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Idosos no Brasil

Vivências, desafios e expectativas


na 3a idade

maio de 2007
NOTA METODOLÓGICA

Universo: população brasileira urbana adulta (16 anos e mais), dividida em


dois sub-universos, o da terceira idade (60 anos e mais) e o de jovens e
adultos (16 a 59 anos).

Amostragem: probabilística nos primeiros estágios (sorteio dos municípios,


dos setores censitários e domicílios), combinada com controle de cotas de sexo
e idade (Censo 2000, estimativa 2005, IBGE) para a seleção dos indivíduos
(estágio final). A amostra foi estratificada pelos sub-universos, com 2.136
entrevistas com idosos e 1.608 com o restante da população, totalizando
3.759 entrevistas.

Dispersão geográfica: 204 municípios (pequenos, médios e grandes),


distribuídos nas cinco macro-regiões do país (Sudeste, Nordeste, Sul, Norte e
Centro-Oeste).

Abordagem: domiciliar, com aplicação de questionários estruturados, que


somaram 155 perguntas dirigidas aos idosos (cerca de 350 variáveis) e 75
perguntas aos não idosos. Para evitar tempo médio de entrevista muito
superior a uma hora de duração, a amostra dos idosos foi dividida em duas (A
e B), com dispersão idêntica, aplicando-se 40 perguntas em comum a ambas e
distribuindo-se as demais 115 perguntas em dois questionários.

Margens de erro: para os resultados no sub-universo da terceira idade, até ±


2 pontos percentuais nas perguntas aplicadas nas amostras A e B, e de até ± 3
p.p. nas perguntas aplicadas apenas nas amostras A ou B (1.071 e 1.065
entrevistas, respectivamente); até ± 2,5 p.p. para os resultados no sub-
universo de 16 a 59 anos (Amostra C) e também para os resultados com a
amostra total ponderada (desenho nacional de 1.831 entrevistas), sempre com
intervalo de confiança de 95%.

Data do campo: 01 a 23 de abril de 2006.

Iniciativa: Fundação Perseu Abramo (FPA).


Parcerias: SESC Nacional e SESC São Paulo.

Responsabilidade técnica: Núcleo de Opinião Pública da FPA, sob a coordenação do


cientista político Gustavo Venturi e da socióloga Marisol Recamán. Analista, Vilma
Bokany; processamento de dados, Rita Dias.
Relatório Descritivo – Sumário Executivo

1. Perfil sócio-demográfico dos idosos brasileiros

Comparativamente aos brasileiros jovens e adultos não idosos (16 a


59 anos), a população idosa brasileira urbana (60 anos e mais) é mais
feminina, declara-se mais da cor branca, é mais católica e sobretudo
menos escolarizada – metade é atingida pelo analfabetismo funcional.

A população idosa reside em domicílios com menor renda familiar,


porém mais em casas próprias que a não idosa. Metade passou a maior
parte de suas vidas no campo – ou viveu no campo tanto quanto nas
cidades –, enquanto entre os não idosos predomina a vivência urbana.

Entre os homens idosos prevalecem os casados, a maioria vive com a


mulher e ao menos um filho, sendo a parceira a pessoa que lhes dá
mais atenção. Entre as idosas prevalecem as viúvas, a maioria vive
com um filho ou filha, de quem recebe mais atenção.

Em média residem 3 pessoas nos domicílios em que vivem – contra 4


pessoas nas casas em que não há idosos – e a maioria considera-se
chefe de suas famílias. Quase toda população idosa tem alguma fonte
própria de renda – sobretudo aposentadoria – e contribui para as
despesas da casa.

• Na população idosa acentua-se o desequilíbrio por gênero: 57% são


mulheres e 43% homens, contra 48% de homens e 52% de mulheres
entre a população não idosa.
• Segundo a classificação de cor do IBGE, 41% da população adulta não
idosa declaram-se brancos, 37% pardos e 14% da cor preta. Entre os
idosos, metade declara-se de cor branca (51%), 31% pardos e 12% da
cor preta.
• Esse “embranquecimento” dos idosos é ratificado na classificação por
ascendência racial: entre não idosos 40% dizem ter ascendência negra
e branca e 27% só branca; entre os idosos 42% declaram ascendência
branca e 30% negra e branca.
• Com relação à religião, a predominância da católica (62% na população
não idosa) se acentua entre os idosos (73%). A evangélica é maior entre
os não idosos (26%) do que entre o total de idosos (21%), mas entre as
idosas é 11 pontos percentuais (26%) mais alta que a observada entre os
homens idosos (15%).
• Entre adultos não idosos, 80% passaram a maior parte da vida em
cidades e apenas 14% no campo. Já entre os idosos apenas metade
passou a maior parte da vida no meio urbano (51%), 38% viveram mais
tempo no meio rural e 10% dividiram seu tempo de vida entre a cidade
e o campo.
• Cerca de um quarto dos idosos brasileiros provêem de família de
imigrantes (24%), italianos e portugueses são as origens de maior
procedência (8% e 7%, respectivamente)
• Entre os idosos 89% não passaram da 8ª série do ensino Fundamental
(18% não tiveram nenhuma educação formal) e apenas 4% chegaram ao
3º grau de escolaridade (completo ou incompleto). Entre os não idosos
44% não passaram do Fundamental (2% não freqüentaram escolas) e
15% chegaram ao ensino Superior.
• Entre a população idosa o analfabetismo funcional totaliza 49% (13%
entre não idosos): 23% declaram não saber ler e escrever (2% dos não
idosos), 4% afirmam só saber ler e escrever o próprio nome (1% dos não
idosos) e 22% consideram a leitura e a escrita atividades penosas (8%
dos não idosos), seja por deficiência de aprendizado (14%), por
problemas de saúde (7%) ou por ambos motivos (2%).
• Entre a população urbana não idosa um terço (34%) tem renda familiar
mensal de até 2 salários mínimos e apenas 6% percebem mais de 10
s.m. – situação que se agrava nos domicílios com idosos: 43% têm renda
familiar até 2 salários mínimos e só 3% acima de 10 salários.
• Quase 2/3 dos não idosos residem em casa própria (64%) e 1/5 em
imóveis alugados (21%), enquanto entre os idosos 79% conquistaram a
casa própria e apenas 11% residem em casas alugadas.
• Em relação ao estado conjugal, pouco mais da metade dos não idosos
está casada (56%), assim como dos idosos (52%). As diferenças ficam
por conta das taxas de solteiros (36% entre não idosos e 6% entre
idosos) e viúvos (34% entre os idosos e 2% entre os não idosos) –
diferenças que se acentuam por gênero: 73% dos homens idosos estão
casados, 14% viúvos; 48% das idosas são viúvas, 37% estão casadas.
• Um terço da população brasileira não idosa (35%) não tem filhos (73%
dos jovens de 16 a 24 anos e 19% dos adultos entre 25 e 59 anos). Entre
os idosos apenas 6% não têm ou não tiveram filhos.
• Os idosos residem em domicílios com 3,25 pessoas, em média – contra
4,13 pessoas nos domicílios onde não há idosos, sendo que 15% vivem
sós (apenas 3% dos não idosos).
• Em termos de composição familiar, cerca de metade da população
idosa vive com ao menos um filho ou filha (54%) e com cônjuge (51%),
e quase 1/3 com neto ou neta (30%). Mas há diferenças por gênero:
entre os homens 71% residem com a parceira – que tende a ser quem
mais lhe ajuda (58%) –, 51% com filho/a e apenas 24% com neto/a;
entre as idosas, 57% residem com filho/a – para a maioria, a pessoa que
mais lhes dá atenção –, apenas 36% com o parceiro e 36% com neto/a.
• Consideram-se chefe da família onde residem 71% (88% dos idosos
homens e 58% das idosas). Entre os homens a taxa cai com a idade (de
90% dos 60 aos 69 anos, a 77% com 80 anos ou mais); entre as
mulheres cresce com a idade (de 52% dos 60 aos 69 anos a 72% entre
as que passaram dos 80 anos).
• A grande maioria da população idosa tem alguma fonte de renda
própria (92%), tanto os idosos homens (97%), como as idosas (87%), e
contribui para a renda familiar (88%, respectivamente 95% e 83%).
• As fontes de renda predominantes entre os homens idosos são a
aposentadoria por tempo de serviço (39%) ou por idade (28%); entre as
idosas a aposentadoria por idade (28%) e pensão por morte (26%).
• Dos homens idosos, 79% estão aposentados, entre os quais 18% ainda
trabalham. Junto com 15% que exercem atividade remunerada sem
estarem aposentados e 3% que se consideram desempregados, mais de
1/3 (36%) permanece na População Economicamente Ativa. Entre as
idosas 13% estão na PEA, somando 8% que não se aposentaram com 5%
das aposentadas (46%) que ainda trabalham.

2. Percepções da velhice e auto-imagem da pessoa idosa

De modo geral a imagem da velhice é mais negativa que positiva – mas


está longe de ser apenas negativa, sobretudo na perspectiva da
população idosa, que percebe tanto aspectos negativos quanto
positivos em sua condição. Há consciência de que há um forte
preconceito social contra a pessoa idosa, ao mesmo tempo em que os
idosos avaliam que ser idoso hoje é melhor do que já foi ser idoso ou
idosa na época em que eram mais jovens.

A percepção da chegada da velhice está associada principalmente a aspectos


negativos, tanto entre os idosos (88%), como entre os não idosos (90%). As
doenças ou debilidades físicas são, para a maioria, o principal sinal de que
a velhice chegou (opinião espontânea de 62% dos não idosos e de 58% dos
idosos). O desânimo, a perda da vontade de viver, também é fortemente
percebido como sinal de que se ficou idoso (citado por 35% dos idosos e por
28% dos não idosos) e ainda a dependência física, apontada como sinal de
velhice por pouco mais de um quarto de ambos segmentos.

Perguntada como se sente com a idade que têm, a maioria da população


idosa responde positivamente (69%): espontaneamente se diz sobretudo
satisfeita ou feliz (48%), com disposição para seus afazeres (29%), com
ânimo e vontade de viver (27%). Referências negativas são citadas por 2/5
(39%), com destaque para debilidades físicas e doenças (35%).

Se a velhice é preponderantemente negativa, mas a maior parte dos idosos


sente-se bem, conseqüentemente a maioria não se sente idosa (53%). Só a
partir dos 70 anos a maior parte dos idosos brasileiros sente-se como
tal. Na média, sentem-se de fato idosos apenas 2/5 (39%) e 7% sentem-se
idosos parcialmente, ou em certas circunstâncias. A sensação de velhice, plena
ou parcial, é partilhada gradualmente com o aumento da idade: por apenas
1/3 dos que estão entre 60 e 64 anos (31%), por pouco mais da metade dos
70 aos 74 anos (53%) e atinge sete em cada dez idosos que estão com 80
anos ou mais (71%) – segmento em que ainda 28% afirmam que não se
sentem idosos.
A população idosa aponta, em média, os 70 anos e 7 meses como o
momento da chegada à velhice, contra 68 anos e 11 meses apontados
pelos adultos (25 a 59 anos) e 66 anos e 3 meses apontados pelos jovens (16
a 14 anos).

Entre a população adulta não idosa prevalece a percepção de que há mais


coisas ruins do que boas em ser idoso (44%, chegando a 49% entre os jovens
de 16 e 17 anos); um terço pensa o contrário (33%) e afirma que têm mais
coisas boas do que ruins em ser idoso, e 19% dizem que tanto têm coisas
boas como coisas ruins. Já entre os idosos, a percepção de que há mais
coisas ruins em ser idoso cai para 1/3 (35% – sendo majoritária só após os 70
anos), equilibrando-se com a taxa dos que avaliam que há mais coisas boas
(33%), e cresce a avaliação de que ambas, coisas boas e ruins, estão
presentes em sua situação etária (23%).

As melhores coisas de ser idoso/a estão relacionadas à experiência de


vida, à sabedoria (citadas espontaneamente por 21% dos idosos e por 34%
dos não idosos), o tempo livre que os idosos dispõem para se dedicar ao que
querem ou podem fazer (lembrado respectivamente por 16% e 22%),
contarem com proteção, carinho ou compreensão familiar (13% e 15%),
terem independência econômica e financeira (12% e 14%) e o gozarem de
novos direitos sociais (lembrados por 12% nos dois segmentos), como
prioridades em fila, gratuidade em ônibus e descontos em eventos culturais.

Já as piores coisas que viriam com a idade reproduzem alguns traços


negativos da imagem da velhice, como as debilidades físicas e doenças
(citadas espontaneamente por 57% dos idosos e 49% dos não idosos) e a
dependência física, precisar da ajuda dos outros, a perda de autonomia
(apontada respectivamente por 14% e 24%), mas destacam-se ainda a
discriminação social contra a pessoa idosa (18% e 24%) e a falta de
cuidado das famílias (6% e 16%).

Se os jovens (16 a 24 anos) dividem-se entre os que consideram a situação


dos idosos hoje no Brasil melhor (42%) ou pior (39%) “que há 20 ou 30 anos”,
a maioria dos idosos avalia que é melhor ser idoso agora do que já foi
antes (56%) - para 30% a situação da pessoa idosa piorou.

O principal argumento dos idosos que avaliam que a condição da pessoa idosa
melhorou remete a alguns novos direitos (lembrados por 35%), destacando-se
a conquista da aposentadoria (21%), gratuidade nos transportes (11%),
a promulgação do Estatuto do Idoso (6%) e o atendimento preferencial
em filas (6%). Fizeram referência a melhorias na saúde 17% (mais e novos
remédios, mais médicos e equipamentos, novas especialidades etc.) e 9%
citaram mais opções de lazer para os idosos.

Entre os aspectos que teriam piorado na vida dos idosos nos últimos
tempos, a principal referência é a falta de respeito (13%), sobretudo dos
jovens (10%) e a questão da saúde (10%), seja pela piora da qualidade do
atendimento, seja pelas condições menos naturalistas da vida moderna.
Para a maioria dos não idosos (85%) e dos idosos (80%) existe preconceito
contra a velhice no Brasil, seja muito (opinião de 52% dos não idosos e de
43% dos idosos), seja um pouco (30% e 32%, respectivamente). Mas poucos
brasileiros admitem serem preconceituosos em relação à velhice: apenas 4%
dos não idosos.

A maior parte da população (75% entre não idosos e 76% entre idosos) sabe
citar traços negativos da imagem que os mais jovens têm dos idosos,
enquanto apenas 1/5 (21% dos não idosos e 19% dos idosos) menciona algum
traço positivo como componente dessa imagem.

Os mais jovens veriam os idosos como incapazes ou inúteis (opinião


espontânea de 31% dos idosos e de 37% dos não idosos), como
ultrapassados (9% e 15%, respectivamente) e desinformados (10% e
5%); com desprezo (29% e 16%), desrespeito (24% e 16%), como
passíveis de discriminação ou maltratos (13% e 7%).

Diante de frases do senso comum sobre a velhice, obtém consenso quase


absoluto a idéia que os idosos têm muita coisa para ensinar (94% de
concordância entre os idosos e 96% entre não idosos) e a afirmação que
envelhecer é um privilégio (concordam 86% e 82%, respectivamente).
A idéia que velhice é o mesmo que doença tem a discordância da grande
maioria, mas mais dos não idosos (84%) que dos idosos (68%, contra 27%
que concordam), assim como as afirmações que os idosos só vivem do
passado (discordam 64% e 58%, respectivamente) e que os idosos
dependem dos outros para tudo (discordam 55% dos não idosos e 49% dos
idosos, concordam 29% e 33%). A idéia que as pessoas idosas não
conseguem acompanhar as mudanças do mundo moderno tem a
concordância de 54% dos não idosos e de 58% dos idosos.

A concordância com a idéia que os idosos sentem necessidade de namorar


passa de 2/3 entre os não idosos (69%), mas cai na população idosa (57%),
sobretudo pelo baixo apoio entre as idosas (46%, contra 71% entre os idosos
homens). Decrescente também à medida que vão envelhecendo, a
concordância é minoritária entre as idosas acima de 70 anos (35%) e entre os
homens acima de 80 anos (35%). Concordam que o desejo sexual
desaparece com a idade 44% dos não idosos (37% discordam) e 50% dos
idosos (31% discordam).

Finalmente, de uma lista com 15 sentimentos sugeridos, os idosos apontaram


dentre os mais freqüentes em suas vidas a saudade do passado (46%,
contra 26% de menções entre os não idosos) e alegria/felicidade (42%).
Diante da mesma lista, os não idosos destacaram alegria/felicidade (43%)
e ansiedade (30%, contra 10% dos idosos). Entre os idosos destacaram-se
ainda calma/ tranqüilidade (25%), cansaço (23%, contra 16% entre não
idosos), companheirismo e disposição (22% cada), tristeza e solidão
(ambos 20%, com praticamente o dobro das menções entre os não idosos,
respectivamente 11% e 9%). Os não idosos, por sua vez, apresentam o dobro
da taxa dos idosos para o sentimento de motivação/interesse (27% a 14%)
e para impaciência/irritação (24% a 13%).
E diante de uma lista com 12 valores e atitudes propostos, os idosos
indicaram como os mais importantes a responsabilidade (46%), sabedoria
e alegria (44% cada), amizades (35%) e religiosidade (34%). Entre os não
idosos a hierarquia foi responsabilidade (62%), sabedoria e amizades (37%
cada), solidariedade (35%, contra 24% entre os idosos) e respeito às
diferenças (29%, contra 18% entre os idosos).

3. Estatuto do Idoso, direitos e violações

A maioria da população brasileira idosa ouviu falar no Estatuto do


Idoso mas não leu. Acredita que o Estatuto deve garantir sobretudo
direitos sociais, com destaque para o acesso à saúde e à aposentadoria
ou alguma outra renda.

Embora inicialmente apenas um em cada sete idosos relate


espontaneamente ter sofrido alguma violência por sua condição de
pessoa idosa, após o estímulo de dez formas de maltrato ou
desrespeito, mais de 1/3 dos idosos irá reportar já ter sofrido alguma
violência por conta da idade.

• A maioria da população na idosa (73%) sabe da existência do Estatuto


do Idoso, porém quase sempre apenas por ouvir falar (61%). O
desconhecimento total é maior entre os idosos (27%) que entre os não
idosos (18%).
• Questionados sobre quais direitos o Estatuto do Idoso não poderia
deixar de ter, três em cada quatro idosos (77%) citam espontaneamente
algum direito social, com destaque para o direito à saúde (45%),
seguido pelo direito à aposentadoria ou pensão (30%).
• A violência, desrespeito ou maltrato é algo presente na vida dos idosos,
muito embora, espontaneamente, só 15% relatem alguma ocorrência.
Entre os homens há maior percepção de violência (18%, contra 13%
entre as mulheres).
• Os relatos variam de casos de violência urbana como assaltos e
estupros, cometidos por desconhecidos, à violência doméstica física,
como espancamentos e atentados contra a vida, ou psíquica, com
humilhações sistemáticas, cometidos por familiares, passando pela
violência institucional de desrespeito aos direitos dos idosos,
cometida por agentes públicos em hospitais, mercados e
principalmente no transporte público.
• Dentre as formas de violência sugeridas, as mais sofridas pelos idosos
foram ofensas, tratamento com ironia, gozação, humilhação ou
menosprezo devido à idade (17%) e ficar sem remédios ou
tratamento adequado quando necessário (14%); a recusa de
algum trabalho ou emprego, por causa da idade ou ser
ameaçado/ aterrorizado (7% cada), e serem submetidos a
violência física ou lesão corporal (5%).
• Passar fome ou ficar sem ter o que comer, não ter cuidados ou
convivência com a família e ter crédito recusado devido à idade já
ocorreram com 4% dos idosos e 3% dizem ter sido submetidos a
trabalho excessivo ou inadequado, ou forçados a fazer coisas que
não gostariam.
• Excluídas as duplicidades pela vivência de mais de uma destas formas de
violência sugeridas, chega-se ao índice de 35% de idosos que já
sofreram algum tipo de violência. Este índice é maior entre os homens
(40%, contra 30% entre mulheres) e sobretudo entre os mais velhos
(52% entre os homens com 80 anos ou mais).
• Os principais agressores dos casos mais freqüentes de violência são
desconhecidos (11%), mas 6% acusam os postos de saúde e
funcionários da área da saúde como os principais responsáveis pelo tipo
de violência que sofrem mais freqüentemente. Vizinhos e filhos são
responsáveis por 2%, ambos, dos casos mais freqüentes de violência
contra os idosos.
• Os homens são as principais vítimas de desconhecidos (16%, contra 6%
entre as mulheres) e os mais velhos (15% homens com 80 anos ou
mais) os que mais sofrem na área da saúde.
• A lesão por trapaça, engano ou apropriação indevida de bens, já ocorreu
com 14% dos idosos após os 60 anos. Metade deles sofreu este tipo de
situação uma única vez (7%), 3% duas ou três vezes e 2% quatro vezes
ou mais.

4. Demandas setoriais

4.1. Saúde

• A grande maioria dos idosos (84%) nunca se sentiu maltratada ou


discriminada ao necessitar tratar da saúde, mas 12% dizem que sim,
embora apenas 4% aleguem que isso ocorreu por causa de sua idade,
enquanto 8% acham que não foi por esta razão.
• Em média os idosos foram a uma consulta médica pela última vez há
cerca de 11 meses. As idosas fazem consultas mais freqüentes ao
médico – fizeram a última há 7 meses e meio, em média, enquanto os
homens fizeram sua última consulta há 16 meses e meio.
• Metade dos idosos (51%) afirma nunca ter recebido visita de agentes de
saúde e a grande maioria (88%) nunca recebeu visita de médicos do
programa Saúde da Família. Entre os 48% que já foram visitados por
agentes de saúde, metade (24%) recebe visitas regulares de agentes de
saúde, enquanto visitas regulares de médicos do Programa só alcançam
3% dos idosos.
• A grande maioria dos idosos possui alguma doença (81%), tendo-se
reportado 16 enfermidades que atingem pelo menos 5% da população
idosa. Dentre elas a hipertensão atinge quase metade da população
brasileira idosa (43%). Problemas de visão e de coluna são comuns a
26% e 23%, respectivamente, e 13% sofrem de diabetes, problemas
cardíacos ou têm colesterol alto.
• Para a maioria das doenças relatadas, a incidência é maior entre as
mulheres – exceção para os problemas de vista, doenças cardíacas e
colesterol alto, cuja incidência é semelhante à dos homens.
• Entre os idosos que têm alguma doença, mais da metade avalia
positivamente o atendimento recebido (54%), 12% avaliam como
regular e 7% como negativo. A avaliação positiva do tratamento recebido
é maior entre as mulheres (59%, contra 48% entre os homens).
• Os serviços públicos de saúde são utilizados por 2/3 dos idosos (68%),
outros 24% possuem convênio médico, ou plano particular de saúde,
11% costumam pagar médicos ou hospitais particulares, 7% afirmam
recorrer a medicinas caseiras (9% das idosas) e 5% contam com os
agentes comunitários de saúde.
• A maioria dos idosos quando precisam de remédios paga para obtê-los
(71%), metade deles (51%) procura gratuitamente nos postos de saúde.
Cerca de um terço dos idosos afirma nunca encontrar remédios gratuitos
quando procura, 25% dizem encontrar sempre, 20% de vez em quando
e 14% raramente encontram.
• Dos exames que deveriam ser rotineiros, apenas 11% das idosas
fizeram os ginecológicos nos últimos 6 meses e 22% no último ano. Há
ainda 26% que declararam nunca terem feito exames ginecológicos.
Quanto aos homens, o índice dos que nunca fizeram exame de próstata
é bem maior (42%); apenas 6% fizeram nos últimos 6 meses e 16% no
último ano. E o teste de HIV nunca foi feito pela grande maioria dos
idosos (86%)
• A maior parte dos idosos (71%) costuma tomar vacinas nos postos de
saúde e este índice é mais expressivo entre as mulheres (79%) e entre
os de idade mais avançada (78% entre os homens de 80 anos ou mais e
80% entre as mulheres da mesma idade).

4.2. Acessibilidades

• Um terço da população idosa (35%) declarou que encontra dificuldade


para andar nas ruas e calçadas das cidades onde vive, sobretudo em
função de buracos (23%), mas também pela irregularidade das calçadas
(9%), pela existência de degraus (5%) e em função de calçadas estreitas
(5%). Em geral, as mulheres sentem mais dificuldade que os homens
para transitar nas ruas das cidades onde vivem (40%, contra 29% entre
os homens).
• No acesso aos prédios públicos como bancos, shoppings e repartições
públicas, 11% afirmam encontrar alguma dificuldade. O excesso de
degraus e filas constitui as principais problemas (3%), bem como a falta
de prioridade no atendimento aos idosos (2%).
• Com os transportes públicos 21% dos idosos encontram dificuldades,
o que corresponde a 1/4 da população idosa usuária, uma vez que 19%
dos idosos afirmam não usar transporte público.
• A altura dos degraus dos ônibus é a principal dificuldade apontada (8%),
mais reclamada entre as mulheres (11%, contra 4% entre os homens) e
variando de 9% entre as que possuem entre 60 e 69 anos a 16% entre
as com 80 anos ou mais.
• Outras dificuldades percebidas são o fato de os ônibus não pararem para
os idosos e o mau atendimento que motoristas e cobradores dedicam aos
idosos (5% cada).
• Praticamente a totalidade dos idosos (94%) sabe que as pessoas a partir
dos 65 anos têm direito de usar transporte público gratuitamente,
no entanto somente metade deles (46%) faz uso deste benefício.

4.3. Educação, formação e informação

• No momento da coleta de dados, apenas 2% dos idosos estavam


estudando (contra 22% da população entre 16 e 59), mas se pudessem
escolher livremente, 44% gostariam de fazer algum curso. Entre os
cursos preferidos, os que fazem parte de educação formal são os mais
mencionados (16%), mas há demanda também para cursos de
informática (6%), além de cursos de tricô, crochê e bordado (7%), entre
muitos outros.
• Dois terços dos idosos (65%) e dos não idosos (65%) utilizam a TV como
principal meio de informação e obtenção de conhecimento. A leitura de
revistas e jornais, bem como a de livros, estão mais presentes entre os
não idosos (55% a 30%, e 31% a 26%, respectivamente), enquanto que
o rádio (26% a 31%) e sobretudo a conversa com outras pessoas são
meios privilegiados pelos idosos (32% a 39%).
• Embora quase a totalidade da população idosa afirme já ter visto um
computador (90%, contra 98% dos não idosos), apenas 10% costumam
utilizar computador sempre (3%) ou ao menos eventualmente (7%) – ao
passo que a maioria dos não idosos (55%) usa computador sempre
(24%) ou de vez em quando (31%).
• Em relação à Internet ocorre algo semelhante: a maioria da população
idosa afirma saber o que é (64%, contra 92% dos não idosos), mas
apenas 4% costumam navegar na rede sempre (1%) ou ao menos
eventualmente (3%) – enquanto quase metade dos não idosos (45%)
usa a Internet sempre (21%) ou de vez em quando (24%).
• Afirmam ter interesse por computador quase 1/3 terço dos idosos (29%),
e a Internet desperta o interesse de ¼ dos idosos (24%).

4.4 Aposentadoria, tempo livre, lazer e atividades físicas

• Entre os idosos que estão na PEA - População Economicamente Ativa


(22%, sendo 11% já aposentados), apenas 5% está no mercado
formal e a maior parte (15%) no informal, atuando principalmente de
modo temporário, fazendo bicos (12%). Fora da PEA, 21% das idosas
declaram-se donas-de-casa.
• A realização de trabalho voluntário atinge um em cada dez idosos,
sobretudo doações (3%). Visitas domiciliares de evangelização, ajuda em
festas na comunidade, trabalhos de manutenção e reformas, serviços de
costura e visita a doentes são outros dos trabalhos realizados
voluntariamente pelos idosos (1%, cada).
• Os idosos que exercem trabalho remunerado têm, em média, uma
jornada de 37,16 h semanais, maior entre os homens – 37,20 h, do que
entre as mulheres (31,13 h).
• Quanto ao tempo de vida que dedicaram ao trabalho remunerado, a
média foi de 39 anos e seis meses (sendo de 45 anos e 2 meses entre os
homens e de 34 anos e 2 meses entre as mulheres), e chega a 46 anos e
11 meses entre os idosos com 80 anos ou mais, de ambos os sexos, e a
54 anos e 11 meses entre os homens mais velhos.
• Dentre os que obtiveram aposentadoria por idade ou tempo de serviço
(53% da população idosa), a maioria queria se aposentar (43%), mas
7% não tinham este desejo no momento em que aposentaram.
• Para 3/4 dos idosos foi fácil se adaptar à nova rotina de aposentado
(76%), mas 23% tiveram dificuldade, pois sentem falta da rotina de
trabalho, da movimentação do dia-a-dia e de terem que ficar em casa
parados, sem terem o que fazer (14%), antes mesmo das dificuldades
com a queda da renda (apontada por 5%).
• A quase totalidade dos que se aposentaram (95%) não recebeu nenhum
tipo de preparo para se aposentar; 2% recebeu preparação por parte de
empresas e 3% por parte do governos.
• As principais sugestões espontâneas dos idosos para facilitar a adaptação
à nova rotina de aposentado são a possibilidade de trabalhar, se assim o
desejarem (16%), terem alguma atividade para ocupar o tempo e a
mente (13%), terem um trabalho mais leve e adequado a sua idade
(10%), manterem o salário para garantir o mesmo padrão de vida (8%),
terem mais lazer (7%) ou uma atividade física (6%).
• Entre as atividades de lazer mais realizadas, assistir TV é uma prática
quase unânime entre os idosos brasileiros (93%). Ouvir rádio faz parte
do lazer de 80% dos idosos e cuidar de plantas é prática de cerca de dois
terços deles (63%) e mais realizada entre as mulheres (72%, contra
52% entre os homens). Cerca de metade dos idosos tem o hábito de ler
(52%) e 43% cuidam de animais.
• Outras atividades como cantar, jogar (dominó, cartas ou xadrez), ou
mesmo as atividades manuais como bordado e tricô mobilizam ainda
parcela razoável de idosos (23%, 19% e 16%, respectivamente), sendo
a prática do canto e das atividades manuais acentuada entre as
mulheres enquanto os jogos são mais praticados pelos homens.
• Com relação às atividades físicas, a metade dos idosos brasileiros
costuma fazer caminhada (51%), atividade mais praticada entre os
homens (57%, contra 46% entre as mulheres).
• Entre os 51% de idosos que costumam fazer caminhadas, a maior parte
(22%) o faz todos os dias, 6% de 3 a 5 vezes por semana e 13% 1 ou 2
vezes por semana. Os homens praticam caminhada diariamente duas
vezes mais que as mulheres (30%, contra 15%). E entre ambos, a
prática da caminhada diminui conforme aumenta a idade.
• O alongamento faz parte das atividades físicas de 12% dos idosos, 9%
andam de bicicleta e 8% fazem ginástica. As mulheres praticam o
alongamento um pouco mais do que os homens (14%, contra 9%) e
entre os homens idosos 18% têm o hábito de andar de bicicleta,
enquanto só 2% das mulheres idosas têm essa prática.
• Cerca de um terço dos idosos conhece ou participa de algum grupo de
idosos (36%), taxa que chega a 41% entre as mulheres e 30% entre os
homens.
• Os grupos religiosos são os que detém a maior taxa de conhecimento e
de participação (15% e 9%, respectivamente). Os grupos de dança,
embora tenham taxa de conhecimento semelhante (14%), têm baixa
taxa de participação (3%), menor do que as alcançadas pelos grupos
que se reúnem para fazer caminhada, para bate-papos e para fazer
passeios (com taxas de conhecimento de 12%, 11% e 11% e de
participação de 7%, 5% e 4%, respectivamente). Para todos os tipos de
grupos, a participação feminina é ligeiramente maior e tende a cair entre
os que têm idade mais avançada.
• Os grupos de idosos que se reúnem para a prática de alguma atividade
física são conhecidos por 10% dos idosos, mas têm participação de
somente 3%. 9% conhecem grupos de idosos que costuma fazer viagens
e ir a bailes, o primeiro com participação de 4% e o segundo de 2%.
• Grupos de música e de bordado e crochê são conhecidos por 7% dos
idosos e este último é o que concentra a maior participação relativa das
mulheres com 80 anos ou mais (10%).
• Metade dos idosos (51%) acredita que atualmente tem mais
possibilidades de lazer do que tinha antes de fazer 60 anos, 38%
consideram que as alternativas de lazer atuais são menores e 11% que
não houve mudança. Os que estão na faixa entre 60 e 69 anos são os
que mais vêm maiores possibilidades de lazer após os 60 anos, enquanto
os que possuem 80 anos ou mais são os que mais acreditam que as
possibilidades de lazer após os 60 anos são menores.
• O benefício de desconto de 50% na entrada de cinemas, teatros e
espetáculos musicais para pessoas que possuem 60 anos ou mais é do
conhecimento de metade dos idosos brasileiros (52%), mas somente
12% já utilizaram esse benefício. Os homens com idade mais avançada
são os que mais o desconhecem (72%) e as idosas utilizam esse direito
mais do que os homens (14%, contra 9%).

5. Relações familiares e laços afetivos, Instituições de


longa permanência e Percepções da morte

5.1. Relações familiares e laços afetivos

A maior parte da população idosa vive em núcleos familiares,


partilhando da companhia de esposa (no caso dos homens idosos),
filhos (idosos e idosas) e muitas vezes netos, sendo, em grande parte,
responsável pelos cuidados com eles.
Participam ativa e economicamente na vida da família, sendo boa
parte das vezes o chefe ou um dos principais provedores e ajudando a
família, ainda que dela também dependam, sobretudo para atividades
fora de casa.
Consideram as tarefas que realizam de muita responsabilidade e
sentem-se satisfeitos com o grau de responsabilidade que elas lhes
exigem. No entanto, suas opiniões são menos solicitadas que a dos
não idosos, muito embora a freqüência com que opinam nas decisões
familiares seja considerada satisfatória pela maioria.
Em geral, sentem-se à vontade com a família, sobretudo por
considerá-la unida e harmônica. Metade recebe visita da família e de
amigos semanalmente, enquanto a saída para visita a parentes e
amigos é um pouco menos constante. A falta de regularidade de
visitas de parentes ou mesmo a ausência delas é idêntica entre idosos
e não idosos, e pode ser considerada baixa.
De modo geral, encontram os amigos em casa ou seus arredores
(vizinhança), na igreja ou outros templos religiosos e ao saírem para
outras finalidade,s como a ida a compras ou à médicos.

• Cerca de metade dos idosos brasileiros vive com filhos(as) (54%) e


esposo(a) (51%), sendo que 71% dos homens vivem com companheira,
e entre as mulheres só 36%.
• Aproximadamente um terço dos idosos vivem com netos(as) (30%) e
16% são responsáveis por sua criação.
• Mesmo não morando com netos, é forte a participação dos idosos no
cuidado destes, seja passando com eles o dia inteiro (5%), parte do dia
(13%), ou os finais de semana (6%). Mais as mulheres que os homens
ajudam no cuidado com os netos (47%, contra 27%), especialmente as
que estão na faixa etária de 60 a 69 anos (55%). Nesta idade, uma em
cada 4 mulheres cria seus netos.
• As relações intergeracionais se estendem por todas as faixas etárias:
23% residem com crianças de até 10 anos, 25% com adolescentes e
jovens de 10 a 20 anos, 27% com pessoas de 20 a 30 anos a 25% com
pessoas de 30 a 40 anos.
• Vivem sozinhos 15% dos idosos, proporção cinco vezes maior quer entre
os não idosos (3%).
• A grande maioria dos idosos (88%) contribui para a renda familiar,
muitas vezes como o principal provedor da família. A contribuição na
renda familiar é quase unânime entre os homens idosos (95%) e entre
as mulheres, cresce à medida que aumenta a faixa etária (de 78% entre
as que têm entre 60 e 69 anos a 92% entre as com 80 anos ou mais).
• A autonomia dos idosos, considerados como chefes das famílias onde
habitam, se revela entre 71% dos idosos e 21% consideram como chefe
o marido ou esposa. Apenas 7% atribuem a chefia da família a algum
filho e 3% ao genro ou nora, tendência maior entre as mulheres.
• Quase quatro em cada 10 idosos (38%) tem no(a) esposo(a) a pessoa
mais próxima e que lhe mais dá atenção, 27% tem um filho(a) como
cuidador e 14% reconhecem algum não morador do domicílio como a
pessoa que mais lhe dá atenção. Já os(as) netos(as) têm participação
pouco efetiva no cuidados com os idosos (4%).
• Ter o cônjuge como pessoa mais próxima é mais freqüente entre os
homens (58%) que entre as mulheres, estas apenas 24% tem no esposo
a pessoa que lhe dá mais atenção. Por outro lado, os(as) filhos(as) dão
mais atenção às mulheres idosas (36%, contra 15% entre os homens) e
tendem a ter maior participação quanto mais velhos ficam os pais.
• Ter como cuidador uma pessoa que não resida na casa ocorre
principalmente entre as mulheres e tende a aumentar, conforme
aumenta a idade (de 12% a 22%).
• A maior parte dos idosos (77%) se sente a vontade em relação à sua
família, o que se deve principalmente ao tipo de relação que mantém
(77%), pautada na união e harmonia (58), liberdade (16%), afeto (14%)
e respeito (11%).
• Uma parcela de 22%, no entanto, não se sente totalmente à vontade
com suas famílias, apontando razões opostas para esta sensação, ou
seja, sentem que a família é desarmônica (10%), com muitos
desentendimentos (5%) ou ausência de contato (2%); outros avaliam
que não têm liberdade (6%), ou são tratados com desrespeito (1%) ou
sem afeto (1%).
• Indagados sobre coisas que fazem sozinhos ou precisam de ajuda,
observa-se que as tarefas para as quais os idosos mais precisam de
ajuda são consertos e reparos domésticos (45%), limpeza e lavagem de
roupa (43%, ambas), e cozinhar (33%), tarefas que fazem parte da
rotina e da distribuição do trabalho doméstico doméstica – para as quais
outros moradores, portanto, também recebem ajuda.
• Para tarefas que envolvem sair de casa, tais como fazer ou carregar
compras, resolver problemas fora de casa ou ir ao médico, 39%, 24% e
28% dos idosos, respectivamente, costumam receber a ajuda de alguém
para fazê-las.
• Para tarefas de caráter mais pessoal a necessidade de ajuda por parte
dos idosos é mínima: apenas 9% precisam de ajuda para tomar
remédios, 6% para locomover-se e 3% para vestir-se; 2% necessitam
de ajuda para se alimentar, fazer higiene pessoal, ir ao sanitário ou
levantar-se da cama ou cadeiras.
• Um terço dos entrevistados (32%) precisa de ajuda financeira para
manter-se, mas este é também a ajuda que os idosos mais oferecem,
uma vez que 29% ajudam na manutenção financeira de outras pessoas.
• Ajudar na limpeza doméstica e acompanhar pessoas ao médico, são
tarefas em que os idosos mais auxiliam a outros (12%, ambas), além de
11% que ajudam no preparo de comidas, 8% ajudam a lavar roupas e
7% a fazer consertos e reparos domésticos, assim como a fazer ou
carregar compras e ainda 6% costumam ajudar outras pessoas indo
resolver problemas fora de casa.
• Nas tarefas de caráter mais pessoal os idosos ajudam mais do que são
ajudados, como dar remédios a outros residentes do domicílio (10%),
ajudar na locomoção (6%), ajudar a vestir, alimentar e levantar alguém
de camas ou cadeiras (5% cada), fazer higiene pessoal e levar ao
sanitário (4%).
• Entre os idosos dois terços consideram de muita responsabilidade as
atividades que desenvolvem (66%), 8% nem muita nem pouca, 21%
acham que suas atividades são de pouca responsabilidade e 5% não
acham que têm responsabilidade. De modo geral, a maioria (83%) está
satisfeita com o grau de responsabilidade que têm com as atividades que
pratica.
• A participação nas decisões familiares é freqüente a três quartos da
população adulta não idosa, com 44% sendo consultados sempre e 31%
de vez em quando. Entre os idosos, a consulta da família às suas
opiniões é ligeiramente menos freqüente, com 39% consultados sempre
e 30% de vez em quando. 18% não participam das decisões da família,
incidência duas vezes maior que entre não idosos (9%).
• De modo geral, tanto idosos quanto não idosos consideram boa a
freqüência com que são consultados nas decisões familiares (75%,
ambos). 16% entre os não idosos e 12% entre os idosos estão
insatisfeitos com essa freqüência.
• Metade da população adulta brasileira recebe visita da família ao menos
uma vez por semana (49%, ambos). Entre os idosos 18% são visitados
todos os dias, enquanto 15% dos não idosos recebem visitas diárias. A
falta de regularidade de visitas ou mesmo a ausência delas são idênticas
entre idosos e não idosos (17%).
• A saída para visita a parentes é mais constante entre não idosos que
entre os idosos – pouco mais de um terço (36%) visitam parentes ao
menos uma vez por semana, enquanto 24% dos idosos possuem esta
mesma freqüência. Por outro lado, um terço dos idosos (33%) não tem
freqüência regular ou não visitam parentes, enquanto 22% dos não
idosos agem desta forma.
• Metade dos idosos recebe visitas semanais de amigos, enquanto entre os
não idosos chega a aproximadamente dois terços (62%) – 17% dos
idosos recebem visita de amigos diariamente e um terço (33%) ao
menos 1 vez por semana, enquanto entre os não idosos 1 em cada 4 são
visitados por amigos diariamente e 37% ao menos uma vez por semana.
• A freqüência de saída para visita a amigos também varia entre idosos e
não idosos. Cerca de um terço dos idosos (30%) tem o hábito de ir à
casa de amigos ao menos uma vez por semana, enquanto metade dos
não idosos fazem visita a amigos com essa freqüência. Da mesma forma,
45% dos idosos não costumam visitar amigos ou não tem freqüência
regular para fazê-lo, enquanto só 23% dos não idosos não cultivam essa
prática.
• Cerca de metade dos idosos (55%) costuma encontrar os amigos em
casa, visitando ou sendo visitados, ou em seus arredores, na rua, na
calçada, perto de casa (41%). Mais de um terço (37%) tem nas igrejas
ou templos religiosos o local de sua socialização (sobretudo as idosas),
outros 19% os encontram casualmente quando vão às compras. Ir ao
médico ou postos de saúde, praças, bares, clubes ou bailes, grupos de
convivência e bingos são outros pontos de encontro, ou ainda, mesmo
que não os procure, os idosos encontram amigos em meios de transporte
e filas.
5.2. Instituições de longa permanência

Uma pequena parte da população brasileira tem vínculos com pessoas


que estão em instituições de longa permanência, muito embora cerca
de metade já tenha visitado alguma e saiba que existem instituições
tanto públicas quanto particulares.
A possibilidade de poder vir a morar em uma instituição, se necessário,
é algo já pensado e possível para quase dois terços dos idosos, se não
houver outra opção.
A praticidade e funcionalidade das instituições, como não ter que se
preocupar com os afazeres e horários são os aspectos mais positivos
vistos nas instituições, porém essa mesma perda do controle sobre sua
rotina é um dos aspectos que mais desagrada.
Por outro lado, a presença constante de companhia, não se sentir um
incômodo para a família e ter profissionais adequados para cuidá-los
são outros atrativos das instituições, mas “o problema é que as boas
são muito caras”.
O que mais pesa negativamente na imagem que os idosos fazem das
instituições de longa permanência é a presença de pessoas com
problemas mentais, serem tratados como crianças e a sensação de
que, ao entrarem, nunca mais sairão – perspectiva que se agrava
associada à possibilidade de rompimento dos vínculos afetivos, a
perda do contato com a família e com os amigos, visitas pouco
freqüentes e a impossibilidade de passarem o dia fora quando
quiserem.
A imagem de descuido causada por más condições de higiene e mal
trato não são muito associadas às instituições, mas os idosos
acreditam que as instituições ficariam com seu dinheiro.

• Apenas 11% da população brasileira têm parente ou amigo que vive em


casas de longa permanência. Entre os idosos, este índice sobe para 15%.
• Embora o vínculo com pessoas que asiladas seja baixo, 46% dos idosos
já visitou alguma instituição deste tipo.
• Mais da metade da população brasileira adulta (57%) sabe que existem
tanto instituições públicas como particulares para receber idosos, 20%
acham que só existem instituições públicas e 11%, só particulares.
• Quando aventada a possibilidade de, se preciso, morar em uma
instituição para idosos, 39% dos idosos aderem com certeza e 22%
talvez, enquanto entre os não idosos 46% afirmam que, se necessário,
com certeza morariam e 24% talvez. Assim, entre os idosos 61%
poderiam vir a morar em uma instituição de longa permanência, caso
fosse necessário.
• No entanto, a aceitação à possibilidade de morar em uma instituição de
longa permanência é vista antes como decorrência da ausência de outra
alternativa, pela eventual ausência de familiares e o risco de ficar na rua.
• Para não incomodar os outros são razões que, para 16% dos idosos,
justificam a possibilidade de morar numa instituição. Razões associadas
à dependência, ou por não ter quem cuide ou para não depender de
ninguém, são as causas de 12%.
• Um índice menor remete a possibilidade de que morar em uma
instituição pode oferecer maior bem estar, por ter tratamento adequado
(8%, idosos e 10%, entre não idosos) e companhia (9%, ambos os
públicos).
• Por outro lado, as relações familiares são as razões mais mencionadas
para não morar em uma instituição de longa permanência, devido ao
fato de terem uma família e esta não permitir, a falta que sentiriam da
família e para não ficarem esquecidos (23% entre os idosos e 15%,
entre não idosos).
• A imagem negativa das instituições, associada à idéia de tratamento
inadequado, a um ambiente associado a tristeza ou à falta de higiene e a
falta de companhia, ou ainda a convivência com estranhos, são outros
fatores que afastam a disposição dos idosos de morarem em uma delas.
• Para melhor conhecer o imaginário dos idosos sobre as instituições de
longa permanência, algumas frases do senso comum, de caráter
positivo e negativo, foram avaliadas medindo o grau de concordância dos
entrevistados com as mesmas.
• Frases de caráter positivo receberam maior concordância, ressaltando a
praticidade e funcionalidade das instituições tais como “os idosos não
têm que se preocupar com comida e afazeres domésticos” (79%) e “tem
quem controle o horário dos remédios” (76%).
• A mudança no hábito de vida, marcada pelo fato de “ter horário pra tudo
e não poder ter sua própria rotina” é verdade para 71%, 68%
concordam que “lá nunca estão sozinhos, tem companhia o tempo todo”
e que “nas instituições o idoso deixa de ser um incômodo para a
família”.. Dois terços dos idosos (66%) também concordam que nas
instituições “têm profissionais adequados para tratar dos idosos”. Mas “o
problema das instituições é que as boas são muito caras”.
• Idéias de caráter negativo como as de que nas instituições para idosos
“há muitas pessoas com problemas mentais” recebem a concordância de
63% e pouco mais da metade concorda que “nas instituições tratam o
idosos como crianças” e que “depois que o idoso entra numa instituição
nunca mais sai” (56%, ambas), além do fato de que “o problema das
instituições é que elas ficam com o dinheiro do idoso” (54%).
• Frases que ressaltam aspectos relacionados à perda de vínculos afetivos
como “o idoso perde o contato com a família e os amigos”, “o regime de
visitas nas instituições para idosos é pouco freqüente” e “o idoso não
pode passear ou passar o dia fora” recebem a concordância de pouco
mais que metade dos idosos.
• As frases que mereceram menor concordância foram “as instituições
para idosos não têm boas condições de higiene (41%), “nas instituições
para idosos a família pode vir a hora que quiser” (37%) e “nas
instituições os idosos são mal tratados” (30%).
5.3. Percepções da morte

A maioria da população brasileira declara não ter medo da morte,


ainda mais os idosos, sobretudo por considerarem que está no campo
das coisas inevitáveis, sobre as quais não se tem domínio, ou
simplesmente por entendê-la como parte da vida. Alguns justificam
também ser essa a vontade de Deus ou a apenas a passagem para uma
próxima vida.
O medo da morte, entre os que admitem possuí-lo, está mais
relacionado ao apego à família, ao sentimento de que ainda há muita
coisa para ser vivida, ou mesmo ao medo do desconhecido.
O medo de dar trabalho aos outros chega a ser maior que o de sofrer e
sentir dor, embora muito próximos, e principalmente para os idosos, o
medo do abandono se explicita por meio da concordância com a frase
“não tenho medo da morte, mas não gostaria de estar sozinho quando
a morte chegar”.
Para cerca de metade dos idosos, o que assusta é a morte de
conhecidos, que os faz sentir cada vez mais sozinhos. Já a visão do
mistério e da desesperança, embora menos comuns, afetam ao menos
um terço dos idosos.

• A maior parte dos entrevistados não tem medo da morte, atitude que se
destaca entre os idosos (81%, contra 74% entre os não idosos). Apenas
18% dos idosos têm medo da morte.
• As principais razões apontadas para não se temer a morte se devem à
falta de domínio sobre ela, apontada por 55% dos idosos e 54% dos não
idosos, ou seja, ela é inevitável, faz parte da vida. Outras justificativas
para não temer a morte que se baseiam na vontade e determinação de
Deus e passagem para a próxima vida, citada por 21% dos idosos e 19%
entre não idosos.
• Os que admitem o medo da morte (18% entre idosos e 24% não idosos),
a temem principalmente por deixarem suas famílias (menos entre os
idosos, 5%, contra 11% entre os não idosos), ou porque sentem que
ainda têm muita coisa para viver (opinião de 3% dos idosos, contra 7%,
entre não idosos), enquanto o medo do desconhecido trazido pela morte
é igualmente citado entre idosos e não idosos (6%).
• Entre 11 frases de senso comum sobre a morte, a que obteve maior
concordância (85%) foi “A morte não me assusta, pois faz parte da vida”,
mais aceita entre os idosos (90%, contra 84% entre os não idosos).
• Outra idéia fortemente presente é “o que mais preocupa com a morte são
as pessoas que irei deixar”, embora um pouco menos incidente entre os
idosos (78%), que entre os não idosos (83%).
• A frase “não tenho medo da morte, mas de viver dando trabalho para os
outros” reflete a opinião de 89% dos idosos e 80% da população não
idosa, enquanto a frase “não estou preparado para a morte, pois ainda
quero realizar muitas coisas”, é mais comum aos não idosos (80%, contra
66% entre os idosos).
• “Não é da morte que têm medo, mas sim de sofrer ou sentir dor” é uma
afirmação com a qual 87% dos idosos e 75% dos não idosos estão de
acordo.
• Uma visão espiritualista, como a de que “a morte é só uma passagem
para outra vida” é compartilhada por 80% dos idosos e 71% dos não
idosos, enquanto “a morte não me assusta, mas tenho pena de deixar a
vida” obtém concordância de 63% e 64%, respectivamente. Já a
associação da morte ao abandono, ou a necessidade do testemunho,
expressa pela frase “não tenho medo da morte, mas não gostaria de
estar sozinho quando a morte chegar” é opinião mais incisiva entre os
idosos (75%, contra 59% dos não idosos).
• Cerca de metade dos idosos (53%) concordam que “a morte dos outros
assusta, porque estou ficando cada vez mais sozinho”; opinião não
mensurada entre os não idosos.
• Apenas a minoria (38%) concorda que “a morte assusta, porque não sabe
o que vem depois”, opinião também mais presente entre os idosos
(42%). Para um terço dos idosos (33%), no entanto, “a morte é tudo o
que espero”, opinião compartilhada por apenas 10% dos não idosos.

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