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VI.

O PLANEJAMENTO DA CAMPANHA

O capítulo da obra impressa dá as linhas gerais ou diretrizes que orientam o


planejamento. Assim, neste complemento, cabe apenas detalhar mais alguns pontos que
também são importantes dentro de um planejamento de campanha eleitoral.
2) Como se calcula o cacife inicial e o potencial eleitoral de um candidato
A obtenção da resposta é feita a partir de uma análise realista e pessimista que o próprio
candidato possa fazer e estimar sobre o universo das pessoas com quem se relaciona, ou que
tenham alguma afinidade por integrarem sub-universos do qual faz parte (maçonaria;
rotarianos, sindicatos; associações, fornecedores, ex-colegas de escola e universidade;
audiência de programas de comunicação em que eventualmente participe, membros da
mesma categoria profissional, etc.).

Considerando que cada pessoa tenha família e amigos que podem seguir sua orientação,
multiplique o número por 4, e para ser pessimista, considere que você não será o único
candidato a concorrer naqueles universos listados, e divida o número de potenciais eleitores
por 10 ou melhor ainda, para não correr riscos e não ter surpresas desagradáveis, divida por
20. Em resumo, seja extremamente conservador nas suas projeções.

Se ao invés de segmentos sociais ou profissionais você considerar como eleitores potenciais


a população residente no território geográfico a ser coberto em sua campanha, seja mais
rigoroso ainda, e divida o número de eleitores por 30 ou 40.

Se você já disputou a eleição passada, calcule que, ao longo dos quatro anos que separam
uma eleição da outra, dependendo da sua proximidade e do trabalho que tenha feito junto às
suas bases ou redutos, você tenha perdido algo em torno de 10% de eleitores ao ano
(aproximadamente 40%dos votos).

Se você ou seu candidato tiver se lembrado de enviar ao menos um cartão de natal e


cumprimentado seu eleitores por seus aniversários durante este tempo, você poderá
reconquistá-los muito mais facilmente, bastando divulgar o seu trabalho. Se você esteve
distante ou ausente, é mais fácil buscar novos eleitores do que tentar recuperar os perdidos,
através de alianças com lideranças comunitárias, autoridades e com candidatos
(dobradinhas).

COMO SE CALCULA O POTENCIAL ELEITORAL:

Como os dados dos TREs fornecem o total de votos recebidos pelos partidos e candidatos,
mas não informam o grau de identidade daqueles com os eleitores, passados 3 ou 4 anos da
eleição, para medir o potencial eleitoral, é necessário fazer o cruzamento das informações
obtidas junto aos tribunais com os dados de um pesquisa realizada com o exclusivo propósito
de aferir o potencial e os espaços políticos em aberto ou ainda sem donos numa base
territorial. Os passos são os seguintes:
1. Encomendar pesquisa na área geográfica onde pretende disputar, para levantar as
seguintes informações:
 Em quem os eleitores se lembram de ter votado (para o cargo almejado) nas
últimas eleições; (para conhecer: o grau de identificação com os candidatos em
quem votaram e consciência política dos eleitores. Curiosidade: não se espante
ao perceber que os candidatos eleitos serão citados além de sua votação
original e os derrotados, muito aquém – se o(s) eleito(s) não estiver(em) sendo
desastres, após 4 anos sem ouvir falar o nome dos não eleitos, os eleitores se
esquecem ou não gostam de revelar que apostaram em candidatos derrotados;
 No geral, se a eleição fosse hoje, se o eleitor preferiria reeleger o(s) titular(es)
de governo ou um dos atuais parlamentares ou se está mais inclinado a
renovar; (para medir os espaços situacionistas e oposicionistas em cada reduto
e a taxa de perda eleitoral sofrida pelos atuais eleitos);
 Se os eleitores saberiam dizer se o candidato em quem votaram conseguiu
eleger-se e, caso afirmativo, se os eleitores acompanharam a atuação dos seus
representantes eleitos; (para conhecer o grau de vinculação que os eleitos
mantiveram com o eleitorado ao longo de seus mandatos);
 Considerando o desempenho dos atuais governantes e/ou parlamentares eleitos,
se os eleitores estão muito, um pouco ou nada satisfeitos com o desempenho
deles; (outra maneira de detectar o espaço potencial para novas postulações, e
junto a que segmentos sociais o discurso de oposição e/ou renovação seria
melhor absorvido);
 Apresentando o nome dos titulares de governo e/ou a lista de vereadores e/ou
deputados estaduais e/ou federais eleitos, perguntar se o eleitor acha que algum
deles mereceria ser reeleito por seu bom desempenho (para conhecer o cacife
eleitoral atual dos concorrentes que disputarão suas reeleições);
 Saber qual é o peso ou a influência os titulares de governo ou líderes políticos
mais expressivos poderiam ter sobre a decisão e voto dos eleitores;
 Finalmente, perguntar aos eleitores qual é o conhecimento e a imagem pessoal
que têm em relação a cada nome de uma lista de possíveis candidatos (incluir o
seu nome e os dos principais aliados e adversários);

2. A ultima questão (conhecimento e conceito de cada candidato) é a que permite que


se monte a equação do potencial eleitoral próprio e dos concorrentes. Num prato da
balança, somam-se: os eleitores manifestos (declararam ter conceito muito positivo)
+ simpatizantes (declararam ter conceito mais positivo do que negativo) + neutros
(declararam não ter opinião formada) + os eleitores que desconhecem o candidato.
No outro prato, somam-se: os eleitores que já se definiram por outros concorrentes
+ eleitores que manifestam sua rejeição ao candidato. A diferença entre as duas
somas, expressa o potencial eleitoral de uma candidatura;

3. A pesquisa também permitirá avaliar qual é a proporção de eleitores que conhecem


cada candidato e saber qual é a intenção de voto que tem cada um entre os eleitores
que os conhecem. Ex.: um candidato relativamente pouco conhecido, mas que
tenha imagem muito positiva entre os eleitores que o conhecem, tem mais chances
de crescimento, na medida em que se tornar mais conhecido. Por outro lado, um
candidato muito conhecido que tenha conceito negativo ou rejeição de grande parte
dos que o conhecem tem um “teto” mais baixo ou espaço muito menor de
crescimento;

4. A mesma pesquisa permite que se façam estudos da capacidade de transferência de


votos entre os candidatos e lideranças ou de sinergia eleitoral (afinidades x
dissonâncias) entre os eleitores de cada candidato proporcional e majoritário,
informação de grande importância para avaliar as “dobradinhas”, ou o retorno que
as alianças com lideranças e candidatos podem somar ou tirar de cada candidatura;

Quem poderiam ser os meus aliados?

Em primeiro lugar, por afinidade, busque outros candidatos de seu partido que concorram a
mandatos não conflitantes. Além das dobradinhas, cada liderança sindical, comunitária ou
cabo eleitoral que ocupe posição que lhe possibilite manter grande e permanente contato com
a população pode ser um bom aliado (pastores religiosos, delegados, presidentes de
associações, donos de cartórios, radialistas, donos de jornal, comerciantes, industriais, etc.).

As alianças que podem render mais votos e ainda fornecer quadros experientes para gestão
de sua campanha nos diversos redutos são aquelas feitas com líderes políticos já empossados
e que não disputarão a eleição, mas estas são as que requerem mais atenção, costumam fazer
mais exigências ou custar mais caro.

Se você é um estreante e nunca disputou uma eleição o primeiro lugar para buscar seus
aliados é obter a lista de todos os presidentes de diretórios, vereadores e prefeitos dentro do
partido pelo qual você disputa: vocês já têm uma afinidade e fazem parte da mesma tribo, e o
fato de compartilharem a mesma opção partidária já é um elemento facilitador do contato e
aproximação. Mesmo que você seja novo no partido, tem boas chances de encontrar aliados:
sempre existe grande número de lideranças que, por serem comunitárias (controlam grupos
reduzidos de eleitores) ou pertencerem a pequenos colégios eleitorais, sentem-se desprezadas
pelas estrelas maiores da legenda ou (sempre o ego) acham que não recebem a atenção e o
respeito e tratamento que se julgam merecedoras.

No segundo grupo, é provável que também existam lideranças maiores, que não tenham
afinidade com os controladores do partido ou que estejam disputando faixas de poder interno
com outras correntes e considerarão de bom grado uma aliança que também as beneficie.

Se não tiver sorte e as lideranças que poderiam auxiliá-lo num reduto já fizeram opção por
outros candidatos, esta é uma boa dica: busque no site do TRE a imensa lista dos suplentes
(candidatos que não foram eleitos em eleições passadas) da cidade em foco. Nos T.R.Es.,
você pode obter listas que contém nome, partido, a votação obtida por cada um e até os
dados pessoais fornecidos pelos candidatos em seu registro. Como a política (e os líderes) é
cruel com os derrotados e os condena ao esquecimento, estas informações são tudo o que
precisa para buscar alguém que, além de experiência em gestão de campanhas, ainda pode
transferir-lhe alguns preciosos votos.
Prepare seu espírito e sua lábia, pois a maioria delas estará revoltada com a política e
magoada com a derrota e má experiência passada. Mas vale a pena buscá-las, valorizá-las e
apresentar-se como alguém que poderá retribuir o empenho delas caso se eleja, ou apoiá-las
depois caso elas tenham pretensão de disputar futuras eleições.

A análise da votação que estes líderes tiveram em eleições passadas também permitirá que
você possa buscar alianças e alcançar por intermédio delas outros redutos eleitorais aos quais
você não tinha nenhum acesso e nem pensava disputar. O limite é a sua disponibilidade
financeira e capacidade de convencimento.

A terceira fonte de alianças são candidatos de outras legendas que concorram a outros cargos,
que enfrentam o mesmo problema que você e buscam dobradinha que possam ampliar o
alcance de suas candidatura. Mas isto só se torna viável se você dispuser de pelo menos uma
destas três moedas para trocar com eles: dinheiro, máquina ou votos.

Quanto vale- qual seria o preço justo a pagar por cada aliança ou dobradinha?
Por mais que seu aliado potencial gosta de você, se não quiser correr o risco de acabar “na
mão” ou perder o aliado para um rival, você não pode esperar que ele enfie a mão no bolso
para bancar a sua campanha, a menos que, além de aliado ele seja também um financiador.
1ª Opção: O mínimo que lhe pode custar uma aliança é o custeio das despesas que seu aliado
terá para trabalhar por sua candidatura, como combustível, contratação de pessoal para
distribuir sua propaganda, despesas de representação nas reuniões com eleitores ou
funcionamento de um comitê (lanche, cervejinhas, cafés, refrigerantes, telefone, etc.). Se
você tiver uma “dobrada”, e o seu aliado aceitar trabalhar para os dois, você poderá dividir
estes custos com ela.
2ª Opção: Se o seu aliado for alguém influente em sua base (reduto, município ou segmento
profissional), você pode também credencia-lo como seu agente arrecadador, caso em que ele
próprio buscará patrocinadores para sua campanha no município, região ou segmento,
assumindo compromissos em seu nome. Caberá a você fazer os agradecimentos aos
financiadores e ao seu coordenador financeiro administrar as contribuições e os
compromissos delas decorrentes.
3ª Opção: Se você tiver votos ou redutos onde tenha influência, sempre poderá
“intercambiar” seu cacife com sua(s) dobrada(s): ele(s) faz(em) a sua campanha no reduto
dele(s) e você faz a dele(s) no seu reduto, cada qual arcando com suas próprias despesas.
4ª Opção: Você tem votos e redutos e faz aliança com dobrada(s) que não tem votos, mas tem
dinheiro ou qualquer outra coisa que lhe interesse ou tenha valor para você numa barganha:
Aí, seus aliados é que pagarão para que você, além de sua campanha, faça a campanha deles
nos seus redutos ou segmentos onde tenha influência. Você poderá saber o quanto cobrar dos
aliados ou “dobradas” no capítulo que explica como fazer a projeção orçamentária de uma
campanha.

Quantos votos pode me transferir uma aliança?

Esta questão vai completar as duas anteriores, pois quase nunca um candidato que disponha
de um potencial alto de votos vai transferi-los em sua totalidade ao seu aliado, pois tal fato
independe de sua vontade ou fidelidade à aliança. É preciso considerar que, na mesma região
em que o aliado atua, existem outros candidatos e também colegas de partido, que vão reter,
sem dúvida alguma, uma parcela destes votos. Por exemplo: um vereador V dispõe de um
potencial de 20.000 votos numa região e alia-se a um candidato a deputado estadual D1.
Atuando na mesma região, suponha que existam apenas mais dois candidatos do mesmo
partido que pleiteiam acesso à Câmara Estadual D2 e D3, e que dispõem de boa penetração
nos segmentos de população atingidos pelo candidato a vereador.

Resultado das urnas nesta região:

Votos válidos = 15.000 votos


D1 = 3.000 votos
D2 = 6.500 votos
D3 = 7.00 votos
Índice de transferência de v para D1 = 20%

É preciso tomar muito cuidado para não se enganar e investir demais num só reduto e de
menos em outro. Se o seu aliado for, por exemplo, um vereador ou ex-político, não espere
que ele lhe consiga mais votos do que os que ele teve na última eleição que disputou: se ele
for muito bom e trabalhar para você como trabalharia para ele (o que seria pouco provável),
para não se decepcionar muito, espere que ele consiga 30% daqueles votos. Se for um
prefeito e ele se empenhar mesmo, jogando todos os secretários municipais e vereadores que
controla para trabalharem na sua campanha, você pode esperar, no máximo, 50% dos votos
dados ao aliado na eleição passada.

Se você tiver juízo, não quiser correr nenhum risco de ter surpresas desagradáveis, ou não
pode desperdiçar vela boa com defunto ruim, monte sua própria divisão de pesquisa e
monitore os resultados (votos) de seus aliados em cada reduto: ao invés de estimar, você
poderá saber exatamente (ou com margem de erro mínima) quantos votos cada aliado lhe
estará transferindo, para poder agradecer os mais leais e competentes e descartar ou cobrar
mais empenho dos que não estiverem fazendo bem o seu trabalho..

Quais são as minhas chances?

Este é o ponto crítico. Essas chances estão diretamente ligadas à inserção social que já se
possui, ao seu potencial de votos, à possibilidade que tem de efetivar alianças e à sua
capacidade de financiar a campanha. Se o saldo desse balanço for positivo, o candidato deve
passar à próxima etapa do planejamento e, em caso de saldo irremediavelmente negativo,
deve abandonar ou adiar as suas pretensões de ser eleito.

Essa cautela é importante, pois a desconsideração desse estudo de viabilidades já levou


muitos candidatos à ruína. Se lhe faltar dinheiro ou o reduto onde você tem influência não for
amplo o suficiente para assegurar sua eleição e não houver possibilidade de costurar alianças
ou dobradas que corrijam este problema, nem tudo está perdido: Você pode também disputar
a eleição e ter a sua primeira experiência, pois, mesmo sabendo que suas chances serão
menores do que a de outros adversários melhor preparados e com mais recursos, sempre
poderá ser auxiliado pela providência divina ou pelas circunstâncias conjunturais, e acabar
virando uma zebra.
A princípio, não existe candidatura inviável e nenhum candidato é peru, para morrer na
véspera. Isto porque as forças que atuam durante o período eleitoral tornam tudo imprevisível
e um erro pode sepultar as pretensões de um favorito e eleger uma zebra.

Ao longo do processo eleitoral, qualquer fato novo pode ter efeitos colaterais que beneficiem
alguns em detrimento de outros ou, a exemplo do que ocorreu na eleição onde Paulo Maluf e
o empresário Antonio Ermírio polarizavam a primeira colocação na disputa pelo governo do
estado de São Paulo e tudo parecia perdido para o terceiro colocado, Orestes Quércia. Maluf
e Antonio Ermírio destruíram um ao outro e venceu Quércia.

Se esta for sua opção, busque apoio financeiro de outros candidatos de seu partido (ou até de
outro), exponha seu caso e peça o apoio dos candidatos a outros cargos e dirigentes
partidários: proponha-se a coordenar as campanhas deles no seu reduto ou segmento, em
troca de ocupar posições futuras caso seus aliados se elegerem.

Você estará começando sua carreira política com o pé direito, e terá mantido presença junto
aos eleitores de seu reduto, que se constituirão em seu capital social inicial para ingressar na
carreira e na vida pública.

A AGENDA: QUANDO E ONDE EU DEVO ESTAR PRESENTE?

Responde-se a esta questão por meio da elaboração de um roteiro-calendário e de um


cronograma de atuação do candidato, durante a sua campanha, onde se inclui a realização dos
seus comícios e pronunciamentos, programando-se festas, concursos e eventos. O importante
é pensar como o artista Milton Nascimento, que cantou que o artista tem que estar aonde o
povo está. O candidato tem que estar onde o eleitor está.

Uma fórmula muito divertida, mas angustiante e terrivelmente eficaz de programar seu
tempo e os compromissos que terá que atender para ganhar a sua eleição é a seguinte:
Suponha que você pense como a maioria dos candidatos que perdem eleições e esteja feliz
com a copa do mundo (os candidatos mais espertos enganam os incautos, e dizem que a
eleição só começa depois, porque os eleitores só querem saber é do futebol), que vai lhe
permitir economizar recursos e só começar sua campanha em agosto.

Divida o número de votos que você precisará para garantir a sua eleição e divida por 60 (este
é o número de dias dos meses de agosto e setembro). Exemplo: se você precisar de 80.000
votos e estima que já tem 20.000, precisará ganhar, em média, 1.000 votos por dia, para
chegar àqueles 80.000. Aí, você saberá que, todos os dias você terá que:
 Reunir-se com líderes e pessoas que tenham controle ou acesso a 1.000 votos;
 Participar de eventos diários que o coloquem em contato direto com 1.000 eleitores;
 Contratar ou fazer alianças com 100 pessoas que abordem cada uma, 10 eleitores por
dia;
 Inventar fórmulas e estratégias de comunicação que lhe permitam alcançar aquela
quantidade diária de eleitores;
 Combinar todos os fatores já mencionados (estratégia).
Este exercício é o mesmo para que o coordenador de finanças programe a sua agenda: só
que, ao invés de dividir eleitores que faltam, ele dividirá o quanto lhe falta de dinheiro ou
quanto ele terá que arrecadar pelo número de dias da campanha.

Esta fórmula é precisa e mostra claramente que candidato não tem direito a ficar estressado,
nem cansado, nem a tirar folga nos finais de semana, nem se furtar a receber líderes chatos,
adiar viagens e compromissos e nem ficar de cama se pegar um resfriado e tiver febre. Mas
haverá tempo de sobra para que possa descansar a vontade e repor suas energias... Depois da
eleição.

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