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LÚCIA MIGUEL-PEREIRA
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Qualquer emissão de juízo de valor sobre as obras literárias são tomadas conforme a opinião
da autora da história literária em estudo.
particular em capítulo denominado pesquisas psicológicas (p.53-118) juntamente com
Raul Pompéia, autor que se lhe aproxima na tendência. O regionalismo do século XIX
é abordado após os naturalistas; em seguida, os simbolistas são mencionados,
passando à literatura social já no início do século XX, culminando com Lima Barreto no
último espaço temporal, o enredo de sua história da literatura.
David Perkins ao tratar desse assunto reduz a três os possíveis enredos das
histórias literárias: “ascensão, declínio e ascensão e declínio” (PERKINS [s/d]: 13). É
possível, a partir dessa assertiva, compreender o enredo em questão como ascensão,
já que a autora parte de uma literatura ainda incipiente, produzida em 1870, que atinge
seu auge em 1881 e, embora não produza nada significativo por um intervalo de mais
de vinte anos, tem no início da segunda década do século XX, o surgimento de um
grande vulto à moda de 1881.
Ainda segundo Perkins (op. cit p. 17-18), esse enredo é construído levando
em consideração uma listagem de obras e outros eventos que se incluem no espaço
temporal eleito pelo historiador da literatura e, em seguida, esse historiador escolhe
um herói para sua narrativa e define as obras que formarão seu cânone. Assim, na
presente história da literatura brasileira, o herói da narrativa é a prosa ficcional
produzida entre 1870 e 1920, o enredo se dá a partir da análise e crítica de contos e
romances produzidos nesse período e o cânone se define pelo romancista Machado
de Assis. Ao lado dessa divisão cronológica aparece a divisão por períodos, entendida
por Perkins como “fixões necessárias” (op. cit. p. 32) orientadas por fatores, dentre
outros, como tradição, interesses ideológicos e exigências estéticas.
Observar numa história da literatura quais fatores a guiaram é uma questão
muito difícil, pois interesses ideológicos mantêm ou quebram a organização tradicional
das obras e, por que não dizer, às vezes, determinam esteticamente as produções
elencadas. A exemplo disto, segundo Regina Zilberman (2000: 25), assim que o Brasil
rompeu os laços políticos e econômicos que o ligava a Portugal, necessitou-se
elaborar uma “narrativa para o passado da literatura que começava a existir” e o
conceito de Nacional imperou na escolha das obras que formariam o cânone da
literatura brasileira. Apenas obras que trouxessem noções de brasilidade tais como
descrições paisagísticas e reflexões sobre o modus vivendi e operandi brasileiro
deveriam ser apreciadas. Porém, o cânone não é fixo, nem mesmo o oficial conforme
Wendell (1998) e assim, passaram a existir outras exigências estéticas. No entanto, o
cânone romântico continuava a imperar mesmo tendo já transcorrido bastante tempo
da independência e da necessidade de se afirmar como nação culturalmente
independente, o que levava obras de cunho mais universalistas serem desprezadas
Essa situação mudou no início do século XX quando José Veríssimo publicou
sua história da literatura brasileira com capítulo final dedicado a Machado de Assis
como expoente de uma nova postura literária. Tal tendência chegou até Lúcia Miguel
Pereira que, depois de uma análise da obra do escritor, baliza a canonicidade de sua
história da literatura brasileira pelo romancista. De posse dessas noções, Lúcia Miguel
Pereira dividiu sua historia da literatura em oito períodos, a saber, Ecos românticos,
veleidades realistas (p. 33-52), Pesquisas psicológicas (p. 53-118), Naturalismo (p.
119- 174), Regionalismo (p. 175-220), Simbolismo (p. 221-232), Literatura social (p.
233-244), Sorriso da sociedade (p. 245-271) e Prenúncios modernistas (p. 272-304).
Dentro desses recortes de tempo e período que compreendem 50 anos, a historiadora
dá formas ao sistema literário brasileiro no que tange à prosa de ficção.
Não há dúvida, para a historiadora, sobre em qual sistema literário se
encontra a literatura brasileira, suas palavras denotam claramente que à literatura
ocidental. No entanto, a escala de valor é diferente, pois dentro da literatura brasileira,
só Machado de Assis tem força a um paralelo com os grandes do Ocidente, ou seja,
com os europeus. Em outros termos, antes de Machado de Assis, o sistema literário
brasileiro era incipiente e, mesmo depois dele, ainda resvalou nesse defeito, conforme
outra fala da historiadora:
A cultura intelectual, vinda da Europa, atuando em sentido
diverso da cultura [...] retarda nos escritores o amadurecimento
da mentalidade nacional. Daí as anomalias da nossa evolução
literária, indo do universalismo clássico para o americanismo
romântico, deste para o brasileirismo e, descobrindo tarde o
regionalismo. (p. 117).
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política. Ensaios
sobre literatura e história da cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo:
Brasiliense, 1987.