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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000093152

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0001638-


95.2011.8.26.0127, da Comarca de Carapicuíba, em que é apelante/apelado
ASSOCIAÇÃO HABITACIONAL BOM FUTURO, é apelado/apelante EDILAINE
DANTAS DA ROCHA NASCIMENTO (JUSTIÇA GRATUITA) e Apelado
SERGIO GOMES DO NASCIMENTO (JUSTIÇA GRATUITA).

ACORDAM, em 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Não conheceram do recurso da corré e
negaram provimento ao apelo da autora, V.U.", de conformidade com o voto do
Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


ERICKSON GAVAZZA MARQUES (Presidente sem voto), FERNANDA GOMES
CAMACHO E A.C.MATHIAS COLTRO.

São Paulo, 21 de fevereiro de 2018.

Moreira Viegas
RELATOR
Assinatura Eletrônica
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Apelação nº: 0001638-95.2011.8.26.0127


Comarca: Carapicuíba
Apelantes: ASSOCIAÇÃO HABITACIONAL BOM FUTURO
E OUTROS
Apelados: OS MESMOS

COMPROMISSO DE VENDA E COMPRA Moradia


popular Inadimplemento do comprador – Alegação
tardia de adimplemento substancial - Inadmissibilidade
Matéria não ventilada na contestação Indevida
inovação recursal Rescisão Admissibilidade
Retenção de 20% dos valores pagos que se afigura
razoável para ressarcimento das despesas
administrativas, bem como perdas e danos Sentença
mantida - Recurso da autora desprovido; não conhecido
o da corré.

VOTO Nº 21801

Ação de rescisão contratual cumulada com


pedidos de reintegração de posse e perdas e de danos julgada
parcialmente procedente pela r. sentença de fls. 215/218, cujo relatório se
adota.

Apelam ambas as partes. A autora sustentando


a necessidade de se observar a cláusula contratual que prevê restituição de
apenas 70% do montante pago, na hipótese de rescisão (fls. 222/233). A
corré EDILAINE, alegando a ocorrência de adimplemento substancial e
reclamando o chamamento da pessoa a quem transferiu a posse do imóvel
(fls. 238/247).

Apenas o recurso da aurora foi contrariado (fls.


267/274).

É o relatório.

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Apenas o recurso da autora merece ser


conhecido. Certo que, o adimplemento substancial, invocada no apelo da
corré EDILAINE, não foi sequer mencionado na contestação (fls. 161/163),
de modo que o recurso não merece ser examinado, por se fundar em tese
que constitui indevida inovação recursal.

A propósito, já decidiu esta Câmara:

COMPRA E VENDA Sentença de parcial


procedência. APELO DA RÉ Pretensão à
reversão do julgado, fundada na teoria do
adimplemento substancial Inadmissibilidade
Matéria não ventilada na contestação Indevida
inovação recursal Inteligência do artigo 300,
CPC/1973, aplicável por força do art. 14 do novo
diploma; e do artigo 1.013, § 1º, CPC/2015.
APELO DA AUTORA Pretensão à majoração
das retenções e ao afastamento da indenização
das benfeitorias Inadmissibilidade Percentual
de retenção fixado de acordo com orientação
jurisprudencial do STJ Ausência de
demonstração de irregularidade das benfeitorias
(art. 373, I, CPC/2015). Sentença mantida
RECURSO DA RÉ NÃO CONHECIDO, APELO
DA AUTORA DESPROVIDO (TJSP; Apelação
0000029-86.2010.8.26.0394; Relator (a): Fábio
Podestá; Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito
Privado; Foro de Nova Odessa - 1ª Vara Judicial;
Data do Julgamento: 01/08/2017; Data de
Registro: 01/08/2017)

Descabida, outrossim, sua pretensão de chamar

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ao processo a pessoa a quem teria transferido a posse do imóvel, visto


referida transferência foi feita a inteira revelia da promitente vendedora e
em manifesta afronta as regras estabelecidas no contrato, em especial a
lançada em sua 15ª cláusula (fls. 52).

Embora comporte conhecimento, a pretensão


recursal da autora de majoração do percentual de retenção de valores
pagos não prospera.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça


é firme no sentido de que:

“...Na hipótese de promessa de compra e venda


de bem imóvel a jurisprudência do STJ se
consolidou no sentido de admitir a retenção, pelo
vendedor, de parte das prestações pagas, como
forma de indenizá-lo pelos prejuízos suportados,
notadamente as despesas administrativas
havidas com a divulgação, comercialização e
corretagem, o pagamento de tributos e taxas
incidentes sobre o imóvel e a eventual utilização
do bem pelo comprador. (...) O percentual de
retenção - fixado por esta Corte entre 10% e 25%
- deve ser arbitrado conforme as circunstâncias
de cada caso (...)” (STJ 3ª Turma REsp
1224921/PR Relatora: Min. Nancy Andrighi,
julgamento em 26.04.2011).

E, nesta Corte é consagrado o entendimento


de que o consumidor tem direito à rescisão e à devolução das parcelas
pagas, descontado percentual suficiente para pagamento de despesas
administrativas.

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Nesse sentido, a Súmula nº 1:

“O Compromissário comprador de imóvel,


mesmo inadimplente, pode pedir a rescisão do
contrato e reaver as quantias pagas, admitida a
compensação com gastos próprios de
administração e propaganda feitos pelo
compromissário vendedor, assim como com o
valor que se arbitrar pelo tempo de ocupação do
bem”.

E, no caso, não demonstrou a requerente gastos


que justifiquem a retenção de 30% (trinta por cento) das quantias pagas,
sendo adequado o percentual de apenas 20% (vinte por cento) desses
valores. Na mesma esteira, outros julgados relativos a mesma Associação:

Compra e venda - rescisão e devolução e


quantias associação habitacional - aplicação do
código de defesa do consumidor inadimplência
do comprador rescisão que se impõe
retenção em favor da associação de 20% do
montante pago precedentes recurso
parcialmente provido (TJSP; Apelação
0008280-50.2012.8.26.0127; Relator (a):
A.C.Mathias Coltro; Órgão Julgador: 5ª Câmara
de Direito Privado; Foro de Carapicuíba - 1ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 10/05/2017; Data de
Registro: 06/06/2017)

Ação de rescisão de contrato com pedido de


tutela antecipada de reintegração de posse
julgada procedente. Apelação da ré. Irresignação

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procedente em parte. Associação habitacional.


Inadimplemento de contribuições associativas
verificado. Rescisão contratual devida. Retenção
de parte das quantias pagas, para compensação
de gastos. Cláusula contratual que estabelece a
perda de 30% dos valores pagos abusiva, no
caso. Ausência de comprovação de custos
excepcionais. Percentual de devolução de 80%
razoável. Correção de erro material quanto ao
percentual fixado para os valores devidos pela
ocupação do imóvel. Recurso parcialmente
provido (TJSP; Apelação
0018572-31.2011.8.26.0127; Relator (a): Mary
Grün; Órgão Julgador: 7ª Câmara de Direito
Privado; Foro de Carapicuíba - 1ª Vara Cível;
Data do Julgamento: 26/03/2015; Data de
Registro: 26/03/2015)

Assim, não se vislumbra que a autora tenha


sofrido prejuízos impassíveis de indenização pela retenção autorizada na
sentença, em percentual muito próximo do limite máximo sugerido pelo
Superior Tribunal de Justiça.

Logo, deve ser mantida a sentença, cujos


fundamentos subscrevo e incorporo a esse voto.

Mantida a sentença, em atenção ao artigo. 85,


§§1º e 11, do Código de Processo Civil, majoram-se os honorários
advocatícios para 20% do valor atualizado da causa.

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Ante ao exposto, NÃO CONHEÇO do recurso


da corré e, NEGO PROVIMENTO ao apelo da autora.

JOÃO FRANCISCO MOREIRA VIEGAS


Relator

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