Introdução
O presente trabalho, realizado em grupo no âmbito da Unidade Curricular de Teoria
Sociológica, no segundo termo da graduação em Serviço Social da Universidade Federal de
São Paulo – UNIFESP, Campus Baixada Santista, tem por objetivo elaborar uma reflexão
sobre os principais conceitos elaborados por Èmile Durkheim e suas aplicações sobre as
formas de interpretação sociológica de uma dada realidade.
Para atingir este objetivo almejamos refletir e analisar o filme Chocolate (2000) do
diretor Lasse Hallström. No contexto da análise do filme buscaremos relacionar os principais
conceitos da obra de Durkheim, procurando estabelecer uma conexão entre estes e as
situações observadas na obra cinematográfica, buscando justapor situações da obra de
ficção, utilizando os aspectos do método funcionalista de análise sociológica.
2. Durkheim e o funcionalismo
Muito influenciado por Comte e pelo contexto da Primeira Revolução Industrial onde
as instituições sociais apresentavam enfraquecimento e os questionamentos começavam a
surgir, Durkheim dedicou-se então a estudar a sociedade e a qual maneira estas poderiam
manter a sua integridade e coerência na era moderna, quando coisas como a religião e etnia
estavam tão dispersas e misturadas. A partir disto, ele procurou criar uma aproximação
científica para os fenômenos sociais.
De acordo com o método determinado por Durkheim, os “fatos sociais” devem atender
a três características: coercitividade, exterioridade e generalidade. Ou seja, o fato social não
pode ser confundido com um padrão social. Seria antes um acontecimento ou ação relevante
para o funcionamento da sociedade. O fato social seria determinado pela coerção social, seja
ela consentida ou não, consciente ou não, fazendo os indivíduos se conformarem com as
regras impostas pela sociedade. O grau desta coerção estaria ligado as sanções, ou seja,
impedimentos que o indivíduo está sujeito quando busca se rebelar contra elas.
Não sou obrigado a falar francês com meus compatriotas, nem a empregar as moedas
legais; mas é impossível agir de outro modo. Se eu quisesse escapar a essa
necessidade, minha tentativa fracassaria miseravelmente. Industrial, nada me proíbe
de trabalhar com procedimentos e métodos do século passado; mas, se o fizer, é certo
que me arruinarei. Ainda que, de fato, eu possa libertar-me dessas regras e violá-las
com sucesso, isso jamais ocorre sem que eu seja obrigado a lutar contra elas.
(DURKHEIM, E. p. 4)
Fato social é toda maneira de fazer, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o
indivíduo uma coerção exterior, ou então que é geral em toda a extensão de uma dada
sociedade, embora tenha existência própria, independente das suas manifestações
individuais. (Lês règles de La méthode sociologique, p.14 apud ARON, 1999, p.327).
A solidariedade é dada para o autor por dois tipos de consciência: coletiva e individual,
onde todo indivíduo sofre influência do coletivo. “Os detalhes relativos ao que é preciso fazer,
e ao que é preciso crer, são impostos pela consciência coletiva”. (ARON, 1999, p.291)
Dentro do ponto de vista da sociologia dukheimiana uma sociedade só é capaz de
existir a partir do consenso dentre os indivíduos que compõe aquele coletivo. Esse consenso
se dá no processo de conformação da consciência individual à consciência coletiva e permite
dois tipos de solidariedade: mecânica e orgânica.
Tida como sociedade primitiva, a sociedade mecânica se constitui pela semelhança
entre seus indivíduos, não há divisão do trabalho, a consciência social é menor, os
mecanismos de coerção são exercidos de forma imediata, violenta e punitiva e se tratam de
sociedades menos desenvolvidas, mais simples. São nestes valores que se pode assegurar
a coesão social.
Solidariedade mecânica é usada por semelhança, os indivíduos
diferem pouco uns dos outros. “Membros de uma mesma
coletividade, eles se assemelham porque tem os mesmos
sentimentos, os mesmos valores, reconhecem os mesmos objetos
como sagrados”, a coerência se dá pela não diferença” (ARON,
1999, p. )
Já nas sociedades orgânicas, tidas como modernas por se tratarem de sociedades
industriais pode-se notar diferenciação individual, entretanto como característica primordial,
tem-se a divisão do trabalho, que torna a “individualidade dependente dos demais”, também
pode-se atribuir uma consciência social maior e o reconhecimento de sociedades mais
desenvolvidas. Na sociedade orgânica as diferenças sociais unem de qualquer forma os
indivíduos pela necessidade de troca dos serviços, dando a característica de
interdependência. Analogicamente ao corpo, os órgãos, apesar de suas diferenças, todos
apresentam função essencial para manter a funcionalidade da vida (ARON, 1999)
"O direito e a moral são o conjunto dos laços que nos prendem uns aos outros e
à sociedade, que fazem da massa dos indivíduos um agregado e um todo coerente. É
moral, pode dizer-se, tudo o que é fonte de solidariedade, tudo o que força o homem a
contar com outrem, a pautar os seus movimentos por outra coisa diferente dos
impulsos do seu egoísmo e a moralidade é tanto mais sólida quanto estes laços são
mais numerosos e mais fortes." (Divisão do Trabalho Social, 1977, vol II: 195)
Em linhas gerais o filme traça alguns exemplos das normatizações funcionais de uma
cidade que é abalada a partir da chegada de uma nova cidadã trazendo alguns conflitos,
podemos sentir de maneira considerável com o a violência de gênero se constitui e se
desenvolve através do poder normativo da religião, ciência e política. Poderes estes que
ficam evidentes nas personagens que participam de sua produção e manutenção ainda que
de formas diversas e em graus variados. Cada qual sabia exatamente até onde poderia ir e,
caso se esquecesse destas regras, rapidamente era lembrado. Era um local onde os
desiludidos aprendiam a não pedir mais.
O chocolate, que na cultura dos maias tinha o poder de liberar desejos ocultos, vem
cumprir sua missão nas mãos de Vianne, que o ministra como remédio. Remédio para as
almas ou vidas aprisionadas do vilarejo, e controladora sobre os habitantes. Sobre todos os
habitantes, inclusive o padre. (SANTOS, s/a)
4. Conclusão
As teorias de Durkheim fundantes da sociologia funcionalista é, com certeza, fruto de
uma época determinada. Vivia-se a revolução industrial e suas consequências. A sociedade
mudava com uma velocidade até então não experimentada pelo homem. Como derivação
direta do sistema capitalista em franca expansão surgiam questões sociais que exigiam uma
análise de outra ordem, mais organizada e eficaz.