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ADAPTAÇÃO DA CROMATOGRAFIA EM COLUNA PARA ENSINO MÉDIO:

OBSERVANDO O COMPORTAMENTO DAS CORES DAS CANETAS HIDROCOR

Gabriel Nery Nascimento


(eugabrielnery@gmail.com)

RESUMO:
Este trabalho é baseado no artigo de Lucélia Hoehne e Rosecler Ribeiro com o título “Uso da
Cromatografia em Papel para Revelar as Misturas de Cores das Canetinhas Tipo Hidrocor em
Diferentes Fases Estacionárias” que trabalha a cromatografia em papel. A cromatografia em
coluna é um experimento pouco convencional dentro do ensino médio, visto sua grande
exigência de materiais de difícil acesso. Encarando a realidade da educação pública atual que
já enfrenta vários problemas em termos de suportes para aulas e a situação de desinteresse dos
alunos, é mais fácil encontrarmos técnicas mais simples como a Cromatografia em Papel (CP)
nas escolas. Portanto, este artigo apresenta uma adaptação do modelo de Cromatografia em
Coluna (CC) conhecido. Adaptado a materiais de fácil acesso como refil de ketchup, amido de
milho, álcool e hidrocor, este experimento tem pretensão de auxiliar discentes e professores
na aplicação de práticas em ciências exatas.

Palavras-chave: cromatografia em coluna, separação de cores, experimentação

1. INTRODUÇÃO:

Durante a formação de alunos no curso de química do ensino médio, é comum


observarmos uma grande barreira na compreensão de conteúdos, de difícil visualização ou
muito abstratos. Quanto à realidade da educação nacional, atualmente, o ensino das ciências
exatas está marcado pela memorização de formulas e informações a serem reproduzidas em
avaliações semestrais/bimestrais resultando na aprovação ou não dos discentes ao final do ano
letivo. Uma educação diferente da prevista nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais),
onde o estudo das ciências da natureza visa uma aplicação real no cotidiano e uma
aprendizagem significativa para o aluno, que em tese frequenta a escola como parte de sua
formação como cidadão.
Toda dificuldade no ensino e aprendizagem é ampliada quando trabalhamos o
universo da educação pública. Estruturas precárias, escolas sucateadas, tempo insuficiente,
profissionais sem reconhecimento e/ou sem preparo, são alguns dos fatores que podem ser
pontuados como influência direta na redução do rendimento escolar no Brasil. Não deixando
de citar o desinteresse de grande parte dos alunos, que aparentemente, não encaram a
educação como um pilar para a vida em sociedade, mas sim como uma pedra de tropeço
durante a juventude. Descaso evidenciado em altos níveis de evasão (interna e externa) e
reprovação nesse contexto de educacional.
Segundo Bissoli (2014, citador por SANTANA, 2014), o fenômeno da evasão escolar
é conceituado como o abandono da escola pelo aluno durante o ano letivo, antes da conclusão
de uma série e consequentemente, de um curso. Essa continua sendo uma grande ameaça à
realidade educacional no Brasil, um dos campeões nesse ranque negativo e vergonhoso.
Naturalmente, existem profissionais que tentam romper as barreiras do que se tornou
convencional e ampliar as atividades em sala para além da quantificação dos saberes
adquiridos durante as unidades escolares. O docente de química, principalmente, enfrenta toda
mistificação da disciplina, seja fantasiosa ou demonizada, feita pelos alunos, que influência
diretamente na aprendizagem como uma barreira psicológica. A falta de recursos é outra
problemática ao se tentar aproximar os conteúdos discutidos na sala de aula, com a vida em
sociedade, ou a visualização de conceitos experimentais. Sejam equipamentos laboratoriais ou
tecnológicos, espaço físico ou equipamentos de proteção adequados, a realidade da educação
pública tem sido marcada pela falta de suporte.
A respeito disso Izquierdo e cols (1999, citados por Guimarães, C.C., 2009), falam:
“(...) A experimentação na escola pode ter diversas funções como a de ilustrar um princípio,
desenvolver atividades práticas, testar hipóteses ou como investigação. Sendo a ultima que
mais auxilia no processo de aprendizagem”.
O preparo do plano de aula não garante em nada uma sequência de sucesso nas
atividades aplicadas em sala. Os horários fragmentados, turmas heterogêneas, exposição do
conteúdo, atividades avaliativas e interferências aleatórias não deixam margem de previsão no
curso das aulas. Em cada turma há um retorno e cada aluno tem sua identidade e forma de
percepção. Com todos esses fatores, intercalar suportes para as aulas, como a experimentação,
não é uma tarefa fácil.
A utilização de materiais de fácil acesso e baixo custo é o primeiro requisito na hora
do preparo de uma aula experimental, considerando a segurança da turma, a praticidade da
participação dos alunos e o descarte do resíduo gerado ao final da aula. Outro fator importante
é o equilíbrio entre o lúdico e o didático, pois sem um objetivo definido a experimentação
passa a ser um espetáculo.
Propostas de utilização de materiais acessíveis vêm crescendo com louvor nos
discursos de graduandos na área da licenciatura em química. São experimentos simples com
grande alcance educacional. Conteúdos como adsorção, separação de substâncias complexas,
polaridade das moléculas são comumente apresentados pela cromatografia em papel, de fácil
visualização e experimentação simples, com a utilização de canetas do tipo hidrocor.
Podemos facilmente comparar a cromatografia de adsorção aos raios de luz em um
espectro, em que é possível visualizar os diversos componentes de uma mistura de cores,
podendo então ser determinados qualitativa e quantitativamente. (Paloschi et al., 1998, p.35)
Nesse trabalho, é apresentado um experimento pouco convencional no ensino médio: a
cromatografia em coluna. O alcance em termos de aprendizagem é fundamentalmente
semelhante ao na cromatografia em papel, porém, possibilita aos alunos uma nova
compreensão desse método de separação de misturas onde se torna mais perceptível a
separação das cores que constituem cada tinta das canetas hidrocor.
As cores são o principio da cromatografia, que através da analise da assinatura das
mesmas é capaz de definir propriedades intrínsecas a constituição do produto pronto que esta
sendo analisado. As cores das canetas hidrocor como a verde, por exemplo, que aparecem
durante a análise, refletem as usadas na fabricação das mesmas, que no caso da verde que é
uma cor secundária, espera-se o aparecimento das cores amarela e azul.

As cores sempre estiveram presentes desde o começo da história do homem. Elas


faziam parte mais das necessidades psicológicas do que das estéticas, como por
exemplo, na história dos egípcios que sentiam na cor um profundo sentido
psicológico, tendo cada cor como um símbolo. (FREITAS, A. K. M., 2007)

No presente artigo, é proposta a cromatografia em coluna para experimentação


adaptada ao ensino médio com a utilização de materiais de uso cotidiano, sem danos a saúde
ou riscos a segurança dos alunos, gerando resíduos de fácil descarte. São, portanto, seus
objetivos estudar a ação da adsorção durante a separação das cores, os fatores que
possibilitam essa separação, a relação entre a amostra com as fases móvel e estacionária, e a
relação com a polaridade de cada componente na coluna de separação (e se for do interesse do
professor cabe à introdução a interações intermoleculares).

2. MATERIAIS E MÉTODOS:
Por ser uma técnica analítica de separação de misturas, a proporção de cada reagente e
utensilio, pode variar de acordo com a quantidade da amostra. Seguem os materiais em
quantidade usada para realização desse experimento:

 Amido de milho;
 Algodão (pode ser substituído por papel-higiênico);
 Álcool etílico;
 Três cores de caneta hidrocor (verde, preto e xxxx);
 Três frascos plásticos transparentes com tampa modelo rosca, tipo bico
aplicador (refil de tinta de impressora) (podendo ser substituídos por seringas
de 60 mL)
 Frasco de ketchup transparente;
 Recipientes para diluição das tintas das canetas.

Inicialmente retirou-se a carga de cada hidrocor colocando em contato com cerca de


30 mL de álcool, com um corte vertical no tubo com a tinta, para facilitar a diluição (pelo
aumento da superfície de contato). Enquanto isso a coluna cromatográfica foi preparada no
refil de tinta de impressora. Retirou-se o fundo do frasco com uma faca, e com cuidado para
não fechar a saída, colocou-se uma quantidade de algodão suficiente para servir como filtro
impedindo a passagem da fase estacionária (amido de milho). Com o recipiente tampado e
virado com a abertura feita para cima, 60 mL de amido foram adicionados. Com cuidado,
empacotou-se a coluna através de impactos nas laterais do frasco, reduzindo o volume do
amido, para evitar rachaduras durante a separação. Acrescentou-se a faz estacionaria até a
marcação inicial, pressionando com algum objeto, até que o volume não reduzisse em cerca
de 50% da capacidade do frasco.
Adicionou-se cerca de 60 mL de álcool (eluente) para completa umidificação da fase
estacionária. Após a eluição da fase móvel para o refil de ketchup, que serviu de suporte para
a aparelhagem, não restando mais nada acima do amido, acrescentou-se um pouco de algodão
(sem excesso). Com a coluna pronta, adicionou-se a primeira cor, o verde, (o volume total de
30 mL) e com a eluição completa dela, adicionou-se cerca de 20 mL de álcool para que toda a
tinta fosse para a fase estacionaria. Repetiu-se o procedimento com as duas cores restantes,
observando seu comportamento.
Ao final do experimento descartou-se os resíduos com facilidade.
Através desse experimento é possível separar as cores que vão surgindo com a adição
na fase móvel, no entanto, á princípio este experimento tem fins apenas qualitativos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após a separação das cores foi possível observar a presença das cores constituintes
em cada caneta hidrocor. Analisando a cromatografia com a tinta verde (Figura 01) a
visualização, que só é possível dentro de trinta minutos, indicou a presença das cores azul e
amarelo na sua constituição, destacando a cor azul com mais afinidade com a fase móvel,
assim como na separação da tinta marrom (Figura 02).

Figura 01 – Cromatografia em coluna Figura 02 – Cromatografia em coluna


da tinta verde (Marca A). da tinta marrom (Marca A).

Fonte: Elaborada pelo autor. Fonte: Elaborada pelo autor.

Os resultados podem variar de acordo com o eluente usado, a concentração da fase


móvel, a fase estacionária, o empacotamento, as cores usadas e a marca do hidrocor. Quando
mudamos a marca da caneta hidrocor a fase móvel arrastou toda a tinta preta como é possível
ver na Figura 03, onde a mudança no eluente, provavelmente, favoreceria a separação.
É importante registrar que não é possível identificar todas as cores presentes nas tintas
de cada hidrocor, visto que em comparação com a Cromatografia em Papel (CP), a em coluna
(adaptada) não permite a visualização de tantas cores quanto ela. No entanto, a observação da
separação das cores é mais nítida e a visibilidade é maior.
Figura 03 – Cromatografia em coluna da tinta preta (Marca B).

Fonte: Elaborada pelo autor.

A discursão quanto à adsorção é possível, pois a visualização da fase móvel eluindo


permite questionamentos quanto à interação entre ela e o amido de milho. E a facilidade de
algumas cores interagirem melhor com o eluente aborda conceitos de polaridade e introduz
interações intermoleculares. Além, é claro, de abordar um método de separação pouco
convencional que raramente é abordado no ensino médio.
Independentemente ou associado à CP, este experimento tem ampla aplicação, além
das já citadas, durante o curso de química no ensino médio (substâncias e misturas, tipos de
misturas, tipos de separações físicas que existem). Outro ponto importante é o momento da
aplicação do experimento, que pode ter caráter investigativo ou demonstrativo.
Pedagogicamente, oferecer ao aluno a oportunidade de se questionar é construir esse novo
conhecimento em base sólida, pois torna a aprendizagem desse conteúdo significativa para
ele.
Como a cromatografia não é algo rotineiro para os alunos, nada melhor que a
experimentação para proporcionar uma ponte entre ele e os novos conceitos que dessa forma
podem se agregar construtivamente para sua formação como cidadão, sem memorização de
conceitos e com um maior efeito pedagógico.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Além de driblar a falta de recursos, essa adaptação tem amplo campo de atuação entre
os conteúdos da química. A simplicidade no experimento e os efeitos didáticos, enquadram a
cromatografia em coluna como mais um método experimental para o ensino médio.
Ainda, podendo sem mais explorada, essa técnica abrange alteração de fase móvel ou
fase estacionária e deixa margem para pesquisas de outros produtos que apresentem afinidade
com elas.
Dessa forma, este trabalho serve como base para professores e alunos no processo de
ensino e aprendizagem que numa realidade educacional pública exige cada vez mais suporte
para uma educação construtiva e uma aprendizagem significativa.

REFERÊNCIAS

PALOSCHI, R.; RIVEROS, R.; ZENI. M.; CROMATOGRAFIA EM GIZ NO ENSINO


DE QUÍMICA: Didática e economia. QUÍMICA NOVA NA ESCOLA, , v. , n. 7, p. 35-36.
5/1998. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc07/exper1.pdf. Acesso em:
12/5/2016

FARIA, Dalva L. A. et al. Limpando Moedas de Cobre: Um Laboratório Químico na


Cozinha de Casa. Química Nova na Escola, São Paulo-SP, v. 38, n. 1, p. 20-24. 02/2016.
Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc38_1/05-CCD-58-15.pdf. Acesso em:
12/05/2016

FREITAS, Ana Karina Miranda de. PSICODINÂMICA DAS CORES EM


COMUNICAÇÃO, Limeira/SP , v. 4, n. 12, p. . 10/2007. Disponível em:
http://www.iar.unicamp.br/lab/luz/ld/Cor/psicodinamica_das_cores_em_comunicacao.pdf.
Acesso em: 12/05/2016

HOEHNE, Lucélia; RIBEIRO, Rosecler. USO DA CROMATOGRAFIA EM PAPEL


PARA REVELAR AS MISTURAS DE CORES DAS CANETINHAS TIPO
HIDROCOR EM DIFERENTES FASES ESTACIONÁRIAS. Destaques Acadêmicos,
Feira De Ciências/Univates, v. 4, n. 12, p. . 01/2013. Disponível em:
http://www.univates.br/revistas/index.php/destaques/article/viewFile/612/410. Acesso em:
12/05/2016

BISSOLI, S.C.A, 2010. In: SANTANA, Claudinei Alves. Evasão Escolar, Abril de 2014.
Disonível em: <http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/55873/evasao-escolar>
Acesso em: 17/05/2016.

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