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INTRODUÇÃO

Quando se fala em ciclo padrão a ar, não podemos deixar de lembrar das turbinas a
gás, e é por este motivo que daremos uma maior ênfase a seus princípios e utilizações em
geral.
As turbinas a gás são turbomáquinas que, de um modo geral, pertencem ao grupo de
motores de combustão e cuja faixa de operação vai desde pequenas potências (100KW até
180 MW – 350 MW no caso de nucleares), desta forma elas concorrem tanto com os
motores alternativos de combustão interna (Diesel e OTTO) como com as instalações a
vapor (Turbina a Vapor) de pequena potência.
Suas principais vantagens são o pequeno peso e volume (espaço) que ocupam. Isto
aliado à versatilidade de operação que apresentam está fazendo com que sua utilização se
encontre em ascendência atualmente. Sendo compostas de turbomáquinas (máquinas
rotativas) as turbinas a gás apresentam uma vantagem bastante grande quando comparadas
aos motores alternativos e de atrito entre as superfícies sólidas (pistão/camisa do cilindro).
Isto significa a quase inexistência de problemas de balanceamento e, ao mesmo tempo, um
baixo consumo de óleo lubrificante (uma vez que o mesmo não entra em contato direto com
as partes quentes e nem com os produtos de combustão). Disso decorre uma outra
vantagem: a elevada confiabilidade que apresentam. Além disso, quando comparadas às
instalações a vapor, as turbinas a gás praticamente não necessitam de fluido refrigerante o
que facilita muito sua instalação.
Outro aspecto bastante favorável das turbinas a gás é a baixa inércia térmica que
lhes permite atingir sua carga plena em um espaço de tempo bastante reduzido. Este aspecto
faz com que as turbinas a gás sejam particularmente indicadas para sistema de geração de
energia elétrica de ponta, onde o processo de partida e atingimento da plena carga no menor
tempo possível é de suma importância. Esta é também uma condição imprescindivel nos
sistemas “Stand-by” ou “No-Break”, onde o fornecimento initerrupto de energia é condição
básica necessária.
Normalmente se denomina Turbina a gás, o conjunto completo do motor ou a
instalação da mesma que é composta dos seguintes componentes principais: compressor
(responsável pela elevação de pressão); aquecedor do fluido de trabalho; e, a turbina
propriamente dita (elemento expansor) em que o fluido de trabalho sofre a expansão que é,
por ela, transformada em energia ou trabalho mecânico.
A construção das turbinas a gás pode ser feita da seguinte maneira:
- Instalação de potência autosuficiente com sistema de gerador de calor próprio
através da queima de combustivel (câmara de combustão) - Geração interna de
calor (ciclo aberto).
- Instalação de potência dependente com introdução de calor independente (direto
ou de rejeição) através de um trocador de calor – geração externa de calor (ciclo
fechado).
Esta possibilidade de múltipla escolha para o método de introdução de calor,
aumenta ainda mais a versatilidade de funcionamento das turbinas a gás uma vez que assim
será permitido o uso de uma grande variedade de combustíveis inclusive combustivel sólido
e, até mesmo, o uso de energia nuclear.
Seu campo de aplicação é o mais variado possivel e o mais amplo dentre os diversos
tipos de motores. Inicialmente elas foram desenvolvidas objetivando fornecimento de
trabalho mecânico. Entretanto, o desenvolvimento efetivo só ocorreu em virtude se sua
aplicação na aeronautica como elemento propulsor (reator).
Como desvantagens das turbinas a gás têm-se o baixo rendimento e a alta rotação,
fatores bastante desfavoráveis no caso de aplicação industrial.
CICLOS PADRÕES A AR

No ciclo padrão a ar, como o próprio nome já diz, é utilizado um fluido de trabalho
que não apresenta mudança de fase (por exemplo gás).
Pode-se utilizar em motores de combustão externa, porém com aplicações limitadas.
Já a aplicação de turbina a gás em associação com reator nuclear tem sido extensivamente
investigado.
Os motores de combustão interna operam segundo um ciclo aberto. Entretanto, para
analisá-los, é vantajoso conceber ciclos fechados, que se aproximam muito dos ciclos
abertos. Uma dessas aproximações é o ciclo padrão a ar que baseia-se nas seguintes
hipóteses:
1. O fluido de trabalho é uma massa fixa de ar e este ar pode ser sempre
modelado como um gás perfeito. Assim não há processo de alimentação e descarga.
2. O processo de combustão é substituído por um processo de transferência de
calor de uma fonte externa.
3. O ciclo é completado pela transferência de calor ao meio envolvente (em
contraste com o processo de exaustão e admissão num motor real).
4. Todos os processos são internamente reversíveis.
5. Usualmente é feita a hipótese adicional de que o ar apresenta calor
específico constante.
O principal mérito do ciclo padrão a ar consiste em nos permitir examinar
qualitativamente a influência de várias variáveis no desempenho do ciclo. Os resultados
obtidos no ciclo padrão a ar, tais como rendimento e a pressão média efetiva (pressão que,
ao agir no pistão durante todo o curso do motor, realiza um trabalho igual ao realmente
realizado no pistão), diferirão consideravelmente daqueles relativos ao motor real. A
principal ênfase é dada aos aspectos qualitativos.
O trabalho em um ciclo é determinado pela multiplicação da pressão média efetiva
pela área do pistão (menos a área da haste) e pelo curso do pistão.
CICLO DE BRAYTON

Um ciclo pode ser considerado de Brayton quando o fluido de trabalho não


apresenta mudança de fase (o fluido está sempre na fase vapor). O ciclo de Brayton é o
ciclo ideal para turbina a gás simples.
A figura 1 mostra o diagrama esquemático de uma turbina a gás simples de ciclo
aberto que utiliza um processo de combustão interna e a de uma turbina a gás simples de
ciclo fechado, que utiliza dois processos de transferência de calor.

Figura 1 - Turbina a gás que opera segundo o ciclo de Brayton


a) Ciclo aberto b) Ciclo fechado

O rendimento do ciclo padrão Brayton pode ser determinado do seguinte modo:

QL 1
térmico  1  térmico  1 
QH   P2 
 K 1
K
 
 P1 

O rendimento do ciclo padrão Brayton pode ser determinado do seguinte modo:


O rendimento do ciclo padrão a ar Brayton é função da relação de pressão
isoentrópica. O fato de o rendimento aumentar com a relação de pressão torna-se evidente
analisando o diagrama T–S da figura 2. Aumentando-se a relação de pressão, o ciclo muda
de 1-2-3-4-1 a 1-2´-3´-4-1. Esse ultimo ciclo tem um fornecimento de calor menor e o
mesmo calor rejeitado do ciclo original e, portanto apresenta um rendimento maior.
Figura 2 - Ciclo padrão a ar Brayton
Diagrama P – V e Diagrama T - S

Observa-se, além disso, que o último ciclo opera com uma temperatura máxima
maior (T´3) do no ciclo original (T3). Numa turbina a gás real a temperatura máxima do gás
que entra na turbina é fixada por considerações metalúrgicas. Portanto, se fixarmos a
temperatura T3, e aumentarmos a relação de pressão, o ciclo resultante é 1-2´-3´´- 4´´-1. Esse
ciclo teria um rendimento maior do que o ciclo original, mas há mudança do trabalho por
quilograma de fluido que escoa no equipamento.
A turbina a gás real difere do ciclo ideal, principalmente, devido às
irreversibilidades no compressor e na turbina, devido à perda de carga nas passagens de
fluído e na câmara de combustão (ou no trocador de calor de uma turbina de ciclo fechado).
Assim os pontos representativos dos estados de uma turbina a gás real, simples e de ciclo
aberto podem ser mostrados na figura 3.

As eficiências do compressor e da turbina são definidas em relação aos processos


isoentrópicos. As definições das eficiências para o compressor e turbina, utilizando os
estados indicados na figura 3, são os seguintes:
Wideal
comp  Wcomp _ ideal  h2S  h1 e
Wreal
Wcomp _ real  h2  h1
h2s  h1
comp 
h2  h1
W
turb  real Wturb _ ideal  h3  h4S e
Wideal
Wturb _ real  h3  h4

h3  h4
turb 
h3  h4S

Uma outra característica importante do ciclo de Brayton é que o compressor utiliza


uma grande quantidade de trabalho na sua operação (em comparação ao trabalho gerado na
turbina). A potência utilizada no compressor pode representar 40 a 80% da potência
desenvolvida na turbina. Isso é particularmente importante quando se considera o ciclo real,
porque o efeito das perdas é de requerer uma quantidade maior de trabalho no compressor e
realizar menor quantidade de trabalho na turbina. Assim, o rendimento global diminui
rapidamente com a diminuição das eficiências do compressor e da turbina. De fato, se essas
eficiências caírem abaixo de aproximadamente 60%, será necessário que todo trabalho
realizado na turbina seja utilizado no acionamento do compressor e o rendimento global
será zero. Isto está em nítido contraste com o ciclo de Rankine, onde é necessário somente
1 ou 2% do trabalho da turbina para acionar a bomba. A razão disto é que, para um processo
em regime permanente com variação desprezível de energias cinética e potencial, o trabalho

é igual a   vdp . Isto demonstra a vantagem inerente do ciclo que utiliza a condensação
do fluido de trabalho, pois o volume específico da fase vapor é muito maior que o da fase
líquida.
Como mencionado anteriormente, o efeito das irreversibilidades é diminuir o
trabalho realizado na turbina e aumentar o trabalho consumido no compressor. Como o
trabalho líquido é a diferença entre esses dois, o seu valor diminui muito rapidamente
quando as eficiências do compressor e da turbina diminuem. O desenvolvimento de
compressores e turbinas que apresentem eficiências altas é, portanto, um aspecto
importante no desenvolvimento das turbinas a gás.
CICLO SIMPLES DE TURBINA A GÁS COM REGENERADOR

O rendimento do ciclo de turbina a gás pode ser melhorado pela introdução de um


regenerador. Esta é uma maneira de melhorar o rendimento do ciclo, aproveitando os gases
de escape para fazer um pré – aquecimento do ar antes da câmara de combustão. Neste caso
se faz necessário o uso de um trocador de calor como mostra a figura 5. A figura mostra o
esquema do ciclo simples de turbina a gás, de ciclo aberto com regenerador, e os diagramas
p - v e T – S correspondentes ao ciclo padrão a ar ideal com regenerador.
Nota-se que no ciclo 1-2-x-3-4-y-1 a temperatura do gás de exaustão, que deixa a
turbina no estado 4, é maior do que a temperatura do gás que deixa o compressor. Assim,
calor pode ser transferido dos gases de descarga da turbina para os gases a alta pressão que
deixam o compressor. Se isso for feito num trocador de calor de contracorrente, que é
conhecido como um regenerador, a temperatura do gás de alta pressão que deixa o
regenerador, Tx , pode no caso ideal ser igual a T4 , que é a temperatura do gás que deixa a
turbina. Neste caso, a transferência de calor da fonte externa é apenas necessária para
aumentar a temperatura de Tx para T3 . Esta transferência de calor é representada pela área
x-3-d-b-x e a área y-1-a-c-y representa o calor rejeitado.

Figura de
A influência da relação 5 pressão
- Ciclo
no regenerativo ideal
ciclo simples de turbina á gás com
regenerador pode ser mostrada analisando-se o ciclo 1-2´-3´-4-1. Neste ciclo, a temperatura
do gás que deixa a turbina é exatamente igual a temperatura do gás que deixa o compressor
e portanto não há a possibilidade de se utilizar um regenerado. Isto pode ser mostrado mais
precisamente, determinando-se o rendimento do ciclo ideal da turbina a gás com
regenerador.
O rendimento desse ciclo com regeneração é obtido do seguinte modo (onde os
estados são os dados na figura 5).
Wliq Wt  Wc
térmico   q H  C p  T3  Tx 
qH qH
Wt  C p  T3  T4 
Porém, para o regenerador ideal, T4=Tx e, portanto qH = Wt . Consequentemente,
 k 1 
T  p2  k
térmico  1 1  
T3  p1 
Assim, mostramos que, para o ciclo ideal com regeneração, o rendimento térmico
depende não somente da relação de pressão, mas também da relação das temperaturas
máximas e mínimas. Nota-se também que, em contraste com o ciclo Brayton, o rendimento
diminui com um aumento da relação de pressão. A figura 6 mostra o gráfico do rendimento
térmico, para este ciclo e para T1/Tx = 0,25, em função da relação de pressão.
A efetividade, ou desempenho, de um regenerador é dada pela expressão da
eficiência do regenerador e isto pode ser melhor visualizado se nos referirmos à figura 6. O
ponto x representa o estado do gás a alta pressão que deixa o regenerador. No regenerador
ideal haveria apenas uma diferença de temperatura infinitesimal entre as duas correntes e o
gás a alta pressão deixaria o regenerador, a temperatura T x´ e Tx´ = T4. Num regenerador
real, que deve operar com uma diferença finita de temperatura, a temperatura real do gás
que deixa o regenerador, Tx , é, portanto, menor do que Tx´. A eficiência do regenerador é
dada por:
hx  h2
regen 
hx´  h2
Se admitirmos que o calor específico é constante, a eficiência do regenerador é dada
pela relação
Tx  T2
regen 
Tx´  T2
Devemos mencionar que é possível alcançar rendimentos mais altos utilizando
regeneradores com maiores áreas de transferência de calor. Entretanto, isso também
aumenta a perda de carga no escoamento (o que representa uma perda no ciclo). Assim,
tanto a perda de carga como a eficiência do regenerador devem ser considerados na
determinação do regenerador que fornece rendimento térmico máximo para o ciclo. Do
ponto de vista econômico, o custo do regenerador deve ser comparado com a economia que
pode ser obtida com seu uso.
Portanto, com a introdução da regeneração, o rendimento passa a ter também
dependência da temperatura máxima.
Mantida constante a temperatura máxima, vê-se que há um limite máximo para a
relação de pressão. Este limite é dado por:
K
T  2  K 1
   3 
 T1 
É interessante observar que o trabalho produzido pela turbina permanece o mesmo,
alterando apenas o consumo de combustível.

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