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Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio: MEDICINA INTENSIVA: II.

TÓPICOS SELECIONADOS
31: 507-516, out./dez. 1998 Capítulo II

ANALGESIA, SEDAÇÃO E
BLOQUEIO NEUROMUSCULAR EM UTI

ANALGESIA, SEDA TION AND NEUROMUSCULAR BLOCKADE IN THE ICU

Alexandre Slullitel & Angela M. Sousa

1
Assistente da Divisão de Anestesiologia do Instituto do Coração (InCor) Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de
São Paulo; 2 Assistentes da Disciplina de Anestesiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
— Universidade de São Paulo.
CORRESPONDENCIA: Disciplina de Terapia Intensiva, Departamento de Cirurgia, Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo — Hospital das Clínicas - 9 Andar - Campus Universitário CEP: 14048-900 - Ribeirão
Preto-SP Fone: (016) 633-0836 ou 602-2593. E-mail : slullite@usp.br. E-mail: abasile@.fmrp.usp.br

SLULLITEL A & SOUSA AM. Analgesia, sedação e bloqueio neuromuscular em UTI. Medicina, Ribeirão
Preto, 31: 507-516, out./dez. 1998

RESUMO: A dor é um sintoma freqüentemente associado ao paciente crítico, O tratamento


adequado desta condição está relacionado não apenas aos processos de humanização na UTI
como também a modificar o prognóstico e reduzir os custos hospitalares. São apresentados
métodos de avaliação da intensidade da dor e técnicas de tratamento, desenvolvidos pela equi-
pe atuante na UTI. Exposição a um ambiente com grande sobrecarga de estímulos sensitivos,
dolorosos, ruído, aspiração traqueal e a privação de sono pode requerer o uso de drogas para
controlar a ansiedade e a inquietude. Além disso, algumas situações clínicas, tais como a ven-
tilação mecânica, podem não dispensar a sedação para lograrem sucesso. A importância e as
indicações clínicas do uso de relaxantes musculares são revistas.

UNITERMOS: Analgesia. Bloqueios Neuromusculares. Sedação Consciente. Unidades de


Terapia Intensiva.

1. INTRODUÇÃO que seja associada a processo patológico crônico, que


cause dor contínua ou recorrente a intervalos de me-
A dor é definida pela IASP (Associação Inter- ses ou anos”(2).
nacional para o Estudo da Dor), como “sensação de- A intensidade, à qual a dor parece insuportável,
sagradável e experiência emocional, associada à le- varia não somente de individuo a indivíduo, grau de
são tecidual real ou potencial, ou descrita em termos ansiedade, mas, também, de acordo com a cultura em
relacionados à lesão”. que o indivíduo é educado.
Dor aguda é definida por Bonica(1) como uma No século 19. ocorreu o início do estudo da fisi-
“complexa constelação de experiências desagradáveis, ologia como ciência e essa era foi iniciada, em parte,
perceptuais, psicológicas, emocionais e respostas com- por Bell & Magendie, que em 1811 e 1827,
portamentais causadas por estimulação nociva”. Esta demostraram, em experimentos em animais, que a fun-
é invariavelmente produzida por lesão e/ou doença na ção das raízes dorsais é sensitiva e a das raízes ven-
pele, estruturas somáticas profundas ou vísceras, ou trais é motora(1).
função anormal de músculos ou vísceras, na ausência
de lesão. 2. ANATOMIA
Dor crônica é definida como aquela que “per-
siste por mais de um mês além do curso normal ou Admite-se que as mensagens nociceptivas se-

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jam geradas em terminações livres, que são geralmente rebro através de vias nervosas, localizadas rio qua-
muito numerosas, da ordem de 200/cm2 e muito fre- drante anterolateral da medula espinhal. O trato
qüentemente solidárias a vênulas e arterío— las. Es- espinotalârnico, o espinorreticular e o espinome
ses nociceptores são terminações livres de fibras sencefálico são considerados como as vias ascenden-
arnielinizadas (fibras C) e fibras mielinizadas de pe- tes mais importantes de condução de impulsos
queno diâmetro (fibras A δ)(1). corpo celular desses nociceptivos em humanos e primatas. A parte lateral
neurônios localiza-se no gânglio da raiz dorsal e é, na do trato espinotalâmico é denominada neoespino—
maioria das vezes, bipolar, com um braço na periferia talâmico e a sua parte medial mais o trato espinorreti-
e outro no corno dorsal da medula. Denomina- se pri- cular e o espinomesencefálico correspondem ao pa
mário esse conjunto aferente. leoespinotalâmico. O trato neoespinotalâmico proje-
Os axônios do aferente primário terminam na ta-se ao núcleo ventro-posterolateral do tálamo e daí
pele, tecido subcutâneo, periósteo, articulações, mús- ao córtex somatossensorial. O sistema paleoespino
culos e vísceras. Alguns respondem a estímulos me- talâmico projeta-se para a formação reticular, subs-
cânicos (mecanoceptores), estímulos mecânicos e tér- tância cinzenta periaquedutal, hipotálamo, núcleo
micos (mecanotermo nociceptores) e estímulos tér- talârnico medial e intralaminar(1).. Essas fibras se
micos, mecânicos e químicos (receptores polimodais). conectam com estruturas límbicas e projetam—se
Os nociceptores são caracterizados por seu campo difusamente no córtex cerebral. Após lesão desses
restrito e sua habilidade de responder unicamente ou tratos, a sensação dolorosa é abolida do lado contrala-
diferencialmente aos estímulos nocivos(1). teral (Figura 1).
Após penetrar na
medula espinhal, muitas ra-
ízes dorsais bifurcam em Y
e divide-se em um longo
ramo ascendente e um pe-
queno ramo descendente, e
fazem conexão com neurô-
nios de segunda ordem em
um nível diferente daquele
em que ocorre à entrada da
fibra no corno dorsal. A
maio ria dos aferentes pri-
mários terminam no lado
ipsilateral, mas uma per-
centagem variável cruza a
medula e termina rio lado
contralateral. Na medula
espinhal, o aferente primá-
rio faz sinapse com neurô-
nios, em diversos níveis, di-
vididos em lâminas de 1 a
X. As fibras C, condutoras
de estímulos dolorosos, em
baixa velocidade, terminam
principal mente em lâminas
1, II e V e as fibras Aδ
mielinizando-se, termiliam
em lâminas V e X(1).
A informação noci-
ceptiva é transmitida ao cé-

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3. MONITORIZAÇÃO DA DOR cedimentos farmacológicos e não farmacológicos, que


alteram a sensibilidade à dor, e se correlaciona bas-
É fundamental assegurar analgesia suficiente, tante com a dor medida nas escalas de gradação ver-
antes e durante a sedação, e prover hipnose, antes e bais e numéricas. As instruções para os pacientes gra-
durante o bloqueio neuromuscular(3). duarem a intensidade da dor ou percentual de alívio
Um dos aspectos mais importantes da analge- da dor, usando a EAV (p.ex., depois de tratamento
sia é a determinação individual da dor. A primeira eta- destinado a reduzir a dor) pode introduzir uma
pa, na tentativa de estabelecer o controle eficaz da tendenciosidade desnecessária (expectativa de alte-
dor, é o desenvolvimento de um método prático para ração e dependência de memória), a qual reduz a va-
sua avaliação quali e quantitativa, tornando—a objeto lidade da medida. É possível obter uma medida mais
de discussões durante as visitas. Particularmente, a correta da alteração, pedindo—se aos pacientes para
es cala analógica e visual (EAV) tem ampla utilização graduarem a intensidade absoluta da dor, em diferen-
em clínica e pesquisas, onde é necessário um índice tes mo mentos (p.ex., antes e depois da intervenção)(4).
de dor ao qual se pode atribuir um valor numérico. Há, portanto, uma necessidade de escolher adequada
Consiste em uma linha horizontal ou vertical de 10 mente o método que melhor permita avaliar a dor cio
cm, com as duas extremidades rotuladas como “sem paciente em um determinado momento. A seguir, as-
dor” e “pior dor imaginável”. Solicita-se ao paciente sume importância o valor referido na escala, a partir
que marque, na linha de 10 cm, o ponto que corres do qual será instituída a terapia antálgica. Este valor é
potide ao nível de intensidade da dor que está sentin- variável entre as equipes, porém admite-se, arbitrari-
do. A distância em centímetros entre a extremidade amente, o valor “3” na EAV ou o relato de dor mode-
inferior da EAV e a marca do paciente é usada como rada (escala descritiva verbal) para iniciar a terapia
indicador numérico da gravidade da dor(4). No entan- ou para modificá-la, caso um plano terapêutico já es-
to, sua aplicação requer pacientes conscientes e coo- teja estabelecido(4).
perativos. Além disso, é ideal que o paciente seja ins-
truído previamente quanto à utilização da mesma. Se
o paciente estiver inconsciente ou incapaz de coope- 4. MODALIDADES DE ANALGESIA
rar, manifestações autonômicas, como palidez,
lacrimejamento, sudorese, hipertensão, tacjuicardia, 4.1. Analgesia Periférica
midríase, dispnéia, náuseas e vômitos podem refletir O uso de antiinfiamatórios não esteróides
sintomatologia dolorosa e o diagnóstico diferencial com (AINEs) interfere na produção de prostaglandinas, que
outros quadros clínicos impõe-se(5). A agitação e as podem produzir hiperalgesia. Ainda que limitada por
alterações das expressões faciais são também impor- efeitos adversos, a vantagem da sua utilização, dos
tantes parâmetros de observação, sendo que estas po- AINEs, é a ausência de depressão do sistema nervo-
dem ser avaliadas através de urna escala de faces. A so, cardiovascuiar e respiratório. Além disso, os
dor deve ser avaliada através de estímulos antiinflamatórios reduzem a necessidade de uso de
provocativos tais como inspiração profunda, tosse, opióides e, também, como estes, exibem um “efeito
deambulação ou movimentação ativa e sempre em teto”, ou seja, um aumento na dosagem provoca ape-
intervalos regulares, variáveis de acordo com a proxi- nas um aumento na incidência de efeitos colaterais,
midade cronológica da agressão. A distinção entre dor sem aumento da eficácia analgésica. Entre os efeitos
“de repouso” e dor “à movimentação” tem implica- colaterais a serem lembrados estão a influência sobre
ções na abordagem terapêutica da dor. Além das a hemóstase (inibição reversível sobre a tromboxana
questões do conforto e da humanização na UTI, a A2), o risco de lesão da mucosa gástrica (risco mode-
analgesia visa capacitar o paciente para a realização rado se o tratamento for inferior a 5 dias), alteração
de fisioterapia, deambulação fora do leito, higiene pes- da função renal (aumento da resistêlicia vascular re-
soal diária, cuidado de curativos e alimentação. Além nal, hipercalemia, retenção hidrossalina, risco elevado
da EAV. podem ainda ser empregada a escala numé- em pacientes hipovolêmicos) e o risco de indução de
rica e verbal (O=ausência de dor; lO dor imaginável) broncoespasmo, em pacientes asmáticos. Assim, pode-
ou descritiva e verbal (O=dor ausente; 1 =dor leve; se afirmar que estejam formalmente contra-indicados
2=dor moderada; 3=dor intensa), que dependem ape- nas seguintes situações: insuficiência renal, insufici-
nas de comunicação verbal. A EAV é sensível a pro- ência hepática, insuficiência cardíaca, tratamento com

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diurético ou inibidor da enzima de conversão, patolo- nhal com AL ou por interação de opióides, com seus
gia digestiva com risco hemorrágico, asma de compo- receptores localizados no corno dorsal da medula (1,2).
nente alérgico, alergia conhecida ao acenes, terceiro Doses intratecais (subaracnóideas) únicas de
trimestre da gestação(6,7,8). A dipirona (metamizol) e o opióides (morfina ou fentanil) têm sido administradas
paracetamol (acetaminofen) são substâncias analgé- no momento da punção lombar para proporcionar anal-
sicas, desprovidas de atividade antiinflamatória. gesia pós-operatória por até vinte e quatro (24) horas
A infiltração local de anestésicos locais (AL) (morfina). Doses entre 3 a 7 µg/kg de morfina podem
pode diminuir a necessidade de analgésicos por vários ser, assim, administradas no líquor, por ocasião da re-
dias, provavelmente devido ao bloqueio dos impulsos alização da raquianestesia, para o procedimento ci-
nociceptivos aferentes, e diminuir a excitabilidade dos rúrgico. No entanto, a duração limitada da analgesia
neurônios da medula(8). com morfina intratecal torna preferível a analgesia
O bloqueio intermitente dos nervos intercostais epidural contínua com opióides. Além disso, a incidên-
pode ser empregado para a analgesia de lesões torácicas cia de efeitos colaterais é discretamente maior. Os
e para o tratamento da dor pós-operatória. Indica-se opióides por via epidural são eficazes em produzir anal-
esta técnica no tratamento da dor torácica ou abdomi- gesia. A morfina, devido à baixa iipossolubiiidade, é o
nal alta unilateral, por exemplo, o paciente com tosse opióide mais comumente empregado por esta via, ten-
ineficaz, em conseqüência de fraturas de arcos costais. dendo apermanecerem solução, no líquor, em vez de
As desvantagens incluem a necessidade de injeções ser absorvida pelas estruturas da medula ou pela cir-
repetidas, o risco de pneumotórax (<0.1 %) e reações culação. Existe uma migração liquórica rostral, muito
tóxicas sistêmicas aos AL, se forem utiliza das quanti- maior da morfina do que a observada com outros
dades excessivas. Pode ser realizado sob visão direta, opióides mais lipossolúveis, como o fentanil, o qual é
durante uma toracotomia. O bloqueio intercostal por prontamente absorvido pelas estruturas próximas. ao
via paravertebral ou analgesia interpieural também são local da injeção. A morfina é administrada no espaço
alternativas à técnica por injeção múltipla e têm como penduraI em injeções únicas de 2 a 5 mg ou infusões
principal vantagem à possibilidade de introdução de contínuas de 2 a 4 mg/24 horas. Injetada diretamente
um cateter, o que permite a administração intermiten- no líquor, requer dosagens de 0,2 mg
te de AL. Esta última desperta interes se nos casos A administração de opióides por via espinhal
em que pode haver suspeita de lesões vertebrais gra- (intratecal ou penduraI) pode provocar alguns efeitos
ves, com fraturas de arcos costais(8). colaterais, sendo o mais temido a depressão respira
O bloqueio do plexo braquial por injeção única tória (0.6 a 0.9 % com a morfina). Outros efeitos são
ou infusão contínua, com cateter promove analgesia náuseas e vômitos, prurido, retenção uninánia e sono-
prolongada, que permite a mobilização para a fisiote- lência. Os momentos de maior incidência de depres-
rapia respiratória e outras atividades que seriam são respiratória ocorrem em urna a duas horas da
limitadas pela dor, no membro superior. O bloqueio administração da morfina e outro, seis (6) a doze (12)
contínuo do nervo femoral pode beneficiar pacientes horas depois. A maioria dos pacientes apresenta uma
com dor no joelho, coxa, como nas fraturas de sedação importante, precedendo a depressão respira
fêmur(8). tória, o que constitui o prinleiro sinal da depressão res-
piratória. O planejamento da dose, baseado na posi-
4.2. Analgesia medular ção do cateter (lombar ou torácico), local da cirurgia
A estimulação nervosa elétrica transcutânea e idade do paciente pode evitar a depressão respira
(TENS, no inglês) é um método que emprega dois ele- tória. A depressão respiratória grave deve ser tratada
trodos, aplicados superficialmente à pele, capazes de com naloxona (Narcan ®), em doses de 0. 1 a 0.2 mg,
gerar urna corrente elétrica contínua de baixa intensi- por via intravenosa, ou 0.4 a 0.8 mg, por via intramus-
dade, que parece eficaz, quando associado a outros cular. Pode ser iniciada urna infusão contínua de
métodos de analgesia. O TENS revelou uma tendên- 5 µg/kg/h, sendo que doses maiores que 5 µg/h podem
cia à redução de náuseas e vômitos, íleo adinâmico e re verter parcialmente o efeito analgésico. Entre os
atelectasia pós-operatória(8). efeitos colaterais da naloxona, destacam-se a hiper-
A transmissão da informação nociceptiva até tensão, a taquicardia, o edema agudo de pulmão, a
os centros superiores (supra-espinhais) pode ser bloque- abstinência aguda, a fibrilação ventricular, os tremo-
ada ou modulada na raiz nervosa ou na medula espi- res e as convulsões(5).

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Analgesia, sedação e bloqueio neuromuscular em UTI

A analgesia pode ser obtida com a infusão con- bupivacaína. A hipotensão arterial secundária ao blo-
tínua de AL, por via epidural. No entanto, recomenda- queio simpático espinhal é uma desvantagem desta
se um nível inicial adequado de analgesia, antes do técnica. No entanto, é facilmente controlável com in-
início da infusão contínua. O emprego da bupivacaína fusão de um volume líquido adequado, ou pela admi-
(Marcaína®, Neocaína®), e mais recentemente da nistração de vasopressores tais como a efedrina (bolus
ropivacaína (Naropin®), é preferível, em virtude do de 5 a 10 mg EV) ou fenilefri na (bolus de 50 a 100 µg
mínimo efeito de bloqueio motor que tais drogas pro EV). A associação de AL e opióides melhora a quali-
movem, quando injetadas em baixas concentrações, dade da analgesia e permite o emprego de soluções
no espaço pendurai. O volume inicial a ser adminis- em concentrações mais reduzi das de AL (bupivacaí-
trado depende do local (dermátomo) no qual se deseja na 0.0625 %). A combinação de ambos os tipos de
promover a analgesia e da localização da extremida- medicação, em baixas doses, proporciona o benefício
de distal do cateter epidural. A dose inicial padroniza- de cada uma, sem a severidade dos efeitos colaterais
da seria de 6 a 8 rnl/h de bupivacaína a 0.125 % (sem observados quando são em pregadas isoladamente.
adrenalina), administrados em bomba de infusão ou Entre as possíveis indicações desta técnica, podemos
de PCA (patient controlled analgesia). Para reduzir a citar cirurgias do andar superior do abdômen,
eventualidade de taquifilaxia, aumenta-se a infusão com toracotomias, esternotomias, dor anginosa (mesmo
incrementos de 2mL/h, até o máximo de 14 a 16 mL/ aquelas refratárias à terapia com nitratos)(9,10,11),
h. Se a analgesia for inadequada, no volume máximo, pancreatites, dor isquêmica em extremidades(8,12). (Ta-
a concentração de bupivacaína é aumentada para 0.25 bela 1).
% e a velocidade de infusão reduzida para 8mL/h. A A clonidina (Clonidin®), administrada por via
dose máxima infundida não deve ex ceder 1 .5 mg/kg/ espinhal ou sistêmica, potencializa o efeito analgésico
h, porém, cada incremento da velo cidade de infusão tanto de opióides quanto de AL(13,14). Empregada iso-
deve ser precedido de um reforço do bloqueio, como ladamente, são necessárias doses superiores a 300 pg
no início, para que se obtenha analgesia adequada. para produzir analgesia, as quais provocam bradicar-
Na concentração de 0.2 % (recomendada para anal- dia, hipotensão e sedação. A clonidina tem sido em-
gesia), a ropivacaína promove bloqueio motor menos pregada, alternativamente, por via sistêmica, para o
intenso que a bupivacaína. A ropivacaína possui cardio tratamento dos sintomas associados à síndrome de
e neurotoxicidades menos acentuadas em relação à abstinência, provocada por opióides, álcool e cocaína.

Tabela I - Dose sugerida de opioides espinhais para dor pós-operatória

Droga Dose única Infusão Inicio (min) Duração (h)

Epidural

- Morfina 1-5 mg 0 .1-1.0 mg/h 30 6-24

- Meperidina 20-150 mg 2-20 mg/h 5 6-8

- Fentanil 25-150 µg 25-100 µg/h 5 3-6

- Sufentanil 10-60 pg 10-50 µg/h 5 2-4

Intratecal

- Morfina 0.1-0.3 mg - 15 8-24

- Fentanil 5-25 µg - 5 3-6

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4.3. Analgesia Sistêmica pouco menor nos procedimentos do abdômen inferior,


extremidades e procedimentos sobre a superfície
A infusão intravenosa contínua, de um opióide cutânea. Assim, parece lógico, administrar-se preco-
é uma técnica preferível à administração intermitente, cemente a associação de AINEs com opióides poten-
em “bolus”. Deve-se acelerar a administração inicial tes (meperidina > nalbufina = morfina > alfentanil >
sistêmica para atingir uma concentração analgésica fentanil > sufentanil, em ordem crescente de potên-
eficaz mínima (CAEM), em um período curto de tem- cia) e os AL. Particularmente, estes últimos são efi-
po. A administração contínua de opióide, sem essa dose cazes em abolir a dor à movimentação, tarefa impos-
inicial, em “bolus”, não resulta na obtenção da CAEM sível, quando da utilização exclusiva de opióides. A
por um período de, pelo menos, três meias- vidas de medida que a dor se reduz, os opióides potentes são
eliminação (t ½ β). Após essa dose inicial, um nível substituídos por opióides fracos (tramadol. codeína,
sérico, terapêutico, de opióide pode ser obtido por in- propoxifeno) e, finalmente, são suprimidos. A
fusão contínua. meperidina ou petidina (Dolantina ®, Dolosal ®) me-
A analgesia controlada pelo paciente (do inglês rece um pouco mais de atenção devido ao seu poten-
patient controlled analgesia ou PCA) é uma técni- cial de toxicidade e interação medicamentosa. A
ca para administração intravenosa de pequenas do ses meperidina é uma droga dez (10) vezes menos poten-
de opióide ou de qualquer outra droga analgésica, de te que a mor fina, que, após metabolização hepática,
acordo com a necessidade do paciente. E reduzido o produz a normeperidina, substância potencialmente
risco de sobredosagem com a PCA, pois os pacientes tóxica, capaz de causar mioclonias e convulsões, prin-
tendem a quantificarem—se na faixa terapêutica. A cipalmente em pacientes portadores de insuficiência
PCA pode ser empregada pelas vias intravenosa, sub- renal e idosos. A meperidina tem interação medica-
cutânea, epidúral, sublingual e bucal. Existem vá rias mentosa com os inibidores da monoaminooxidase
maneiras de se administrar uma PCA, porém a admi- (IMAO), provocando hipertermia, hipertensão, taqui-
nistração sob demanda é a mais comum, ou seja, após cardia, hipotensão, rigidez torácica, convulsões e coma.
atingir a CAEM, através da titulação de uma dose Portanto, a sua administração prolongada é desacon-
inicial em “bolus”, uma determinada dose é ad minis- selhada(3,6). A morfina possui um efeito mais prolon-
trada intermitentemente pelo paciente. Uma infusão gado em pacientes renais crônicos, pois seus metabó-
basal de velocidade constante pode ser usada para litos ativos possuem excreção renal.
complementar as necessidades do paciente (in fusão
constante e administração sob demanda). Para cada 5. SEDAÇÃO
modalidade básica de PCA, existem variáveis bási-
cas: dose inicial, dose de demanda, intervalo míni mo, Em terapia intensiva, os principais objetivos da
velocidades de infusão basal e limites de uma e quatro sedação incluem reduzir a resistência à ventilação
horas. A dose inicial é a quantidade de analgésico mecânica, tratamento de distúrbios psiquiátricos ou
empregada para obter analgesia. A dose de demanda problemas relacionados à abstinência de substâncias
é a quantidade de analgésico que o paciente recebe de abuso, restauração da temperatura corpórea, re-
por auto-administração quando percebe a necessida- dução da ansiedade, facilitação do sono e redução do
de de mais analgésico. O intervalo mínimo é o período metabolismo(3,6). Em casos de traumatismo craniano,
de tempo entre solicitações do paciente, durante o qual o objetivo da sedação pode incluir a indução do coma,
a bomba infusora não administrará mais anal-
gésicos, ainda que o paciente assim o solicite.
A PCA pode ser empregada para a adminis- Tabela II - Doses sugeridas de opioides para uso na anal-
tração de AL ou sua associação com opióides, gesia controlada pelo paciente (PCA)
pela via epidural. A PCA também requer um Dose de Intervalo minimo
paciente consciente e cooperativo para seu Droga (conceritraçao) demanda (min.)
êxito (Tabela II).
Fentanil (10 µglmL) 10 -20 µg 5-10
Vale ressaltar que a dor é mais intensa
Meperidina (10 mg/mL) 5 -30 mg 5-10
nas horas que seguem o trauma ou a cirurgia,
reduzindo-se, progressivamente, nos dias con- Morfina (1 mglmL) 0.5 -3.0 mg 5-10
secutivos. É muito mais intensa nos procedi- Nalbufina (1 mg/mL) 1-5 mg 5-10
mentos torácicos ou abdominais altos e um

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Analgesia, sedação e bloqueio neuromuscular em UTI

a fim de promover o “silêncio elétrico” (EEC burst importante depressão miocárdica, sobretudo nos pa
supression, do inglês) do cérebro, reduzindo sua ne- cientes que apresentam má função ventricular. As cio
cessidade metabólica. Tal procedimento pode estar sagens devem ser adequadamente tituladas em paci-
associado ou não à indução de hipotermia para con- entes hipovolêmicos. Os BZD produzem redução do
trolar as necessidades metabólicas neuronais. O agen- fluxo sanguíneo cerebral (FSC), de maneira acoplada
te sedativo ideal deve possuir propriedades ideais como à redução do consumo de oxigênio cerebral. Desta
mínimo efeito depressor dos sistemas respiratório e maneira, esses compostos são úteis na redução da
cardiovascular, não interferência no metabolismo de pressão intracraniana, à condição que hipotensão seja
outras drogas, e possuir vias de eliminação indepen- evitada de maneira a garantir uma pressão adequada
dentes dos mecanismos renal, hepático ou pulmonar, de perfusão cerebral (PPC = PAM - PIC). Em paci-
resultando em uma meia-vida de eliminação curta, sem entes ventilando espontaneamente, principalmente em
metabólitos ativos(3,6,16). idosos e pneumopatas, os BZD reduzem a resposta
A sedação pode ser definida entre um simples ventilatória reflexa induzida pela hipoxemia e hiper-
estado de cooperação, com orientação espaço- capnia. Os dois principais BZD disponíveis para ad-
temporai e tranqüilidade ou apenas resposta ao co- ministração intravenosa no Brasil são o midazolam
mando, podendo incluir ou não a hipnose(3,6,17). Para (Dormonid ®) e o diazeparn (Valium ®). Ambos são
se avaliar o grau de sedação, empregam-se inúmeras dependentes do mecanismo de glicuronidação hepáti-
escalas, sendo a mais utilizada aquela proposta por ca para serem metabolizados e, portanto, seus efeitos
Ramsay. A escala de Ramsay é utilizada como refe- são prolongados nos pacientes com insuficiência he-
rência para validação de novas técnicas. Recentemen- pática. O metabolismo do diazepam gera o n-desmetil
te, foi introduzida a análise do índice biespectral do diazepam que, como o próprio composto original, pos-
eletroencefalograma corno monitor da profundidade sui uma meia-vida de eliminação prolongada (> 20
anestésica. Esta técnica guarda uma boa correlação horas). O efeito do diazepam é tão mais prolongado
com a escala de Ramsay. No entanto, este recurso quanto for a duração da sedação. O midazolain possui
ainda requer mais estudos para sua validação como uma meia—vida de eliminação de duas (2) a quatro
monitor cia profundidade da sedação. A avaliação da (4) horas e não possui metabólitos ativos, portanto
sedação ainda se baseia fundamentalmente na obser- encontra um perfil mais adaptado à infusão contínua,
vação clínica(3,6). por períodos curtos ou prolongados. Devido à extensa
Entre os agentes farmacológicos disponíveis ligação protéica (96%), os efeitos sedativos podem
para a sedação, os opióides são drogas que, além do ser importantes em pacientes hipoproteinêmicos e
seu efeito analgésico, promovem sedação importante hipoalbuminêmicos, devido à maior fração de droga
e são empregados em pacientes requerendo ventila- livre no plasma(16).
ção mecânica, pois inibem a ventilação, bem como o O flumazenil (Lanexat®) é o antagonista com-
reflexo de tosse. São empregados em associação com petitivo dos receptores diazepínicos. Em UTI, pode
os benzodiazepínicos ou com o propofol. O uso pro- ser empregado em doses crescentes de 0.3 mg, até
longado induz à ocorrência de tolerância. Os mais uma dose total de 2 mg, em intervalos de um (1) mi
comumente empregados são o fentanil, alfentanil, nuto. O flumazenil permite antagonizar os efeitos hip-
sufentanil e a morfina. O uso concomitante de opióides nóticos e sedativos dos BZD, e os efeitos adversos
reduz a necessidade de outros hipnóticos(17). paradoxais, como a agitação. Além disso, o flumazenil
Os benzodiazepínicos (BZD) são as drogas mais permite o diagnóstico e o tratamento de uma intoxica-
amplamente utilizadas na UTI. Os BZD possuem ex- ção por BZD ou pode ser auxiliar no diagnóstico
celentes qualidades sedativas hipnóticas e ansiolíticas, etiológico do coma. Está contra-indicado em pacien-
associadas à ação anticonvulsivante e relaxante mus- tes alérgicos aos BZD, em pacientes em uso crônico
cular A amnésia constitui—se num efeito colateral de BZD ou naqueles que os utilizam para controle da
desses compostos. Em relação ao sistema cardiovas- epilepsia. Devido à meia-vida de eliminação ser mais
cular, possuem alguns efeitos benéficos, relacionados curta do que a dos BZD, existe o risco de ressedação.
à redução tanto da pré-quanto da pós-carga, devido à A reversão dos efeitos dos BZD pode promover ele-
discreta ação simpatolítica. Os BZD diminuem o con- vação da PIC e descompensação cardiovascular.
sumo de oxigênio miocárdico, porém, quando associa O propofol (Diprivan ®) é uma droga anestésica,
dos a doses elevadas de opióides podem produzir uma capaz de induzir desde a sedação até uma hipnose

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Slullitel A & Sousa AM

profunda, com características do burst supression do 6. BLOQUEIO NEUROMUSCULAR


EEG(18). Em razão do seu metabolismo elevado, pos- (CURARIZAÇÃO)
sui curta meia-vida de eliminação. No entanto, após
uma infusão prolongada (de duração média de oitenta A curarização resulta da ação de drogas (cura
res) na junção neuromuscular, que, atuando, na maio—
e cinco (85) horas) ocorre um aumento na meia-vida
ria das vezes, corno antagonistas competitivos
de eliminação que não compromete o despertar dos
da acetilcolina, impedem a ligação desta aos recepto-
pacientes, sendo que as concentrações plasmáticas
res nicotínicos, localizados na porção pós-sináptica da
se reduzem em 50 %, após dez (10) minutos da inter-
junção. Clinicamente, se expressa pela paralisia mus-
rupção da infusão (17,18). Em comparação com o
cular flácida ou pela fraqueza muscular generalizada.
midazolam, o propofol está associado com mais rápi-
Há algumas situações nas quais os curares es
da recuperação dos efeitos clínicos e eletroencefalo- tão indicados, mas não são indispensáveis. Tais situa-
gráficos. As condições clínicas são semelhantes, quan- ções são a entubação traqueal, reaquecimento pós-
do se associam a opióides do tipo propofol ou midazo operatório com tremores, presença de anastomoses
Iam. Pode ser utilizado no traumatismo craniano, des- vasculares delicadas, a necessidade de proteção de
de de que mantida a PPC (> 60 mmHg), para uma feridas sob tensão, anastomose traqueal, pressão in-
redução da PIC inferior a 10 mmHg. Após cirurgia tracraniana elevada, inserção de cateteres vasculares
cardíaca, mostra-se interessante na sedação por cur- invasivos, em pacientes agitados, facilitação da venti-
ta duração para manutenção da assistência ventilatória. lação mecânica, controle das convulsões, durante o
No entanto, uma redução de 1 5 a 20 % da pres são estado de mal epiléptico e o controle dos espasmos
arterial média pode ser observada após urna dose em tetânicos. A necessidade de curares pode ser bastan-
“bolus”, variando entre 0.24 e 1 mg/kg. A freqüência te reduzida ou mesmo abolida, se sedação e analgesia
cardíaca pode ser reduzida devido à inibição do baror- adequadas forem realizadas
reflexo, condição vantajosa nos pacientes coronario- Raramente um paciente sob ventilação mecâ-
patas. Outras indicações para o uso do propofol inclu- nica requer curarização. A curarização está indicada
em a redução do espasmo tetânico, broncodilatação, em pacientes com baixa complacência torácica ou
em pacientes pneumopatas, tratamento do estado de pulmonar, naqueles desadaptados à ventilação mecâ-
mal epiléptico, refratário a outras medicações, redu- nica e naqueles nos quais existe um risco de
ção de náuseas e vômitos e do prurido, e cardioversão. barotrauma devido às pressões elevadas das vias aé-
O propofol é urna droga de aplicação segura nos pa- reas. Nas modalidades de ventilação com relação I:E
cientes susceptíveis à hipertermia maligna (3,6,17,18,19). invertida e naquelas com geração de altos volumes
Embora o propofol tenha sido usado com su- por minuto, a curarização pode ser indicada.
cesso para sedação de crianças na UTI, há relatos de A succinilcolina (Quelicin ®) é usada na UTI
seqüelas neurológicas, após a sua interrupção, e de para entubação traqueal, principalmente quando o tônus
ocorrência de acidose metabólica, durante a infusão muscular da mandíbula impede a laringoscopia. A dose
na vigência de infecção das vias aéreas superio- é de 1-2 mg/kg, intravenosa. E útil em pacientes ditos
res(20,21). O propofol pode induzir hiperlipidemia, quan- de “estômago cheio”, nos quais a entubação
do infundido por tempo prolongado e doses elevadas.
Existem relatos de casos de pancreatite aguda asso-
ciados ao seu uso. Pode existir urna tendência a Tabela III - Esquemas de infusão endovenosa para
esverdeamento do cabelo e da urina, e coloração sedação
esbraquiçada da urina devido à lipidúria(17).
Manutenção
Os barbitiíricos ainda são utilizados, porém com
Droga “Bolus” (µg/kg) (µg/kg/min)
freqüência cada vez menor, devido à extensão da meia-
vida de eliminação após infusão, que resulta em Alfentanil 10-25 0.25-1
acúmulo nos tecidos periféricos (muscular e sobretu- Fentanil 1-3 0.01-0.03
do gorduroso). O tiopental (Thionembutal ®) ainda é Sufentanil 0.1-0.3 0.01-0.05
o mais empregado. Utilizam-se doses iniciais de 2-4
Mldazolam 25-100 0.25-1
mg/kg, seguidas de infusão 30-80 µg/kg/min. É bas-
tante utilizado na sedação de pacientes neurocirúrgicos Propofol 250-1000 10-50
ou traumatizados cranianos(6). (Tabela III).

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Analgesia, sedação e bloqueio neuromuscular em UTI

seqüêncial rápida, com manobra de compressão so- O rocurônio (Esmeron ®) em doses de 0.6 mg/ kg,
bre a cartilagem cricóide (manobra de Sellick) está produz boas condições de entubação entre sessenta e
indicada. Provoca fasciculações musculares devido a noventa (60-90) segundos e duração de efeito prolon-
uma despolarização persistente, responsável pela ele- gado (quarenta (40) minutos). Outros curares como o
vação do potássio sérico de 0.5-1 mmol/L e que pode doxacúrio, pipecurônio e mivacúrio são curares com
gerar arritmias cardíacas. Esta hipercalemia é mais pouca experiência de utilização em UTI (Tabela IV).
intensa após queimaduras, paraplegia ou hemiplegia, O bloqueio neuromuscular pode ser antagoni-
trauma muscular, e por lesão do neurônio motor supe- zado (exceto no caso da succinilcolina) por drogas
rior, conseqüência de trauma ou acidente vascular anticolinesterásicas. Em nosso meio, o agente mais
cerebral. A succinilcolina aumenta a pressão intragás- empregado é a neostigmina (Prostigmine ®) na dosa-
trica, podendo causar regurgitação e aspiração, além gem de 0.05 mg/kg. A administração concomitante de
de ser contra-indicada em pacientes susceptíveis de atropina (0.01 mg/kg) é preconizada com a finalidade
hipertermia maligna. de atenuar a estimulação sobre os receptores perifé-
O pancurônio (Pavulon ®) é o curare mais ricos muscarínicos, reduzindo, principalmente, a intensa
empregado em UTI. É um curare de duração de ação bradicardia, determinada por estes agentes. A intensi-
entre quarenta e cinco e sessenta (45-60) minutos e dade do bloqueio neuromuscular pode ser monitorizada
dependente de mecanismos renais (70%) e hepáticos através da estimulação do nervo periférico e as dosa-
(30%) para sua eliminação, acumulando-se nos paci- gens podem ser, assim, ajustadas para uma intensida-
entes com insuficiência renal ou hepática, quando ad- de mínima de depressão da atividade muscular. No
ministrado em doses mais elevadas. Possui um efeito entanto, a monitorização com o estimulador de nervo
vagolítico que determina hipertensão e taquicardia. periférico possui um entendimento mais complexo que
O atracúrio (Tracrium ®) é um curare de dura- foge ao objetivo desta revisão.
ção intermediária, ao redor de vinte (20) minutos. E O bloqueio neuromuscular, por tempo prolon-
eliminado por hidrólise espontânea plasmática, inde- gado, pode induzir a uma disfunção neuromuscular,
pendente dos mecanismos renais e hepáticos. Os efei- caracterizada por fraqueza muscular generalizada,
tos cumulativos estão praticamente ausentes e, por tetraparesia, arreflexia, progredindo até a paralisia
isso, está aconselhado para utilização sob infusão con- flácida, persistente por dias ou meses. Em alguns pa-
tínua. Pode liberar histarnina, principalmente quando cientes, uma associação entre curare e corticotera-
administrado rapidamente. pia, em altas dosagens (mal asmático, transplantado
O vecurônio (Norcuron ®) é um curare de du- hepático) foi observada. Deve ser diferenciada da
ração intermediária (trinta (30) minutos) análogo ao polineuropatia da UTI, que ocorre por ocasião da
pancurônio, porém com menos efeitos sobre o siste- sepse, na ausência da administração de qualquer
ma cardiovascular. É primariamente metabolizado pelo curare. Cabe ainda lembrar que inúmeras drogas
fígado, e dependente dos rins para a excreção. A do- potencializam o efeito dos curares, tais como os ami-
sagem deve ser reduzida na insuficiência hepática e noglicosídeos, tetraciclinas, anestésicos locais, fenitoí-
renal. Adapta-se à infusão contínua, embora produza na, propranolol, trimetafam, glicosídeos cardíacos,
um metabólito ativo que possui metade da potência do cloroquina, catecolaminas e diuréticos(23).
composto original.

Tabela IV - Agentes Curarizantes mais empregados em terapia intensiva


Manutenção Efeito Duração
Droga “Bolus”mg/kg mg/kg/min minutos minutos Complicaçao
Succinilcolina 1-2 não recomendada 0.5-1 5-10 ação vagolitica
Pancuronio 0.1 0.3-0.5 3 45-60 hipertensão taquicardia
Atracurio 0.5 3-10 1.5-2 20 liberação histamina
Vecuronio 0.1 1-2 2-3 25-30 nenhum
Rocuronio 0.6 9-12 1-1.5 20-40 nenhum
Mivacurio 0.15 3-10 2 15-20 liberação histamina

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Slullitel A & Sousa AM

SLULLITEL A & SOUSA AM. Analgesia, sedation and neuromuscular blockade in the ICU. Medicina, Ribeirão
Preto, 31: 507-516, oct./dec. 1998.

ABSTRACT: Pain is a major symptom which is often found in critically iii patients. Adequate
management of this condition is implicated not only with humanization process in the ICU but may
also to improve outcome and reduce hospital costs. Importance of measuring daily pain scores
by the ICU team, as well as the available techniques of providing a good pain relief are pointed out.
Exposition to a noxious environment which includes pain, noise, tracheal suctioning, sensory
overload or sleep deprivation may require the use of drugs to promote sedation in order to control
anger and mental stress. Furthermore, some clinical conditions, such as mechanical ventilation,
may require sedation for its success. Some clinical aspects of neuromuscular blocking agents
and their uses in the ICU are also reviewed.

UNITERMS: Analgesia. Neuromuscular Blocking Agents. Conscious Sedation. Intensive Care


Units.

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