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QUESTÃO: Conceitualize “fato concreto”, “fato conceitual” e estabeleça a vinculação

entre esses dois fatos.


O fato concreto é a própria realidade concreta, independentemente de ter ou não
relevância jurídica. Quando ela não é relevante para o direito, há uma mera relação material.
Essa relação material só será jurídica (relação jurídico-material) quando o fato concreto for
relevante para o direito. Quem identifica a relevância jurídica do fato concreto é o fato
conceitual.
O ​fato conceitual é a previsão regrativo-normativa (importante salientar que regra e
norma são coisas distintas. A norma é o produto da interpretação da regra, o resultado
hermenêutico).
Ocorre que a realidade material (fato concreto) é intranscendente e intransponível. Ela
só pode ser levada ao conhecimento de outrem que dela não tenha participado por um
veículo, que é o fato afirmado. Então, o fato afirmado é o instrumento hipotético de
reconstrução histórica do fato concreto e de correlação entre esse e o fato conceitual.

QUESTÃO: Uma relação jurídico-material importará necessariamente em uma relação


jurídico-processual? Por quê? Responda de maneira elementar.
Uma relação jurídico-material não importa necessariamente em uma relação
jurídico-processual, pois existem outras formas ​hipotéticas de solução de conflitos diversas
do processo.

QUESTÃO: Nós temos no estudo do processo de análise de uma trilogia institucional,


que se configura pelos institutos da ação, processo e jurisdição. Qual o conceito
elementar de ação construído pela professora Ada Pellegrini Grinover?
Segundo Ada Pellegrini Grinover, a ação é “o ato de deduzir pretensão em juízo”.

QUESTÃO: Qual o conceito elementar de ação construído dogmaticamente pelo


Professor Geraldo Prado?
Geraldo Prado afirma que a ação é um ato que se coloca no lugar ideal denominado
processo, é um locus.

QUESTÃO: Qual o conceito elementar constitucionalizado de jurisdição?


É o poder-dever de prestação da tutela jurisdicional. Isso porque, em uma democracia,
toda órbita de poder corresponderá, necessariamente, uma órbita de dever. Assim, tal binômio
indica um poder advindo com a investidura na função jurisdicional, mas, também, um dever
que se vincula, imediatamente, ao efetivo exercício dessa função.

QUESTÃO: Em termos epistêmicos, o processo é compreendido como um conjunto de


atos encadeados com uma finalidade. Qual é a finalidade do processo?
Todo processo é um procedimento (conjunto de atos encadeados com uma finalidade),
mas nem todo procedimento é um processo, pois o processo visa obter uma tutela
jurisdicional, assim, possui uma finalidade específica.
QUESTÃO: Delegado de Polícia possui competência? Sim ou não? Por quê?
Não. A jurisdição é una e indivisível, porém, em um contexto democrático, tem-se um
instituto que ​limita objetiva e subjetivamente o exercício da função jurisdicional​: a
competência. Então, a competência está ​vinculada necessariamente ao exercício da função
de julgar​, à tutela jurisdicional sobre a perspectiva do julgamento.
Isso significa dizer que, tipicamente, um promotor de justiça, um delegado ou um
defensor público não possuem competência. Eles possuem tipicamente atribuições.

QUESTÃO: Existe a possibilidade de afirmarmos que um promotor de justiça esteja


vinculado ao instituto da competência? [Em outros termos] Podemos admitir hipótese
em que promotor de justiça seja competente?
Sim, quando o promotor está investido na função de julgar administrativamente. É o
caso dos membros do Conselho do Colégio de Procuradores do Ministério Público, investidos
de competência quando do exercício da função jurisdicional administrativa.

QUESTÃO: Qual deve ser o conceito constitucionalmente considerado da função


ministerial de ​custus legis?​
A melhor forma de conceitualização da função de “custus legis” é a de fiscalizador da
legalidade democrática. Isso porque, quando se afirma que um órgão desempenha a função de
“custus legis”, significa que ele encontra-se vinculado à administração de justiça. Ocorre que,
em uma democracia, a administração de justiça pressupõe que a função de “custus legis” seja
compreendida não tanto como a de fiscalização da correta aplicação da lei, mas, sim, do seu
conteúdo democrático libertário. Ou seja, o fiscal é o responsável por lançar sobre a lei um
olhar de compatibilidade constitucional.

QUESTÃO: Como eu devo interpretar constitucionalmente a função ministerial de


dominus litis​? [Isto é] Conceitue, conforme a Constituição, a função de ​dominus litis​.
[Reformulando] Partindo do instituto da legitimidade, como devemos conceituar a
função de ​dominus litis​?
A função de ​“​Dominus litis”, constitucionalmente interpretada, deve significar a
legitimidade ​ordinária para o exercício do direito de ação penal. O legitimado ordinário é o
Ministério Público e o extraordinário é o particular, o cidadão.

QUESTÃO: Quais são as acepções da ​opinio delicti​? Ela pode ser de que natureza?

A “opinio delicti” ​pode ter natureza positiva (que se caracteriza pela denúncia) ou
negativa (que se caracteriza pela ​requisição de novas diligências, requerimento de
arquivamentos das peças e de informação, ou requerimento de absolvição sumária​).

QUESTÃO: O promotor de justiça recebe, em mãos, os autos de um procedimento


investigativo concluído, analisa-o e não oferece denúncia no prazo legal, mas requer o
seu arquivamento. O promotor de justiça se restou inerte? Sim ou não (e explique).
[Complementação] Utilize-se, agora, de um princípio que rege a ação penal para
fundamentar ter havido ou não inércia dele. Qual seria o princípio aplicável à hipótese
de manifestação de ​opinio?​

O promotor de justiça não se restou inerte, uma vez que manifestou “opinio delicti”
negativa. Assim, ele foi obediente ao princípio da obrigatoriedade, que rege a obrigação do
Ministério Público de manifestar “opinio delicti”, não interessando se positiva ou negativa.

Então, a inércia do promotor somente estaria caracterizada se não manifestasse ​opinio


delicti.​

QUESTÃO: A manifestação de ​opinio delicti está vinculada apenas a instauração de um


processo criminal ou ela pode também ser considerada no curso do processo? Se
considerada no curso do processo, quais seriam as formas de manifestação de ​opinio
delicti​ judicial pelo Ministério Público?

A manifestação de “opinio delicti” ministerial no processo se dá em sede de alegações


finais, podendo ser positiva ou negativa. Positiva quando o Ministério Público requer a
condenação e negativa quando ele requer a absolvição.

QUESTÃO: Cite 3 princípios processuais penais constitucionais.

A. ​Princípio democrático ​- Art. 1º e art. 3º CF/88 - Advém da opção política,


jurídica e econômica, gravada na Constituição, pelo Estado social-democrático de direito,
cuja premissa é a liberdade como regra (liberdade, aqui, considerada em todas as suas
acepções: ambulatorial e de fruição de direitos, garantias, bens e valores). Trata-se do
princípio que subsidiará a compreensão de todas as análises legislativas (dentro e fora da
Constituição), pautando a aplicação da proporcionalidade. A instrumentalidade do direito
processual penal advém, justamente, da contenção democrática do direito penal, que deve ser
mínimo.

B. Princípio da certeza jurídica democrática - rege a obrigação de que todas as


decisões no ordenamento jurídico sejam proferidas segundo a realização da justiça
democrática (justiça técnica integrada com a justiça social), a duração razoável do processo
(velocidade processual pensada a partir de um parâmetro democrático, preocupado com a
manutenção do estado de liberdade e asseguramento do exercício da defesa) e o duplo grau de
jurisdição (toda decisão produzida por juízo monocrático deve ser passível de revisão.
Previsto no plano da convencionalidade - Pacto São José da Costa Rica. Frise-se que o meio
impugnatório próprio de asseguramento dessa revisionalidade é o chamado recurso
apelatório).

C. ​Princípio do devido processo legal democrático ​(art. 5º, LIV) - abarca duas
perspectivas: formal (inserido em um contexto ideológico de proteção da liberdade) e
substancial (caracterizado pelo verdadeiro asseguramento da liberdade como regra e da
privação de liberdade como exceção - lembrando que o asseguramento de liberdade deve ser
pensado sob duas concepções: ambulatorial e de fruição).

D. ​Princípio do contraditório - direito de manifestação, que se perfaz no


asseguramento da ciência e da participação, em prol de uma efetiva cidadania.

E. ​Princípio da ampla defesa (art. 5º, LV) - se constitui por duas elementares
categóricas: a defesa técnica (existente e suficiente - Súmula 523/STF) e a autodefesa (direta,
pelo próprio acusado, quando do interrogatório judicial, e indireta, por meio de seu
representante legal). A autodefesa abrange os seguintes direitos: direito de participação nos
atos processuais, direito da não obrigatoriedade de produção de prova contra si próprio,
direito ao silêncio, direito de confessar, direito de fuga.

F. ​Princípio da inadmissibilidade das provas produzidas por meios ilícitos ​(art. 5º,
LVI, CF e art. 157 CPP) - 3 categorias: prova ilícita por si (conteúdo produzido em
desconformidade legal), prova ilícita por derivação do meio (obtida por meio ilícito) e provas
derivadas de provas ilícitas (provas obtidas por meio ilícito levam ao conhecimento de outros
crimes, não vinculados à investigação). STF reconheceu exceção para admissão de prova
ilícita se for a única prova do processo e for em favor do réu. Para professor, desnecessidade
porque se ausentes provas, deve-se absolver. A CF NÃO CRIOU EXCEÇÕES.

G. Princípio da inocência ​(art. 5º, LVII) - necessidade de asseguramento da


dignidade e da liberdade. STF mudou o entendimento: será permitida a execução provisória
da pena se houver acórdão condenatório que confirme a decisão condenatória de 1º instância.

H. ​Princípio do favor rei​: reconhece que a CF visa embarreirar o Estado na opressão


do indivíduo acusado, conclusão advinda da análise conjunta dos demais princípios
processuais penais constitucionais. A regência é ampla, geral, importando na interpretação in
bonam partem. São elementos concretizadores desse princípio o in dubio pro reo, a vedação à
reformatio in pejus e o princípio da certeza possível.

QUESTÃO: Cite 2 princípios processuais penais convencionalizados (plano da


convencionalidade).

São princípios processuais penais convencionalizados o da ​não obrigatoriedade de


produção de provas contra si mesmo e o do duplo grau de jurisdição.

QUESTÃO: No plano da convencionalidade, nós mencionamos que existem, pelo menos,


3 princípios previstos. Esses princípios que foram aqui mencionados estão previstos em
que diploma jurídico da convencionalidade? [Complementando] O Pacto de San Jose da
Costa Rica foi ratificado por qual diploma jurídico?

Os primeiros ​locus ​analíticos da principiologia brasileira são a Constituição e os


tratados, pactos e convenções internacionais assumidos, uma vez que neles encontram-se
previstas as cláusulas de tutela primeira e máxima dos direitos e garantias individuais e
fundamentais. Aquele que mais ampla e rigorosamente versa sobre tal tutela, no plano da
convencionalidade, é o Pacto de São José da Costa Rica, ​ratificado em 1992 pelo Decreto nº
678​.

QUESTÃO: Quando nós falamos do asseguramento propiciado pelo princípio do


contraditório, temos que considerar que acepção assecuratória? [Em outros termos]
Assegurar contraditório significa assegurar o quê? [Complementando] o direito de
manifestação pressupõe duas premissas. Assegurar o direito de manifestação significa
assegurar o quê?

Sobre o contraditório, comete-se um erro grave ao se pensar que ele está atrelado à
antítese, à não concordância. Contraditório é, axiomaticamente, o direito de manifestação,
que pressupõe o asseguramento da ciência e da participação, em prol de uma efetiva
cidadania.

QUESTÃO: Quando nós asseguramos o exercício da ampla defesa, um dos planos que
contempla o exercício da ampla defesa é o da defesa técnica. O que significa assegurar
defesa técnica? [Em outros termos] o que perfaz o exercício da defesa técnica?

A defesa técnica se perfaz pelo asseguramento de sua ​existência e ​eficiência (ela


precisa existir e precisa ser eficiente​)​.

A ​existência defensiva é a constituição da defesa, a identificação de que existe um


profissional com capacidade postulatória. Essa capacidade, em primeiro plano, é identificada
com a habilitação profissional para o exercício da função e, em segundo plano, a existência
está vinculada à nomeação do profissional.

A ​eficiência (ou eficácia) defensiva está relacionada a uma oportunidade de


conveniência, uma discricionariedade avaliativa do próprio advogado, desde que no manejo
de determinados instrumentos estratégicos, ele não venha a perder oportunidades. Perda de
oportunidade significa preclusividade.

Importante destacar que o asseguramento da existência e eficiência se configuram,


inclusive, sob o patamar jurisprudencial, através da ​Súmula do STF, nº 523​, que pressupõe
hipótese de nulidade absoluta para a inexistência defensiva e relativa para a ineficiência (o
que significa dizer que, para a hipótese de discussão da ineficiência, deverá haver a
demonstração de prejuízo).

QUESTÃO: A perda de uma oportunidade processual configurará necessariamente a


ineficiência defensiva? Sim ou não (e explique).

Não, pois o advogado pode deixar de se utilizar de uma oportunidade processual e não
haver preclusividade. A ineficiência defensiva somente se caracteriza no caso de perda da
oportunidade pelo efeito preclusivo.
QUESTÃO: Existe um princípio processual penal que está atrelado à cogência direta
sobre a codificação regrativo-legislativo. Que princípio seria esse? [Em outros termos]
Qual o princípio que rege o procedimento de codificação e, portanto, tanto regrativa
quanto legislativa (a legislatura ​lato sensu​)​?

Trata-se do Princípio da Reserva de Código que dispõe que toda produção


regrativa-legislativa deve estar e ser necessariamente obediente ao texto constitucional.

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