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Formação Didática do Educador. Dos S. Vasconcellos, Celso.

Formação Didática do
Educador Contemporâneo: Desafios e Perspectivas. Libertad — Centro de Pesquisa,
Formação e Assessoria Pedagógica, 2011.

“No entanto, como vemos, são muitos os indicadores que confirmam o problema da
não-aprendizagem dos alunos. Vale destacar que não estamos julgando a
competência cognitiva dos educandos (“os alunos não são capazes de aprender”),
muito pelo contrário, este tipo de preconceito é que combatemos.

De imediato, esclarecemos também que não se trata de julgamento moral dos


educadores — até porque, como registramos, há intenção de ensinar —, mas de uma
constatação da realidade.” (p.35);

O texto propõe apresentar as dificuldades no processo ensino/aprendizagem nas


escolas brasileiras. Com a proposta de não criar um vilão nesse processo, o artigo
analisa ponto a ponto quais os obstáculos educandos e educadores encontram nessa
caminhada.

“A formação docente é, atualmente, um dos mais importantes e delicados desafios na


luta pela qualidade democrática da educação escolar. Merece relevo porque, como
em qualquer profissão, a qualidade do trabalho está estreitamente vinculada à
formação teórica e prática do trabalhador. É delicada porque mexe diretamente com
a autoimagem do educador, sobretudo quando se constata a fragilidade desta
formação (conceitual, procedimental e atitudinal).” (p.36);

O destaque na formação docente é importante, visto que, é o arcabouço teórico e


prático aprendido pelo professor durante sua estadia na academia que vai respaldar
sua vida docente. Entretanto o projeto de educação brasileiro não dialoga com as reais
necessidades nem dos estudantes universitários, que deveriam ser preparados no
âmbito acadêmico, tampouco dos estudantes do ensino de base. A medida que um
projeto para educação de um país não leva em conta as reais necessidades do
cotidiano brasileiro, esse ideário se perpetua nas esferas dependentes e promove
uma assimilação, talvez proposital de que a educação não é algo importante. Inclusive
o próprio artigo reitera sobre esse desleixo com a educação desde tempos antigos.

Conforme a aponta o professor Fernando Becker em seu trabalho” A Epistemologia


do Professor”, o processo de aprendizagem precisa ser entendido e considerado pelo
docente. Não podendo ser feito de forma automática e mecanizada e compreendendo
na diversidade discente, que cada um irá ter dificuldades e facilidades com os temas
abordados em sala de aula.

“O despreparo (para não dizer desespero) de muitos professores é facilmente


constatável: reprodução da metodologia instrucionista, dificuldade em lidar com
conflitos em sala de aula, desorientação diante do aluno que não está aprendendo,
dependência do livro didático, fácil aceitação das apostilas padronizadas, pouca
produção de material próprio, professor pouco escreve (mesmo para jornal interno da
escola), intimidação frente às pressões dos pais, presa fácil dos modismos
pedagógicos, vítima de “pacotes pedagógicos” das mantenedoras, expectador dos
palpites externos e estranhos ao mundo da educação, invasão de profissionais de
outras áreas no magistério.” (p.37);

Trabalhar de forma orgânica, criar relações de afetividade com o objeto do seu


trabalho, no caso do professor, é o aluno - no caso de uma atendente é o cliente que
esta a sua frente, é algo muito complexo diante de tantas teorias sobre como isso, a
afetividade, deve acontecer sem que isso interfira na qualidade de seu trabalho. A
verdade é que o trabalho do professor é muito mais do que dar aula, transferir
conhecimento e ensinar coisas. Perpassa pela questão da afetividade e da empatia,
ainda mais numa sociedade que todos os dias afirma, que essas vidas nada valem e
ao invés de desenvolver suas potencialidades, criam exércitos para o mercado de
trabalho e, na maioria das vezes lhes negam o trabalho acusando-os de
desqualificados, justamente por algo que era o estado que deveria prover ou fomentar.
Por isso o ideal não é buscar os culpados e sim analisar o contexto da educação no
Brasil e a historicidade referente as políticas públicas para o processo de
ensino/aprendizagem, que além de não ter o enfoque na realidade do país, perpassa
por questões de baixo investimento em políticas educacionais e busca por modelos
de países desenvolvidos que já superaram muitas questões desenvolvimentistas e já
tem uma população que já nasce em outro patamar de erudição.

“Conhecer é construir significados; esta é a grande busca do ser humano, uma das
suas necessidades mais radicais. Se repararmos bem, no cotidiano estamos
atribuindo sentido aos fatos mínimos que nos rodeiam (“Por que será que aquela
senhora atravessou a rua por ali?; “O que ele quis dizer quando se referiu àquilo?”).
A falta de significado, aliada à sensação de impossibilidade de chegar a ele, leva o
homem à angústia, ao desespero e, no limite, à loucura. Na escola, vamos, pessoal e
coletivamente, construir significados sobre diversos campos da existência, com a
mediação de saberes considerados fundamentais para a formação humana. A
construção de significados (“produto”) se dá pelo estabelecimento de relações
(“processo”) no sujeito, entre as representações mentais2 (“matéria-prima”) que visam
dar conta das diferentes relações constituintes do objeto, ou das diferentes relações
do objeto de conhecimento com outro(s). Para Prado Jr., “conhecimento consiste
numa representação mental de relações” (1973, p. 51). Conforme Wallon conhecer é
“substituir essa mistura de confusão e de dissociação, que é a representação
puramente concreta das coisas, pelo mundo das relações” (1989, p. 209). Na
perspectiva dialética do conhecimento (científico, filosófico, estético), o que se visa é
chegar à síntese que é “uma rica totalidade de determinações e de relações
numerosas” (MARX, 1983, p. 218). Estas relações vão sendo buscadas no tempo e
no espaço, bem como nos campos lógico e/ou semântico.” (p.49);

Antes de adentrar o universo do escolar, acadêmico ou qualquer um que remeta a


saberes e aprendizados, aquilo precisa fazer sentido para quem aprende. Para que
esse sentido ocorra, em qualquer área é necessário o entendimento filosófico que
compreende a educação, ou seja, só fará sentido ao sujeito se questionamentos forem
provocados a partir dessa posição de aprendiz. Fomentar valores morais deve
preceder qualquer intento no que tange ensinar algo, o sentido, inclusive, vem a partir
desse essencial detalhe.

John Dewey um dos grandes nomes da educação do século XX dizia que a educação
deveria trabalhar o raciocínio do aluno e seus espíritos críticos. Demerval Saviani,
filósofo e pedagogo brasileiro da atualidade, em seu livro "Do Senso Comum
Consciência Filosófica" começa já na introdução fazendo vários questionamentos
sobre qual a importância da Filosofia da Educação e reiterando que a disciplina faz
parte obrigatória dos cursos de pedagogia e complementando de licenciatura também.
E ao ler Saviani devemos nos perguntar o porque de tantos questionamentos sobre a
introdução da filosofia na grade de formação de professores e também porque isso
não é replicado no ensino de base. A aura filosófica é o escopo do processo
ensino/aprendizagem e ele não deve, em hipótese alguma ser dissociado dele, sob o
perigo de formamos, em série, cidadãos mecanizados e incapazes de refletir
claramente suas próprias condições ou de evadirem, mesmo que não fisicamente, do
processo de intelectualizar-se pela falta de sentido que aquilo tem em sua vida.
Referências Bibliográficas

SAVIANI, Demerval; EDUCAÇÃO. DO SENSO COMUM À CONSCIÊNCIA


FILOSÓFICA. Campinas SP: Autores Associados, 11°edição, 1996. p.8-10.

BORÓN, Atílio, SADER, Emir, GENTILI, Pablo (org.) Pós Neoliberalismo: as políticas
sociais e o Estado democrático. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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