Ivan Delmanto é diretor teatral, dramaturgo e educador. Bacharel em direção teatral
pela ECA - USP é também mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada na FFLCH – USP. É doutor no Departamento de Artes Cênicas da ECA-USP, na área de Teoria Teatral, onde desenvolveu projeto de pesquisa sobre a formação do teatro brasileiro, sob orientação da Profa. Dra. Maria Silvia Betti. A partir de 2017 desenvolve projeto de pós-doutorado, com bolsa de pesquisa CAPES, no mesmo departamento, também a partir do processo de formação histórica do teatrao brasileiro. Como dramaturgista e assistente de direção, trabalhou no projeto de pesquisa e no espetáculo BR-3 do Teatro da Vertigem. Durante este projeto, no ano de 2004, escreveu a série "Diario da Expedição", composta por 30 artigos publicados na Folha Online, no Correio Brasiliense e na Revista Ocas, todos narrando a viagem de pesquisa empreendida pelo Teatro da Vertigem pelo interior do Brasil. Trabalhou de 2004 a 2013 no Programa Vocacional, tendo sido Artista Orientador, Coordenador do Núcleo de Direção, Coordenador Pedagógico do Teatro Vocacional, Coordenador do Núcleo Interlinguagens e Coordenador Pedagógico Geral do Programa. Durante o ano de 2011 atuou como coordenador pedagógico do Vocacional Núcleo Artístico Interlinguagens, onde coordenou processos de fomação artística baseados em um conceito ampliado de performance. Em 2012 atuou novamente como coordenador pedagógico geral do Programa Vocacional, junto aos projetos de artes visuais, dança, encenação, música e teatro. Desde a fundação da Escola, em 2010 até 2012, trabalhou como formador de direção teatral na SP Escola de Teatro: Centro de Formação das Artes do Palco. Desde 2000, é diretor e dramaturgo da II Trupe de Choque, grupo em que dirigiu e escreveu os espetáculos Coriolanos, Miopia, Corpos Acumulados – experiência 1, Corpos Acumulados – experiência 2, Corpos Acumulados – experiência 3 , Corpos Acumulados – experiência, Detritos em ensaio: Material Tebas/ Eldorados 11 de setembro, Material Ciborgue/ Eldorados 11 de setembro, Planeta Favela/11/09/4012, Grande Sertão Grajaú: Vereda Riobaldo e Grande Sertão Grajaú: Vereda Diadorim. As peças foram todas realizadas em espaços não convencionais, onde o grupo desenvolveiu projetos de ação cultural e de pedagogia artística: A Usina de Compostagem de Lixo de São Mateus, zona leste de São Paulo (2004-2008), o Hospital Psiquiátrico e CAIMS Philippe Pinel (2008-2012), na zona norte, e as Escolas Estaduais Prof. Carlos Ayres e Profa. Ester Garcia (2013-2017) , no Grajaú, zonal sul da cidade. Desde 2014 trabalha como Orientador Artístico e Coordenador Pedagógico do Projeto Espetáculo, do Programa Fábricas de Cultura do Estado de São Paulo, coordenando encenadores e dramaturgos que desenvolvem trabalho artístico- pedagógico em cinco Fábricas de Cultura na periferia de São Paulo: em Jaçanã, Brasilândia, Capão Redondo, Jardim São Luís e Vila Nova Cachoeirinha.
pequena apresentação
Apesar de não possuir formação acadêmica na área de licenciatura, minha
atuação artística sempre esteve relacionada à pedagogia. Seja como professor ou coordenador pedagógico de projetos ligados ao poder público ( Teatro Vocacional, SP Escola de Formação das Artes do Palco, Programa Fábricas de Cultura), seja na minha prática como encenador e dramaturgo, no grupo II Trupe de Choque. Desde sua fundação, em 2000, o grupo sempre esteve ligado à pesquisa da linguagem teatral e à experimentação pedagógica. De 2004 a 2006, em projeto apoiado pela Lei Municipal de Fomento ao Teatro, a II Trupe de Choque ocupou artisticamente uma Usina de Compostagem de Lixo desativada, no bairro de São Mateus, e o processo de criação realizou-se paralelamente à oficinas de diversas lingaugens artísticas, destinadas à cooperativa de reciclagem de lixo localizada em um dos balcões da Usina. A partir de outubro de 2006 o grupo concretizou seu próprio processo de superação dialética, de constituição de um grande processo colaborativo de criação, aberto a todos, abarcando inúmeras vozes. No que iniciou-se com a abertura de estágios gratuitos de interpretação e direção teatral, o grupo abriu seu processo de trabalho para estudantes de teatro, com ou sem experiência, vindos de diversas regiões da cidade. O que era estágio transformou-se na formação e estrutura do próprio grupo, ou por outra, percebemos que o conceito de Teatro Peripatético, na sua relação estreita entre formação pedagógica e prática artística, poderia ser expandido. Chamamos então de peripatética a base de nosso processo artístico- pedagógico, que procurou criar metodologias e práticas pedagógicas de formação tanto para os próprio integrantes do grupo quanto para o público das peças e dos Núcleos artístico-pedagógicos realizados Desde então, os projetos de pesquisa que se seguiram, Corpos Acumulados, Material Tebas / Eldorados 11 de setembro e Material Ciborgue / Eldorado Silício 11 de setembro, Material Ciborgue Fantasma / O ornitorrinco da revolução: Planeta Favela 11/09/4012 (um conto maravilhoso de atrocidades) e Grande Sertão Grajaú constituíram-se como processos abertos de criação, que receberam novos integrantes a todo momento, com ou sem experiência teatral, interessados em estudar teatro. A II Trupe de Choque tornou-se a reunião entre artistas profissionais e não profissionais, gerando um grupo de trabalho formado por integrantes com diversas experiências artísticas, vindos de diferentes regiões da cidade, estratos sociais e experiências de vida, diversidade fundamental a um grupo que pretende trabalhar sempre em um amplo processo colaborativo. Minhas pesquisas de mestrado e de doutorado surgiram dessa prática como encenador, educador e dramaturgo, atividades que sempre estiveram interligadas em um amplo processo de pesquisa. Os problemas e impasses dos processos de criação e de pedagogia que experimentei com a II trupe de Choque deram origem à uma reflexão teórica acerca de nossa experiência na Usina de Lixo, durante o mestrado. Já durante o doutorado, tais impasses geraram uma reflexão sobre a trajetória do teatro no Brasil, procurando compreender a ideia de “formação”, tão importante a diversos pensadores brasileiros, como Caio Prado Jr., Paulo Freire e Sergio Buarque de Holanda. Em busca de respostas para essa investigação, durante os processos de criação que coordenei junto à II Trupe de Choque, abandonamos a pretensão de retratar de forma linear qualquer espécie de processo de formação brasileiro, ou de uma identidade brasileira, já que pudemos identificar no país um acúmulo de realidades a conviverem em contradição, de maneira a fazer do atraso das relações sociais base de sustentação (e de exploração) para formas de sociabilidade modernas ou contemporâneas. Na última etapa desse processo de pesquisa, escolhemos duas escolas estaduais como sedes das atividades pedagógicas e de ação cultural realizadas pelo grupo, e também como espaços não convencionais para a criação e apresentação de nossos espetáculos, exatamente por serem capazes de alegorizar o tema central de estudo, no que esse diz respeito à formação dessa subjetividade brasileira: assim, para uma longa investigação coletiva que sempre tratou da (de)formação do país, decidimos situá-la no espaço, por excelência, de formação de sujeitos da sociedade ocidental, a escola. Dando continuidade à história do grupo, que já ocupou outros espaços públicos disciplinares, como uma Usina de Compostagem de Lixo, por quatro anos, e um hospital Psiquiátrico, por cinco anos, a escolha das escolas como espaços artísticos e pedagógicos veio da possibilidade de nos perguntarmos, dentro dessa instituição disciplinar, sobre a formação brasileira, sobre o “quem somos nós” e sobre o processo histórico e pedagógico que nos “formou” até aqui, como sujeitos e como nação.
A seguir, apresento uma relação, seguida de breve descrição, de minha
história como artista, como pesquisador e como educador.