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Índice
Este protocolo é o resultado de um longo processo de reflexom, debate e açom feminista sobre as
violências machistas e mais concretamente sobre as agressons que tenhem lugar nos espaços e
movimentos sociais galegos. Espaços dirigidos á transformaçom social nas suas diversas facetas (cultural,
linguística, política, sindical, de lazer, etc) e que assumimos como seguros, mas nos que se vêm
reproduzindo e justificando relaçons de poder e violência contra as mulheres e outras identidades nom
hegemónicas.
Entendemos que toda violência é patriarcal e, portanto, afeta todas as subjetividades (e objetividades).
De facto, o patriarcado inseriu a violência desde a sua criaçom, a partir da subordinaçom das mulheres,
para depois estendê-la ao resto dos âmbitos da vida ("proteçom" e extensom da propriedade privada,
guerras etc.).. No entanto, no processo de elaboraçom deste protocolo -e depois de termos debates
longos e muito nutritivos- vimo-nos na necessidade de empregar o viés da violência exercida contra as
mulheres, sendo que as pessoas que participamos desse processo identificamo-nos dentro da
subjetividade política mulheres e nom querendo reproduzirmos umha hierarquia de poder assimilando
realidades que nom nos pertencem em primeira pessoa.
Sabemos das eivas que isso pode trazer para este documento e ficamos cientes da necessidade de tecer
redes mais próximas com outras identidades nom normativas. Do mesmo jeito, encorajamos a todes es
compas que assim o sintam a adaptar este protocolo à sua realidade.
Consideramos este protocolo como umha resposta política que tem o seu ponto de arranque na
denúncia social de umha agressom machista perpetrada contra umha mulher num espaço de ócio
noturno. Um processo que buscou denunciar aquilo que nom se considera violência -e que ademais
costuma tratar-se como algo intencionalmente privado- para assinalar o seu carácter público e político.
Portanto merecedor de umha resposta coletiva para fazer frente nom só a essa agressom em particular
(nem às consequências sociais e judiciais que derivaram dela), como também às diferentes formas de
violências machistas que tenhem lugar nos movimentos e espaços sociais.
Um acontecimento que poderia ser fortuito, dado que acontece cada dia como as demais formas de
violência ainda consideradas como “sutis”1, mas que acabou por alterar e deslocar o panorama dos
movimentos sociais e de esquerdas galego. Viram-se afetadas muitas relaçons grupais e pessoais,
desencadearam-se posicionamentos e campanhas a favor do agressor, assim como silêncios cúmplices
1
Há quem diga que o machismo já nom existe, ou que é apenas um problema percebido por algumhas mulheres e pessoas
exageradas. No entanto, todas as agressons machistas que as mulheres e outras identidades nom normativas enfrentam
diariamente somam algo mais do que apenas umha única instância de assédio ou um comentário inadequado. Depois de dias,
semanas, meses e anos de objetivaçom, o machismo torna-se um elemento tam cotidiano que tanto homes, como mulheres e
pessoas com identidades nom binarias chegamos a interiorizar a misoginia, sem percebê-la. Com tudo, violências como o a
condescendência (paternalismo); a manipulaçom, para que a pessoa duvide de si mesma; o escárnio ou o desprezo ao seu
corpo; etiquetar de puta; a objetificaçom sexual das mulheres, a culpabilizaçom das mulheres em situaçom de violência, a
linguagem sexista... som umha parte normalizada e omnipresente da construçom de “ser umha mulher” na nossa sociedade, e
é preciso umha constante consciência e resistência para nos lembrar que nom somos o que as outras pessoas nos fazem ser. O
esforço da resistência ativa contra todas as etiquetas que nos som impostas dura desde o momento em que nascemos até o
dia em que morremos.
4
amparados numa suposta neutralidade inclusive por parte daqueles que se proponhem como aliados em
processo de “des-construçom”.
Mas também, e o melhor de tudo, abriram-se espaços de reflexom, debate, propostas de açom e
intervençom sobre as violências machistas que juntaram a mulheres e pessoas diversas, tanto a nível
individual como pertencentes a diferentes coletivas e famílias feministas.
Esta dimensom pro-ativa é a que impulsa a elaboraçom deste protocolo. Nutrida polas reflexons e os
contributos realizados durante as atividades organizadas de forma autónoma e descentralizada a partir
da confluência na assembleia “Basta de Agressons Machistas”. Atividades de distinta natureza, mas todas
elas encaminhadas a trabalhar as violências machistas de forma ampla, horizontal e prepositiva, com
umha clara vontade de incidir politicamente na realidade galego- portuguesa2.
Fazendo memória de toda a andaina realizada neste tempo, e como exercício de valorizaçom e
reconhecimento do nosso próprio caminho político e de todas aquelas que o fizeram possível, parece-
nos importante recordar a realizaçom das Jornadas de Feministas Autónomas da Galiza3, o grupo de
Teatro da Oprimida, duas Jornadas de Auto-formaçom sobre Violências Machista 4 , além do
acompanhamento a outras mulheres que viveram situaçons de violência machista. Consideramos que
este processo representa a capacidade de resiliência do movimento feminista autónomo, já que fomos
capazes de converter em força e propostas concretas os atrancos que foram aparecendo durante o nosso
caminhar. Trabalhando as diferenças, construindo consensos, abordando as emoçons e assumindo os
nossos erros como parte de um processo de aprendizagem coletiva.
Em paralelo a este trabalho interno, foi preciso abordar as consequências de um processo de
criminalizaçom do feminismo. Situaçom que nom consideramos isolada, mas sim como parte da mesma
contra-ofensiva patriarcal que tem operado noutros casos5, nos que a resposta política feminista perante
as agressons machistas foi levada aos julgados ou a outras instâncias coercivas. A finalidade, claro está, é
calar e desmobilizar o movimento e enquadra-se na escalada repressiva e de amordaçamento dos
movimentos sociais própria destes tempos. No entanto, nom podemos perder de vista que, ao tratar-se
de açons de protesto e desobediência realizadas por mulheres ou outras subjetividades non normativas,
a repressom é ainda mais elevada, umha vez que supom um desafio ao mandato patriarcal de
submissom.
2
Por razons de proximidade geográfica, linguística e cultural fraguou-se umha aliança política com o movimento feminista
autónomo português, nomeadamente do norte, tratando de partilhar informaçom e trabalhar em objetivos e açons comúns.
3
O IV Encontro Feministas Autónomas da Galiza tivo lugar em 20 de fevereiro do 2016 em Vigo: o lema foi "Contra as violências
machistas, iniciativas feministas". www.facebook.com/groups/1551321591773653/
http://feministasautonomasgaliza.blogspot.com.es/2015_12_01_archive.html
4
As Ia Jornadas de Auto-formaçom sobre Violências Machistas tivérom lugar nas Corceriças no fim de semana do 15-16-17 de
janeiro do 2016. Objetivos das Jornadas: https://reencontrogaliza.wordpress.com/2015/12/28/i-jornadas-sobre-violencias-
machistas/
Material de interesse relativo ao quadro teórico: https://drive.google.com/file/d/0Byf3O--bD5TwVzljbkswLTZDOTA/view //
Conclusons comuns: https://drive.google.com/file/d/0Byf3O--bD5TwSjFxMVh0bGJBX28/view?usp=sharing )
O IIo Encontro de Autoformaçom sobre Violências Machistas tivo lugar nas Corceriças no 14-15-16 de Outubro do 2016:
http://autoformazomfeministasobreviolencia.blogspot.com.es/
5
Lembramos vários casos como: 1) A Universidade de Santiago de Compostela ignora um possível delito de ódio por razom de
género cometido por um professor. Estudantes sancionadas apresentam recurso à USC.http://reviradafeminista.com/usc-ate-
quando-temos-que-esperar/ 2) A agressom sufrida por umha companheira no festival Antrospinos.
http://www.sermosgaliza.gal/opinion/lorena-pinheiro/tambem-na-festa-nengum-agressor-sem-
resposta/20170811165516060442.html 3) O cancelamento dum concerto no CS Insumisa da Corunha “pola constância de
atitudes machistas e de agressons continuadas de parte dum componente da banda” em programa”.
ttps://www.facebook.com/ainsumisa/posts/1875832642662901h
5
INTRODUÇOM
6
http://justarevolta.blogspot.com.es/2015/06/protocol-per-la-prevencio-i-abordatge.html
7
A traduçom foi feita por FVC. O trabalho de revisom e adaptaçom polas integrantes do grupo Basta de Agressom Machistas
6
várias) pessoas em detrimento de outra. É a menos invisibilizada, sobretudo nas suas formas mais graves
(violências físicas e / ou sexuais com o emprego da força) e que tenhem como máxima expoente o
assassinato (direto ou por induçom ao suicídio). Há também formas de violência psicológica que estám a
começar a ser algo mais visível (humilhaçons, ameaças...). De qualquer forma, a maioria das expressons
de violência sexista ainda nom som visíveis como tal. Assim, a maioria das expressons de maus-tratos
nom som consideradas violência sexista polo grande número da populaçom. Por isso é importante
nomeá-las e tê-las em conta e, neste sentido, podemos dizer que, a cada pequeno abuso, cada jogo de
poder (verbal, corporal ou gestual), som expressons de maus-tratos (que serám nomeadas nos seguintes
parágrafos). A mesma ausência de bom tratamento é maltrato. Em cada umha das ocasions em que o
cuidado, apoio ou expressons de solidariedade necessárias em qualquer relacionamento saudável som
omisos, está-se a infligir maus-tratos e, portanto, violência direta. Mas as violências som estruturais (fam
parte da estrutura social), que nos leva a rever esta dimensom, na medida em que estám inseridas em
todos os níveis da vida, desde a política, a legislaçom e os dispositivos dos poderes públicos que (supom-
se) estám ao serviço da cidadania, até os grupos e organizaçons sociais, políticas e sindicais. Cada lei
discriminatória, cada incumprimento legal, cada invisibilizaçom dos problemas que nos afetam, cada
abuso à nossa saúde, cada omissom na habilitaçom de serviços de atençom específica, som expressons
de violência estrutural que, no que se refere às administraçons públicas e aos dispositivos em que se
desenvolve, chamamos "violência institucional” 8 . Além disso, cada organizaçom vertical, cada
discriminaçom no espaço público, cada expropriaçom dos espaços dentro e fora das instalaçons, cada
distribuiçom desigual de tarefas, som expressons de violência estrutural. Em suma, é o exercício da
discriminaçom sistemática das mulheres por serem mulheres.
A violência simbólica envolve as dimensons anteriores. O termo foi elaborado por Pierre Bourdieu, como
projeçom social da ideologia patriarcal, que promove a construçom de um aparelho simbólico que tende
a legitimar (e nesta medida a perpetuar) a subordinaçom das mulheres, a ponto de torná-la invisível
mesmo aos próprios olhos destas. A violência simbólica busca, por um lado, naturalizar a violência e
torná-la invisível mesmo aos olhos daquelas pessoas que a sofrem e, por outro, perpetuar a dominaçom
masculina. Algumhas das expressons da violência simbólica seriam: a imagem veiculada polas mulheres
nos meios de comunicaçom, cinema, literatura, livros didáticos e propaganda; a invisibilizaçom das
mulheres na história, etc. Isso contribui decisivamente para que internalizemos umha imagem de que
deve ser umha "boa mulher" cheia de chaves de submissom, de abnegaçom e de contençom do impulso
agressivo, e carente de sexualidade própria.
Através de diferentes formas de violência, muitas pessoas fôrom impedidas de exercerem os seus
direitos, impondo-lhes e limitando a escolha de formas de vida, a liberdade de movimentos e a livre
expressom. Muitas pessoas sofremos ou podemos sofrer muitos tipo de violências ao longo da nossa
vida: por motivos de género, de classe, de procedência, de opçom sexual, etc.
Assim, nom podemos falar de violências machistas sem entender o contexto em que estas se
desenvolvem e legitimam através de mitos, discursos, etc. Mas essa reflexom deve estar sujeita a outra:
a soluçom será compartilharmos de maneira equitativa o poder com os homes, ou será muito melhor
despatriarcalizar as estruturas e abolir o poder, para alcançarmos a libertaçom dos seres humanos?
Visto o anterior entende-mos por violências machistas todas aquelas formas de violência exercidas
8
O único Estado do mundo com umha lei sobre VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL é o México (vantagens de se terem feministas na
câmara legislativa), que a define como: É sobre os atos ou as omissons dos funcionários de qualquer ordem governamental
que discriminam ou tenhem como propósito o de dilatar, impedir o gozo e exercício dos direitos humanos das mulheres, bem
como o seu acesso ao gozo de políticas públicas destinadas a prevenir, responder, investigar, punir e erradicar os diferentes
tipos de violência. (Lei Geral para o Acesso das Mulheres à Vida Livre da Violência. México, 2007)
7
contra as mulheres, de forma ocasional ou continuada, com a intençom de submetê-las –seja de forma
consciente ou inconsciente-, que, por meios físicos ou psicológicos, incluindo ameaças, intimidaçons
ou coaçons, tenham por resultado um dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico, tanto se
ocorrem no âmbito público como no privado9, e que tenhem por objecto impedir que as mulheres
ultrapassem as barreiras que entravam a sua libertaçom, para as submeter e até mesmo provocar a
sua submissom.
Utilizamos a expressom de
violências machistas porque o
machismo é o conceito que de
forma mais geral define as condutas
de domínio, controlo e abuso de
poder dos homes sobre as mulheres
e as pessoas nom binárias que, ao
mesmo tempo, impôs um modelo
de masculinidade que ainda é
valorizado por umha parte da
sociedade como sendo a superior.
Ainda que nos concentremos neste
tipo de violência contra as mulheres,
também há a vontade que este
protocolo possa incluir casos mais
amplos de violências patriarcais
LGTBIQ, já que, apesar de nom as
trabalhar de forma específica, a secçom “Circuito de abordagem” pode servir também de guia para a
prevençom e gestom destes casos10.
Existem diferentes classificaçons das violências machistas. Neste protocolo, partiu-se da seguinte
classificaçom, que consideramos que representa melhor as violências que se exercem nos contextos de
movimentos sociais. Apercebemo-nos, no entanto, de que, apesar da divisom em diferentes tipos de
violências, estas raramente ocorrem sozinhas e de que todas elas tenhem um impacto psicológico sobre
o bem-estar da pessoa, ainda que agrupemos a violência psicológica num ponto.
9
Definiçom extraída da Lei 5/2008 do direito das mulheres a erradicar a violência machista, a 16 de abril de 2008 da Catalunha.
10
O protocolo, polo contexto no qual se centra e o seu objetivo, nom entrará em violências machistas como matrimónio
forçados, mutilaçons genitais, poligamia, etc. Nom porque nom julguemos que nom se possam dar nestes contextos, mas
queríamos centrar-nos naquelas violências que mais frequentemente temos vivido nestes espaços.
8
Exemplos
Podem ser diretas, consistentes num contacto físico mediante pancadas, queimaduras, bofetadas,
malheiras, asfixias etc; ou indiretas, como lançar objetos perto da vítima ou contra ela.
11
Forma de violência que consiste em publicar imagens ou vídeos com conteúdo sexual sobre a outra pessoa de forma pública
através de redes sociais ou da internet.
9
2.1.3.1. Violências Económicas
Descriçom
É o uso da violência através de controlar o acesso da pessoa a recursos económicos e materiais.
Exemplos
Impedi-la de trabalhar de forma remunerada, apropriar-se dos seus recursos ou impedi-la de aceder a
recursos comuns, endividar a outra pessoa (pedindo créditos em nome da outra que depois nom som
pagos, hipotecas, etc. ), etc.
2.1.3.2. Violências Ambientais
Descriçom
Designa-se como tal o resultado de destruir o ambiente da pessoa, o seu contexto, as suas cousas, etc.
Este tipo de violência associa-se à violência social, que se centra no deterioramento das relaçons da
pessoa e no seu isolamento. Pretende-se assim que a pessoa perda todo o contacto com amizades,
familiares, colegas de trabalho, etc. Esta violência, que é muito frequente, fai difícil que a pessoa consiga
sair de umha relaçom violenta, pois lhe falta umha rede social com que poder partilhar o que está a
acontecer, que a apoie e lhe dê a ajuda necessária.
Exemplos
Bater objetos, parti-los, nom respeitar o correio nem os espaços íntimos da pessoa, atirar as suas cousas
à rua, maltratar animais, impedir o descanso fazendo barulho, isolá-la dos seus familiares, amizades, etc.
Consequências da violência direta, em qualquer das suas formas:
A violência tem graves consequências para as pessoas. Além das lesons físicas que a violência física
produz (hematomas, cortes, queimaduras, hemorragias, deterioraçom de órgãos internos, fractura de
ossos, etc.) e as suas sequelas (deficiências várias), a própria OMS elabora um catálogo de problemas de
saúde polo impacto psicológico do abuso, seja físico ou de qualquer outro tipo. Esses problemas som:
Psíquicos
Físicos: Sexuais e reprodutivos:
(emocionais e condutais):
10
As violências provocam umha deterioraçom da auto-estima, nem sempre acompanhada da deterioraçom
do auto-conceito, às vezes "intacto" em virtude do uso inconsciente de certos mecanismos de
autodefesa. Em qualquer caso, a consequência direta desse comprometimento da auto-estima é a
diminuiçom (ou mesmo a perda) da confiança em nós mesmas, o que, por sua vez, resulta em umha
perda de segurança em nós. Nestas condiçons, é fácil imaginar que a capacidade de nos enfrentar no dia
a dia - tomar decisons e lidar com a situaçom que as causa (a violência em si) - é muito prejudicada, o
que contribui para prolongar, mesmo indefinidamente, a violência.
Por sua vez, essa deterioraçom pessoal geralmente condiciona o isolamento social da pessoa e a
diminuiçom (ou perda) de habilidades sociais e de comunicaçom. Tudo isso, quando ocorre em idades
precoces (infância, juventude), leva a desordens no desenvolvimento e amadurecimento de habilidades
emocionais, sociais e sexuais.
Outra consequência importante é o surgimento de emoçons devastadoras: a culpa, o desgosto, a
amargura e a vergonha, que pioram a deterioraçom da auto-estima. O principal problema é que as
emoçons acima mencionadas nem sempre som identificadas como tais e, quando som, nem sempre se
ligam à causa que as induz: isso compromete seriamente o processo de recuperaçom.
Finalmente, existem consequências decorrentes de formas muito específicas de violência, como o
endividamento ou a ruína, em casos de violência económica.
Por isso, é importante saber que as consequências som produzidas, que podem resolver-se e que quase
sempre precisamos de ajuda para as resolver (de pessoas iguais, de profissionais, etc.). Entom, devemos
salientar a importância das redes de apoio mútuo, que atuam como a agentes amortecedores dos efeitos
anteriormente descritos. Estes tornam-se espaços de grande importância para identificar a violência
recebida e estabelecer mecanismos de apoio coletivo na defesa e superaçom desta. Daqui a importância
também de elaborar este protocolo como ferramenta para agilizar, perfilar e melhorar a implantaçom de
redes de apoio mútuo nas violências machistas, evitando a maximizaçom dos seus efeitos
Para acabar, também queríamos visualizar nesta secçom, os mal chamados12 micromachismos, que som
todas aquelas formas subtis e invisibilizadas de domínio, que tenhem como principal objetivo forçar,
coagir e destruir a autonomia pessoal. Som formas de dominaçom que restringem e violentam insidiosa
e reiteradamente o poder pessoal, a autonomia e o equilíbrio psíquico das pessoas sobre as quais
ocorrem, atentando contra a democratizaçom das relaçons. Trata-se de violências menos explícitas e
diretas, mas muito mais normalizadas e naturalizadas. Considera-se importante tê-las em conta, já que
tentam gerar condutas de domínio, controlo e abuso mais explícitas e diretas. Podem-se produzir dentro
das dimensons estrutural e direta das violências machistas.
Diferenciam-se quatro tipos, que poderíamos ver refletidos nos movimentos sociais (em diante MS):
Utilitários: que contribuem para umha partilha desigual de poderes e de tarefas entre homes e mulheres,
com o objetivo de fazer prevalecer a qualidade de vida e os privilégios dos homes. Som exemplos disto: a
nom participaçom nas tarefas reprodutivas e de cuidados, o abuso e o aproveitamento da capacidade
das mulheres como agentes de cuidados e bem-estar (também no momento de se organizar a nível
militante as tarefas), a falta de reconhecimento e o valor das tarefas de cuidados.
12
Rejeitamos o termo “micromachismos” porque as agressons que sofremos todos os dias nom podem e nom devem ser
graduadas. Nom há violência pequena ou sem importância: todas essas agressons som diluídas na quotidianidade,
normalizadas e naturalizadas, justificadas e legitimadas com a frase "Nom terá sido tam grave”, mas isso nom elimina a sua
natureza de violência e agressom. Som agressons estruturais que permeiam toda a nossa vida, polo medo que nos provocam,
pola vergonha que sentimos de contar, por causa das reaçons ainda mais agressivas que sofremos quando pedimos
reparaçom, por causa do desconforto difuso que vivemos no dia a dia.
11
Encobertos: manobras ativas que pretende que as mulheres tenham umha forte dependência da
aprovaçom masculina, para firmar o domínio contra elas. Som exemplos disso: a criaçom de falta de
intimidade (silenciar ou ignorar, isolar, desqualificar, nom valorizar a outra, manipular os factos em
contra dela, culpabilizá-la constantemente, etc.), e a autojustificaçom e a auto-indulgência (armar-se em
“parvo”, subestimar os próprios erros, evitar as responsabilidades, etc.). Estas condutas podemos vê-las
também em espaços de tomada de decisom como as assembleias, a organizaçom e a coordenaçom de
atos, etc.
Coercivos: servem para reter o poder utilizando a força psicológica ou moral masculina. Som exemplos
disso: o uso abusivo do espaço físico (sofá, comandado da televisom, uso espaço público - metro, o pátio
das escolas, etc.) e do tempo para si mesmo (tempo de ócio, etc.). Também significa apelar à
superioridade da lógica masculina quando as mulheres exigem cousas, menosprezando as suas
prioridades (a nível militante, podemos vê-lo quando se menosprezam as demandas das mulheres numa
greve, a nível de assembleias quando se pede que se trabalhem as relaçons de poder, etc.).
De crise: passamos por momentos críticos nos quais, por exemplo, aumenta a autonomia ou ocorre
umha perda laboral ou umha limitaçom física. Trata-se de situaçons em que a mulher ou as mulheres
demandam mais igualdade, e em contra se dá umha resistência passiva, prolonga-se no tempo, espera-
se o cansaço do outro, critica-se o estilo, etc.
Nós, enquanto pessoas dos MS, fazemos parte desta sociedade patriarcal e fomos socializadas nuns
determinados mandatos e relaçons de género que respondem a modelos e estruturas androcêntricas e
patriarcais. Neste sentido, os movimentos sociais comprometidos com os feminismos e a luita anti-
patriarcal, temos de reconhecer e identificar quais condutas de controlo, domínio e abuso de poder dos
homens militantes ocorrem sobre as mulheres militantes. Este primeiro passo será imprescindível para
começarmos a combater o fenómeno.
As violências machistas nos MS tenhem um impacto duplo nas mulheres, já que, à parte dos efeitos que
comportam na saúde e no bem-estar (descritos anteriormente), acresce a dificuldade de tornar evidente
que os próprios companheiros de militância nom som pessoas isentas de determinados mandatos
androcêntricos e patriarcais. Neste sentido, a dificuldade de visibilizar e denunciar estas agressons é
duplamente custosa, já que a isso se acrescenta a resistência por parte de muitas pessoas do coletivo a
reconhecerem a existência de atitudes machistas em companheiros que se definem como a “libertados,
feministas ou igualitários”. Tal como diz Sánchez (2013)13, muitas vezes quando nos deparamos com
situaçons de violência machista nos MS, «dá-se umha negaçom, dispara-se um mecanismo de “Nom
pode ser...” “impossível, se eu o conheço...” “bem, nom foi bem assim...” “será mesmo assim? nom
estará a exagerar... se é um militante exemplar”, porque dói constatar que todas as pessoas fomos
socializadas no patriarcado e que arrastamos todos os preconceitos, tópicos, crenças, atitudes e
comportamentos machistas. Aceitemos que isso é assim, porque essa é a única forma de poder
enfrentar-nos e combatê-lo».
Outro mecanismo, que se pode ativar face a um caso de violência machista e que é preciso trabalhar e
assim o propomos nas medidas a tomar, é a camaradagem masculina. Face ao medo ou a insegurança
13
Sánchez, Rubén (2013): Xerrada «Violència masclista als moviments socials». A Elditalanafra.blogspot.com (consultado no
5/12/2014).
12
doutros homes a poderem estar na mesma situaçom ou a poderem exercer violência machista, ativam-
se mecanismos de proteçom em relaçom ao agressor por parte dos outros homes. Neste sentido, nen-
gum home deve recear encontrar-se na mesma situaçom se nom exerceu ou exerce violências machis-
tas. É imprescindível que os homes do movimento se posicionem ao lado das companheiras que fôrom
agredidas e que luitem por umas relaçons igualitárias e livres de violência. Mais deveríamos incluír ta-
mém a parte da camaradagem feminina que lhe corresponde. Levamos observando muito tempo, con
dor e carragem, como tamém se produz esta. A clave que a produz é a mesma, porém os efeitos som
muito mais devastadores para a/s agredida/s, que agardam que a compreensom e a solidariedade das
companheiras seja mais incondicional. Nestes casos, a decepçom e a amargura que provocam agravam a
situaçom subjetiva, já tocada pola agressom.
Considera-se também importante termos em conta dous mitos que tendem a reafirmar-se quando
surgem agressons machistas nos nossos espaços e que invisibilizam a violência que aí ocorre:
“O estereótipo do home maltratador como home violento”: que fai referência à opiniom generalizada
de que existe um protótipo de home maltratador, totalmente ignorante da teoria e prática feminista,
com antecedentes de violência intrafamiliar, com patologias de saúde mental ou problemas de álcool e
toxicodependência14. Deste facto, é preciso romper o silêncio exigido a muitas mulheres que tentárom
denunciar ou manifestar a violência recebida, julgando que querem entravar o coletivo ou sujar a
imagem da própria militância. Tal como dizíamos anteriormente, ao reconhecermos a existência umha
sociedade patriarcal, reconhecemos também a nossa socializaçom no quadro destas estruturas, e
portanto, reconhecemos que nom somos pessoas isentas de exercer violência machista. Em qualquer
caso, devemos recuperar o debate sobre o "perfil do agressor", porque existe fora do estereótipo. É um
home muito patriarcalizado, com umha enorme intolerância à frustraçom e falta de freios para emitir um
impulso agressivo em relaçom a outras pessoas. Nom há quem nom reúna esses dous traços, juntamente
com a ideia consciente de que as mulheres som inferiores e de sua propriedade... ou com a inconsciência
de ter reprimido essa ideia, porque é intolerável para ele, a menos que seja politicamente correta nos
âmbitos em que se desenvolve (em muitos casos, políticos e sociais).
“O mito da mulher ativista”: como mulher forte, independente, segura e sem contradiçons... Estes
adjetivos em ocasions podem chegar a dificultar o processo de auto-reconhecer que se vivérom
situaçons de violência e que se estivo numa relaçom abusiva. Além disso, também há o medo às
consequências que estes factos possam acarretar. Neste sentido, é necessária a atuaçom duma rede de
apoio mútuo que nos acompanhe no processo de recuperaçom emocional, escuitar, identificar, partilhar,
dialogar...
Termos em conta estes dous mitos torna-se fundamental para desarticular todos aqueles discursos e
reaçons que podem interferir quando ocorre umha situaçom de violência machista nos movimentos
sociais. Se nom o fazemos, podem acabar por gerar novos riscos para as mulheres. Neste mesmo sentido,
é básico nom revitimizar as mulheres nem as expor a julgamentos públicos. Por isso, além do anterior,
também é importante:
Romper com o mito da provocaçom, ou seja, desarticular os rumores e juízos culpabilizadores para com
as mulheres quando ocorrem situaçons de violência: pensar que “se a agrediu é porque ela lho permitiu”
ou “que se a relaçom era nociva, ela também devia ter parte de culpa”. Estas reaçons analisam a
violência machista duma ideia simplista e essencialista, que desconsidera a existência dum sistema
produtor e reprodutor de dominaçom das mulheres por parte dos homes e que, portanto, nega o
14
Na "Guia de recomendaçons para a proteçom da violência sexista em homens", Câmara Municipal de Barcelona. Barcelona,
2013, "no que se refere às variáveis sociodemográficas, diferentes estudos meta-analíticos nom encontrárom relaçom
significativa entre características sociodemográficas e violência sexista" (p.36).
13
desigual posicionamento de homes e mulheres na execuçom, manifestaçom e abordagem das violências
machistas. Neste sentido, considera-se necessária a ativaçom do protocolo desde o momento em que
umha mulher manifesta que se sentiu agredida.
No entanto, é muito importante nom confundir "culpa" com "responsabilidade". Nos processos
psicoterapêuticos de ajuda às mulheres em situaçom de maus-tratos (muitas vezes graves) é muito
benéfico para elas obterem a distância necessária do problema, analisar as circunstâncias de cada
agressom e assim construir mecanismos que lhes permitam identificar os seus determinantes e, em
consequência, prevê-las. Por essa razom, seria bom refletir sobre a diferença entre culpa e
responsabilidade, entre explicar e justificar e, em última análise, entre auto- complacência e autocrítica.
O sentimento de credibilidade: nom é um caso isolado que quando umha mulher militante manifesta
ter recebido violência machista, antes de poder demonstrar a culpabilidade da outra pessoa, tenha de se
defender de acusaçons que a tratem de mentirosa ou de exagerar os factos15. Som exemplo disso
reaçons como “se fosse verdade e ela nom tem nada que esconder, explicaria- no-lo sem remorsos” ou
entom “Ele dixo-me que quer falar disso. Se fosse certo, teria tentado falar com ele e arranjar a
situaçom.” Estes juízos testemunham umha falta de sensibilizaçom em relaçom às dinâmicas das
violências machistas e às dificuldades de superá-las. Além disso, manifestam a menor credibilidade das
palavras das companheiras relativamente à dos companheiros (fruito da socializaçom patriarcal) e a ideia
de que a violência machista é umha experiência pessoal, privada e nom coletiva e política. É preciso, logo,
escuitar a agressom vivida e tratá-lá como umha agressom em si e, mais, tendo em conta os duplos
custos que significa para as mulheres militantes manifestarem este tipo de agressons. Romper com o
mito das denúncias falsas, quando a percentagem destas é mínima16, considera-se básico para a boa
abordagem, para nom relativizar nem questionar a palavra das companheiras.
Nesta secçom, interessa-nos refletir sobre a importância da prevençom das violências machistas e as
possíveis linhas ou recomendaçons genéricas para trabalhar esta questom. Apercebemo-nos de que,
talvez, a partir deste protocolo, nom podemos abordar todas as açons preventivas, ao mesmo tempo
que consideramos que podem existir muitas outras que se podem realizar e que aqui nom apontamos.
Destacamos também a existência de muitos outros espaços e âmbitos que é preciso termos presentes e
que aqui nom som abordados (de trabalho, institucional, de lazer, etc.). Simplesmente pretendemos dar
possíveis ideias para trabalhar a prevençom nos coletivos.
A prevençom das violências machistas é imprescindível para conseguirmos construir uns movimentos
sociais livres de violências machistas e umha sociedade justa e equitativa. Neste sentido, a prevençom
deve potenciar a erradicaçom do machismo e das relaçons hierárquicas e de exercício de autoridade
impostos polo patriarcado. Deve transcender a socializaçom de género recebida e as estruturas
patriarcais e tem de contribuir para transformar as relaçons de género no nosso contexto. As açons
preventivas visam, logo, evitar ou reduzir a incidência do fenómeno das violências machistas e
transformar as relaçons entre géneros.
Portanto, é importante que as açons vaiam além de trabalhar para a identificaçom e deteçom das
15
Bigilia, Barbara I San Martin, Conchi. (2007) El estado del wonderbra. Rompiendo imaginarios: maltratadores políticamente
correctos. Editorial Virus. Barcelona.
16
Em 2012 0,0038% de alegaçons falsas em todo o Estado espanhol (dados da Fiscalia General del Estado)
14
violências machistas, construindo espaços onde transformar as relaçons de género, evitando que as
violências emerjam. Para se alcançar este objetivo, é preciso trabalhar para desconstruir as relaçons de
género atuais, baseadas no domínio, controlo e abuso de poder dos homes sobre as mulheres e pessoas
com identidades nom normativas, assim como os modelos femininos e masculinos sobre os quais se
sustentam, e construir novos modelos de relacionamento igualitários e de bom trato.
Neste sentido, podem-se levar a cabo diferentes açons para (González e Sàiz, 2010)17:
- Reduzir a taxa de incidência das violências machistas nos movimentos sociais, tentando diminuir a
probabilidade de ocorrência, transformando em simultâneo a forma de nos relacionarmos:
Prevençom primária.
- Reduzir a taxa de prevalência, o número de casos existentes, tentando detectá-los de forma
precoce e intervindo sobre eles: Prevençom secundária.
- Procurar que nom fiquem sequelas (ou que estas sejam as menos possíveis), construindo espaços
de segurança e apoio dentro dos próprios movimentos sociais, que acolham de forma eficaz as
queixas e as demandas das militantes sobre este tipo de violências, e lhes deem umha resposta
positiva (no sentido amplo): Prevençom terciária.
Entendemos que a prevençom também deve visar fortalecer os fatores de proteçom existentes nas
pessoas e no ambiente dos movimentos sociais galegos e eliminar os fatores de risco.
Umha intervençom preventiva eficaz é aquela que reforça os fatores de proteçom existentes ou, por
outras palavras, que aproveita e potencia aquelas habilidades, crenças e costumes que permitem agir
positivamente e nom cair numha relaçom abusiva, seja no papel de quem abusa ou de quem é abusada.
Contodo, erradicar as relaçons de poder de género beneficia tanto uns como outras. É por esta razom
que a prevençom se torna umha questom fundamental a trabalhar por parte de todas as pessoas
(González e Sàiz, 2010).
17
Gonzàlez, Yolanda i Sàiz, Margarida (coords.) (2010). Prevenció de relacions abusives de parella: Recomanacions i experiències.
Barcelona: Ajuntament de Barcelona
15
trabalhemos para modificar as relaçons de género e as violências implícitas que aí se geram, mas
percebendo também que a posiçom que ocupamos na estrutura patriarcal nom é a mesma, parte do
trabalho a realizar será diferente para uns e outras. Assim, por parte dos homes será preciso um trabalho
destinado a desconstruir a masculinidade hegemónica (único fator comum em todos os homes que
exercem violência), a considerar como se livrarem de certos privilégios, a pensar que papel
desempenhamos enquanto homes na reproduçom de modelos violentos e na sua transformaçom, e a
pensar novas masculinidades nom opressivas. Por parte das mulheres e pessoas com identidades nom
binárias, o trabalho vai mais focado à autodefesa feminista face às violências machistas e ao
empoderamento coletivo de forma a transformar as relaçons de género.
16
homes tem umha capacidade de arreigamento extremamente forte e isso pode fazer com que em dados
momentos saiam à luz dinâmicas que se julgam erradicadas.
Em última instância, estamos a propor umha estratégia de trabalho com as mulheres para nos
empoderar, recuperar a agéncia, e tecer redes que nos protejam das VM.
Eixos de
Açons
trabalho
participaçom
EQUITATIVOS
17
Eixos de
Açons
trabalho
(discurso e prática)
• Trabalhar para romper a divisom sexual do trabalho nas práticas dos MS, refletindo
sobre quem realiza as diferentes tarefas dentro de cada coletivo e potenciando a
rotaçom nas tarefas e a sua socializaçom e aprendizagem. Neste sentido, também é
importante revalorizar as tarefas de planificaçom e organizaçom da vida que estám
invisibilizadas e desvalorizadas também nos MS.
• Trabalhar pola equidade na assunçom de responsabilidades, potenciando que as
mulheres assumam cargos e a visibilizaçom destas.
• Trabalho pola transversalizaçom da perspectiva de género nos discursos que geramos
(manifestos, programas políticos, artigos, etc.) e nos materiais que editamos (cartazes,
documentos, roupa, etc.).
• Incorporar umha linguagem nom sexista e inclusiva, coerente com umha abordagem de
relaçons de género igualitárias.
• Potenciar referentes de luita com diferentes identidades, modelos de género,
sexualidades, modelos de feminidade e masculinidade para que se podam perceber
outras formas de fazer política que nom passem polo binarismo, a monosexualidade, a
masculinidade hegemónica, o poder masculino e que incluiam todas as diversidades,
sem esqueçer as referentes de luitas das comunidades racializadas e mais oprimidas.
Trabalhar para gerar espaços de ócio livres de violência.
• Revisar e refletir sobre as relaçons de género que se estabelecem nos nossos espaços de
ócio e os modelos de atrativo que estamos a potenciar para gerar atuaçons para os
modificar.
• Trabalhar para que nos nossos espaços de ócio o discurso sobre a tolerância zero à
violência esteja presente.
• Construir espaços e gerar atuaçons para prevenir as agressons (sensibilizaçom sobre a
violência e identificaçom desta, facilitaçom de possíveis recursos ao alcance, caso se
dêem agressons, autodefesa feminista, etc.).
• Trabalhar a despatriarcalizaçom.
18
Eixos de
Açons
trabalho
nos nossos espaços in situ (assembleias, espaços de ócio, atos políticos, palestras,
etc.).
Criar umha cultura de tolerância zero às violências e ao machismo
• Para criar esta cultura, é preciso umha repulsa unânime diante de qualquer
agressom ou conduta machista. Para o fazer é importante o reconhecimento e a
intervençom face a qualquer agressom sexista que poda ocorrer, para que esta nom
aumente. Deve haver tolerância zero diante das violências machistas. Nom se pode
invisibilizar, minimizar ou relativizar nenhum tipo de agressom machista. Silenciar as
agressons é ser cúmplice.
Eixos de Açons
trabalho
que implica ser homes numha sociedade patriarcal e mais concretamente nos
movimentos sociais. Os grupos de homes podem ser umha oportunidade para
realizar um trabalho de formaçom, debate e reflexom que ajude a repensar a
masculinidade para a poder transformar: a própria e a doutros homes. Neste sentido,
é preciso sublinhar que diante da existência de grupos de homes heterogéneos há
homes misóginos e machistas que se agrupam para manter os seus privilégios e
criticar ou combater o feminismo e os seus avanços. Os grupos de homes dos
movimentos sociais de esquerdas devem ser grupos com perspectiva feminista, que
trabalhem contra o patriarcado e contra as violências machistas nas suas múltiplas
formas e manifestaçons.
18
Bibliografia: Badinter, Elisabeth (1993). XY: La identidad masculina Alianza Editorial.
Bordieu, Pierre (2000). La dominación masculina Anagrama.
Azpiazu Carballo, Jokin (2013). Grupos de hombres y discursos sobre la masculinidad: ¿Nuevas configuraciones?
http://www.fes-web.org/ uploads/files/modules/congress/11/papers/855.pdf
19
Eixos de Açons
trabalho
19
Um elemento-chave na compreensom da existência e da permanência e, portanto, as dificuldades na erradicaçom dasatitudes
masculinas nos movimentos sociais é o fenómeno chamado camaradagem masculina. Essa forma de companheirismo entre os
homens nom é senom umha suposta harmonia entre iguais. Essa totalidade - homes - é, ao mesmo tempo, parte de um grupo
maior que é a humanidade. A sensaçom desse fenómeno é fortalecer a identidade masculina e promover o sentimento de
pertença a um todo harmonioso. Umha unidade entre as semelhanças que atua como o poder patriarcal em seu aspecto mais
social, maciço e popular. Os rituais iniciais de masculinidade, educaçom machista em certos espaços masculinos tenhem a
funçom de criar um modelo de masculinidade e umha identidade coletiva; umha espécie de escola de masculinidade
patriarcal.
20
Eixos de Açons
trabalho
Eixos de Açons
trabalho
21
Eixos de Açons
trabalho
20
Definiçom de empoderamento: "Processo polo qual as pessoas fortalecem as suas habilidades, a confiança, a visom e o papel
como um grupo social para impulsionar mudanças positivas nas situaçons que vivem »(Clara Murguialday)
21
Murguialday, Clara (2013). Reflexions feministes sobre l’apoderament de les dones. Barcelona: Cooperacció.
22
• O termo empoderamento é usado indiscriminadamente tanto no discurso académico
ou das instituiçons, quanto dos movimentos feministas. Mas está claro que existe
umha divergéncia entre a perspectiva do primeiro e do segundo e nom se trata só de
questons teóricas, mas sobretodo de ordem política. Para o discurso oficial, o
empoderamento das mulheres é um instrumento para o “desenvolvimento”, para a
melhoria individual, sobretodo económica: nom é um fim em si próprio. Para as
feministas, o empoderamento das mulheres é um processo de auto-determinaçom e
umha ferramenta de mudança horizontal, social e coletiva. Um instrumento e um fim
EMPODERAMENTO ( c o nt . )
23
5. Que implica asumir este Protocolo?
A primeira açom a realizar para prevenir as violências machistas nos movimentos sociais galegos é
aceitar o presente Protocolo. Fazê-lo implica validar o seu conteúdo e as atuaçons que propom e
responsabilizar-se coletivamente pola formaçom e intervençom em violências machistas. Neste sentido,
dar legitimidade ao próprio protocolo é já em si umha açom preventiva das violências, pois implica
começar a criar umha cultura de nom tolerância em relaçom a estas e gerar ferramentas para intervir de
forma precoce, tentando evitar assim um aumento das mesmas.
A aceitaçom deste protocolo insta à implementaçom de tres mecanismos fundamentais para previr e
erradicar a violência machista nos nossos espaços.
a. Criar umha Comissom de Resposta ante as Violências Machistas (CRVM)22.
b. Sensibilizar e prevenir sobre as violências machistas, as diferentes formas que podem adoptar e as
suas consequências, incorporando nestes discursos novas maneiras de entender as masculinidades
que desarticulem a masculinidade hegemónica, e que trabalhem na direçom de novas formas de
relaçom baseadas no respeito, no bom trato e na igualdade.
c. Discutir e refletir de forma coletiva como intervir diante das violências machistas que ocorrem
nossos coletivos, para nom agir a partir do “saber fazer” ou da improvisaçom quando ocorrem os
casos. O objetivo, pois, é elaborar respostas unificadas de forma política e coletiva, e que ao mesmo
tempo operem de forma concreta em cada caso.
6. Circuito de abordagem
Nesta secçom explicita-se qual a via ou as vias possíveis que se oferecem e que se devem seguir no
momento em que se ativa um caso de violência machista. Detalham-se os critérios prévios gerais a ter
em conta que deverám ser vectores de todo o processo. De seguida, procede-se a analisar quais serám
os agentes legítimos e consensualizados para atuar numa situaçom de violência. A seguir explica-se que
vias de denúncia dum caso de violência se possibilitam, e que medidas legais podem acompanhar o
processo.
E umha vez feito este enquadramento, entra-se nos passos a seguir para resolver e reparar a situaçom de
violência detectada.
22
A composiçom e ámbitos de açom estám descritas no apdo. Agentes que intervirám no processo.
24
umha situaçom de dupla vitimizaçom.
Do mesmo modo, o nome dele nom se tornará público até a primeira entrevista com o home. Depois da
primeira entrevista, se o home rejeitar qualquer aviso, considera-se como agravante e o seu nome
tornará-se público. Nos casos de picos de violência, será a mulher agredida quem decida se quer que o
nome do agressor se torne público. .
Para garantir que o processo poda fazer-se sem interferências e minimizando a dor que geram estas
situaçons, é imprescindível evitar os julgamentos públicos onde toda a gente se sente com voz e voto
para opinar sobre os factos.
A confidencialidade consistirá em garantir que o caso nom se torna público a nível geral. As únicas
pessoas que poderám estar ao corrente dos factos som as que estiverem na Comissom de Resposta que
siga e resolva o caso. E à parte da Comissom de Resposta, as únicas pessoas que terám conhecimento
das medidas que se tomem com o home que tenha cometido umha agressom, serám aquelas que se
considarem fundamentais para o êxito do processo (as quais deverám ser escolhidas pola Comissom,
conjuntamente com a mulher que foi agredida). Deve haver um compromisso por parte de todas estas
pessoas envolvidas no processo de cumprirem o acordo de confidencialidade. Igualmente, entende-se
que todos os coletivos aderidos ao presente protocolo se comprometem a garantir a confidencialidade
em todos os casos, e que tomarám medidas caso alguns dos seus membros nom o cumpra.
Naquelas situaçons em que, por questions alheias ao processo, determinada informaçom se tenha
tornado pública, se a partir daqui se gera umha demanda de mais informaçom por parte de qualquer
coletivo ou pessoa(s) na Comissom que acompanhe o caso, a única informaçom que se transmitirá serám
as medidas tomadas pola Comissom, mas em nengum caso se entrará a expor nem a avaliar
coletivamente os factos, já que como se dixo, isso provocaria umha revitimitaçom à mulher agredida, e
seria um impedimento para o bom funcionamento do processo.
Proporcionalidade
No momento de tomar medidas velará-se por adaptar-se ao ritmo e à vontade da mulher. Em casos
muito graves de violências machistas pode atuar-se de ofício (ainda que a mulher nom veja claras/tenha
dúvidas sobre as medidas) desde que se estime que há risco para o resto das mulheres e para o bem-
estar do coletivo.
Ritmo e vontade da mulher
Velará-se por seguir um processo que se ajuste às necessidades e ao ritmo que a mulher necessite e
queira seguir.
O processo é começado pola mulher, e a mulher é quem decide se quer estar no processo e em que
medida. Em qualquer caso, a CRVM encarregada da avaliaçom, gestom e seguimento do caso terá de ir
informando a mulher dos passos que se forem dando. Esta informaçom que se irá transmitindo será
genérica sobre como evolui o processo e as medidas que fôrom acordadas. Nom se entrará a explicar
factos concretos que tenham aparecido no seguimento do home. O processo também pode iniciar-se a
pedido dumha terceira pessoa (próxima da mulher ou que tenha presenciado algumha situaçom de
conflito), mas só se seguira adiante se a mulher o quer. Nos casos mais graves haverá que avaliar a
necessidade de seguir adiante ainda que a mulher nom o queira, caso se estime que há risco para outras
pessoas ou para o bem-estar do coletivo.
É importante termos presente que todos os passos que se deem devem ir acompanhados da vontade da
mulher já que, caso contrário, estaremos a causar umha situaçom de dupla vitimizaçom que infantilizaria
a mulher. Portanto, é preciso evitar paternalismos (“tu estás confundida pola situaçom” ou “nom sabes o
25
que queres”) e termos muito presente que os processos de denúncia dumha situaçom de violência
nunca som lineares. É primordial nom perder de vista que as mulheres somos sujeitos principais das
nossas vidas e, enquanto tais, temos o direito a escolher como queremos que se resolva um caso de
violência que nos afetou em primeira pessoa.
Quando se atuará de ofício?
Atuará-se de ofício quando se avalie que está em risco grave a integridade (física, psicológica, sexual, etc.)
doutras mulheres. Esta situaçom pode dar-se sobretodo nos casos mais graves de violências machistas.
26
• Deve ter ferramentas para derivar a outros serviços quando for necessário e serviços de referência
para se poder assessorar/aconselhar caso se considere oportuno.
b) Pessoas que a formam:
• Pessoas implicadas em coletivos feministas preferentemente autónomos mais próximos (polo
menos 1)
• Mínimo 2 pessoas do coletivo/movimento em questom, tratando de que seja 1 homem e 1 mulher
ou pessoa com uma identidade nom binaria. É recomendável incrementar o número segundo o
tamanho do grupo.
• Se alguén da CRVM tem umha relaçom intensa ou proximidade emocional com as pessoas
afetadas, nom poderá estar ao corrente do caso, porque isso pode influenciar a objetividade das
medidas.
• Se umha pessoa que fai parte da CRVM é denunciada por um caso de violência machista ou se
incumpre os compromissos adquiridos no protocolo (confidencialidade, respeitar os ritmos da
mulher, etc) será expulsa da CRVM. A CRVM pode decidir aplicar outras medidas se o considerar
conveniente, conforme a gravidade do caso.
c) Tarefas da Comissom:
• Velar pola realizaçom da formaçom sobre feminismo e violências machistas (ver tabelas secçons...)
• Recepçom da demanda de abordagem dum caso de violência(s).
• Revisom do caso.
• Gestom da situaçom:
1. Tomada de decisons (conjuntamente com a mulher afetada) das medidas a aplicar:
2. Falar com todos os agentes implicados.
• Seguimento e avaliaçom do caso.
• Geraçom de ferramentas para levar a cabo a sua tarefa de forma efetiva (por exemplo, fichas para
as entrevistas iniciais, protocolo de avaliaçom do risco próprio, etc.).
• Se a mulher agredida solicita acompanhamento no processo a Comissom preocuparase de facilitar
que se crie un Grupo de Acompanhamento.
27
• O processo que se inicie internamente dentro dos movimentos sociais nom exclui açons judiciais
paralelas. A via legal será tomada desde que a mulher assim queira, ou no caso de se detectar que
há risco grave para a integridade física, psicológica, sexual, etc., da mulher que denunciou a
situaçom, ou doutras mulheres.
28
informada dos serviços de ajuda para estas situaçons. Se quer ir a algum dos serviços,
recomenda-se a presença de um/a acompanhante (ou amiga/o, ou família, ou comissom) e
oferece-se ajuda para fazer as gestons necessárias ou garantir o acompanhamento.
Recomendaçons para a escuita em casos de violência
Nom tentar dominar a situaçom.
Esperar a escuitar todo o que a mulher tem a dizer.
Nom manipular ou pressionar a mulher e respeitar os seus tempos.
Escuitar sem pensar o que dirá a seguir.
Nom tirar a capacidade de decisom da pessoa, nem usurpar o seu lugar.
Deixar de lado os próprios pontos de vista para poder “sintonizar”.
Nom introduzir assuntos ou exemplos próprios.
Nom ignorar nem negar os sentimentos genuínos da mulher.
Poder estimular a mulher para que poda continuar a falar.
Fazer perguntas para saber se se está a compreender o que a mulher quer transmitir.
Recomendaçons para o acompanhamento
Acolher a pessoa: o que nos pede a mulher que temos diante, quais som as suas necessidades,
etc. Mas pode ser que estejamos atendendo um problema que também é um delito, portanto é
preciso acolher também o problema, avaliando o seu risco.
No acolhimento da pessoa é preciso:
Criar um ambiente de apoio em que a mulher nom se sinta julgada, facilitando um espaço
tranquilo e relaxado onde poda expressar emoçons e sentimentos.
Escuitar activamente e empaticamente.
Realizar contençom, se necessário.
Evitar reforçar a estigmatizaçom ou os sentimentos de culpabilidade que poida sentir.
Evitar umha atitude sobreprotetora e/ou paternalista, evitando dar conselhos sobre a
maneira concreta de agir.
Respeitar as suas decisons.
Acolher e avaliar as demandas explícitas e implícitas que apresenta a mulher para
possibilitar umha derivaçom ao recurso mais adequado.
No acolhimento da problemática é preciso dar também um espaço de acolhimento à
problemática apresentada e utilizar os conhecimentos necessários (neste caso da CTVM ou da
rede de recursos especializados) que possibilitem:
Avaliar a situaçom da mulher para determinar se está em perigo imediato. Neste caso, dar
pautas de urgéncia e proteçom
Informar a mulher sobre o processo de victimitzaçom.
29
Orientá-la sobre os diferentes recursos e possibilidades sociais e pessoais.
Informá-la dos direitos que a amparam e dos procedimentos jurídicos penais e civis.
Informar sobre as possíveis consequências das suas decisons.
Em caso de derivaçom a outros serviços, realizá-lo com o seu consentimento e concretar e
facilitar o acesso mais oportuno em cada caso.
A.2 Relato do home que cometeu a agressom ou agressons
Ainda que os dados mostrem que quase nom existem denúncias falsas, isso nom exclui a necessidade de
estabelecer um espaço no processo no qual o home que foi acusado por violência machista poda expor a
sua versom dos factos. Para recolher a versom do homem, seguirá-se o seguinte procedimento:
O CRVM fai umha entrevista com o home. Aqui se tentará que haja polo menos 1 home do
CRVM.
Terá-se em conta o seu relato e posicionamento diante da situaçom de violência para determinar
as medidas a tomar e se há ou nom agravantes da situaçom. Para fazê-lo, a mais do seu relato,
terá-se em conta se ele se mostra mais ou menos colaborador, se reconhece os factos de
violência ou se polo contrário há umha negaçom, etc. Todo isso permitirá-nos ter umha visom
mais ampla dos factos, e ao mesmo tempo, também servirá para detectar se há indício de nom
veracidade do relato dele ou dela. Nom obstante, o relato do home servirá principalmente para
buscar agravantes (negaçom, nom aceitaçom do protocolo, antecedentes, etc.) e nom para pôr
em questom a versom da mulher.
Os objetivos desta entrevista som os seguintes:
• Explorar possíveis situaçons de violência a partir de conflitos que poda reportar o home.
• Explorar a consciência que tem o home do problema da violência e as suas consequências.
• Motivar o home para iniciar um processo de transformaçom ou tratamento.
A.3. Tomada de decisom das medidas
Reune-se a CRVM e pensa que medidas se deveriam tomar para abordar o caso.
Expom-se à mulher as medidas que se decidiu que, de acordo com a avaliaçom feita pola CRVM,
eram as mais adequadas para resolver o caso. A partir daqui, som acordadas com ela estas
medidas. As medidas som negociáveis com a mulher. No caso de picos de violência, e sobretudo
se se percebe risco, a CRVM pode resolver que há umha obrigatoriedade na aplicaçom de
algumha/s medida/s.
A partir daqui, a/s mulher/es terá/m um número de telefone de algumha pessoa para poder/em
avisar sempre que lhe passe algumha cousa.
Temporalidade: A fase A de análise do caso nom se pode alongar mais dum mes. No caso de situaçons
de picos de violência, tentará-se incluir a resoluçom de todo o caso (nom só da fase A) dentro deste mês
de período.
B. Resoluçom do caso
Umha vez que se analisou o caso e que se tomárom decisions sobre as medidas que se levarám a efeito,
estas medidas serám comunicadas ao home e falará-se com os agentes estratégicos que se considerem
oportunos.
30
B1. Comunicaçom das medidas a ele
Comunica-se ao home as medidas que terá de seguir e cumprir.
B2. Comunicaçom das medidas a outros agentes estratégicos
De estimar-se que é necessário falar com agentes que podem beneficiar o bom desenvolvimento do
processo de reparaçom de violência, isto fara-se logo depois de falar com o home. Estes podem ser ou
agentes que se considera que podem ser pessoas colaboradoras para garantir o êxito do processo, ou
entom agentes que podem gerar muita resistências, ou até mesmo chegar a boicotar o processo. Neste
último caso é preciso velar porque os agentes externos evitem gerar umha violência ambiental em
relaçom à mulher (criando-lhe um ambiente intimidativo ou hostil).
Em caso de expulsom definitiva do home (situaçom que se pode dar nalguns tipos de violência de nível
2), deverá informar-se da decisom tomada a todos os coletivos.
Em caso que o home nom seja militante dos movimentos sociais aderidos ao protocolo a CRVM
recolherá a história da mulher e informará a todos os coletivos ou agentes que se considerem oportunos
para que estejam a par da situaçom sobretudo se ele pertence a algum destes coletivos. Tendo em conta
que se podem dar muitas situaçons (que ele nom milite em nenhuma parte, que ele milite noutra cidade,
que ele milite num coletivo que nom é dos coletivos assinantes, etc.), a CRVM deverá pensar como
abordar o caso para poder tomar medidas com ele e garantir a proteçom dela nos nossos espaços.
Temporalidade:
A fase B nom se alongará além de duas semanas.
A seguinte categoria nom foi elaborada com a finalidade de “graduar” níveis de violência, nem de
classificar segundo umha suposta maior ou menor gravidade, mas pensando nas sequelas psicológicas,
físicas, sociais e económicas da violência, nas consequências da violência para a pessoa agredida. A
primeira coluna regista exemplos de violência quotidiana, direta, mais normalizada e difícil de identificar
e denunciar. Na segunda coluna há exemplos de picos de violência, talvez menos frequentes, mas mais
fácil de identificar e denunciar.
31
Violências (tipos) Expressons Picos de violência
Física (cont.) - Agarrar do braço, da cintura ou dalgumha outra - Dar punhadas ou labazadas
parte do corpo para reclamar a atençom da - Dar pontapés
pessoa - Morder
- Tocamentos corporais nom desejados - Agarrar polo pescoço
- Reter momentaneamente a pessoa - Queimar
- Cortar
32
Ambiental - Bater portas, bater na mesa ou noutros objetos - Fazer fotos ou vídeos sem
- Impor alçando a voz consentimento
- Cousificar - Gerar um ambiente hostil contra a
pessoa agredida
- Isolá-la
- Impor presença à força em atos
sociais
- Romper, lançar objetos
- Esconder objetos pessoais
- Queimar objetos
DIRECTAS
- Magoar mascotas
- Magoar pessoas que estima
Económica - Questionar e pressionar polo uso que se fai do - Roubar quantidades de dinheiro
dinheiro
- Aproveitar a desigualdade económica para
impôr o seu critério
- Controlar e reter ingressos económicos
- Endividar ou deixar em situaçom de
endividamento a pessoa em benefício próprio
- Presionar para prestar cartos
- Pedir dinheiro e nom devolvê-lo
- Fazer chantagem económica
7.1. Medidas
Apresentam-se estas medidas como proposta, mas vam-se respeitar em todo momento os tempos e a
vontade da pessoa agredida: vai ser ela a decidir quais pôr (ou nom pôr) em prática e quando.
33
MEDIDAS A TOMAR
Aviso: Avisa-se contundentemente o home, expom-se-lhe a situaçom e contextualiza-se a gravidade dos
factos. Comunica-se-lhe que se abre um período de vigilância nom inferior a seis meses de durada, mas
adaptado às exigências de cada coletivo.
Separaçom de espaços: Veta-lo do espaço que a mulher solicite.
Sensibilizaçom do home e do espaço: Desenvolver açons de formaçom e trabalho coletivo concreto
dirigidos a sensibilizar sobre as relaçons de género e as violências machistas.
Expulsom de espaços temporária e terapia obrigatória: caso a expulsom seja temporária, será no
mínimo de um ano (que será o tempo em que voltará a ser avaliada).
Expulsom de espaços definitiva: Caso seja definitiva, avisará-se da expulsom os coletivos e os espaços
nacionais.
A seguir, exponhem-se mais detalladamente as diferentes açons que se tomam em cada medida:
• O aviso constitui umha advertência contundente. Fala-se com o home para lhe expor e
contextualizar a gravidade dos factos que ocorrêrom. Comunica-se-lhe que dado que tivo umhas
relaçons abusivas, abre-se um período de vigilância durante o qual ele tem de dar passos para
demonstrar que está a trabalhar para que o aconteceu nom volte a acontecer.
• A separaçom de espaços implica que o home pode ter vetada entrada nos locais que a mulher
solicite. Além disso, em qualquer situaçom em que o home e a mulher podam coincidir, sempre se
dará prioridade a que poida ir ela. Entende-se por espaço nom só o físico (centro social, palestras ou
jornadas formativas, manifestaçons ou mobilizaçons, etc.) mas também o virtual (grupos de watsapp
e de correio).
• E por último, a terapia obrigatória é um trabalho introspectivo para abordar de maneira profunda as
formas de fazer e relacionar-se em termos de género. É preciso que se leve a cabo com serviços ou
profissionais que trabalhem de forma específica questons de repensamento da masculinidade, e que
tenham experiência em abordagem de casos de homes que tiverom relaçons abusivas com mulheres.
7.2. Agravantes
Um agravante é um fator a ter em conta no momento de avaliar a gravidade da agressom e que piora a
situaçom ou açom de violência machista. Estes darám-nos argumentos objetivos para tomarmos
decisons sobre as medidas a aplicar sobre o agressor. Por exemplo, se foi decidida umha expulsom
temporária, com agravantes pode passar a ser definitiva (será precisa umha avaliaçom dos agentes
encarregados de resolver o caso).
(ver páxina seguinte)
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AGRAVANTES DEFINIÇOM
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ANEXOS
Anexo. Ficha de recepçom 1
Tipo de violência:
Frequência da violência:
Intensidade da violência:
Gravidade:
Continuidade:
Reaçons da pessoa: em caso afirmativo, que açons se realizárom? (queixas, declaraçons, separaçom, etc.)
Reaçom das outras pessoas: como as outras pessoas reagírom (membros da militância, família, rede de
amizade, etc.)
- Avaliaçom de necessidades: Explicaçom explícita - Necessidades implícitas que podem ser valorizadas
da pessoa (atençom psicológica, assessoria jurídica, intervençom
institucional, denúncia, etc.)
- Avaliaçom do risco da pessoa: Percepçom de risco - Ameaças e/ou abusos graves contra a pessoa:
por parte da pessoa: de que tem medo a pessoa?
Circunstâncias agravantes (grau e intensidade da violência nos últimos 6 meses, abuso de substâncias, acesso
a armas, saúde mental, ...)
Fatores de vulnerabilidade das mulheres (também, falta de recursos para a saúde, presença de crianças, etc.)
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Anexo. Ficha de recepçom 2
Reaçons da pessoa: em caso afirmativo, que açons se realizárom? (queixas, declaraçons, separaçom, etc.)
Reaçom das outras pessoas: como as outras pessoas reagírom (membros da militância, família, rede de amizade, etc.)
- Avaliaçom de necessidades: Explicaçom explícita da - Necessidades implícitas que podem ser valorizadas (aten-
pessoa çom psicológica, assessoria jurídica, intervençom institucional, denún-
cia, etc.)
- Avaliação do risco da pessoa: Percepçom de risco por - Ameaças e/ou abusos graves contra a pessoa:
parte da pessoa: de que tem medo a pessoa?
Circunstâncias agravantes (grau e intensidade do violência nos últimos 6 meses, abuso de substâncias, acesso a
armas, saúde mental, ...)
Fatores de vulnerabilidade das mulheres (também, falta de recursos para a saúde, presença de crianças, etc.)
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Anexo. Acompanhamento e avaliação de casos
NOME DO CASO:
Data em que a mulher contacta pola primeira vez com a Comissom de Resposta (CRVM):
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