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A Psicopedagogia Institucional e a

Educação Infantil

Maria Melania Wagner F. Pokorski 1

Resumo

Nosso artigo objetiva analisar duas áreas da Psicopedagogia, bem como enfatizar a
importância da prática pedagógica na educação infantil, como um período básico para a
constituição do sujeito. A primeira parte examina a história e o significado da
Psicopedagogia Clínica e Institucional, uma vez que o curso de pós-graduação da Faculdade
Porto-Alegrense (FAPA) prepara o psicopedagogo como especialista nas áreas clínica e
institucional. A segunda parte aborda um pouco da realidade de escolas de Porto Alegre
e da Grande Porto Alegre, locais dos estágios de Psicopedagogia Institucional em 2007.
Pretendemos analisar as duas últimas categorias das que foram indicadas na demanda
das instituições de estágio: relações interpessoais afetadas, transição entre 4a e 5 a séries,
laboratório de aprendizagem, desenvolvimento moral e cognitivo, indisciplina e um repensar
sobre a educação infantil. A partir dessa demanda escolar, cabe-nos buscar algum
referencial teórico que possa indicar alternativas para entendimento do ser humano no
século XXI e, por conseguinte, para poder contribuir mais efetivamente na formação dos
alunos envolvidos na educação infantil.

Palavras-chave: Psicopedagogia Clínica e Institucional. Histórico. Realidade. Indisciplina.


Educação infantil e alternativas.

1 Introdução

O presente texto é dirigido aos estudantes de Psicopedagogia e aos


profissionais da educação. A partir da visita de pesquisa feita pelos
estagiários de Psicopedagogia Institucional da FAPA, em 2007, a 22 escolas
do município de Porto Alegre e da Grande Porto Alegre, pensamos em
transformar os dados coletados em um projeto, procurando ver como a
prática da Psicopedagogia Institucional pode contribuir para o
desenvolvimento bio-psicossocial e sexual salutar, principalmente na
educação infantil, que se caracteriza como uma etapa fundamental da
constituição do sujeito.
Nosso texto resgata a história e o conceito de Psicopedagogia;
diferencia o que cabe à Psicopedagogia Clínica e à Institucional; aponta as
principais características do aprendente com dificuldades de
aprendizagem; caracteriza a prática da Psicopedagogia Institucional com

1
Mestre em Educação, Psicopedagoga, Psicanalista – Membro Efetivo do Círculo Psicanalítico
do RS, Professora da FAPA da Graduação e Pós-Graduação.
E.mail:mariamelania@fapa.com.br
Ciênc. let., Porto Alegre, n. 43, p. 309-327, jan./jun. 2008 309
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enfoque preventivo; analisa categorias indicadas na demanda escolar do O segundo momento corresponde às décadas de 1970 e 1980, quando
estágio de Psicopedagogia da FAPA e, aprofundando duas delas, reflete a Psicopedagogia redefine o seu objeto de estudo, que deve ser ocupar-se
sobre o que pode estar contribuindo para as situações de indisciplina dos com a compreensão da aprendizagem humana. Para isso busca
alunos nas escolas, bem como o que colabora para a constituição do fundamentos interdisciplinares, recorrendo principalmente à Psicanálise,
sujeito no século XXI. O texto aponta também alternativas de práticas à Psicologia Genética, à Lingüística, à Psiconeurologia, à Sociologia e à
pedagógicas preventivas para a educação infantil e os anos iniciais do Filosofia. A concepção de aprendizagem passa a ser interacionista. Em
ensino fundamental. 1980, é criada a identidade da Psicopedagogia, formando-se a Associação
Brasileira de Psicopedagogia – ABPp, com sede em São Paulo, sendo que
2 Histórico e conceito da Psicopedagogia hoje vários estados possuem sua Seção Regional. No ano de 1980, ocorre o
primeiro Encontro Nacional de Psicopedagogia, com o tema “Experiências
e perspectivas do trabalho psicopedagógico na realidade brasileira”, sendo
Um dos principais objetivos do surgimento da Psicopedagogia foi que, a partir dele, outros encontros ocorrem a cada dois anos, em São
investigar as questões da aprendizagem ou do não-aprender em algumas Paulo, além de encontros regionais.
crianças. Por um longo período, atribuía-se exclusivamente à criança a O terceiro momento, segundo Moojen (1999), está ainda muito ligado
patologia do não-aprender. Sequer questionavam-se a família, a escola, ou ao segundo, porém com ênfase no “ser em processo de construção”- esse
seja, as questões externas à criança. As pesquisas sobre aprendizagem sujeito entendido como um ser pluridimensional – que pensa, deseja,
baseavam-se na concepção apriorista, isto é, a criança já nasceria pré- relaciona-se e está contextualizado.
determinada para aprender ou não. Nesse terceiro momento, para Fagali (1998), a Psicopedagogia pensa
Foi na Europa, no século XIX, que médicos, pedagogos e psiquiatras a sua prática, tanto clínica quanto institucional, num enfoque
levantaram questões sobre o não-aprender; entre eles: Maria Montessori, transdisciplinar, sendo necessário aprofundar e analisar os princípios que
Decroly, Janine Mery e George Marco. Os dois últimos criaram, na França, regem o processo de aprender. Princípios esses que estão presentes na
o primeiro Centro Médico-Psicopedagógico, articulando conhecimentos existência do homem, na sua constituição, na sua modalidade de aprender
de Psicanálise, Pedagogia, Psicologia, Medicina, tentando buscar soluções e/ou ensinar, em suas diferenças e singularidades. O enfoque
para as dificuldades de relacionamento e/ou de aprendizagem na escola. transdisciplinar volta-se para um processo plural, complexo, considerando
Para Bossa (1994), deve-se a Claparède e a Neville a criação de classes as capacidades humanas, as diferentes maneiras de elaborar, simbolizar,
especiais nas escolas públicas, o que deu origem, no início do século XX, às captar, criar, mostrar e expressar-se.
consultas médico-pedagógicas, que objetivavam o encaminhamento de Mas o que caracteriza o trabalho psicopedagógico clínico e
crianças diagnosticadas com alguma “deficiência” às classes especiais. institucional?
No Brasil, a Psicopedagogia surge a partir da segunda metade do A Psicopedagogia Clínica, como mencionamos anteriormente, tem
século XX, com contribuições de autores da Argentina; entre eles, Sara seu referencial teórico com base nos autores argentinos Sara Paín, Jorge
Paín, Jorge Visca e Alícia Fernández. Estes ministraram cursos nos estados Visca e Alícia Fernández. Esses autores criaram a matriz para o diagnóstico
de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, e a intervenção psicopedagógica. O arcabouço teórico organizou-se a partir
destaca-se o Centro de Pesquisa em Orientação Psicopedagógica – CPOP, dos referenciais, principalmente, da Psicanálise e da Psicologia Genética.
que, no final da década de 1980 e início da de 1990, oferecia o curso de Segundo Fernández (1995), para o diagnóstico é importante identificar o
Psicopedagogia Operativa e Clínica, coordenado pelas Dras. Vanda Spieker sujeito aprendente no contexto familiar e no que é externo a esta família.
e Dorothy Fossati Moniz. Nesse período, nenhuma faculdade ou universidade As dificuldades de aprendizagem podem ser entendidas como um
oferecia o curso de Psicopedagogia. O primeiro curso de Psicopedagogia da sintoma, uma inibição cognitiva, sendo manifestações inconscientes, ou
FAPA ocorreu em 1995. como um problema de aprendizagem reativo. Este último pertence à
Para Moojen (1999), a Psicopedagogia, no Brasil, apresenta três instituição escolar e não à criança. É a instituição que “falha” em seu
momentos históricos. O primeiro refere-se à década de 1960, quando a processo de ensinagem àquela criança e não chega a aprisionar a
criança com “distúrbios de aprendizagem” é considerada inapta ao sistema inteligência de quem aprende.
convencional de educação. Uma equipe multidisciplinar faz o diagnóstico e Além do sintoma, da inibição cognitiva e do problema de
encaminha a criança para um trabalho de reeducação, muitas vezes aprendizagem reativo, Fernández (1995) destaca o fracasso escolar de
utilizando o exercício da repetição ou do treino referente ao tema da portadores de necessidades educacionais especiais – PNEE, que podem
dificuldade de aprendizagem. apresentar uma deficiência (visual, auditiva, motora, mental) ou um
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comprometimento na estrutura psíquica, com uma evidência psicótica. o lugar de depositário das mazelas da família. A melhora abre espaço para
Essas crianças necessitam de compreensão da maneira como percebem a a necessidade de ressignificar esse lugar.
realidade e como se comunicam com ela. A estrutura mental compreende os processos mentais que serão
Segundo BRASIL (2005), para entendermos como a criança vê o utilizados para construir o conhecimento. Envolve os estágios do
mundo, precisamos atentar a três estruturas: a biológica, a psíquica e a desenvolvimento cognitivo descritos por Piaget – sensório-motor, pré-
mental. operatório, operatório concreto e formal - sendo que este último não é
A estrutura biológica compreende a maturação ou os danos do universal. O espaço escolar/acadêmico precisa desafiar o aluno para que
Sistema Nervoso Central – SNC. Convém assinalar a noção da desenvolva seu nível operatório formal. Para Inhelder (apud BRASIL, 2005),
neuroplasticidade, descrita por Vygotsky (2005), cuja descoberta as pessoas com deficiência mental não desenvolvem o nível operatório
possibilita intervenções precoces, nos primeiros meses ou anos de vida, formal. Constata que chegam, no máximo, ao operatório concreto. Além
podendo reverter quadros que eram vistos, aparentemente, como disso, apresentam flutuações entre os diferentes níveis operatórios, bem
irreversíveis. Um dos principais ingredientes nessa intervenção, além do como uma viscosidade cognitiva, envolvendo lentidão, fixações em níveis
conhecimento teórico, é o “investimento afetivo”, que possibilita arcaicos de organização, dificuldade de generalização e de transposição
ressignificar o lugar da criança no contexto familiar e escolar. Todo ser das aprendizagens realizadas.
humano é capaz de aprender, no seu tempo. Para Weiss (1994), uma minoria de casos de fracasso escolar (10 a 20
A estrutura psíquica compreende os aspectos subjetivos do sujeito, %) necessita de atendimento clínico, por questões de história pessoal e/ou
constituídos no aparelho psíquico ou anímico, que é formado pela primeira de dificuldades cognitivas. A maioria dos casos desse tipo de fracasso são
tópica (consciente, pré-consciente e inconsciente) e pela segunda tópica relativos a questões culturais, políticas e pedagógicas da instituição escolar.
(Isso = Id, Eu = Ego e Supereu = Superego). A primeira diz respeito ao A autora acrescenta que a origem da Psicopedagogia Institucional tem a
funcionamento dinâmico e a segunda representa as suas diferentes ver com os estudos da Psicologia Social de Pichón-Rivière, da Psicologia
instâncias. Institucional de Bleger e da Análise Institucional de Lapassede.
O significado da “dinâmica estrutural psíquica” foi descrito por Para Fernández (apud BARBOSA, 2001), o espaço na instituição
Freud (1996), que a caracteriza por psicose, neurose e perversão. A perversão requer maior preparo do psicopedagogo do que o espaço da clínica. Na
é a manifestação bruta e não-recalcada da sexualidade infantil, instituição estão envolvidos o aprendente, o ensinante, as relações entre
considerada como um desvio em relação a uma norma social e sexual. ambos e seus pares, as famílias, as equipes e o próprio psicopedagogo. A
Psicanalistas americanos, em 1949, acrescentaram o estado fronteiriço, ou ação do psicopedagogo na instituição deve ser um trabalho preventivo
borderline. O estado fronteiriço situa-se, ao mesmo tempo, entre a estrutura em relação às dificuldades de aprendizagem, envolvendo toda a dinâmica
neurótica e psicótica, também conhecida como uma doença do escolar. O psicopedagogo deve ter o entendimento do Projeto Político-
“narcisismo”, hoje muito presente. Pedagógico, do Regimento e de toda a estrutura física e documental da
Freud (1996) defende que é o desejo que coloca o pensamento em instituição, intervindo nas diferentes instâncias que veiculam o
funcionamento. Ele chama de “inibição” quando há um bloqueio de alguma conhecimento, como este transita, como é apresentado aos alunos, avaliado,
função do eu (ego). As funções do eu (ego) são estas: perceber, pensar, transformado, enfim, analisando os processos e as modalidades de ensinar
planejar, lembrar, decidir e prestar atenção. Esta última nos leva a e de aprender. Além disso, deve observar como ocorrem as relações de
questionar que o tão falado “Déficit de Atenção” pode ser uma questão poder, o que interfere nas relações interpessoais dos diferentes grupos e
psíquica e não apenas neurológica, como muitos defendem. como estes procuram dar conta dos conflitos do dia-a-dia.
Para Lacan (apud BRASIL, 2005), a “debilidade” diz respeito à maneira Através do Projeto Político-Pedagógico e da prática educativa, a
como a pessoa lida com o saber, ou seja, querer saber ou não saber algo. instituição persegue determinados princípios e concepções. As concepções
Lacan define como patologia quando o sujeito “se fixa numa posição débil, de ensino e aprendizagem mais utilizadas nas últimas décadas são o
recusando-se a qualquer apropriação do saber.” Nesses casos, é fundamental empirismo (abordagem comportamentalista), o apriorismo (abordagem
examinar o “lugar” que essa criança ocupa no meio familiar. Às vezes, como humanista) e o interacionismo (abordagem cognitivista e histórico-
destaca Mannoni (1999), ocupar o lugar de débil é a única alternativa para cultural).
a criança sentir-se viva nessa família. No consultório, observamos, com A Psicopedagogia Institucional abrange vários contextos, podendo
freqüência, que uma melhora significativa na aprendizagem de uma criança, ser oferecida na escola, na empresa, no hospital, na família. O objetivo,
principalmente se for portadora de necessidades educacionais especiais nesses contextos, pode ser examinar como ocorrem as relações interpessoais,
(PNEE), deixa a família atrapalhada, porque o “débil”, muitas vezes, ocupa como os conhecimentos circulam, que alternativas são pensadas para
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determinados conflitos. Assim, por exemplo, no trabalho hospitalar, podem constatamos que o tempo na instituição é bastante exíguo, o trabalho
ser oferecidas oficinas ou trabalhos lúdicos para os internos. Com as famílias atualmente está mais direcionado a um grupo, conforme a demanda.
pode ser oportuno um trabalho sobre a importância das funções materna e Em 2007, o estágio de Psicopedagogia Institucional foi realizado em
paterna, resgatando-se o papel educacional da família, hoje tão esquecido. escolas estaduais de Porto Alegre e da Grande Porto Alegre; escolas
Na escola, o psicopedagogo pode analisar a identidade da instituição, os municipais de Viamão, Gravataí, Sapucaia do Sul e escolas particulares
papéis e as funções na dinâmica relacional, os conceitos de aprendizagem, de Porto Alegre, perfazendo um total de 22, sendo uma de educação infantil;
ensino, inclusão; o diálogo com as famílias, etc. dez de ensino fundamental, quatro de ensino médio e sete da EJA.
Portanto, nesses diferentes contextos da escola, da empresa, da As principais demandas indicadas e confirmadas após o diagnóstico
família, do hospital, para cada situação conflitiva diagnosticada pelo envolvem as categorias apresentadas no Quadro a seguir.
psicopedagogo, torna-se imprescindível pensar, planejar, pesquisar e
executar, com o grupo envolvido, um plano de intervenção que possa Demanda Número de ocorrência por escola
ressignificar o que atrapalha o bem-estar. Nesse caso, o papel do Indisciplina 08
psicopedagogo é o de “mediar” ou “ensinar a pensar” as alternativas para Relações interpessoais afetadas 07
determinada situação. Transição da 4ª para 5ª Série 03
Laboratório de aprendizagem 02
3 Psicopedagogia Institucional: a realidade nos estágios Desenvolvimento moral e cognitivo 01
Repensar sobre a educação infantil 01
Nessa seção, pretendemos descrever e analisar as principais A (in)disciplina foi diagnosticada como uma característica com
categorias apontadas pelas escolas. Estas categorias foram indicadas como maior evidência, uma vez que a “violência” é um dos assuntos mais
a demanda mais urgente, nas instituições onde os estudantes do curso de veiculados pelos meios de comunicação na atualidade. O tema dessa
Psicopedagogia da FAPA realizaram os seus estágios, em 2007. primeira categoria será aprofundado posteriormente, tentando entender
Após a disciplina teórica de Psicopedagogia Institucional, os alunos o que leva a pessoa a essa atitude ou conduta de transgressão.
iniciam o estágio, visitando a instituição onde pretendem realizar a Na segunda categoria, envolvendo a Educação de Jovens Adultos –
pesquisa. A equipe diretiva da instituição indica para a pesquisa algum EJA, a demanda tem a ver com as relações interpessoais afetadas (professor–
grupo com maior necessidade de intervenção psicopedagógica. aluno ou entre os alunos), envolvendo desinteresse, falta às aulas, mútuo
Normalmente isto envolve alguma(s) série(s) ou grupo de professores. Para desrespeito, o que gera, de certa forma, falta de disciplina para uma
a avaliação psicopedagógica institucional, o estagiário, além da adequada aprendizagem. Os professores, muitas vezes, não acreditam que
observação e de entrevistas, pode utilizar algum instrumento compatível cada um pode aprender, sendo que o conteúdo precisa ser condizente com
com a demanda indicada. Por exemplo, pode aplicar dinâmica de grupo, as possibilidades do aprendiz naquele período da construção de suas
teste projetivo (par educativo, desenho prognóstico de eu agora e eu daqui aprendizagens. Lembramos que os alunos que buscam a EJA estão
a 10 anos, desenho livre, etc.), ditado balanceado, provas piagetianas, resgatando um tempo não bem aproveitado em outra ocasião, por falta de
vínculo professor/alunos, etc. condições, de interesse ou até de persistência no estudo. Como sabemos,
Após o período de coleta de dados, da avaliação psicopedagógica o estudo exige tempo, dedicação, muito empenho e as gratificações
institucional, o estagiário realiza a tabulação e a análise dos dados, para intensificam-se com a maior apropriação do conhecimento.
chegar a um diagnóstico e poder levantar quais as hipóteses, ou seja, o Na terceira categoria, encontramos o tema da transição da 4a à 5a
que está contribuindo para que a demanda manifeste-se. Em seguida, série do ensino fundamental, que foi investigado em duas escolas estaduais
elabora um plano de intervenção psicopedagógico, contendo a e em uma escola particular de Porto Alegre. É um tema antigo, mas ainda
justificativa, os objetivos e a operacionalização da intervenção para o está presente nas escolas. O aspecto que pode estar contribuindo é o número
grupo, que pode ser de alunos, professores e/ou famílias. Além do Plano de de professores que aumenta, a maioria atendendo o aluno de uma forma
Intervenção, a instituição pesquisada recebe do estagiário, ao final do mais ampla, num período menor que o das séries iniciais, bem como a
processo, uma fundamentação teórica referente à situação diagnosticada. maior preocupação com os objetivos e conteúdos da série. Os alunos
Lembramos que os estagiários da FAPA, até 2005, realizavam uma necessitam de organização maior dos materiais das diferentes disciplinas,
pesquisa mais abrangente, envolvendo aspectos da estrutura física e o que, muitas vezes, é um grande desafio para assumir o estudo com mais
documental da instituição, além do grupo específico. Porém, como responsabilidade. Além disso, o aluno, em seu desenvolvimento bio-
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psicossocial e sexual, está atravessando uma etapa muito intensa, na qual Faremos a análise das duas categorias de forma conjunta, porque muitas
os hormônios estão em maior ebulição; o crescimento físico chega a ser um vezes a (in)disciplina manifestada nas séries posteriores tem a ver com
estiraço, em muitos casos; os jogos corporais entre os pares passam a ser “falhas” na primeira infância. A escolha dessas duas categorias, entre as
freqüentes, como que experimentando as sensações e os sentimentos com demais, deve-se ao fato de a indisciplina ter sido a queixa mais freqüente
a reação do outro, bem como confirmando a identidade sexual. das escolas visitadas pelos estagiários. A educação infantil, mesmo que
A quarta categoria refere-se à necessidade de organizar, numa escola tenha aparecido apenas em uma das escolas visitadas pelos estagiários de
particular e numa estadual, um laboratório de aprendizagem, para Psicopedagogia Institucional da FAPA, refere-se a uma etapa fundamental
enfrentar o fracasso escolar. Não é raro ouvirmos, especialmente de da constituição do sujeito, sendo assim um período de desenvolvimento
professores de escolas públicas do ensino fundamental, que alunos bio-psicossocial e sexual, que marca a estrutura de identidade desse sujeito.
freqüentando 3a, 5a ou até 8a série apresentam leitura muito ineficiente ou Como sabemos, praticamente todas as concepções psicológicas defendem
que lêem, mas recusam-se a escrever. Como a escrita é simbólica, fica que a estrutura da “personalidade” forma-se nos primeiros seis anos de
complicado registrar, no papel, o pensamento, uma vez que a identidade vida; a adolescência é a confirmação dessa identidade, iniciada antes do
sexual ainda está muito confusa, com as questões edípicas conturbadas. nascimento.
Rappaport (1981, p.40), analisando as dificuldades acentuadas de escrita,
mostra que “Se seu sexo não teve uma marca simbólica configuradora, 3.1. A indisciplina e o repensar a prática da educação
como marcar o papel com seu pensamento? A dislexia pode estar como o
sintoma, o símbolo, o enigma proposto por um eu que busca se configurar,
infantil
mas não pode.” Sem falar das quatro operações matemáticas, nas quais,
desde o valor posicional do número, algumas crianças ficam confusas. Em Que mudanças têm ocorrido para a indisciplina/violência ser mais
sua maioria, estas operam no estágio infralógico, ou seja, pré-operatório. freqüente e em maior intensidade? Por que o fenômeno Bullying nas escolas?
A quinta categoria aponta o desenvolvimento moral e cognitivo. O Em que tipo de família a criança nasce hoje? Como são exercidas as funções
estágio em questão foi realizado numa 2a série, de uma escola particular de materna e paterna? Como está acontecendo a formação continuada dos
Porto Alegre. A queixa da professora referia-se aos alunos distantes, professores? Qual o investimento financeiro das Secretarias Municipais e
desinteressados, agitados, sendo difícil para ela poder desenvolver suas Estaduais de Educação? Em que medida os meios de comunicação, a mídia,
aulas. A estagiária verificou algumas situações de aprendizagem (escrita, o mundo globalizado auxiliam na constituição do sujeito? Quais as
cálculo, entre outras), bem como observou as relações professor/aluno e principais patologias e qual o reflexo delas em sala de aula? O que, disso
entre os alunos em algumas aulas. A partir do diagnóstico e das hipóteses, tudo, faz parte da natureza humana?
a estagiária elaborou um plano de intervenção e o fundamentou São muitas as indagações que nos surgem. Se voltarmos um pouco
teoricamente. Seu caminho foi aprofundar o desenvolvimento moral e no tempo, percebemos que as mudanças, no final do século XX, foram
cognitivo, a partir da teoria de Piaget, criando várias historietas para gigantescas. Por exemplo, na década de 1970, a televisão começou a fazer
ajudar as crianças a decidir e a tomar maior consciência sobre fatos do parte da maioria dos lares, porém com programas controlados pela
dia-a-dia. Além disso, resgatou a história de Pinóchio–Gepetto, censura brasileira. Na década de 1980, a moda trouxe o videogame e o
fundamentada em Corso e Corso (2006). videocassete e, com este último, o número de filmes “pornôs” cresceu nacional
A última categoria aponta para repensar a prática docente da e internacionalmente. O que era mais censurado/proibido para crianças
educação infantil. Em estágio realizado numa pequena escola particular até então passou a ser explícito nas novelas de qualquer horário. Na década
de Porto Alegre, a demanda indicada referia-se ao trabalho e ao de 1990, entraram as televisões a cabo, o computador tornou-se mais
planejamento mais integrados e partilhados entre as professoras de níveis difundido. As escolas particulares passaram a oferecer cursos a seus
iguais. Esse tema será retomado posteriormente. Enfatizaremos, professores para maior domínio da “máquina”. A comunicação via Internet
basicamente, a criança do século XXI, bem como os aspectos que devem cada vez mais vai preenchendo os intercâmbios das relações humanas.
ser observados na constituição do sujeito e qual o papel da escola, a partir As crianças das últimas décadas nascem informatizadas, ou seja, desde
dessa realidade. cedo dominam o mundo virtual.
Até aqui fizemos apenas um breve comentário, inclusive superficial, Com tudo isso, a família também tem mudado muito. Segundo
das categorias analisadas pelos estagiários da Psicopedagogia Roudinesco (2003), há três momentos históricos. O primeiro momento é
Institucional, do ano de 2007. Nossa intenção, a partir de agora é aprofundar denominado de “família tradicional”, em que os casamentos davam-se a
as categorias de “(in)disciplina” e “repensar a prática da educação infantil”. partir de arranjos entre os pais dos noivos. O objetivo principal era a
316 Ciênc. let., Porto Alegre, n. 43, p. 309-327, jan./jun. 2008 Ciênc. let., Porto Alegre, n. 43, p. 309-327, jan./jun. 2008 317
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transmissão de um patrimônio. Nessa época, a família tradicional necessária passagem de Narciso a Édipo”. E acrescenta “as frustrações
encontrava-se submetida à autoridade patriarcal, de ordem imutável. No promovem um estímulo às funções do ego da criança, especialmente a
segundo momento, do final do século XVIII aos meados do XX, o amor formação da capacidade de pensar.”
romântico e a lógica afetiva passaram a vigorar na “família moderna”. A Mas o que significa a afirmativa de Winnicott (1982) citada
atribuição de autoridade ficava dividida entre o Estado e os pais. Na anteriormente, “o amor primitivo tem uma finalidade destrutiva”? Essa
“família contemporânea”, a partir dos anos 1960, as relações são “enquanto frase nos remete ao conceito de Freud de pulsão de morte. As pulsões são
durar o sentimento que os une”. A questão da autoridade fica cada vez forças existentes para além do aparelho psíquico e são a “causa última” de
mais problemática, em função das recomposições conjugais. Para Bauman toda atividade psíquica, a qual se situa nos limites do corpo e do psiquismo.
(2004), as relações são cada vez mais flexíveis, tecidas e desmanchadas Para Garcia-Roza (2004), “a pulsão de morte é concebida como
com igual facilidade. Isso traz, como conseqüência, maior nível de vontade de destruição”. Conforme o autor, Freud dez anos após o livro
insegurança nos relacionamentos. Os laços afetivos são mais frágeis. O Além do princípio do prazer, em O mal-estar da cultura, afirma a
autor inclusive os chama de “amor líquido”. autonomia da pulsão de morte, entendida como pulsão de destruição.
Apesar das grandes mudanças nas últimas décadas, que, com certeza, Garcia-Roza (2004, p. 144) acrescenta que “Enquanto pura potência, a
têm trazido muitos benefícios em relação ao tempo, à amplitude de pulsão é vazia de forma, de sentido, não é nem sexual nem agressiva, nem
contatos, à veiculação das informações, etc., não podemos esquecer que, de sociabilidade, mas pulsão, pura e simplesmente.”
para Winnicott (1982), a criança, nas primeiras fases do desenvolvimento Em seu livro, Garcia-Roza (2004) analisa “O mal radical em Freud”,
emocional, precisa viver num círculo de amor e de conforto “estável”, descrevendo a natureza humana, a partir dos filósofos, desde Platão até a
pois sua personalidade não está integrada ainda e o “amor primitivo tem Psicanálise. Aponta que, para Kant, a tese do “mal radical” é ser uma
uma finalidade destrutiva” (WINNICOTT, 1982, p. 257). Nesse período, a tendência, uma propensão ao mal. O homem sabe da lei moral, mas a
criança precisa aprender a tolerar frustrações, a conhecer a realidade transgride. A isso Kant chama de propensão à transgressão. Freud, porém,
interna e externa, a estabelecer vínculos de continuidade. Caso contrário, retoma essa questão e cria o conceito de pulsão de morte, afirmando que é
no futuro, essa criança poderá sentir medo de seus próprios pensamentos, uma “pulsão de destruição”. Lacan, em O seminário, 30 anos mais tarde,
de sua imaginação, e não tolerar as menores frustrações do dia-a-dia. caracteriza o “mal radical” como “vontade de destruição”, a qual pode ser
Além disso, esse sujeito, para constituir-se, necessita, segundo concebida também como vontade de recomeçar, de criar e recriar.
Winnicott (1983), de uma mãe “suficientemente boa”, que gratifica numa Segundo Garcia-Roza (2004, p. 160), em O mal-estar na cultura, Freud
medida acertada, nem de mais, nem de menos, que se ocupa com esse bebê aponta a destrutividade como a “fonte do sentimento de culpa”: “Da tensão
e lhe possibilita o desenvolvimento sadio do seu self ; uma presença entre o supereu tirânico e o eu que a ele se submete, resulta o sentimento de
continuada da mãe que atenda as necessidades básicas do bebê. Porém, culpa.” Assim, o sentimento de culpa pode ser entendido como uma reação
essa presença, com o passar do tempo, precisa ser intercalada com a à destrutividade, à maldade presente no ser humano.
ausência, para que o bebê compreenda que quem se ausenta vai reaparecer Mas, então, podemos dizer que sentir culpa faz parte da passagem
daqui a pouco. Esse é um passo importante para a independência, para o da criança biológica/ natural para a criança de uma cultura, de uma
fortalecimento do eu, bem como para as progressivas desilusões do bebê. civilização, passagem do Narciso para o Édipo?
Segundo Bion (apud ZIMERMAN, 1999), a mãe precisa ser continente Freud, em Introdução sobre o narcisismo (1996), descreve “o objeto
às angústias do bebê, devendo devolvê-las desintoxicadas, transformadas, de amor escolhido pelo bebê”: a mulher que o alimenta e o homem que o
decodificadas e nomeadas no entendimento do bebê. Assim, num pequeno protege. É isso que a pessoa teme perder, esses imagos introjetados, uma
acidente caseiro, a mãe tranqüiliza a criança - “isso vai passar ou sarar angústia frente à perda do amor. Essa angústia obriga a criança a uma
logo mais”- , isto é, a mãe não se apavora com situações do dia-a-dia. renúncia pulsional. A cada renúncia alimenta a consciência moral,
Mas para a constituição desse sujeito, essa mãe precisa nomear o tornando-a mais severa. Portanto, o sentimento de culpa representa um
terceiro, o pai, que até agora foi mais uma proteção a ela. Nomeá-lo para conflito ambivalente da luta entre Eros e a pulsão de morte.
que ocupe o lugar e as funções que cabem a ele desempenhar. Uma das Mas como fica o “sentimento de culpa” ou a “consciência moral”,
funções do pai é a da lei, da interdição a essa relação mãe-bebê, bem como quando a frase mais comumente utilizada hoje é “não dá nada”? O que o
às fantasias edípicas que afloram durante a primeira infância. adolescente denominado pelos professores de “indisciplinado” quer dizer,
Para Zimerman (1999, p. 107, grifo nosso em itálico e do autor em muitas vezes, em sua linguagem pré-verbal?
negrito), “é o pai que no papel de ‘terceiro’, interpondo-se como uma cunha Não podemos generalizar, mas é fato que, atualmente, há
normatizadora e delimitadora entre a mãe e o bebê, irá propiciar a desencontro entre alguns professores e alunos, principalmente nas
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realidades visitadas por um expressivo número de estagiários de A falha na função paterna faz-se tão presente que, conforme
Psicopedagogia Institucional, em 2007. Quem é esse sujeito do século XXI, exemplifica Adriano Duarte (2007), 71% dos internos do Centro de
o que a educação infantil e o ensino em geral podem fazer? Atendimento Socioeducativo (CASE) de Caxias do Sul – RS não tiveram a
A psicanalista, representante da Europa para a International presença paterna durante a primeira infância e a adolescência.
Psychoanalysis Associaton (IPA), Marília Aisenstein (apud ROCHA, 2006, Ainda nesse sentido, Outeiral (2007) chama atenção para os
p. 40), em resposta à pergunta se a estrutura familiar, no mundo “Adultos: uma espécie em extinção”. Assim, as crianças e os adolescentes
contemporâneo, mudou, afirma que sim: “estamos diante de uma sociedade têm dificuldades em encontrar com quem fazer suas identificações
sem pai, a autoridade familiar está destruída, o que, no meu ponto de estruturantes e saudáveis. Acrescenta ele em seu artigo que “No embate
vista, não mudou a teoria de Freud, mas muda a organização psíquica de entre civilização e barbárie, esta última está com evidente vantagem.”
muitos jovens, o que pode gerar pessoas com mais dificuldades, mais casos Talvez o fenômeno bullying, tão freqüente nas escolas, seja um exemplo
limítrofes etc.” E acrescenta que uma das descobertas fundamentais de deste encaminhamento para a barbárie. Bullying é uma prática de violência
Freud é “como a sexualidade infantil influencia a organização psíquica e o nas relações interpessoais, provocando sistematicamente um sofrimento
processo de pensamento.” físico ou psicológico. Esse comportamento toma várias formas, desde
Segundo Rocha (2006), a psicopatologia tem a ver com a história e a violência física a ameaças verbais, intimidação, exclusão do grupo. O
cultura em que estamos inseridos, há uma manifestação de sintomas, e, na alvo pode ser apenas uma pessoa ou um pequeno grupo, mas, de qualquer
atualidade, o que mais ocorre são problemas de adição (drogas), distúrbios forma, com poucas condições de se defender. Bullying é uma expressa inglesa,
alimentares (obesidade, anorexia, bulimia), doenças psicossomáticas na qual bully significa “valentão”.
relativas aos processos mais primitivos da organização psíquica. Esses Tudo indica que a passagem de Narciso para Édipo tem-se
sintomas diferem das doenças neuróticas, uma vez que, nas patologias modificado. Para Nasio (2007), o Édipo atinge todas as crianças de três a
atuais, há = pobreza nos processos de simbolização. Para Rocha (2006, p. seis anos de idade, caracterizando-se por fantasias, desejos e identificações.
36), “O corpo fala de algo que o psiquismo não consegue nomear ou Inicia com a sexualização dos pais pela criança e acaba com a
expressar com palavras”. O que é denominado de “patologia do vazio”. A dessexualização, sendo que essa última organiza a identidade sexual
maioria das patologias da atualidade não são produzidas por um “recalque adulta. Para a dessexualização dos pais ocorrer são necessários três
das fantasias edípicas”, da sexualidade infantil; são relativas à falha na processos na organização edípica. As fantasias e os desejos edípicos
capacidade de o bebê processar suas angústias primitivas, pois, muitas precisam ser interditados pelo genitor, impedindo a realização do incesto,
vezes, elas não estão sendo nomeadas e os vínculos estão sendo muito pois esse não pertence à organização social humana. Com a interdição, as
passageiros, sem continuidade ou escassos. fantasias e os desejos ficam recalcados, a criança identifica-se com o genitor
Parece que estamos nos encaminhando para uma cultura narcísica, do mesmo sexo e sublima as fantasias e os desejos sexuais. O essencial da
na qual o corpo é hipervalorizado. As crianças, antes de poderem crise edipiana é aprender a canalizar esses desejos e essas fantasias
compreender, vivenciam cenas sexuais, tendo acesso livre à Internet ou à transbordantes para atividades sociais, culturais e intelectuais. Porém,
televisão, o que as deixa erotizadas. A busca do conhecimento não lhes com as falhas na função paterna constatadas na atualidade, o processo de
provoca o desejo de saber. As fantasias, tão próprias do mundo infantil, pensamento e a organização psíquica funcionam de forma bastante
ficam embotadas. Com o mundo dos adultos à disposição da criança, não primitiva.
lhe falta nada que possa desejar. O desejo brota da falta, não há mais um Para Levisky (2006), estamos vivendo um período de “genocídio de
“fruto proibido a desejar”. Assim, a individualidade não será mais almas”, no qual crianças e adolescentes não estão podendo contar com
perseguida como outrora, marcar a diferença já não é tão importante, vínculos afetivos mais sólidos, mas os vínculos são fundamentais para a
basta a massificação: “todo mundo faz, todos são assim”. constituição do sujeito; inclusive afetam o desenvolvimento do potencial
Monteiro (2007, p. 117, grifo do autor), analisando “o mal do século” afetivo, cognitivo, conativo, criativo e reparador.
destaca: A educação deverá ocupar, com urgência, seu papel. Carvalho (2007),
em seu artigo Entre o divã e a sala de aula, esclarece, em primeiro lugar, a
No momento em que, a versão patriarcal não mais se
sustenta, porém, a perversão surge como via de saída, diferença entre Psicanálise e Educação. A Psicanálise lida com o inconsciente
mas ao mesmo tempo, encurrala o homem em sua própria do sujeito, com o imprevisível, o não-planejado e, muitas vezes, o não-
angústia. A angústia de se saber dono e senhor absoluto pensado. A Educação lida com o previsto, com o planejado. Ela necessita
do nada que pretende alcançar e controlar, mas que lhe
escapa, impreterivelmente, sem lhe deixar a sensação de atentar para a construção civilizatória, lidar com a consciência e a razão
novas possibilidades. do sujeito. Sua metodologia prevê ordem, estabilidade, previsibilidade,
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mesmo sendo o planejamento algo flexível. Psicanálise, o brincar e o jogar são formas utilizadas pela criança para
Sem dúvida, Psicanálise e Educação são áreas muito distintas, mas dramatizar, descarregar, comunicar suas fantasias, bem como uma
a Psicanálise pode auxiliá-la a entender o que o sujeito necessita para se possibilidade de elaborá-las. O brincar é necessário porque o eu (ego)
constituir e a Educação não deixar de exercer o seu papel. A instituição primeiro é corporal, implica o auto-erotismo, ou seja, o bebê brinca com
escolar é a “segunda família” para a criança, ou seja, como diz Winnicott partes de seu corpo e, em seguida, o eu (ego) nasce, o que é caracterizado
(2005), se a família falhar, a escola é a segunda oportunidade para a criança como o “narcisismo”. O narcisismo divide-se em primário e secundário.
estabelecer seus vínculos e aprender a viver em sociedade, se a escola No narcisismo primário, predomina a onipotência denominada de “eu
falhar, resta a sociedade ou o juiz. ideal” que funciona no registro imaginário. O narcisismo secundário
Nas palavras de Carvalho (2007, p. 312-313), “a Educação precisa corresponde a ser reconhecido pelos e aos outros; é a etapa do “ideal do eu”
ainda produzir o represamento moral do inconsciente, estabelecendo e funciona, no registro simbólico, como projeto de vir a ser, com obrigações
normas para coibir o indivíduo. Esse é o caminho para a civilização.” e expectativas para um projeto de vida, ou seja, o que era biológico
Acreditamos que não faltam recursos para a Educação pôr em prática transforma-se em cultural. Para Winnicott (1975), o prazer no brincar é
as mudanças necessárias. Por exemplo, um recurso fantástico para a um indicador de saúde de quem brinca e a criança desatenta tem um
educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental é o trabalho déficit no brincar.
com os contos infantis. As crianças aprendem a discriminar a virtude da Como a criança de hoje nasce num mundo virtual, isso requer da
parte malvada; a vislumbrar a dimensão do encantamento e do escola uma aproximação pedagógica dos avanços tecnológicos, dando
maravilhoso; a projetar suas angústias e medos; a identificar-se com os espaço ao recurso digital, a projetos de pesquisa, desde a educação infantil,
heróis; enfim, os contos, para Bettelheim (1995), têm o papel de “ajudar a aproveitando a etapa de curiosidade da criança que quer saber o porquê
criança a colocar ordem em sua casa interior.” Para isso os professores, em de tudo.
sua formação continuada, devem apropriar-se dos significados desses É importante que, na educação infantil, as atividades sejam planejadas
contos para a criança, entendendo por que eles se tornaram universais, o e combinadas a partir de uma “rotina”. Saber o que vai acontecer numa
que eles representam para o psiquismo humano. Respostas podem ser seqüência diminui a ansiedade da criança em relação ao desconhecido.
encontradas em Bettelheim (1995), Corso e Corso (2006), Gillig (1999), entre Prever espaços próprios para brincar de casinha, para o faz de conta;
outros. espaço para desenhar/pintar, outro para jogar; espaço para o teatro, a
Outra atividade de que a escola não pode abrir mão é refletir, a fantasia, a cozinha, a informática; espaço do(s) espelho(s), que ajuda na
partir de reuniões e seminários, sobre as mudanças na realidade e buscar conquista da representação de si: a imagem é ela, mas não é ela. Esses
alternativas entre professores e/ou com as famílias que atende, analisando diferentes espaços auxiliam na estruturação psíquica e mental da criança.
o que cabe à família e o que compete à escola quanto à formação do sujeito. Além disso, reforçam o espaço simbólico, ou seja, aquela atividade acontece
Além disso, para poder aprender, é necessário um ambiente de respeito sempre naquele lugar. Em todos esses espaços é fundamental que os
mútuo (professor-aluno e entre alunos), de diálogo e, por que não, de materiais/jogos que foram utilizados/espalhados, sejam devolvidos ao local
disciplina. As regras de convivência precisam ser combinadas na educação de origem. O esvaziar e não guardar reforça a dispersão interna. Não
básica (educação infantil ao ensino médio) e até na educação superior. poderíamos deixar de mencionar o espaço da “rodinha” das combinações
Nenhum projeto comunitário sobrevive sem algumas limitações aos e novidades, onde a criança aprende a se expressar no grupo, a organizar
indivíduos nele envolvidos. Para De Vries e Zan (1998), estabelecer regras as idéias, a ouvir o colega, a esperar a vez, a ouvir histórias, a aumentar o
com alunos os auxilia na tomada de decisões; favorece o respeito mútuo, a vocabulário etc.
cooperação e a auto-regulagem. Essas regras devem ser retomadas e
avaliadas com o grupo sistematicamente, decidindo o que está bem e o que 4 Conclusão
deve melhor e por quê.
A educação infantil, embora conste como fazendo parte da educação
básica, como o ensino fundamental e o ensino médio, na LDBEN 9394/96 Pelo exposto até aqui, parece que apresentamos uma realidade
não tem previstas sua obrigatoriedade e gratuidade. É lastimável que não pessimista, sem saída. Mas é justamente dessa realidade que as escolas
haja uma previsão de investimento para essa etapa do desenvolvimento visitadas pelos estagiários de Psicopedagogia Institucional de 2007
da criança, a mais propícia para “semear” e organizar as três estruturas – manifestaram suas queixas, pedindo alternativas. Falamos de uma parte
a biológica, a psíquica e a mental. da sociedade, principalmente de uma parcela que parece encontrar-se
A educação infantil é o período básico para brincar. Para a “atrapalhada”. Talvez seja um reflexo do próprio meio ambiente que está
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em perigo ou com o tempo contado, se não houver uma grande mudança. do grupo; analisar onde a pulsão de morte atua de forma apenas destrutiva
Isso, possivelmente, também está afetando os projetos de futuro desses e sem possibilidade do novo, do recriar e do recomeçar. Além disso, dar
jovens. atenção à “identidade” dessa instituição: qual sua história, o que há de
Porém, não podemos esquecer que uma grande parte das crianças e significativo nela, o Projeto Político-Pedagógico e o Regimento. Para
dos adolescentes reconhece na escola um lugar gostoso de estudo e de Butelman (1998), o “ato de recordar como uma forma de apropriação dos
encontros com colegas e professores. atos executados; é uma forma de apropriar-se psiquicamente das
É salutar que o espaço oferecido para ensinar e aprender seja instituições.”
acolhedor, limpo, organizado, que os corredores e paredes falem por si só. Finalizando, queremos enfatizar que o Psicopedagogo pode fazer
Ou seja, a escola pode ter alguns espaços/paredes, com registros da história muita diferença numa instituição, com uma escuta e um olhar mais sensível
da instituição: fotos, pequenos textos, quadros. Oferecer salas ambiente, quanto às demandas de professores, alunos e famílias. Lembramos que, no
com todo material possível e imaginável sobre Artes, Matemática, Línguas, Rio Grande do Sul, o serviço ainda é pouco conhecido; porém, em outros
Informática, História, Filosofia, bem como Ludoteca e Biblioteca com bom estados brasileiros, há muita procura, principalmente, para os serviços
acervo também é importante O espaço da educação infantil, com corredores de assessoramento às instituições. Cremos que o psicopedagogo na
decorados com contos infantis, onde cada conto possa retratar situações e instituição pode contribuir significativamente, lembrando que, conforme
etapas da evolução psíquica da criança, igualmente merece destaque. Além um pensamento de Einstein, (cujas referências não conseguimos recuperar),
disso, um vínculo saudável e um grau de empatia são fundamentais, como “A mente que se abre a uma idéia, jamais voltará ao seu tamanho original.”
nos lembra Fernández (2001, p. 30): “Mais do ensinar (mostrar) conteúdos
de conhecimentos, ser ensinante significa abrir um espaço para aprender. Recebido em março de 2008.
Espaço objetivo-subjetivo em que se realizam dois trabalhos: a) construção Aprovado em abril de 2008.
de conhecimentos; b) construção de si mesmo, como sujeito criativo e
pensante.” Sem dúvida, um trabalho efetivo na educação infantil e nos Title: Institutional Psychopedagogy and Childhood Education
anos iniciais do ensino fundamental com os “contos infantis” ajudaria a
criança a discernir entre fantasia e realidade, o bem e o mal; trabalharia a Abstract
imaginação; abriria um leque de sugestões para poder elaborar os conflitos Our article aims at analyzing two areas of Psychopedagogy as well as emphasizing the
do dia-a-dia. importance of the educational practice in the Childhood Education, as a fundamental
A escola, em seu Projeto Político-Pedagógico, deve prever e aplicar, period to the constitution of the human being. The first part examines the history and the
meaning of Clinical and Institutional Psychopedagogy, since the Post-graduation course of
em sua prática, uma intenção na construção de um projeto de vida, no Faculdades Porto –Alegrenses (FAPA) prepares the psycho-pedagogue as a clinical and
qual as relações interpessoais saudáveis entre professores, alunos e famílias institutional specialist. The second part approaches the reality of schools in Porto Alegre
sejam privilegiadas. Às vezes, investimos muito no planejamento de and Great Porto Alegre, where the practical work in Institutional Psychopedagogy was
carried out, in 2007. We intend to analyze the last two of the following categories: affected
conteúdos e objetivos, mas esquecemos as relações afetivas, o acolhimento interpersonal relations, transition from the 4 th to the 5 th grade, learning laboratory, moral
daquele aluno que chega pela primeira vez à escola, cheio de sonhos e and cognitive development, indiscipline, and rethinking childhood education. From this
expectativas. Até então ele estava acostumado a ser quase o centro das school demand it is important to choose theoretical reference which will indicate
alternatives to the understanding of human being, in the twenty-first century, in order to
atenções; a partir dali vai ter que dividir isso com 20 ou 25 ou 40 colegas. contribute to the formation of students more effectively.
Essa criança vai ter que se adaptar ao jeito de ser do professor e dos colegas,
aos comentários, às piadas. Acreditamos que são muitas as variáveis que Key words: Clinical and Institutional Psychopedagogy. Demand. History. Reality. Indiscipline.
and alternatives.
acompanham os processos de ensinar e aprender, que parecem infindáveis,
mas pensamos ser oportuno lembrar alguns.
Acreditamos que o psicopedagogo, na escola, exerce um papel
fundamental na criação e no aperfeiçoamento do clima relacional entre Referências
professores, alunos, funcionários e famílias, muitas vezes, sendo necessário
desmistificar a manifestação de sentimentos primitivos como a inveja, a BARBOSA, Laura M. Serrat. A psicopedagogia no âmbito da Instituição Escolar.
competição, que impedem a prática educativa; examinar com a equipe Curitiba: Expoente, 2001.
diretiva e/ou professores aspectos que são destrutivos para as relações
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interpessoais, diagnosticando e intervindo nos sintomas e/ou discursos Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
que são mantidos vivos e se repetem, não colaborando para o crescimento
324 Ciênc. let., Porto Alegre, n. 43, p. 309-327, jan./jun. 2008 Ciênc. let., Porto Alegre, n. 43, p. 309-327, jan./jun. 2008 325
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