Você está na página 1de 10

Como reconhecer se um pastor foi ou não chamado por Deus?

11 Vede com que letras grandes vos escrevi de meu próprio punho.
12 Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos
circuncidardes, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de
Cristo. 13 Pois nem mesmo aqueles que se deixam circuncidar guardam a lei;
antes, querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne.
14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus
Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. 15
Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova
criatura.
16 E, a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e
misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus.
17 Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas
de Jesus.
18 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito.
Amém!

1 – Identificando um falso pastor


Antes, porém, de identificar esses falsos obreiros, Paulo chama a atenção
dos seus leitores. Ele sabe que vai concluir a sua carta, por isso, chama a
atenção dos seus ouvintes para as últimas palavras.
11 Vede com que letras grandes vos escrevi de meu próprio punho.
Paulo está falando de todo o texto da carta ou apenas dessa parte em diante? Se
não foi Paulo quem escreveu todo o conteúdo da carta, quem o ajudou?
(Amanuence) Se Paulo está se referindo só ao último parágrafo da carta, por
que ele escreveu de próprio punho esse parágrafo?
1.1 – Um falso pastor está mais preocupado em agradar as pessoas do que
a Deus - 12 Todos os que querem ostentar-se na carne.
12 Aqueles mestres no meio de vocês que estão procurando convencê-los a se
circuncidarem estão fazendo isso por uma única razão: desejam causar uma boa
impressão. (NBV)
12 Os que desejam causar boa impressão exteriormente. (NVI)
12 Aqueles que procuram obrigá-los a se circuncidarem desejam causar boa
impressão para outros. (NVT)
A palavra grega para “ostentar” significa causar boa impressão, agradar.
Paulo já havia dito que não era possível agradar a Deus e aos homens ao mesmo
tempo. (Gl 1:10 Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus?
Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar
a homens, não seria servo de Cristo.) Entretanto, no encerramento da sua carta,
o apostolo diz de maneira explicita que a motivação dos falsos mestres não era
o bem-estar daqueles crentes da Galácia, muito menos, a glória de Deus. Tudo o
que eles desejavam eram causar boa impressão e agradar as pessoas. Quem
eram estes que os falsos mestres queriam tanto agradar? Os judeus não
convertidos, alguns judeus convertidos de Jerusalém e, de certa maneira, os
romanos também. (Explicar o domínio do Império romano e as regalias dada
aos judeus pelos romanos)
1.2 – Um falso pastor é aquele que confia mais na força do braço do que no
poder de Deus - esses vos constrangem a vos circuncidardes.
12 Todos os que querem ostentar-se na carne, esses querem obrigar vocês a se
deixarem circuncidar (NAA)
12 Aqueles mestres no meio de vocês que estão procurando convencê-los a se
circuncidarem estão fazendo isso por uma única razão: desejam causar uma boa
impressão. (NBV)
12 Os que estão forçando vocês a se circuncidarem. (NTLH)
12 Os que desejam causar boa impressão exteriormente, tentando obrigá-los a
se circuncidarem. (NVI)
A palavra grega usada pelo apóstolo para “constranger” é muito forte. Ela
indica o método utilizado pelos falsos pastores para convencerem aqueles
irmãos a se circuncidarem.
1- Forçar, compelir, empurrar para, obrigar.
A - Pela força, ameaças, etc.
B - Por outros meios.
Isso é quase uma repetição do que foi dito no capítulo 1.
1.6 Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na
graça de Cristo para outro evangelho, 7 o qual não é outro, senão que há alguns
que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo.
Qual era o segredo desses falsos pastores em afastarem, de maneira tão
rápida, as pessoas do verdadeiro evangelho para um evangelho falso?
Quero chamar sua atenção para apenas uma palavra – “perturbam”.
1- agitar, sacudir (algo, pelo movimento de suas partes para lá e para cá)
1.A - causar uma comoção interna a alguém, tirar sua paz de mente, perturbar
sua tranquilidade
1.C - inquietar, tornar impaciente
1.C.1- inquietar o espírito de alguém com medo e temor
1.D - tornar-se ansioso ou angustiado
1.E - causar perplexidade à mente de alguém ao sugerir escrúpulos ou dúvidas
Os falsos pastores estavam gerando dúvidas terríveis na mente daqueles irmãos,
usando de pressão psicológica, atormentando o povo com uma interpretação
errada das Escrituras e causando perplexidade à mente deles com a
possibilidade de terem crido numa graça barata. Esse era o método desses
falsos pastores, o que caracteriza uma confiança exacerbada na força do
braço. Em outras palavras, mesmo dizendo que estavam a serviço de Deus, eles
não confiavam em Deus para alcançarem seus objetivos.
O verdadeiro pastor não tem a obrigação de mudar a vida das pessoas, seu
chamado é para pregar as Escrituras da maneira mais fiel possível e deixar os
resultados com Deus.
1.3 – O falso pastor é alguém que usa as Escrituras em benefício próprio,
pregando só o que lhe convém. 12 Todos os que querem ostentar-se na
carne, esses vos constrangem a vos circuncidardes, somente para não
serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.
12 Aqueles mestres no meio de vocês que estão procurando convencê-los a se
circuncidarem estão fazendo isso por uma única razão: desejam causar uma boa
impressão e evitar a perseguição que sofreriam se admitissem que somente a
cruz de Cristo pode salvar.

William Barclay diz que os romanos respeitavam a religião judaica. Sua prática
era permitida oficialmente. A circuncisão constituía a marca indiscutível do
judeu, de modo que os falsos pastores viam na circuncisão o salvo-conduto que
lhes daria segurança no caso de se instalar uma perseguição. A circuncisão os
preservava tanto do ódio dos judeus como da lei romana. (Isso é que é pregar o
que convém!)
(Nicodemus)
Por que a mensagem da cruz de Cristo provoca perseguições? É porque a
cruz diz algumas verdades muito desagradáveis acerca de nós mesmos, isto é,
nós somos pecadores, estamos sob a maldição da lei de Deus e não podemos
salvar a nós mesmos. Cristo assumiu o nosso pecado e a maldição exatamente
porque não havia outra forma de nos vermos livres deles. A cruz nos reduz a
nada. Ela fura o balão da nossa vaidade. Fere mortalmente o nosso orgulho e a
nossa soberba. (Hernandes D. Lopes)
Ainda que essa mensagem gere algum incomodo nos dias de hoje, nós somos
quase que incapacitados de percebermos, pelo contexto cultural e religioso
brasileiro, o quanto ela era ofensiva aos judeus na época de Paulo. Eles,
literalmente estavam dispostos a matar por causa dela.
54 Os líderes judaicos ficaram ardendo em raiva com a acusação de Estêvão e
rangiam os dentes de fúria. 55 Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, olhou
para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus em pé, à direita de Deus. 56 Então
disse a eles: “Olhem, eu estou vendo os céus abertos e o Filho do Homem em
pé, à direita de Deus!” 57 Mas todos se revoltaram contra ele, taparam os
ouvidos e, gritando bem alto, avançaram contra Estêvão, 58 arrastaram-no para
fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas tiraram os casacos e
os puseram aos pés de um jovem chamado Saulo. 59 Enquanto as pedras eram
atiradas sobre Estêvão, ele orava: “Senhor Jesus, receba meu espírito”.60
Depois caiu de joelhos e gritou: “Senhor, não condene essa gente por causa
deste pecado!” E, com isto, morreu.
E por que estavam furiosos a ponto de matarem Estevão apedrejado?
At 6.12 Essa acusação alvoroçou o povo contra Estêvão de tal forma que os
líderes judaicos e os mestres da lei prenderam e levaram Estêvão diante do
Sinédrio. 13 As testemunhas mentirosas depuseram novamente contra Estêvão,
dizendo: “Este homem fala constantemente contra este santo lugar e contra as
leis de Moisés. 14 “Nós ouvimos Estêvão dizer que esse Jesus de Nazaré
destruirá este lugar e acabará com todas as leis de Moisés”.

1.4 – Um falso pastor é aquele que prega uma coisa e vive outra - 13 Pois
nem mesmo aqueles que se deixam circuncidar guardam a lei
13 Nem mesmo os que são circuncidados cumprem a lei. (NVI)
13 E nem mesmo aqueles mestres que se submetem à circuncisão guardam as
outras leis judaicas. (NBV)
13 Pois nem mesmo os que praticam a circuncisão obedecem à lei. (NTLH)
Sabem o que Paulo está ensinando aqui? Que aqueles falsos pastores estavam
pregando uma coisa e vivendo outra.
Aqueles missionários queriam impor a circuncisão e outras práticas da Lei de
Moisés aos cristãos gentios, mas nem mesmo eles cumpriam essas exigências.
Portanto, os judaizantes faziam essas recomendações não porque fossem
zelosos e sinceros, mas, sim, porque eram hipócritas e o discurso deles não
era honesto.
Antes de continuarmos nossa exposição, é bom lembrarmos que esses falsos
pastores e mestres que anunciavam um evangelho diferente, eram cristãos
professos. Diziam ser cristãos que criam em Jesus como o Messias, porém,
rejeitavam a mensagem de Paulo sobre a suficiência do sacrifício do nosso
Senhor Jesus Cristo para a salvação. Criam que era necessário, porém, não
suficiente. E o que faltava para completar a salvação? A circuncisão.
At 15:1 Alguns homens desceram da Judéia para Antioquia e passaram a
ensinar aos irmãos: "Se vocês não forem circuncidados conforme o costume
ensinado por Moisés, não poderão ser salvos".
5 Então se levantaram alguns do partido religioso dos fariseus que haviam crido
(Em Jesus) e disseram: "É necessário circuncidá-los e exigir deles que
obedeçam à lei de Moisés".
Diante disso, é fácil deduzir que o evangelho pregado por estes falsos pastores
era uma mistura de fé e obras. É como se eles quisessem unir num mesmo
púlpito, Jesus e Moisés. E a razão para agirem dessa forma era a preocupação
com o seu bem-estar. Eles não queriam desagradar ninguém. Entretanto,
quando o tema abordado for salvação, é impossível haver conciliação entre
Jesus e Moisés.
1.5 – Um falso pastor é aquele que está mais preocupado com a sua própria
glória do que com a glória de Deus - antes, querem que vos circuncideis,
para se gloriarem na vossa carne.
Porém eles querem que vocês se circuncidem para que eles possam se gabar de
terem colocado o sinal da circuncisão no corpo de vocês. (NTLH)

Querem que vocês sejam circuncidados só para que eles se gloriem disso.
(NVT)

(VIVA)
Eles querem que vocês sejam circuncidados para que possam se orgulhar do
sucesso em recrutá-los para o lado deles. (MSG)

A palavra grega para gloriar-se é jactanciar-se, que no português significa


ostentação.

Sabe o que Paulo está fazendo aqui? Desnudando (desmascarando) o coração


dos falsos pastores e mestres diante daqueles irmãos. É como se ele estivesse
dizendo aos gálatas: vocês pensam que esses homens são espirituais e estão
preocupados com suas almas, mas na verdade, tudo o que eles querem é usar
vocês para se promoverem diante dos seus compatriotas, os judeus. Vocês são
apenas troféus para serem exibidos em Jerusalém.

Wiersbe diz que o principal objetivo desses falsos mestres não era ganhar almas
para Cristo nem ajudar os cristãos a crescerem na graça. Seu propósito era
ganhar mais convertidos para então se gabar. Eles desejavam causar excelente
impressão exterior (queriam impressionar seus compatriotas). Não realizavam a
obra para o bem da igreja nem para a glória de Deus, mas somente para a
própria glória.

Contar o que aconteceu com a irmã Alice – Alguém foi visita-la dizendo
que Deus tinha revelado a ele que a igreja dela não era a Batista, mas a
Assembleia.

2 – Identificando um pastor segundo o coração de Deus


14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus
Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. 15
Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova
criatura.
16 E, a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, paz e
misericórdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus.
17 Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas
de Jesus.
18 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito.
Amém!
2.1 – Um pastor segundo o coração de Deus tem o seu orgulho na cruz de
Cristo
Diferentemente do falso pastor que se gloriava na carne, um pastor segundo o
coração de Deus não busca o aplauso ou o reconhecimento para si; ele não usa o
ministério para promoção pessoal, antes, tem o seu orgulho está na cruz.
Com certeza, Paulo tinha muitas razões para se orgulhar, se quisesse. Ele
podia falar de seu passado de judeu, um fariseu que fora ensinado aos pés de
Gamaliel; que era fluente em várias línguas; que havia convivido com as mais
variadas culturas e ganhado muito mais gente para Cristo do que os judaizantes
ganharam para a causa deles. Mas se tivesse feito isso, estaria agindo como os
falsos pastores, gloriando-se de si mesmo, por isso, seu orgulha estava na cruz,
símbolo de fraqueza e maldição.
O que significa gloriar-se na cruz e por que Paulo se gloriava nela?
Antes de dizer o que significa é bom lembrar que naquela época a cruz era um
instrumento de vergonha, um método cruel de tortura e de execução reservado
aos criminosos da pior espécie. A despeito dessa realidade, a mensagem de
Paulo promovia a cruz. Ele tinha orgulho de falar da cruz. E por quê?
Porque foi na cruz que o Senhor Jesus Cristo se fez maldição por nós. Foi
na cruz que o Filho de Deus foi oferecido em sacrifício pelos nossos pecados,
para que a religião da graça pudesse ter efeito e ser oferecida aos pecadores
como nós, que não podem se salvar pelos próprios méritos. A cruz é o centro do
verdadeiro evangelho, está no cerne da mensagem bíblica.
A cruz revela um Salvador que foi morto como um bandido da pior estirpe.
Alguém que à luz do Velho Testamento foi amaldiçoado por Deus, que morreu
em fraqueza extrema, vituperado (humilhado, ultrajado) e escarnecido. Por isso,
a mensagem da cruz era escândalo para os judeus e loucura para os gentios.
1Co 1:18 Sei perfeitamente bem como parece loucura, àqueles que estão
perdidos, quando ouvem a mensagem da cruz. Nós, porém, que somos salvos,
reconhecemos que esta mensagem é o próprio poder de Deus.
21 Deus, em sua sabedoria, providenciou para que o mundo nunca encontrasse
a Deus através da sabedoria humana. E então ele se manifestou e salvou todos
quantos creram em sua mensagem — essa mesma que o mundo considera
loucura.
22 Parece absurda para os judeus, porque eles desejam sinais miraculosos como
prova de que o que está sendo pregado é verdadeiro (qualquer semelhança com
o que acontece hoje não é mera coincidência – religiosidade); e é loucura para
os gentios, porque eles creem somente naquilo que concorde com a sua filosofia
e lhes pareça sábio (idem – ateísmo).
2.2 – Um pastor segundo o coração de Deus é alguém que não é mais
atraído pelo mundo. 14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de
nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim.
Por que um pastor segundo o coração de Deus não é mais atraído pelo
mundo? Porque o mundo foi crucificado para ele. E o que isso significa?
Que todo o sistema do mundo em toda a sua glória está morto ou destruído
em seu poder de atraí-lo; que o mundo não tem influência ou poder sobre
Paulo, nenhum apelo para ele.
É imprescindível, se quisermos compreender o que o apóstolo está ensinando,
que saibamos o que ele quer dizer com a expressão “mundo”. A palavra
“mundo” é uma referência ao sistema de valores pecaminosos da humanidade
sem Deus, à maneira de pensar do mundo decaído, com suas tentações,
atrações, pecados e antagonismos a Deus.
1 Jo 2.15 Não amem o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar
o mundo, o amor do Pai não está nele. 16 Porque tudo o que há no mundo — os
desejos da carne (a loucura pelo sexo), os desejos dos olhos (a ambição de
comprar tudo o que atrai vocês) e a soberba da vida (o orgulho que resulta da
riqueza e do prestígio) — não procede do Pai, mas procede do mundo.
Sabe qual é a palavra de Deus para nós hoje? Que o mundo com as suas
tentações, paixões e prazeres não exerça nenhum domínio sobre nós!
2.2 – Um pastor segundo o coração de Deus é alguém que foi crucificado
para o mundo. 14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso
Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o
mundo.

Morrer para o mundo tem o sentido de não ser parte dele (estamos no mundo,
mas não pertencemos mais a ele) e isto significa não ser mais julgado nem
condenado por ele. Dito de outra forma, o que o mundo pensa a respeito de um
filho de Deus não faz mais diferença, pois ele está morto para o mundo.

2.3 – Um pastor segundo o coração de Deus é alguém que não vive de


aparências externas, mas alguém verdadeiramente nascido de novo - 15
Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova
criatura.
Observem bem o que Paulo está ensinando: no que diz respeito à salvação,
circuncisão e incircuncisão não tem valor algum. Dito de outra maneira, ser
circuncidado ou não nunca foi, nem jamais será condição para alguém obter
salvação.
A impressão que tenho é que com este versículo, o apóstolo está tentando evitar
uma disputa entre os irmãos daquelas igrejas.
Explicado esse ponto, há algo a mais que precisamos saber sobre o viver de
aparências. Não há lugar mais propício para alguém viver de aparências do que
o púlpito de uma igreja.
Não conheço outra profissão em que seja tão fácil fingir como a nossa. Existem
comportamentos que podemos adotar para sermos considerados, sem nenhum
questionamento, conhecedores de mistérios: ter um porte reverente, cultivar
uma voz empostada, introduzir em nossas conversas e palestras palavras
eruditas em quantidade suficiente apenas para convencer os outros de que nosso
treino mental está um pouco acima do que o da congregação.
A maioria das pessoas, ou pelo menos aquelas com quem convivemos mais
estreitamente, sabe que, na realidade, estamos cercados por enormes mistérios,
como a vida e a morte, o bem e o mal, o sofrimento e a alegria, graça,
misericórdia, perdão. Podemos insinuar familiaridade com esses assuntos
profundos com gestos, suspiros cheios de simpatia ou toques repletos de
compaixão. Mesmo quando, no meio de ataques de humildade ou honestidade,
declaramos que não somos santos, ninguém acredita, porque todos precisam de
ter certeza de que alguém tem contato com os assuntos mais elevados.
Os aspectos públicos e, consequentemente, menos pessoais de nossa vida
podem ser simulados com igual facilidade. É possível plagiar sermões dos
mestres e aprender a dirigir uma liturgia maquinalmente. Copiar trechos das
Escrituras adequados para visitas domiciliares ou hospitalares e colocá-los
discretamente no punho da camisa para uma rápida olhadinha no momento da
necessidade também não é difícil. Ainda podemos decorar meia-dúzia de
orações que atendam a ocasiões em que nos pedem para fazer uma
"oraçãozinha" para dar início a alguma reunião de forma apropriada.
Finalmente, é possível aprender como fazer parte de algum comitê indo a
algumas reuniões e anotando o que funciona e o que não dá certo.
Estive convencido, durante muito tempo, de que seria possível dar seis meses
de treinamento profissionalizante a qualquer formando do 2o grau e transformá-
lo em um pastor adequado a qualquer congregação exigente. O currículo seria
constituído de quatro matérias:
1. Plágio Criativo.
2. Controle de Voz para Oração e Aconselhamento.
3. Administração Eficiente de Gabinete.
4. Projeção de Imagem. Aqui, o aluno dominará meia dúzia de ferramentas bem
conhecidas e facilmente utilizadas que criam a impressão de que está
terrivelmente ocupado e que é procurado a todo momento para aconselhar
pessoas influentes na comunidade.

(Um pastor segundo o coração de Deus – Eugene Peterson)

2.4 – Um pastor segundo o coração de Deus é aquele que traz no seu corpo
as marcas de Jesus - 17 Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago
no corpo as marcas de Jesus.
Paulo estava dizendo àqueles irmãos que as marcas do seu apostolado eram
suas prisões, cadeias, açoites, apedrejamentos e muitos tipos de tratamento
injurioso que ele sofreu por testemunhar o evangelho. Mesmo tendo sido
circuncidado ao oitavo dia (Fp 3.5), Paulo não ostentava sua circuncisão como
emblema de suas credenciais apostólicas, mas mostrou as marcas de Jesus, os
sinais de sua atroz perseguição.
2 Cor 11.23 Eles dizem que servem a Cristo? Mas eu o tenho servido muito
mais! Será que enlouqueci para me vangloriar desse jeito? Tenho trabalhado
mais arduamente; tenho sido posto na prisão mais vezes, e chicoteado mais
severamente; e tenho enfrentado a morte muitas vezes. 24 Em cinco ocasiões
diferentes os judeus aplicaram-me seu terrível castigo de trinta e nove
chibatadas (195). 25 Apanhei de vara três vezes. Fui apedrejado uma vez. Três
vezes sofri naufrágio. Numa ocasião fiquei exposto em alto-mar a noite inteira e
durante todo o dia seguinte.
Paulo tinha o corpo coberto por cicatrizes, que aqui ele chama de “as marcas de
Jesus”, em contraste com a marca da circuncisão, o símbolo de identidade que
os falsos pastores apresentavam como prova de que pertenciam a Deus.
Augustus Nicodemus diz que “esse versículo tem como objetivo mostrar a
sinceridade de Paulo, que era capaz de sofrer e morrer pela verdade do
evangelho, enquanto os judaizantes queriam apenas escapar da perseguição por
causa do nome de Cristo”.
Como as chicotadas e o apedrejamento não fazem parte do nosso contexto
religioso, podemos deduzir que as marcas de Jesus, no que diz respeito à
realidade brasileira, tem a ver com as críticas sofridas dentro do meio gospel
por pregarmos fielmente as Escrituras, o esvaziamento da igreja, a falta de
recursos financeiros, o ostracismo (exclusão, isolamento, desprezo) dentre
coisas.

Você também pode gostar