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CASOS CLÍNICOS – CARDIOLOGIA

Beatriz Faustino Nogueira

CASO I

1. Interpretação

Apesar de ambos os pacientes terem apresentado resultado indicativo de isquemia


miocárdica, o do paciente de 78 anos deve ser interpretado como verdadeiro
positivo e o do jovem de 21 como falso positivo.

2. Justificativa

No caso do jovem de 21 anos, não se pode confirmar existência de doença


cardiovascular, já que a história pessoal e familiar não corroboram o resultado. Para
de fato investigar e confirmar isquemia miocárdica devem ser feitos exames
complementares, de maior especificidade, como ECO, TE, Holter e RNM. Apenas o
teste de esforço não fecha diagnóstico de doença cardiovascular nesse caso de um
paciente jovem sem história que indique isquemia ou fatores de risco para tal.
Já no caso do senhor de 78 anos, o resultado de isquemia obtido no teste é coerente
com os antecedentes pessoais e a história pregressa do doente.
Essa diferença de diagnóstico se dá pelo teste de esforço ser um exame de baixo
valor preditivo positivo, que é a proporção dos pacientes que realmente possuem a
doença dentre aqueles que obtiveram resultado positivo no exame.

3. Sensibilidade

É a probabilidade de o teste ser positivo, dado que o indivíduo tem a doença.

4. Especificidade

É a probabilidade de o teste ser negativo, dado que o indivíduo não tem a doença.

5. Acurácia

Relação do teste com o verdadeiro estado do indivíduo, seja doente ou não


A acurácia é medida levando-se em conta a sensibilidade e a especificidade do teste,
propriedades do teste diagnóstico, e é usada para definir o método padrão ouro. No
caso do teste de esforço, a acurácia é de 73%.

6. Teorema de Bayes

O teorema de Bayes relaciona dois eventos estatisticamente. Em testes diagnósticos


é importante para inferir, pré-teste, a probabilidade da uma determinada população
ter alguma doença, pois leva em consideração a prevalência e dados
epidemiológicos prévios. Isso auxilia o médico na interpretação do resultado de
exames, como no caso acima.

7. ECG

No ECG pode-se observar infradesnivelamento do segmento ST de V2 a V6, onda T


negativa e intervalo QT aumentado, indicando isquemia de parede anterior
CASO II

1. HD

IAM
Síndrome aórtica aguda
Embolia pulmonar?

2. ECG

Podemos observar supradesnivelamento do segmento ST em D2, D3 e aVF,


infradesnivelamento de ST em D1 e aVL, sendo sugestivo de IAM de parede inferior

3. Dispneia e estertores crepitantes pulmonares

Se deve ao acúmulo de líquido intersticial e/ou alveolar pulmonar e alterações na


relação ventilação-perfusão, causadas por shunt arteriovenoso pulmonar devido ao
aumento da pressão diastólica do VE

4. Quarta bulha

Se deve a hipertrofia de VE
A hipertrofia causa diminuição da complacência e isso produz um som secundário
pois há um aumento da força de contração atrial para o enchimento ventricular pré
sistólico

5. Conduta no PS

Como já foi solicitado o ECG, a conduta a ser seguida é solicitar marcadores de


necrose cardíaca, troponina e CPK e administrar:
AAS 200mg
Clopidogrel 300mg
Oxigenoterapia, de rotina em pacientes com congestão pulmonar e/ou saturação O2
< 90%
OBS.: A administração de morfina IV no caso de IAM de parede inferior não deve ser
realizada devido ao risco de causar hipertensão arterial grave e refratária

6. Fatores de Risco

Tabagismo, sexo masculino, idade


CASO III

1. HD

AVC isquêmico agudo embólico por um quadro de fibrilação atrial

2. Ritmo cardíaco

O ritmo é não-sinusal, característico de taquiarritmia por fibrilação atrial. Podemos


observar intervalos R-R irregulares.

3. Valvulopatia de acordo com ausculta

A ausculta é de sopro sistólico em foco mitral, sugestiva de insuficiência mitral

4. Ictus

O ictus deslocado indica dilatação do ventrículo esquerdo. No quadro de


insuficiência mitral, há uma sobrecarga de volume no VE, com aumento da pressão
e, posteriormente, dilatação do VE.

5. Pulsos simétricos

A presença de pulsos simétricos afasta algumas hipóteses diagnósticas, como de


dissecção aórtica e coarctação de aorta

6. Alterações no ECG

Supradesnivelamento do segmento ST e fibrilação atrial

7. Prevenção

Deve-se indicar para a paciente o uso de anticoagulantes, para evitar fenômenos


embólicos futuros, IECA e B-bloqueadores para a disfunção do VE
CASO IV – MEMÓRIAS DE ADRIANO

1. Queixas

Adriano diz-se indisposto, relata dormir pouco e mal, tem queixas compatíveis com
dispneia paroxística noturna, frialdade de membros e edema de MMII

2. HD

Insuficiência cardíaca congestiva

3. Causa

A ICC de Adriano provavelmente foi causada por um quadro de hipertensão arterial


sistêmica

4. Prevenção

Diminuir ingesta alcoólica, restringir o sal, realizar exercícios físicos, não fumar

5. “É difícil permanecer imperador na presença do médico e mais difícil


permanecer homem”

Adriano tinha dificuldade de mostrar-se vulnerável. A posição de poder e a noção de


masculinidade, tanto na Roma antiga como hoje, vêm carregadas de um imaginário
coletivo e cultural rígido, que faz os homens reprimirem fraquezas e sentimentos.

6. “O olho do prático não via em mim senão um amontoado de humores, triste


amálgama de linfa e de sangue”

A fala de Adriano deve ser entendida hoje como uma queixa ao profissional de saúde
que ignora a subjetividade do paciente ao tratar apenas de um conjunto de sinais e
sintomas. Essa queixa é recorrente na atualidade e vista como desatenção por parte
do médico. O contato entre o médico e o paciente deve, portanto, abranger a
complexidade biopsicossocial. O foco da comunicação deve ser o paciente, e não a
doença. Especialmente porque coletar dados e transformá-los em protocolos e
condutas pode ser feito por algoritmos e máquinas nos dias de hoje. Porém, a escuta
generosa, a manifestação de empatia, a leitura de linguagem não verbal e
capacidade de expressar emoções e acolher ainda são qualidades humanas,
importantíssimas no tratar de outros humanos, em especial em um momento de
vulnerabilidade, como o em que Adriano se mostrava.

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