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INSTITUTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇAO EM PSICOLOGIA
Niterói - RJ
2018
ULLY CAROLINA RODRIGUES GUAHY
Niterói - RJ
2018
TERMO DE APROVAÇÃO
Niterói,........ de......................de...........
BANCA EXAMINADORA
___________________________________
____________________________________
____________________________________
Meu mais sincero obrigada aos meus amigos que tantas vezes estiveram ao
meu lado me incentivando e acreditando que eu seria capaz. Pelos aprendizados,
lágrimas e alegrias compartilhados.
Agradeço imensamente a minha família em especial meus pais. Eles que desde
sempre colocaram os estudos em primeiro lugar e não mediram esforços para me
proporcionar o acesso à educação. Sem eles certamente nada disso seria possível.
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 9
4.2 Entrevistas..........................................................................................................39
4.3 Considerações....................................................................................................51
6. CONCLUSÃO........................................................................................................59
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................61
1. INTRODUÇÃO
Desde a Revolução Industrial, início da introdução da mulher no mercado de
trabalho, até os dias atuais muitos direitos trabalhistas já foram conquistados pelo
público feminino. A constituição de 1932 através do decreto no 21.417 assegurou a
igualdade salarial entre os sexos; igualou a carga horária de homens e mulheres; e
proibiu o trabalho de gestantes nas 4 semanas que antecedem o parto e nas 4
semanas posteriores.
Além das evidências tangíveis dessa disparidade, como salários 16% menores
(IBGE) e percentual de apenas 37% de ocupação dos cargos de direção e gerência -
caindo para 10% quando se trata de comitês executivos (segundo OIT) - isso levando
em consideração que 44% das vagas formais de trabalho são ocupadas por mulheres,
tem-se também evidências que não se sobressaem de forma tão clara.
Fazendo uma alusão a esses desafios “sutis” que são encontrados pelas
mulheres dentro das organizações em 1986, em uma reportagem do Wall Street
Journal é usado pela primeira vez o termo “Teto de Vidro”. Este se refere a falsa
sensação de que é possível alcançar os níveis mais altos da cadeia hierárquica, já
que não há nada que deslegitime isso. Porém, existe uma barreira “transparente”
10
Segundo a autora Evelyn Reed (2008), em sua obra “Sexo contra sexo ou
classe contra classe”, para Marx e Engels o trabalho é fundamento de todas as
sociedades. Desde os primórdios da humanidade o homem se organiza socialmente
de modo a garantir a sobrevivência através do trabalho. O autor Ricardo Antunes em
seu livro “Adeus ao Trabalho”, corrobora com essa visão ao afirmar que “o trabalho
tem um significado essencial no universo da sociabilidade humana” (ANTUNES, 2000,
pág 91).
Nesta mesma obra, ao citar Lukács1, o autor também apresenta a perspectiva
intermediária do trabalho, isto é, ao mesmo tempo que apresenta uma inter-relação
entre homem e natureza, também distingue a passagem, do ser humano que trabalha,
do indivíduo meramente biológico para o imbuído pelo social. Com isso é inviável
desassociar o trabalho, dos indivíduos sociais.
Sendo assim, observa-se que o trabalho passa por diversas transformações
durante a história afetando diretamente a dinâmica das relações sociais
estabelecidas. Nesse contexto, o lugar ocupado pelos sexos também sofre alterações:
passamos do matriarcado ao patriarcado; da divisão sexual do trabalho a sociedade
de classes; do protagonismo social feminino a sua marginalização.
Para entendermos melhor o atual espaço ocupado pela mulher no mercado de
trabalho e como se fez essa trajetória até então, faremos um resgate da história
ontológica feminina na sociedade. Veremos que nada de natural existe nas ditas
funções sociais de mulheres e homens e o quanto a atual forma de organizar a
sociedade é fruto de interesses econômicos sustentados por aqueles que se
encontram na cadeia mais alta da hierarquia de privilégios sociais: homens
pertencentes a camadas abastadas.
Portanto, a questão da mulher está inserida em uma rede que envolve as
relações de classes na sociedade dividida entres interesses do capital e do trabalho.
Dessa forma, o foco do trabalho será a questão de como o gênero feminino,
neste contexto, reflete de forma específica as desigualdades inerentes a um
1
LUCÁKS, 1981, p.14 apud ANTUNES, 2000 p. 91
12
integral. Isto fazia com que eles ficassem longe de “casa” por longos períodos (REED,
2008, p.63 e 65).
As atividades sociais desempenhadas pelas mulheres possibilitaram uma série
de novas práticas que culminaram na Revolução Agrícola. Logo, a domesticação de
animais a partir da caça e o progresso da agricultura através da recolha de alimentos,
momento que em à terra era escavada permitindo que se tomasse conhecimento do
seu funcionamento, e isso significava aprender a plantar e semear fizeram com que a
humanidade passasse de coletora a produtora de alimento. E assim deixava de ser
nômade e transformava-se em sedentária.
A partir desse marco histórico inicia-se uma série de descobertas
protagonizadas pelas mulheres. A necessidade de produção, preparo e
armazenamento dos alimentos levam a concepção de técnicas essenciais até hoje a
humanidade. Um exemplo é o cozimento de alimentos, possível a partir do controle
do fogo; além disso, fez-se necessário também a criação de artefatos para a
preparação e armazenamento da comida. As mulheres então inventaram vasilhas,
fornos, armazéns, despensas e depósitos. Elas também passaram a distinguir
substância nocivas dos alimentos, plantas medicinais e soro antiofídico.
Observa-se a partir do relatado que e mulher nessa sociedade primitiva possuiu
papel de destaque para o desenvolvimento da ciência, da medicina e da indústria. Ao
contrário do que se prega hoje, em relação papel inferior das atividades domésticas,
socialmente destinadas às mulheres, naquela época, onde não havia tal rótulo, tais
funções desempenhadas por elas foram essenciais para a evolução da humanidade.
A figura feminina foi pioneira na química, através das técnicas para o curtume;
era responsável pela construção de templos e casas que mais tarde vieram a
impressionar missionários europeus, pois nenhum homem havia construído aqueles
edifícios, apenas mulheres; Segundo Reed (2008), transportavam cargas
extremamente pesadas, o equivalente a aproximadamente 45 quilos, enquanto
homens transportavam em torno de 27 kg.
É interessante perceber a partir desses relatos o quanto o protagonismo
feminino na história é apagado. A forma em que a história é ensinada é a partir de um
viés completamente contemporâneo, em que a estrutura social daquela época é a
mesma da atualidade. Isto é, o homem colocado como o provedor familiar,
responsável pela caça e inventor de todas as demais técnicas que possibilitaram o
14
desenvolvimento social, e a mulher, indivíduo frágil e inferior que era responsável pela
criação dos filhos e afazeres domésticos.
As mudanças advindas com a Revolução Agrícola impactaram fortemente a
posição ocupada pelas mulheres na sociedade. A partir de então, o ser humano passa
a produzir excedentes levando ao surgimento da propriedade privada e da escravidão.
Aos homens proporcionou-se uma maior participação nas atividades sociais,
impedidas anteriormente pelos longos períodos de caça. Aos poucos, foram se
apoderando das técnicas desenvolvidas pelas mulheres. Além disto, substituíram
seus antigos instrumentos de produção como arcos e flechas por gados e escravos.
Esse novo arranjo que se configurava a sociedade fez com que a medida que
os homens acumulavam riquezas, aumentavam também a importância da posição que
ocupavam na família, em relação a mulher. No entanto, ainda era exclusividade
feminina a transferência da linhagem aos descendentes, fazendo com que os homens,
ao morrerem, não conseguissem transferir seus bens aos filhos. Era necessário que
o direito materno fosse abolido e assim aconteceu. “Bastou decidir simplesmente, que,
de futuro, os descendentes de um membro masculino permaneceriam na gens, mas
os descendentes de um membro feminino sairiam dela, passando à gens de seu pai”
(ENGELS, 2010, p.76).
A fidelidade feminina passa a ser uma imposição, assim como a monogamia,
apenas para as mulheres.
O desmoronamento do direito materno foi a grande derrota histórica do sexo
feminino em todo o mundo. O homem apoderou-se também da direção da
casa; a mulher viu-se degradada, convertida em servidora, em escrava da
luxúria do homem, em simples instrumento de procriação (ENGELS, 2010, p.
77).
O ambiente doméstico, até então comunal, passa a ser de caráter privado. A
mulher fica restrita as atividades do lar, sendo marginalizada das funções sociais.
Observa-se que ao contrário do que se difunde de que a mão de obra feminina
é um fator recente na história, ela sempre se fez presente no universo do trabalho.
Evidentemente que ocorrem mudanças no lugar ocupado nos diversos períodos
históricos. Mulheres que trabalhavam na lavoura, na indústria, nas minas e no
mercado se fazem presente em todos os modos de produção e desempenharam um
papel econômico fundamental.
O surgimento da sociedade de classes, age de forma paradoxal sobre as
mulheres. Ao mesmo tempo que possibilita a retomada da mulher – proletária - a vida
15
social, novas contradições surgem, fazendo com que ao optar pelos deveres dos
serviços privados seja inviável não abdicar da família.
Nos burgos ingleses as mulheres casadas detinham os mesmos privilégios que
seus maridos, partilhando da vida social e religiosa da guilda. Inclusive, em caso de
morte tinham o direito de dirigir o negócio, caso fosse de sua vontade. Embora
houvesse participação feminina no comércio dos burgos, essa se restringia às
mulheres casadas (SAFFIOTI, 2013, p.62). Não apenas era raro a participação de uma
mulher solteira, como também era dificultada a sua entrada na guilda mercante.
Dessa maneira, é possível perceber que ainda que “independente”, a figura da
mulher estava completamente atrelada ao indivíduo do sexo masculino. Ressalta-se
também que as atividades desenvolvidas eram todas relacionadas a atividades
comerciais. Nas demais esferas, de trabalho ou não, a mulher era menosprezada e
sempre tutelada por um homem. Observa-se uma diferença significativa na relação
estabelecida entre mulheres e homens na então sociedade de classes em
comparação com a sociedade primitiva.
A realização feminina era diretamente relacionada com o casamento. O homem
deveria oferecer proteção a figura frágil de sua esposa ao passo que em troca obtinha
a colaboração no trabalho e o comportamento submisso, dever da mulher na
sociedade patriarcal, em relação ao chefe da família.
É importante observar que na sociedade pré-capitalistas a questão central não
era a independência econômica da mulher, visto que essa noção individualista só de
desenvolveu no capitalismo. Nem da submissão às decisões da família que eram
sempre dos homens. O que se vê neste período é que o trabalho serviu como um
meio de integração social das mulheres. Portanto, ainda que politicamente, social e
jurídico o papel da mulher seja inferior ao do homem, economicamente a mulher tinha
um papel essencial.
A incorporação da mulher nas atividades laborativas é inversamente
proporcional ao desenvolvimento da produção, isto é, em uma sociedade pré-
capitalista em que a dinâmica produtiva se dava de forma mais lenta, a mão de obra
feminina não poderia ser descartada, pondo em risco a ociosidade da burguesia.
Conforme economia caminhava para uma estrutura capitalista, aumentava-se os
impedimentos de acesso da mulher ao mercado de trabalho e as ofertas de posições
subalternas e menos compensadoras. A mulher passa a enfrentar uma desvantagem
dupla: tanto a desvalorização das suas capacidades, em nome de uma supremacia
16
haviam caído tanto que até mulheres com esposos empregados se viram obrigadas a
trabalhar para garantir o sustento da família. Na indústria francesa, a grande absorção
da mulher causou grande revolta do operariado masculino, alguns setores chegavam
a declarar greve a cada nova contratação feminina. Reivindicavam que elas
assumissem seus papéis de guardiã do lar, definido por Proudhon (SAFFIOTI, 2013,
p.75) e consideravam o ingresso delas no mercado de trabalho uma inversão da
ordem da natureza. Até mesmo o I Congresso da Internacional se mostrou
desfavorável ao trabalho feminino. Foram necessários quase meio século a mais para
que houvesse o entendimento de que
A mulher não figura, assim, como uma usurpadora do trabalho masculino,
mas como uma vítima do modo capitalista de produção. A hostilidade de tais
trabalhadores não se dirige, pois, contra a mulher trabalhadora, mas contra
um sistema de exploração da força de trabalho alheia no qual a mulher, em
virtude de seu sexo, se constitui no ser mais espoliado (SAFFIOTI, 2013,
p.76).
Durante a Segunda Guerra mundial houve um aumento significativo da
participação feminina no mercado de trabalho inglês, nos anos de 1943 e 1944 era
praticamente a metade da força de trabalho. Muitas mulheres eram solicitadas a
encontrarem um emprego que fosse pelo menos meio período. Isto, junto a abertura
de creches possibilitava uma maior integração de mulheres casadas no mercado de
trabalho. Porém, passado esse período de guerra, muitos empregadores deixaram de
aceitar a jornada de trabalho reduzida e o fechamento das creches fez com que as
mulheres voltassem a exclusividade do trabalho doméstico. A isto, acrescenta-se o
fato de que a quantidade de empregos era menor do que a oferta de mão de obra,
dessa forma, a preferência era sempre pelo público masculino.
É interessante observar que alguns anos depois a porcentagem de mulheres
casadas ativas volta a crescer. Esse fato se explica pela perda do papel de “guardiã
do lar” visto que os filhos viraram adultos e não necessitam mais do cuidado integral
materno. No entanto, ao ingressarem novamente no mercado de trabalho essas
mulheres voltam com uma defasagem na qualificação de força de trabalho. Essa
desatualização faz com que muitas aceitem posições subalternas com baixas
remunerações.
A mulher costumeiramente é colocada em um lugar de escolha entre a família
e a vida profissional. Segundo Saffioti (2013), muitas mulheres americanas que
trabalham não fazem carreira pois arrumam empregos temporários em que o objetivo
18
Segundo Rago (2001), nas primeiras décadas do século XX, grande parte do
proletariado é constituído por mulheres e crianças. As condições de trabalho por elas
enfrentadas também perpassavam por longas jornadas e baixas remunerações, além
de maus tratos e assédios sexuais constantes. De acordo com Nogueira 2 (2004),
essas trabalhadoras compunham um perfil de força de trabalho ideal e de pouco custo
para produção: eram jovens, solteiras, sem filhos e, em grande maioria, com baixa
escolaridade.
Devido às situações degradantes que eram obrigadas a trabalhar, muitas
greves e mobilizações políticas foram feitas contra a exploração do trabalho entre
1890 e 1930. Porém, na grande maioria das vezes as operárias eram descritas como
“mocinhas infelizes e frágeis”, desprotegidas e emocionalmente vulneráveis, o que era
usado como justificativas para os assédios.
O quantitativo de mulheres que trabalhavam nas indústrias de fiação e
tecelagem era alto, pois esses setores possuíam pouca mecanização. Em 1894, havia
5.019 operários nos estabelecimentos industriais de São Paulo. Destes, 840 era
mulheres, o que correspondia a 16,74% do proletário paulistano. A demais
porcentagem era composta por homens e menores de idade. Apenas no setor têxtil
havia 569 mulheres, isto significa que 67,2% da mão de obra feminina estava
empregada nessa esfera.
Essa proporção do trabalho feminino em diferentes setores se manteve por
alguns anos, no entanto, a quase paridade entre a mão de obra feminina e masculina
nas indústrias brasileira de maneira geral, não perduraria para sempre. Em 1950, a
mão de obra feminina representava apenas 23 % da força de trabalho das fábricas.
Progressivamente, as mulheres vão sendo retiradas das fábricas conforme a
industrialização avança e a incorporação de mão de obra masculina aumenta.
As barreiras enfrentadas pelas mulheres para participar do mundo dos
negócios eram sempre muito grandes, independentemente da classe social
a que pertencessem. Da variação salarial à intimidação física, da
desqualificação intelectual ao assédio sexual, elas tiveram sempre de lutar
contra inúmeros obstáculos para ingressar em um campo definido – pelos
homens – como “naturalmente masculino”. (RAGO, 2001, p.581)
um espaço público mais democrático. Dessa maneira, lutam para pela conquista de
direitos que dizem respeito a condição da mulher.
26
6 R.R Blake e J.S Mouton, The Managerial Grid (Houston: Gulf, 1964) apud Robbin (1999, p.221)
31
A principal distinção entre a teoria que enfoca os traços e aquelas que enfocam
o comportamento encontra-se no fato de que na primeira, ser líder é uma
característica inata. Na segunda, os comportamentos poderiam ser desenvolvidos,
dessa forma a liderança poderia ser ensinada e a quantidade de indivíduos aptos a
assumirem um cargo de liderança seria maior, além de serem moldados de acordo
com as preferências da organização.
Concluiu-se que para uma liderança eficaz era necessário que houvesse uma
flexibilidade diante das situações. Nenhuma das teorias descritas até então levaram
em consideração as circunstâncias em que cada líder, liderado e organização
estavam envolvidos. Diante desse fato, houve uma série de estudos desenvolvidos
sobre a liderança contingencial.
O primeiro a elaborar um modelo mais amplo das condições de liderança foi
Fred Fiedler7. Ele se baseia no fato de que não há uma forma de liderar que seja única
e melhor para todas as situações. Dividiu as situações enfrentadas pelos líderes em
três características: Relações entre líderes e seguidores, estruturação da tarefa e
poder da posição. Através destas é possível avaliar o “grau de favorabilidade” da
situação do líder (ROBBINS, 2000, p.223).
A partir de vários estudos, Fiedler deduziu que os líderes orientados para tarefa
são mais eficazes em situações extremamente favoráveis ou extremamente
desfavoráveis. Enquanto líderes orientados para relação eram bem-sucedidos em
situação de favorabilidade moderada. Ainda que seja o primeiro estudo a dar ênfase
para o caráter contingencial da liderança, recebe críticas ao possuir uma teoria lógica
vaga, sendo demasiadamente pautada em dados.
Outros modelos se destacam nas teorias contingenciais como a teoria de troca-
líder membro, os modelos de caminho-objetivo e de participação do líder. As teorias
até então apresentadas se configuram como teorias clássicas da liderança. Como foi
possível observar, os estudos focavam em hierarquia e resultados. Abordagens mais
recentes, classificadas como contemporâneas abordam o assunto destacando o
aspecto relacional da liderança. Entre elas há a teoria de atribuição da liderança.
Nesta teoria,
[...] liderança é meramente uma atribuição que as pessoas fazem a outros
indivíduos. Usando a estrutura de atribuição, pesquisadores descobriram que
pessoas caracterizam líderes como tendo traços como inteligência,
Além disso, há a percepção de que líderes são seguros de suas decisões e não
hesitam na hora de fazer uma escolha. É interessante observar que as características
apontadas como de um líder entram em conflito com os papéis sociais desempenhado
por homens e mulheres, isto é, apontam para uma liderança voltada para o masculino.
Ainda nas teorias contemporâneas da liderança tem-se também a teoria da
liderança carismática, que é uma extensão da teoria da atribuição. Ela diz que os
seguidores projetam na liderança habilidade heroicas ou extraordinárias (Robbins,
1999). Vários autores tentaram identificar características comuns aos líderes
carismáticos, entre elas: confiança extremamente alta, domínio, convicções em suas
crenças, sentido de objetivo muito atraente, capacidade de comunicar esse sentido
de forma clara, coerência e foco no sentido do objetivo e autoconhecimento para
investir nos pontos fortes.
Por fim, tem-se a corrente de pesquisa que enfoca na diferença entre líderes
transacionais e transformacionais. O primeiro motiva seus liderados na direção das
metas que já estão estabelecidas, esclarecendo as exigências do papel e da tarefa.
Já os líderes transformacionais inspiram os seguidores e ultrapassam os próprios
interesses em nome do bem da organização. Eles são atentos às necessidades de
desenvolvimento e preocupações daqueles que são gestados por ele. Evidências
mostram que a liderança transformacional está correlacionada a menores taxas de
rotatividade, maior produtividade e satisfação (ROBBINS, 1999).
Dentre as teorias da liderança apresentadas, podemos observar que há uma
certa tendência em tornar o papel do líder um lugar masculino. Concluímos isto ao
compararmos o que se espera de um líder e o papel desempenhado por homens e
mulheres na sociedade. Negreiro e Feres-Carneiro (2004) ao citarem Biaggio8 (1976)
mostram que os comportamentos esperados socialmente de um homem são: força,
independência, agressividade, competência e dominância. Por outro lado, de
mulheres espera-se que sejam dependentes, sensíveis, afetuosas e que suprimam
seus impulsos agressivos e sexuais.
Embora as mulheres ocupem cerca de 40% do mercado de trabalho do mundo
ocidental, ainda são uma minoria nos cargos de gestão possuindo baixa
estrutural maior. Em uma relação onde ambos possuem uma carreira é mais comum
que mulheres abdiquem de seus interesses e objetivos pessoais do que os homens.
Além disso, não dificilmente as encontramos em jornadas de trabalho duplas ou
triplas.
Atualmente há um movimento das organizações em trazerem para discussão o
conceito de viés inconsciente, que tem relação direta com a ainda baixa
representatividade feminina em cargos de liderança. Segundo The Equality Challenge
Unit (2013), citado por Sporek (2015), viés inconsciente é um preconceito do qual não
temos consciência. Acontece automaticamente e é acionado pelo nosso cérebro
fazendo rápidos julgamentos e avaliações de pessoas e situações, influenciadas pelo
nosso fundo cultural, meio ambiente e experiências pessoais.
O fato de que há um histórico significante de líderes representados por
homens brancos, perpetua um perfil de liderança masculino branco (PWC BRASIL,
2016). Dessa maneira, a indicação e escolha de mulheres a cargos de gerência,
diretoria e conselhos administrativos é fortemente impactada pela cultura machista a
qual a sociedade está imersa.
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4.2 Entrevistas
M1
Idade: 50
Formação: Administração pela UERJ
Grau de escolaridade: Pós-graduação em gestão de pessoas
Experiência profissional: 27 anos
Estado civil: casada
Filhos: 2
Experiência em cargo de gestão: 18 anos
Transcrição:
ET: [...] Então gostaria que você começasse falando um pouco a sua trajetória
na carreira. Como foi na empresa que você se encontra atualmente; pelas empresas
que você passou; como foi o início dessa carreira; os desafios…
M1: Tá bom. Na realidade assim, eu sou formada pela UERJ, comecei fazendo
administração de empresas na UERJ e já no 4º período já queria muito estagiar.
Desde o início da faculdade já queria muito estagiar, mas eu só consegui começar a
estagiar no 4º período. Aí tive experiência em duas empresas ligada a área de
construção civil: a primeira eu não fiz nada… entrei numa área que não tinha nada a
ver, era patrimônio e lá dentro da área de patrimônio vi que não era aquilo que eu
queria e pedi uma oportunidade pra ir pra área de administração de pessoal mas
percebi também com o tempo que não estava aprendendo muito. E ainda na faculdade
fiquei uns seis meses, uns 8 meses, acho, nessa empresa. E ai dentro da própria
UERJ busquei né... aquelas vagas de estágio e tal... Aí surgiu uma outra oportunidade
em outra empresa de construção civil, também para área de administração de pessoal
e aí fui fazer estágio nessa empresa. Fiquei uns 9 meses, mais ou menos, ai durante
esse período eu falei olha, também estava querendo já uma outra oportunidade, fiz o
processo de estágio para a E1, onde estou hoje, E1 produtos de petróleo, quando eu
tentei né é... Quando eu disse que ia sair eles ainda pediram, ofereceram
efetivação...mas eu falei ainda estava na faculdade, ainda tinha um ano e meio para
me formar e aí eu falei “não, olha, acho que tenho que ter mais experiência, eu queria
buscar outra áreas dentro dos recursos humanos porque eu tenho me identificado
com essa área…” e fiz processo seletivo para a E1 e fui trabalhar na área de
planejamento de RH…
40
tem que se provar muito né... são uns desafios você não acha que está pronto… mais
você é um excelente técnico você tem que mostrar que você não é só técnico, você
tem capacidade de gestão. Então a gente erra, a gente aprende, a gente vai vivendo…
hoje com certeza é mais fácil, mas os desafios não são menores.
ET: Você acha que no fato de ser uma mulher numa posição de gestão, você
sente alguma diferença nesse sentido? Até mesmo com as pessoas da sua equipe,
com homens e mulheres da sua equipe.
M1: Não, não sinto diferença não, […] eu acho assim… de fato é… as mulheres
ainda né, não tem tantas oportunidades por conta de um mercado de uma forma geral.
Em RH isso é mais tranquilo um pouco porque tem muita mulher trabalhando em RH.
Outras áreas são um pouco mais difíceis, mas eu nunca senti diferença por ser mulher
não. Hoje na realidade eu brigo para ter um time mais misto porque normalmente
quem tem interesse e tal é muito mais mulher. Eu acho que ela [equipe] tem que ser
sempre mista que ajuda muito mais no desenvolvimento. Mas quanto tem é um ou
outro estagiário. É difícil encontrar um profissional que queira trabalhar com RH.
ET: E outras áreas da empresa já é o contrário né? Quer dizer, imagino que
seja o contrário…
M1: Depende da área. Provavelmente uma área comercial do nosso segmento
ela é… ela acaba tendo mais homens do que mulheres. Hoje já tá melhorando um
pouco…
ET: E como é que para você conciliar vida pessoal com trabalho? Questão dos
filhos...
M1: Olha… São várias jornadas. Fácil não é não, mas assim, a gente da
conta…
ET: Seus filhos têm quantos anos?
M1: Tenho um que já está na UFRJ fazendo faculdade com 23. E tem um de
12. O desafio é enorme, de lidar com escola de filho, trabalho… não é fácil não…
ET: É uma jornada dupla né?
M1: Tripla né? Sempre sai cedo para trabalhar e chego tarde… Viagem e tudo,
e a gente ainda tem que dar conta de tudo isso. Não é fácil. A independência que nós
buscamos que é muito boa, eu não trocaria por nada, mas a gente arrumou uma
jornada muito tripla.
ET: E você sente que essa jornada tripla, impacta de alguma forma, enfim… no
seu desempenho no trabalho? Na sua saúde? Como é isso para você?
43
M2
Idade: 44
Formação: Administração
Grau de escolaridade: Pós-graduação
Experiência profissional:20 anos
Estado civil: solteira
Filhos: 1
Experiência em cargo de gestão: 14 anos
ET: Poderia começar contando como foi sua trajetória na carreira em geral?
Quando você começou, enfim…
M2: Olha só, eu entrei na E2 em 98 como profissional Jr. Aí eu entrei para área
de atendimento a clientes, que são as centrais de atendimento que hoje tem na
44
acho que para algumas posições, alguns setores acabam tendo um viés de indicação
mais masculino. Mesmo nos processos que a gente tem de seleção por meritocracia,
por exemplo, a posições gerenciais, dependendo da indicação, se faz a restrição ali
na indicação. Então não é uma questão simplesmente de meritocracia. Quem vai
participar do processo já traz uma seleção que pode estar contaminada por um viés
de gênero.
ET: É na próxima pergunta na verdade era essa. Se você percebe alguma
diferença entre homens e mulheres no papel de liderança? E aí, isso inclui
manutenção no cargo, indicação, conforme vai aumentando o nível hierárquico se
você sente que é mais difícil ou permanece a mesma proporção… como você enxerga
isso?
M2: Eu acho que depen… eu não sei os percentuais que tem na E2 hoje, mas
hoje a gente tem poucas, por exemplo, mulheres na posição de gerente executiva. Eu
acho que teria abertura para ter um número maior. Não sei isso acontece porque as
indicações já privilegiam o gênero masculino, e aí no processo de meritocracia só vai
ter homem, então vai ter que ser escolhido um homem, né? É… e aí essa indicação,
não sei se já vem um pouco contaminada por esse viés de gênero. Entendeu? Mas o
fato é que a gente não tem uma distribuição equânime de mulheres e homens em
todas as funções da companhia. Como não tem na força de trabalho também, né?
Então eu acho que essa diferença na força de trabalho acaba refletindo na diferença
das funções gerenciais. Eu acho que nas funções gerenciais tem um espaço ainda
grande de ocupação por mulher, e com certeza selecionada dentro de um processo
de meritocracia, desde que elas sejam indicadas a participar do processo.
M3
Idade: 39
Formação: Administração
Grau de escolaridade: Superior completo
Experiência profissional: 20 anos
Estado civil: casada
Filhos: 3
Experiência em cargo de gestão: 1 ano
47
M3: Essa empresa é uma empresa que ela tem uma característica bacana, que
eu acho, que ela prega muito abertamente a questão da diversidade. Então, respeito
a diversidade, tem programa de engajamento das mulheres, que eles chamam de
women network, que é um network de mulheres para as mulheres falarem de suas
questões pessoais, e… suportam o engajamento das mulheres no trabalho, o que é
bacana né? Agora, tem um outro lado que assim… é uma empresa que trabalha com
offshore, e sempre você terá uma realidade muito masculina num ambiente desse que
é um pouco mais hostil. Mas eu acho que, dos lugares que eu já trabalhei, eu percebo
que uma empresa um pouco mais evoluída em questões de tratamento não
diferenciado entra homem e mulher sabe? Talvez assim, em posição de gestão a
gente tem uma minoria ainda feminina, mas tem esse espaço. Não é tão restritivo.
ET: E você pode falar um pouco da sua trajetória na carreira?
M3: Sim, eu trabalhei muitos anos… eu fiz né, estágio, dos estágios eu fui
efetivada na empresa que eu trabalhava, na empresa de telecomunicações e fiquei lá
cerca de três anos. De lá comecei a trabalhar na área de auditoria, quer dizer, nessa
empresa já comecei a trabalhar em auditoria. Trabalhei em Big6 durante… mais de
dois anos e de lá vim para E3 trabalhar com auditoria internacional. Então durante
seis anos eu trabalhei fazendo auditoria no Brasil e no exterior e até que chegou o
momento que eu quis casar e ter filho que é uma coisa muito desafiadora quando você
está num trabalho desse tipo, porque eu passava um mês fora de casa. Passava um
mês fora de casa na Nigéria, em Angola… Não para dizer mamãe olha só… não dá
para dizer “filhinho, fica aí esperando mamãe vai lá na Nigéria e já volta”. A gente nem
comunicação tinha direito com o Brasil, era um negócio meio complicado, e aí foi uma
das coisas que me fez querer mudar de área. E eu mudei para área com Compliance,
controles internos, e aí estou há seis anos nessa área, dentro da empresa que é um
conhecimento bem complementar ao conhecimento de auditoria, mas não tem tanto
a necessidade de viajar. Você trabalha mais no escritório que você está locada, né?
E… recentemente, quer dizer a pouco tempo, cerca de um ano, a coordenadora que
ocupava essa posição saiu e eu estou assumindo as atividades dela. Então trabalho
mais coordenação.
ET: E já puxando esse gancho que você falou das filhas e tudo mais, como é
que é para você está numa posição de gestão, conciliar com vida pessoal, enfim…
M3: É difícil, não é fácil… Ainda mais que eu tenho três filhas né? E todas
pequenas. As duas menores estão com um ano e meio. É muito complicado porque
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você não quer está ausente disso, e você sabe quanto aquelas crianças precisam de
você. Então você tem que estar ali no dia a dia. Você não pode simplesmente delegar
para outra pessoa e se eximir da sua responsabilidade de mãe sabe? Então conciliar
isso, é um pouco estafante, mas é uma fase né? De adaptação, com a minha primeira
filha eu acho que foi… eu sinto que é mais pesado nos dois primeiros anos, bem
pesado nos dois primeiros anos, a criança é muito dependente de você. Aos poucos
a criança fica um pouco mais independente, vai aceitando mais outras pessoas, você
consegue estabelecer uma rotina para criança e aí consegue ter um pouco mais de
vida pessoa, porque hoje é muito difícil ter. Essa coisa de mãe de filho pequeno, muito
pequeno é difícil. Depois eles crescem, continuam dando trabalho, mas é… as
pessoas vão se ajustando e… continuando né?
ET: E a empresa presta algum suporte nesse sentido da maternidade?
M3: Ela presta um suporte muito no início, assim.. é… que é bacana. A gente
nos seis primeiros meses após a licença maternidade, você consegue ter duas
horas… uma jornada reduzida, né? Que é um período mais focado em amamentação,
e tal… eu mesma não tirei esses seis meses, porque a gente tá numa fase muito…
competitiva no trabalho então você não quer se ausentar muito tempo porque você
quer ser percebido como necessário mas se isso fosse uma coisa mais serena, se a
gente pudesse usufruir dos seis meses, de sair um pouco mais cedo, seria muito bom.
Ia reduzir um pouco dessa carga. Mas é aquela coisa né, tem que balancear o
interesse da companhia com o interesse pessoal.
ET: E a questão da gestão? Como é que foi? A gestão é algo você sempre
almejou, acabou surgindo oportunidade e você foi?
M3: Eu almejei a partir de um determinado momento. Eu acho que vem de um
amadurecimento profissional, de você sentir que você está preparado para assumir
um desafio novo… você passa a ser a responsável não só por entregar o seu trabalho
mas pelo sucesso da sua equipe então… é… você tem que está um pouco mais
amadurecido para assumir essa posição. Antes eu… até um certo ponto eu não
queria, não tinha essa vontade. Depois eu entendo que você vai sendo preparado
para isso naturalmente, ao longo do tempo.
ET: Você percebe alguma diferença entre assim que você assumiu e agora?
Relacionamento com a equipe, como é que isso?
M3: Sim, é… você vai ganhando mais segurança à medida que você conhece
mais o trabalho, você vai ficando mais segura daquilo que tem para fazer… e a
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ET: E quanto ao papel de liderança? A gente já falou um pouco sobre isso, você
percebe alguma diferença na liderança da mulher, na liderança do homem? Para
alcançar esses cargos, questão de aumento de nível hierárquico ser mais difícil... ter
uma predominância masculina. Como você enxerga essas questões?
M3: É… a mulher ela tem uma coisa assim né? Ela precisa estar muito
preparada para ela se posicionar, sobre as coisas porque ela é facilmente
discriminada em… ah é… como eu posso dizer? Alguém que pode ser
emocionalmente instável, ou colocar em questão outras questões femininas assim…
que eu acho que o homem não enfrenta tanto. Então, eu acho que para uma mulher
se posicionar ela tem que está muito preparada, muito embasada para não ser
desqualificada. Eu percebo isso, às vezes você ter a presença de um homem com
você na posição de gestão, dá um pouco mais de segurança, que você não vai ser
hostilizada dentro do ambiente. Se você fala também de é… empresas internacionais
né? Eu tenho exemplo de pessoas, de executivas que tiveram problemas de lidar com
países como Arábia Saudita simplesmente pelo fato de ser mulher. O homem não
querer dialogar com ela... então eu acho que a mulher enfrenta um pouco mais de
barreira sim. Também acho que aos poucos está mudando, percebia ia mais no
passado do que percebo hoje. Dentro da empresa que eu trabalho eu percebo bem
menos, mas eu acho que tem a ver com a cultura dessa empresa. Eu acho que o
mercado brasileiro ainda tem muito problema com isso, mulher ser muitas vezes
assediada, ter cuidado com a roupa que usa… se bota mais alguma coisa mais
decotada ela vai ser desrespeitada, então… ela precisa ter um zelo muito grande com
a própria imagem e com o próprio preparo para ela não ser desqualificada se não ela
pode ser facilmente desqualificada. O homem eu acho que tem menos pressão nesse
sentido. Percebo isso assim…
ET: Então é isso M3… tem algo que você queira acrescentar? Algo que você
importante falar… enfim…
M3: Eu acho que assim… essas coisas dos papéis… dos múltiplos papéis que
a mulher… às vezes eu brinco né “quem foi que queimou o sutiã?!” Porque antes, né?
Você tinha um a sociedade onde o homem era quem produzia, a mulher era quem
cuidava do lar e as mulheres lutaram por esse espaço para ganharem uma
independência e tal. No final, é muito bom, é muito positivo, a gente entrou no
mercado, só que essa coisa do lar… ela continua muito ainda sob responsabilidade
maior da mulher. O homem ainda não se igualou nesse sentido, então existe uma
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sobrecarga da mulher para conciliar todos esses papéis que é um desafio. Eu acho
assim, a sociedade, ela está evoluindo, os homens estão menos machistas, estão
mais participativos, mas ainda não estão no mesmo lugar, né? Então eu vejo hoje que
tem... essa evolução está em andamento, sabe? E isso gera um estresse muito grande
na mulher né? Que eu acho que tende ao longo dos anos diminuir, não sei até que
ponto isso vai se igualar. Não acho que seja igual hoje, acho que a mulher luta mais,
ela sim é mais sobrecarregada, ela enfrenta barreiras adicionais, mas está indo. Está
chegando lá.
ET: É isso né, a mulher brigou para ir para fora, mas o homem não brigou para
ir para dentro.
M3: Eu até casei com um marido que participa bastante, mas ele participa muito
quando eu não estou. Basta eu estar lá que ele participa bem menos. Ele projeta muita
coisa assim… eu tenho que ficar lembrando ele: “olha só, eu trabalhei o dia inteiro
hoje, então vamos lá! Vamos dividir”. Porque tem essa coisa né? Ele, apesar de ser
um homem bastante participativo, ele teve a criação de um pai machista. Então, existe
um movimento natural, às vezes de deixar essa carga ali para a mãe resolver, saber?
Mas vamos lá, vamos tentar equilibrar isso ao longo dos anos. As mulheres continuam
na luta. E eu acho que a sociedade está evoluindo sim, bastante. Minha mãe foi mais
complicado… minha avó nem tentou...Minha avó era aquela que ficava em casa
mesmo, cuidava dos filhos, mas a geração da… quem está hoje com 60 lutou muito
para conseguir abrir as portas para a próxima geração que está abrindo outras portas
para as novas gerações, então continua nesse processo né? Que a gente chega lá.
4.3 Considerações
Neste capítulo será apresentado ações tanto em níveis mais globais quanto em
níveis mais particulares de empoderamento da mulher dentro das organizações. Com
incentivo das Organizações das Nações Unidas, Organização Internacional do
Trabalho, Ministério de Minas e Energias abre-se espaço de práticas que objetivam a
equidade de gênero no espaço corporativo.
Com o intuito de fortalecer, unir e ampliar os esforços mundiais em pró das
mulheres, em 2010 é criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a ONU
Mulher. Essa entidade tem como prioridade seis áreas de atuação: Liderança e
participação política das mulheres; empoderamento econômico; fim da violência
contra mulheres e meninas; paz e segurança e emergências humanitárias;
governança e planejamento; e normas globais e regionais.
Através de parcerias formadas com a sociedade civil, governos, empresas e
universidades, a ONU Mulheres apoia e defende os compromissos internacionais,
assumidos pelos Estados que são membros da ONU, com os direitos humanos das
Mulheres. Dentre os compromissos, encontram-se: a Convenção para a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (Cedaw, 1979): considerada a
carta de direitos humanos das mulheres, com força de lei no marco legal brasileiro; a
Declaração e Programa de Ação da 2ª Conferência Internacional de Direitos Humanos
(Viena, 1993): destacada pelo reconhecimento dos direitos humanos das mulheres e
meninas como parte inalienável, integral e indivisível dos direitos humanos universais;
a Declaração e Plano de Ação da Conferência Internacional sobre População e
Desenvolvimento (Cairo, 1994); e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção Belém do Pará, 1994);
Em 2015, a Assembleia Geral das Nações Unidas lançou a Agenda 2030 de
Desenvolvimento Sustentável. Esta, compõe um plano de ação para o planeta e busca
fortalecer a paz universal com mais liberdade. São 17 objetivos de Desenvolvimento
Sustentável com 169 metas. Dentre os 17 objetivos, o 5º (Igualdade de gênero)
concentra as metas diretamente ligadas às mulheres. Em apoio a Agenda 2030, a
ONU Mulheres lançou a iniciativa global “Por um planeta 50-50 em 2030: um passo
decisivo pela igualdade de gênero”. A iniciativa busca mobilizar governos a fim de
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e divulgação dos projetos desenvolvidos até então para que haja cada vez maior
disseminação e aderência dessas iniciativas.
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6. CONCLUSÃO
Compreender o trabalho, como ele se desenvolve no coletivo e nas
organizações é uma forma de melhor entender o modo de expressão de uma
sociedade. Junto a isto, ter conhecimento da história feminina ao longo dos séculos é
uma maneira de conscientização e empoderamento da mulher. Entender que a atual
compreensão de ser mulher foi construída ajuda também a enxergar que há novas
formas da existência feminina, visto que não há nada de natural nos papéis
desempenhados pelos gêneros.
A Revolução Agrícola muda essa realidade. Se até então o ser humano era
nômade e o controle da população era uma questão de manutenção da espécie, a
partir desse marco, que teve forte influência feminina, a humanidade passa ao
sedentarismo. Junto a isso, matar deixa de útil a sociedade, precisa-se de mão de
obra para a realização do plantio, colheita, criação de animais, para o novo trabalho
que se constituía.
Ainda que a liderança atualmente não seja mais entendida como um aspecto
inato, ou atributo exclusivo de um indivíduo e sim leve em consideração o contexto no
qual se desempenha o ato de liderar, mulheres ainda passam pela a avaliação,
contaminada pela construção social, de que a gestão não é o lugar “natural” delas. O
viés inconsciente atua de forma incisiva no momento de considerar uma mulher ao
cargo de gerência, ou de fazê-la ser notada profissionalmente na organização.
Não há dúvida de que muito já foi conquistado, mas ainda há um longo caminho
a ser trilhado pelas próximas décadas para que não só o salário de mulheres e
homens sejam igualados, mas também não haja distinção no respeito dedicado a
ambos. O teto de vidro ainda precisa ser quebrado.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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movimento feminista no brasil e o protagonismo social das mulheres. In: iv seminário
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