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Era uma figura estranha.

E não podia ser diferente, sua natureza não permitia a


normalidade. Seu nome era Jales. Suas aventuras são incontáveis. Ele havia subido em
todos os montes, e abraçado todos os ventos, tudo isso sem fazer uso de metáforas. O
fato é que morreu em sua última jornada. Apenas para suprir a não curiosidade do leitor,
irei narrar o episódio.

Jales, filho de pedreiro, havia decidido que devia matar os deuses. A tarefa não é
simples, obviamente, mas havia uma força de vontade em questão que não é comum de
se encontrar em filhos de humanos. Durante mias de meia vida ele arquitetou o plano.
No fim ficou assim:

Nos dias de sábado, principalmente durante o outono, os deuses costumam dormir mais
cedo. Tendo isso em vista, Jales iria preparar uma emboscada. Na verdade não sei se
esse é o nome certo para o que estava prestes a fazer. Partiu ao pôr do sol, sua confiança
parecia inabalável, seus olhos refletiam alguma luz, deus sabe qual. Havia fogo nas suas
ações. Caminhava entoando uma cantiga, mais ou menos, assim:

Desde os tempos imemoriais


Quando passamos de animais
Ou não passamos de animais
Nem sei mais...

Diferente do alguém possa ter pensado a cantiga não fazia sentido nenhum. Mas ela
servia para encurtar a distância concreta. É assim que os poetas vivem. O resto da
narrativa envolve uma quase morte. Fiquei com receio de narrar. Sei que são apenas
crianças que estão lendo este ingênuo conto.

Jales entrou na residência dos deuses, se dirigiu ofegante até o quarto. Pegou o machado
que estava nas suas costas, pendurado com um barbante de agave, o quarto estava
escuro. Ele enxergou apenas o lençol branco e ali mirou. Juntando todas as suas forças
ele golpeou.

Um grande barulho o assustou. Mas não foi um barulho de dor, mas de vidro
estraçalhando. Uma luz acendeu. Não havia deuses, apenas um espelho do tamanho de
um humano. O golpe foi tão forte que os cacos de vidro perfuraram Jales que
imediatamente decidiu morrer. As últimas palavras de Jales foram:
‘’Era em mim’’.

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