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DIREITO FINANCEIRO
Por Angelus Maia
PRECATÓRIOS
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Sumário
1 - INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 3
1.1. Honorários advocatícios ................................................................................................................ 4
1.2. Obrigações de pequeno valor ........................................................................................................ 5
1.3. Litisconsórcio ativo e ações coletivas ............................................................................................. 7
1.4 Débitos da Administração Indireta .................................................................................................. 7
1.5. Execução de parte incontroversa da dívida..................................................................................... 9
3 – A EC 99/2017 .................................................................................................................................... 21
ATUALIZADO EM 05/03/20181
PRECATÓRIOS
1 - INTRODUÇÃO
De modo sintético, pode-se dizer que o precatório judicial é o instrumento através do qual se cobra
um débito do Poder Público (pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e
Municipais), conforme o art. 100 da CF/88, em virtude de sentença judiciária.
Para Humberto Theodoro Júnior, o CPC prevê “... um procedimento especial para as execuções por
quantia certa contra a Fazenda Pública, o qual não tem a natureza própria de execução forçada, visto que se
faz sem penhora e arrematação, vale dizer, sem expropriação ou transferência forçada de bens. Realiza-se
por meio de simples requisição de pagamento, feita entre o Poder Judiciário e Poder Executivo, conforme
dispõem os arts. 730 e 731 do Código de Processo Civil/73”.
De acordo com o § 5.º do art. 100 da CF/88, antigo § 1.º, renumerado pela EC n. 62/2009, é
obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de
seus débitos oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários,
apresentados até 1.º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus
valores atualizados monetariamente.
A Súmula Vinculante 17/2009-STF pacificou o tema ao estabelecer que, “durante o período previsto
no § 1.º do art. 100 da Constituição (atual § 5.º), não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele
sejam pagos”.
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos e a da requisição
de pequeno valor (RPV) ou do precatório. STF. Plenário. RE 579431/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861).
*#NÃOCONFUNDIR: Cuidado para não confundir com a SV 17: Durante o período previsto no parágrafo 1º
(obs: atual § 5º) do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele
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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título
do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar
dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe
quaisquer dos eventos anteriormente citados.
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sejam pagos. O período de que trata este RE 579431/RS é anterior à requisição do precatório, ou seja,
anterior ao interregno tratado pela SV 17.
* #OLHAOGANCHO: A cessão de crédito de precatório não tem o condão de alterar a base de cálculo e a
alíquota do Imposto de Renda, que deve considerar a origem do crédito e o próprio sujeito passivo
originariamente favorecido pelo precatório. STJ. 1ª Turma.REsp 1.405.296-AL, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, julgado em 19/09/2017(Info 612). STJ. 2ª Turma. RMS 42.409/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 06/10/2015.
valor devido a título de verba honorária no próprio requisitório, não preenchendo esse último requisito a
simples apresentação de planilha de cálculo final elaborada pelo Tribunal de Justiça. STJ. Corte Especial.
EREsp 1.127.228-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/6/2017 (Info 607).
#RESUMINDO: Requisitos para que o cessionário possa se habilitar no crédito consignado no precatório: 1)
Deve-se comprovar a validade do ato de cessão dos honorários advocatícios sucumbenciais, o que deve ser
realizado por escritura pública; e 2) Deve estar discriminado no precatório o valor devido a título da
respectiva verba advocatícia. Preenchidos estes dois requisitos, deve-se reconhecer a legitimidade do
cessionário para se habilitar no crédito consignado no precatório.
Na 2ª Fase da Procuradoria do Estado do Maranhão, elaborada pela FCC, o tema foi cobrado da
seguinte forma:
O Governador de determinado Estado da federação, considerando as dificuldades de índole
orçamentário-financeira que o ente vem enfrentando, pretende reduzir o teto para pagamento de
requisições de pequeno valor, que atualmente é de 40 salários mínimos. Pretende, ademais, que o novo
patamar seja aplicável a todos os pagamentos que vierem a ser realizados pela Fazenda Estadual a partir
de então. Por fim, a intenção é de que o teto seja aplicável inclusive para fins de pagamento de débitos
de natureza alimentícia considerados de pequeno valor, os quais, no entanto, seriam pagos com
preferência sobre todos os demais.
Diante disso, responda, justificadamente, a luz da Constituição da República e da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal:
De que maneira seria possível instrumentalizar a pretensão governamental? Quais as condicionantes
a serem observadas para que seja compatível com a disciplina constitucional da matéria?
Espelho de Resposta:
Abordagem Esperada Pontuação
a. O Estado possui competência para fixar, por lei própria, de acordo com sua capacidade 3,00
econômica, o patamar para pagamento das obrigações consideradas de pequeno valor
(CRFB, art. 100, § 4º).
b. Poderá, inclusive, à luz de sua capacidade econômica, pautando-se pela razoabilidade, 3,00
fixar o valor em patamar abaixo de 40 salários-mínimos (art. 87, I, do ADCT), desde que não
seja inferior ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social.
c. O novo teto não poderá atingir as requisições que decorram de sentenças transitadas em 4,00
julgado ou cujas execuções tenham sido iniciadas anteriormente à entrada em vigor da lei,
em observância ao princípio da segurança jurídica (CRFB, art. 5o, XXXVI).
d. O novo teto aplica-se a todos os débitos futuros da Fazenda estadual, inclusive os de 5,00
natureza alimentícia. Em matéria de preferências no pagamento de débitos da Fazenda, à
luz do disposto na Constituição, com a interpretação fixada pelo STF, possuem preferência,
em relação aos próprios débitos de natureza alimentícia em geral, os débitos de natureza
alimentícia cujos titulares tenham 60 anos de idade ou mais ou que sejam portadores de
doença grave, enquanto pendente o pagamento (CRFB, art. 100, § § 1º e 2º; ADI 4425),
devendo ser justificada sua aplicabilidade ou não ao pagamento de requisições de pequeno
valor.
TOTAL 15
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* As empresas públicas e sociedades de economia mista não têm direito à prerrogativa de execução via
precatório. STF. 1ª Turma. RE 851711 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/12/2017 (Info 888).
Em regra, as empresas estatais estão submetidas ao regime das pessoas jurídicas de direito privado
(execução comum). No entanto, é possível sim aplicar o regime de precatórios para empresas públicas e
sociedades de economia mista que prestem serviços públicos e que não concorram com a iniciativa
privada. Assim, é aplicável o regime dos precatórios às empresas públicas e sociedades de economia mista
prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial. STF. 1ª Turma. RE
627242 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 02/05/2017. STF.
Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/3/2017 (Info 858)
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2 - EC 62/2009 e EC 94/2016
Diante disso, os autores da ADI alegavam que houve violação à regra do § 2º do art. 60 da CF/88. O
STF concordou com a tese?
• NÃO. Neste ponto, prevaleceu o voto do Min. Luiz Fux. O Ministro afirmou que a exigência
constitucional de dois turnos de votação existe para assegurar a reflexão profunda e a maturação das
ideias antes da modificação de documento jurídico com vocação de perenidade (a CF). No entanto, a
partir dessa finalidade abstrata, não é possível se extrair a exigência de que é imprescindível a
existência de interstício mínimo entre os turnos. Em outras palavras, a CF/88 não exigiu um tempo
mínimo entre as duas votações.
• O constituinte, quando quis, exigiu expressamente intervalo mínimo, conforme se pode observar,
em dois casos: para criação de lei orgânica municipal (art. 29, caput, da CF/88) e da Lei Orgânica do DF
(art. 32, caput, CF/88). No caso de aprovação de EC, o Texto Constitucional não fez esta mesma
exigência. Houve, portanto, um silêncio eloquente do texto constitucional.
• Assim, para o Ministro, quando o § 2º do art. 60 fala em dois turnos, ele está apenas exigindo a
realização de duas etapas de discussão.
• No caso da EC 62/2009, esta regra foi cumprida porque as votações ocorreram em duas sessões
distintas.
Vale ressaltar que existe uma norma no Regimento Interno do Senado determinando o intervalo de
5 dias úteis entre os turnos de votação, mas o STF entendeu que a sua inobservância está sujeita apenas ao
controle feito pelo próprio Congresso e não do Poder Judiciário.
pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo.
(Redação dada pela EC 62/09).
Obs: não há qualquer inconstitucionalidade no § 1º do art. 100 da CF, que permanece válido e eficaz.
Recapitulando:
Os débitos da Fazenda Pública devem ser pagos por meio do sistema de precatórios.
Quem é pago em 1º lugar: créditos alimentares de idosos. Portadores de doenças graves e pessoas
com deficiência.
Quem é pago em 2º lugar: créditos alimentares de pessoas que não sejam idosas, portadoras de
doenças graves ou pessoas com deficiência.
Quem é pago em 3º lugar: créditos não alimentares.
Obs.1: a superprioridade para créditos alimentares de idosos, portadores de doenças graves e pessoas com
deficiência possui um limite de valor previsto no § 2º do art. 100. Assim, se o valor a receber pelo idoso,
doente grave ou PcD for muito alto, parte dele será paga com superpreferência e o restante será quitado na
ordem cronológica de apresentação do precatório. Esta limitação de valor foi considerada constitucional
pelo STF.
Obs.2: dentro de cada uma dessas “filas”, os débitos devem ser pagos conforme a ordem cronológica em
que os precatórios forem sendo apresentados.
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Obs.3: os débitos de natureza alimentícia são aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos,
pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez,
fundadas em responsabilidade civil.
Obs. 4: em que momento é analisada esta idade de 60 anos para que a pessoa passe a ter a
superpreferência?
Entre o dia em que o precatório é expedido e a data em que ele é efetivamente pago, são passados
alguns anos. Desse modo, é comum que a pessoa não seja idosa no instante em que o precatório é
expedido, mas como o processo de pagamento é tão demorado, ela acaba completando mais de 60 anos de
idade durante a espera.
Diante disso, na redação anterior a EC 94/2016, o STF tinha declarado inconstitucional a expressão “na
data de expedição do precatório” constante no antigo § 2º do art. 100 da CF/88 foi declarada
INCONSTITUCIONAL. O STF entendeu que esta limitação até a data da expedição do precatório violaria o
princípio da igualdade e que esta superpreferência deveria ser estendida a todos os credores que
completassem 60 anos de idade enquanto estivessem aguardando o pagamento do precatório de natureza
alimentícia.
No mais, a EC 94/16 acolheu a decisão do STF, conforme já mencionado acima.
#JURISPRUDÊNCIA STJ 2015: A limitação de valor para o direito de preferência previsto no art. 100, § 2º, da CF
aplica-se para cada precatório de natureza alimentar, e não para a totalidade dos precatórios alimentares de
titularidade de um mesmo credor preferencial, ainda que apresentados no mesmo exercício financeiro e
perante o mesmo devedor. A CF/88 não proibiu que a pessoa maior de 60 anos ou doente grave participasse da
listagem de credor superpreferencial do § 2º por mais de uma vez. Ela só proibiu que o precatório recebido
fosse maior do que 3x o valor da RPV. Logo, não cabe ao intérprete criar novas restrições não previstas no texto
constitucional. STJ. 1ª Turma. RMS 46.155-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 22/9/2015
(Info 570)
§ 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora, para resposta em
até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de abatimento, informação sobre os débitos que
preencham as condições estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 62/09).
Se existissem débitos, estes seriam abatidos do valor a ser pago pela Fazenda Pública. Assim, o § 9º
previa uma compensação entre o que era devido pela Fazenda e o que era devido pelo exequente.
Voltando ao nosso exemplo, João tinha a receber 500 mil reais, mas possuía uma dívida de 100 mil
com a Fazenda estadual. Logo, haveria uma compensação e o precatório seria expedido no valor de 400 mil.
Veja o que diz o § 9º:
§ 9º No momento da expedição dos precatórios, independentemente de regulamentação, deles deverá ser
abatido, a título de compensação, valor correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em
dívida ativa e constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas
vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de contestação
administrativa ou judicial. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62/09).
O STF entendeu que os §§ 9º e 10 do art. 100 são INCONSTITUCIONAIS.
Para o Supremo, este regime de compensação obrigatória trazido pelos §§ 9º e 10, ao estabelecer
uma enorme superioridade processual à Fazenda Pública, viola a garantia do devido processo legal, do
contraditório, da ampla defesa, da coisa julgada, da isonomia e afeta o princípio da separação dos Poderes.
Desse modo, o § 12 determinava que a correção monetária e os juros de mora, no caso de precatórios
pagos com atraso, deveriam adotar os índices e percentuais aplicáveis às cadernetas de poupança.
Regra semelhante está prevista no art. 1ºF da Lei n. º 9.494/97:
Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de
atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma única vez,
até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de
poupança. (Redação dada pela Lei nº 11.960/09)
O § 12 do art. 100, inserido pela EC 62/09, também foi questionado. O que decidiu a Corte?
O STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “índice oficial de remuneração básica da
caderneta de poupança”, constante do § 12 do art. 100 da CF.
Para os Ministros, o índice oficial da poupança não consegue evitar a perda de poder aquisitivo da
moeda.
Este índice é fixado ex ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não relacionados com a
inflação considerada no período. Todo índice definido ex ante é incapaz de refletir a real flutuação de preços
apurada no período em referência.
Dessa maneira, como este índice (da poupança) não consegue manter o valor real da condenação, ele
afronta à garantia da coisa julgada, tendo em vista que o valor real do crédito previsto na condenação
judicial não será o valor real que o credor irá receber efetivamente quando o precatório for pago (este valor
terá sido corroído pela inflação).
A finalidade da correção monetária consiste em deixar a parte na mesma situação econômica que se
encontrava antes. Nesse sentido, o direito à correção monetária é um reflexo imediato da proteção da
propriedade.
Vale ressaltar, ainda, que o Poder Público tem seus créditos corrigidos pela taxa SELIC, cujo valor
supera, em muito, o rendimento da poupança, o que reforça o argumento de que a previsão do § 12 viola a
isonomia.
Como vimos acima, o art. 1º-F. da Lei n. º 9.494/97, com redação dada pelo art. 5º da Lei n. º
11.960/2009, também previa que, nas condenações impostas à Fazenda Pública, os índices a serem
aplicados eram os da caderneta de poupança.
Logo, com a declaração de inconstitucionalidade do § 12 do art. 100 da CF, o STF também declarou
inconstitucional, por arrastamento (ou seja, por consequência lógica), o art. 5º da Lei n. º 11.960/2009, que
deu a redação atual ao art. 1º-F. da Lei n. º 9.494/97.
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*#OUSESABER: Na data de 19/04/17, o STF finalizou o julgamento do RE 579.431, que tratava sobre a
incidência de juros de mora nos casos de RPV e precatório. Em 10/11/09 o STF publicou a Súmula Vinculante
nº. 17 que diz assim: “Durante o período previsto no parágrafo 1º (atual §5º) do artigo 100 da Constituição,
não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.” Ocorre que em 09/12/09, a EC n.º
62/09 trouxe várias alterações sobre o tema, inclusive deslocando o conteúdo do acima citado § 1º do art.
100 da CF para o § 5º. Como principal novidade, a EC nº. 62/09 acrescentou o §12 ao citado art. 100,
vejamos: "§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de
requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita
pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora,
incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando
excluída a incidência de juros compensatórios."
#DIZERODIREITO #AJUDAMARCINHO: A SV 17 foi editada em 29/10/2009 e continua sendo atualmente
aplicada pelo STF. Nesse sentido: RE 577465 AgR-ED-ED-EDv-AgR, Rel. Min. Rosa Weber, Tribunal Pleno,
julgado em 23/09/2016. Contudo, tem crescido entre os Ministros a ideia de que esta súmula foi superada
pelo § 12 do art. 100 da CF/88, acrescentado pela EC 62, de 10/12/2009, ou seja, posteriormente à edição do
enunciado. Para muitos Ministros, o § 12 determina a incidência de juros moratórios independentemente do
período. Confira a redação do dispositivo:
§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após
sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial
de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros
simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a
incidência de juros compensatórios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009). Em provas de
concurso, a SV 17 continua válida, devendo ser assinalada como correta. Somente se manifeste sobre esta
crítica ao enunciado caso você seja expressamente indagado acerca disso, como no caso de uma prova oral,
por exemplo.
dívidas se acumulam a cada dia e, se alguns Estados fossem obrigados a pagar tudo o que devem de
precatórios, isso seria muito superior ao orçamento anual.
Na União e suas entidades a situação não é tão deficitária e os precatórios não apresentam este
quadro absurdo de atraso.
Pensando nisso, a EC n. º 62/09 acrescentou o § 15 ao art. 100, afirmando que o legislador
infraconstitucional poderia criar um regime especial para pagamento de precatórios de Estados/DF e dos
Municípios, estabelecendo uma vinculação entre a forma e prazo de pagamentos com a receita corrente
líquida desses entes. Veja a redação do dispositivo:
§ 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei complementar a esta Constituição Federal poderá
estabelecer regime especial para pagamento de crédito de precatórios de Estados, Distrito Federal e
Municípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente líquida e forma e prazo de liquidação. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 62, de 2009).
O objetivo era que este regime especial previsse uma forma dos Estados/DF e Municípios irem
reduzindo esta dívida de precatórios sem que o orçamento dos entes ficasse inviabilizado.
A EC n. º 62/09 incluiu ainda o art. 97 ao ADCT prevendo um regime especial de pagamento dos
precatórios enquanto não fosse editada a lei complementar. Confira:
Art. 97. Até que seja editada a lei complementar de que trata o § 15 do art. 100 da Constituição Federal, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios que, na data de publicação desta Emenda Constitucional, estejam
em mora na quitação de precatórios vencidos, relativos às suas administrações direta e indireta, inclusive os
emitidos durante o período de vigência do regime especial instituído por este artigo, farão esses
pagamentos de acordo com as normas a seguir estabelecidas, sendo inaplicável o disposto no art. 100 desta
Constituição Federal, exceto em seus §§ 2º, 3º, 9º, 10, 11, 12, 13 e 14, e sem prejuízo dos acordos de juízos
conciliatórios já formalizados na data de promulgação desta Emenda Constitucional. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 62/2009)
O regime especial instituído pelo art. 97 do ADCT prevê uma série de vantagens aos Estados e
Municípios, sendo permitido que tais entes realizem uma espécie de “leilão de precatórios” no qual os
credores de precatórios competem entre si oferecendo deságios (“descontos”) em relação aos valores que
têm para receber. Aqueles que oferecem maiores descontos irão receber antes do que os demais.
Assim, o regime especial excepcionou a regra do art. 100 da CF/88 de que os precatórios deveriam ser
pagos na ordem cronológica de apresentação. Logo, se alguém estivesse esperando há 20 anos, por
exemplo, para receber seu precatório, já seria afetado por este novo regime e, para aumentar suas chances
de conseguir “logo” seu crédito, deveria conceder um bom “desconto” ao ente público.
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Leonardo da Cunha afirmou, com razão, que a EC n. º 62/09 previu uma espécie de “moratória” ou
“concordata” para os Estados/DF e Municípios (DIDIER JR., Fredie;et. al. Curso de Direito Processual
Civil. Salvador: Juspodivm, 2013, p. 764). Daí a alcunha dada, de forma justa, por sinal, de “emenda do
calote”.
Não vamos dar mais detalhes sobre como era este regime especial pelo fato de que ele perdeu
importância, uma vez que foi considerado inconstitucional pelo STF.
O Supremo declarou inconstitucionais o § 15 do art. 100 da CF/88 e todo o art. 97 do ADCT.
Com a EC n.º 62/09, o Poder Público reconheceu que descumpriu, durante anos, as ordens judiciais de
pagamento em desfavor do erário. Admitiu, ainda, que existem inúmeras dívidas pendentes, as quais se
propõe a pagar, mas de forma limitada a um pequeno percentual de sua receita.
Por fim, fica claro que, com o comportamento inadimplente do Poder Público e com o novo regime
instituído, o objetivo foi forçar os titulares de precatórios a participarem dos leilões, concedendo
“descontos” ao erário em relação a valores que são devidos por força de decisão judicial transitada em
julgado.
O STF concluiu que a EC n.º 62/09, ao prever este “calote”, feriu os valores do Estado de Direito, do
devido processo legal, do livre e eficaz acesso ao Poder Judiciário e da razoável duração do processo. Além
disso, mencionou-se a violação ao princípio da moralidade administrativa, da impessoalidade e da igualdade.
Afirmou-se que, para a maioria dos entes federados, não falta dinheiro para o adimplemento dos
precatórios, mas sim compromisso dos governantes quanto ao cumprimento de decisões judiciais. Nesse
contexto, observou-se que o pagamento de precatórios não se contraporia, de forma inconciliável, à
prestação de serviços públicos. Além disso, arrematou-se que configuraria atentado à razoabilidade e à
proporcionalidade impor aos credores a sobrecarga de novo alongamento temporal dos créditos que têm
para receber.
A decisão do STF foi tomada por maioria de votos.
#RESUMINDO #AJUDAMARCINHO
Dispositivos declarados integralmente inconstitucionais:
• § 9º do art. 100 da CF/88
• § 10 do art. 100 da CF/88
• § 15 do art. 100 da CF/88
• Art. 97 (e parágrafos) do ADCT
• Art. 1º-F. da Lei n.º 9.494/97
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financiamento a vedação de vinculação de receita prevista no inciso IV do art. 167 da Constituição Federal.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016)
§ 20. Caso haja precatório com valor superior a 15% (quinze por cento) do montante dos precatórios
apresentados nos termos do § 5º deste artigo, 15% (quinze por cento) do valor deste precatório serão pagos
até o final do exercício seguinte e o restante em parcelas iguais nos cinco exercícios subsequentes,
acrescidas de juros de mora e correção monetária, ou mediante acordos diretos, perante Juízos Auxiliares de
Conciliação de Precatórios, com redução máxima de 40% (quarenta por cento) do valor do crédito
atualizado, desde que em relação ao crédito não penda recurso ou defesa judicial e que sejam observados os
requisitos definidos na regulamentação editada pelo ente federado. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
94, de 2016)
poderiam ser pagos nessa ordem preferencial, e os outros 7 (sete) seguiriam normalmente na ordem
cronológica dos precatórios independente de qualquer privilégio.
Nesse ponto, a EC 62/2009 avançou em 2 (dois) aspectos, visto que: a) além da previsão de
preferência genérica para os titulares de créditos alimentícios, passou a prever também uma subcategoria
de credores “superprivilegiados”, a saber, os idosos (maiores de 60 anos) e portadores de doenças graves,
na forma da lei, titulares de créditos dessa natureza; b) passou a admitir também a possibilidade de
fracionar o valor do precatório desses credores “superprivilegiados”, nas condições supra mencionadas
(antes esse credor deveria esperar o pagamento inteiro de uma só vez, certamente com maior morosidade).
Tudo isso foi mantido pela EC 94/2016, a qual avançou ainda em relação ao seguinte ponto: ao lado
dos idosos e portadores de doenças graves, inseriram-se nessa categoria de credores “superprivilegiados” os
portadores de deficiência, na forma da lei.
Trata-se de importante avanço social, que vai ao encontro das diretrizes estabelecidas no Estatuto da Pessoa
com Deficiência (Lei 13.146/2015) e de tratado internacional ratificado pelo Brasil sobre o tema (Decreto
6.949/2009).
Além dessa alteração, a EC 94/2016 incluiu os §§17 a 20 no texto do art. 100 do corpo permanente
da CRFB/1988, que podem ser divididos e compreendidos em 2 (duas) partes: a) necessidade de aferição
mensal do comprometimento da receita corrente líquida dos entes federados decorrente do pagamento dos
precatórios (§§17 e 18); b) medidas excepcionais para contornar dificuldades encontradas pelos entes
públicos na quitação dos precatórios (§§ 19 e 20).
Assim, no tocante à primeira parte, o § 17 do art. 100 determinou que TODOS os entes federados, INCLUSIVE
A UNIÃO, devem aferir mensalmente, em base anual, o comprometimento de suas respectivas receitas
correntes líquidas com o pagamento de precatórios e obrigações de pequeno valor. Para esse fim, o § 18
trouxe a definição de “receita corrente líquida”, muito semelhante àquelas já previstas no art. 2º, IV, da LC
101/2000 (Responsabilidade Fiscal) e art. 97, § 3º, do ADCT. Basicamente, considera-se receita corrente
líquida o somatório de todas as receitas tributárias, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de contribuições
e de serviços, transferências correntes e outras receitas correntes, inclusive royalties de petróleo, deduzidos:
a) os valores entregues por um ente aos demais por determinação constitucional; b) a contribuição dos
servidores para custeio de seu sistema de previdência e assistência social e as receitas provenientes da
compensação financeira entre regimes previdenciários.
De outro lado, no tocante à segunda parte, o § 19 do art. 100 prevê a possibilidade de financiamento
especial em favor do ente público acima dos limites constitucionais e legais de endividamento, se o objetivo
do empréstimo for a aplicação dos recursos no pagamento de precatórios. Em suma, a cada período de 12
(doze) meses, o ente deve verificar se não ultrapassou a média de valores gastos para esse fim (pagamento
de precatórios) nos 5 (cinco) anos anteriores.
Por exemplo, de março de 2011 a fevereiro de 2016, a média mensal de gasto com precatórios do Município
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X foi de 1,5% (um vírgula cinco por cento) da receita corrente líquida. Em fevereiro e março de 2017,
percebeu-se que foi necessário empenhar 2,5% (dois vírgula cinco por cento), percentual que deve perdurar
ao longo do ano. Portanto, o Município X está autorizado a contrair empréstimos relativos à diferença
verificada – no caso, 1% (um por cento) ao mês – a fim de saldar tempestivamente seus débitos de
precatórios.
Por fim, o § 20 prevê uma segunda possibilidade de fracionamento de precatório, além daquela já
prevista no § 2º do art. 100 (esta já analisada anteriormente), qual seja, para precatório de altíssimo valor,
considerado como tal aquele de valor superior a 15% (quinze por cento) do montante dos precatórios
apresentados de 02 de julho de um ano até 1º de julho do ano seguinte. Nesse caso, previu-se que 15%
(quinze por cento) do valor deste “superprecatório” será pago até o final do exercício seguinte e o restante
em parcelas iguais nos cinco exercícios subsequentes, acrescidas de juros de mora e correção monetária, ou
mediante acordos diretos, perante Juízos Auxiliares de Conciliação de Precatórios, com redução máxima de
40% (quarenta por cento) do valor do crédito atualizado, desde que em relação ao crédito não penda
recurso ou defesa judicial e que sejam observados os requisitos definidos na regulamentação editada pelo
ente federado.
Esse fracionamento é medida relevante, visto que evita a demora que naturalmente ocorreria para
pagar por inteiro um precatório de altíssimo valor, propiciando o recebimento imediato, pelo titular do
crédito, de 15% (quinze por cento) do valor total, bem como o recebimento gradual das demais importâncias
parciais, isto é, de mais 15% (quinze por cento) a cada ano.
*3 – A EC 99/2017i #DIZERODIREITO
A EC 99/2017 altera os arts. 101, 102, 103 e 105 do ADCT da CF/88 com o objetivo de “instituir novo
regime especial de pagamento de precatórios” dificultando, mais uma vez, o recebimento dos créditos.
Vale ressaltar que esses mesmos dispositivos agora alterados foram inseridos há menos de um ano
na CF/88 pela EC 94/2016.
Veja o quadro comparativo com as mudanças operadas pela EC 99/2017.
CAPUT DO ART. 101
Redação anterior Redação dada pela EC 99/2017
Art. 101. Os Estados, o Distrito Federal e os Art. 101. Os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios que, em 25 de março de 2015, Municípios que, em 25 de março de 2015, se
estiverem em mora com o pagamento de encontravam em mora no pagamento de
seus precatórios quitarão até 31 de seus precatórios quitarão, até 31 de
dezembro de 2020 seus débitos vencidos e dezembro de 2024, seus débitos vencidos e
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os que vencerão dentro desse período, os que vencerão dentro desse período,
depositando, mensalmente, em conta atualizados pelo Índice Nacional de Preços
especial do Tribunal de Justiça local, sob ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), ou
única e exclusiva administração desse, 1/12 por outro índice que venha a substituí-lo,
(um doze avos) do valor calculado depositando mensalmente em conta
percentualmente sobre as respectivas especial do Tribunal de Justiça local, sob
receitas correntes líquidas, apuradas no única e exclusiva administração deste, 1/12
segundo mês anterior ao mês de (um doze avos) do valor calculado
pagamento, em percentual suficiente para a percentualmente sobre suas receitas
quitação de seus débitos e, ainda que correntes líquidas apuradas no segundo mês
variável, nunca inferior, em cada exercício, à anterior ao mês de pagamento, em
média do comprometimento percentual da percentual suficiente para a quitação de
receita corrente líquida no período de 2012 seus débitos e, ainda que variável, nunca
a 2014, em conformidade com plano de inferior, em cada exercício, ao percentual
pagamento a ser anualmente apresentado praticado na data da entrada em vigor do
ao Tribunal de Justiça local. regime especial a que se refere este artigo,
em conformidade com plano de pagamento
a ser anualmente apresentado ao Tribunal
de Justiça local.
§ 2º DO ART. 101
Redação anterior Redação dada pela EC 99/2017
Art. 101. (...) Art. 101 (...)
§ 2º O débito de precatórios poderá ser § 2º O débito de precatórios será pago com
pago mediante a utilização de recursos recursos orçamentários próprios
orçamentários próprios e dos seguintes provenientes das fontes de receita corrente
instrumentos: líquida referidas no § 1º deste artigo e,
adicionalmente, poderão ser utilizados
recursos dos seguintes instrumentos:
I - até 75% (setenta e cinco por cento) do I - até 75% (setenta e cinco por cento) dos
montante dos depósitos judiciais e dos depósitos judiciais e dos depósitos
depósitos administrativos em dinheiro administrativos em dinheiro referentes a
referentes a processos judiciais ou processos judiciais ou administrativos,
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Antes da EC 99/2017 não havia § 3º no art. 101 do ADCT. Veja a redação do dispositivo que foi inserido:
Art. 101. (...)
§ 3º Os recursos adicionais previstos nos incisos I, II e IV do § 2º deste artigo serão transferidos diretamente
pela instituição financeira depositária para a conta especial referida no caput deste artigo, sob única e
exclusiva administração do Tribunal de Justiça local, e essa transferência deverá ser realizada em até
sessenta dias contados a partir da entrada em vigor deste parágrafo, sob pena de responsabilização pessoal
do dirigente da instituição financeira por improbidade.
§ 2º Na vigência do regime especial previsto no art. 101 deste Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, as preferências relativas à idade, ao estado de saúde e à deficiência serão atendidas até o valor
equivalente ao quíntuplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º do art. 100 da Constituição Federal,
admitido o fracionamento para essa finalidade, e o restante será pago em ordem cronológica de
apresentação do precatório.
Importante
Art. 103 (...)
Parágrafo único. Na vigência do regime especial previsto no art. 101 deste Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, ficam vedadas desapropriações pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos
Municípios, cujos estoques de precatórios ainda pendentes de pagamento, incluídos os precatórios a pagar
de suas entidades da administração indireta, sejam superiores a 70% (setenta por cento) das respectivas
receitas correntes líquidas, excetuadas as desapropriações para fins de necessidade pública nas áreas de
saúde, educação, segurança pública, transporte público, saneamento básico e habitação de interesse social.
DIPLOMA DISPOSITIVOS
CONSTITUIÇÃO FEDERAL Artigo 100 a 105
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
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- Fusão de: Apontamentos do Dizer o Direito + Manual de Direito Financeiro (Harrison Leite) + Manual de
Direito Processual Civil (Daniel Amorim Assumpção Neves).
i
Conteúdo extraído do Site Dizer o Direito