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Direito Processual Penal | Material de Apoio

Professor Rodrigo Sengik.

PRISÃO EM FLAGRANTE

A PRISÃO AINDA NAS RUAS!

1) O ESTADO DE FLAGRANTE – MECANISMO DE ARCO-REFLEXO

Para que a gente bem possa entender a prisão em flagrante, você vai pensar no mecanismo de arco-reflexo,
aquele mesmo que aprendeu nas aulas de biologia. Pense em alguém, desatento de tudo, que acaba colocando a
mão no fogo sem perceber o que estava fazendo. A reação dessa pessoa será imediata: em um arco-reflexo, ela
tirará a mão do fogo, afastando-se do perigo.

A prisão em flagrante é exatamente a mesma coisa, ou seja: um mecanismo de arco-reflexo que visa a
afastar a sociedade do perigo ocasionado por um crime em andamento ou que acabou de acontecer. Logo, é medida
de autodefesa da sociedade, que busca neutralizar, de modo imediato, o risco ocasionado pela infração penal.

A PRISÃO EM FLAGRANTE É UM MOMENTO!


Tenha muita atenção aqui: o mecanismo de arco-reflexo é um momento! A prisão em
flagrante também tem de ser um momento! Se não for, tem coisa errada nessa história.
Portanto, esqueça aquela história do prazo da prisão em flagrante. Apesar de muita gente
falar que a prisão em flagrante tem prazo, isso non ecziste! Pense como o Tio Sengik e você
vai bem compreender nosso tema.

2) CONCEITO BÁSICO DE PRISÃO EM FLAGRANTE – É SÓ PARA VOCÊ ENTENDER!

A prisão em flagrante é medida de autodefesa da sociedade, caracterizada pela prisão daquele que está em
situação de flagrância e que independe de prévia autorização judicial, exatamente por ser uma reação imediata,
diante da agressão a ela causada pela infração penal em andamento ou que acabou de acontecer.

3) SUJEITOS DA PRISÃO EM FLAGRANTE

Existem dois sujeitos da prisão em flagrante, o ativo e passivo. Ativo é aquele que efetiva a prisão em
flagrante; passivo é aquele que é preso, exatamente porque foi encontrado em situação de flagrante delito. Então,
fica assim:

3.1) SUJEITO ATIVO: quem prende. Há dois tipos de sujeitos ativos: o facultativo e o coercitivo/obrigatório.

O sujeito ativo facultativo é o cidadão. Ele relaciona-se à situação em que a prisão em flagrante é facultativa
e a privação da liberdade do criminoso é acobertada pelo exercício regular de direito, pois todos nós cidadão temos
o direito de agir e neutralizar aquele que está e flagrante delito.

O sujeito ativo coercitivo ou obrigatório é o policial (“autoridade policial e seus agentes” de acordo com o
CPP). Ele age em situações em que a prisão em flagrante é coercitiva/obrigatória e a privação da liberdade do
“criminoso” é acobertada pelo estrito cumprimento de dever legal.

3.2) SUJEITO PASSIVO: é aquele que é preso. A princípio, qualquer um pode ser preso em flagrante. E o que
interessa de fato para nossos concursos é que o sujeito passivo da prisão em flagrante é aquele que está em situação
de flagrante delito. Logo, é preciso saber quando alguém está nessa situação, o que chamamos de espécies de
flagrantes.

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4) ESPÉCIES DE FLAGRANTES

4.1) ESPÉCIES DE FLAGRANTE DO ARTIGO 302 DO CPP

No artigo 302 do CPP, temos 3 espécies de flagrante, quais sejam: flagrante próprio, impróprio e presumido.
Eles despencam em nossas provas. Por isso, tenha atenção aos desenhos dados em aula para que você nunca mais
erre nada sobre esse tema.

FLAGRANTE PRÓPRIO

Esse tipo de flagrante também é conhecido como perfeito, real ou verdadeiro. Está previsto no artigo 302, I e
II, do CPP e se caracteriza pela certeza visual do crime. É aquele em que o infrator está cometendo ou acabou de
cometer a infração penal. Não restam dúvidas de ele agiu.

FLAGRANTE IMPRÓPRIO

O flagrante impróprio é também conhecido como imperfeito, irreal ou quase-flagrante. Está previsto no
artigo 302, III, do CPP. Ele se caracteriza pela presença de:

1) perseguição: deve ser ininterrupta (não importa o prazo; a perseguição apenas tem de ser ininterrupta do
ponto de vista da vontade dos perseguidores);

2) logo após o cometimento do delito: esse “logo após” é o lapso temporal entre o acionamento da polícia,
seu comparecimento ao local do delito e colheita de elementos necessários para que se dê início à
perseguição.

AS BANCAS ADORAM ESSE FLAGRANTE!


As Bancas têm uma predileção por esse flagrante impróprio e o chamam de quase flagrante.
Por quê? Exatamente, porque não é propriamente uma situação de flagrante, eis que não há
certeza visual da infração penal.

Além disso, se você ler o artigo 302, III, do CPP, vai encontrar o termo “presumir” aqui no
flagrante impróprio, razão pela qual você pode confundi-lo com a próxima espécie de
flagrante – mas são coisas totalmente diferentes – minha dica: leia o artigo 302 do CPP por
completo, mas fique com os esquemas da aula, pois eles foram feitos para que você nunca
mais confunda nada aqui!

FLAGRANTE PRESUMIDO

O flagrante presumido é também conhecido como ficto ou assimilado. Ele está previsto no artigo 302, IV, do
CPP e é caracterizado pelo encontro fortuito do infrator numa situação em que me permita concluir que ele praticou
um crime recentemente – o CPP diz assim: o sujeito é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou
papéis que façam presumir ser ele autor da infração.

Nesse caso, não é necessário haver perseguição, basta que o indivíduo seja encontrado com instrumentos
que façam concluir ser ele o autor do crime. Além disto, deve-se atentar ao fato de a lei usar a expressão “logo
depois”, ao invés de “logo após”, expressão que caracteriza do flagrante impróprio. Portanto, se aparecer o “logo
depois”, estamos falando de flagrante presumido; se aparecer o “logo após”, deverá ser o flagrante impróprio.

APRESENTAÇÃO ESPONTÂNEA/VOLUNTÁRIA

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Observe que o artigo 302 apresenta as espécies de flagrante e que, dentro delas, não há
espaço para a apresentação espontânea. Por isso, os intérpretes da lei processual penal, por
motivos diversos e bem estranhos, estabeleceram que, no caso de apresentação voluntária o
infrator penal, este não pode ser preso em flagrante. Mas veja como é simples: se a prisão em
flagrante é mecanismo de arco-reflexo da sociedade, quando o sujeito se apresenta
espontaneamente para a Polícia, não há o se falar em resposta imediata diante de um risco,
até porque o perigo causado pela conduta está controlado. Assim, você vai gravar que:

NÃO CABE PRISÃO EM FLAGRANTE DAQUELE QUE SE APRESENTA ESPONTANEAMENTE!

Nessa situação, apesar de não caber a prisão em flagrante, poderá ser decretada a prisão
temporária ou preventiva, se estiverem presentes seus requisitos.

FLAGRANTE NOS CRIMES PERMANENTES!

Crimes permanentes são aqueles cuja conduta se estende no tempo. Portanto, enquanto
houver permanência, há crime em andamento e, assim, há estado de flagrante delito. Desde
modo, em qualquer momento em que a ação se estender no tempo, é possível a prisão em
flagrante. Super fácil, lógico e você não precisa decorar nada.

4.2) ESPÉCIES DE FLAGRANTES DA DOUTRINA, JURISPRUDÊNCIA E LEIS ESPECIAIS

Além das espécies de flagrante do artigo 302 do CPP, você precisa conhecer outras que são citadas pela
doutrina, jurisprudência e, hoje, leis especiais. São, basicamente, quatro espécies, sendo que duas delas são lícitas e
duas são ilícitas. Vamos a elas!

FLAGRANTE ESPERADO

Nesse caso, a autoridade policial limita-se a aguardar o momento da prática do delito para efetuar a prisão
em flagrante. Importa frisar que não há induzimento nem agente provocador. Assim, a Polícia apenas recebe
informações, monta a operação, senta e pega um donuts e fica esperando o crime acontecer.

A PERGUNTA É: O FLAGRANTE ESPERADO É LÍCITO, PROFESSOR SENGIK?


CLARO QUE É! Ele é perfeitamente legal.

FLAGRANTE PRORROGADO/RETARDADO/DIFERIDO/AÇÃO CONTROLADA

Trata-se da famosa ação controlada. Consiste no retardamento da intervenção policial, que se deve dar no
momento mais oportuno do ponto de vista da colheita de provas, obtenção de informações e efetivação de prisões.
Ex. clássico – deixar de prender a “mula” para também poder prender os traficantes maiores, em momento
posterior.

Essa espécie de flagrante está em diversas leis, mas duas são especiais para nós, quais sejam: LOC e Lei de
Drogas. Leia-as:

Artigo 8° da LOC (Lei 13850 – Lei das Organizações Criminosas). Consiste a ação controlada em retardar a
intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela
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vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no
momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.

§ 1° O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente comunicado ao juiz


competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério Público.

§ 2° A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter informações que possam indicar a
operação a ser efetuada.

§ 3° Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao
delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações.

§ 4º Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação controlada.

Art. 9° Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da intervenção policial ou


administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das autoridades dos países que figurem como
provável itinerário ou destino do investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto,
objeto, instrumento ou proveito do crime.

Cuidado! Há, aqui, uma questão recorrente em concursos públicos: na LOC, não existe autorização judicial
para a ação controlada. O que é exigido das autoridades é apenas a comunicação ao Juiz competente, que não irá
autorizar a ação, mas, se for o caso, estabelecer seus limites. É importante memorizar essa informação!

Artigo 53, II, da Lei 11343. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei,
são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os
seguintes procedimentos investigatórios:...

II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos
utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e
responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação
penal cabível.

Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam
conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores.

A PERGUNTA É: A AÇÃO CONTROLADA É LÍCITA, PROFESSOR SENGIK?


CLARO QUE É!

FLAGRANTE PREPARADO/PROVOCADO

Também é conhecido como crime de ensaio e delito putativo por obra do agente provocador. Possui dois
requisitos:

1) indução à prática do delito: quem induz a pessoa à prática do delito é chamado de agente provocador e
pode ser tanto um particular quanto um policial; e

2) adoção de precauções para que o delito não seja consumado, o que torna o crime impossível, razão pela
qual a prisão é ilegal. Nesta seara, é importante lembrar o conteúdo da Súmula 145 do STF:

Súmula 145 do STF. Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação.
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A PERGUNTA É: O FLAGRANTE PROVOCADO É LÍCITO, PROFESSOR SENGIK?


CLARO QUE NÃO! Essa é a regra.

Porém, você deve ter especial atenção aos crimes de tipo misto alternativo (os crimes de ação
múltipla, ou seja, aqueles em que o tipo penal incriminador tem uma lista plúrima de verbos),
pois, neles, o sujeito não pode ser preso pela conduta fomentada pelo agente provocador,
mas pode ser preso em flagrante por outros verbos que tenha praticado sem qualquer
indução de terceiros.

Exemplo: no artigo 33 da Lei 11.343 (Lei de Drogas), se o Policial simular que vai comprar
drogas, não poderemos prender o traficante em razão do verbo “vender”, mas, como há
diversos outros verbos no tipo penal em questão, poderemos prendê-lo pelas demais
condutas, como: “trazer consigo”. Vejamos o artigo em questão:

Artigo 33 da Lei 11343. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,
vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil
e quinhentos) dias-multa.

FLAGRANTE FORJADO

Esse tipo de flagrante é também é conhecido como urdido ou maquinado. Ocorre quando autoridades
policiais ou particulares criam provas de um crime inexistente, a fim de legitimar uma prisão em flagrante. Ex.: a
patroa com orgulho ferido que coloca suas joias na bolsa da bela empregada com quem o patrão anda tendo um
caso e a acusa de furto.

A PERGUNTA É: O FLAGRANTE FORJADO É LÍCITO, PROFESSOR SENGIK?


CLARO QUE NÃO!

A PARTE TÉCNICA DA PRISÃO EM FLAGRANTE

De forma bastante simplificada, o flagrante pode ser cindido em diferentes etapas: a captura, a condução e a
lavratura do auto de prisão em flagrante – o APF. Depois disto, ainda existe a fase de homologação (ou não) da
prisão por parte do Juiz competente. O que se chama de parte técnica da prisão em flagrante é a formalização e a
homologação da prisão em flagrante. Eis o tema dessa aula, que cai bastante em nossas provas, principalmente para
os cargos de Delegados e Escrivães!

5) A LAVRATURA DO AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE (APF)

A lavratura do APF é tema super simples demais e você não pode deixar de saber. Tem professor que faz
uma salada na cabeça do aluno. Se foi o seu caso, formate sua mente e vem com o Tio Sengik, pois o tema é
importante e muito fácil. Assista à aula com atenção, faça o teu material e, depois, leia essa sequência:

1) o condutor apresenta o preso à autoridade policial (Delegado);

2) o Delegado ouve o pessoal todo (condutor, testemunhas, vítima e o preso);


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3) cada um que é ouvido assina seu correspondente termo de declaração e pode ir embora (menos o preso,
obviamente) – ao condutor, ainda é repassado recibo de entrega do preso para comprovar que o preso foi
devidamente entregue aos cuidados do Delegado;

4) ao final, o Delegado confecciona a ata da prisão, que é um fechamento, onde aponta qual seria a infração
penal praticada pelo custodiado, aponta as diligências e demais providencias que devem ser tomadas no caso
concreto;

5) tudo isso junto, é o que o CPP chama de APF.

Nesse procedimento, ainda é importante lembrar dos seguintes detalhes:

a) o condutor não precisa ser quem prendeu o sujeito nem precisa ter presenciado a prisão;

b) são necessárias, pelo menos, duas testemunhas (e o condutor pode ser uma delas), que não precisam ter
presenciado o fato criminoso, mas apenas a apresentação do preso ao Delegado – quando são chamadas
testemunhas de apresentação ou fedatárias;

c) logo, a falta de testemunhas do fato não impede a lavratura do APF – questão que já caiu muito em nossos
concursos;

d) na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada pela autoridade lavrará o auto,
depois de prestado o compromisso legal;

e) no APF, deverá constar a informação acerca de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência
e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa – isso foi
incluído em 2016 pela Lei da Primeira Infância.

NOTITIA CRIMINIS COERCITIVA/OBRIGATÓRIA!

É interessante a gente recordar que o APF é conhecido como notitia criminis de cognição
coercitiva/obrigatória. Nela, o suspeito é conduzido diretamente ao Delegado que,
entendendo ter havido crime, lavrará o APF em seguida. Ademais, será o próprio APF a peça
inicial do IP.

6) AS COMUNICAÇÕES IMEDIATAS

As comunicações imediatas estão no caput do artigo 306. Leia-o:

Artigo 306 do CPP. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.

Veja que o Delegado deve comunicar imediatamente o Juiz competente, o MP e a família do preso, ou
pessoa por esse indicada, acerca da prisão e o local em que ele se encontra custodiado.

“IMEDIATAMENTE”?

Você pode estar se perguntando o que é “imediatamente”. Digo-lhe o seguinte: é já! O mais
rapidamente possível, até para que a família do preso possa providenciar o amparo que pensa
devido, como por exemplo, buscar auxílio jurídico – ligar para o Advogado.
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Já vi questões considerarem correto dizer que esse “imediatamente” seria 24h. Isso é
totalmente errado, seja pela prática de nossas Delegacias, seja pelos Princípios do Direito
Processual Penal. Imagine: 24 horas depois de lavrado o APF, o Delegado confere ao preso a
possibilidade de ligara para o Advogado, que, de acordo com o Estatuto da OAB, teria o
direito de estar presente no interrogatório de seu cliente. Isso é absurdo. Então, se você se
deparar com uma assertiva dessas, esqueça-a!

7) EM ATÉ 24 HORAS, AINDA É PRECISO...

O mesmo artigo 306 traz, em seus parágrafos, o que deve ser feito em até 24h. Veja-o com explicações:

Artigo 306 do CPP. ... § 1º. Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado
ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado,
cópia integral para a Defensoria Pública – tal cópia é necessária, pois aquele que não tem um Advogado
particular a constituir para sua defesa, será defendido por Defensor Público.

§ 2º. No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade,
com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas – essa nota de culpa é um documentos
super simples, mas em que se dá ciência ao custodiado acerca dos motivos e responsáveis por sua prisão;
trata-se de mais está lá no artigo 7 da Convenção Americana Sobre Direitos Humanos – Pacto São José da
Costa Rica.

LEMBRA DO ARTIGO 5º DA CF?

Só pra você se recordar, essas comunicações todas estão no Artigo 5º da CF. Olha só:

Artigo 5º da CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:...
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-
lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;...

Inclusive, o CPP não fala desse assunto, mas, junto com a nota de culpa, ainda vai outro
documento: as garantias constitucionais do preso. É nele em que o Delegado demonstra ter
explicitado ao custodiado que tinha, por exemplo, direito ao silêncio durante o interrogatório
– esse alerta, diga-se, costuma estar já no termo de depoimento do sujeito.

8) “DIGA AÍ, JUIZ, O QUE CÊ VAI FAZER?”

Quando ao APF chega às mãos do Juiz, começa o que chamam de fase judicial da prisão em flagrante. Na
verdade, é nesse momento em que alguém com poder de jurisdição vai analisar o caso e dar destinação ao
custodiado. De chegada, o Juiz deve analisar a prisão é lícita ou não. Se foi lícita, haverá a homologação judicial da
atividade policial.

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Se o Juiz entender que a prisão em flagrante é ilegal, ele tem de RELAXAR a prisão. Tenha muita atenção ao
termo! Não se trata de revogação, pois só se revoga algo que é lícito e que não merece mais existir (um ato que
regular, mas que, por algum motivo, não se sustenta mais).

Se o Juiz entender que a prisão em flagrante é legal, de acordo com o CPP, ele:

1) decreta medida cautelar diversa da prisão, se for adequada e suficiente;

2) converte a prisão em flagrante em prisão preventiva; ou

3) libera o custodiado, com ou sem fiança.

NESSE MOMENTO, O JUIZ PODERIA DECRETAR A PRISÃO TEMPORÁRIA DO SUJEITO?

Sim, desde que houvesse representação do Delegado ou requerimento do MP nesse sentido –


jamais de ofício. Veja que o CPP não trouxe essa possibilidade no artigo 310, mas ela existe
sim.

Também é muito importante lembrar que, se o Juiz verificar que o custodiado praticou o fato sob alguma
excludente de ilicitude, ele deve lhe conceder liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os
atos processuais.

Veja como isso tudo está no CPP:

Artigo 310 do CPP. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente:

I - relaxar a prisão ilegal; ou

II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312
deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou

III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.

Parágrafo único. Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato nas
condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940
- Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de
comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação.

9) POSSÍVEIS “RECURSOS”

Algumas Bancas começaram a nos questionar acerca dos recursos que podem ser utilizados diante de prisão
em flagrante ou seu relaxamento. Fica assim:

a) cabe habeas corpus diante da prisão, remédio pelo qual vamos apontar ilegalidades que possam ter
ocorrido durante o ato, se a infração penal que estiver sendo imputada ao investigado tiver pena
privativa de liberdade prevista em abstrato;
b) cabe Recurso em Sentido Estrito (RESE) diante do relaxamento da prisão, recurso pelo qual a acusação
vai questionar a soltura do custodiado.

10) NATUREZA JURÍDICA DA PRISÃO EM FLAGRANTE

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Se você olhar para o CPP, a prisão em flagrante parece ser uma prisão cautelar. Na verdade, ela nasceu assim
mesmo, tanto que ela demanda a presença dos pressupostos cautelares -– fumus comissi delicti e periculum
libertatis. O fumus comissi delicti se encontra exatamente no estado de flagrante, enquanto que o periculum
libertatis acaba se configurando na possibilidade de consumação/exaurimento do crime, de fuga e de perda de
elementos de convicção (provas, em sentido lato).

Porém, na atual sistemática do processo penal, a prisão em flagrante acaba sendo mero momento de
contenção do sujeito, sendo que sua situação jurídica deve ser reavaliada o mais rapidamente possível pelo Juiz.
Nessa reavaliação, o Juiz pode decretar medidas cautelares não prisionais (como o uso de tornozeleira eletrônica) ou
prisionais (prisão preventiva ou temporária). Logo, a gente conclui que a prisão em flagrante acaba sendo medida
pré-cautelar, eis que dela poderão surgir instrumentos que efetivamente são cautelares.

Diante disso, convém que se tenha o seguinte cuidado: a doutrina mais aprofundada entende a prisão em
flagrante como medida pré-cautelar, pois ele não tem um fim em si mesmo, e será, no futuro, substituído pela prisão
preventiva, prisão temporária ou até outra medida cautelar diversa da prisão.

Então, no fim das contas, você pode considerar como correto dizer que a prisão em flagrante é medida cautelar – é a
opinião clássica -, mas também é certo dizer que é pré-cautelar – a opinião moderna.

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