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Um Estado atrasado até na hora da

morte

Vítor Santos *
Hoje às 00:06


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 Opinião

Um Estado atrasado até na hora da morte


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 Um Estado atrasado até na hora da morte


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Todos, por uma vez na vida, lidamos com a intransigência do Estado quando nos atrasamos com algum pagamento. E, se não tivermos
cuidado, depressa as multas nos batem à porta. O contrário, infelizmente, não acontece: a democracia vai evoluindo, devagarinho, mas
os cidadãos ainda não adquiriram o direito de multar um Estado que nem na hora da morte paga a tempo e horas. Esta é a conclusão
mais evidente da matéria que poderão consultar adiante, nas páginas 6 e 7 desta edição do "Jornal de Notícias".

Como se não bastasse o choque de terem de lidar com a partida de alguém que lhes é muito próximo, as famílias ainda convivem
com o facto de o subsídio por morte, uma verba normalmente canalizada para pagar as despesas com os funerais, demorar, nalguns
casos, um ano a chegar. É claro que, por tabela, além dos familiares, também as funerárias são afetadas por uma demora que a
Segurança Social não confirma totalmente. Mas que existe, existe.

Este é um bom mau exemplo de como somos maltratados pelo Estado, uma tendência que se agravou desde a chegada da troika e,
em muitos casos, não se diluiu após a sua passagem. Não podemos estar constantemente a ser bombardeados com disc ursos de
vitória por terem sido contornadas as adversidades de uma economia frágil para, depois, quando escrutinamos a realidade, serm os
confrontados com situações como esta, na qual é ultrapassado o limite da falta de sensibilidade. Além do pagamento tard io,
acresce que o subsídio em questão sofreu uma tesourada das grandes em 2012. De 2500 euros, passou para metade, situando -se,
agora, em 1287 euros. Independentemente do valor em causa, tudo o que as pessoas não precisam, na hora em que perdem um
familiar, é de ganhar mais um problema difícil de resolver, privando-os do descanso e do recato necessário para cumprirem o luto.

Espero também que, ao contrário do que acontece com outros constrangimentos financeiros evidentes - nas áreas da Saúde e do
Ensino, por exemplo -, este não resulte de alguma cativação camuflada. Para que não restem dúvidas, convinha que o Estado
encontrasse uma forma mais digna de tratar os que partem e não voltam. E, sobretudo, os que continuam por cá, com a dor de
viver sem eles.

* EDITOR-EXECUTIVO-ADJUNTO

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