas vezes na semana e 30% acaba queimando todo o seu lixo pois o
caminhão que realiza a coleta seletiva passa distante de suas residências. De maneira geral, as
respostas fornecidas pelos moradores, demonstram um certo conhecimento acerca das questões
ambientais, bem como das práticas ambientalmente adequadas. Apenas por conta do difícil
acesso da coleta seletiva é que esses moradores acabam queimando os seus resíduos.
Quando foram perguntados se achavam importante a preservação ambiental, 100%
considera importante. Sobre a existência de problemas ambientais na comunidade, 100% acha
que não existe, que o local ainda é uma área preservada.
Mas foi constatada na Comunidade Quilombola de Conceição do Imbé a existência de
alguns problemas de degradação ambiental como é o caso das queimadas que acabam
provocando a alteração dos ecossistemas, impactando na fauna, na circulação de águas
superficiais e subterrâneas, nas condições de temperatura e umidade e a poluição de águas e
solos, consequência da destinação inadequada de resíduos domésticos, que muitas vezes são
depositados no entorno ou é realizado a queima desses resíduos. Pois apesar de haver a coleta
seletiva a cada duas semanas na Comunidade, algumas residências ficam no alto dos morros
onde o caminhão da coleta não chega. Verificou-se que apesar do baixo nível de escolaridade,
eles possuem uma boa noção de meio ambiente tal como a importância de sua preservação.
Porém é possível melhorar o entorno a partir de práticas adequadas em relação ao lixo
doméstico produzido na comunidade, tais como, separação dos resíduos. A adoção de medidas
adequadas para a destinação do lixo doméstico resultará na melhoria do entorno e, por
conseguinte, na qualidade de vida e saúde dos moradores.
13

Já na pergunta sobre qual ação que fazem para proteger o meio ambiente no dia a dia,
obteve-se várias respostas como: separar o lixo doméstico, evitar queimadas, não jogar produtos
tóxicos no solo e nas nascentes e economizar água. De maneira geral, as respostas fornecidas
pelos moradores aos questionamentos, demonstram certo conhecimento acerca das questões
ambientais, bem como das práticas ambientais adequadas.

Você conhece o Parque


Estadual do Desengano ?

Não 2

Sim 8

0 2 4 6 8 10

Figura 3: Relação dos moradores com o Parque Estadual do Desengano

Quando se questionou sobre conhecer ou não o Parque Estadual do Desengano, que é a


vegetação existente em seu entorno, observou-se que a maioria, 80% dos moradores, conhecem
o parque e apenas 20% não conhece. Porém, conforme a figura 3 os que responderam que não
conhecem disseram que já ouviram falar alguma coisa relacionada ao parque ou que apenas que
ele existe. Já os que disseram que conhecem, relataram que estão percebendo que está havendo
muito desmatamento e que as pessoas não têm a consciência que devem cuidar da mata.
Questionados sobre o que eles acham que as pessoas podem colaborar para melhorar
e/ou preservar o ambiente que vivem, a maior parte citou a palavra conscientização. Que os
moradores e todos aqueles que visitam a região deveriam parar de realizar queimadas, descartar
o lixo de forma correta, não jogar o esgoto nas águas, não cortar as árvores, preservar as
nascentes e principalmente ter mais fiscalizações dos órgãos competentes.
Portanto, é necessário termos não apenas conscientização ambiental é necessário
também termos atitude, mudarmos hábitos e comportamentos em nosso dia a dia como também
da sociedade em relação ao meio ambiente para que assim possamos não prejudicar o ambiente
para as futuras gerações.
14

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que apesar dos problemas ambientais encontrados, podemos perceber a


sensibilização e conscientização dos moradores da comunidade quanto à preservação ambiental
como também demonstram boa vontade em adotar novos hábitos na contribuição da
preservação do meio ambiente. E a conscientização ambiental só será possível quando as
pessoas entenderem e perceberem o real valor do meio ambiente em nossas vidas.
Teixeira (2007, p. 25) define a educação ambiental como nada mais é do que a
compreensão e o despertar da percepção do indivíduo sobre a importância de ações e atitudes
para a conservação e a compreensão da preservação do meio ambiente, em benefício do bem-
estar de todos.
É preciso adotarmos práticas de educação ambiental em nosso dia a dia, mudarmos
nossos pensamentos e atitudes, buscando um ponto de equilíbrio entre a utilização dos recursos
naturais em benefício do nosso bem-estar e a conservação e preservação do meio ambiente.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art. 68 do Ato das
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